Uma lira de Tomás Antonio Gonzaga pelo amor da Marília de Dirceu

Biografia Resumida De Marília De Dirceu | Podcast on Spotify

Marília, a musa do inconfidente mineiro

Paulo Peres
Poemas e Canções

Tomás Antonio Gonzaga (1744-1810) nasceu na cidade do Porto, entretanto houve um esforço dos homens de letras em criar discursos que o naturalizassem brasileiro. O
ouvidor acabou tornando-se inconfidente das Minas Gerais e autor de uma das mais conhecidas histórias de amor das Alterosas, quando utilizando o pseudônimo Dirceu, escrevia belos e famosos poemas para sua musa inspiradora Marília.

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LIRA I
Tomás Antonio Gonzaga

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite,
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte:
dos anos inda não está cortado;
os Pastores que habitam este monte
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste
nem canto letra, que não seja minha.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,
só apreço lhes dou, gentil Pastora,
depois que o teu afeto me segura
que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
de um rebanho, que cubra monte e prado;
porém, gentil Pastora, o teu agrado
vale mais que um rebanho e mais que um trono.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!

Jorge Faraj ficou famoso como o poeta dos amores impossíveis na música popular

Nostalgia. - * Há 56 anos, no dia 14/06/1963, morria no... | Facebook

Obra de Faraj é cantada em serestas

Paulo Peres
Poemas e Canções 

O jornalista e compositor carioca Jorge Faraj (1901-1963) é considerado o poeta dos amores impossíveis, onde a mulher é sempre adorada sem saber e ignorando ser objeto de uma paixão. Em “A Deusa da Minha Rua”, um de seus grandes sucessos, cuja primeira gravação foi em 1939, por Silvio Caldas, pela RCA Victor, Faraj descreve o contraste entre a beleza da musa e a pobreza da rua.

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A DEUSA DA MINHA RUA
Newton Teixeira e Jorge Faraj

A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar

Nos seus olhos eu suponho
Que o sol num dourado sonho
Vai claridade buscar

Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Seu vulto que me seduz
A ruazinha modesta
É uma paisagem de festa
É uma cascata de luz

Na rua uma poça d’água
Espelho da minha mágoa
Transporta o céu para o chão
Tal qual o chão da minha vida
A minha alma comovida
O meu pobre coração

Infeliz da minha mágoa
Meus olhos são poças d’água
Sonhando com seu olhar
Ela é tão rica e eu tão pobre
Eu sou plebeu e ela é nobre
Não vale a pena sonhar

Na poesia de Adélia Prado, está sempre amanhecendo na casa de seu pai

Não tenho tempo pra mais nada, ser... Adélia Prado - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A mineira Adélia Prado, vencedor dos principais prêmios de literatura em língua portuguesa neste ano, mostra neste poema que podemos sentir, a qualquer hora, um novo amanhecer que servirá para perpetuar os acontecimentos felizes daquele dia ou, caso contrário, para esquecermos o dia anterior.

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IMPRESSIONISTA
Adélia Prado

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

Caía a tarde feito um viaduto, e um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos…

O Bêbado e A equilibrista - João... - Samba Choro Partituras | Facebook

Bosco e Aldir, na dureza daqueles tempos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O desabamento de parte do viaduto da Av. Paulo de Frontim, na Tijuca (RJ), numa tarde de sábado em 21/11/1971, inclusive com muitas vítimas fatais, foi um acidente em plena ditadura fez o psiquiatra, escritor e poeta Aldir Blanc invocar o seu infindo veio poético para escrever “O Bêbado e a Equilibrista” com seu grande parceiro João Bosco. Mais do que um clássico tornou-se um hino na época da ditadura e da anistia, que foi gravado por Elis Regina.

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O BÊBADO E A EQUILIBRISTA
João Bosco e Aldir Blanc

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos…

A lua, tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil.
Meu Brasil!…

Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil…

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança…

Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar…

Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar…

A amada resiste ao poeta Aluísio de Azevedo e ele entra em desespero

E que mais é o nosso viver nesta espécie de mundo, senão uma...Paulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata, jornalista, caricaturista, cronista, romancista, contista e poeta maranhense Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo (1857-1913), no soneto “Pobre Amor”, revela que sofre pelo pecado e pela resistência de sua amada.

POBRE AMOR
Aluísio de Azevedo

Calcula, minha amiga, que tortura!
Amo-te muito e muito, e, todavia,
Preferira morrer a ver-te um dia
Merecer o labéu de esposa impura!

Que te não enterneça esta loucura,
Que não te mova nunca esta agonia,
Que eu muito sofra porque és casta e pura,
Que, se o não foras, quanto eu sofreria!

Ah! Quanto eu sofreria se alegrasses
Com teus beijos de amor, meus lábios tristes,
Com teus beijos de amor, as minhas faces!

Persiste na moral em que persistes.
Ah! Quanto eu sofreria se pecasses,
Mas quanto sofro mais porque resistes!

Os mais íntimos já viram o poeta remexendo escombros, em permanente assombro…

Affonso Romano de Sant'Anna - Que País é Este

Affonso Romano também revira seu escombros

Paulo Peres
Site Poemas & Canções

O jornalista e poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna, no poema “Assombros”, confessa os abalos que lhe ocorrem.

ASSOMBROS 
Affonso Romano de Sant’Anna

Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre a aorta e o omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.

Uma canção sobre o realejo que era capaz de despertar amor e tristeza

TV SAUDADES : Artistas encontrados 52 resultados para SADI CABRAl

Sadi Cabral, grande ator e compositor

Paulo Peres
Site Poemas & Canções

O ator e compositor alagoano Sadi Sousa Leite Cabral (1906-1986), em parceria com Custódio Mesquita, aborda alegria, partida, tristeza e saudade de alguém através das canções de um “Velho Realejo”. Essa valsa foi gravada por Carlos Galhardo, em 1952, pela RCA Vitor.

VELHO REALEJO
Custódio Mesquita e Sadi Cabral

Naquele bairro afastado
Onde em criança vivias
A remoer melodias
De uma ternura sem par

Passava todas as tardes
Um realejo risonho
Passava como num sonho
Um realejo a cantar

Depois tu partiste
Ficou triste a rua deserta
Na tarde fria e calma
Ouço ainda o realejo tocar

Ficou a saudade
Comigo a morar
Tu cantas alegre e o realejo
Parece que chora com pena de ti

Lumiar, um paraíso no alto da Serra, que encantou até o Clube da Esquina

sol de primavera - beto guedes | Letras de musicas, Canção, Sol de primaveraPaulo Peres
Site Poemas & Canções

O jornalista, produtor musical e compositor Ronaldo Bastos Ribeiro, nascido em Niterói (RJ) e membro do Clube da Esquina, na letra de “Lumiar”, fala de um vilarejo bucólico, repleto de vida, diversão na região serrana do Rio, um ótimo lugar para quem deseja somente descansar. A música foi gravada por Beto Guedes, em 1977, no LP A Página do Relâmpago Elétrico, pela EMI-Odeon.

LUMIAR
Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Anda, vem jantar, vem comer,
vem beber, farrear
até chegar Lumiar
e depois deitar no sereno
só pra poder dormir e sonhar
pra passar a noite
caçando sapo, contando caso
de como deve ser Lumiar

Acordar, Lumiar, sem chorar,
sem falar, sem querer
acordar em Lumiar
levantar e fazer café
só pra sair caçar e pescar
e passar o dia
moendo cana, caçando lua
clarear de vez Lumiar

Amor, Lumiar, pra viver,
pra gostar, pra chover
pra tratar de vadiar
descansar os olhos,
olhar e ver e respirar
só pra não ver o tempo passar
pra passar o tempo
Até chover, até lembrar
de como deve ser Lumiar

Anda, vem jantar, vem dormir,
vem sonhar, pra viver
até chegar em Lumiar
Estender o sol na varanda…
até queimar
só pra não ter mais nada a perder
pra perder o medo,
mudar de céu, mudar de ar
Clarear de vez Lumiar

Um poema de amor (direto, doce e sensual), bem no estilo de Alice Ruiz

entre tantos loucos e livres existe... Alice Ruiz - PensadorPaulo Peres
Site Poemas & Canções
 

A publicitária, tradutora, compositora e poeta  curitibana Alice Ruiz Scherone, no poema Ninguém Me Canta como Você”, revela o fascínio e o modo sedutor que seu amado exerce sobre ela.

NINGUÉM ME CANTA COMO VOCÊ
Alice Ruiz

ninguém me canta
como você
ninguém me encanta
como você
nem me vê
do jeito
que só você
de que adianta
ter olhos
e não saber ver
ter voz
mas não não ter o que dizer
digam o que disserem
façam o que quiserem
ninguém diz
ninguém vê
ninguém faz
como você
ninguém me canta
ninguém me encanta
como você

Um poema de Tobias Barreto que exige o final da escravidão na monarquia

Sancionada lei que inscreve Tobias Barreto no Livro dos Heróis e Heroínas  da Pátria - Notícias - UFPE

Tobias Barreto, poeta abolicionista

Paulo Peres
Site Poemas & Canções

O jurista, filósofo, crítico e poeta Tobias Barreto de Meneses (1839-1889), no poema “A Escravidão”, questiona a estrutura escravagista do regime monárquico em vigência, opondo-lhe a República e a Abolição.

Na primeira estrofe do poema, procede a uma reflexão filosófica profunda acerca da Divindade dogmática como instituição mantenedora das desigualdades sociais e conivente com a exploração do homem pelo homem. Enquanto que, nos dois últimos versos do poema, encontramos um eu-lírico cético e questionador de todos os dogmas religiosos que não se furta a apontar as falhas Divinas: “Nesta hora a mocidade / Corrige o erro de Deus”.

A ESCRAVIDÃO
Tobias Barreto

Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!…

“O brasileiro convive com o escândalo como se fosse o seu pão de cada dia”

Tribuna da Internet | Thiago de Mello jamais aprendeu a lição de aceitar as injustiças sociaisPaulo Peres
Site Poemas & Canções

O poeta amazonense Thiago de Mello (1926-2022) denunciou em versos as agruras da política brasileira, ao compor “Diário de um Brasileiro”, um poema que mostra a realidade de nosso dia a dia.

DIÁRIO DE UM BRASILEIRO
Thiago de Mello

O brasileiro convive bem com o escândalo moral.
Os ladrões infestam os salões de luxo,
os Bancos estouram, os banqueiros
são cumprimentados com reverência,
o Presidente do Congresso chama o senador
de bandido, sim senhor, vossa excelência.

O Presidente diz pela televisão
que “é preciso acabar com a roubalheira
nos dinheiros públicos”.
As pessoas das cidades grandes
vivem amedrontadas, qualquer
transeunte pode ser um assaltante.
As meninas cheiram cola. Depois
vão dar o que têm de mais precioso
ao preço de um soco na cara desdentada.

O brasileiro convive com o escândalo
como se fosse o seu pão de cada dia,
com uma indiferença letal.

Como se dormir na casa com um rinoceronte,
mas rinoceronte mesmo,
fosse a coisa mais natural do mundo,
chegando a cheirar a camélias.

O povo, um dia.
Do povo vai depender
a vida que vai viver,
quando um dia merecer.
Vai doer, vai aprender.

“Por que se chamava homem, também se chamavam sonhos e sonhos não envelhecem”

Histórias do Clube da Esquina no Teatro do Engenho – Portal do Município de Piracicaba

Márcio Borges e as letras do Clube de Esquina

Paulo Peres
Site Poemas & Canções

O escritor, diretor do Museu do Clube da Esquina e poeta mineiro Márcio Hilton Fragoso Borges é, sem dúvida, um dos melhores letristas do nosso cancioneiro popular, criador da expressão “os sonhos não envelhecem”.

Na letra de “Clube da Esquina II”, feita com seu irmão Lô e Milton Nascimento, Márcio Borges fala de um tempo de lutas, de persistência, de não se render. Além disso, é um canto de uma juventude que soube compreender seu tempo, seus medos, suas angústias e suas derrotas, mas não desistiu.

É um Clube da Esquina, esquina de amigos que estavam tentando vencer na vida, assim como os amigos que tentavam vencer a ditadura, belo paralelo, pois acabou a ditadura, mas o Clube da Esquina, a luta e persistência para vencer na vida, é algo sempre presente, por isso a música “Clube da Esquina II” será eterna.

A música “Clube da Esquina II” foi gravada por Milton & Lô Borges no LP Clube da Esquina, em 1972, pela Odeon.

CLUBE DA ESQUINA II
Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges

Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço…

Por que se chamava homem
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos…

E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio,
De tudo se faz canção
E o coração na curva de um rio, rio, rio…

E o Rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio,
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente, gente.

“Volta”, uma das desesperadas canções de amor criadas por Lupicínio Rodrigues

O revelador documentário sobre Lupicínio Rodrigues, 'avô' da sofrência |  VEJA

Nelson Cavaquinho e Lupicínio, dois gigantes

Paulo Peres
Site Poemas & Canções

O compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914-1974), Lupe, como era chamado desde pequeno, sempre foi um mestre no emprego do lugar-comum, tal qual ele capta nos versos de “Volta” o imenso vazio das noites que a saudade as torna insones.  A música foi gravada por muitos intérpretes, inclusive Gal Costa, no LP Índia, em 1973, pela Phonogram.

VOLTA
Lupicínio Rodrigues

Quantas noites não durmo
A rolar-me na cama,
A sentir tantas coisas
Que a gente não pode explicar
Quando ama.

O calor das cobertas
Não me aquece direito…
Não há nada no mundo
Que possa afastar
Esse frio do meu peito.

Volta!
Vem viver outra vez ao meu lado!
Não consigo dormir sem teu braço,
Pois meu corpo está acostumado…

“Amanhece, preciso ir, meu caminho é sem volta e sem ninguém”, dizia o cantador

Folhapress - Fotos - Nelson Motta (dir.) e Dori Caymmi,

Dori e Nelsinho, amigos desde sempre

Paulo Peres
Poemas e Canções 

O jornalista, escritor, roteirista, produtor musical, letrista e compositor paulista Nelson Cândido Motta Filho, na letra de “O Cantador”, em parceria como amigo Dori Caymmi, fala sobre a dor, a vida, a morte e o amor, sentimentos que fazem o cotidiano de quem apenas sabe cantar. A música teve várias gravações, entre as quais, a do próprio compositor no LP Dori Caymmi, em 1972, pela Odeon.]

O CANTADOR
Dori Caymmi e Nelson Motta

Amanhece, preciso ir
Meu caminho é sem volta e sem ninguém
Eu vou pra onde a estrada levar
Cantador, só sei cantar
Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor
Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor

Cantador não escolhe o seu cantar
Canta o mundo que vê
E pro mundo que vi meu canto é dor
Mas é forte pra espantar a morte
Pra todos ouvirem a minha voz
Mesmo longe …

De que servem meu canto e eu
Se em meu peito há um amor que não morreu
Ah! se eu soubesse ao menos chorar
Cantador, só sei cantar
Ah! eu canto a dor de uma vida perdida sem amor
Ah! eu canto a dor de uma vida perdida sem amor

“Hoje, trago em meu corpo as marcas do meu tempo”, cantava o genial Taiguara

Retratos: Taiguara — álbum de Taiguara — Apple Music

Taiguara foi o cantor mais censurado do país

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor Taiguara Chalar da Silva (1945-1996) nascido no Uruguai durante uma temporada de espetáculos de seu pai, o bandoneonista e maestro Ubirajara Silva, foi um dos melhores compositores da MPB e considerado um dos símbolos da resistência à censura durante a ditadura militar, tanto que teve, aproximadamente, 100 músicas vetadas, razão que o levou a se auto-exilar na Inglaterra em meados de 1973.

A letra da música “Hoje” foi censurada, porque fazia alusão ao governo militar, à tortura (trago em meu corpo, as marcas do tempo) e insinuava que a sociedade era infeliz sob o comando da ditadura militar. A música foi gravada por Taiguara no LP Hoje, em 1969, pela EMI-Odeon.

HOJE
Taiguara

Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo
Meu desespero, a vida num momento
A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo…

Hoje
Trago no olhar imagens distorcidas
Cores, viagens, mãos desconhecidas
Trazem a lua, a rua às minhas mãos,

Mas hoje,
As minhas mãos enfraquecidas e vazias
Procuram nuas pelas luas, pelas ruas…
Na solidão das noites frias por você.

Hoje
Homens sem medo aportam no futuro
Eu tenho medo acordo e te procuro
Meu quarto escuro é inerte como a morte

Hoje
Homens de aço esperam da ciência
Eu desespero e abraço a tua ausência
Que é o que me resta, vivo em minha sorte

Sorte
Eu não queria a juventude assim perdida
Eu não queria andar morrendo pela vida
Eu não queria amar assim como eu te amei.

Uma canção de amor (nem tanto assim…) de Carlos Drummond

Notas sobre 'A banda' - Carlos Drummond de AndradePaulo Peres
Poemas e Canções

O bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos mestres da poesia brasileira, mostra suas dúvidas sobre a “Canção Final”.

CANÇÃO FINAL
Carlos Drummond de Andrade

Oh! se te amei, e quanto!
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias.
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim.

“Eu quero uma licença de dormir, perdão pra descansar horas a fio…’

Adelia Prado e suas frases de amor - Frases Curtas de AmorPaulo Peres
Site Poemas & Canções

A professora, escritora e poeta mineira Adélia Luzia Prado de Freitas apareceu nas redes sociais na tarde desta sexta-feira (28) para agradecer os dois prêmios que ela conquistou em menos de uma semana. A escritora mineira venceu o Prêmio Camões 2024, o mais importante da língua portuguesa, e o Prêmio Machado de Assis 2024, pelo conjunto da obra.

No pequeno poema “Exausto”, Adélia Prado fala da exaustão, quando corpo e alma sua vontade de descanso absoluto.

EXAUSTO
Adélia Prado

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

“Prefiro sair de cena, porque chamar os estádios de arena é absoluta ignorância”

Oficial Chico Salles 16/09/2012

Chico Salles, grand cantador

Paulo Peres
Poemas & Canções

O engenheiro, cantor, compositor e cordelista paraibano Francisco de Salles Araújo, neste “Martelo Recado”, faz uma crítica aos novos nomes dos nossos estádios de futebol.

MARTELO RECADO
Chico Salles

Dizer que lugar longe é caixa prego
Ou então que bezerro é garrote
Chamar Cervantes de Dom Quixote
E que todo analfabeto é cego
Possa ser perdoado, eu não nego.
Falar que assistência é ambulância
É um papo de pouca substância
E assim prefiro sair de cena,
Mas, chamar os estádios de arena,
É uma absoluta ignorância.

Chamar o pederasta de baitoula
É falado muito assim no Ceará
Dizer que camundongo é preá
Que a base do tempero é a cebola
Falar que a cueca é ceroula
Que a origem do cheiro é a fragrância
É parecido mais eu sei que tem distância
Por isso não merece qualquer pena
Mas, chamar os estádios de arena,
É uma absoluta ignorância.

Chamar a fechadura de tramela
Ou dizer que o sapo é cururu
Que o lugar do caroço é no angu
Que o melhor do boi á a vitela
E que lugar de flor é na lapela
Que a frequência é o mesmo que constância
Que no feio também tem elegância
São as verdades da gota serena,
Mas, chamar os estádios de arena,
É uma absoluta ignorância.

“É muito difícil encontrar felicidade no amor”, avisava o Príncipe dos Poetas

Paulo Peres
Site Poemas & Canções

O desenhista, jornalista, advogado, tradutor, cronista e poeta paulista Guilherme de Andrade de Almeida (1890-1969), chamado de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, demonstra que é muito difícil encontrar felicidade no amor.

AMOR, FELICIDADE
Guilherme de Almeida

Infeliz de quem passa no mundo,
procurando no amor felicidade:
a mais linda ilusão dura um segundo,
e dura a vida inteira uma saudade.

Taça repleta, o amor, no mais profundo
íntimo, esconde a joia da verdade:
só depois de vazia mostra o fundo,
só depois de embriagar a mocidade…

Ah! quanto namorado descontente,
escutando a palavra confidente
que o coração murmura e a voz diz,

percebe que, afinal, por seu pecado,
tanto lhe falta para ser amado,
quanto lhe basta para ser feliz! 

A paixão jovem de Gonçalves Dias, quando a amada estava entre menina e mulher

A imaginação tem cores que não se... Gonçalves Dias - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, jornalista, etnógrafo, teatrólogo e poeta romântico maranhense Antônio Gonçalves Dias (1823-1864), no poema “A Minha Rosa”, retrata a beleza entre menina e mulher.

A MINHA ROSA
Gonçalves Dias

A mim! foi a mim que o ouviste?
Eu! — chamá-la minha rosa!…
De certo que é bem formosa,
Entre criança e mulher!
Se a vejo tão jovem inda,
Tão simples, tão meiga e linda,
Da vida no rosicler;

Podia chamá-la — rosa,
De musgo ou de Alexandria,
Rosa de amor, de poesia,
Mais lhe não dava que o seu;
Porque se essa flor mimosa
Já chegaste ao teu retrato,
Havias ver como a rosa
De repente esmoreceu!

Porém teu amor, querida,
Teu amor que é minha vida,
Que é meu cismar, que é só meu;
Esse que te faz formosa
Entre todas as mulheres,
Onde achá-lo?! — Minha rosa…
Minha és tu!… como sou teu.

Não nego que é meiga e linda,
Entre mulher e criança,
Tão jovem, tão meiga, e ainda
Da vida no rosicler;
Mas tu vales mais do que ela,
Não conheces bem teu preço,
Acho-te muito mais bela,
Como és, — entre anjo e mulher.