Carlos Newton
Jorge Béja é uma pessoa fascinante e surpreendente. Além de ser um grande jurista, dedicou-se à Advocacia como se fosse uma religião, sem jamais cobrar um centavo de seus clientes, agindo como o portentoso Sobral Pinto, que era remunerado apenas pelos chamados ônus de sucumbência. Ou seja, quando defendia algum réu de processo penal ou trabalhista, desde o início Dr. Sobral sabia que nada receberia ao final da causa.
A diferença entre os dois é que Sobral Pinto era meio santificado, sua vida era dividida entre a casa, o escritório e a Igreja do Cenáculo, onde assistia missa todos os dias, sempre de terno preto, desde a morte de um dos filhos. Já o advogado Jorge Béja se dividia entre o Direito e a Música, circunstância que o levou a se tornar amigo íntimo de futuros ídolos, como Raul Seixas, Paulo Coelho, Aldir Blanc e outros iluminados, que lhe passavam suas músicas para que ele escrevesse as partituras e fossem registradas.
O DIREITO VENCEU – Na disputa com a Música, que levou Béja a se apresentar ao piano até para o atual Papa Francisco, no Teatro Colón, em Buenos Aires, a paixão pelo Direito saiu vitoriosa e o jovem Jorge Béja foi se firmando como advogado, embora trabalhasse também como repórter no Jornal do Brasil e na Rádio Nacional, onde conheceu e ficou amigo de Sérgio Bittencourt, que era um dos jornalistas e compositores de maior sucesso no país.
Nesta quarta-feira, Béja lembrou sua amizade com Sergio Bittencourt num belíssimo comentário publicado aqui na TI. Pedi-lhe autorização para transformar o texto em artigo, com objetivo de ganhar maior visibilidade. mas ele me convenceu a também escrever sobre Sérgio Bittencourt, de quem fui amigo e trabalhamos juntos na Rádio Nacional e na TVE.
GRANDE CRONISTA – Antes de conhecê-lo, eu já tive grande admiração por Sérgio Bittencourt, que ainda muito jovem já era cronista do Correio da Manhã e escrevia um texto diário, que eu jamais deixava de ler. Na época ele fez a última entrevista de um ícone do jornalismo, o gaúcho Apparicio Torelli, famoso como Barão de Itararé, que era um dos meus ídolos e não tive oportunidade de conhecer.
Ficamos logo amigos. Apesar de muito famoso, Sérgio era o simples e acessível, trabalhar com ele era um prazer. Suas música faziam um sucesso estrondoso, como “Modinha”, que venceu um dos Festivais da Canção, interpretada por Taiguara, e “Naquela Mesa”, que chegou a ser gravada até pelo maestro francês Paul Mauriat.
PROBLEMA DE SAÚDE – Sérgio Bittencourt era hemofílico e sofria muitas dores, andava com dificuldade, usando bengala. Tinha de tomar remédios pesados para resistir à dor. Na mesma época, a TV Globo tinha uma apresentadora lindíssima, casada com o ator Marcos Paulo. Chamava-se Márcia Mendes, tinha problemas de saúde e também tomava analgésicos fortes. Ela morreu do coração, aos 34 anos, antes de Sérgio (a Wikipédia está errada, diz que ela teve leucemia aos 32 anos)
Eu soube que ela tomava um remédio chamado Algafan, vendido sem receita e que viria a ser proibido devido a seus gravíssimos efeitos colaterais. Fiquei arrasado com a morte de Sérgio Bittencourt, aos 38 anos, de parada cardíaca. Eu trabalhava no programa de Cidinha Campos e comentei no ar que a causa da morte poderia ter sido o analgésico, que se tornara um dos medicamentos mais vendidos no país.
Se na época eu já conhecesse Jorge Béja, imediatamente o procuraria para mover uma ação contra o laboratório multinacional Darrow, destinada a condená-lo a indenizar a família do grande jornalista, que para sempre estará faltando naquela mesa.