Na verdade, se todos saíssem perdendo com a inflação, ela já teria acabado no mundo

Charge do Duke (otempo.com.br)

Pedro do Coutto

Foi importante, sem dúvida, o discurso do presidente Lula da Silva na abertura da sessão anual da ONU, especialmente quando focalizou o problema da fome e das agressões ao meio ambiente, responsáveis por problemas que vêm se eternizando e que não encontram solução por parte dos países mais ricos.

Esse apoio, digo, não é sem sentido. Não se trata de um ato assistencialista, mas uma dívida, principalmente no caso do clima, das duas maiores potências industriais, Estados Unidos e China, pela poluição no mundo. Hoje, verifica-se que a questão climática, a começar pela Amazônia, não se refere apenas ao Brasil ou à uma região da América do Sul. Mas está fortemente vinculada ao futuro do próprio planeta pelos efeitos extremamente perigosos decorrentes do aquecimento global.

DISCURSO – A recepção ao discurso de Lula foi positiva, conforme se constatou nos comentários da GloboNews, da CNN e também no enfoque dado pela reportagem de Alice Cravo, Eliane Oliveira e Janaina Figueiredo, no O Globo, e de Fernando Perrin, na Folha de S. Paulo. Lula focalizou o que classifica como “desigualdade”.

De fato, a desigualdade existe. Mas não é apenas ela a causa da fome e da miséria, já que os seres humanos não são iguais e a desigualdade sempre existirá, a começar, por exemplo, pela remuneração de artistas e atletas que se destacam no contexto dos países e, no caso dos atletas, nas competições mundiais.

O que tem que ser combatido é a distância estabelecida pela desigualdade absoluta que inclui a falta de saneamento, a falta de emprego, o tratamento cruel para com aqueles que nascem em cenários de menor renda. Não tem cabimento o fato denunciado pelo presidente brasileiro de que praticamente 9% a 10% da população mundial têm dúvida à noite se poderão se alimentar no amanhecer e ao longo do dia seguinte.

CONCENTRAÇÃO – É um tratamento desumano causado pela concentração absurda de renda, pela acumulação cada vez maior da riqueza mundial, e também pela riqueza predominante numa série de países, inclusive o Brasil. Uma fração pequena dos mais ricos no mundo produz parte enorme do produto mundial que ultrapassa US$ 120 trilhões por ano, mas que nem por isso possui o compromisso no combate à miséria.

Bastaria uma pequena fração destinada ao desenvolvimento social para que ele se realizasse num prazo estimado de 50 anos. Mas, esse princípio humanista, presente no Cristianismo, só se verifica na palavra, na concordância, e não se observa na solução prática e concreta.

DÍVIDAS – As dívidas de 71 milhões de brasileiros e brasileiras abrangidos na operação “Desenrola” ultrapassam R$ 350 bilhões, dos quais 25% se referem às contas de luz, gás, água e telefone. As dívidas com bancos e cartões de crédito de lojas atingem praticamente 30% no total. A média de endividamento por pessoa é de R$ 4900.

O grande problema não é só reduzir esse montante, mas evitar que novas dívidas se acumulem. É difícil. Terça-feira à noite vi um anúncio na televisão de banco pouco conhecido oferecendo cartão de crédito e dizendo que a concessão não dependia de cadastro. É um convite ao endividamento.

10 thoughts on “Na verdade, se todos saíssem perdendo com a inflação, ela já teria acabado no mundo

  1. O governo dessa vez tem que deixar bem claro para a população que as dividas estão sendo sanadas graças a um programa do governo federal e não por obra divina do pastor sem vergonha da sua igreja, que como retribuição vai exigir uma pequena contribuição dos fiéis que se endividarão novamente.

  2. Nelio Jacob, perfeito na análise. O Brasil voltou a ter voz nos organismos internacionais.
    Sob o governo Bolsonaro, o Brasil era considerado um pária mundial. O ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro, um beocio, chamado Ernesto Araújo, até se jactava com essa condição. O ministro de terceira classe do Itamaraty, era um adepto do Olavo de Carvalho e se alinhava com o pior do governo Trump. Era tão ruim, na pasta, que até Bolsonaro não aguentou um auxiliar que lhe causava tanto problema, como aquele da Educação chamado Abraão Wentraub, que virou inimigo do chefe.

    Nunca antes na história desse país, um presidente escolheu tantas nulidades. Parece que, a ideia era essa mesma: escolher os piores para bagunçar a nação e levá-la ao limite, para depois implantar o Golpe de Estado.

    Bolsonaro criou problemas com Joe Biden, presidente dos EUA. Criou problemas com Macron presidente da França. E, pasmem, atacava o maior parceiro comercial do Brasil, a China de Xi Jinping. Uma lástima. O Agronegócio ficou em Pânico, com receio da China retaliar o Brasil. Mas, os chineses são inteligentes e pragmáticos e intuiram, que um governo não dura para sempre, logo, os interesses da China, estão acima de considerações individuais dos presidentes de nações amigas, que lhe go vão embora para casa, vestir o pijama da aposentadoria.

    Por essa razão, o presidente LULA, tem que parar de atacar a Europa e os EUA, quando faz seus discursos de improviso. Tem até suas razões, no que concerne as políticas de invasão das superpotências ocidentais na África e no Oriente Médio.

    A invasão do Iraque foi uma violência dos EUA e da Inglaterra. Joe Biden, quando era senador na época da invasão, foi favorável a divisão do Iraque em três regiões.
    A destruição da Líbia, um desastre humanitário. Hoje o país é dominado por milícias e está sendo explorado pela Itália e pela França.

    Portanto, as potências ocidentais, não tem moral para atacar a Rússia, que invadiu a Ucrânia.
    Como dizia o genial João Saldanha, técnico da Seleção Brasileira na época do Tri: ” Calça de veludo ou bumbum de fora”.

    Ou todos se locupletam ou instaura- se a moralidade.
    Ou ninguém invade as fronteiras de ninguém ou todos impõe a sua força como lhes convier. Isso seria o pior dos mundos, uma catástrofe. A lei da Selva seria a prevalência, a predominância do mais forte.

  3. Prezado Nelio Jacob, quando olho para o lado, achando que as desgraças brasileiras atingiram seu ápice, vem mais uma tsunami de outro lado. Uma tragédia.
    Trata-se de uma ideia da presidente do PT, a deputada federal, pelo Paraná, a neo Bolsonarista Gleise Hoffmann. O que Gleisi disse hoje: Defendeu o fim da Justiça Eleitoral.
    Uma manifestação absurda, dessa magnitude, é uma prova, que o PT se aliou as teses Bolsonaristas e do Centrão. Arthur Lira e Jair Bolsonaro estão rindo a toa, as gargalhadas. É o que eles mais querem. Nunca tive dúvidas do viés direitista da presidente do PT
    Já pode ser convidada para cerrar fileiras com o PL de Valdemar Costa Neto e Bolsonaro ou se filiar ao PP de Arthur Lira e Ciro Nogueira.

    Já estão dizendo, que Gleisi Hoffmann é um Cavalo de Tróia dentro da cidadela do PT para acabar com a fama de esquerdista da sigla.

    Só falta a Gleisi, presidente do PT, começar a criticar as ações da Polícia Federal, quando investigam a corrupção e lavagem de dinheiro de parlamentares, como fez recentemente, o presidente da Câmara.

    Minha visão, depois dessa declaração da Gleise, é que o Conservadorismo tomou conta do Parlamento. Todo mundo vestindo o mesmo figurino da Direita clássica ou extremada.

    Esquerda, ora, trata-se de um mero retrato na parede e está doendo muito.

    Lamentável

    • É melhor o PT e Lula abrir o olho.
      Se Gleise Hoffman permanecer na presidência do PT, o Partido vai perder as eleições municipais de 2024. Perdendo as eleições municipais, dificilmente sairá vencedor das eleições presidenciais de 2026.

      Lula não pode cometer o mesmo erro de Dilma Roussef, que nomeou essa senhora de um primarismo atroz para Chefe da Casa Civil. Gleise não tem a competência para assumir altos cargos na administração pública. Se ela não soube antever a importância da Justiça Eleitoral, como se comportou jo passado, no presente e no futuro.

      Li na imprensa, que Gleise está cotada para assumir o Ministério da Justiça, caso Flávio Dino seja o indicado para o STF. Olha, seria o fim do mundo para o governo Lula. Ela irá criar tanto caso, que periga explodir o governo Lula.

      Sejam sensatos e deixem de cavar o próprio buraco para se jogar lá dentro.

  4. Mestre Pedro do Coutto.

    O fosso entre ricos e pobres tem aumentado desde a década de 90, em todas as regiões do Planeta.

    A Europa, que era uma Ilha de Bem Estar Social, está em crise. A população envelheceu, provocando uma redução trágica nas políticas sociais e no Regime da Previdência Pública.
    Macron tentou aumentar a idade mínima para o francês se aposentar e quase provocou um massacre nas ruas de Paris. Observei, que mendigos e moradores de rua, tem habitado as estações do Metrô de Paris e fazem suas necessidades fisiológicas nas ruas.

    Em Portugal não é diferente. Pedintes nas Ruas da capital Lisboa e na cidade do Porto é uma realidade a olhos vistos. Na Itália a situação de mendicância nas ruas é ainda pior.

    Se no VELHO Mundo, o berço da civilização ocidental, as pessoas estão vivendo abaixo da linha da pobreza, podemos imaginar como vivem as populações da África e da América Latina.

    Há nesses países europeus, um preconceito contra os imigrantes e uma relutância das Classes da Elite, que pressionam os governos para congelar os impostos. Por que? Para impedir que os recursos do Estado sejam distribuídos para as populações pobres.

    Poucos estão querendo tocar nas palavras: Humanismo, Solidariedade, Liberdade e Fraternidade. Pelo contrário, há uma corrente forte, na Direita Mundial visando reduzir o Poder do Estado nas relações entre o Capital e o trabalho.

    Temos até aqui perto de nós, o candidato as eleições na Argentina, o direitista Milei, que prega a dolarizacao, o fim da moeda ( Peso) e a destruição até física do Banco Central argentino.
    Na prática, essa Nova Direita, quer implantar a Lei da Selva. Cada um por si, na esperança que Deus cuide de todos.

    No Brasil, essa doença, pior do que a Vaca Louca vem aumentando nos corações e mentes, com a pregação sistemática do Fim do SUS, da Educação gratuita do Ensino Superior e do INSS. Na prática, os novos bárbaros de Partidos Novos e afins, sem preocupação nenhuma com políticas Humanitárias, vem defendendo abertamente um novo Lasser Faire. Um deixe andar geral, amplo e restrito na esperança de que os ricos fiquem mais ricos e os pobres que se exploda.

    Se a moda pegar como carrapato no pasto, a situação das pessoas vulneráveis ficará tão grave, que vai superar as condições da população pós Revolução Industrial, que Vitor Hugo retratou com maestria no clássico mundial: Os Miseráveis.

    A loucura generalizada está tomando conta das cabeças da Elite brasileira e mundial. Podem sem saber, porque são classes de cidadãos incultos, que podem perecer como classe, acabando com a classe que verdadeiramente produz: A classe trabalhadora.

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