Democracia Inabalada foi salva para ser vilipendiada diariamente pelo Supremo

Ato Democracia Inabalada | Agência Brasil

As autoridades não percebem que a democracia está abalada

Deu na Gazeta do Povo

Foi com horror e perplexidade que o Brasil assistiu, em 8 de janeiro de 2023, às cenas da invasão das sedes dos três poderes, vandalizadas por uma turba insatisfeita com a eleição e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Um acontecimento de extrema gravidade que, se devidamente punido, teria servido para que a nação recuperasse a importância de defender a democracia em sua totalidade, não apenas em sua dimensão eleitoral.

No entanto, um ano depois, podemos dizer com toda a certeza que o 8 de janeiro foi transformado em pretexto para que as liberdades e garantias democráticas fossem ainda mais agredidas no país.

GOLPE DESASTRADO – Em ocasião anterior, já descrevemos o 8 de janeiro como “a tentativa de golpe mais desastrada da história mundial recente”.

Cansados de esperar em vão nos acampamentos diante dos quartéis por um golpe, já que as Forças Armadas não haviam agido nem para impedir a posse de Lula, nem para apeá-lo do poder, os manifestantes foram à Praça dos Três Poderes desarmados e cientes de que não tinham os militares a seu lado, em um domingo, quando as autoridades que seriam o alvo da insurreição não estariam em seus locais de trabalho – o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, nem em Brasília estavam.

Mensagens trocadas em celulares apreendidos depois do 8 de janeiro mostram que, ao menos entre alguns, havia uma intenção de causar tumulto para, com isso, forçar as autoridades a colocar o Exército em ação, que por sua vez seria finalmente “convencido” pelos manifestantes a tomar seu lado, e não o do petista – um plano, de fato, mas baseado em puro wishful thinking, já que as Forças Armadas jamais deram o menor sinal de que estariam dispostas a se voltar contra o governo.

JUSTIÇA INDIGNA – Em vez de serem corretamente investigados e punidos, os atos de 8 de janeiro foram transformados em pretexto para que as liberdades e garantias democráticas fossem ainda mais agredidas no país

Que havia, portanto, golpistas no sentido estrito do termo – pessoas dispostas a derrubar o governo Lula – é evidente. E o vandalismo era inegável. Portanto, a reação que se esperava das autoridades, das forças de segurança e dos órgãos de investigação era a de identificar quem depredou as sedes dos poderes e quem, estando ou não na praça na tarde de 8 de janeiro, instigou ou levou adiante um plano golpista, separando esse grupo daqueles vários outros que constituíam a grande massa do 8 de janeiro: os brasileiros que não tinham intenção nenhuma de depor o governo, mas apenas de protestar.

Não foi isso, no entanto, o que aconteceu. Se a ordem de desmontar os acampamentos no dia 9 era bastante razoável, dado o que havia acabado de acontecer, tudo o que se seguiu mostrou que a repressão ao 8 de janeiro seria baseada no arbítrio puro.

FALSOS TERRORISTAS – Mais de mil pessoas foram encarceradas e tratadas “no atacado” como terroristas, o que estava longe de ser verdade. Esses brasileiros foram mantidos nos presídios da Papuda e da Colmeia sem que houvesse os requisitos legais para a manutenção de prisões preventivas ou temporárias.

A Procuradoria-Geral da República ignorou completamente a necessidade da individualização da conduta, pelo qual cada um tem de ser acusado e julgado pelo que efetivamente fez, e ofereceu denúncias genéricas, aceitas sem pestanejar pelos ministros do Supremo com base em uma interpretação bastante falha da noção de “crime multitudinário”.

A maioria dos ministros do STF, por fim, demonstrando desprezo total pelo devido processo legal e pela ampla defesa, já condenou algumas dezenas de manifestantes pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, associação criminosa, dano ao patrimônio da União e deterioração do patrimônio tombado, ainda que em quase todos os casos não houvesse elementos concretos que ligassem os réus a atos de vandalismo ou a intenções golpistas.

DIREITO DE DEFESA – Parte dos julgamentos ocorre em plenário virtual, o que não garante que os ministros tenham assistido aos vídeos em que os advogados fazem a defesa de seus réus. O descaso do ministro relator, Alexandre de Moraes, foi tanto que culminou com a morte de um dos presos, Cleriston Pereira da Cunha, na Papuda, quando já havia até parecer da PGR pela sua soltura, devido a problemas graves de saúde.

Vidas e famílias inteiras estão sendo destruídas em nome não da verdadeira justiça, mas de um justiçamento em que algumas das instituições mais importantes da República fecham os olhos à lei e aos fatos para encarcerar por mais de uma década cidadãos cujo único “crime” comprovado é o de estar no local errado, na hora errada, na companhia errada e ter uma determinada preferência política ou dúvidas – embasadas ou não, pouco importa – sobre o sistema eleitoral.

E a única forma de escapar desse destino é por meio de um acordo que inclui uma confissão forçada, violando as consciências de quem tem certeza de não ter feito nada de errado naquele dia.

DEMOCRACIA INABALADA – O governo fez fanfarra nesta segunda-feira dizendo que “a democracia esteve ameaçada, mas foi salva”. Os ministros do Supremo dirão que “a democracia esteve ameaçada, mas foi salva”.  Inúmeros jornalistas e veículos de imprensa também dizem que “a democracia esteve ameaçada, mas foi salva”.

Nós, no entanto, dizemos que, sob o pretexto de “salvar a democracia”, ela vem sendo diariamente vilipendiada.

O respeito ao devido processo legal é peça tão importante da democracia quanto a realização de eleições e a garantia de que os eleitos cumprirão seus mandatos livremente, mas isso foi esquecido para que se instituísse um regime repressivo que ignora a lei processual e os direitos dos réus, um regime no qual não existe justiça, mas vingança.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Stédile faz duras criticas ao primeiro ano e Lula manda nomear dirigentes do MST

CPI do MST: governistas combinam estratégia com Stédile, que será  interrogado nesta terça-feira

“2023 foi o pior ano da história do MST”, reclamou Stédile

Hugo Marques
Veja

No final de dezembro, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, João Pedro Stédile, afirmou que 2023 foi o pior ano da história para o movimento. O avanço da reforma agrária, para ele, se mede por “ideias, conquistas políticas e sociais”, o que em sua avaliação não tinha ocorrido até o momento.

Duas semanas após as críticas, o governo Lula decidiu ampliar a presença do MST em órgãos consultivos federais.

SETE NOMEAÇÕES – A Secretaria-Geral da Presidência da República criou um grupo de trabalho com a finalidade de coordenar iniciativas para promover a participação social no G-20, no período em que o Brasil vai exercer presidência do grupo, nos próximos 12 meses. O G-20 reúne as 19 maiores economias do planeta mais a União Europeia e a União Africana, abrangendo dois terços da população mundial.

O governo escolheu sete representantes para compor o grupo de trabalho, sendo um deles a secretária Nacional de Diálogos Sociais da Presidência, Kelli Mafort.

Como mostrou Veja, Kelli liderou como coordenadora nacional do MST, em 2016, a depredação da fazenda do coronel João Baptista de Lima Filho, amigo do então vice-presidente da República Michel Temer. Caberá a Kelli e aos outros seis membros formular políticas

NA AGRICULTURA – Em outra frente, o governo prestigiou os sem-terra ao nomear um de seus coordenadores para compor, na condição de suplente, o Comitê Interministerial do Programa Nacional de Conversão de Pastagens do Ministério da Agricultura.

O escolhido é o militante Gilvan dos Santos. A titular também representa os sem-terra, mas não é ligada diretamente ao MST. Além de Kelli Mafort e de Gilvan dos Santos, o MST ocupa outros cargos importantes no governo Lula.

Milton Fornazieri foi nomeado secretário de Abastecimento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Alexandre Conceição ocupa o posto de assessor especial do MDA. Marina Viana assumiu a coordenação do MDA no Mato Grosso. Valdir Misnerovic tem o mesmo cargo em Goiás. E Ayala Ferreira, membro da direção nacional do movimento, foi indicada como representante do grupo no ‘Conselhão’.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
As nomeações feitas por Lula lembram um ditado antigo que existe na administração pública. Se você não quer resolver uma questão, é fácil – basta criar um grupo de trabalho. Nada de novo no Front Ocidental, portanto. E toca o barco, diria Ricardo Boechat. (C.N.)

Celebrações do 8/1 exibem o colapso da segurança, que fracassa em todo o país

Sorriso Pensante-Ivan Cabral - charges e cartuns: Charge: Insegurança  Pública

Charge do Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Elio Gaspari
Globo/Folha

As celebrações do 8 de janeiro tiveram todos os ingredientes típicos dos eventos de Brasília: as enfadonhas nominatas, com os intermináveis registros de presenças, e discursos em louvor da democracia. Faltou uma só peça: a discussão dos fatores que permitiram a ocorrência das invasões.

Os ônibus convocados trazendo milhares de pessoas para a “Festa da Selma” estavam chegando a Brasília desde a véspera. Candidamente, diversos ministros contaram que, no início da tarde, estavam almoçando. Nenhum depoimento revelou alguém que, desde o início da manhã, estivesse organizando qualquer tipo de resistência.

COLAPSO DO SISTEMA – A tentativa de golpe vinha sendo articulada há semanas. Hoje, culpa-se o culpado e seu nome é Jair Bolsonaro. Contudo, se um sujeito tem uma joalheria e ela é assaltada, a culpa é do ladrão, mas o dono da loja deveria ter pensado na proteção de seu patrimônio. O que houve em Brasília foi o colapso do sistema de segurança pública, que está bichado em todo o país.

Em São Paulo, o governador diz que câmeras corporais colocadas nos uniformes dos PMs não protegem os cidadãos. No Rio, o chefe de uma grande milícia decide se entregar à Polícia Federal. Pudera, Ecko, o irmão de Zinho morreu baleado quando estava preso, dentro de uma viatura da PM. (Nada de novo, há mais de 50 anos, a poeta americana Elizabeth Bishop contou a morte do bandido Micuçu numa favela. Na verdade, ele saiu vivo do morro e foi executado dentro de uma viatura.)

Olhando-se para o 8 de janeiro pelo retrovisor, aprende-se que as forças encarregadas da segurança mal falam entre si. No Rio, prenderam-se pessoas que nada mais deviam à Justiça. O erro foi descarregado sobre o equipamento de reconhecimento facial. Daí, foi repassado a outro equipamento, que deveria informar a situação das pessoas detidas. Traduzindo, compraram suas traquitanas de última geração para nada.

TUDO ERRADO – Um dos milicianos mais procurados do Rio deixou a cadeia, com alvará. São diversos os casos de bandidos libertados por juízes plantonistas. Em sete anos, a Justiça de São Paulo soltou 30 quadros do Primeiro Comando. Um desembargador do Rio que praticava esse tipo de gracinha foi investigado pelo Conselho Nacional de Justiça e retomou seu cargo.

A mulher do chefe de uma organização criminosa frequentava gabinetes do Ministério da Justiça. Exposto o absurdo, a cavalaria governista investiu contra uma jornalista.

Com o crescimento do crime organizado e dos índices de letalidade das polícias, o governo federal fingiu que acordou e lançou mais um plano.

GENÉRICOS – O que aconteceu em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 foi um genérico das PMs amotinadas no Ceará, Espírito Santo e Bahia. Esses motins, por sua vez, são genéricos de polícias que saem matando “suspeitos”, como ocorreu na Baixada Santista há algumas semanas.

Anuncia-se que Lula vai colocar no Ministério da Justiça. Até agora, o favorito é o ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski. Seria um ministro tipo-exportação. Tem biografia e currículo, mas nunca prendeu um bandido.

A segurança pública está bichada e nos próximos meses, com as campanhas municipais, o tema reaparecerá. É certo, porém, que esse tema será central em 2026. Se o governo começar a trabalhar amanhã, poderá mostrar resultados. Se acreditar nos próprios planos grandiosos, acordará tarde.

Mãos ao alto: Governo pede socorro no Rio, onde a intervenção é inútil

Bandidos exigem quantias altíssimas para não “embargar” obras

Marcelo Copelli

Nesta terça-feira, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, recorreu às redes sociais para “denunciar”, ou melhor, repetir o que muitos já sabem sobre as ações do crime organizado no Rio de Janeiro. A exemplo da ilegal exploração de atividades, cobranças covardes e indevidas nas comunidades, seus moradores e estabelecimentos comerciais,  bandidos também resolveram extorquir os responsáveis por obras públicas.

A notícia não é novidade. Inclusive já foi revelada nesta Tribuna recentemente. A bola da vez é a empreiteira responsável pelas obras do Parque Piedade, na Zona Norte do Rio. Segundo o prefeito, os criminosos exigiram o pagamento de R$ 500 mil à empresa. Mas não parou por aí. Ameaçaram, caso não seja efetuado o pagamento, paralisar as obras. Tudo isso sob o guarda-chuva generoso da impunidade e da falta de um planejamento efetivo e ações concretas na segurança pública do Estado.

REFÉM – Há anos que a cidade se encontra refém de criminosos e as autoridades (in) competentes apenas brincam com as estatísticas, repetindo promessas e “reforçando” a fechadura depois do arrombamento. Um verdadeiro e afrontoso descaso com as vidas de milhares de cidadãos contribuintes, com o voto recebido nas eleições e com o dever de proteger e garantir a ordem.  

As obras do Parque Piedade foram iniciadas em setembro do ano passado, com a demolição de dois prédios que pertenciam ao antigo Colégio Piedade, dentro da área de cerca de 18 mil metros quadrados onde ficava o campus da famosa Universidade Gama Filho. O local estava entregue ao mais total abandono desde 2014, com a falência da instituição privada de ensino.

CLAMOR – Em 2023, a Prefeitura do Rio comprometeu-se a inaugurar o novo parque até o fim do ano de 2025. Tudo a um custo de R$ 58 milhões, além de cerca de R$ 47 milhões com a desapropriação da área, cujo valor está sendo depositado em juízo. Diante do clamor do prefeito, o secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Ricardo Capelli, informou que ainda não foi comunicado oficialmente sobre o caso.

Enquanto muitos gritam, faltam ouvidos oficiais e vontade para dar cabo de tanta demanda, que a intervenção federal não resolve. A sociedade apenas caminha, tornando o inaceitável uma regra comum. Vidas se vão, transformam-se em números, o progresso engatinha, quando não vira alvo de bala perdida. Muita coisa pelo avesso, margeando uma avenida que precisa  urgentemente ser pavimentada. Falta apenas boa vontade.  

 

Lula avisa os ministros do Supremo que Lewandowski assumirá pasta da Justiça

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Lewandowski vai dispensar o salário de Joesley e Wesley?

Vera Rosa
Estadão

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já foram avisados pelo Palácio do Planalto de que o ex-presidente da Corte Ricardo Lewandowski será o novo titular da Justiça, substituindo Flávio Dino, que vai assumir uma vaga na Corte. O anúncio ainda não foi feito porque Lewandowski pediu um prazo para definir os seus auxiliares na equipe, mas a nomeação deve sair até o fim desta semana.

A conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Lewandowski ocorreu nesta segunda-feira, 8, no Palácio da Alvorada. O ministério não será dividido e, com isso, a segurança pública continuará sob a alçada da Justiça.

SEM DIVISÃO – Lewandowski sempre foi contra essa separação de funções. Em conversas reservadas, ele chegou a dizer que o desmembramento do Ministério da Justiça não era uma operação tão simples como “tirar um paletó” porque as estruturas são interligadas.

Além disso, o magistrado aposentado concorda com Dino, para quem um ministro sem o comando da Polícia Federal fica enfraquecido.

Escolhido por Lula, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, continuará à frente da corporação. Nesta terça-feira, 9, Rodrigues disse que as investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes devem terminar em março.

E CAPELLI? – O Estadão apurou que Flávio Dino pediu a Lula a manutenção do secretário-executivo Ricardo Cappelli. O destino do auxiliar virou um dos impasses para o anúncio de Lewandowski.

Ainda não está definido o futuro de Cappelli, que foi interventor na segurança pública do Distrito Federal após a tentativa de golpe do 8 de janeiro. Filiado ao PSB como Dino – que terá de sair do partido para ingressar no Supremo –, ele também foi ministro interino da Justiça.

O comando do PSB quer a manutenção de Cappelli e de outros nomes do partido que integram o Ministério da Justiça, como os secretários Tadeu Alencar (Segurança Pública), Augusto de Arruda Botelho (Justiça) e Ênio Vaz (Assuntos Legislativos).

POSIÇÃO DO PSB – “Temos pessoas muito qualificadas e não podemos retroceder. A continuidade do trabalho dessa equipe é essencial para manter o progresso alcançado”, disse o presidente do PSB, Carlos Siqueira.

Até agora, o mais cotado para ser secretário-executivo do Ministério da Justiça é o jurista Manoel Carlos de Almeida Neto.

Ex-secretário-geral do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Almeida Neto era o nome defendido por Lewandowski para ocupar sua vaga no Supremo. Lula, porém, indicou Cristiano Zanin, advogado que o defendeu das acusações da Lava Jato.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
José Carlos Werneck já tinha cantado a pedra que Lewandowski seria ministro da Justiça. Assim, em tradução simultânea, Lula da Silva preferiu nomear o atual advogado de Joesley e Wesley Batista,, confirmando que a corrupção continua dando as cartas neste país. E o mais incrível é o presidente da República anunciar previamente aos amigos do Supremo, como se a nomeação tivesse objetivo de também agradar a eles. (C.N.)

Pacificação política não interessa a Lula e Bolsonaro por não ser eleitoralmente sexy

Charge de Jorge Braga (O Popular)

Dora Kramer
Folha

De verdade a direita nem a esquerda têm interesse na pacificação dos ânimos na política. Pelo simples fato de que a moderação não é eleitoralmente sexy. Políticos se movem ao ritmo da demanda dos que lhes dão votos e estes não se mostram inclinados a aderir à calmaria celebrada na teoria, mas na prática rejeitada.

As pesquisas comprovam. Em dezembro, o Datafolha mostrou que com erros e acertos, derrotas e vitórias de um lado e de outro, 90% dos eleitores de Luiz Inácio da Silva e de Jair Bolsonaro continuam apegados às escolhas de 2022.

TRÊS FACÇÕES – Nesse universo, 30% declaram-se petistas convictos, 25% estão com Bolsonaro e não abrem, 10% se dizem mais próximos do petismo e 7% transitam na área de influência do bolsonarismo. Os ditos neutros, os menosprezados “isentões”, somam 21%.

Como se vê, sobra pouco espaço à conciliação que, diga-se, não significa o abandono de convicções, mas disposição para ouvir, compreender, tomar decisões racionais e, sobretudo, não fazer do adversário um inimigo a ser dizimado.

Passado um ano da demonstração de unidade nacional no 8 de janeiro de 2023, o ambiente de harmonia democrática se desfez e assim ficou ao longo do período, ao fim do qual a cisão se expressou nas ausências do ato de ontem.

USO POLÍTICO – A intolerância dos oposicionistas foi diretamente proporcional ao sectarismo dos governistas e a intenção de reviver aquela união com caráter de adesão a um projeto político-eleitoral-partidário específico.

Nenhum dos dois lados dá chance ao centro que, desprovido de sex appeal em sua essência, tampouco faz a sua parte no esforço da conquista. Segue como sujeito oculto das vitórias e derrotas eleitorais. Serve para decidir — Lula não teria vencido sem a ajuda dos chamados neutros, e não tem tido força para caminhar com as próprias pernas.

Aos chefes das torcidas interessa mantê-las mobilizadas. enquanto pregam a união de todos desde que seja em torno de si.

Não há nada melhor do que a amizade sincera, um grande amigo

Vinil Renato Teixeira, Dominguinhos MPB - Bossa - Instrumental

Renato e Dominguinhos, parceiros e amigos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor paulista Renato Teixeira de Oliveira, um dos mais destacados cantores da música regionalista, mostra o que considera o real significado de uma “Amizade Sincera”.A música faz parte do CD/DVD Amizade Sincera, gravado por Renato Teixeira e Sérgio Reis, em 2010, pela Som Livre.

AMIZADE SINCERA
Dominguinhos e Renato Teixeira

Amizade sincera é um santo remédio
É um abrigo seguro
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso
Por isso se for preciso
Conte comigo, amigo disponha
Lembre-se sempre que mesmo modesta
Minha casa será sempre sua
Amigo, os verdadeiros amigos
Do peito, de fé
Os melhores amigos
Não trazem dentro da boca
Palavras fingidas ou falsas histórias
Sabem entender o silêncio
E manter a presença mesmo quando ausentes
Por isso mesmo apesar de tão raros
Não há nada melhor do que um grande amigo

É muita ingenuidade achar que Gleisi ataca Haddad sem autorização de Lula

Gleisi Hoffmann diz que Lula entrará na campanha de Boulos em São Paulo | Exame

O jogo é simples assim: Lula manda e Gleisi obedece…

Carlos Newton

Quem frequenta a Tribuna da Internet sabe que, em matéria de política e politicagem, as aparências sempre enganam. O principal motivo é a atuação da chamada imprensa amestrada, que trabalha de maneira serviçal e colabora para difundir as falsas narrativas difundidas pelo grupo político que integram. Fazem esse serviço sujo sem questionamentos, simplesmente aceitam a versão que lhes empurram goela abaixo, e passam adiante a notícia.

Nos últimos dias, por exemplo, foi impressionante o número de reportagens e artigos “plantados” para divulgar a versão de que o presidente Lula da Silva nada tem a ver com a briga entre a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e o ministro Fernando Haddad, chefe da equipe econômica.

QUEM ACREDITA? – Os jornalistas amestrados espalham a informação de que Gleisi e Haddad estão brigando pela candidatura à sucessão de Lula na eleição de 2030. Caramba! Uma disputa tão intensa e desavergonhada, com sete anos de antecedência? Quem pode acreditar numa bobagem dessas? Gleisi e Haddad não têm mais o que fazer?

O pior é alegar que Lula não sabe de nada, não interfere nem participa dessa briga. É justamente por isso que a política requer tradução simultânea. Como todos sabem, Lula é dono do PT. É ele quem manda no partido. Ponto Final. Gleisi Hoffmann jamais ousaria provocar e atacar o principal ministro do governo se não estivesse autorizada pelo presidente.

Lula está determinando que Gleisi Hoffmann assuma a briga contra Haddad, porque não seria cabível que um presidente da República investisse contra seu principal ministro, sem demiti-lo. É por isso que Gleisi usa dois pontas de lança para fustigar Haddad – o próprio companheiro Lindbergh Farias, com quem está vivendo há alguns anos, e José Guimarães, aquele deputado dos dólares na cueca.

Eles também só criticam Haddad porque estão servindo ao presidente da República, sempre prontos a atendê-lo e agradá-lo.

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P.S.
Outra balela difundida pela imprensa amestrada é a justificativa de que Gleisi e Haddad estão brigando por causa da candidatura petista em 2030, quando Lula promete abandonar a política, após ser reeleito em 2026. Mais uma tremenda conversa fiada, porque a sucessão de Lula é para ontem, pois ele está com 78 anos. Segundo o IBGE, a expectativa de vida do homem brasileira, na última medição (2022) é de 72 anos. Isso significa que Lula já está fazendo seis anos de hora extra. É por isso que Gleisi aceita atacar Haddad, pois todos sabem que o tempo não para, como diziam Cazuza e seu parceiro Arnaldo Brandão.  (C.N.)

Recriamos, em nosso mundo jurídico, o “crime de opinião” e os “hereges”

13 Frases de Sartre sobre Liberdade - Psicoativo ⋆ Universo da PsicologiaFernando Schüler
Veja

O jornalista Breno Altman escreveu que o grupo terrorista Hamas é “parte decisiva da resistência palestina contra o Estado colonial de Israel”. A Confederação Israelita achou que aquilo era demais, um tipo de injúria racial, e acionou a Justiça. Breno passou a ser “investigado” pelo Estado.

Até aí, mais uma história triste da censura brasileira, que virou feijão com arroz, nos últimos anos, jornalistas, humoristas, blogueiros, economistas, um partido comunista, rádios, plataformas digitais e, claro, “bolsonaristas” de todos os tipos e tamanhos. 

MINÚSCULA MINORIA – De minha parte, divirjo inteiramente do Breno Altman, mas penso que ele, como qualquer outro ativista de esquerda ou de direita, deveria ter a liberdade para defender suas posições. E sei que isso me faz pertencer a uma minúscula minoria, nestes tempos bicudos. Não é o ponto aqui. O curioso, no seu caso, foi observar as reações.

O PT expressou sua “absoluta contrariedade com a ação do Estado contra um cidadão”. A presidente do partido disse que aquilo tudo era uma “perseguição”. E mesmo a ABI surgiu falando em “liberdade de expressão”.

Quando li sobre essas coisas, imediatamente me lembrei de Sebastian Castellion, o teólogo dissidente perseguido por Calvino, autor de “Sobre os Hereges” (em tradução livre), o primeiro livro moderno em defesa da liberdade de pensamento (nos termos do século XVI, por óbvio). “Opiniões são quase tão numerosas como os homens”, dizia Castellion, e “herege é como chamamos aqueles de quem discordamos”.

REPETIR OS ERROS – O pulo do gato é quando Castellion faz uma recomendação aos governantes: “Não deem ouvidos aos que aconselham a derramar sangue pela religião. Acreditem: se eles fossem perseguidos, aconselhariam o contrário…”.

Vai aí um dos encantos da história. Ela nos permite observar nossa estranhíssima vocação a repetir sempre os mesmos erros, o mesmo ridículo.

Na visão da Confederação Israelita, Altman é tipo de herege. E, logo, um “fora da lei”. Para os apoiadores de Altman, hereges são os jornalistas e blogueiros de “direita”, amplamente censurados, nos últimos anos, no Brasil. No início do governo Bolsonaro, a finada Lei de Segurança Nacional foi acionada, sem lógica, contra alguns hereges que chamaram o presidente de “genocida”, “pequi roído” ou sugeriram que seu destino seria o de Maria Antonieta.

ALTAR DA INTOLERÂNCIA – A política e a ideologia (incluindo aí os temas de “identidade”) tomaram o lugar que um dia foi da religião, no altar da intolerância. Alguns veem na Revolução Francesa o ponto de inflexão. A ascensão do jacobinismo, o culto da igualdade, o credo de Rousseau, depois Robespierre e Babeuf como uma “religião civil”. É uma história longa.

Seu ponto culminante foi a fúria totalitária no século XX. O domínio da política sobre a vida. A crença sem limites na “violência revolucionária” e a desgraça que conhecemos. Depois da queda do Muro, em 1990, muita gente enxergou o nascimento de um tempo novo de liberdade.

 O tempo de Havel, o guru da minha juventude, e sua Revolução de Veludo. O tempo em que John Barlow, o roqueiro e filósofo libertário, lançou a Declaração de Independência do Ciberespaço. “Estamos criando um novo mundo”, dizia ele, “onde qualquer pessoa pode expressar suas crenças, não importa quão estranhas sejam, sem medo de ser coagido ao silêncio ou à conformidade”.

TEMPO DE MESQUINHARIA – Recordo dessas coisas para tratar do tema com alguma perspectiva. Duas ou três décadas depois de Barlow e sua utopia, vivemos um tempo de mesquinharia. A época dos controladores, dos pequenos calvinos, da novilíngua orwelliana a conta-gotas e sua tara para calar os novos hereges.

No Brasil dos últimos anos nos tornamos um laboratório disso tudo. Ainda está para ser feito o inventário de quantas pessoas foram censuradas, à revelia da Constituição. Sempre com o requinte de fazer tudo em nome da “democracia”. Em seu nome, recriamos em nosso mundo jurídico o “crime de opinião”. 

Em nome da democracia, aceitamos banir, censurar, desmonetizar, processar, cassar passaportes, bloquear contas bancárias e mesmo prender. 

RANKING DA BIZARRICE – Faço um ranking das decisões mais bizarras: o banimento do professor Marcos Cintra, por manifestar gentilmente algumas preocupações sobre nosso sistema de votação; o processo patético movido contra um punhado de empresários, por um papo sem relevância, em um grupo de WhatsApp; a censura ao PCO, minúsculo partido comunista, cancelado por um tuíte que ninguém leu, “atacando” o STF; o youtuber Monark, banido por uma frase incompreensível sobre “alguma mutreta aí”, com um ponto de interrogação sobre nosso sistema de votação; os deputados federais desligados da internet sem processo, à revelia da prerrogativa constitucional da imunidade parlamentar.

A lista é enorme. Há o perigosíssimo humorista Bismark Fugazza, preso em uma operação digna de série, no Paraguai. Há as plataformas digitais, censuradas por apresentarem sua visão sobre o PL das Fake News. E, lá no início, o impagável caso do Mito Show, o dançarino negro da Bahia, sem um tostão, autor de algumas alegorias pró-Bolsonaro, posto em cana como perigosa ameaça ao “estado de direito”.

CENSURA PRÉVIA – De tudo, o que mais impressiona é o exercício aberto da censura prévia. O ofício mandando “tirar esse aí da rede”. O poder personalíssimo, o processo nenhum. A exceção convertida em política de Estado. A fraseologia, em norma de direito. Sem fogueira, como no século XVI, ainda que com uma sombra. O Clezão, o morto “irrelevante” da Papuda, cuja menção talvez seja de mau gosto, como escutei, dias atrás, nestes novos tempos de democracia.

Quando Miguel Servet foi queimado vivo, na Genebra de 1553, por divergir das teses de Calvino, houve um tipo solitário que reagiu. Seu nome: David Joris, um teólogo flamengo. Ele escreveu ao Conselho da cidade com um apelo. “Pensem no que aconteceria se nossos oponentes tivessem rédea solta para matar hereges. Quantos homens restariam na terra?”.

A carta não deu em nada. Ele mesmo seria arrancado da cova, e seu corpo queimado, como um herege. Mas seu gesto está lá. Diante do horror, a percepção precoce do sentido da tolerância. A atitude rara de quem enxerga sinais de luz quando tudo está escuro. É nele que penso, nesses tempos difíceis. E, se pudesse fazer um apelo a nossos homens de poder, não teria muito a acrescentar ao apelo de David Joris. Afinal, 470 anos é tempo suficiente para aprender.

Ameaça de Trump, o futuro de Milei e a eleição de prefeitos vão esquentar 2024

Manifestante exibe cartaz com fotos de Javier Milei, Jair Bolsonaro e Donald Trump em protesto contra a morte de Cleriston Pereira, 46, preso pelos ataques de 8 de janeiro

De repente, tudo se mistura num mesmo caldeirão político

Vinicius Torres Freire
Folha

Este 2024 deve ser de economia morna no Brasil e no mundo e de política quente por muita parte. Donald Trump pode voltar a ser presidente dos EUA, caso não seja impedido de se candidatar, o que também seria muito relevante. Cada vez mais mussoliniano ou, melhor, mais putiniano, é mais capaz e decidido de manipular o “sistema” e derrotar o “deep state” que, diz, o impediu de restaurar a grandeza americana. A eleição vai ferver o ano inteiro, dado o rolo judicial; as primárias começam em janeiro.

No que diz respeito aos interesses do público brasileiro, a escolha do presidente americano deve ser a mais chamativa. Deve ser uma definição que pode mudar a direção dos ventos e percepções também das elites políticas brasileiras.

BRASIL E ARGENTINA – É especulação mais do que temerária dizer que vitórias de demagogos autoritários vão influenciar o eleitorado, sem mais. Mas costuma haver contágios e inspirações no mundo político.

Durante uns 60 anos, Argentina e Brasil fizeram experimentos econômicos similares, muita vez semelhantes no equívoco, e observavam com atenção acertos e muitos desastres no vizinho.

Tivemos ditadores caudilhescos, ditaduras militares, desenvolvimentismos, crises de dívida e revertérios liberaloides mais ou menos contemporâneos. Não por acaso, a semelhança nas peripécias tornou corrente a frase inspirada na propaganda de bebida, a do “efeito Orloff”: “eu sou você amanhã”.

TUDO É RELATIVO – Deixou de ser tanto assim no final dos anos 1990, com a relativa estabilização econômica e política do Brasil. Ponha-se “relativa” nisso, tudo bem. Mas a comparação, no caso, é com a Argentina.

A Argentina tem interesse por causa de Javier Milei, claro, o mais recente e ruidoso rebento da demagogia “antissistema” que assola o mundo desde meados da década passada. É muito difícil fazer análise razoável, ponderada e objetiva do que pode ser o seu destino, até porque Milei não é ponderado ou razoável.

Seu projeto de governo é até agora uma barafunda improvisada, com tempero autoritário e de implementação incerta. Porém, Milei inspira comparações com Jair Bolsonaro; o bolsonarismo e o libertarismo brasileiro se animaram com a vitória do libertário do cão na Argentina.

EFEITO MILEI – O destino de seu governo, que vai ficar evidente neste 2024, vai dar o que pensar à cúpula política e econômica do Brasil. Este 2024 é também ano de eleição municipal no Brasil. A cada rodada de escolha de prefeitos, ouve-se o clichê da suposta irrelevância do saldo político dessa eleição para a disputa presidencial, dois anos depois, e coisas assim.

Qualquer observador prestante, no entanto, vai notar o quanto as vitórias nas cidades dizem da configuração política do país, de correntes submarinas ou de ares ideológicos, do efeito de mudanças institucionais.

Note-se o espraiamento do centrão, dos conservadorismos e dos reacionarismos da eleição municipal de 2020, quase replicado na eleição do Congresso de 2022, esse que dá o tom da mudança institucional (avanço do poder parlamentar, da direita) e limites importantes a Lula 3.

MAIOR IMPACTO – Eleições municipais, Trump e Milei devem ter o maior impacto no clima político brasileiro, parece óbvio. Mas haverá outras eleições que podem entrar na conversa.

Em outubro, tem algo parecido com uma eleição para presidente na Venezuela. Também em outubro, a esquerda pode voltar ao poder no Uruguai.

Apesar da ficção que é a ideia de América Latina, damos pouquíssima atenção ao México. De interesse maior é que, em junho, os mexicanos devem eleger uma mulher para presidente, pela primeira vez. A governista Claudia Sheinbaum, ambientalista, ligeiramente de esquerda, é favorita contra a segunda opção, por ora, Bertha Xóchitl Galvez, da centro-direita, de origem indígena.

Pacheco age certo e promete solução negociada na MP da reoneração da folha

Presidente do Senado Federal e líderes partidários se reúnem para discutir a Medida Provisória 1.202/2023 que propõe reonerar setores da economia a partir de abril de 2024. Participam:
senador Izalci Lucas (PSDB-DF);
senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR);
senadora Professora Dorinha Seabra (União-TO);
vice-presidente do Senado Federal, senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB);
presidente do Senado Federal, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG);
senador Jorge Kajuru (PSB-GO);
senadora Augusta Brito (PT-CE);
senador Efraim Filho (União-PB);
líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP);
líder do governo no Senado Federal, senador Jaques Wagner (PT-BA);
senador Carlos Portinho (PL-RJ).

Foto: Pedro Gontijo/Senado Federal

Pacheco defende déficit zero que Haddad defende e Lula odeia

Lucas Pordeus León
Agência Brasil

O presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), prometeu uma solução negociada para o impasse criado pela edição da medida provisória (MP) que reonera, gradualmente, a folha de pagamento de 17 setores econômicos. Já a oposição pede que Pacheco devolva a MP sem analisá-la, por entender que o Congresso já decidiu sobre o tema.

Pacheco se reuniu com nove líderes do Senado nesta terça-feira (9), em Brasília, e prometeu conversar também com as demais lideranças da Casa, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com os líderes da Câmara, antes de decidir se devolve ou não a MP editada no final do ano passado. Ao editar a medida, o Executivo pretendeu aumentar a arrecadação para chegar ao déficit zero em 2024.

DÉFICIT ZERO – O presidente do Congresso destacou que o Legislativo tem compromisso com o déficit zero e ponderou que alternativas à reoneração da folha podem ser discutidas.

“Nós temos que ter compromisso não é com problema. Seria muito cômodo simplesmente devolver [a MP] sem encontrar uma solução. Essa comodidade nós não queremos, queremos construir com o ministro Fernando Haddad uma solução de arrecadação que seja sustentável”, disse.

Pacheco acrescentou que a decisão de devolver ou não, integral ou parcialmente, a medida provisória deve ser tomada ainda durante o recesso parlamentar, em janeiro, para dar previsibilidade aos setores atingidos pela medida. “Pretendemos tomar essa decisão ainda no recesso até porque é muito importante ter estabilidade jurídica. Nós temos compromisso com a estabilidade jurídica. Imaginem vocês esses 17 setores que têm a desoneração prevista nos seus orçamentos, na sua previsibilidade de negócio”, explicou.

MEDIDA PROVISÓRIA – Após o Congresso Nacional derrubar, por ampla maioria, o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto que prorrogou a desoneração de 17 setores da economia, o governo editou a MP que prevê uma reoneração gradual desses setores. Segundo a Fazenda, a medida visa recuperar R$ 6 bilhões em arrecadação já neste ano.

Para Haddad, a desoneração representa um privilégio aos setores beneficiados, sem que o resultado de aumento de empregos tenha sido alcançado. “O emprego desses 17 setores caiu. Essa medida foi tomada em 2011 para ser temporária, e os setores, no cômputo geral, desempregaram. Aquela ideia original de que aumentaria o emprego se mostrou errada”, justificou.

As lideranças da oposição sugerem que o governo envie um projeto de lei com o mesmo teor da MP para que possam discutir o tema sem a urgência criada pela medida provisória. Ao contrário de uma MP, projeto de lei não tem efeito imediato.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Pacheco está certíssimo ao ser cauteloso. O fato concreto é que o número de empregos caiu, ao invés de aumentar, enquanto a receita da Previdência ia para as cucuias. O Congresso precisa analisar o assunto com a necessária responsabilidade social.  Quanto ao relator da desoneração no Senado, Efraim Filho (União-PB), líder do União na Casa, deveria se envergonhar por defender privilégios para empresários que não os merecem. (C.N.)

Na Argentina, a escolha entre o status  quo intolerável e a mudança hiperbólica

Milei wins in Argentina, edging the country closer to the U.S. dollar

Décadas de crise institucional tiveram Milei como resultado

Marcus André Melo
Folha

Por que Milei escolheu a estratégia maximalista de apresentar um decreto de necessidade e urgência (DNU) para revogar 300 dispositivos legais? Seria por que todos os presidentes argentinos no período democrático fizeram algo semelhante? Sim, aqui a novidade seria apenas sua amplitude inédita. E nem tanto.

O peronista Carlos Menem implementou, via 545 DNUs, um programa radical que incluía a privatização da YPF, dos Correios, da Aerolíneas Argentinas etc. Como ampliou de 5 para 9 o número de ministros da Suprema Corte, adquiriu uma conhecida “maioria automática” contra questionamentos sobre a necessidade ou urgência dos DNUs.

TIRANIA DO DNU – Há muito ruído na cobertura do DNU. Entre nós, o paralelo com as medidas provisórias é descabido. O DNU foi introduzido pela Constituição argentina de 1994, mas, ao contrário das MPs brasileiras, permaneceu sem regulamentação.

Esta só veio em 2006, quando Cristina Kirchner aprovou uma lei neste sentido. No entanto, a lei é ainda mais problemática do que o texto vago da Constituição, porque praticamente impede o rechaço dos DNUs.

No período 1994 até 2006, não houve nenhum controle legislativo —não se formou comissões bilaterais— por omissão na regulamentação. No Brasil, antes da EC 32/2001, as MPs podiam ser reeditadas, mas havia algum controle; o STF chegou a invalidar lei aprovada apenas em plenário.

OUTRAS DIFERENÇAS – A lei aprovada em 2006 estipulava que o DNU só perderia a validade se fosse derrubado tanto na Câmara como no Senado. No Brasil, basta que uma das casas legislativas rejeite uma MP para que ela seja rechaçada.

E mais, ao contrário da lei brasileira, que prevê projetos de conversão de MPs, os DNUs não podem ser emendados. Tem que ser aprovados ou desaprovados na íntegra, como nossas raríssimas leis delegadas.

A grande assimetria a favor do Executivo levou analistas argentinos, como Carlos Nino, a denunciar o hiperpresidencialismo; e Guillermo O’Donnell, o mais famoso deles, a cunhar a expressão democracia delegativa. Já discuti aqui na coluna o caráter democrático das MPs.

VANTAGEM DE MILEI – A regulamentação de Cristina garante assim para Milei uma vantagem estratégica nas relações Executivo-Legislativo. É pegar ou largar. E basta contar com o apoio de uma das casas legislativas.

Mas Milei também apresentou uma “Lei ônibus”, com 351 páginas, contemplando 664 artigos. O decreto poderá ter a mesma sorte do pacote reformista de Macri: reenviado na forma de projeto de lei e aprovado, ainda que parcialmente. Milei não conta, contudo, com a “maioria automática” de Menem.

A escolha se dará entre o status quo — rejeitado amplamente nas urnas — e a mudança hiperbólica e voluntarista. Sim, trata-se da escolha trágica a que chegou a Argentina após décadas de degeneração institucional.

General G. Dias tem sido hostilizado em áreas públicas de Brasília e de São Paulo

G. Dias depõe à CPI e oposição cobrará explicações sobre alertas

General G. Dias está pagando o preço dos 15 minutos de fama

Eduardo Barretto
Metrópoles

O general Gonçalves Dias, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o 8 de janeiro, tem sido hostilizado em áreas públicas. G. Dias foi ofendido em um mercado e em um posto de combustível. Com um perfil discreto, G. Dias não irá à cerimônia que lembrará o primeiro aniversário dos atos golpistas na segunda-feira (8/1).

O ex-chefe da segurança de Lula em mandatos anteriores está prestes a completar 74 anos. Ao fim de sua primeira semana no governo, no 8 de janeiro, foi flagrado caminhando entre os golpistas no Palácio do Planalto durante a invasão. O episódio lhe custou o cargo.

SAINDO DE BRASÍLIA – G. Dias foi isentado em duas CPIs do 8 de Janeiro, no Congresso e na Câmara Legislativa do DF, e conseguiu emplacar a tese de que só havia conseguido trocar 5% dos seus subordinados herdados de Jair Bolsonaro. Depois da vitória, passou a preparar sua mudança de Brasília.

O ex-ministro foi alvo de hostilidades em um mercado na capital federal e em um posto de gasolina em São Paulo, durante uma viagem de carro.

Nessas ocasiões, G. Dias não respondeu às provocações e não houve incidentes mais graves.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Caramba, se um ilustre desconhecido como o general G. Dias não pode sair nas ruas, o que dizer dos atuais ministros do Supremo, que de alguns anos para cá se tornaram tristemente famosos. É o preço dos 15 minutos de fama. (C.N.)

Por que punir apenas os manifestantes golpistas usados como bucha de canhão?

Cleriston da Cunha, a primeira morte física devida à “Ditadura Judicial”  brasileira (veja o vídeo)

Clériston Cunha morreu na cadeia, sem trataimento médico

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

A última linha de defesa dos atos de 8 de janeiro de 2023 é dizer que não foram uma tentativa de golpe, mas apenas um vandalismo desesperado. Será? Vamos aos fatos. O dia 8 de janeiro não nasceu do nada. Foram anos de discursos mentirosos acusando nosso sistema eleitoral e meses de acampamentos golpistas em frente a quarteis clamando aos militares por um golpe de Estado. Foi a esses manifestantes que Braga Netto disse em novembro: “Tenham fé”.

Foi com eles que Michelle Bolsonaro orou. Dos mesmos acampamentos saíram os atos de vandalismo da noite de 12 de dezembro em Brasília e ainda a tentativa de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília em 24 de dezembro. Mais do que o suficiente para criar o clima de pânico que poderia justificar uma intervenção militar.

BUSCAR O MOTIVO – Esse era o objetivo único. A invasão do dia 8, já desesperada porque a troca de poder ocorrera sem obstáculos, buscava promover um tumulto tal que provocasse a intervenção militar para garantir a ordem e, na sequência, sob algum pretexto qualquer, tirar Lula do poder.

Como posso afirmar isso com tanta certeza? Os próprios invasores que o disseram. Nos dias anteriores, enquanto conclamavam mais gente a se reunir em Brasília, divulgavam a “tomada de poder”. No próprio dia 8, placas pedindo intervenção militar. Tivemos ainda o caso de Matheus Lima de Carvalho Lázaro, mandou essa mensagem à esposa aflita que ficara em casa: “Tem que quebrar tudo, para ter reforma, para ter guerra, amor. Guerra! Para o Exército entrar. Entendeu? A gente tem que fazer isso aí para o Exército entrar, e todo mundo ficar tranquilo.”

Outra invasora, Fátima de Tubarão, apareceu em vídeo gritando: “Vamos para a guerra, é guerra agora. Vamos pegar o Xandão agora”. Não faltam exemplos.

APOIO DO EXÉRCITO – E havia motivo para acreditar que o Exército pudesse aderir? Sim. Dentro do Exército não faltava quem desejasse intervenção. Era o caso do coronel Jean Lawand, que, em mensagem a Mauro Cid —homem de confiança de Bolsonaro— implorava: “Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo tá com ele, cara. Se os caras não cumprir, o problema é deles. Acaba o Exército Brasileiro se esses caras não cumprir a ordem do, do Comandante Supremo.”

Cid justificou a inação do ainda presidente: “Mas o Pr não pode dar uma ordem… se ele não confia no ACe.” [Alto Comando do Exército]. Lawand responde enfático: “Então ferrou… Vai ter que ser pelo povo mesmo.”

O ex-major Ailton Barros garantia que bastava Bolsonaro pedir que o Exército aderiria. Além de confiança no Alto Comando, contudo, o que faltou a Bolsonaro foi coragem.

DISSE BOLSONARO – Suas palavras finais, logo antes de partir para a segurança dos EUA, em 9 de dezembro, foram: “E hoje estão vivendo um momento crucial, uma encruzilhada, um destino que o povo tem que tomar. Quem decide o meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vai as Forças Armadas são vocês, quem decide para onde vai a Câmara e o Senado, são vocês também.” Encruzilhada? Mas a eleição já tinha passado…

O golpe de Estado é um crime com uma característica muito particular: ele só pode ser punido se não acontecer. Um golpe bem-sucedido, ao instaurar uma nova ordem política, anula as condições em que ele poderia ser julgado.

Só discutimos as punições ao golpe bolsonarista, portanto, porque ele falhou. Os golpistas utilizados por Bolsonaro e militares como bucha de canhão tinham recebido todos os sinais em apoio a seu ato de loucura. Por que só eles foram punidos?

No Brasil, a maioria dos partidos políticos tem vida curta e acabam sendo extintos

Charge do meio-dia: “novos partidos políticos” | Liberdade! Liberdade!

Charge do Jorge Braga (Charge Online)

Roberto Nascimento

É curiosa essa briga entre petistas pela sucessão do presidente Lula lá adiante, em 2030, porque na próxima eleição, em 2026, o criador do PT já é o candidato do partido, nem se discute a possibilidade contrária. Em 2026, se estiver bem de saúde aos 81 anos, o candidato chama-se Lula da Silva.

A disputa antecipada entre a deputada Gleisi Hoffmann e o ministro Fernando Haddad é até bizantina, porque aqui no Brasil os partidos acabam morrendo, se extinguem ao longo do tempo.

O fim das legendas começa justamente pela aposentadoria e morte dos seus líderes, com as guerras internas que então causam o progressivo enfraquecimento,

UDN E PTB – A UDN sucumbiu com a cassação de Carlos Lacerda decretada pelo general Castelo Branco. Depois, houve a extinção dos partidos, com a criação de Arena (governista) e MDB (meio governista).

Com a redemocratização, alguns velhos partidos foram recriados, como o PTB, linha auxiliar de Getúlio Vargas, cujo processo de extinção começou a entrega da legenda para uma sobrinha de Vargas, a deputada Ivete Vargas, numa conspiração do general Golbery do Couto e Silva, Chefe da Casa Civil do general presidente Ernesto Geisel, com o objetivo, de impedir que Leonel Brizola, recém-chegado do exílio, fosse o presidente do PTB.

Brizola criou então o PDT, de orientação trabalhista, condenando o PTB, a linha auxiliar da Ditadura Militar. Hoje, o PTB, não existe mais, o último coveiro do PTB, Roberto Jeferson, acabou de enterrar o partido de Vargas, por falta de eleitores.

ARENA E MDB – O partido ARENA (Aliança Renovadora Nacional), sustentáculo da ditadura, “morreu” em 1985, com o fim do regime militar. O MDB, Partido de oposição a Ditadura, entre aspas, foi perdendo capilaridade aos poucos.

Mudou o nome, transformando-se em PMDB e recentemente voltou a ser MDB, entretanto, em se tratando de uma frente com várias tendências ideológicas, caminha para o cadafalso.

O DEM, oriundo do Partido da Frente Liberal, sucessor da ARENA, para não morrer, se uniu ao PSL (Partido, que deu a sigla para Bolsonaro disputar a eleição de 2018). Com a briga entre Luciano Bivar e Bolsonaro, pelo controle do PSL, o Mito saiu do Partido e levou a maioria de seus deputados fiéis para o PL, comandado pelo cacique paulista, Valdemar da Costa Neto.

UNIÃO BRASIL – Em busca da sobrevivência, Bivar se uniu ao DEM, de Antônio Carlos Magalhães Neto e criaram o atual União Brasil, um saco de gatos gordos e amorfos, sem nenhuma cor partidária. Aos poucos, vão morrer na praia, se transformando em nanicos, sem expressão política.

O MDB, se enfraquece a cada eleição. Antes da democratização e até após a Constituição de 1988, era um partido nacional fortíssimo. Mas seus principais líderes foram morrendo, principalmente o Senhor Diretas, Ulysses Guimarães, e a ausência de líderes vêm desidratando o MDB, que se transformou em um partido do Norte e Nordeste. Aos poucos, caminha para a vala comum de um partido do passado.

PP (Partido Popular) sobrevive graças aos caciques, Arthur Lira, presidente da Câmara e deputado por Alagoas, e Ciro Nogueira, senador pelo Piauí e ex-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro.

PL DE BOLSONARO – O PL abriga o clã e apoiadores de Jair Bolsonaro, da extrema direita, e os conservadores do Centrão comandado pelo seu presidente Valdemar da Costa Neto. Com o tempo, o PL vai se tornar pequeno para abrigar dois caciques com sede de poder total, Bolsonaro e Costa Neto. Tudo vai depende da eleição de 2026. A explosão dos titãs está próxima. Divididos estarão perdidos.

O PSDB, Partido fundado por Mario Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, saído de uma costela do MDB, com a morte de Covas e Montoro e a aposentadoria de Fernando Henrique, o Partido tucano, está próximo do fim. Hoje é nanico, sem expressão.

Houve uma luta ferrenha dentro do Partido, comandada pelo ex-governador João Doria, mestre na arte de dividir e trair seus companheiros. Doria brigou com o cacique mineiro Aécio Neves e com o governador gaúcho Eduardo Leite. O governador Rodrigo Garcia, que assumiu por nove meses, com a saída de Dória para disputar a presidência, se aliou ao Bolsonarismo, na eleição de 2022, e acabou de destruir o PSDB em São Paulo, sua base principal. Os tucanos já morreram e não sabem.

OUTROS PARTIDOS – O PT vem perdendo força, desde o Mensalão, e reduziu suas bancadas no Parlamento, nas eleições de 2018 e agora em 2022. O último suspiro do PT, é o presidente Lula, o cacique que carrega nas costas  a estrutura pesada do PT, um balaio de gatos, com integrantes do Centro e da Esquerda. Sem Lula, próximo da aposentadoria, o PT tende a cumprir o mesmo destino do PSDB e cair na vala comum dos nanicos.

PDT e PSB, Partidos de Centro Esquerda, se tratam de hospedeiros dos governos petistas. Não conseguem crescer e se encostam na sigla predominante. O fim deles se aproxima, à medida que o PT também cede espaço para os conservadores.

Deixei para o final, a análise do PSD. O Partido do ex- prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vem trabalhando na surdina para se transformar no terceiro maior Partido do Brasil, atrás do PL e do PT. Seu maior quadro é na atualidade, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. É uma exceção à regra e está em crescimento.

Assim, as pessoas morrem e os partidos morrem também. Tudo, um dia acaba.

Lula jogou pela janela sua chance de liderar a luta contra barbárie política

Lula afirma que perdão a golpistas soaria como impunidade | Agência Brasil

Vaidoso, Lula alega ser um grande exemplo de democracia

José Casado
Veja

Dois janeiros separados por imagens diferentes. Ano passado, depois dos ataques às sede das instituições, a cúpula dos Três Poderes e 27 governadores uniram-se em manifestações públicas de louvor ao regime democrático.

Nesta segunda-feira, no primeiro aniversário da barbárie do 8/1, a cena foi bem diferente, marcada pela ausência deliberada de 14 governadores, da cúpula da Câmara e o protesto de dezena e meia de senadores.

FORA DA ORDEM – Não há razão para se acreditar que tantos políticos tenham atravessado as últimas 53 semanas em profunda reflexão coletiva sobre virtudes e defeitos da democracia e, agora, concluíram que é o pior de todos os regimes de governo.

Por isso, é evidente que alguma coisa ficou fora da ordem no evento montado pelo governo para a celebração democrática em em Brasília com “um eloquente NÃO ao fascismo” — expressão destacada por Lula em discurso.

O que deu errado? Entre os ausentes, a resposta mais frequente foi o uso político da solenidade no plenário da Câmara. Entre os presentes, a explicação mais constante foi “a polarização” em ano de eleições municipais.

DEMOCRACIA ABALADA – Os dois lados têm razão. E , nesse caso, significa uma sinalização ruim: a democracia segue “inabalada”, mas sem consenso mínimo sobre como poderá prover as necessidades básicas de duas centenas de milhões de pessoas, por exemplo, em renda, educação, segurança, saúde e previdência.

Lula escolheu fazer um discurso raso, metade impregnado pela fórmula sectária do “nós contra eles” e outra metade recheada de autorreferências.

Ofereceu-se à Justiça Eleitoral como garoto-propaganda: “Quando alguém colocar dúvidas sobre a democracia no Brasil, seria importante que vocês não tivessem receio de utilizar a minha história e a história do meu partido como garantia da existência inabalável da democracia nesse país.”

BOLSONARO E FILHOS – Dedicou-se ao adversário, sem nomeá-lo, que derrotou nas urnas do ano passado e que está inelegível, por condenação judicial, pelos próximos sete anos: “As pessoas que duvidam das eleições e da legalidade da urna brasileira, porque perderam as eleições, por que que não pede para o seu partido renunciar todos os deputados e senadores que foram eleitos? Os três filhos dele que foram eleitos? Por que que não renunciam em protesto à urna fraudulenta?”

Lula acabou reduzindo a celebração da democracia a uma briga de palanque. A fórmula tem se mostrado funcional para ele e Jair Bolsonaro manterem inflamados corações e mentes das respectivas torcidas. E só.

No domingo 8 de janeiro do ano passado, quando aliados de Bolsonaro começaram a invasão das sedes do governo, do Congresso e do Judiciário, o juiz Gilmar Mendes estava em Lisboa. Almoçava com Nuno Piçarra, juiz da Corte Europeia, sediada em Luxemburgo, e conversavam sobre o final pacífico da transição de governo no Brasil, com a posse de Lula uma semana antes. Surpreso com o noticiário sobre a devastação em Brasília, voltou ao Brasil e foi ao STF depredrado.

DUAS PERGUNTAS – “Diante do estrago, fiz duas perguntas” — contou Gilmar Mendes ao repórter João Almeida Moreira, do Diário de Notícias, de Portugal: ‘O que fizemos de errado para chegarmos aqui, dado o ódio, refletido nos danos, muito maior sobre o tribunal do que sobre o Congresso e o Planalto? E o que devemos fazer para evitar que se repita?’, e neste ponto entra um dever de todos que têm responsabilidade na vida pública, de tentarmos pensar em formas de fortalecermos a democracia.

Pode-se dizer que Lula jogou pela janela a chance de assumir a liderança de iniciativas para evitar que a barbárie política se repita.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quanto ao fato de Lula citar a história de sua vida como consagração da democracia, seria melhor não tocar no assunto, porque teremos de falar no “Barba”, no “Mensalão”, no “Petrolão” e na existência oficial da segunda-dama Rosemary Noronha, que são quatro episódios picantes de nossa evolução democrática. (C.N.)

“Kids Pretos”, militares do Exército, são suspeitos de liderar os atos de vandalismo

Entidades de jornalismo e comunicação repudiam atos de vandalismo em Brasília - Portal da Comunicação

Os “Kids Pretos” incitaram e lideraram o vandalismo

Felipe Sena
Agência Estado

Há no Exército uma divisão altamente treinada em operações de sabotagem, evasões e operações de inteligência. O Comando de Operações Especiais (Copesp), chamado por militares somente de Forças Especiais e também conhecidos como “Kids Pretos” está, agora, no centro das investigações da Polícia Federal (PF) sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.

Na última sexta-feira (29), a PF instaurou a 18ª fase da Operação Lesa Pátria e cumpriu mandado de busca e apreensão contra o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, que fez parte dos “Kids Pretos”, e é suspeito de envolvimento com os atos golpistas. Militares vasculharam o endereço do general da reserva. Além disso, a ordem expedida ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes permitiu o bloqueio de ativos e valores do investigado.

AMIGO DE PAZUELL0 – Ridauto foi diretor de Logística do Ministério da Saúde durante o governo Jair Bolsonaro, nomeado em janeiro de 2021 pelo atual deputado federal Eduardo Pazuello. Em meio à pandemia da Covid-19, o militar defendeu medidas como “intervenção federal” e de “Defesa ou de Sítio”.

O militar é investigado em uma das linhas da apuração da PF que visa a identificar suposta atuação de militares no início das invasões às sedes dos Três Poderes. Os investigadores suspeitam que ele pode ter sido um dos idealizadores da ofensiva antidemocrática.

Permanente, a Operação Lesa Pátria apura crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido. “Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido”, diz comunicado divulgado pela PF.

PARTICIPAÇÃO MILITAR – De acordo com uma das linhas de investigação da PF, a ação dos participantes dos atos golpistas pode ter sido orientada por militares do ‘Kids Pretos’. No inquérito, vândalos relataram a presença de pessoas de rosto coberto com balaclava e luvas ajudando na invasão das sedes dos Três Poderes. Os supostos membros das Forças Especiais, segundo depoimentos, teriam aberto escotilhas no teto do Congresso, feito uma escada com o gradil e, aí, chamado os invasores para entrar na sede do legislativo federal.

Quem são os Kids Pretos? As Forças Especiais, também conhecidos como “Kids Pretos” são um grupo de elite das Forças Armadas do Brasil e integram O Comando de Operações Especiais (Copesp). Os membros são altamente treinados para operações de risco, fuga e incentivo à insurgência popular.

O grupo é treinado para o cumprimento de missões que podem envolver guerrilhas, sabotagens e fugas, atacando estruturas como torres de distribuição de eletricidade e aeroportos.

“DE QUALQUER MANEIRA” – Entre os lemas das Forças Especiais, está a frase “qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora, de qualquer maneira”.

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) chegou a fazer a prova de ingresso para os Kids Pretos duas vezes quando era militar, porém, foi reprovado nas tentativas.

À frente do governo, no entanto, colocou várias pessoas que teriam feito parte da divisão. Entre elas, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República durante todo o seu mandato.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quem lê a Tribuna da Internet não se surpreende com esta notícia, enviada por José Guilherme Schossland, pois a atuação dos “Kid Pretos” vem sendo denunciada aqui na TI desde o início das investigações.

A informação de que dispomos é que eles  chegaram às vésperas do dia 8 de Janeiro, por via aérea, e se hospedaram em pequenos hotéis da capital. O que mais surpreende é que a Polícia Federal tenha demorado tanto para iniciar as investigações dos “Kids Pretos”. Alguns usavam máscaras contra gases e luvas especiais, para devolver as bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela PM.  E todos tinham máscaras ninjas ou balaclavas para não serem reconhecidos. (C.N.)

A extrema polarização que atravanca o progresso do país

Charge do J. Bosco (oliberal.com)

Marcelo Copelli

Após o primeiro ano do terceiro mandato do atual presidente da República, Lula da Silva, verifica-se a ainda persistente polarização extrema no cenário político. E o comportamento se estende por vários setores da sociedade, ultrapassando os limites aceitáveis, constituindo espécies de realidades paralelas onde não se defende uma ideologia benéfica para a maioria, mas a obsessão pela conquista, ainda que à força, pela razão inquestionável. Não há diálogo, mas uma contínua e perigosa medição de forças.  

A situação afeta até mesmo o seio das famílias, promovendo a desagregação dentro de unidades empresariais e de instituições. Não existe meio termo. Se não concorda, se não alinha, representa o adversário incapaz de dividir a mesa. Lados opostos se definem simplesmente pela diversidade das opiniões políticas. E se formos analisar, não existe nenhum tipo de instabilidade social, aspectos revolucionários ou movimentações perigosas, de fato, que justifiquem a permanência de um quadro conforme o descrito.

CONFRONTO – Após quatro anos da última gestão, já é tempo do país retornar a um clima mais ameno, no qual, ainda que com grupos de pensamentos diferentes, as pessoas não sejam consideradas inimigas por confrontarem ideias. A democracia não pode ter duas medidas diferentes, sendo defendida apenas quando o candidato apoiado é eleito.

Tudo isso apenas forma mais obstáculos para o desenvolvimento do país, e quem perde é a população. A classe política sempre dá um jeito de se beneficiar, mas o resto da sociedade insiste em idolatrar cegamente e ignorar que os prejuízos atingem a todos.

Neste ano, com novas eleições no âmbito municipal, provavelmente haverá novamente instaurado o clima tenso de irracionalidade na defesa dos novos, ou velhos, ocupantes aos cargos. O choque de ideias e versões, a desinformação nas redes, entre outros fatores já conhecidos, apenas mancham o processo democrático.

DEBATE – O Brasil padece, pois se esvai o debate programático das ideias, a busca pelos caminhos para o desenvolvimento sócio-econômico, com distribuição de renda e mais dignidade para todos.

Enquanto a sociedade insistir em se fragmentar cada vez mais, os donos das novas capitanias manobram as massas com mais facilidade. Sem projeto e coesão, o progresso se dará por doses homeopáticas, enquanto que país clama por mais paz e menos donos da razão para poder caminhar.

Forças Armadas vivem sob espectro do golpe e não haverá punições a militares

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Lula jamas toca no assunto da  punição aos militares golpistas

Hélio Schwartsman
Folha

Se eu estivesse na pele do Lula também faria o possível para evitar problemas com os militares. A última coisa de que o governo precisa é uma quartelada ou uma crise institucional. Mas é importante ressaltar que a opção pela política de apaziguamento tem um preço, que não é baixo.

Neste primeiro aniversário da tentativa de golpe bolsonarista, os incorrigivelmente otimistas destacam que a intentona fracassou porque a cúpula das Forças Armadas se recusou a patrocinar a aventura. Verdade, mas, considerado o quadro geral, não vejo motivos para celebração.

PARTICIPAÇÃO ATIVA – Militares, incluindo alguns oficiais-generais, participaram ativamente das tramas democraticidas, se é que não constituíam a espinha dorsal do movimento. E, ao que tudo indica, serão poupados dos rigores da lei.

Se o ambiente nas casernas fosse verdadeiramente democrático, jamais teríamos chegado ao ponto a que chegamos. As tentativas do ex-presidente de cooptar militares para apoiá-lo teriam sido interrompidas “ab ovo”.

Vimos isso nos EUA, quando o general Mark Milley, então chefe do Estado-Maior das FFAA, deu uma patada atômica em Donald Trump quando este tentou envolver os militares em política doméstica.

PREÇO DA COMPLACÊNCIA – Brasileiros, pagamos hoje o preço por nossa complacência do passado, quando abrimos mão de responsabilizar os militares por crimes da ditadura. Ainda que se entenda que a Lei de Anistia tornou a responsabilização penal impossível, restariam a responsabilização política e uma necessária reforma institucional.

Para nos livrarmos de vez do espectro de golpes futuros, teríamos de criar uma sólida barreira legal à politização dos quartéis, rever os cursos de formação de oficiais, para ensinar aos jovens que o golpe de 1964 foi um golpe e não uma revolução heroica, e, principalmente, para reescrever o artigo 142 da Carta, para deixar insofismavelmente claro que militares não interferem na política.

Lula não fará nada disso.

Alguns rostos significam vida plena, na poesia de Vicente Limongi Netto

Autógrafos de Pedro Rogério | Portal Anna Ramalho

Limongi (dir.), com o amigo Pedro Rogério

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta amazonense Vicente Limongi Netto, radicado há anos em Brasília, no poema “Água Benta”, mostra a percepção que certos rostos expõem.

ÁGUA BENTA
Vicente Limongi Netto

Alguns rostos significam
vida plena
têm água benta
comovem oceanos
pintam as cores do céu
caminham na imensidão dos rios
são devotos dos peixes
adormecem nas margens de Deus