Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Mais importante escritor brasileiro, Machado de Assis orgulhava-se de ter iniciado suas atividades profissionais como jornalista, aos 20 anos, fazendo a cobertura das sessões do Senado do Império, a partir de 1860. Começou no liberal Diário do Rio de Janeiro, sob a direção de Saldanha Marinho. O chefe de redação era Quintino Bocaiuva, de quem se tornou um grande amigo.
Sua missão era fazer a resenha dos debates do Senado, além de eventuais críticas teatrais. Essa experiência foi decisiva para o escritor, obrigado a escrever diariamente e enfrentar o grande público, tendo de relatar e refletir sobre os fatos políticos da época.
FALTA SERIEDADE – Com o tempo, deslocou suas críticas dos políticos para a própria instituição, que descreve como vetusta: “Os homens que não são sérios e graves são exatamente os homens sérios e graves”. Machado de Assis registrou a velha política de conciliação entre liberais e conservadores e a emergência dos republicanos, entre os quais viria a pontificar Quintino Bocaiuva.
Embora liberal e abolicionista, Machado compartilhava da opinião de Joaquim Nabuco sobre a monarquia constitucional, cuja corte o acolheu como escritor e personalidade da vida nacional.
Por isso mesmo, enaltecia a aristocracia iluminista que pôs de pé o Estado nacional brasileiro, antes mesmo de o país se constituir plenamente como nação.
O VELHO SENADO – Em 1899, 10 anos após a proclamação da República, escreveu a crônica “O velho Senado”, em que tece suas considerações sobre a vida política no Solar do Conde dos Arcos, no antigo Campo de Santana, local onde o Senado funcionou entre 1826 a 1925.
Essa crônica fez parte da coletânea intitulada Páginas Recolhidas, que fez sucesso na época: “Diante daqueles homens que eu via ali juntos, todos os dias, é preciso não esquecer que não poucos eram contemporâneos da maioridade (1840), algum da Regência, do Primeiro Reinado e da Constituinte (1824). Tinham feito ou visto fazer a história dos tempos iniciais do regímen, e eu era um adolescente espantado e curioso”, escreveu.
Segundo o jornalista Carlos Castelo Branco, Machado traçou para a posteridade “retratos imperecíveis dos modelos de sua paisagem humana, entre eles alguns homens excepcionais como Paranhos do Rio Branco, modelo de parlamentar e de homem público que é um paradigma dos grandes vultos que dotaram um país pobre e ainda em formação de figuras titulares”.
DERROTA DE LULA – Na quarta-feira, o plenário do Senado rejeitou a indicação de Igor Roberto Albuquerque Roque para o cargo de defensor público geral federal. Foram 38 votos contrários, 35 favoráveis e uma abstenção.
O relator da indicação, senador Humberto Costa (PT-PE), pediu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para pôr a indicação em votação sem se dar conta de que não teria maioria para sua aprovação. O líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner (PT-BA), levou uma bola nas costas, mas não esperneou. As prioridades do governo são outras, numa Casa que se tornou hostil ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, agora, parte para cima do presidente Luiz Inácio da Silva.
Uma declaração favorável à legalização do aborto foi o pretexto para a derrubada da indicação. Agora, o governo terá que fazer uma nova indicação para a Defensoria Pública da União, que cuida, principalmente, dos mais pobres e das minorias.
VOLTA DE ALCOLUMBRE – Entretanto, o pano de fundo é a sucessão da presidência do Senado. Pacheco, o político mineiro que no governo Bolsonaro foi uma espécie de algodão entre os cristais, apoia a volta de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) ao comando da Casa. Retribui o apoio que dele recebera para se eleger presidente do Senado, sendo ainda um senador em começo de mandato.
Há um realinhamento de forças na Casa. A candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) à presidência, contra Pacheco, havia isolado a oposição. Agora, não. Os senadores bolsonaristas já decidiram apoiar a volta de Alcolumbre.
No comando da poderosa Comissão de Constituição e Justiça, joga mais pesado com Lula do que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Assim, se Lula entregou a presidência da Caixa para os deputados do Centrão, o que entregará a Alcolumbre na presidência do Senado? O Banco do Brasil?
Se Alcolumbre for eleito presidente do Senado, será o sinal que o Brasil não tem mais jeito. O Congresso vai se tornar o supremo poder do país.