Milei busca um inédito presidencialismo de coalizão numa Argentina dividida

Milei enfrentará um desafio verdadeiramente espantoso

Marcus André Melo
Folha

A única surpresa no segundo turno das eleições presidenciais argentinas foi a margem de vitória entre os candidatos. Foi muito superior ao esperado, o que confere a Javier Milei um mandato claro. Mas ele será minoritário no Congresso, gerando incentivos para que embarque em unilateralismo plebiscitário — o que será provavelmente um dos riscos menores de seu governo.

No mais, nenhuma surpresa. Já havia antecipado na coluna o malogro histórico do peronismo. Milei ganhou em 21 das 24 províncias: é “o candidato do interior sublevado, do subsolo da pátria”, como afirmou o cientista político Andrés Malamud.

BOA NOTÍCIA – O peronismo não é mais o mesmo, o que é boa notícia para Milei. Um dos seus traços marcantes é o vale-tudo institucional, sobretudo através de “piqueteros”. Mas seu braço sindical está muito enfraquecido. Vale lembrar o bordão “o peronismo, quando perde eleição, não deixa governar”. Aconteceu com o radical Raúl Alfonsín (1983-1989), que saiu da Presidência cinco meses antes de o mandato expirar.

O apoio de Patricia Bullrich e Mauricio Macri no segundo turno já apontava para um inédito presidencialismo de coalizão no país.

A primeira eleição ampla com representação proporcional ocorreu em 1963, duas décadas depois da brasileira. E durou pouco tempo. Depois do regime militar (1976-1983), permaneceu a clivagem histórica entre radicais (UCR) e peronistas (PJ).

PEQUENA MAIORIA – Após a debacle do último governo radical de De la Rúa (1999-01), o sistema partidário se desnacionalizou, faccionalizou, personificou e fragmentou. O campo não peronista cindiu entre o PROS e a UCR, a qual encolheu. O peronismo, entre facções rivais.

O partido de Milei elegeu 14% das cadeiras da Câmara, mas, com o apoio pleno do PROS, de micropartidos provinciais (proibidos no Brasil desde 1946) e de parte da UCR, poderá obter uma maioria.

Terá apoio também de governadores de províncias importantes que continuam cruciais malgrado o fim do colégio eleitoral, em 1994, e da eleição de senadores pelas assembleias legislativas das províncias que controlam.

ECONOMIA INVIÁVEL – Governadores de províncias pequenas também poderão passar a apoiar o governo. Portanto, o caráter minoritário do governo não é insuperável; a magnitude do ajuste macroeconômico com custos elevadíssimos, sim.

O mais impressionante é que Milei foi eleito com uma proposta política de ajuste ultrarradical e não escamoteou o que faria. Na Argentina não há estelionato eleitoral. A seu favor: pela primeira vez na história, há um sentimento público da necessidade de mudança radical.

A chave para o drama argentino é perguntar: o que levou o país a se defrontar com a escolha entre alguém como Milei e o peronismo em ruína?

7 thoughts on “Milei busca um inédito presidencialismo de coalizão numa Argentina dividida

  1. Respondendo a pergunta:
    O que levou os argentinos a essa decisão, a esquerda.
    Onde esse regime passou deixou um rastro de miséria humana.
    Não é só o peronismo que se perder não deixa governar, no Bolsonaro não foi só a facada. Com o Milei ele que se prepare pois já querem, um rim, um pâncreas, um prepúcio e o escalpo.
    A esquerda mundial não vai dar trégua, vide as matérias da mídia amestrada e freguesa. As mentes distorcidas de vários jornalistas estão no seu elemento ao divulgar fotos do Milei distorcidas ou no pior ângulo.
    A Globo está com o burro na sombra esse governo está despejando gordas verbas de publicidade em seu caixa e como dizia minha avó, um burro carregado de açúcar até o peido dele é doce.

  2. Parabéns pelo texto, é a primeira vez que leio na imprensa caseira um texto em que não chama o Javier de direitista, ultradireitista ou de extrema direita, coisa que o cara não é mesmo. Espero que o Milei faça um bom governo, o sucesso dele encorajará os vizinhos à mudanças tão necessárias, que não são tentadas pelo medo de errar.

  3. Millei, irá freiar(emperrar) a idealizada Nação 6, da Nova Ordem Mundial ou fará parte do necessário estopim de sua “projetada montagem”?
    Aguardemos, “los pacitos”!

  4. Lê-se: Se há possibilidade de alguém, desviando os abismais rumos à Nação 6 governar, sou contra!
    O Brasil e os demais, já foram mapeados e vendidos por migalhas e polpudas comissões(PROPINAS DE SUBORNOS))!
    PS. Com suas mentirosas palavras, os “para tanto alçados”!
    Bah!

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