Após a “extirpação”, a Tribuna renasceu, mas ainda falta retomar nossos arquivos

Como combater notícias falsas na internet sem implantar a | Geral

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Carlos Newton

Conforme já informamos, desde o dia 27 de maio foi iniciado contra a Tribuna da Internet.um ataque exterminador — ou “extirpador”, como prefere o atual grande líder da nacionalidade. De onde vêm essas investidas não nos interessa. Para nós, o importante é manter um espaço livre e democrático na internet, que defenda os interesses nacionais sem maiores vinculações políticas, partidárias ou ideológicas.

É claro que essa meta é uma utopia e sempre há alguma tendência nos assuntos tratados, pois o ser humano é essencialmente político, em especial quando estão em disputa o interesse coletivo, a injustiça social e a defesa dos menos favorecidos.

SEM ARQUIVOS – Em ataque anterior, os hackers praticamente destruíram nossos arquivos, todos os textos ficaram de difícil leitura, sem as palavras que tenham acento, til e cedilha. Além disso, a imensa maioria dos artigos ficou sem título, é impossível achá-los através de busca. E agora, no último ataque, ficamos também sem os comentários, que já passavam de 637 mil.

Nessas crises, quando a excelente Equipe Técnica do Servidor UOL não tem como nos socorrer, porque os hackers atuam também em espaços inacessíveis ao UOL, como a plataforma WordPress, na qual o blog é editado, sempre recorremos ao jornalista Marcelo Copelli, companheiro dos tempos da Tribuna da Imprensa, especialista em informática.

Desta vez, ele teve de recriar o blog, mas tomou a precaução de preservar o que ainda existia, para que depois, como calma, possamos restabelecer o que sobrou dos arquivos.

ARTICULISTAS – No caso dos articulistas, eles foram simplesmente “extirpados”, como diz Lula da Silva. Para que seus nomes constem novamente da lista na primeira página, precisam enviar um artigo novo. Assim que é publicado, o nome do autor então entra automaticamente na relação de articulistas.

Tudo isso significa que a completa normalização da Tribuna da Internet será um serviço intrincado, que vai demorar a ser feito. E demonstra que, ao contrário do que deveria ocorrer, operar sob o signo da liberdade não é nada fácil, sobretudo em tempos de polarização.

Mesmo assim, vamos em frente, sempre juntos, na defesa da moralização da vida pública e do respeito aos interesses coletivos, duas metas hoje praticamente inviáveis, mas que serão atingidas no futuro, com a evolução da vida em sociedade.     

Ministros do Supremo acreditam que já é hora de virar a página do 8 de janeiro

O cão que fuma...: Compensa, ou não compensa?

Charge do Zappa (Arquivo Google)

Thays Martins
Correio Braziliense

Em conversas reservadas nas rodas da política, alguns ministros do Supremo Tribunal Federal têm dito que está na hora de o país fechar o 8 de janeiro — ou seja, concluir investigações, julgamentos e fechar a “gaveta da política”, que permanece aberta na Corte.

Com a democracia assegurada, avaliam políticos dos mais diversos matizes e magistrados do STF, o momento é de punir os responsáveis pela tentativa de golpe de Estado, encerrar essa novela e olhar para frente.

Em tempo: essas avaliações foram feitas à coluna antes da frase infeliz do vice-presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, sobre “derrotar o bolsonarismo”. Ele assume a presidência do STF no segundo semestre, quando a ministra Rosa Weber se aposenta. Há quem defenda que a Casa encerre o capítulo do 8 de janeiro antes de a magistrada passar o comando.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Alguns ministros realmente pensam (?) assim, mas dificilmente o Supremo irá abandonar os julgamentos políticos, nos quais as decisões não dependem do que as leis e a jurisprudência internacional determinam, pois ficam por conta da “interpretação” mais adequada em termos políticos. Como se dizia antigamente, o uso do cachimbo deixa os ministros com a boca torta, enquanto os verdadeiros democratas ficam de queixo caído com essas decisões meramente políticas. Somente no dia em que nos livramos delas é que estaremos de novo vivendo em regime de democracia plena. (C.N.)

Leonardo da Vinci utilizou a palavra para explicar como a Mona Lisa deve ser observada

Para Leonardo da Vinci, a Mona Lisa deve ser vista por vários ângulos

Pedro do Coutto

O economista Filipe Campello, meu amigo, comentou a minha observação feita na coluna de quinta-feira, quando citei a declaração de Ruy Castro ao tomar posse na ABl , de que a palavra, no fundo, é indispensável para classificar e destacar imagens e seus significados, acentuando que uma imagem pode valer mais do que mil palavras; mas que a sua definição e sua relevância dependem da palavra na comunicação humana.

Basta citar em favor da tese o que escreveu o próprio Leonardo da Vinci em seus cadernos de Florença sobre as melhores formas de se observar a Mona Lisa, sua obra eterna e mais famosa. A citação contida nos cadernos é focalizada na biografia monumental sobre Leonardo da Vinci de Walter Isaacson, que, a meu ver, tornou o livro uma obra genial.

EFEITOS VISUAIS – Leonardo da Vinci chamou atenção para a coloração peculiar que atribuiu à tela, buscando efeitos visuais não perceptíveis na primeira visão. Ressaltou também que a Mona Lisa deve ser vista por vários ângulos; pela direita, numa visão oblíqua, de perto e à média distância, na visão frontal, a média e longa distância, e a partir do ângulo esquerdo, à média e longa distância.

A imagem encontrada por quem assim procede vai se multiplicar e revelar detalhes a cada enfoque da visão. Mas, o sorriso enigmático da figura na tela, ele explica, acompanhará o olhar de quem aprecia em todas essas situações. A figura na tela famosa que está no Louvre, Galeria dos Italianos, é de Lisa Gherardini, mulher do comerciante rico Francesco Giocondo, um homem que tinha obsessão para ser aceito pela sociedade alta de Florença.

DESENTENDIMENTO – Lisa Gherardini (a Gioconda) pertencia ao nível mais elevado. Ela posava para da Vinci em um ateliê em Florença e o quadro demorava para ser concluído. Levou quase quatro anos, acentua Isackson. Giocondo desentendeu-se com da Vinci e foi expulso do ateliê. O gênio da Renascença devolveu o dinheiro pago pela pintura,  ficou com o quadro para si e levou-o para a França, onde faleceu na cidade de Amboise, e onde se encontra sepultado.

A pintura foi parar no Louvre e foi roubada em 1910, mas o ladrão devolveu a obra. No século passado, um louco tentou jogar tinta na tela do quadro. O quadro é pequeno e está novamente em seu lugar. Dizem até que se trata de uma cópia para evitar novos atentados. Há loucos para tudo. O que importa no tema objeto desse artigo é o uso da palavra para qualificar e explicar, traduzir e até mesmo ensinar como as obras de arte devem ser admiradas.

VIOLÊNCIA – Reportagem de Aline Ribeiro e Rafael Garcia, O Globo desta sexta-feira, com base em dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na quinta-feira, revela que, em 2022, o número de mortes violentas no país caiu, embora continue elevado, atingindo 47,5 mil casos, um recuo de 8%.

Entretanto, o número de estupros disparou, atingindo praticamente 75 mil casos, e o roubo e furto de celulares foram parar numa escala de um milhão de casos ao longo de 12 meses. Os estelionatos também subiram e os golpes pela internet também. Em matéria de estelionato, acentua Guilherme Caetano, O Globo, a cada hora são desfechados 208 golpes, dos mais variados tipos.

PROPOSTAS – Os crimes de estelionato, no período de 2018 a 2022, cresceram 326%, e as fraudes eletrônicas mais sofisticadas avançaram 65% no mesmo período. Na realidade, digo, só é possível fazer movimentação eletrônica quando a iniciativa for nossa. Não podemos aceitar propostas e conselhos, ofertas de fonte alguma, pois quando se oferecem facilidades excessivas para iludir as pessoas, em primeiro lugar deve-se desconfiar e não embarcar na onda sugerida.

Pelo telefone celular é a mesma coisa, inclusive porque quando se compra um aparelho, no dia seguinte surgem as mais diversas mensagens de propaganda ou propondo concessão de créditos, cartões e vantagens fictícias. Quem fornece o número do celular a essas fontes sombrias? Só pode ser a empresa que vendeu e liberou o número do aparelho, pois ninguém pode adivinhar os oito algarismos do celular de ninguém.

TRIBUTAÇÃO –  Manuel Ventura e Vinícius Neder publicaram, com grande destaque, reportagem no O Globo de ontem sobre o projeto que está sendo elaborado pela equipe do ministro Fernando Haddad no sentido de que o governo obtenha recursos de cerca de R$ 120 bilhões para zerar o déficit primário das contas públicas.

Entre os objetivos da proposição encontra-se a tributação dos fundos exclusivos destinados à alta renda através de recolhimento semestral sobre as aplicações e não apenas sua incidência nos lucros reais obtidos descontada a inflação do IBGE. Está prevista também a criação de alíquotas para tributação de brasileiros que residem no Brasil sobre rendimentos obtidos em aplicações no exterior (offshores de paraísos fiscais).

APOSTAS –  No momento, a incidência do imposto ocorre apenas quando do resgate do investimento. No alvo também da Fazenda, as apostas esportivas de todos os tipos e não apenas a tributação sobre os lucros dos apostadores sobre as receitas das empresas. A medida tem também como alvo os incentivos fiscais federais e os proporcionados na área estadual através do ICMS.

Com a mudança do voto de desempate no Conselho Administrativo da Receita Federal, Haddad espera arrecadar R$ 50 bilhões. O valor decisivo do voto de desempate foi mudado no governo Jair Bolsonaro. Multiplicado pelo tempo que ficou em vigor, calcula-se a diferença que causou na receita pública.

Críticas severas de cidadãos às instituições não prejudicam a robustez da democracia

TRIBUNA DA INTERNET

Charge do Duke (O Tempo)

Carlos Pereira
Estadão

Escrevo essa coluna de Buenos Aires, Argentina, onde vim apresentar um artigo intitulado “Por que a democracia brasileira não morreu?”, escrito em conjunto com Marcus André Melo, no painel “Democracia, Direito e Populismo na América Latina” no 27º Congresso Mundial da Associação Internacional de Ciência Política (IPSA).

Durante o Congresso da IPSA tive a oportunidade de assistir à Mesa Redonda, “Revisitando O’Donnell em uma era de retrocesso democrático”, em homenagem ao destacado cientista político argentino Guillermo O’Donnell, que ofereceu notáveis contribuições sobre o estado burocrático-autoritário e, especialmente, estudos sobre processos de transições para a democracia.

CRISE DA DEMOCRACIA? – Em 2006, em seu discurso de aceitação do prêmio pelo conjunto de sua obra recebido no Congresso da IPSA em Fukuoca no Japão, O’Donnell se questionou: “A democracia está em crise?”

Sua resposta foi a seguinte: “A democracia está em crise perpétua (…) temos que considerar que a democracia sempre estará em algum tipo de crise. A democracia está constantemente redirecionando o olhar do cidadão de um presente mais ou menos insatisfatório para um futuro de possibilidades ainda não realizadas. Isso ocorre porque a democracia é mais do que um tipo de arranjo político valioso. É também o sinal notório da falta. É uma perpétua ausência de algo mais, de uma agenda sempre pendente que clama pela reparação…”

Essa interpretação de crise permanente ou perpétua da democracia não poderia ser mais atual. Em vários países democráticos ao redor do mundo, independentemente de seu arranjo institucional, as instituições políticas não têm desfrutado da confiança dos seus cidadãos, especialmente entre aqueles que fazem parte do lado perdedor.

MAL-ESTAR GENERALIZADO – Existe uma percepção de mal-estar generalizado em relação às instituições democráticas… como se algo estivesse fora do lugar… como se as instituições políticas não fossem capazes de lidar com seus conflitos perpétuos de forma democrática e pacífica… como se a democracia não fosse aguentar…

Entretanto, como lembra o historiador francês Pierre Rosanvallon, no livro “Counter-Democracy: Politics in the Age of Distrust” (Política na Era da Desconfiança), a erosão da confiança dos cidadãos nas instituições políticas e seus representantes é o princípio básico que norteia a democracia e seus conflitos.

Portanto, seria impreciso aceitar a percepção de desconfiança dos cidadãos como necessariamente ruim ou sinônimo de fracasso das instituições democráticas. Muito pelo contrário, a percepção de crise permanente da democracia pode ser interpretada como se as suas instituições estivessem exercendo o seu papel, mesmo que de forma não eficiente. Se não fosse assim, a democracia seria muito mais instável e quebraria muito mais frequentemente do que de fato temos observado no mundo.

Não há nada que domine e vença  a alma romântica do poeta, dizia Cruz e Sousa

Do apartamento de Dora Ouve-se o ruído lá fora Do carnaval que ...Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta e jornalista João da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Era filho de escravos e se tornou conhecido nacionalmente. Quando morreu de tuberculose, seu corpo foi transportado para sepultamento no Rio de Janeiro, onde tinha grandes amigos, como José do Patrocínio. No poema “Inefável”, Cruz e Sousa fala da invencibilidade de sua alma romântica.

INEFÁVEL
Cruz e Sousa

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda…
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!

Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas.

Causa da briga não é bolsonarismo e a família Mantovani pode até processar Lula

O advogado Ralph Tórtima Filho, que defende o casal, deu detalhes sobre o depoimento de Mantovani na PF nesta terça, 18

O advogado Ralph Tórtima Filho relata os depoimentos

Carlos Newton

A repórter Isabella Alonso Panho fez uma reportagem bastante reveladora no Estadão, ao relatar o teor dos depoimentos que o empresário Roberto Mantovani Filho, sua mulher Andréia e seu filho Giovani, de 20 anos, deram à Polícia Federal.

Até então, ninguém sabia que o começo da briga nada tinha a ver com aversão aos ministros do Supremo, polarização, bolsonarismo ou baixaria política. O motivo era bem diferente.

BARRADOS NA SALA VIP– Segundo a família Mantovani, tudo começou por causa de uma disputa por espaço numa das salas VIP do aeroporto de Roma, onde Roberto, a mulher e o filho foram barrados, a pretexto de que existiriam lugares disponíveis. Quando já estavam saindo, ficaram incomodados ao ver o ministro Alexandre de Moraes chegando e sendo acolhido com a família nos três  lugares que foram negados aos Mantovani.

“Para político tem lugar, para gente com criança, com idoso não tem”, teria dito Andreia, segundo o advogado Ralf Tórtima Filho.

A repórter Isabella Alonso Panho conta que, no depoimento, Mantovani negou tivesse empurrado o ministro, mas admitiu ter “afastado” uma pessoa que teria ofendido sua esposa Andréia, que também é acusada no inquérito.

AQUELA PESSOA – “Ele (Mantovani) disse que, em razão de ofensas proferidas contra a sua esposa (Andreia), ele afastou essa pessoa, que nem sequer sabia quem era, mas tratava-se de uma pessoa que fazia ofensas bastante pesadas, muito desrespeitosas à sua mulher”, relatou o advogado.

Questionado sobre a identidade dessa pessoa que teve de ser afastada, Tórtima Filho disse que eles (Mantovani e Andréia) não sabiam quem era, mas depois lhes teria sido dito tratar-se do filho do ministro.

Durante o depoimento, que durou duas horas e meia, Mantovani disse à Polícia Federal que não teve contato direto com o ministro Alexandre de Moraes e que aquela mesma pessoa teria lhe abordado novamente quando entrava em uma segunda sala VIP do aeroporto de Roma.

VAI DAR EM NADA – Bem, tudo isso vai ser elucidado pelas imagens. Mas o caso não vai dar em nada. Se o incidente começou com a família Moraes passando para trás a família Mantovani, que chegara antes à sala VIP, cai por terra o motivo alegado pelo ministro para abrir inquérito direto no Supremo, que sequer dispõe de poderes para julgar a família Mantovani, que tem foro na primeira instância.

Além disso, trata-se de um episódio banal, uma discussão sem mortos nem feridos, em que sequer houve exame de corpo de delito, ou seja, sem lesão.

De toda forma, o ministro Alexandre de Moraes, virou o inquérito da cabeça para baixo (ponta-cabeça, como dizem os paulistas), e até esta sexta-feira  as supostas vítimas (ele, a mulher e o filho) ainda nem tinham sido convocados pela Polícia Federal,  embora a prática judicial recomende que deveriam ser os primeiros a prestar depoimento.

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P.S.
Além de tudo isso, a família Mantovani, caso as imagens provem a veracidade de seus depoimentos, poderá mover processo contra o presidente Lula da Silva, que resolveu dar pitaco e chamou pai, mãe e filho de “animais” e “extremistas”, dizendo que são pessoas que precisam ser “extirpadas”. Como se sabe, extirpadas significa exterminadas, destruídas, extintas. Aliás, Lula é como o adversário de Noel Roda no samba “Palpite Infeliz”, porque nunca sabe o que diz. (C.N.)

Ibama embroma Petrobras e analisa “sem pressa” a pesquisa na Foz do Amazonas

Presidente do IBAMA afirma que concurso já possui comissão

Presidente do Ibama sentou em cima do pedido da Petrobras

Danielle Brant
Folha

Quase dois meses depois de a Petrobras apresentar novo pedido para explorar petróleo na Foz do Amazonas, o Ibama diz que a intenção é analisar a solicitação “sem pressa” e de forma técnica. A justificativa é evitar qualquer decisão que possa trazer riscos ambientais. Além disso, o órgão cita a falta de braços para avaliar os muitos processos que chegam.

A Petrobras apresentou em 25 de maio solicitação para que o Ibama reanalisasse o pedido para obter licença ambiental para explorar a bacia da Foz do Amazonas. A primeira demanda da petrolífera foi negada pelo órgão ambiental em 17 de maio.

MUITAS ALEGAÇÕES – Além da justificativa técnica, já manifestada publicamente pelo presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, ele alega que faltam funcionários para dar conta da demanda.

Hoje o Ibama tem cerca de 2.800 servidores, sendo 470 com idade para se aposentar. Ao mesmo tempo, tem uma lista de 3.200 processos de licenciamento ambiental pendentes de análise e 2.200 de registro de agrotóxicos na mesma situação.

O órgão ficou de fora da última leva de vagas em concursos públicos anunciados pela ministra Esther Dweck (Gestão) na terça-feira (18). Apesar disso, a pasta autorizou a nomeação de 257 aprovados em concurso anterior.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A resposta do Ibama veio bem no estilo embromador de Marina Silva. Quando ela foi ministra a primeira vez, sentou em cima de projetos fundamentais para o desenvolvimento nacional, irresponsavelmente. A alegação de falta de servidores faz parte da estratégia de omissão. É óbvio que os processos têm de ser analisados e decididos por ordem de importância, jamais por ordem de chegada, que é uma maneira estúpida de ligar com o interesse público. Foi exatamente contra essa política imobilista que se revoltou o atuante senador Randolfe Rodrigues. Preferiu largar a Rede de Marina e deixou a falsa seringueira falando sozinha. (C.N.)    

Viagem de Moraes à Itália revela outro problema além de incidente em Roma

Viagem De Moraes à Itália Revela Outro Problema Além De Incidente No  Aeroporto De Roma - Blog Do Prisco

Família de Moraes viajou às custas de uma empresa multada

J.R. Guzzo
Estadão

Houve um incidente no aeroporto de Roma e até agora não está claro o que realmente aconteceu. Pelo que deu para entender, a Polícia Federal e a mídia dizem que o ministro Alexandre de Moraes, a mulher e o filho foram insultados, e até agredidos, por um casal de brasileiros – um senhor de 70 anos e sua esposa. O acusado nega tudo; há alegações, inclusive, de que a agredida foi a sua mulher e que o agressor foi o filho do ministro.

Os “especialistas” dizem que pode ter ocorrido um “ataque ao estado de direito”. Lula disse que os acusados são “animais selvagens” e precisam ser “extirpados”. Seu ministro da Justiça, também antes da apuração começar, já assinou a sentença de condenação dos suspeitos. Moraes, ele próprio, até agora não disse nada.

INQUÉRITO PERPÉTUO – O ministro, pelo seu comportamento público, não é um homem do silêncio, da moderação e da harmonia. Em seu inquérito perpétuo (quatro anos, já), para investigar “fake news” e “atos antidemocráticos, mandou prender, multar, censurar, bloquear contas, quebrar sigilos legais, indiciar – e disse, tempos atrás, que “ainda falta muita gente pra prender, muita gente pra multar”.

Se sofreu um atentado como o que foi descrito, contra a sua própria pessoa física, o normal é que estivesse tratando o episódio como um crime de lesa-pátria. Mas até agora não houve nenhum terremoto – e, mais que tudo, não apareceram as imagens das câmeras instaladas no aeroporto de Roma.

O que se sabe, no mundo das realidades, é a existência de outro tipo de problema. Segundo noticiou o jornalista Eduardo Oinegue, na Band, o ministro Moraes foi à Itália para participar de um evento em Siena. Mas não era ninguém de Siena, nem da Itália, quem promovia o evento. Era uma faculdade particular de Direito de Goiânia – uma UniAlfa, que já havia montado a primeira fase do evento em Valladolid, na Espanha. Dos 31 palestrantes da lista que foi divulgada, 20 eram do Brasil mesmo, e 11 deles da própria UniAlfa.

QUE EMPRESA É ESSA? – É uma história ruim, mas a parte menos edificante é a própria UniAlfa. Ela pertence a um grupo empresarial de Goiás que se dedica à múltiplas atividades – vende refrigerantes, aluga carros, lida com imóveis e, entre várias outras coisas, tem um laboratório farmacêutico, a Vitamedic. É aí que está a dificuldade.

Essa Vitamedic fabrica ivermectina, uma das drogas que o ex-presidente Jair Bolsonaro recomendava contra a covid – e que foi amaldiçoada para todo o sempre pela imprensa, os defensores da democracia e a CPI do “genocídio”.

Poucos dias antes dos colóquios de Siena, a Vitamedic foi condenada pela justiça do Rio Grande do Sul a pagar uma multa de R$ 55 milhões, por “danos coletivos à saúde”; a empresa, que faturou R$ 500 milhões com a venda de ivermectina durante a pandemia, deu apoio ao “kit covid”, um delito de “fake news” que o STF considera absolutamente hediondo.

PROMISCUIDADE – Está certo um ministro do STF aceitar convites como o que recebeu do grupo que controla a UniAlfa? Ele, a mulher e o filho? E se a condenação da justiça gaúcha acabar batendo um dia no Supremo?

O presidente da empresa, José Alves, já teve coisas a tratar ali – durante a CPI, na qual teve de depor, obteve um mandado de segurança na Suprema Corte contra a quebra do seu sigilo bancário e telefônico.

O STF atravessa o pior momento de toda sua história. Não precisa, positivamente, de mais acontecimentos como esse.

Lula propõe 40 anos de prisão para quem “atentar” contra ele ou as outras “autoridades”

Flávio Dino: por que ele causa raiva na direita e ciúme na esquerda

Lula e Dino não se envergonham com esse tipo de projeto elitista

Daniel Haidar
Estadão

O governo Luiz Inácio Lula da Silva lançou nesta sexta-feira, 21, um pacote de projetos de leis, a serem votados no Congresso, que endurecem as penas para quem ‘atentar’ contra o Estado Democrático de Direito e que facilitam a asfixia financeira de financiadores de movimentos antidemocráticos. As propostas foram articuladas pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, e batizadas de “Pacote da Democracia”.

Um dos projetos quer aumentar a pena para até 40 anos de prisão para quem atentar contra a vida do presidente da República, do vice-presidente, dos chefes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do procurador-geral da República (PGR).

CRIMES MAIS GRAVES – Se aprovado no Congresso esse aumento de pena, ameaças às vidas das cúpulas federais do Judiciário, do Legislativo e do Executivo serão os crimes mais graves de toda a legislação brasileira, de acordo com juristas. Até então, os crimes com punição mais rigorosa previam no máximo 30 anos de prisão: feminicídio, homicídio qualificado, latrocínio (roubo seguido de morte) e extorsão mediante sequestro que resulte em mortes.

Até a sanção no fim de 2019 do controverso “pacote anticrime” pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), proposto pelo então ministro da Justiça e atual senador Sérgio Moro (Podemos-PR), a legislação brasileira permitia que criminosos ficassem no máximo 30 anos na cadeia, mesmo se condenados a penas maiores em múltiplos processos. O pacote aumentou esse tempo máximo de prisão para 40 anos.

A proposta de Lula quer agora atualizar os trechos no Código Penal que tratam dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, para criar “causas de aumento” ao crime de “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”.

PUNIÇÃO RIGOROSA – A pena prevista atualmente para esse crime é de 4 a 8 anos de prisão, além das penas previstas nos tipos de violência envolvidos (lesão corporal, tentativa de homicídio, etc).

Pela proposta de Lula e Dino, pode ser ampliada a punição, para uma pena de 20 a 40 anos de prisão, quando esse “emprego de violência ou grave ameaça” for cometido contra presidente da República, vice-presidente, chefe do Senado ou da Câmara dos Deputados, procurador-geral da República ou ministros do STF, para “alterar a ordem constitucional democrática”.

A proposta também eleva a pena, para 6 a 12 anos de prisão, para quem atentar contra a integridade física e a liberdade dessas autoridades. A medida é lançada uma semana depois do ministro Alexandre de Moraes, do STF, alegar ter sido hostilizado no Aeroporto de Roma, na Itália, em episódio no qual seu filho de 27 anos teria sido agredido fisicamente.

POPULISMO PENAL – Em entrevista ao Estadão, alguns juristas viram “valor simbólico” nas propostas de Lula para endurecer as penas de crimes contra a democracia, mas avaliaram que as medidas podem ser consideradas “populismo penal”, como é chamada a tendência de apresentar soluções fáceis com aumento de punições para problemas complexos.

Em resposta ao Estadão durante entrevista coletiva, Dino criticou essas opiniões e defendeu a importância da legislação em desestimular e prevenir crimes.

“O que mudou no dia 9 de janeiro? A força estatal. É falsa a ideia de que força estatal não é preventiva. É claro que ela é preventiva. Tanto é preventiva que nunca mais sitiaram quartel no Brasil. E mais: a força estatal é também reparatória para as vítimas, o que é um dever do Estado. Não é populismo penal nem é ilusão. É proporcionalidade à vista da gravidade material dessas condutas”, afirmou Dino sobre os projetos que endurecem as penas contra golpistas.

MAIS CRÍTICAS – O criminalista Davi Tangerino, professor de direito penal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e ex-assessor de ministro do STF, avalia que as mudanças propostas por Lula têm apenas valor “simbólico”.

“Esse tipo de legislação é puramente simbólica. Ou seja, serve apenas para dar uma resposta placebo. Dá a falsa sensação de que a vida dos ministros está mais protegida. Alguém estaria disposto a encarar 30 anos, mas desistiria diante de 40? Não parece fazer sentido”, afirmou Tangerino ao Estadão.

O criminalista Edward Carvalho, mestre em direito penal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), também vê restrições nesse tipo de endurecimento penal. “Novamente o populismo penal, comprovadamente ineficiente, dá as caras. Aumentos de penas são constantes, tanto quanto constantes são suas ineficiências práticas para resolver problemas”, afirmou ao Estadão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É um projeto elitista, que tenta preservar os cidadãos da “nomenclatura”, como se tivessem mais valor do que os demais cidadãos, quando acontece exatamente o contrário. Os cidadãos sustentam esses parasitas e ainda têm de aguentar projetos desta laia, que visam a proteger quem tem medo do povo. Esta é a verdade, o resto é folclore, diz nosso grande amigo Sebastião Nery. (C.N.)

Lula prepara base aliada de esquerda para conviver com os novos ministros do centrão

Gilmar Fraga: centrão... | GZH

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha /Zero Hora)

Bruno Boghossian
Folha

Lula ainda não definiu os endereços do centrão na Esplanada, mas o PT já prepara a vizinhança para a chegada dos inquilinos. A presidente do partido desautorizou protestos contra a substituição de ministros, e o líder do governo atribuiu queixas da esquerda a “vozes do além que preferem a derrota e o isolamento”.

A blindagem oferecida por Lula à ministra da Saúde foi festejada pelo PT e seus aliados. O presidente indicou que pode proteger outras áreas que considera sensíveis ou estratégicas, mas o discurso de seus operadores políticos mostra que será impossível fazer uma reforma ministerial sem que a esquerda pague a conta.

BASE MINORITÁRIA – Gleisi Hoffmann resumiu a questão à matemática. “Gostemos ou não, não fizemos a metade mais um dos membros do Congresso”, disse ao jornal Valor Econômico. Para ela, a negociação da reforma não dá a outros aliados o “direito a fazer movimentos de permanência ou de protesto”.

A presidente do PT participou da montagem da Esplanada antes da posse e patrocinou a ocupação de espaços pela esquerda. A sinalização de que será preciso cortar na própria carne não é pouca coisa.

Já o deputado petista José Guimarães, que coordena a articulação do governo na Câmara, sugeriu que a esquerda precisa abrir mão de uma certa pureza ideológica e abraçar o centrão.

ALGUÉM TEM DE SAIR – O líder do governo recorreu à física e lembrou que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Ele disse à Folha que não devem ser criados novos ministérios e que, com a chegada de PP e Republicanos, “evidentemente alguém vai ter que perder”. Como Lula não quer briga com PSD, MDB e União Brasil, a conta tende a ficar com PSB, PC do B e o próprio PT.

A diluição de linhas ideológicas nos pleitos parlamentares e o inchaço do centrão fazem com que a esquerda consiga eleger um presidente, mas não garanta sua sustentação no Congresso.

Reduzir a participação nos cargos de primeiro escalão é o preço para que Lula tenha mais chances de governar com a plataforma que defendeu na campanha.

Essa harmônica inércia entre os Poderes só serve para manter tudo como está

Charge: Líderes dos 3 poderes firmarão pacto por reformas. - Blog do AFTM

Charge do Cazo (Arquivo Google)

William Waack
Estadão

Lula tem nas mãos uma inédita oportunidade de moldar a composição de tribunais superiores, dos quais tanto dependem governantes brasileiros. São as três próximas indicações para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), e a segunda que fará para o Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria da atual presidente Rosa Weber.

Essas nomeações coincidem com a escolha de um próximo ou a recondução ao cargo do atual Procurador Geral da República. Operadores políticos, especialmente no Supremo, consideram que esse conjunto de escolhas tem o potencial de solidificar o que se chama de “harmonia” entre os poderes, especialmente Executivo e Judiciário.

INDICO UM AMIGO – Dado o peso político do Supremo, é “normal” que governantes (como Lula) busquem ter maioria lá dentro. Afinal, ministros do STF detém superpoderes dentro do poder, e reagem imediatamente ao noticiário político. Mas é um processo bem mais complexo do que as aparências do “indico um amigo” (como acaba de acontecer).

As tratativas são uma via de mão dupla, na qual o chefe do Executivo tem de levar em conta também os interesses dos ministros do Supremo quanto à ocupação de altos postos no Judiciário – afinal, trata-se de uma gigantesca instituição com controle direto de vastas áreas da vida nacional, mas com dinâmica interna própria.

Nestes sete meses de Lula 3 essa costura política tem funcionado a contento para as duas partes. Um teste importante será a escolha do atual/próximo PGR, cuja capacidade de disrupção é conhecida.

TÉCNICO E INDEPENDENTE – Por julgá-lo muito técnico e independente, o partido do presidente não “compra” o nome (o do atual subprocurador geral eleitoral) sugerido por pesados “cabos eleitorais” do STF.

De fato, não é a republicana independência dos poderes e seu equilíbrio que se estabelece no sistema político brasileiro, mas, sim, um curioso amálgama que inclui o Legislativo.

O governo só pode fazer o que a Câmara dos Deputados permita, e ela se satisfaz aplicando o orçamento público sem nenhuma orientação central – mas atendendo aos interesses paroquiais de seus integrantes, de baixíssima representatividade.

VIDA MANSA – Essa “maioria parlamentar sem alma”, na ácida definição do ex-deputado Roberto Brant, acertou as “moedas do escambo” com um Executivo que, por sua vez, topa qualquer coisa desde que o núcleo petista do governo seja preservado.

Não existe uma rigorosa oposição parlamentar, o que significa vida mansa para Lula enquanto cuidar apenas da manutenção de rotinas de governo.

Esse é o sistema político ao qual se integra agora o Judiciário, compondo um conjunto harmônico e integrado. Ele opera e prolonga a inércia que satisfaz cada um de seus integrantes, que se suportam mutuamente. A razão de sua existência é apenas a autopreservação.

Com as redes sociais, mudou completamente o papel dos “especialistas” ouvidos pela mídia

Charge do Cabral (Arquivo Google)

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Uma manchete de março na Folha: “Inflação dará alívio a pobres e pesará mais na classe média, dizem especialistas”. Nesse e em outros casos — que são comuns na imprensa toda —, a presença dos “especialistas” aumenta ou reduz a confiabilidade do enunciado?

No passado, o especialista era a palavra final. Ele tinha uma formação que o habilitava a opinar com conhecimento de causa. A imprensa fazia sua parte dando espaço. E enquanto a imprensa determinava o debate público — quem estava nela, existia; quem não estava, não existia —, dar voz ao especialista bastava para que ele fosse a autoridade publicamente reconhecida.

AUTORIDADE AUTOMÁTICA -A falta de vozes contrárias dava à voz do especialista uma autoridade automática que, ao menos em tese, era justificada por seu conhecimento.

Havia dois grandes problemas nessa configuração: O primeiro é que o conhecimento dos especialistas é menos certo e seguro do que gostam de transparecer. Esse ponto foi salientado pelo filósofo Michael Sandel em “A Tirania do Mérito”: a suposta expertise de tantos economistas em posições de poder de nada serviu para antever e impedir a crise de 2008.

Podemos lembrar também das conclusões desencontradas e depois revisadas, mas dadas sempre como se emanassem da mais inquestionável Ciência, ao longo da pandemia.

POSIÇÕES DIVERSAS – O segundo problema é que, em questões controversas, sempre há especialistas com posições diversas, e a escolha de quais especialistas ouvir depende de um julgamento do jornal, que embute seu interesse e sua ideologia.

Com as redes sociais, e todo mundo publicando suas opiniões para quem quiser ouvir, o jogo mudou. Apelar para a própria credencial não só não funciona como afasta. Soa arrogante, uma tentativa de vencer na carteirada. Isso quando não envenena o leitor, para quem o vínculo institucional é antes motivo de suspeita.

Isso vale tanto para o debate público quanto para as instâncias de decisão técnica. Cada decisão emitida pelo Banco Central, Anvisa ou Justiça Eleitoral se torna imediatamente objeto de discussão entre os reles mortais aqui embaixo.

EM PÉ DE IGUALDADE – Cada vez mais o público é composto de interlocutores em pé de igualdade, e não ouvintes ou leitores passivos. A mera credencial, sozinha — bem como o espaço na imprensa — não serve como argumento. As pessoas se tornaram mais irracionais? Não. É que, com a existência de alternativas, não dá para contar com sua adesão automática; é preciso persuadi-las.

Isso faz com que a capacidade de persuadir — por escrito e, graças à tecnologia, oralmente — ganhe um novo peso. É o que os antigos chamavam de retórica. A questão é que a habilidade retórica por si não garante a qualidade ou a verdade do discurso; mas ela influi em qual discurso vencerá politicamente.

Hoje, portanto, mais do que ontem, os especialistas devem também ter um pezinho na retórica —que agora inclui os recursos audiovisuais— e mergulhar no debate público.

DEBATE PÚBLICO – Ao contrário do discurso técnico, o debate público tem sempre um quê de antagonismo. Ele precisa chamar a atenção, mexer com as emoções e construir o conhecimento a partir do nível mais elementar, sem pressupor conhecimento prévio do outro lado.

A autoridade não deixou de existir; há pessoas que, em suas áreas, têm a confiança geral. Mas essa autoridade não é automática; depende da construção de uma relação com o público, e não do diploma.

Isso não significa que todo acadêmico ou técnico terá que virar youtuber ou abrir um TikTok. Mas que alguns o façam é imprescindível. O fato de especialistas “dizerem” algo não significa muito; mas “como” eles o dizem pode fazer toda a diferença.

Musk pôs a política acima do bom senso econômico e está “destruindo” o Twitter 

O Twitter vai acabar? Entenda o caos instaurado por Elon Musk

Pablo Ortellado
O Globo

O Twitter foi comprado por Elon Musk em outubro do ano passado. Desde então, uma série de decisões empresariais desastrosas fizeram o valor de mercado da empresa cair para um terço do valor originalmente pago (US$ 44 bilhões). Parte dessa enorme perda se deve a decisões equivocadas que Musk tomou e que foram apresentadas como um choque de gestão. Outra parte, à desastrosa tentativa de impor suas visões políticas de extrema direita à plataforma.

O Twitter foi perdendo usuários e valor de mercado e, na semana passada, ganhou um concorrente de peso, o Threads, lançado pela Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp. O Twitter está agora em fase terminal.

GÊNIO DOS NEGÓCIOS??? – A aquisição do Twitter por Elon Musk foi uma movimentação empresarial audaciosa. Musk tinha reputação de gênio dos negócios, mas fez sua fortuna em segmentos econômicos muito diferentes da tecnologia.

A aquisição ela mesma foi complicada e marcada por idas e vindas. O empresário sul-africano fez uma proposta e depois tentou desistir da compra, com a disputa sendo levada para a Justiça.

Quando ia perder o caso nos tribunais, resolveu ficar com o Twitter e submetê-lo a um choque de gestão. Demitiu quase 80% dos funcionários e disse que quem não estivesse disposto a dar o sangue pela empresa deveria pedir as contas. Vários setores dentro do Twitter perderam o know-how e a memória institucional e se desorganizaram profundamente.

MUDANÇA POLÍTICA – Mas, além da mudança brusca no perfil de administração, bem mais agressivo, o Twitter passou por uma drástica mudança de política da plataforma, fortemente influenciada pelos posicionamentos ideológicos do novo dono, simpático à extrema direita.

Na grande onda de demissão, setores antes importantes da empresa como o de políticas públicas e o de relação com a imprensa não repuseram os funcionários. Ficou bastante conhecida a postura do novo setor de relação com a imprensa, que adotou um robô que responde automaticamente a qualquer mensagem de contato de jornalistas com um emoji de cocô.

Musk começou a alardear sua visão do Twitter como uma alternativa a supostos vieses da imprensa tradicional, uma plataforma na qual jornalistas-cidadãos poderiam falar as verdades inconvenientes que os grandes meios de comunicação se recusariam a revelar.

ALTERAÇÕES RADICAIS – A política de verificação que atribuía um selo azul para jornalistas e celebridades foi abandonada e substituída por selos de verificação que poderiam ser comprados por qualquer usuário. Em uma semana, contas tradicionais e respeitadas perderam o selo e usuários mal-intencionados começaram a se fazer passar por celebridades.

Musk também mudou as políticas da plataforma, relaxando bastante a moderação de conteúdo. Fez coro à alegação da extrema direita de que as políticas de moderação teriam um viés progressista. Essas mudanças fizeram do Twitter um lugar mais propício para disseminação de conteúdo preconceituoso, o que não incomodava Musk, que achava que esse tipo de discurso estava coberto pela liberdade de expressão.

Ele também mudou as políticas de acesso aos dados do Twitter para pesquisadores acadêmicos e de mercado. O acesso a dados para empresas passou a ter uma cobrança elevada, e o gratuito para pesquisadores de universidades foi suspenso.

IMPÔS LIMITES – A restrição do acesso a dados empurrou alguns pesquisadores para uma técnica conhecida como “raspagem de dados”, quando um software simula ser um usuário e vai recolhendo dados por onde passa.

Para impedir a técnica, Musk determinou que todos os usuários teriam um limite de tuítes que poderiam ver por dia. Isso fez com que usuários que acessam bastante a plataforma não pudessem mais vê-la a partir de um certo ponto, uma medida que não faz sentido para quem vive de vender publicidade.

Foi justamente no meio da crise sobre a limitação de acesso a tuítes que a Meta, dona do Instagram, lançou um serviço concorrente, o Threads.

CONCORRENTE DE PESO – O aplicativo da Meta funciona de forma muito parecida com o Twitter e, como possibilitava que os novos usuários importassem seus contatos do Instagram, permitiu uma migração rápida e eficiente.

O Threads fez 10 milhões de novos usuários em sete horas e chegou a 100 milhões de usuários em menos de cinco dias, crescendo numa velocidade mais rápida que a do ChatGPT — que havia batido todos os recordes anteriores de adesão a um novo serviço.

Será difícil o Twitter se recuperar desta vez. Musk se mostrou um administrador vaidoso, que tentou impor ideias arrojadas a um setor que não conhece muito bem. Mas colocar a política acima do bom senso econômico parece ser o que matará a empresa de vez.

Com poder irrefreado, cúpula do Supremo perde pudor e escancara seu partidarismo

Charge do Nani (nanihumor.com)

Leonardo Desideri
Gazeta Mercantil

A falta de obstáculos à politização da cúpula do Judiciário, cujos abusos seguem incontestados pelo Senado, normalizou no Brasil uma realidade pouco comum anos atrás: membros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se sentem confortáveis para escancarar publicamente suas posições políticas.

A tendência atingiu seu ápice na última quarta-feira (12), com o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso manifestando explicitamente que atuou, enquanto juiz, contra a ascensão do bolsonarismo. Ante a reação popular, Barroso se desculpou negando a literalidade da fala. “Na verdade, me referia ao extremismo golpista e violento”, afirmou.

IMPARCIALIDADE – Pedro Moreira, doutor em Filosofia do Direito pela Universidad Autónoma de Madrid, destaca o fato de que Barroso não deseja preservar nem mesmo a aparência de imparcialidade.

“O comportamento dele, inclusive estético, é similar ao de um político em comício. Portanto, contraria qualquer princípio de prudência, decoro, independência e imparcialidade, todos previstos no Código de Ética da Magistratura. Em um estado de coisas normal, em que os órgãos de controle se comportassem com independência, e o Parlamento com firmeza e dignidade, uma postura como essa seria punível. No Brasil, creio que Barroso não sofrerá nem mesmo um constrangimento acadêmico relevante. Como é um homem importante, amanhã estará dando palestra para juízes”, ironiza.

Para Moreira, todo o contexto em que ocorreu a fala do ministro Barroso é constrangedor. “Primeiro, ele estava em um evento ideologicamente orientado. Segundo, estava tentando responder às vaias de uma turma que ele parece reconhecer como sua. Terceiro, para agradar a turba, acabou reconhecendo o que a esta altura ninguém poderia mais duvidar: Barroso não é um julgador imparcial. E, pelo que pensa e escreve, sequer poderia sê-lo.”

PRÁTICA USUAL – Esta não é a primeira oportunidade em que Barroso deixa suas opiniões políticas vazarem para o público. O histórico de falas do ministro nesse sentido é farto. E Barroso não é o único ministro que exibe sem pudor seus posicionamentos.

Em fevereiro, reportagem da Gazeta do Povo mostrou como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Dias Toffoli já explicitaram suas convicções políticas – e, em alguns casos, até partidárias – por meio de discursos e presenças em eventos. A exposição de opiniões toca, muitas vezes, em questões relacionadas a processos que ainda estão tramitando no STF.

No começo de fevereiro, Lewandowski ainda era ministro e foi a um evento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), onde deixou clara sua simpatia pela organização extremista. Cármen Lúcia já assinou carta que sinalizava opinião favorável à legalização do aborto após uma reunião com um grupo de mulheres politicamente engajadas em pautas da esquerda. Em fevereiro deste ano, Gilmar Mendes afirmou que o Brasil “estava sendo governado por uma gente do porão” até o ano passado.

MARKETING POLÍTICO – A falta de pudor em exibir a politização fica evidente também na recente estratégia de comunicação dos tribunais, que têm usado o marketing político para reforçar na opinião pública as posições que adotam.

Anos atrás, as campanhas publicitárias das cortes superiores do país tinham, em sua grande maioria, um propósito informativo ou educativo e se caracterizavam pela sobriedade formal. Com o envolvimento crescente da cúpula do Judiciário na vida política do país, essa realidade ficou para trás.

Na segunda-feira da semana passada (10), o TSE estreou a campanha “Na Hora da Verdade, a Democracia Fala Mais Alto”, um spot publicitário de 30 segundos que apresenta uma batalha de rappers. Na peça, uma rapper mulher com a palavra “Democracia” estampada em sua blusa derrota um rapper homem que representa a ditadura.

DIZ A PRODUTORA – “Um MC representa a democracia e o outro, a ditadura. A clara superioridade da democracia fica evidenciada nas rimas de seu representante, que conquista a adesão da plateia no final”, descreve a Madre Mia Filmes, produtora responsável pelo spot, que custou R$ 400 mil aos cofres públicos.

Não é difícil associar a campanha com os frequentes discursos em que ministros usam a oposição entre “democracia” e “extremismo” para condenar um amplo espectro de opiniões da direita como “antidemocrático” – justificando inclusive prisões e censura com base nessas categorias.

Na própria diplomação de Lula em dezembro de 2022, Alexandre de Moraes disse que aquele evento atestava “a vitória plena, incontestável da democracia e do Estado de direito contra os ataques antidemocráticos, contra a desinformação e contra o discurso de ódio proferidos por diversos grupos organizados”.

(Artigo enviado por Guilherme Clementino e Mário Assis Causanilhas)

Imagens gravadas em Roma confirmam que Mantovani deu um tapa no filho de Moraes

Empresário apontado como agressor do filho de Moraes foi candidato a prefeito de Santa Bárbara d'Oeste em 2004 | Piracicaba e Região | G1

Mantovani diz que sua mulher foi xingada de “putinha”

Lauro Jardim
O Globo

As imagens captadas pelas câmeras de segurança do aeroporto de Roma devem dirimir as dúvidas e as versões conflitantes sobre o episódio ocorrido na sexta-feira passada envolvendo as famílias de Alexandre de Moraes e do empresário Roberto Mantovani Filho.

Na PF, que já está analisando as imagens, o entendimento até agora é de que “o relato do ministro é fiel à dinâmica dos fatos”, conforme um integrante da corporação.

São inúmeras as divergências de versões. Eis duas delas: 1) Enquanto Moraes afirma que a confusão se iniciou ainda no setor de embarque e chegou à porta da sala VIP, o casal Mantovani diz que viu o ministro “por segundos” na área de ingresso à área VIP; 2) O ministro garante que Andreia Mantovani lhe dirigiu a ofensa “bandido, comunista e comprado”. Ela nega.

DIZ O CASAL – A nota oficial divulgada ontem pela defesa do casal Mantovani narra que ambos “foram, em especial Andreia, gravemente ofendidos por mencionado jovem (filho de Moraes) que, em duas oportunidades, os desrespeitou, com ofensas extremamente pesadas, o que somente cessou quando da intervenção do ministro Alexandre de Moraes, que o reconduziu ao interior da sala VIP”.

Esses insultos seriam os responsáveis pelo tapa, por essa versão.  Mas que “ofensas extremamente pesadas” seriam essas?

No depoimento prestado a PF, Andreia disse que o filho de Alexandre de Moraes “começou a mandar beijos” para ela, “inclusive com inclinação do corpo”, além de chamá-la de “putinha” e de proferir ofensas de cunho sexual.

MARIDO E MULHER – O que se diz é que as imagens mostram, com toda a certeza, que Roberto Mantovani dera um tapa em Alexandre Barci de Moraes, 27 anos, filho do ministro.

Um integrante da PF que conhece o teor do material gravado no aeroporto chegou a dizer que as cenas capturadas pelo circuito interno de câmeras “confirmam a versão do ministro”, que vem sendo contestadas pela família Mantovani — Roberto Mantovani é acusado de agredir o seu filho.

Na representação feita por Moraes à PF, o ministro diz que o empresário  “(…) empurrou (o seu filho) e deu um tapa em seus óculos”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
E já foi desmentida a outra versão, de que o filho de Moraes é que teria agredido o empresário. Era fake news, difundida por João Candido Costa, servidor da Assembleia de Minas, que postou mensagem nas redes sociais como se fosse testemunha do incidente. Será que Moraes também vai processá-lo? (C.N.)  

Miriam Leitão foi precisa; se o IGP-M baixou, os aluguéis devem baixar também

Charge do Pelicano (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Em seu artigo publicado na edição desta quinta-feira em O Globo, Miriam Leitão revelou que nos últimos 12 meses o IGP-M, índice que mede o reajuste dos aluguéis, da Fundação Getúlio Vargas, recuou 7,7%, e que tal fenômeno, interrompendo altas seguidas no governo Jair Bolsonaro, deverá acarretar, logicamente, uma redução nos valores dos aluguéis, pois o que vale para corrigir para cima deve valer para corrigir para baixo.

O Brasil, digo, deve apresentar cerca de 10 milhões de imóveis alugados, talvez um pouco mais, abrangendo um total de cerca de até 35 milhões de pessoas. Os fatores de composição do IGP-M são diversos, um dos quais as oscilações do dólar no mercado de câmbio. Os proprietários de imóveis e as imobiliárias que administram as locações encontram-se em silêncio, acrescenta Miriam Leitão. Mas os locatários devem se manifestar reivindicando o seu direito. Caso contrário, quando o IGP-M sobe, os locadores se creditam, e quando o IGP-M desce seria a vez dos locatários.

CONCENTRAÇÃO DE RENDA – O desequilíbrio entre um movimento e outro é um fator que influi na concentração cada vez maior da renda no Brasil. É um sinal preocupante, na minha opinião, o fato que se eterniza de todos dizerem que são contra a concentração de renda, mas não fazem nada para que ela seja justamente redistribuída. A razão de as favelas se multiplicarem está nos diversos motores que acionam a renda se concentrar em todos os momentos, a começar pela estagnação dos salários.

No governo Bolsonaro, em quatro anos, a inflação (do IBGE), ficou em cerca de 25%. Qual o percentual em que os salários foram atualizados? Praticamente nada, caso dos servidores públicos federais. Por esse e outros motivos é que 74 milhões de homens e mulheres no Brasil encontram-se com dívidas em atraso. A operação “Desenrola” começou na segunda-feira. Na quarta-feira já havia uma relação de golpes praticados com base no programa. O espaço da internet é extremamente vulnerável às ações dos golpistas. Mas essa é outra questão.

Miriam Leitão em seu artigo, focaliza um saldo positivo na economia brasileira na medida em que resultados que começam a surgir superam perspectivas que ainda se encontram nas sombras. Um fator extremamente positivo é o saldo de US$ 45 bilhões do primeiro semestre deste ano e uma perspectiva favorável quanto ao crescimento do PIB da ordem de 2,2%. A previsão inflacionária, de outro lado, encontra-se abaixo de 4% para 12 meses. As previsões da safra agrícola são também muito boas.

INFLAÇÃO –  Idiana Tomazelli, Folha de S. Paulo de ontem, com base em dados do Ministério da Fazenda, focaliza que com a perspectiva de inflação menor para este ano, o governo teria uma redução de despesas no orçamento de 2024, inclusive se, como esperado, houver redução da taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano.

O orçamento federal em vigor é de R$ 5,6 trilhões e pela lei o seu reajuste anual deve seguir a inflação encontrada pelo IBGE. Assim, o índice esperado incidiria sobre R$ 5,6 trilhões. Os cálculos se baseiam em trilhões: o orçamento em R$ 5,6 trilhões, a dívida interna em R$ 6 trilhões, o PIB na escala de 6,5 trilhões a R$ 7 trilhões. Com a redução da Selic, que é um ponto de discórdia entre o Banco Central e os Ministérios da Fazenda e do Planejamento, cairia também a despesa com os juros pagos aos bancos e grandes investidores que possuem títulos corrigidos por essa taxa.

RECUO  – O economista Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, disse que se a Selic recuar um ponto, a despesa do país com os juros vai diminuir para R$ 680 bilhões. Assim, um ponto na Selic, inclusive como tenho assinalado, representa R$ 60 bilhões para o país. Mas além da despesa financeira, existe o custo social que é imenso levando-se em conta as carências que sufocam a população de baixa renda.

Idiana Tomazelli focaliza o efeito na redução dos gastos e o economista Thiago Sharteloto, da XP Investimentos, considera que de modo global, a economia para o governo poderá atingir R$ 14,8 bilhões. Mas acentuo que é preciso considerar também uma diminuição das receitas, uma vez que o sistema fiscal recai inevitavelmente sobre os valores do consumo. O consultor de Orçamento da Câmara dos Deputados, Ricardo Volpe, calcula também efeito positivo na diminuição das despesas.  

TRIBUTAÇÃO –  Em outro bloco de sua reportagem na FSP, Idiana Tomazelli destaca o projeto que está sendo elaborado por iniciativa do ministro Fernando Haddad voltado para elevar a tributação dos fundos de investimento (os que lucram mais com a Selic) e os considerados super ricos. Pessoalmente tenho dúvida quanto à tributação no caso dos super ricos, pois eles têm muitos meios a utilizar para escapar dos impostos.

É um movimento natural, mas cabe ao governo tentar restringi-lo, sobretudo porque as estradas que levam a distanciá-los dos impostos é muito ampla, enquanto os abatimentos previstos para os assalariados é das mais estreitas, a começar pela não correção monetária dos pagamentos antecipadamente feitos através dos descontos na fonte. Basta dizer que acima de R$ 4500 por mês, a contribuição na fonte é de 26%. Alta demais.

CENTRÃO –  Em um ótimo artigo, O Globo, Merval Pereira destaca o efeito negativo da pressão cada vez maior dos partidos que compõem o Centrão por cargos no governo. Faz até uma ironia ao dizer que o Centrão busca ministérios que possuem verbas elevadas para gastar, não se importando com o verbo que impulsionou os compromissos da campanha vitoriosa de Lula para concretizar o compromisso que assumiu na campanha política.

O Ministério da Saúde esteve na alça de mira. Agora a Caixa Econômica Federal e o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pela execução do Bolsa Família. Merval Pereira tem toda razão e é fundamental que o presidente Lula da Silva leve em consideração a afinidade dos candidatos com as matérias relativas a cada pasta. Sem essa afinidade, mais do que o governo, perde o país e a população brasileira.

CONFUSÃO NO BC –  Na tarde de quarta-feira, no jornal das 18h apresentado por César Tralli na GloboNews, foi colocado um problema que surgiu no Banco Central quando foi divulgada a iniciativa de Roberto Campos Neto de censurar manifestações dos diretores do Bacen sobre política monetária, incluindo, é claro, o caso dos juros da Selic.

A censura referia-se a uma entrevista de Gabriel Galípolo, que assumiu esta semana o cargo de diretor de Política Monetária. A notícia explodiu com intensidade natural, uma vez que a censura é constitucionalmente proibida no país. A movimentação sobre o assunto foi grande, como a GloboNews destacou.  No curso dos acontecimentos surgiu uma nova versão que procurava atribuir tudo a um equívoco, mas os componentes do equívoco não vieram à tona.

Pensei que o O Globo, a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo, jornais que leio diariamente, e dos quais sou assinante, fossem publicar matérias a respeito. Mas, pelo menos, nas edições de ontem, não encontrei matéria alguma sobre o assunto.

“Se essa rua que me atravessa a vida fosse minha, eu afastava a tristeza desse lugar…”

Cacaso - poemas - Revista Prosa Verso e Arte

Cacaso, um letrista verdadeiramente genial

Paulo Peres
Poemas & Canções

O professor, poeta e letrista mineiro Antônio Carlos de Brito (1944-1987), conhecido como Cacaso, na letra de “O Dono do Lugar”, em parceria com Edu Lobo. revisita uma antiga trova do folclore brasileiro para dizer o que faria para viver melhor, caso fosse o proprietário da rua que atravessa sua vida. A música faz parte do LP Tempo Presente, gravado por Edu Lobo, em 1980, pela Philips.

O DONO DO LUGAR
Edu Lobo e Cacaso

Se essa rua que atravessa a minha vida
Fosse minha
Eu queria então cantar
Pra afastar a solidão da minha vida
E a tristeza ir bater noutro lugar

Se essa rua que me deixa de partida
Fosse minha
Eu mandava te buscar
Pra acalmar uma paixão da minha vida
E a tristeza ir bater noutro lugar

Se essa rua que caminha sem saída
Fosse minha
Como dono do lugar
Não falava do amor nessa modinha
Pra tristeza ir bater noutro lugar

Barroso corrobora a existência de uma elite corrompida que rompe o pacto republicano

Esquema para destruir a Lava Jato é igual ao que acabou com as Mãos Limpas  na Itália - Flávio Chaves

Charge do Sponholz sobre uma outra frase de Barroso

Carlos Andreazza
O Globo

Ministros do Supremo têm de falar menos — e se abster de eventos políticos e empresariais — não porque assim evitarão alimentar os inimigos da democracia; mas porque, pervertidos em debatedores e palestrantes, aviltam o signo de comedimento que fundamenta o papel que deveriam cumprir na República. Aviltam a República.

A fala de Luís Roberto Barroso no congresso da UNE — a do “nós derrotamos o bolsonarismo” — é deletéria não porque ofereça carne a teorias da conspiração. Hipótese em que teríamos mero equívoco tático. (O bolsonarismo não precisa de fatos para barbarizar.) É nociva porque mais uma num conjunto de posturas que subsidia, na sociedade não radicalizada, a percepção da Corte constitucional não como o Poder que faz a balança, mas como corporação interferente e desequilibradora.

CAIR NA REAL – Convém sair da bolha e cair na real. O discurso de Barroso — sobretudo a presença num ato de militância política — corrobora a noção popular de uma elite dirigente corrompida que, violando o pacto republicano, existiria exclusivamente em função dos próprios interesses.

A indignação corrente deriva da mobilização bolsonarista-oportunista; o que levanta questão desagradável: sobre se estaremos, os democratas, autorizando, em função de agendas e outras conveniências, que ministros do Supremo se comportem como agentes políticos e se esparramem autoritariamente.

Participam de eventos assim com frequência. Quando nos incomodaremos? (Só quando for André Mendonça?) Não há justificativa para juiz tomar lugar em ato político-partidário. A fala será o de menos. Não pode, porém, ficar sem análise. Produto de alguém que se sente parte daquele movimento. Oração de pertencimento.

REAGIU À REJEIÇÃO – A manifestação de Barroso foi exaltação magoada de indivíduo que, se compreendendo integrante, era então inesperadamente excluído, vítima de vaias e palavras de ordem contra decisões recentes suas. O ministro reagiu à rejeição. E onde foi parar a contenção?

Barroso é integrante do STF e só. (E muito.) Sua existência pública pertence absolutamente ao Supremo — e às limitações próprias à condição de ministro do Supremo. Essas limitações não podem surpreender. E, se amolam, deveriam ensejar reflexão sobre largar a toga e concorrer a cargo eletivo. Papo reto.

Por que ministros de tribunal constitucional ficam à vontade a ponto mesmo, de repente, de um deles estar no palanque da UNE? Sob que grau de império — ou delírio — sentem-se confortáveis para esbanjar a força política de uma influência que é propriedade de um lugar de autocontenção?

ACIMA DOS DEMAIS  – Talvez estejam contaminados pelas evidências, donde a convicção de protegidos, de o Supremo ser Poder acima dos demais, que se alarga para invadir prerrogativas alheias; o que ocorre, progressivamente, por meio de gestos monocráticos — daí, especulo, o sentimento de onipotência. Uma explicação por que ministros do STF se tornaram desinibidos debatedores públicos e palestrantes internacionais.

Seria uma etapa natural, própria ao glamour togado, depois de normalizados como protagonistas de acomodações em Brasília, que transitam de convescote em convescote e participam de arranjos parlamentares, formuladores — legisladores mesmo — de soluções a impasses políticos; não tardando até que aplicassem a musculatura institucional em escaramuças e lobismos para que apadrinhado fulano ou beltrano seja o escolhido para essa ou aquela cadeira.

Não é normal. Barroso anda menos pelas rodinhas da capital, mas não deixa de se valer das expectativas projetadas por um STF que se expande.

“TRANSFORMADOR” – Nunca escondeu ser um construtor — transformador — a partir da Constituição. Uma compreensão progressista da função de ministro do Supremo, que ora se desdobraria naturalmente em o intérprete criativo da Lei dar vazão ao militante político. A onipotência sempre se acerca da ilha da fantasia.

Há outra explicação, complementar. Estão trabalhando pouco. Como tribunal, pouquíssimo. Nos últimos anos, o STF se converteu, em parte como decorrência da pandemia, muito mais ante a ascensão do sete peles, em palanque — blindado — para canetadas individuais; esvaziado de seu caráter impessoal encarnado nas reuniões plenárias.

Há quanto o que prevalece, desde o Supremo, é a alternância entre a atividade de seus ministros nos bastidores, em jantares com alcolumbres e outros pachecos, a distribuição de liminares corporativistas ou partidárias e as gestões xandônicas sobre os inquéritos infinitos que salvarão a democracia?

Juízes federais cobram do STF julgamento imediato de ‘licença-prêmio’ de três meses

Reformar o STF é evitar crises futuras - Blog do Ari Cunha

Charge do Sponholz (Arquivo Google)

Pepita Ortega
Estadão

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) acionou a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber, para pedir o ‘julgamento imediato’ de uma ação que pode garantir a magistrados de todo o País a chamada licença-prêmio: três meses de férias já concedidos a juízes e desembargadores dos tribunais estaduais a cada cinco anos, com a possibilidade de ‘venda’ do período – ocasião em que eles embolsam os subsídios correspondentes.

Em busca da licença-prêmio, os magistrados federais já têm direito – a exemplo dos colegas estaduais – a dois meses de férias por ano, conforme previsão da Lei Orgânica da Magistratura, em vigor desde 1979 (Governo do general João Figueiredo).

VENDER AS FÉRIAS  – Caso não usufruam do descanso, os magistrados estaduais podem ‘vender’ o período para seus respectivos tribunais, o que acaba estourando em muito o teto do funcionalismo. Como mostrou o Estadão, nos últimos seis anos os tribunais gastaram ao menos R$ 3,5 bilhões com a ‘compra’ de férias de juízes e desembargadores estaduais.

As férias duplas dos magistrados, garantidas há 44 anos pelo regime de exceção, já foram questionadas publicamente pelo ministro Gilmar Mendes, do STF. Em maio, ele bradou ‘acabem com as férias de dois meses’, após o que considerou uma tentativa de magistrados de retardarem o julgamento sobre o modelo de condução de processos pelo ‘juiz de garantias’.

Agora, os juízes federais recorrem à Corte máxima para que ela decida com urgência sobre a possibilidade de também receberem as férias-prêmio – seguindo a rotina de privilégios dos estaduais.

EXTREMA IMPORTÂNCIA -A toga federal alega que o tema é de ‘extrema importância para a magistratura nacional’. Os magistrados federais pleiteiam o benefício alegando que também promotores de Justiça e procuradores do Ministério Público recebem a ‘licença-prêmio’.

Eles pedem que o Supremo declare a ‘simetria integral’ entre a magistratura nacional e o MP. Argumentam que essa banda da toga e do Ministério Público ‘não pode estar sujeita a regime mais favorável do que as demais carreiras do serviço público’.

Ao Estadão, o presidente da Associação dos Juízes Federais, Nelson Alves, afirmou que o pronunciamento do Supremo sobre o tema vai ‘reconhecer a efetiva posição da magistratura dentro do cenário remuneratório do serviço público’.

ALEGA NELSON ALVES – ”A Constituição Federal estipula que o teto constitucional toma por base o Poder Judiciário (STF). Além disso, a Constituição também estipula que deve haver simetria entre Magistratura e MP, conforme o CNJ já decidiu desde 2011. Assim, os juízes federais aguardam o reconhecimento dessa situação também pelo STF, devendo ser a magistratura o paradigma remuneratório dentro das carreiras jurídicas”, frisa Nelson Alves.

O pedido para que o tema retorne à pauta do Supremo foi encampado pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra). A entidade sustenta que o tema já esteve liberado para julgamento várias vezes.

O caso foi retirado da lista de discussão da Corte máxima cinco vezes. As manifestações da Ajufe e da Anamatra aportaram no Supremo às vésperas do recesso judiciário, nos dias 26 e 27 de julho últimos.

MAIS PENDURICALHOS  – Juízes também querem garantir adicional por tempo de serviço e reclamam de ‘castas’ na magistratura

Dias antes de acionar o STF em busca da retomada do julgamento sobre a licença-prêmio, a Associação de Juízes Federais acionou a Corte máxima para garantir o pagamento de quase R$ 1 bilhão em penduricalhos aos magistrados. A entidade questiona uma decisão do TCU que barrou os repasses retroativos do Adicional por Tempo de Serviço (ATS).

Além da movimentação no STF, os juízes preparam mobilização nacional contra o que chamam de ‘ausência de unicidade’ da magistratura. Eles dizem que juízes e desembargadores estaduais têm ‘vantagens bem superiores’ e argumentam que a situação cria ‘castas’ na classe. Pregam que todos devem ter ‘idêntica remuneração, porquanto prestam o mesmo serviço à população’.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – O esquema obedece a um padrão. Uma das categorias profissionais da Justiça consegue um penduricalho e as outras, ao invés de contestá-lo, também exigem idêntico privilégio. E assim la nave va, cada vez mais fellinianamente. (C.N.)

Com poder delirante e irrefreado, o Supremo perde o pudor e escancara seu partidarismo

TRIBUNA DA INTERNET

Charge do Bier (Arquivo Google)

Leonardo Desideri
Gazeta do Povo

A falta de obstáculos à politização da cúpula do Judiciário, cujos abusos seguem incontestados pelo Senado, normalizou no Brasil uma realidade pouco comum anos atrás: membros do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral se sentem confortáveis para escancarar publicamente suas posições políticas.

A tendência atingiu seu ápice na última quarta-feira (12), com o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso manifestando explicitamente que atuou, enquanto juiz, contra a ascensão do bolsonarismo. Ante a reação popular, Barroso se desculpou negando a literalidade da fala. “Na verdade, me referia ao extremismo golpista e violento”, afirmou.

TUDO ESCANCARADO – Pedro Moreira, doutor em Filosofia do Direito pela Universidad Autónoma de Madrid, destaca o fato de que Barroso “não deseja preservar nem mesmo a aparência de imparcialidade”.

“O comportamento dele, inclusive estético, é similar ao de um político em comício. Portanto, contraria qualquer princípio de prudência, decoro, independência e imparcialidade, todos previstos no Código de Ética da Magistratura. Em um estado de coisas normal, em que os órgãos de controle se comportassem com independência, e o parlamento com firmeza e dignidade, uma postura como essa seria punível. No Brasil, creio que Barroso não sofrerá nem mesmo um constrangimento acadêmico relevante. Como é um homem importante, amanhã estará dando palestra para juízes”, ironiza.

Para Moreira, todo o contexto em que ocorreu a fala do ministro Barroso é constrangedor. “Primeiro, ele está em um evento ideologicamente orientado. Segundo, tenta responder às vaias de uma turma que ele parece reconhecer como sua. Terceiro, para agradar a turba, acaba reconhecendo o que a esta altura ninguém poderia mais duvidar: Barroso não é um julgador imparcial. E, pelo que pensa e escreve, sequer poderia sê-lo.”

HISTÓRICO FARTO – Esta não é a primeira oportunidade em que Barroso deixa suas opiniões políticas vazarem para o público. O histórico de falas do ministro nesse sentido é farto.

E Barroso não é o único ministro que exibe sem pudor seus posicionamentos. Em fevereiro, reportagem da Gazeta do Povo mostrou como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Dias Toffoli já explicitaram suas convicções políticas – e, em alguns casos, até partidárias – por meio de discursos e presenças em eventos. A exposição de opiniões toca, muitas vezes, em questões relacionadas a julgamentos que ainda estão tramitando no STF.

No começo de fevereiro, Lewandowski foi a um evento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), onde deixou clara sua simpatia pela organização extremista. Cármen Lúcia já assinou carta que sinalizava opinião favorável à legalização do aborto após uma reunião com um grupo de mulheres politicamente engajadas em pautas da esquerda. Em fevereiro deste ano, Gilmar Mendes afirmou que o Brasil “estava sendo governado por uma gente do porão” até o ano passado.

MARKETING POLÍTICO – A falta de pudor em exibir a politização fica evidente também na recente estratégia de comunicação dos tribunais, que têm usado o marketing político para reforçar na opinião pública as posições que adotam.

Anos atrás, as campanhas publicitárias das cortes superiores do país tinham, em sua grande maioria, um propósito informativo ou educativo e se caracterizavam pela sobriedade formal. Com o envolvimento crescente da cúpula do Judiciário na vida política do país, essa realidade ficou para trás.

Na segunda-feira da semana passada (10), o TSE estreou a campanha “Na Hora da Verdade, a Democracia Fala Mais Alto”, um spot publicitário de 30 segundos que apresenta uma batalha de rappers. Na peça, uma rapper mulher com a palavra “Democracia” estampada em sua blusa derrota um rapper homem que representa a ditadura.

DEMOCRACIA E DITADURA – “Um MC representa a democracia e o outro, a ditadura. A clara superioridade da democracia fica evidenciada nas rimas de seu representante, que conquista a adesão da plateia no final”, descreve no projeto enviado ao TSE a Madre Mia Filmes, produtora responsável pelo spot, que custou R$ 400 mil aos cofres públicos.

Não é difícil associar a campanha com os frequentes discursos em que ministros usam a oposição entre “democracia” e “extremismo” para condenar um amplo espectro de opiniões da direita como “antidemocrático” – justificando inclusive prisões e censura com base nessas categorias.

Na própria diplomação de Lula em dezembro de 2022, Alexandre de Moraes disse que aquele evento atestava “a vitória plena, incontestável da democracia e do Estado de direito contra os ataques antidemocráticos, contra a desinformação e contra o discurso de ódio proferidos por diversos grupos organizados”.

SEMELHANÇA EVIDENTE – A letra da música da propaganda do TSE, aliás, tem semelhanças evidentes com o mantra da liberdade de expressão que figura frequentemente em votos de Alexandre de Moraes.

“Liberdade de expressão não é licença para espalhar mentira, ódio, golpe e desavença”, canta a rapper representante da democracia na peça publicitária, citando Moraes quase literalmente.

Para o advogado especialista em compliance Jorge Derviche Casagrande, o desprezo por um grupo de eleitores em nome da preservação da ordem política desejada pela elite estatal é o contrário do comportamento democrático. “Essa campanha do TSE é uma autodefesa do sistema. Eles estão jogando no lixo o voto das pessoas, a vontade popular, e estão dizendo que isso é democracia”, afirma. “Eles estão fazendo uso dos órgãos oficiais para reescrever a história e tentar promover uma narrativa pró-sistema”, acrescenta.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente análise, enviada por Mário Assis Causanilhas. O Supremo e o TSE tentam limpar suas imagens, mas só conseguirão quando pararem as decisões políticas, com “reinterpretações de leis” segundo o gosto do freguês, digamos assim. Toda decisão de vara ou tribunal tem de ser jurídica, sem influências meramente políticas. (C.N.)