Filme concentra-se nas decisões de Golda
Pedro do Coutto
O filme Golda Meir, com uma atuação excepcional da atriz Helen Mirren no papel da ex-primeira-ministra de Israel, é uma obra muito importante não só por focalizar uma personagem intensa que chefiou o governo israelense por dez anos, mas também porque inclui diálogos dramáticos entre dirigentes políticos; diálogos esses que não vêm ao conhecimento da opinião pública, mas que são decisivos para o destino de países e de cenários de política externa que incluem invariavelmente interesses econômicos.
São impasses e desfechos que se sucedem nos quais interesses de nações e governos se desenrolam em séries que a opinião pública de modo geral desconhece e até se surpreende ao tomar conhecimento deles. Golda Meir estava à frente do governo de Tel Aviv na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Esteve também à frente dos acontecimentos dramáticos da Guerra do Yom Kippur, em setembro de 1973.
CHOQUE DE INTERESSES – Foram conflitos que concentraram a atenção do mundo porque atrás deles havia o então inevitável choque de interesses entre os Estados Unidos e a União Soviética. O Estado de Israel, com base num projeto do chanceler Oswaldo Aranha, primeiro presidente da ONU, em 1947, enfrentou forte resistência das nações árabes que deflagraram a guerra contra Israel em 1948. Não tiveram êxito.
Em 1967, o Egito, governado por Gamal Abdel Nasser, deflagrou uma guerra contra Israel ao lado da Síria e da Jordânia. Na véspera, foi à televisão no Cairo e se dirigiu aos jornalistas: “Saiam de Tel Aviv porque amanhã nós vamos aí cortar as cabeças dos judeus e será difícil saber quem é jornalista e quem não é”, afirmou. Diante do aviso, Golda Meir ordenou o ataque desfechado pelo general Moshe Dayan que arrasou a aviação egípcia no chão.
A partir daí Israel ocupou vários espaços no Oriente Médio. A parte oriental de Jerusalém, as colinas de Golã, na Síria e áreas do Sinai. Os palestinos apoiaram Nasser. Em 1973, seis anos depois, já no governo de Anwar Al Sadat, o Egito organizou um ataque mobilizando tanques e armamentos de fabricação russa. Yom Kippur é o Dia do Perdão para os judeus. Neste dia, Sadat atacou e ocupou amplos territórios do Oriente Médio, ameaçando a segurança do governo de Golda Meir.
DIÁLOGO – Golda Meir telefonou para Kissinger que alegou dificuldades de ajuda porque o governo Nixon encontrava-se pressionado pelo escândalo de Watergate. Golda insistiu. Kissinger, que era alemão de nascimento e judeu por religião, num dos telefonemas comprometeu-se a falar com o primeiro-ministro russo Brejnev para aliviar a pressão em favor dos árabes. Um diálogo, como se vê, desconhecido pela opinião pública.
Kissinger, por fim, comprometeu-se a enviar aviões Phantom para Israel enfrentar a situação. Mas ressaltou que a situação era difícil porque os árabes tinham elevado o preço do barril de petróleo de US$ 8 para US$ 12. E que isso causava abalos na economia americana e, portanto, o apoio de Washington a Golda Meir não podia ser amplo, conforme ela desejava.
Mal sabia o secretário Kissinger, que está vivo até hoje, passando dos 100 anos de idade, que o preço do barril de petróleo no mercado internacional subiria para US$ 80. Os preços subiram muito através do tempo, corrigidos duplamente, incluindo a valorização do dólar.
AMEAÇA – Os egípcios conseguiram reaver territórios, mas não Golã e nem Jerusalém Oriental, apesar da importância da cidade, tanto para os judeus, quanto para os cristãos e para os mulçumanos. Em 1956, pára-quedistas israelenses e ingleses desceram no Suez, antes portanto da guerra de 1967. Mas a ação foi sustada porque Nasser ameaçou dinamitar o Canal que então era a principal rota de escoamento do petróleo. Israel mantém a ocupação de Jerusalém oriental e das colinas do Golã. A luta contra os palestinos prossegue de forma incessante.
O desempenho da atriz Helen Mirren é fantástico. A maquiagem da personagem é um trabalho de excepcional criatividade. A atriz que vive o papel título tem um desempenho extraordinário. No filme, que intercala momentos das guerras de 1967 e o Yom Kippur, Golda teve que responder um inquérito do governo de Israel sobre o que teria sido uma omissão, sobretudo do general Moshe Dayan em relação ao ataque egípcio. O Alto Comando foi informado e não levou a sério devidamente a informação.
Moshe Dayan era o herói de 1967. A mim parece, pelo que o filme demonstra, que superestimou a capacidade de resistência de suas tropas ao ataque desencadeado por Sadat. Golda terminou afastando-se do cargo de primeira-ministra.
ALIANÇAS – Bernardo Mello Franco, em reportagem no O Globo desta segunda-feira, revela que o presidente nacional do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, está disposto a articular alianças regionais com o PT para eleição de prefeitos e vereadores nas urnas em 2024. Os projetos de aliança incluem o Rio de Janeiro, o Ceará, o Maranhão e a Bahia. Uma prova do realismo político e da convergência de interesses entre os partidos opostos.
Bianca Gomes, também no O Globo, revela que na cidade de São Paulo, Guilherme Boulos, com base em pesquisa do Datafolha, está muito mais forte nos segmentos de renda alta do que o atual prefeito, Ricardo Nunes. Na faixa de até dois salários mínimos, Ricardo Nunes tem 29% a 23%. No segmento de dois a cinco salários mínimos, Boulos tem 38% a 22%. No grupo de cinco a dez salários mínimos, Boulos tem 40% a 21%.
E na faixa de eleitores e eleitoras que ganham mais de dez salários mínimos, Boulos tem 45% a 17%. A vantagem de Boulos, portanto, a meu ver, tende a crescer, sobretudo na expectativa de conquistar o eleitorado cujos salários vão até dois salários mínimos. Isso porque, de acordo com Matheus Tupina, Folha de S. Paulo, na cidade de São Paulo, no plano geral, 32% se afirmam petistas e 15% bolsonaristas.