Francisco Leali
Estadão
Há indicações de que duas políticas estão em operação neste momento na Praça dos Três Poderes. Uma que preza pelo embate belicoso. Outra que opera silenciosamente para buscar novos espaços do Legislativo nos cargos do governo. Ou, dito de outra forma, estamos diante de uma turma que grita e nos distrai e de outra que sussurra.
Essa segunda segue a linha da política de resultados e tem tido êxito. Esta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu mais uma porta ao Centrão mudando a direção da Caixa Econômica Federal. Sai Rita Serrano entra um economista apadrinhado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
TROCA-TROCA – Há quem chame isso de troca-troca ou de a política do é dando que se recebe. Lula abre espaço a Lira no Executivo e este, espera-se, contribui para facilitar a aprovação de pautas de interesse do governo.
Mas também pode ser entendido como o resultado da busca de um consenso mínimo. Um poder cede espaço a outro em busca de uma convivência se não harmônica, pelo menos tolerante. Isso se as regras de moralidade na condução da coisa pública seguem respeitadas.
Mas e a primeira turma? Aquela do alarido. Essa ocupa espaço privilegiado no mundo real, e também no virtual. É o pessoal que parece pensar com o fígado. Por conta deles, a cena brasiliense tem oferecido, com certa frequência, uma distração aos olhos e ouvidos.
ÀS VIAS DE FATO – As sessões da CPMI do 8 de Janeiro, as reuniões das comissões de Segurança, de Seguridade e Família e de Fiscalização e Controle registram esse submundo da política. Nessas arenas, bolsonaristas, agora na oposição, e deputados de esquerda, hoje governistas, estão à beira de ir às vias de fato.
São fartas as amostras de deputado xingando deputado; senador ofendendo senadora; ministro debochando de congressista; parlamentar afrontando ministro. O diálogo dá lugar à lacração motivada pelo desejo de engajamento em redes.
Esta semana chegou-se ao ponto de o ministro da Justiça, Flávio Dino, deixar de ir a uma comissão da Câmara alegando abertamente temer por sua segurança já que deputado que lá frequenta anda armado. No dia seguinte à falta, o ministro apareceu em outra comissão. O que se viu foi a reedição de política feita às cotoveladas.
LISTA DE DESAFETOS – Nesse clima fura-olho, o Conselho de Ética da Câmara recebeu uma longa lista de deputados acusados por ofensa a colegas. Por enquanto, todos se safaram. Só mesmo o decoro parece não ter se salvado e, muito provavelmente, a imagem que o Parlamento ajuda a formar de si mesmo na sociedade, também não.
O ódio destilado nos discursos alcança também o Judiciário. Estão em curso na Câmara e Senado propostas para emparedar o Supremo Tribunal Federal (STF).
O protagonismo que a Corte passou a ter no cenário político gera seu efeito colateral agora sob a forma de PECs e PLs. Propostas de Emenda Constitucional e Projetos de Lei para dizer até onde o Tribunal pode ir e como.
SEM ACORDOS – Vai longe o tempo em que se apelava a um acordo “com o Supremo, com tudo”, como eternizou o então senador Romero Juca nos tempos da Lava Jato.
Ali, havia o cheiro forte de uma armação para institucionalizar a proteção de investigados.
Hoje, não se tem registro de tal movimento. Mas também ainda não há indicação de que esteja aberto o caminho para um diálogo balizado pelo tal espírito republicano que distensione os espíritos. O barulho que se houve é só o ranger de dentes enquanto a turma mais discreta vai fazendo das suas.
Os garimpeiros petralhas estão perdendo a corrida para a Caixa Econômica Federal achavam que ali ia ser a Serra Pelada dos desnutridos.
Flavio Dino já oficiou o presidente da Câmara para que os convites feitos a ele para esclarecimentos, seja no plenário da Câmara. Entendo que nas salas das comissões, não tem visibilidade, só serve para os parlamentares bolsonaristas, filmar o que interessa a eles e jogar nas redes sociais. No plenário tem mais audiência.
Que assistiu as CPIs e a CPMI e a arguição de Flávio Dino para esclarecimento, viu que tipo de gente foram eleitas na onda bolsonarista.
Bonasonaro entrou com Habeas Corpus no STF pedindo o afastamento de Alexandre de Moraes do processo dele e para não ser preso. No sorteio, ficou com Dias Toffoli decidir, que imediatamente indeferiu.
Acho que a prisão de Bolsonaro, é questão de tempo. Isso não é perseguição, isso é fazer justiça.
Lamentável tudo isso, me dá até nojo, ler relatos como esse, pois parlamentares, segundo consta na C,F., são eleitos para defender os interesses que visam beneficiar a população, de uma forma geral.
Porém, contudo e entretanto, a leitura que posso fazer de relatos como esses, e com profunda tristeza em minha alma, é a de que, tais parlamentares (assim como os cidadãos que os seguem e inclusive os defendem), estão, tão e somente, em busca de seus próprios interesse e de seus grupescos, assim como de outros citados na matéria (parte do Judiciário), mas não da combalida e desfavorecida maioria da imensa população brasileira que, segue como uma grande boiada sem destino.
ABS.