PF quer massacrar Bolsonaro, dizem os advogados a Alexandre de Moraes

Massacre do Carandiru: STF pode barrar perdão de Bolsonaro a policiais

PF promove um massacre antecipado usando a mídia

Mônica Bergamo
Folha

Os advogados de Jair Bolsonaro (PL) afirmaram em petição apresentada nesta sexta (22) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) que o relatório da Polícia Federal divulgado nesta semana contra o ex-presidente e seu filho Eduardo “causa espanto” e “encaixa-se como uma peça política, com o objetivo de desmoralizar um ex-presidente da República”.

De acordo com os advogados, a PF “transcreve e replica diálogos que não têm a menor relação com fatos em apuração”, referindo-se à investigação sobre tentativa de obstrução da Justiça e coação no curso do processo.

SEM RELEVÂNCIA – “Afinal, não parece ter relevância para a investigação o fato de o presidente pretender apoiar o governador Tarcísio ou um de seus filhos como candidato à presidência da República.” A petição é assinada pelos advogados Celso Vilardi, Paulo da Cunha Bueno e Daniel Tesser.

No relatório, a PF sustenta que Bolsonaro descumpriu medidas cautelares impostas a ele pelo ministro Alexandre de Moraes ao transmitir mensagens, áudios e vídeos a terceiros para serem usados em redes sociais.

Divulga ainda diálogos em que pai e filho conversam sobre o tarifaço de Donald Trump para pressionar o STF a interromper o processo contra Bolsonaro e as consequências políticas tanto da eventual condenação do ex-presidente quanto das iniciativas dos EUA.

EDUARDO E TARCÍSIO – Em um dos diálogos, Eduardo afirma a Bolsonaro que “Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo você se foder e se aquecendo para 2026”. Em outro, o filho do ex-presidente também se mostra indignado pelo pai ter dito em uma entrevista que ele é imaturo, e dispara: “VTNC [vai tomar no cú], seu ingrato do caralho”.

Os advogados se insurgem também com a divulgação de transações financeiras de Bolsonaro, que a PF considera suspeitas –o ex-presidente recebeu R$ 44 milhões em suas contas bancárias desde 2023 e fez transferências de R$ 2 milhões à mulher, Michelle Bolsonaro, e outros R$ 2 milhões a Eduardo, entre outras.

“O pior é que uma transferência de dinheiro para sua esposa, de valores com origem lícita, foi anunciada, com base ‘em fontes’, como um indício de lavagem de dinheiro. É necessário presumir que os investigadores sabem o que é o crime de lavagem, que determina origem ilícita e não se consubstancia com depósitos, via Pix, para familiares. Então, o objetivo é o massacre. A desmoralização. Ou seja, é lawfare em curso”, seguem.

TUDO ERRADO – “O objetivo do inquérito é proteger o Estado Democrático, mas diversas leis são lançadas ao lixo. Conversas privadas, movimentações financeiras, pagamentos feitos a profissionais, tudo foi cuidadosamente transmitido à imprensa, como se dados bancários não fossem protegidos por lei”, afirmam.

Os defensores refutam também a suspeita de que Bolsonaro planejava fugir para a Argentina. A PF encontrou em seu celular o rascunho de um pedido de asilo ao presidente argentino Javier Milei.

Eles afirmam que a data do documento —fevereiro de 2024— prova que Bolsonaro não aderiu à ideia. “Seria necessário avisar à Polícia Federal, especialmente ao setor de inteligência, que o processo criminal que originou as cautelares [e que investiga obstrução de Justiça] foi proposto um ano depois e, desde então, o ex-presidente compareceu a todos os seus atos, inclusive estando em sua residência quando determinado o uso de tornozeleira por Vossa Excelência [o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso]”.

SEM ASILO – “Tal pedido [de asilo] não se materializou”, dizem em outro trecho. “Fato é que, com ou sem o rascunho, o ex-presidente não fugiu. Pelo contrário, obedeceu a todas as decisões emanadas” pelo STF. “Respondeu à denúncia oferecida, compareceu a todas as audiências, sempre respeitando todas as ordens” do Supremo. E foi “preso em casa. A esta altura, falar em fuga para ‘impedir a aplicação da lei penal’ parece não ter o menor cabimento.”

Para os advogados, “o objetivo, convenhamos, foi alcançado: manchetes no Brasil e no exterior anunciando que o ex-presidente planejou uma fuga. Nada mais falso, mas nada mais impactante, sobretudo há pouco mais de 10 dias do julgamento”, afirmam.

Eles rebatem ainda a acusação da PF de que Bolsonaro desobedeceu a determinação de conversar com outros réus da ação penal já que recebeu mensagem do general Braga Netto, à qual não teria respondido.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os advogados são bons, mas isso não adianta quando o processo público de acusação é deturpado pela Polícia para forçar a condenação antecipada pela mídia, sem exame das provas. É exatamente o que está acontecendo. E isso não é Justiça. (C.N.)

Raquel de Queiroz sabia iluminar a vida numa casa velha de fazenda

Frases de Rachel de Queiroz: confira » Querido JeitoPaulo Peres
Poemas & Canções

A romancista, contista, tradutora, jornalista e poeta cearense Raquel de Queiroz (1910-2003), no poema “Telha de Vidro”, ensina que um simples toque de criatividade pode mudar tudo para melhor em nossas vidas.

TELHA DE VIDRO
Rachel de Queiroz

Quando a moça da cidade chegou,
veio morar na fazenda,
na casa velha…
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô…
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha…

A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro…
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade…

Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia…

A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa…
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.

Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta, fria,
sem um luar, sem um clarão…
Por que você não experimenta?
A moça foi tão vem sucedida…
Ponha uma telha de vidro em sua vida

Candidatos da direita precisam explicar como se deve tratar o governo Trump

Trump arrives at Atlanta jail to surrender on charges he attempted to  overturn his 2020 election loss | PBS News

Na verdade, ninguém sabe como Trump deve ser tratado

William Waack
Estadão

Possíveis candidatos de direita para enfrentar Lula ainda não encontraram uma linha clara para definir como seriam as relações com os Estados Unidos caso vençam as eleições. Em parte, caíram na armadilha de acreditar que a crise bilateral seria um problema de Trump com o STF e se resolveria numa vitória contra Lula.

Nesse sentido, a crise ainda não produziu no Brasil personagens políticos vindos do espectro de direita com uma visão estratégica em relação aos Estados Unidos – desde décadas, ensinam os clássicos, um problema central para definir a própria “identidade” internacional brasileira.

É COMPLICADO – Não é simplesmente uma questão de quem está no poder lá ou aqui, seja de esquerda ou de direita, porque Trump usa tarifas e ameaças para pressionar nações a um recuo em metas climáticas

O Brasil revelado pela crise é uma potência decadente em relação ao que já foi no seu próprio entorno geográfico. De novo, não é por estar cercado de governos “amigos” ou “inimigos”. É por ter perdido capacidade de projeção de poder nos seus vários sentidos.

PAÍS ESTAGNADO – Do ponto de vista da política doméstica, a mesma crise expôs um país estagnado do ponto de vista institucional por uma permanente situação de desequilíbrio entre os poderes.

Agravada por falta de lideranças com “projeto nacional” em suas várias configurações – até mesmo os estamentos militares tem como única preocupação hoje sobreviver à falta de orçamento para qualquer coisa.

A lição principal da crise com os Estados Unidos até aqui é o fato de que vulnerabilidade brasileira tornou o País um alvo fácil. E suas vantagens competitivas (na transição energética, por exemplo) estão subordinadas ao grande quadro geopolítico.

SEM FORÇA – Nessa situação, exibir a condição de superpotência na produção de alimentos não garantiu ao Brasil o que se poderia chamar de “posição de força” (tem sido o contrário).

Trump tem exibido uma disposição brutal para frear quem considere adversário utilizando para isso preferencialmente a ferramenta das tarifas, mas acompanhadas de barreiras tecnológicas e financeiras.

No jogo pesado geopolítico, não há nada que garanta um tratamento preferencial ao Brasil na eventualidade de um “governo amigo” de direita – é só olhar para o que aconteceu com a “amiga” Índia.

MESMO ERRO – Em outras palavras, até aqui os presidenciáveis de direita se arriscam a cometer em relação aos Estados Unidos o mesmo erro de Lula em relação aos autocratas e governos de esquerda pelos quais sempre nutriu grande admiração: o de que “amizades” entre países compensam ou mesmo atenuam “interesses”.

Bolsonaro está deixando para eles uma saia justa formidável, da qual não conseguiram até aqui se libertar. O interesse nacional cabe ao próprio País decidir, e não ao presidente americano.

O julgamento que coloca o Brasil diante de si mesmo

Brasil não ganha nada se Lula decidir retaliar os Estados Unidos

Governo Lula termina decreto que regulamenta Lei de Reciprocidade para  retaliar EUA caso necessárioVinicius Torres Freire
Folha

Apenas a China reagiu à agressão comercial de Donald Trump. O Canadá ensaiou contra-ataque, mas recua. O restante do mundo por ora aceitou armistício em condição subalterna. O Brasil ensaia retaliação.

 O governo toma providências para que possa contra-atacar, com base na Lei de Reciprocidade, que, por falar nisso, tramitou porque o agro queria meios para reagir a restrições comerciais da União Europeia motivadas por critérios ambientais.

RISCO DE PERDER – O que o Brasil vai ganhar com isso? Nada, com risco de perder. O governo diz que tal reação pode ser meio de induzir os americanos a conversar. Não explica de onde tirou tal ideia. A desinformação a respeito do que quer Trump é total, como diz gente do governo brasileiro, em conversa reservada.

No final de um processo de meses, o Brasil poderia adotar retaliações com base nessa lei. Aumentar impostos de importação sobre produtos americanos é idiotice, prejuízo para empresas daqui. Tributar empresas de serviços baseadas no Brasil e quebrar patentes ou outros direitos seriam alternativas.

Afora o fato de que o Brasil correria riscos de reputação no mundo (quebrando patentes, por exemplo) por ganho duradouro nenhum, a medida não faria coceira nos EUA.

ALVOS PIORES – Agora ou depois, o risco óbvio de retaliar com estilingue é incentivar um ataque com mísseis em alvos ainda mais sérios do que o comércio, como finanças e investimento. Como se não bastasse, o momento é inoportuno. Nesta semana, empresas brasileiras vão aos EUA vender seu peixe e começa o julgamento de Jair Bolsonaro, outro risco de que Trump volte a dar dois minutos de atenção agressiva ao Brasil.

 

O restante do mundo engoliu o que são por ora diretrizes de acordo (ainda não há acordos), o que ajuda a ganhar tempo e a enrolar.

]União Europeia, Japão ou Coreia do Sul, entre outros, estavam aturdidos pela pancada, temiam prejuízos grandes e imediatos. Agora, fazem conta de perdas e observam a reconfiguração mundial.

FAZER ACORDOS – Ainda muito incipiente, começam a pensar em como fazer acordos ou frentes informais a fim de ainda manter o comércio ex-EUA (85% dos negócios) sujeito a alguma regra. Recuaram, talvez além da conta, a fim de se reorganizarem e lidarem com mudança ou conflito longos.

Parece improvável que a Suprema Corte aceite a decisão de tribunais que barrou o tarifaço indiscriminado de Trump baseado na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional.

A corte é trumpista, seria golpe forte no poder de Trump, doméstico e externo, e problema grave para as contas do governo (que tapa parte do déficit extra de Trump com imposto de importação).

ALGUMAS MUDANÇAS –  Mas pode haver mudanças. Trump teria de recorrer a outros instrumentos legais, com tarifação mais caso a caso. De qualquer modo, além do tarifaço mundial, Trump já projeta mais tarifas sobre chips, farmacêuticos, químicos, veículos pesados, móveis, madeira, produtos de minerais críticos, aviões, motores, o diabo, como já o fez com aço e alumínio.

Haverá rodadas periódicas de abertura de novos processos, a pedido de empresas que se julguem prejudicadas. Enfim, a guerra comercial parece ser apenas o começo de um projeto diferente de domínio americano.

Para variar, o Brasil estava despreparado. Tem raras políticas de longo prazo atualizadas e pensadas. Retaliar com estilingue é não entender o tamanho da encrenca. Discurseira nacionalista é irrelevante. O momento é de atenuar prejuízos, respirar e pensar em

Moraes avisou Bolsonaro sobre a possibilidade de acabar na cadeia

Alexandre de Moraes e Bolsonaro

Quando estava no TSE, Moraes deu o aviso a Bolsonaro

Josias de Souza
do UOL

Todas as pessoas são inocentes até prova em contrário. Bolsonaro é diferente. Deixou tantos rastros que virou prova em contrário de si mesmo. Não há em Brasília uma mísera alma capaz de apostar na sua absolvição. No julgamento sobre o complô do golpe, a guilhotina da Primeira Turma do Supremo é feita de evidências de aço fornecidas pelo réu.

Bolsonaro consolidou-se como um outro nome para o desequilíbrio. Sua condição normal é o estado crônico de crise. No momento, vive a apoteose da crise dos ‘Três Cs’. Sempre lhe faltaram Compostura e Compromisso democrático. Faltou-lhe também Comedimento para interpretar os sinais de fumaça emitidos por Alexandre de Moraes.

LÁ NO TSE – Moraes soltou dois alertas sobre o risco de Bolsonaro ser preso caso o melado antidemocrático não parasse de escorrer. Os avisos soaram em julgamentos da Justiça Eleitoral. Num, o TSE livrou a chapa Bolsonaro-Mourão da cassação por difundir mentiras no Zap na sucessão de 2018. Noutro, baniu Bolsonaro das urnas por mentir para embaixadores na campanha de 2022.

Na sessão em que o TSE decretou a inelegibilidade de Bolsonaro até 2030, Moraes repetiu o alerta que fizera no julgamento anterior. Releu a frase que usara para avisar o que ocorreria com quem repetisse em 2022 o modelo de difusão de mentiras que marcou a campanha bolsonarista em 2018: “Irão para a cadeia”.

Além de falar pela segunda fez sobre prisão num tribunal eleitoral, Moraes inseriu no voto pela inelegibilidade de Bolsonaro o raciocínio segundo o qual “a Justiça é cega, mas não é tola”. Recitou a mesma frase dias atrás em despachos sobre a tornozeleira e a prisão domiciliar do capitão.

CHEIO DE DISPOSIÇÃO – Moraes chega ao dia do julgamento com disposição redobrada para converter seu vaticínio em realidade. Apertou a vigilância sobre o domicílio prisional do réu.

Colocou a polícia no quintal de sua casa. Ordenou a revista minuciosa dos carros que saírem do imóvel. Não se perdoaria se Bolsonaro, cuja prisão farejou com tanta antecedência, fugisse escondido num porta-malas.

O que é singular no caso brasileiro é que o ataque à Corte não parta do titular do Poder Executivo para quem o STF passou de usurpador a defensor de direitos. O adversário agora é um governo estrangeiro.

Supremo está sob ataque há muitos anos, o que mudou foram apenas os adversários

STF volta, de olho na eleição. | Opinião | Jornal da Manhã

Charge do Elio (Jornal da Manhã)

Marcus André Melo
Folha

O Supremo está sob ataque há mais de 15 anos, embora o combate cerrado tenha tido início há apenas cinco anos. O que mudou são seus adversários. Os ataques tiveram início com o mensalão e o acolhimento pela Corte da denúncia da PGR em 2007, mas mudaram de patamar com o julgamento do mérito das acusações em 2012.

As bandeiras dos ataques também mudaram. Se inicialmente a questão que vertebrava os ataques era a corrupção, ela mudou e passou a ser a democracia.

NOVA BATALHA – Com a ascensão de Bolsonaro, o STF escolheu a batalha que passou a travar: da luta contra a corrupção para a defesa da democracia.

Não se trata apenas disso: o desmonte da operação que se tornou símbolo da luta contra a corrupção foi assumido como uma batalha em si mesmo. Não ficou pedra sobre pedra. E continua, em decisões monocráticas, com um juiz anulando tudo, com custo reputacional abissal para a instituição.

E num contexto em que, segundo o Latam Pulse AtlasIntel, 58% dos entrevistados apontaram a corrupção como o maior problema do país, superando temas como criminalidade e tráfico de drogas.

DIZIA DIRCEU – Os adversários do STF agora são outros: as diatribes contra a instituição se originavam no PT e seus apoiadores. Como afirmou José Dirceu “o STF não é poder da República. Nossa Constituição estabeleceu três poderes, mas só existem dois: os eleitos, que têm soberania popular, o Legislativo e o Executivo. O Judiciário é [apenas] um órgão”.

Sua conclusão era que se “deveria tirar todos os poderes do supremo” e convertê-lo em Corte constitucional.

Sob Bolsonaro em diante, os ataques aos ‘juízes não eleitos’ do STF partem do círculo presidencial. Começaram antes da campanha eleitoral, com a famigerada referência a um soldado e um cabo para intervir na Corte.

ALTERNÂNCIA – Segundo a teoria democrática, a alternância entre forças políticas rivais gera incentivos para um aprendizado coletivo. A perspectiva de alternância mitiga pretensões hegemônicas de grupos que passam a se enxergar menos como inimigos e mais como rivais.

Numa espécie de ‘véu da ignorância’ rawlsiano, que levaria os cidadãos a examinar as instituições como perdedores e a avaliá-las tanto como regras do jogo quanto como bens públicos. A realpolitik, no entanto, sugere que as precondições para que isso ocorra são raras.

No momento, o que observamos no Brasil e América Latina são pretensões hegemônicas de governantes que buscam moldar unilateralmente as instituições a seus interesses.

MÉXICO E EQUADOR – À esquerda, o caso mais flagrante na América Latina é o do México de Cláudia Sheinbaum, que deu seguimento às ameaças de destituição coletiva de magistrados dos tribunais superiores de seu antecessor e patrono, Obrador.

Como que para ilustrar as comunalidades entre o majoritarianismo iliberal de esquerda e direita, o exemplo foi seguido esta semana por Daniel Noboa, presidente do Equador.

De megafone em punho, liderou passeata por uma consulta popular pedindo, entre outras medidas, o impedimento coletivo do tribunal constitucional daquele país. 

Trump e Eduardo Bolsonaro armam clima de “barata voa” na direita

A submissão aos interesses dos EUA virou motivo de comemoração para Eduardo  Bolsonaro. Enquanto o governo Trump ataca a soberania nacional, o deputado  agradece. Isso não é liberdade de expressão, é traição

Charge do Lafa (facebook)

Eliane Cantanhêde
Estadão

Jair Bolsonaro chega à reta final do julgamento pelo golpe já derrotado, jurídica e politicamente. Eduardo Bolsonaro está prestes a ser expelido do PL, em favor de Tarcísio de Freitas. Carla Zambelli foi mantida em prisão fechada na Itália. Congresso avança no PL da adultização e adia a PEC da blindagem a parlamentares.

De quebra, Javier Milei despenca nas pesquisas e é recebido com pedras e garrafas em evento na Argentina, depois de escândalo de corrupção.

DOIS NO CENTRO – O que isso tudo significa? Que a extrema direita incensada por Donald Trump não está com essa bola toda pelas nossas bandas, o horizonte é de ascensão de uma direita menos belicosa e, no Brasil, de uma disputa em 2026 entre Lula e Tarcísio, ambos empurrados para o centro, um na centro-esquerda, outro na centro-direita.

Inelegível, preso em casa, cercado de policiais, de tornozeleira e às vésperas de ser julgado pela tentativa de golpe, junto com seus generais, Bolsonaro já não é sequer listado como presidenciável em 2026, diferentemente de Trump, que perdeu a reeleição, atiçou o golpe contra o Capitólio e voltou à Presidência na eleição seguinte.

Faltou um Xandão para investigar e cobrar responsabilidades nos EUA.

PÓS-CONDENAÇÃO – O que se discute já é o pós-condenação de Bolsonaro. Condenado, vai perder a patente de capitão do Exército? Pelo próprio Supremo ou pela Justiça Militar? Ficará preso em casa, num quartel ou na Papuda? São questões que envolvem questões legais, mas também políticas, em se tratando de um ex-presidente.

Há um “barata voa” no bolsonarismo, enquanto adversários comemoram a impulsividade – ou “imaturidade”, como define seu próprio pai – e a falta de inteligência, estratégia, visão política e patriotismo de Eduardo Bolsonaro, que xinga tudo e todos, divide a direita e empurra o centro para Tarcísio. Virou seu cabo eleitoral e só piorou a posição de Jair Bolsonaro.

Como defender um ataque à soberania nacional e aos brasileiros em favor de uma única pessoa?

ARMA NA MÃO – Zambelli se tornou um símbolo da debacle, correndo de arma em punho pela rua, contratando um condenado para invadir o sistema digital do STF, introduzindo documentos falsos, até da prisão de Alexandre de Moraes. Coisa de bom moço, ou boa moça, não é.

E Milei? Ele assumiu um país despedaçado e erra a mão ao juntar os cacos. A inflação despencou e o superavit disparou, mas moradia, saúde, educação, impostos, gás, luz, transporte? Queridinho de Wall Street, asfixia classe média e pobres.

Zambelli é um símbolo do bolsonarismo, Milei é um alerta sobre a extrema direita trumpista no continente.

Com Bolsonaro fora da política, muita coisa vai mudar com as novas eleições

Bolsonaro critica políticos que mandaram ficar em casa na pandemia |  Agência Brasil

Bolsonaro perdeu o poder, porém manteve os admiradores

Vicente Limongi Netto

É terrível, inacreditável, são coisas da democracia, mas é pena que a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, seja adoradora do clã Bolsonaro. O governador Ibaneis Rocha, por sua vez, também tornou-se bolsonarista de carteirinha, porque lá atrás foi achincalhado por Lula no episódio do famigerado 8 de janeiro.

É um direito dele. Porém, pertence ao MDB, completamente agremiação antibolsonarista, por tradição, coerência e vigor democrático. MDB não engole Bolsonaro nem pintado de ouro.

CONSTRANGEDOR – Ibaneis, caso eleito no Senado, vai continuar bolsonarista, isolado dentro do MDB? Será constrangedor. MDB, hoje e amanhã, quer distância de Bolsonaro.  Estou farto de escrever sobre isso.

O STF vai fuzilar Bolsonaro e o filho fujão. Alexandre de Moraes e outros da Suprema Corte  jamais se intimidarão com passeatas, ameaças, discursos, histerismos do PL, de Trump e outros menos votados.

Terça-Feira, dia 5 de agosto, escrevi mais uma vez, enfatizando o assunto. Gostemos ou não, é meu caso, estou me lixando para ambos, mas o fato é que Lula será reeleito. Tem a caneta cheia de tinta.

FAZEM O DIABO – Em ano eleitoral, o PT e seguidores costumam ir com tudo. Governadores adversários, alguns qualificados, não pensam em chegar em apenas um nome, para enfrentar Lula. Já vimos este filme.

O ego pessoal fala mais alto. Desunião dilui votos, agradando Lula, o PT e aliados. Ano que vem vai ferver. Chutes na virilha serão afagos do céu.

Sabemos que Lula e PT são vingativos. Lula reeleito, a bolsonarista Celina Leão certamente eleita governadora, não será bem-vinda no Palácio do Planalto. Pleitos de Brasília sofrerão. O DF depende do Fundo  Constitucional.

MICHELLE NO DF – Mulher de Bolsonaro, cotada para senadora por Brasília, também vai ralar para conseguir as coisas. Seria bom canal político colocar para vice-governador na chapa de Celina, para abrandar o ambiente e a convivência política, um homem público respeitado e com trânsito em todas as áreas.

Paulo Octávio, ex-senador, ex-vice-governador, empresário vitorioso, será bom nome.  O MDB na Câmara Federal segue a cartilha dos senadores. Sarney continuará ouvido e respeitado. Renan Calheiros, também.  Craques nos bastidores. Não entram em briga de amadores. Renan ainda tem o filho e xará como ministro dos Transportes.  É senador ainda com longo mandato e pode voltar ao governo alagoano.

VOLTA AO SENADO – O calejado Renan, por sua vez, tem amplas chances de ser reeleito senador.

Não vejo possibilidade de um senador bolsonarista vir a presidir o Senado. O desprezível Rui Costa não se sabe se será senador pela Bahia, ou permanece poderoso ministro, carne e unha com Lula. Não esconde que odeia Brasília.  Lula reeleito, Davi Alcolumbre tentará manter-se na presidência do Senado.  Outra pedra nas cabeças bolsonaristas.

Lula e petistas podem até fingir bem, mas governadores bolsonaristas comerão pão duro e café frio no governo federal, com Lula reeleito.

Congresso é esconderijo ideal para os infiltrados do crime organizado

charge de Thiago Lucas (@thiagochargista), para o Jornal do Commercio.  #CarlosLupi #INSS #corrupção #aposentados #aposentadoria #dinheiro #governo  #lula #brasil #chargejc #chargejornaldocommercio #chargethiagojc  #chargethiagolucas #chargethiagolucasjc

Charge do Thiago Lucas (Jornal do Commercio)

Dora Kramer
Folha

O presidente da Câmara traduziu com precisão o espírito da coisa, quando disse que a chamada PEC da blindagem revelava “o espírito da Casa”. Espírito do corpo em estado bruto é do que falou Hugo Motta (Republicanos-PB), num ato de franqueza.

Já numa demonstração de fraqueza, Motta deixou que a confusão tomasse conta da reunião de líderes que engendrava a votação à sorrelfa da noite adentro na quarta-feira (27), aceitando um texto apócrifo que propunha ampliar ainda mais a impunidade de deputados e senadores em ações na Justiça.

FALTOU CLAREZA – Se a ideia era escancarar o absurdo e provocar a suspensão do debate diante da má repercussão, a condição de condutor do processo exigiria que defendesse essa posição com clareza.

Mas ficou parecendo que a intenção foi evitar uma derrota no plenário e adiar o exame do tema para retomá-lo em momento oportuno.

Os adeptos da causa não desistirão de transformar o Congresso numa espécie de esconderijo, indiferentes ao risco de se interditar investigações de ilícitos. De toda ordem.

CRIME ORGANIZADO – Acabamos de ver revelada a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis e no mercado financeiro.

Já sabíamos, embora ainda sem ter a real dimensão, o quanto a bandidagem se imiscui na sociedade e no aparelho de Estado. Nos três poderes.

Como nosso assunto é o Legislativo, citemos apenas as câmaras municipais, assembleias estaduais e até o Congresso Nacional, onde há presença crescente dessas ligações perigosas.

DOMÍNIO TERRITORIAL – Um dos caminhos de acesso, não o único, é o domínio de territórios nas grandes cidades. E, conforme constata há tempos o ex-ministro da Segurança Pública Raul Jungmann, “quem domina o território, controla o voto”.

Os arquitetos da blindagem já pensaram que, ao manter o Parlamento fora do alcance da Justiça, protegerão também os criminosos infiltrados, cada vez mais interessados nessa proteção?

Se não pensaram, conviria que atentassem a isso, sob pena de se tornarem cúmplices de máfias que ameaçam a segurança nacional.

CPI do INSS causará mais dano a Lula do que julgamento ao bolsonarismo]

CPI do INSS: irmão de Lula já é alvo de três 3 requerimentos

Frei Chico, irmão de Lula, será convocado para depor

Diogo Schelp
Estadão

O governo Lula e a oposição bolsonarista vão enfrentar provações cruciais e simultâneas a partir desta e da próxima semana. Na terça-feira, 26, o Congresso dará início aos trabalhos da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) para investigar a fraude no INSS (Instituto Nacional de Seguro Social).

Os líderes governistas dormiram no ponto e deixaram que a presidência e a relatoria da comissão fossem conquistadas por opositores ferrenhos. Uma semana depois, no dia 2, o STF (Supremo Tribunal Federal) vai iniciar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado após a derrota para Lula na eleição de 2022.

DISPUTANDO PÚBLICO – Dois circos estarão montados um ao lado do outro, disputando público. A oposição bolsonarista vai usar a CPMI para criar fatos, manchetes e vídeos virais negativos em série para o governo — enquanto, no picadeiro ao lado, seu líder Bolsonaro estará sentado no banco dos réus.

O objetivo dos parlamentares oposicionistas vai ser, primeiro, provar responsabilidade do governo no avanço do esquema de descontos indevidos nos benefícios dos aposentados e, segundo, vincular entidades e pessoas que participaram da fraude ao PT e — quem sabe, no que seria o prêmio maior — ao próprio presidente.

Uma possibilidade é que Frei Chico, irmão de Lula e vice-presidente de um dos sindicatos investigados pela suspeita de ter tirado nacos ilegais das aposentadorias e pensões, seja convocado para prestar depoimento na comissão.

MOMENTO ADEQUADO – O deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), relator da CPMI, tergiversou e disse que “não é o momento adequado” para tal convocação.

Com a missão de evitar uma nova mancada da base governista, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) terá como prioridade evitar que Frei Chico seja obrigado a depor e que o governo se torne o único alvo das investigações.

Trata-se de uma tarefa ingrata, ainda mais sem o comando da presidência e da relatoria da comissão. A CPMI do INSS tem tudo para se tornar um eficiente instrumento de desgaste da imagem do governo Lula, assim como a CPI da Covid-19 contribuiu para abalar a popularidade de Bolsonaro em 2021.

POPULARIDADE – O então presidente tinha 30% de aprovação popular, segundo o Datafolha, antes daquela comissão começar. Depois de seis meses de uma CPI que expôs a atuação criminosa do governo na pandemia, a popularidade de Bolsonaro minguou para 22%.

Costuma-se dizer em Brasília que todos sabem como uma CPI começa, mas não como termina. Esse imponderável é o que torna essa comissão tão perigosa para Lula.

Já do julgamento de Bolsonaro no STF pode-se dizer o oposto: sabe-se como começa e pode-se fazer uma aposta segura de como termina, ou seja, provavelmente com a condenação do ex-presidente.

DISPUTAR O ESPÓLIO – A situação política de Bolsonaro não passará a ser muito diferente da atual. A confirmação de sua prisão apenas vai permitir aos seus herdeiros políticos se movimentar com mais liberdade para disputar seu espólio eleitoral.

O bolsonarismo vai se fortalecer com a narrativa de perseguição ao seu líder e com a possibilidade de se unir em torno de um nome que o “honre” nas urnas.

As atrações do circo ao lado são mais imprevisíveis.

Nova patriotada eleitoreira do PT é o “crime de alta traição à pátria”

Líder do PT na Câmara diz que tarifas de Trump são ataque à democracia | Jornal de Brasília

Lindbergh inventou um crime para enquadrar os adversários

Mario Sabino
Metrópoles

Armado do seu bodoque, o deputado Lindbergh Farias, do PT, o mais reto e vertical partido brasileiro, apresentou um projeto de lei que propõe pena de até 40 anos de prisão para quem cometer “crime de alta traição à pátria”.

Fiquem calmos: o projeto não considera alta traição à pátria desviar bilhões em dinheiro público, aparelhar e depenar estatais ou falsificar as contas governamentais para vencer eleição.

FUZILAMENTO – Na justificativa de pena tão inclemente para os Calabares e os Silvérios dos Reis, o petista disse aos seus pares na Câmara:

“Os senhores podem pensar que é exagero. Em vários estados norte-americanos, o crime de traição à pátria é o fuzilamento. É assim que se trata o traidor da pátria.”

A oposição apelou logo para a quebra de decoro, mas o petista afirmou que foi só uma referência e coisa e tal. Mas há um atavismo sob a referência, que talvez tenha escapado ao próprio deputado: a esquerda tem afinidades eletivas históricas com o paredón. É para onde ela costumava levar adversários nos bons tempos revolucionários. Ou para o gulag, que era uma morte homeopática.

CULPA DO EDUARDO – Desnecessário dizer, mas digo mesmo assim, que a circunstância a ressuscitar os instintos primitivos de Lindbergh se chama Eduardo Bolsonaro, a vivandeira que foi bulir com os granadeiros trumpistas nos seus bivaques.

O petista, no entanto, está sendo injusto com a vivandeira. Com as tarifas e a inclusão de Alexandre de Moraes na Lei Magnitsky, obtidas junto ao amigo americano, Eduardo Bolsonaro não conseguirá livrar o seu pai da cadeia, mas deu um sopro de vida a Lula, que andava com a aprovação em baixa.

Sem medo de ser feliz, o que no mais das vezes significa abraçar o ridículo, o chefão petista aproveitou a oportunidade e tomou da direita a bandeira do patriotismo.

ELE E SIDÔNIO – Lula passou a agitá-la sozinho diante das fuças bolsonaristas, assessorado pelo marqueteiro Sidônio, criador do slogan originalíssimo sobre o Brasil ser dos brasileiros, inscrito em bonés igualmente inovadores.

O projeto de Lindbergh é só um boné legislativo. Está no campo das patriotadas eleitoreiras propiciadas por Eduardo Bolsonaro. Na verdade, o PT deveria até agradecer ao filho de Jair.

Como se dizia na Inglaterra, sejamos patriotas sem esquecer que somos cavalheiros, por favor.

Olhos tristes, que se curvam sob o olhar poético de Henriqueta Lisboa

Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Hen iqueta Lisboa strelas são mariposas (faz az tanto frio na rua!) batem asas de esperança contra as vidraças dalua." Henriqueta Lisboa (1901-1985) efrases_mensagens_epoesias"Paulo Peres
Poemas & Canções

A renomada poeta mineira  Henriqueta Lisboa (1901-1985), no soneto “Olhos Tristes”, tem a sensação de uma despedida através de renúncias repetidas.

OLHOS TRISTES
Henriqueta Lisboa

Olhos mais tristes ainda do que os meus
são esses olhos com que o olhar me fitas.
Tenho a impressão que vais dizer adeus
este olhar de renúncias infinitas.

Todos os sonhos, que se fazem seus,
tomam logo a expressão de almas aflitas.
E até que, um dia, cegue à mão de Deus,
será o olhar de todas as desditas.

Assim parado a olhar-me, quase extinto,
esse olhar que, de noite, é como o luar,
vem da distância, bêbedo de absinto…

Este olhar, que me enleva e que me assombra,
vive curvado sob o meu olhar
como um cipreste sobre a própria sombra.

Bolsonaristas não desistem e apostam tudo na anistia depois do julgamento

Lauro Jardim
O Globo

Faltam três dias de começar o julgamento de Jair Bolsonaro e o quadro no bolsonarismo está assim: “ok, ele vai ser condenado, mas depois a política entra e o Congresso e o anistia”. Essa é a palavra de ordem no bolsonarismo.

Dentro desse contexto a declaração de Luis Roberto Barroso sobre o assunto, na semana passada, virou uma espécie de mantra repetido por todo bolsonarista envolvido nas articulações pró-anistia.

IMPOSSIBILIDADE – Barroso disse que anistia antes do julgamento “é uma impossibilidade”. Mas que, depois do julgamento, “passa a ser uma questão política e questões políticas vão ser definidas pelo Congresso”.

A partir daí, esses bolsonaristas, que vão do líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalvanti, ao presidente do PP, Ciro Nogueira, passando pelo pastor Silas Malafaia e tantos outros, passaram a dizer que a frase de Barroso foi uma espécie de senha do Supremo para que o Congresso possa se sentir à vontade para votar um projeto de anistia a Bolsonaro.

Só que não é bem assim. De fato, a afirmação de Barroso tem um grau ambiguidade que pode levar a esse entendimento.

DECISÃO TRIVIAL – Mas não é bem assim. Porque não seria uma decisão trivial a aprovação de uma anistia imediatamente depois de uma condenação de um ex-presidente da República por golpe de estado, pelo Supremo. Seria uma decisão que jogaria no lixo um julgamento cercado de tintas muito especiais.

Se isso acontecesse, se instalaria um choque inédito entre dois Poderes — e num tema grave que é uma condenação por golpe de estado.

Mas quais as chances de, depois da condenação de Bolsonaro, um projeto desses ser votado e aprovado?

PRESSÃO VIOLENTA – O que existe hoje é uma pressão violenta por parte da direita e do bolsonarismo sobre Hugo Motta para que ele bote para votar a anistia. Já o governo Lula faz uma pressão no sentido contrário.

Até agora Motta se equilibrou entre os dois lados. Mas não pautou o projeto.

Aparentemente, a anistia teria votos para ser aprovada. Do contrário, o presidente da Câmara já poderia há algum tempo ter se livrado do problema mandando ao plenário a anistia. Se ela não fosse aprovada, os bolsonaristas não o perturbariam mais. Motta, por diversos motivos, resistiu até agora em pautar esse projeto.

SEM CHOQUE – Um desses motivos é não criar um choque com o STF durante o julgamento. Um outro motivo é não criar um atrito com o Palácio do Planalto.

Mas pode ser que, de fato, depois do julgamento ele não consiga resistir à pressão do bolsonarismo, do Centrão e da direita. Inclusive porque ele mesmo pertence ao Centrão e à direita.

Hoje, é impossível bancar, como querem os bolsonaristas, que a anistia virá até o fim do ano. Depende da força das pressões, do jogo de forças que vai começar a emergir a partir do veredito dado pelos ministros do Supremo na ação do golpe. Um jogo de forças que vai mostrar a cara para valer a partir da segunda quinzena de setembro.

A perigosa aliança entre o crime organizado e o mundo financeiro

Charge do Laerte (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

O avanço do crime organizado sobre o sistema financeiro formal é um fenômeno que merece atenção imediata, não apenas das autoridades, mas de toda a sociedade. O caso mais recente envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC), revelado em entrevista do promotor Lincoln Gakiya ao jornal O Globo, evidencia como o narcotráfico tem se sofisticado a ponto de se infiltrar em segmentos do mercado financeiro, aproveitando-se da fragilidade regulatória de certas áreas, como as fintechs, para lavar dinheiro e ampliar sua influência.

Essa conexão representa uma ameaça de grandes proporções: de um lado, a brutalidade do crime; do outro, a sofisticação do universo financeiro. Quando esses dois mundos se encontram, o resultado é devastador para a economia e para a democracia.

ENGRENAGEM – A recente operação que prendeu pessoas ligadas ao mercado financeiro por suspeita de colaborar com o PCC é um exemplo concreto de como essa engrenagem criminosa opera. Não se trata apenas de transações ocultas, mas da criação de estruturas capazes de dar aparência de legalidade a recursos ilícitos, minando a confiança em instituições reguladas e afastando investimentos legítimos.

Como destacou o promotor Gakiya, é mais fácil dizer em qual setor o PCC ainda não atua do que mapear sua presença. Essa capilaridade reforça o caráter camaleônico da facção, que se adapta e se expande onde encontra brechas.

O perigo não está restrito ao desvio de recursos. Ele se manifesta também na erosão das regras regulatórias, na concorrência desleal com empresas que atuam dentro da legalidade e no enfraquecimento do próprio Estado, que perde espaço de controle. Ao se infiltrar em instituições financeiras e até em estruturas do Estado, o crime organizado cria uma rede de proteção que dificulta investigações e amplia a sensação de impunidade.

RELEVÂNCIA – É nesse ponto que o trabalho de promotores como Lincoln Gakiya ganha ainda mais relevância. Vivendo sob escolta há anos, ele simboliza a linha de frente contra uma ameaça que já ultrapassa os limites do sistema prisional e do tráfico de drogas. É preciso reconhecer também que essa aliança entre crime e finanças não ocorre de forma isolada: ela dialoga com a fragilidade das instituições políticas e com a dificuldade de o país estruturar políticas públicas duradouras para prevenção e repressão qualificada.

Em um cenário em que o Estado é constantemente pressionado por crises orçamentárias e instabilidades políticas, o crime organizado se aproveita do vácuo para expandir seu poder. Não é apenas uma disputa por dinheiro, mas uma batalha pela própria governança, já que, ao se infiltrar em setores formais da economia, o PCC e outras facções passam a disputar espaço de poder com o próprio Estado, corrompendo servidores, comprando decisões e interferindo em políticas estratégicas.

ESTRATÉGIAS – Se o crime encontra no mercado financeiro a sofisticação que não produz por si mesmo, cabe ao Estado responder com estratégias igualmente complexas e articuladas. Reforçar a regulação sobre fintechs, ampliar a cooperação entre polícias, Ministério Público e órgãos financeiros, além de proteger investigadores que enfrentam essa rede, são passos fundamentais.

É igualmente urgente investir em inteligência financeira, rastreamento internacional de ativos e cooperação com organismos multilaterais, pois o crime organizado, cada vez mais globalizado, não respeita fronteiras. A operação recente mostra que é possível desarticular parte da engrenagem, mas também deixa claro que o enfrentamento precisa ser contínuo. Afinal, a aliança entre narcotráfico e mundo financeiro não é apenas um risco: é um projeto em curso que ameaça corroer os pilares da democracia e a confiança na economia formal.

Tarcísio diz que primeiro ato, caso se eleja, será o indulto a Bolsonaro

Ida de Tarcísio para o PL depende de Bolsonaro - PlatôBR

Tarcísio deixa bem clara sua lealdade a Jair Bolsonaro

Lavínia Kaucz
(Broadcast)

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que sua primeira medida caso se torne presidente da República será conceder um indulto ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Tarcísio foi questionado se concederia o indulto em entrevista ao Diário do Grande ABC, publicada nesta sexta-feira, 29. “Na hora. Primeiro ato. Porque eu acho que tudo isso que está acontecendo é absolutamente desarrazoado”, afirmou.

O governador voltou a negar, porém, a intenção de se candidatar à Presidência em 2026. “Eu não sou candidato à Presidência, vou deixar isso bem claro. Todo governador de São Paulo é presidenciável, pelo tamanho do Estado, um Estado muito importante. Mas vamos pegar na história recente qual foi o governador de São Paulo que se tornou presidente da República: o último foi Jânio Quadros e o penúltimo foi Washington Luís”, afirmou.

POR PRECAUÇÃO – Como mostrou o Estadão, Tarcísio já calibra comunicação, ouve marqueteiros e busca projeção nacional de olho nas eleições de 2026, mas evita dar sinais de campanha antecipada para não virar alvo do bolsonarismo.

Esta foi a primeira declaração do governador citando o indulto como uma ação caso seja eleito para o Planalto. Em julho, Tarcísio havia afirmado acreditar que “qualquer candidato” de centro-direita deveria conceder um indulto a Bolsonaro, caso o ex-presidente seja condenado na ação penal sobre a trama golpista. Na ocasião, Tarcísio afirmou acreditar na inocência do aliado.

Tarcísio também disse que não confia na Justiça e que não vê elementos para a condenação de Bolsonaro, que começa a ser julgado por tentativa de golpe na terça-feira, 2, no Supremo Tribunal Federal (STF). “Não acredito em elementos para ele ser condenado, mas infelizmente hoje eu não posso falar que confio na Justiça, por tudo que a gente tem visto”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Uma decisão de muita coragem. Vejam que Tarcísio não vacilou, não tentou embromar e foi logo cravando como primeiro ato o indulto presidencial, que de nada servirá, pois a idade e os problemas de saúde tornam Bolsonaro um político com prazo de validade mais do que vencido, igual a Lula da Silva, que já deu o que tinha que dar. (C.N.).

Apertem os cintos! A Lava Jato está renascendo em plena Av. Faria Lima

Reag acerta a compra da Bom Pra Crédito | Finanças | Valor Econômico

Mansur é um dos líderes dos bastidores da Faria Lima

Carlos Newton

A Faria Lima anda em polvorosa. No centro desse turbilhão está agora João Carlos Mansur, figura conhecida e respeitada nos bastidores do mercado, que há anos atua como verdadeiro maestro de grandes fortunas.

A Reag, gestora de fundos criada por Mansur, tornou-se referência para empresários e banqueiros que buscam alternativas de blindagem patrimonial em tempos de incerteza. O problema é que, quando o rastro do dinheiro começa a ser seguido, passam a surgir conexões incômodas.

SEM LIMITES – Não se trata apenas das ligações já noticiadas com Daniel Vorcaro, dono do Banco Marques, que continua buscando uma saída. O alcance de Mansur vai muito além, envolvendo banqueiros e bilionários da elite financeira paulista.

A cada fio puxado, revela-se um novelo que compromete não só indivíduos, mas práticas estruturais que caracterizam o próprio modus operandi da Faria Lima.

É o típico caso em que um único personagem pode funcionar como “bomba atômica” no sistema, não pela sua queda, mas pelo que expõe sobre os mecanismos ocultos de poder e riqueza.

E O GOVERNO? – Nesse tabuleiro, o governo Lula pode ganhar inesperado protagonismo. À frente do Ministério da Justiça, Ricardo Lewandowski tem nas mãos uma oportunidade rara de retomar o combate aos crimes do colarinho branco, área em que o país vinha colecionando frustrações.

Se o ministro apostar em investigações consistentes, com eventual cooperação penal internacional, a repercussão será inevitável. Afinal, as engrenagens da blindagem patrimonial são globais, e só podem ser compreendidas quando se conecta São Paulo a Nova York, Miami ou Luxemburgo.

Política, economia e justiça se encontram nesse ponto nevrálgico.

NOVA IMAGEM – O Brasil pode surpreender ao reverter a imagem de complacência com a corrupção, criando um contraponto direto ao estilo de Donald Trump, que não esconde a tolerância com desvios na elite empresarial.

Os desdobramentos são imprevisíveis, mas a simples perspectiva de vasculhar essas engrenagens já é suficiente para fazer a Faria Lima tremer.

È por isso que já afirmamos aqui na Tribuna da Internet, sempre com absoluta exclusividade, que o desdobramento dos casos do Banco Marques e do PCC pode funcionar como uma nova operação Lava Jato, centrada no mercado financeiro. Comprem pipocas, muitas pipocas.

 

Comprei pipoca para ver Bolsonaro condenado, mas continuar influindo…

Gonet é contra colocar agentes da PF dentro da casa de Bolsonaro | Política  | Valor Econômico

Bolsonaro começa a ser julgado na semana que vem

Hélio Schwartsman
Folha

Já comprei pipoca para assistir, a partir da semana que vem, ao julgamento de Jair Bolsonaro e de militares que o apoiavam por tentativa de golpe de Estado. Não há muita dúvida nem sobre o veredicto que será dado à maioria dos réus nem sobre a importância histórica desse juízo.

 Julgamento de golpistas no STF é avanço institucional, marca decadência política do ex-presidente, mas não zera sua influência eleitoral

SEM PUNIÇÃO – Um dos erros em série cometidos pelo Brasil foi o de nunca responsabilizar plenamente os militares pelas várias rupturas e viradas de mesa que promoveram ao longo de nossa não tão longa história democrática. Impunidade nessas situações é praticamente um convite à próxima intervenção.

Espera-se que a condenação agora eleve substancialmente o custo de ignorar as regras fundamentais da democracia e ponha fim ao ciclo de golpismo barato.

Politicamente, a situação é mais ambígua. É certo que o processo contra o ex-presidente, encimado pela assombrosa campanha de Eduardo Bolsonaro por sanções dos Estados Unidos contra o Brasil, marca uma redução da influência da família.

AINDA COM INFLUÊNCIA – Receio, porém, que os Bolsonaros, apesar da trajetória descendente, ainda conservem força suficiente para vetar candidaturas de direita, o que significa que não voltarão imediatamente para o campo da irrelevância política de onde não deveriam ter saído.

Em relação ao pleito de 2026, as coisas são ainda mais fluidas. A polarização transforma a disputa naquilo que meus colegas das páginas de esporte chamam de jogo de seis pontos. Perdas de um lado são ganhos para o outro e vice-versa.

No início do ano, o governo Lula parecia caminhar resolutamente para as cordas, mas as reinações de Dudu combinadas com preços de comida um pouco mais comportados recolocam o petista no jogo com boas chances.

LULA SEM GARANTIAS – Nada garante, contudo, que Lula não cometerá nenhuma tolice digna de Bolsonaros ou verá sua proverbial sorte revertida.

O que quer que aconteça na eleição, no plano institucional a condenação de golpistas representa inequívoco avanço, o que já faz valer a pipoca.

Tarcísio só disputará contra Lula se Bolsonaro lhe pedir pessoalmente

Tarcísio de Freitas não aceita sequer discutir o assuntoCaio Junqueira
da CNN

Interlocutores diretos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, admitem o crescimento da pressão para que ele seja candidato à Presidência em 2026. Porém, nenhum cronograma do governo do estado foi alterado em razão do aumento dessa pressão. Assim, o planejamento segue sendo realizar as entregas previstas para 2026, independentemente do prazo de desincompatibilização que Tarcísio teria em 1º de abril, caso quisesse se candidatar ao Planalto.

A CNN conversou durante a semana com aliados próximos ao governador, que dizem que o plano de Tarcísio para o próximo ano continua sendo tentar a reeleição.

DOIS PONTOS – A pressão no Bandeirantes foi detectada a partir de dois pontos principais:

O primeiro, de partidos do Centrão, como PSD, MDB, União Brasil e PP, que ou não veem outro candidato competitivo para disputar contra Lula — caso de União e PP — ou desejam ver a vaga de governador aberta para ser ocupada por eles — caso de PSD e MDB.

O segundo, dos agentes econômicos, em especial da chamada “Faria Lima”, o centro financeiro do país, tradicionalmente avesso ao petismo e à agenda econômica de Lula.

CONSENSO ABSOLUTO – Os interlocutores diretos de Tarcísio dizem que ele só seria candidato se houvesse um consenso absoluto das forças políticas à direita em torno do seu nome — em especial, o aval e apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sua família. E que não há nenhum sinal de que isso ocorrerá. Muito pelo contrário, todos os sinais lidos até agora no Bandeirantes são de que os Bolsonaro não desejam Tarcísio como candidato à Presidência.

Consultores próximos ao governador apontam que, sem esse apoio fechado do bolsonarismo, suas chances diminuiriam muito e ele correria o risco de perder uma reeleição praticamente garantida por uma aventura incerta rumo ao Planalto — ainda mais em um momento em que Lula começa a recuperar parte da popularidade perdida.

Será que Lula e PT entendem que o PCC é um gravíssimo problema?

Foto preto e banco de homem branco, cabelo curto, camiseta branca e com quatro silhuetas de pessoas atrás dele - Metrópoles

Este é Marcola, um dos líderes do PCC que estão presos

Mario Sabino
Metrópoles

O PCC parecia ser apenas problema de periferia em 15 de maio de 2006, quando saí de um restaurante da Faria Lima, onde havia almoçado com colegas de trabalho, e me deparei com a avenida em polvorosa.

O trânsito estava completamente parado, como se fosse a hora do rush, as buzinas soavam nervosas, os pedestres corriam de lá para cá. Perguntei ao manobrista do restaurante o que estava acontecendo. “O PCC está atacando São Paulo”, disse ele.

SEGURANÇA MÁXIMA – A facção respondia com uma ação de escala inédita à transferência de integrantes seus para presídios de segurança máxima, às vésperas do Dia das Mães.

Quase 20 anos depois, o PCC está na Faria Lima outra vez, mas dentro das suas torres, lavando bilhões de reais com fintechs. Tornou-se uma das organizações criminosas mais poderosas do mundo, associada a máfias europeias no negócio das drogas, com tentáculos no transporte público de São Paulo, no mercado de combustíveis e, como não poderia deixar ser, no mercado financeiro, um segredo de Polichinelo até a operação policial de sexta-feira.

A história de sucesso do PCC é a história do fracasso de um país. Assim como as facções adversárias, ele foi impulsionado pela ausência, pela incompetência e pela cumplicidade do Estado brasileiro, nas suas diferentes instâncias — cumplicidade ideológica, inclusive, porque a esquerda, que se mantém à frente do governo federal há quase duas décadas, com os breves interregnos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro, vê bandido como vítima da sociedade capitalista.

CONTROLE TOTAL – O resultado está aí: depois de dominar os presídios do país, as organizações criminosas expandiram-se incontrolavelmente.

A coisa chegou a tal ponto, que, de acordo com um estudo conduzido por quatro pesquisadores de universidades americanas, publicado recentemente pela inglesa Cambridge University Press, 26% dos brasileiros vivem sob o domínio das facções, o maior índice da América Latina. São 50,6 milhões de cidadãos obrigados a se submeter cotidianamente às ordens dos facínoras.

Entre todas as organizações criminosas brasileiras, o PCC, além de ser a maior, é a mais profissionalizada. Altamente hierarquizada, funciona como um relógio e é a que mais está infiltrada na política, seguindo o caminho das máfias italianas.

VALOR DE MERCADO – Como os bilhões de reais que o PCC movimenta variam de fonte para fonte, perguntei ao Grok, a IA da rede X, qual seria o valor de mercado da facção, se ela fosse uma empresa, a partir das diferentes estimativas publicadas pela imprensa. É um exercício fantasioso, evidentemente, mas que serve para dar a sua dimensão.

A resposta foi a seguinte: Se o PCC fosse avaliado como uma empresa, o seu valor de mercado estimado, com base em seu faturamento anual e ativos, estaria na faixa de R$ 16 bilhões a R$ 24 bilhões, com um limite superior próximo aos R$ 30 bilhões, considerando o seu patrimônio.

ALTA CAPACIDADE – Esse valor reflete a sua capacidade de gerar receitas significativas (principalmente via tráfico de drogas e lavagem de dinheiro) e sua infiltração em setores econômicos formais, como combustíveis e mercado financeiro.

Não existe questão mais urgente no Brasil do que as organizações criminosas. A operação de anteontem deveria servir como o início do bom combate, não à exploração política.

Fica a pergunta: será que o PT e as suas linhas auxiliares entenderam mesmo que o PCC e as demais fações são um problema?