Lula agora enfrenta o desafio de ajustar contas públicas, sem reclamar dos juros

Charge: Batendo na taxa de juros - Blog do AFTM

Charge do Cazo (Arquivo Google)

Fernando Canzian
Folha

Confrontando a autonomia do Banco Central desde que assumiu a Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu o que queria: o início do processo de queda da Selic, reduzida em 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira (2), para 13,25% ao ano.

Mas caberá ao seu governo prover as condições para que a queda nas próximas reuniões do Copom seja sustentada, sem que o descontrole atual das contas públicas siga colocando em risco a estabilização dos preços e da economia como um todo.

DENTRO DA META – Em desaceleração há vários meses, o IPCA registrou queda de 0,08% em junho, na primeira deflação de 2023, acumulando 3,16% em 12 meses. O indicador está dentro da meta para a inflação deste ano —de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Mas ainda há desafios não desprezíveis à frente: o acumulado em 12 meses para a inflação de serviços (setor que representa dois terços do PIB) foi de 6,21%, o dobro do IPCA.

Entre maio e junho, o núcleo de serviços acelerou de 0,32% para 0,53%, excluindo da conta passagens aéreas. Itens de peso como alimentação fora do domicílio também seguem pressionados.

NÚCLEO DA INFLAÇÃO – Segundo o último relatório do BC, o núcleo da inflação — que exclui preços que tiveram grande volatilidade em determinado período— segue acima de 6%, além do teto da banda de tolerância para o IPCA deste ano (4,75%).

Há, no entanto, alguns motivos para esperar um comportamento mais benigno para a inflação, com queda, ou pelo menos acomodação, nos preços de várias commodities — o que justifica a queda no juro real (acima da variação dos preços).

No caso do petróleo, no entanto, a Petrobras está operando com defasagem. Ou seja, os preços estão artificialmente contidos, o que mascara a desaceleração da inflação como um todo.

ALTA DEFASAGEM – No final de julho, a defasagem no preço médio da gasolina vendida nas refinarias da estatal em comparação com os preços internacionais chegou a 24%. Já o óleo diesel estava 21% abaixo, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis.

Há sinais também de que a economia pode perder tração neste segundo semestre. Por um lado, isso ajuda a conter a inflação. Por outro, pode implodir as perspectivas otimistas do Ministério da Fazenda em relação à redução do déficit fiscal e azedar as expectativas dos agentes econômicos

Dólar voltando ao patamar de R$ 4,80 e o índice Bovespa patinando ao redor de 120 mil pontos seriam sintomas dessa preocupação.

MAIOR RECEITA??? – Todo o ajuste fiscal previsto pela Fazenda baseia-se não em controle de gastos, mas na premissa de que o governo conseguirá um aumento brutal na arrecadação para diminuir o déficit neste ano e no próximo, recolhendo cerca de R$ 130 bilhões a mais. Nada disso está garantido.

Para 2023, ninguém acredita mais em um déficit de 1% do PIB. Para 2024, a meta depende do aumento de impostos ou de forte aceleração da economia. Se as perspectivas fiscais deteriorarem, não serão as reclamações de Lula que levarão à estabilização duradoura da economia.

Sobre o comportamento de Roberto Campos Neto nesse processo, registre-se que a alta dos juros começou no governo de Jair Bolsonaro (PL). Nos 12 meses até a eleição que o ex-presidente perdeu, a Selic praticamente dobrou, segurando a economia e reduzindo suas chances de vencer.

4 thoughts on “Lula agora enfrenta o desafio de ajustar contas públicas, sem reclamar dos juros

  1. Ora, mas os gastos com juros e amortizações da dívida publica correspondem a quase metade do passivo das contas públicas, como assim não se pode mais reclamar dos maiores juros reais do mundo que ainda são praticados aqui??? Falha de SP sempre incoerente para agradar a seita mercadista…

    E a Petrobras, uma empresa estatal, praticar preços internos defasados em relação aos externos só traz prejuízo pros acionistas e pros importadores de combustíveis, e sinceramente quero que eles se explodam.

    • Correto, caro Rafael Santos, a mídia liberal está criticando os preços dos derivados praticados pela Petrobras que estão abaixo do preço internacional. Hoje vi um comentário da Cantanhede, a qual parece desconhecer que o Brasil exporta petróleo. Ela falou que o Brasil não é autossuficiente e que tem de importar petróleo. E que por isso tem de reajustar os preços dos derivados. Será que ela é mal informada?

  2. Em agosto de 2022 a taxa Selic era de 2%, em setembro de 2022 passou para 13,75 até esta semana.
    Baixar em 0,5% os juros, é insignificante, o governo invés de gastar R$ 800 bilhões para rolar a dívida, vai gastar em torno de R$ 760 bilhões. É bem provável que Campos Neto sob pressão, continue a diminuir os juros, mas a conta gotas até o final de seu mandato
    Essa política de Campos Neto, está fazendo um estrago enorme na economia, travando o desenvolvimento, causando menos emprego, empresas na beira da falência e o povo gastando menos com alimentação. É a política do atraso que os bolsonaristas apoiam.

  3. Senhor Fernando Canzian (Folha) , pare de falar besteiras , em quantos bilhões de reais , foram acrescidos e privações na divida pública Brasileira , impedindo os governos de atender minimamente as necessidades básicas do povo Brasileiro , e que esses míseros 5% , e que em nada reduziu ou acrescentou ao bem estar do Brasileiro , portanto o senhor esta usando de ma´-fé .

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