Roberto Nascimento
Tenho repetido à exaustão sobre o perigo que o país correu no final desses quatro anos de tragédia grega. O ápice foi o ato golpista do dia 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes. Porém, duas tentativas anteriores também fracassaram, quando o golpe estava pronto para ser desfechado, mas faltou o principal – o apoio do Alto-Comando do Exército.
O primeiro ato foi o vandalismo em Brasília na noite de 12 de dezembro, quando Lula e Alckmin foram diplomados como presidente e vice, não havia recursos pendentes na Justiça Eleitoral para impedir a posse.
VANDALISMO IMPUNE – Na noite/madrugada de 12 para 13 de dezembro, os manifestantes bolsonaristas incendiaram cinco ônibus, depredaram outros sete, destruíram vários automóveis, saíram arrebentando o que viam pela frente, invadiram um posto de gasolina, roubaram 40 botijões de gás e tentaram incendiar o local.
O vandalismo durou horas, mas ninguém foi preso. A Polícia Militar assistiu a tudo, inerte, como se estivesse protegendo os agitadores bolsonaristas.
No dia 24, véspera de Natal, o vandalismo virou ato terrorista. Colocaram uma bomba-relógio num caminhão de combustível para explodir no estacionamento do Aeroporto de Brasília. A bomba foi ativada, mas, felizmente, falhou. Seria uma tragédia, acompanhada de incêndios e mortes. E esse caos se tornaria a senha para o golpe, através da decretação do Estado de Defesa.
MINUTA DO DECRETO – O documento do decreto já estava redigido, praticamente pronto para ser assinado por Bolsonaro, e foi encontrado em busca e apreensão na casa do ex-ministro da Justiça, o delegado federal Anderson Torres, que já está preso.
As apurações, ainda em sigilo, apontam para um advogado carioca, que teria redigido a minuta golpista, um jurista melhorou o documento a luz da Constituição e o golpe tinha apoio de parlamentares e do braço militar, a chamada ala frotista, assim chamada por serem herdeiros do radicalismo do general Sylvio Frota.
Na calada da noite, Bolsonaro e a cúpula frotista, formada por seu candidato a vice, general Braga Netto, e pelos ministros da copa e cozinha do Planalto, Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno, reuniram-se em mais de uma ocasião para discutir a minuta e o momento propício para sua execução, através da decretação do Estado de Defesa. No entanto, a bomba não explodiu no Aeroporto, o plano golpista foi novamente adiado;
ÚLTIMA CHANCE – A invasão da Praça dos Três Poderes foi a tentativa derradeira. A cúpula golpista esperava que o presidente Lula usasse o artigo 142 da Constituição e convocasse as Forças Armadas para restabelecer a ordem pública. Mas Lula não nasceu ontem, e a insurreição morreu ali mesmo.
Só escapamos de um golpe devido ao espírito público de patriotas de verdade, que pensaram no futuro da pátria. Em dezembro, quando o Exército ainda estava sob comando do general Freire Gomes, o Alto-Comando se recusou a aceitar o golpe. Aos generais da cúpula devemos a estabilidade institucional que o país está retomando.
Quanto aos traidores da democracia, um dia eles vão prestar contas e suas consciências irão martelar os neurônios, até o último suspiro de cada personagem. Homens menores, sem sangue nas veias e de almas frígidas, estão destinados a vagar no último girão do Inferno de Dante. São militares de péssima categoria, sem qualquer compromisso com a pátria que juraram defender.