William Waack
Estadão
Do ponto de vista jurídico a Lava Jato foi enterrada como grande vilã da história. Do ponto de vista político, decretar seu desaparecimento é um exercício fútil. É possível “criar” amnésia coletiva sobre algum acontecimento, algo que regimes totalitários conseguem durante algum tempo. Mas os processos sociais – os grandes “fatos” da realidade – se impõem.
É o caso da Lava Jato, que não pode ser entendida simplesmente como uma operação policial e jurídica. Ela é um fenômeno social e político com raízes profundas e enorme abrangência, ligada às expressões disruptivas de 2013 e 2018, das quais é causa e consequência.
ACABAR COM ISSO – A luta anticorrupção é a que melhor capturou o difuso sentimento de “temos de acabar com isto que está aí”. Como não há partidos políticos dignos de nome que canalizem esse tipo de força social num sentido e direção, e tampouco existem elites dirigentes com algum plano abrangente para mudar o que está aí, essas “borbulhas de indignação” acabam perdendo força e desaguam na praia.
Mas trazem consequências que impedem uma volta ao “status quo ante”. Uma das principais, e perigosa do ponto de vista da democracia brasileira, é a notável erosão da credibilidade do Judiciário (leia-se STF) como instância capaz de fazer prevalecer as leis e punir os culpados (corruptos).
Pode-se debater se há elementos “factuais” e “objetivos” que justifiquem essa percepção, ou de quem seria a “culpa”. Mas a deterioração da credibilidade da mais alta instância jurídica é um fato político do qual não se escapa. Portanto, há uma ameaça à “institucionalidade” à qual os integrantes do Supremo gostam de se referir.
REALIDADE POLÍTICA – Seria mesmo difícil pensar que instituições funcionem desvinculadas da realidade política. No caso do STF, a evolução (no sentido da linha do tempo) do sistema político brasileiro o tornou um ator político central, e sem volta. O “excepcional” tornou-se o “novo normal”.
Especificamente em relação à Lava Jato, ficou pairando sobre o STF – depois de 10 anos e monumentais turbulências – a noção, em vastas parcelas da população, que naquela instância desfrutam de “proteção” os que sabem defender seus privilégios (como setores do próprio Judiciário), e os poderosos da política e economia que cometeram malfeitos ou buscam decisões jurídicas em favor de seus interesses (não necessariamente ilícitos).
Nossos momentos disruptivos recentes têm sido cada vez mais perturbadores. Difícil imaginar como será o próximo.
Parece coisa que remonta ao “Paraíso, desobediência, expulsão e morte”, vaticínio interrompido por outros, mais rebeldes e mais “obreiros” do vigente e “propaga-dor” mal!
Aguardam-se, “varre-duras”!
Um rato foi colocado em cima de um frasco cheio de grãos. Ele estava tão satisfeito por encontrar tanta comida, que já não tinha mais necessidade de buscar comida em outros lugares. Depois de comer muito, ele chegou no fundo do pote. Agora ele está preso e não consegue sair. Com isso aprendemos 3 lições importantes:
1) Prazeres de curto prazo podem levar a armadilhas de longa duração.
2) Nada é fácil nessa vida. E se for muito fácil, talvez não valha a pena.
3) As medidas certas devem ser tomadas no momento certo, caso contrário, você vai perder tudo o que você tem (inclusive sua liberdade).
Tem um pensamento que diz: O tempo é o maior juiz de todo os tempos. Essa gentalha do stf teve uma vitória de Pirro. Talvez não serão desmascarados agora, mas a história fará isso
“A solução mais fácil era botar o Michel”.
Os principais trechos do áudio de Romero Jucá
Diálogo entre Jucá e Machado faz ilações sobre STF e sugere acordo para “delimitar” a Lava Jato
A interceptação do diálogo entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR), agora licenciado do cargo de ministro do Planejamento, e o empresário Sergio Machado, da Transpetro, trouxe material explosivo para a narrativa da Lava Jato. Para muitos, ela deu voz aos que temiam que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff estivesse sendo arquitetado com o intuito de retardar ou atrapalhar o avanço das investigações sobre o esquema de propina da Petrobras. “Tem que ter um impeachment”, afirma Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, num trecho da gravação divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo. “Tem que ter impeachment. É a única saída”, concorda Jucá, enquanto falam sobre os rumos da Lava Jato.
Mas, para além dessa suspeita, cujas informações ainda estão sob avaliação da Procuradoria Geral da República, a conversa entre os dois investigados menciona nomes de delatores como Marcelo Odebrecht, por exemplo, que poderia fazer sua delação, mas de maneira parcial, segundo trecho da gravação. Insinua, ainda, um suposto contato estreito com juízes do Supremo, onde o assunto seria o rumo das investigações, e reforça suspeitas sobre atos ilícitos do senador e presidente do PSDB, Aécio Neves.
Delação seletiva de Odebrecht
– Odebrecht vai fazer [delação premiada], afirma Machado.
– Seletiva, mas vai fazer, retruca Jucá.
Proximidade com Supremo
Em determinado momento, o agora ministro licenciado do Planejamento diz:
– Conversei ontem com uns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de… sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’.
Em outro trecho, sugere que um acordo nacional, ou pacto, para “delimitar” a Lava Jato com participação do Supremo.
– Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]… É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional, sugere Machado.
– Com o Supremo, com tudo, afirma Jucá.
– Com tudo, aí parava tudo, anuncia Machado.
– É delimitava onde está, pronto, afirma o senador peemedebista.
Muito além do PT
Sergio Machado, em determinado momento diz que “eles”, ou seja, a força tarefa da Lava Jato, quer pegar todos os políticos.
– A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…, diz Machado.
– Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…, responde Jucá.
– Isso, e pegar todo mundo.
O esquema de Aécio Neves
O senador do PSDB, Aécio Neves, presidente do seu partido, também novamente é citado como alguém vulnerável para as investigações conduzidas pelo juiz Sérgio Moro.
– E o PSDB, não sei se caiu a ficha já. [Machado]
– Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador], responde Jucá.
– Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
– Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
– O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
– O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB… [Machado]
– É, a gente viveu tudo.
Consequência eleitoral
– É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma… (Machado)
– Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
Veja mais em El Pais.
E assim chegamos ao atual “Estado Democrático de Esquerda”, com o Supremo e com quase tudo.
É incrível a falta de vergonha na cara de muita gente, esta mesma gente que crucificou o Moro e o Deltan quando da Operação Vaza Jato, os dois não valiam nada. E aí a Lava Jato acabou. Agora os mesmos que bateram no Moro e no Deltan, que pediam o fim da Lava Jato, são os mesmos que morrem de medo de ver um novo e inevitável Petrolão, com os já sobejamente conhecidos, Stalinácio e a sua trupe de empreiteiras picaretas. O resultado já sabemos qual vai ser, é inevitável que seja diferente.