Muitos desdobramentos positivos na trajetória do País são frutos do Plano Real

Em 1994, Plano Real domou a inflação | Acervo

Ricúpero e Itamar no lançamento do Plano Real em 1994

Fernando Gabeira
Estadão

Trinta anos de Plano Real nos levam a pensar em muitas coisas. Uma delas, a mais animadora, é saber que o Brasil é capaz de resolver problemas complexos, como a hiperinflação, que até hoje atormenta nossos hermanos argentinos.

Muitos desdobramentos positivos na história recente do País dependeram da atmosfera criada pelo Plano Real. Um deles é a política social da primeira década do século que garantiu a Lula da Silva uma grande fidelidade dos setores mais vulneráveis da população.

PASSO ADIANTE – Nem todos os problemas foram resolvidos ali. A reforma tributária que deve ser aprovada neste ano é considerada um passo adiante na trilha aberta pelo Plano Real. Mas o que se discute com intensidade hoje é o ajuste fiscal.

Lula parece confrontado com duas saídas indigestas. Uma delas é voltar-se para os setores mais pobres, desvincular benefícios previdenciários do salário mínimo, reduzir investimentos na saúde e na educação.

Existe a alternativa de olhar para cima e para o lado: cortar subsídios, acabar com supersalários, rever a aposentadoria dos militares, realizar uma reforma administrativa.

REDUZIR GASTOS – Há uma série de outras medidas que reduzem gastos. Uma delas é evitar o desperdício nas despesas sociais. A Índia resolveu isso criando um sistema digital e um número para cada pessoa. Custou dinheiro, suscitou debates, mas economizou milhões de dólares.

Enquanto decide, Lula parece preocupado com não ter encontrado ainda o caminho do aumento da popularidade, algo que todo governante gostaria de ter, sobretudo para não ser surpreendido eleitoralmente. Ele escolheu bater no Banco Central e criticar a alta taxa de juros.

É indiscutível que a taxa de juros é alta. Mas também para um consenso o fato de que discursos não podem baixá-la. Mas, se discursos não podem baixá-la, é justo afirmar que contribuem para aumentá-la?

ALTA DO DÓLAR – Lula se ressente das críticas de que suas falas influenciam o preço do dólar. Na verdade, ele depende de múltiplos fatores, alguns deles, talvez os principais, acontecendo fora do Brasil.

O problema é que o discurso de um presidente sempre pode ser aproveitado por especuladores. E isso eleva artificialmente o dólar.

O ideal seria um cálculo político mais frio na formulação dos discursos. Mas Lula parece estar indo no sentido oposto. Recentemente, chamou os jornalistas de “cretinos”, por estabelecerem uma conexão entre suas falas e o aumento do dólar. Ele tem o direito de achar que os jornalistas erram e de criticá-los. Uma coisa é dizer que estão equivocados e que suas interpretações não correspondem aos fatos. Outra é insultá-los.

CAPITAL POLÍTICO – Por que é preciso tomar mais cuidado? Lula não pode se esquecer do capital político que reuniu para derrotar Jair Bolsonaro. É um equívoco dilapidar esse capital, revivendo o estilo Bolsonaro de tratar a imprensa.

Neste momento do mundo, todos nós estamos vendo as coisas ficando mais difíceis. Joe Biden foi um fiasco no debate presidencial nos EUA e caminha para uma derrota. A Suprema Corte americana tomou uma decisão que fortalece os presidentes, tornando-os parcialmente imunes. Deu a chave para o autoritarismo de Trump, caso volte à presidência.

Com os EUA e a Europa caminhando para a direita, as consequências serão muito sérias. A Ucrânia terá dificuldades para sobreviver, pois a vitória tanto na Europa como nos EUA é também uma vitória de Vladimir Putin, tão próximo da extrema direita.

PERTO DO DESASTRE – O pior de tudo é que ascendem ao poder negacionistas do aquecimento global. Já estamos ultrapassando a meta, fixada para 2030, de aumento de 2,5 graus na temperatura considerada um marco para evitar o desastre.

Imigrantes, minorias, todos vão pagar uma cota de sacrifício, mas a própria sobrevivência da humanidade estará em perigo. Neste contexto, é difícil pensar o Brasil como uma ilha social-democrata, sobretudo porque a direita é forte no País.

Os tempos não estão para equívocos na política econômica, muito menos para arrogância entre democratas.

UNIDADE NACIONAL – No Plano Real houve um pouco o sentido de unidade nacional. A maioria das forças políticas compreendeu sua importância e a população captou muito rapidamente o sentido progressista da reorganização econômica.

A verdade é que a economia atual, graças também ao Plano Real, não vive os tormentos daquela época, mas também é verdade que os desafios se transformaram e pedem um nível de amadurecimento que às vezes se dissolve nas vertigens do poder.

Se olhamos os rumos do mundo e os rumos do Brasil, podemos sentir como é instável a situação, como é necessário fazer tudo para estabilizá-la e como isso pede também o que existiu no Plano Real: conhecimento técnico e habilidade política.

(Artigo enviado por Duarte Bertolini)

7 thoughts on “Muitos desdobramentos positivos na trajetória do País são frutos do Plano Real

  1. O maior responsável pela derrota do Bolsonaro foi ele mesmo. Se tivesse governado de forma séria sem falar besteiras teria sido reeleito, mesmo tendo uma mídia vendida solavanco seu governo

      • Paulo Guedes foi uma exigência da Faria Lima. Lula também pediu benção para Faria Lima quando criou a Arca da Aliança. Independente do presidente o resultado sempre será o mesmo pois quem é eleito está comprometido até a alma, o pó do corpo depois que morrer e em pensamento com o sistema. Temos uma plutocracia com cleptocracia juntos.

        Bolsonaro fez muita besteira com Covid, desastres pelo Brasil e ele andando de jet ski. Perdeu para ele mesmo, até ajudou Lula a sair da prisão pois achava que Lula seria facilmente vencido. Se Bolsonaro fizesse um governo ruim, seria eleito. Infelizmente o último presidente que fez algo pelo país foi Itamar Franco, depois dele só teve corrupto.

  2. Senhor Cláudio , se Jair Bolsonaro não tivesse feito acordos com os juízes do STF , para soltarem o Lula em troca das suspensões das investigações e processos contra ele , seus filhos e seus comparsas , Lula não estaria de volta .

  3. O Plano Real conseguiu dar um jeito na inflação, mas o custo foi alto. Necessidade de dólares e para isso a prática de juros altos, desindustrialização causada por importações, sem nenhum salvaguarda às indústrias nacionais.

  4. O diabo é que, não obstante moribundo, o real continua sendo usado como um fim eleitoral e reeleitoral em si mesmo, na cara dura, a custos insustentáveis que só favorecem banqueiros, agiotas e afin$, os únicos que de fato só ganham neste país com a inflação, ou sem inflação, com os juros altos, vide, p. ex., o tamanho da dívida pública, tipo se ficar os bichos$ comem se correr os bicho$ pegam, valendo lembrar que, graças ao oportunismo eleitoral de FHC e CIA o plano Ecodólar transformado em real, que lhe foi sugerido pela RPL-PNBC-DD-ME como Ecodólar que deveria ser apenas um meio provisório para libertar a cabeça da população da toada do cruzeiro e cruzado, novos e velhos, cuja simbologia da cruz lembrava apenas a expiação e o sofrimento do qual a população estava esgotada, e, por conseguinte, dar ao país um pouco de tranquilidade para podemos fazer as grandes mudanças de verdade, sérias, estruturais e profundas, propostas pela RPL-PNBC-DD-ME, que o país, a política e a vida da população tanto necessitavam, como continuam necessitando, traída que foi por FHC e a sua trupe, oportunistas, que, infeliz e desgraçadamente, à moda 171 eleitoral, usaram e deturparam o plano original, apelidando-o de real apenas como um fim eleitoral e reeleitoral em si me$mo, como seus sucessores continuaram e continuam fazendo, não obstante o tamanho da dívida pública, gerado pela gastança, da comilança e da impostança.Todavia, os saudosistas do demotucanismo, FHC à bordo, que dessa missa não sabem nem sequer a metade mas se matem a falar e escrever sobre a dita-cuja como a conhecessem por inteiro, logicamente com segundas intenções de tirar mais vantagens indevidas da enganação sem lastro.

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