“Reparação histórica” teria de expulsar todos os descendentes dos europeus 

A ilustração figurativa de Ricardo Cammarota foi executada em técnica mista: manual com pincel e tinta guache sobre papel e, depois, scaneada e acrescentados, digitalmente, o fundo em cor craft e fios finos pretos. A ilustração, na horizontal, proporção 17,5cm x 9,5cm, apresenta a imagem estilizada de um mapa mundi onde os continentes (em cores vivas - laranja, vermelho, amarelo, azul e verde) estão em ordens trocadas. A Oceania no canto superior esquerdo, abaixo, a Ásia. Ao centro, a África, abaixo, a Europa. Do lado inferior direito está a América do norte e central e, à direita, no canto superior, a América do Sul.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Quando penso no que o Homo sapiens fez com os neandertais perco um pouco a esperança na nossa espécie. Como teria sido o mundo se não tivéssemos ajudado a eliminar todos os nossos irmãos sapiens que um dia conviveram conosco nesse efêmero planeta azul?

O conceito de reparação histórica está na praça. Não vou questioná-lo na sua condição epistemológica. Poderia fazê-lo, visto que é frágil na sua estrutura e é, essencialmente, ideológico. Parte do pressuposto de que exista um sujeito histórico social coletivo no tempo e que se sobrepõe aos sujeitos históricos individuais na sua forma moral, legal, cognitiva e política. Mas, assumamos a proposta como tal e investiguemos quais seriam suas formas mais extremas.

AO LONGO DA HISTÓRIA – Os anticolonialistas só pensam nos europeus quando tecem suas críticas anticoloniais, mas talvez pudéssemos incluir outros povos ao longo da pré-história, história, e em toda a geografia na Terra.

Assumindo que os povos originários são os donos originários —redundância proposital— das Américas e Oceania —para quem não sabe, Austrália e Nova Zelândia, além de outras ilhas— não vejo como não pleitear a devolução das terras aos seus donos de origem.

No caso do Brasil, penso que todos os descendentes de europeus que cá chegaram deveriam ser expulsos —ou deveriam ir embora de bom grado. Suas propriedades deveriam ser devolvidas para quem cá vivia em 1500. Tudo, inclusive a praça do Três Poderes e o Planalto, assim como todas as empresas, casas, apartamentos, hospitais, universidades. Enfim, tudo que foi construído a partir da invasão.

E OS ESCRAVOS? – Um pequeno reparo. Os que foram cá trazidos como povos escravizados deveriam ou não ter direito a permanecer no território que até ontem tinha sido o Brasil? Historiadores, antropólogos e mais especialistas no assunto, na sua maioria, de partida, deveriam chegar a um acordo. Ter vindo para cá à força caracteriza colonialismo? Penso que não. Isto posto, que fiquem.

Claro que isso exigiria uma logística para a expulsão ou para o retorno às cortes europeias, que, aliás, não nos aceitariam com certeza, assim como para a própria devolução aos donos de origem do território. Não esqueçamos da imensa burocracia a decidir quem é cada um nessa cadeia de recepção dos bens que foram roubados.

A possibilidade de contencioso seria imensa. Imagino que novas instituições e protocolos burocráticos seriam criados pelos originários a fim de organizar esse processo imenso de justa reparação histórica.

NOS EUA – Evidente que esse procedimento deveria ser posto em prática em todo o continente americano, principalmente entre os “estadunidenses”, expressão ridícula criada pela esquerda. Lá, ainda existiria uma discussão a mais. Como entregar a gestão das armas nucleares?

Claro que o caro leitor inteligente já imaginou o imenso rolo que isso causaria. Onde caberiam tantos “europeus” retornando para uma Europa já desgastada com seus imigrantes pós-coloniais?

O leitor com repertório científico à mão, e com aquele desejo incontrolável de ostentar seu “conhecimento abalizado”, perguntaria nas assembleias democráticas realizadas para organizar o processo de saída dos territórios invadidos o que fazer com tantos brasileiros miscigenados. Temo que não se possa usar mais essa expressão porque já seja sinônimo de genocídio —aliás, palavra da moda, não?

DNA E AI – Análises de DNA e uma decisão a partir da porcentagem de genes originários ou não das “Américas” —perdão pelo uso de tal expressão criminosa—, 50% mais um faria do sujeito invasor ou invadido? Imagino que a inteligência artificial e seus admiradores mostrariam todo seu potencial de resolução de problemas sem solução.

Como lidar com a reação dos reacionários? Redundância proposital. Certamente haveria uma longa discussão sobre o justo, ou não, uso da violência nesses casos. A ideia de que o gosto da violência fora trazido às terras virgens pelos europeus, e por eles somente, encontraria aqui um limite operacional?

O fato é que os limites entre os extremos nem sempre são tão claros. A vida se dá nesses espaços infinitos entre os extremos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A gravidade dos ataques à Faixa de Gaza levou os intelectuais judaicos à perplexidade. E praticamente todos eles, como o brilhantíssimo Luiz Felipe Pondé, ainda não conseguiram sair desse estado de choque. Mas logo terão de emergir da perplexidade e pode ser que consigam transformar Israel em um outro país, com o qual a humanidade sonhava. Vamos aguardar e dar tempo a eles. O que não falta a Israel são intelectuais. (C.N.)

5 thoughts on ““Reparação histórica” teria de expulsar todos os descendentes dos europeus 

  1. Pra começar:
    Abrólhos! É o que está faltando, como instituições, para autogerência das nações indígenas no Brasil e “adjacências” sul americanas!
    “O Governo federal dos EUA reconhece entre 500 a 600 comunidades tribais, como governos que têm direitos sobre a sua própria terra, por lá viverem ainda antes da chegada dos europeus.

    O responsável explicou que as “nações nativas” são comunidades com poder político interno, onde não se aplica a jurisdição do Estado a que pertencem. As tribos têm sistema jurídico próprio, departamentos de polícia, tribunais civis, tribunais penais e Constituição próprios.” https://healthnews.pt/2020/08/08/tribos-indigenas-nos-eua-sao-tratadas-como-outro-pais/?fbclid=IwAR1GJ2iIhcw3FdAvJXhdx8RTPDzVi547lLA4t4TJKln0TWDcFfOyVNM90pY

  2. Existem alguns tabus sagrados no Brasil e alguns sagradíssimos e intocáveis, entre eles a delicada questão indígena.

    Esta questão foi escalada com a renomeação (quem fez isto e por que?) para povos originários.

    Assim todos os demais povos, exceto os índios , seriam invasores e como tal devem ser tratados.

    Não interessa se são , por pureza ou miscigenação, 80 ou 90 % da população, devem ser tratados como os infiéis para os muçulmanos; no fio da espada.

    Mas ninguém se perguntou quais seriam estes povos originários?

    Seriam os tamoios, tupis, guaranis, caiçaras etc que estavam aqui quando Portugal chegou?

    Mas pelo rigor a causa, sabemos que muitas tribos eram guerreiras e conquistar terras , trucidar inimigos e literalmente faze-los desaparecer não era incomum.

    Então suponhamos o RJ.

    Não sou historiador mas é possível teorizar:

    Estavam la em 1500 os tamoios ok.

    Mas em 1400? Em 1200?

    Dizem que os primeiros humanos vieram da Austrália e África.

    Eram eles tamoios?

    Ou os tamoios também eram conquistadores que haviam combatido e vencido ouras tribos que foram expulsas ou desapareceram?

    Vamos repetir a bobagem do marco temporal?

    Se vamos, então Adão e Eva devem ser o limite para a classificação de originários, inclusive os indígenas de 1500 que seriam apenas uma versão indígena, dos conquistadores anteriores, aos portugueses.

    Ou respeitamos os direitos (sic) de todos ou pacificamos a milenar visão de conquistares e conquistados ( das mais variadas formas não apena a militar).

    Nem Cristo pensou em voltar a raiz da formação do mundo.

    Mas o Brasil e ocidente , a esquerda quer nos obrigar a isso.

    Vai ser divertido, ver como cada um se veria neste novo figurino

    Muito interessante seria discutirmos também a questão das reservas, da proteção ambiental, do modo de vida ancestral, dos costumes milenares dos indígenas etc.

    Tem muito caroço debaixo deste angu

  3. Concordo com CN. Essa tentativa ridícula do autor do texto equiparar o que acontece em Gaza e o que aconteceu na Palestina com a historia dos povos originários é para enganar incautos.

    Apela até com a assimilação dos Neandertais pelo homo sapiens. Tá Loko.

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