Carlos Newton
Fez sucesso no final de semana a reportagem de Marcella Mattos na revista Veja, revelando que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, vai retificar seus depoimentos anteriores, para dizer que nunca se referiu a um efetivo golpe de estado, demonstrando até contrariedade com o que chama de “interpretação” de seu relado no âmbito do acordo de colaboração firmado com a Polícia Federal.
Fica difícil acreditar numa maluquice dessas, especialmente porque a reportagem detalha que o tenente-coronel, em seu depoimento nesta segunda-feira, dia 11, pretenderia minimizar as propostas de teor golpista e dizer aos investigadores que jamais viu uma “minuta de golpe” sendo apresentada aos comandantes militares.
“CONSIDERANDOS” – Por essa versão, que carece de comprovação, segundo a repórter Marcela Mattos, em depoimentos anteriores o tenente-coronel relatou ter presenciado apenas a apresentação de “considerandos” aos comandantes, nos quais constavam decisões contrárias perpetradas pelo Supremo Tribunal Federal e pela Tribunal Superior Eleitoral contra Bolsonaro e tratadas pelo então presidente como “persecutórias”.
A declaração mostra que Mauro Cid, além de mentiroso, é ignorante. Desconhece que são chamadas de “considerandos” as justificativas a serem feitas a decretos presidenciais.
Assim, antes do texto de qualquer o decreto (no caso, um decreto de Estado de Defesa), vem escrito que “considerando” isso, “considerando” aquilo, “considerando” o que diz a Constituição e “considerando” mais isso ou aquilo, “o presidente da República decreta”…
PRIMEIRO LUGAR – É inacreditável que Mauro Cid, primeiro colocado nos cursos de aperfeiçoamento militar, tenha presenciado o debate dos “considerandos” e não tenha visto ser discutida a minuta. Ora, os “considerandos” são a parte fundamental do decreto e a verdadeira essência do golpe, porque justificariam o Estado de Defesa, com fechamento temporário do Supremo, do TSE e do Congresso, novas eleições etc.
O tenente-coronel pode até dizer que na conspiração não se usava o termo “golpe”, porque o que se discutia eram saídas legais para uma crise que o próprio Executivo e as Forças Armadas fomentavam, pois onde já se viu militar permitir acampamentos na frente dos quartéis?
Mas tudo dele transpira mentira, trama, enganação. É a antítese do militar de verdade.
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Cid dará nesta segunda-feira um novo depoimento aos investigadores. Será que desta vez vão perguntar como ficou rico nos EUA, em sociedade com o pai, Lorena Cid, e o irmão mais novo, Daniel Cid? Bem, se continuar mentindo e ficar embromando novamente, pode ser preso outra vez. (C.N.)