Livro mostra a saga do comunista que virou espião do regime militar

Severino Theodoro de Mello em seu apartamento em Copacabana, no Rio, em 2018, cinco anos antes de morrer, aos 105 anos

Severino ajudou a destruir o Partido Comunista Brasileiro

Naief Haddad
Folha

A partir da decretação do AI-5 (Ato Institucional número 5), em dezembro de 1968, a repressão militar intensificou o combate aos grupos que recorriam à luta armada para se opor ao governo autoritário. Eram organizações egressas do PCB (Partido Comunista Brasileiro), como a ALN (Aliança Libertadora Nacional) e o MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro).

Seis anos depois, esses grupos estavam destruídos ou muito fragilizados. Foi a partir daí que a ditadura militar decidiu enfrentar com mais ênfase o PCB propriamente, o mais importante partido de esquerda no Brasil ao longo do século 20.

NA CLANDESTINIDADE – Àquela altura, em meados dos anos 1970, os comunistas estavam na clandestinidade no país, mas mantinham discussões sobre os rumos políticos e lançavam publicações.

Nessa nova etapa, uma das estratégias da inteligência militar era cooptar militantes comunistas, como Severino Theodoro de Mello, o mais importante desses infiltrados entre os integrantes do PCB. Ele é uma das figuras centrais de “Cachorros – A História do Maior Espião dos Serviços Secretos Militares e a Repressão aos Comunistas até a Nova República”, livro de Marcelo Godoy, repórter e colunista do jornal O Estado de S. Paulo.

Os militares chamavam de “cachorro” aquele que tinha mudado de lado e que contribuía com relatos orais, documentos, fotos e outros tipos de dados das organizações de esquerda.

DOUTOR PIRILO – O outro nome-chave do livro é o capitão da Aeronáutica Antônio Pinto, que manteve um “canil” ao longo do regime autoritário e mesmo nos primeiros anos da redemocratização. Durante 20 anos, Mello ficou sob o controle do Doutor Pirilo (o codinome de Pinto), com quem falava com frequência.

Esses dois homens, como escreve Godoy, “estiveram no centro da mais duradoura operação de espionagem política da República”. Embora tenham sido determinantes para o enfraquecimento do PCB, ambos foram até então poucas vezes lembrados em produções jornalísticas e acadêmicas.

As informações passadas por Mello – cujo codinome era Vinicius – para os militares tiveram efeito devastador para a sigla comunista. As delações dele foram a base para uma operação que causou a morte de pelo menos dez dirigentes do partido, em geral depois de longas sessões de tortura.

TUDO CONFIRMADO – “Entrevistei diversos agentes militares, e todos me falaram que as quedas relacionadas ao PCB tinham vindo do Mello. Me diziam que só tinham conseguido avançar na repressão ao partido por causa dele”, conta Godoy, que em 2014 lançou “A Casa da Vovó: uma Biografia do DOI-Codi (1969-1991), o Centro de Sequestro, Tortura e Morte da Ditadura Militar”.

A revelação de que Mello era um espião a serviço da caserna veio à tona na entrevista do ex-agente Marival Chaves ao repórter Expedito Filho, da revista Veja, em 1992. Mas os colegas de militância custaram a crer que ele pudesse ser um infiltrado, afinal, havia sido próximo de Luís Carlos Prestes durante décadas, inclusive em uma longa temporada na União Soviética, e integrado o comitê central da organização.

“Não havia nenhuma desconfiança em relação ao Mello. Ele era um companheiro antigo – era de 35 – e depois sempre foi de toda a confiança da direção e sempre esteve ligado aos aparelhos do partido”, disse Anita, filha de Prestes e Olga Benario, ao autor do livro (Anita se refere à revolta dos comunistas em 1935, uma tentativa de golpe contra o governo de Getúlio Vargas).

EXPULSO DO PPS – Só em 2016 o PPS (Partido Popular Socialista), que sucedeu o PCB, retirou Mello dos seus quadros. Naquela ocasião, as provas da traição tinham se tornado incontestáveis.

Caso tivesse iniciado hoje sua pesquisa, Godoy não chegaria ao mesmo resultado, já que seus dois protagonistas, que concederam entrevistas, morreram nos últimos anos: Pinto em 2018 e Mello cinco anos depois.

O oficial da Aeronáutica respondeu a dezenas de dúvidas do jornalista em trocas de e-mails. O infiltrado, além de mensagens, falou longamente a Godoy em seu apartamento em Copacabana em 2018.

MUITAS FONTES – “Cachorros” não se baseia apenas nesses depoimentos. O repórter se valeu de outras entrevistas, além de um vasto cardápio de fontes documentais.

As falas de Pinto e Mello, no entanto, ocupam papel central no relato. A partir da trajetória dos dois, o autor monta um painel da acidentada história do PCB, fundado em 1922, e do sistema repressivo organizado durante a ditadura militar.

Mello, o comunista que virou cachorro, morreu aos 105 anos. Nenhum camarada esteve no seu enterro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Depois das reveladoras entrevistas do famoso Cabo Anselmo, com livros e até documentários, fica faltando apenas a biografia do “Barba”, codinome de Lula da Silva, que no regime militar prestava serviços de espionagem à Polícia Federal, reportando diretamente ao delegado Romeu Tuma as atividades de seus colegas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema. Para disfarçar, os militares chegaram a prender Lula durante um mês, e assim ele ganhou prestígio com os verdadeiros esquerdistas. Em matéria de cachorrada, o “Barba” era imbatível. (C.N.)

14 thoughts on “Livro mostra a saga do comunista que virou espião do regime militar

  1. Essa do Lula que ficou um mês preso (seria razoável nesse período curto ser um traíra?), parece uma invenção do Tuma Júnior. Não mostrou nenhuma prova. Acho que inventou a historia para ganhar dinheiro. Nem os militares, classe onde Lula não é bem visto, mostraram qual prova.

    Parece mais uma narrativa que não é corroborada por fatos. Aliás, o livro é isso.

    • Preciso localizar a “liga” de Rockfeller com o movimento “metalurgico” e seu infiltrado agente, nos arquivos de Benjamim Fulford.
      Já fiz constar aqui o link, onde há essa referencia “digital”!

      • Um certo dia, conheci um senhor que tendo sofrido um Acidente Vascular Cerebral, queixava-se de não ter recebido o amparo e o reconhecimento Governamental diante de seu papel desempenhado para impedir o envenenamento por comunistas, da caixa d’água de uma cidade catarinense. Que o obstáculo para tal criminoso evento foi propiciando através de entrega a um padre que repassou aos órgãos de segurança que prenderam os envolvidos, abortando a operação. A família nunca soube desse fato, contado para mim, por sua fragilidade e perda da segurança(segredo), milindrado pelo AVC.
        Valor, que deva ser dado à quem consciente, salvou milhares de vidas!

    • HÁ…JÁ…HÁ…HÁ…HÁ…( HF IN MEMORIAM )…

      Carlão seu PS…Simplesmente inigualável….( Em matéria de cachorrada o barba maldito era imbatível…) …HÁ…HÁ…HÁ…HÁ…

      Carlão..escreveu tá escrito…quem não concordar pegue uma Magnum 345…e pimba…se mate….

      Aviso aos defensores do vulgo barba filho do diabo…

      Carlão viveu este período quando eu estava ainda na segunda série ( 1972)…Portanto meu Editor tem RESPALDO…TEM VIVÊNCIA….e FINALMENTE tem o espírito de escrever a VERDADE…

      Respeitem essa história…ficar escrevendo bobagens na defesa deste barba maldito…já beira no mínimo a um puxa saco …eu disse: No mínimo.

      Valeu Carlão….continue na SENDA de Líbero Badaró…

      Saúde e paz para tua Casa meu Prezado…

      YAH O ALTÍSSIMO NOSSO CRIADOR E SALVADOR SEJA LOUVADO SEMPRE…

  2. Bem, eu não estava lá, então não sei quantos dias ele ficou preso nem quantos cumpanheiros ele entregou, o que eu sei de fontes seguríssimas é que dormiu muitas noites no sofá do Tumão e comeu muitos pratos de lula à doré servidos pelo Fasano, assim como frequentou o gabinete do Golbery e era considerado no Ciex sindicalista confiável.
    Um empresário paulista, amigo há 65 anos, detalhou-me como funcionava a venda de greves para empresas com problemas de excesso de destoques e deflação de vendas.
    Lula tem algumas qualidades e muitas habilidades para exaltar, mas nunca seu caráter.

  3. Sr. Newton

    Adivinha de quem é este artigo.??

    O LIVRO-BOMBA – Tuma Jr. revela os detalhes do estado policial petista. Partido usa o governo para divulgar dossiês apócrifos e perseguir adversários. Caso dos trens em SP estava na lista.. Ele tem documentos e quer falar no Congresso. Mais: diz que Lula foi informante da ditadura, e o contato era seu pai, então chefe do Dops

    O “estado policial petista” não é uma invenção de paranoicos, de antipetistas militantes, de reacionários que babam na gravata dos privilégios e que atuam contra os interesses do povo.

    Não! O “estado policial petista” reúne as características de todas as máquinas de perseguição e difamação do gênero: o grupo que está no poder se apropria […]

    https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/o-livro-bomba-tuma-jr-revela-os-detalhes-do-estado-policial-petista-partido-usa-o-governo-para-divulgar-dossies-apocrifos-e-perseguir-adversarios-caso-dos-trens-em-sp-estava-na-lista-ele-tem-documento

    aquele abraço

    • Assassinato de reputações – um crime de estado

      “…É impossível entender o Brasil e seus grandes escândalos dos últimos anos sem ler esta obra. Você vai conhecer melhor o ex-presidente Lula, desde seus tempos de sindicalista em convívio com o pai do autor deste livro, quando Lula era preso “especial” no Dops. Saiba detalhes do assassinato do prefeito Celso Daniel, de cuja investigação Tuma Junior participou. Entenda como funcionaram, na última década, os órgãos de segurança institucional, como a Polícia Federal e a Abin. Veja as provas do grampo telefônico no STF e como são tratados os desafetos políticos e empresários incômodos ao governo, e qual o objetivo real de operações midiáticas, como a Trovão, a Chacal e a Satiagraha, entre muitos outros temas polêmicos. Só mesmo quem viveu o governo em um órgão tão importante, como Romeu Tuma Junior quando à frente da Secretaria Nacional de Justiça, para mostrar os podres poderes da era Lula….”

  4. Com todas as venias,quem garantiu a posse de Lula 1. Foi o gaúcho de Cruz Alta, General Leônidas Pires Gonçalves.

    Gonçalves,foi, o fiador,perante aos gringos do norte.
    Pois,Lula,tinha prestado relevantes serviços ao governo da época..

    Confirmando,as suspeitas, Lula foi contra as diretas já, contra a constituinte, votou a favor de Maluf no colégio eleitoral para Presidente.

    De outra banda, os irmãos Villares confirmaram que Lula era agente do governo.
    Se resta alguma dúvida, é só ler o livro do Mário Garnero “Jogo Duro”.

    • Meu caro Luiz Fernando, escrever qualquer coisa não quer dizer que sejam fatos. Provar o que se escreve, eis a questão. Com isso, ressalvo que sou como São Tomé.

      Mas no caso da eleição de Tancredo o PT ficou em cima do muro, ou seja houve abstenção por considerar que a eleição do presidente deveria ser direta. Apenas três dos oito deputados não seguiram a orientação e votaram em favor de Tancredo, foram expulsos do partido.

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