Crise do emprego e o avanço da informalidade em ano pré-eleitoral

Charge do Ivan Galvãi (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

A queda de 32% no número de empregos formais entre julho de 2024 e julho de 2025, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, acende um sinal de alerta sobre a vitalidade do mercado laboral brasileiro. Embora o saldo acumulado do ano ainda seja positivo, o recuo registrado em julho — o pior desde 2020 — revela o esgotamento de um ciclo de expansão e a dificuldade do país em sustentar a formalização em um cenário de desaceleração econômica.

O desaquecimento atingiu todos os setores, com destaque para a construção civil, que sofreu retração próxima a 50% no saldo de vagas, e reforça a percepção de que o dinamismo que marcou a recuperação pós-pandemia está perdendo força. Se por um lado os dados oficiais ainda mostram geração líquida de mais de 1,3 milhão de postos no acumulado do ano, por outro, a realidade da informalidade desponta como uma chaga estrutural.

SEM PROTEÇÃO – Estima-se que mais de 40% da população ocupada esteja em atividades sem proteção trabalhista, previdenciária ou sindical, número que, de acordo com algumas projeções, já supera em proporção a própria força de trabalho formalizada. A consequência é imediata: ausência de contribuição previdenciária, renda instável e trabalhadores à margem da rede de proteção social.

No médio e longo prazo, esse processo pode se converter em uma bomba-relógio previdenciária, pois milhões de brasileiros chegarão à velhice sem condições de acessar aposentadoria digna, transferindo ao Estado e à sociedade um passivo social de enormes proporções.

Essa realidade, contudo, não se distribui de forma homogênea. Dados do Ipea mostram que mulheres negras enfrentam taxas de subutilização acima de 30%, enquanto homens brancos registram índices próximos a 19%. A interseccionalidade de raça e gênero agrava desigualdades históricas, impondo barreiras adicionais ao acesso ao trabalho decente.

“UBERIZAÇÃO” – Além disso, a expansão do trabalho em plataformas digitais e a chamada “uberização” intensificam o fenômeno da pejotização e da perda de direitos, criando um ambiente no qual a lógica de flexibilidade empresarial se sobrepõe à proteção do trabalhador.

Diante desse quadro, especialistas apontam três caminhos urgentes. O primeiro é a adoção de políticas de incentivo à formalização, como simplificação tributária e fortalecimento do regime de microempreendedores individuais, capazes de oferecer uma porta de entrada para milhões de informais. O segundo é o redesenho da proteção social, incorporando trabalhadores por conta própria e de plataformas a um sistema contributivo mais flexível e adaptado às novas realidades do trabalho.

Por fim, o investimento em educação e qualificação profissional continua a ser o instrumento mais eficaz de longo prazo para romper o ciclo de precariedade e ampliar as oportunidades de mobilidade social.

PROBLEMA ESTRUTURAL – O Brasil vive, portanto, um momento de encruzilhada. A queda recente nos empregos formais não pode ser interpretada como um fenômeno conjuntural isolado, mas como parte de um problema estrutural que vem se arrastando há décadas: a incapacidade de consolidar um mercado de trabalho robusto, inclusivo e capaz de garantir renda estável à maioria da população.

Se não houver ação coordenada do Estado, das empresas e da sociedade civil, o país corre o risco de perpetuar uma contradição perversa — crescimento econômico acompanhado de precariedade laboral, desigualdade e desproteção social. O desafio está posto, e dele dependerá não apenas a solidez da economia, mas também a coesão social das próximas gerações.

É um péssimo sinal Moraes representar a polarização política

Sanções contra Alexandre de Moraes: Trump vai reverter 'quando receber as  informações corretas', diz ministro - BBC News Brasil

Com seu radicalismo, Moraes prejudica a democracia

Merval Pereira
O Globo

A mais recente pesquisa Quaest aponta que 55% dos entrevistados consideram justa a prisão domiciliar de Bolsonaro e 39% a consideram injusta; e 49% não estão de acordo com as sanções do governo americano impostas ao ministro Alexandre de Moraes, enquanto 39% estão de acordo.

Outra pesquisa, da Atlas/Intel, diz que 49% aprovam a posição do ministro, e 51% desaprovam. O ministro Alexandre de Moraes representa a polarização política que vigora no país hoje. É um mau sinal, porque o STF passa a ser parte da questão, e deveria estar acima das disputas políticas.

PLAYER POLÍTICO – Na verdade, sempre teve envolvimento político, mas nos últimos anos cresceu muito, a partir do mensalão e do petrolão, quando passou a ser um player político, cujas decisões interferem na disputa eleitoral. Foi assim com Lula e está sendo com Bolsonaro. Não é um bom sinal da nossa democracia. Mas no mundo inteiro está assim.

Nos EUA, Trump faz o que quer e a Suprema Corte atua como apoio, quando as questões chegam até lá. É um reflexo da nossa política atual, de confrontação e do uso do poder judiciário para fortalecer o poder político.

 Muitos governos controlam a Suprema Corte com manobras e decisões autoritárias, que garantem a aparência de uma democracia, mas no fundo estão sendo controladas pelos governos autoritários. É assim que a coisa anda por esse nosso mundo conturbado.

A família Bolsonaro deixará que o bolsonarismo sobreviva sem ela à frente?

Indiciado, Eduardo Bolsonaro chama diálogos contra STF de normais

Eduardo Bolsonaro é o Chacrinha que veio complicar

Mario Sabino
Metrópoles

Jair Bolsonaro está se conformando com a realidade de que não será candidato em 2026. Estará preso, e só falta definir o tamanho da cana no julgamento que começa na semana que vem.

Agora, Eduardo e Carlos Bolsonaro precisam se convencer disso, visto que Flávio já parece aceitar o irremediável. No caso de Eduardo, acrescente-se uma dificuldade para o convencimento: a candidatura impossível do pai lhe serve para acalentar o sonho de ser o substituto do insubstituível.

OPERAÇÃO TARCÍSIO – Na visão dele, explicitada na rede social X, está em curso uma operação política da chamada direita permitida para o pai ser forçado a apoiar Tarcísio de Freitas desde já, embora ele não cite o nome do governador de São Paulo:

“Se houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com base em chantagem. Acho que já deixei claro que não aceito chantagens. Qualquer decisão política será tomada por nós. Não adianta vir com o papo de ‘única salvação’, porque não iremos nos submeter. Não há ganho estratégico em fazer esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento.”

Ele acredita que o julgamento é “a faca no pescoço” do seu pai, “o meio de pressão eficaz para forçar Bolsonaro a tomar uma decisão da qual não possa mais voltar atrás”.

MIL VEZES – Eduardo arremata que “quem compactua com essa nojeira pode repetir mil vezes que é pró-Bolsonaro, mas não será percebido como apoiador e muito menos como merecedor dos votos bolsonaristas. São com atitudes — e não com palavras — que mostramos quem somos. Antes de mais nada, caminhar com Bolsonaro significa ter princípios, coerência e valores”.

O recado para Tarcísio de Freitas e para quem o apoia não poderia ser mais claro.

A questão, no entanto, transcende a eventual candidatura do governador paulista. É saber se os Bolsonaro vão permitir que o bolsonarismo sobreviva sem Jair ou qualquer outro integrante do clã à frente ou se vão preferir seguir a máxima atribuída originalmente à Madame de Pompadour, amante de Luís XV: “depois de nós, o dilúvio”.

Piada do Ano! Hugo Motta fará “visita de cortesia” a Bolsonaro

Oposição se irrita com proximidade de Hugo Motta com o governo - PlatôBR

Motta vai fazer visita durante o julgamento no Supremo?

Pedro Teixeira
da CNN

Alguns parlamentares do PL (Partido Liberal) articulam, nos bastidores, para que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), faça uma visita ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cumpre prisão domiciliar em Brasília.

A proposta já teria sido apresentada ao próprio Bolsonaro, que teria concordado com o encontro, e também a Hugo, que, segundo interlocutores, demonstrou disposição para a visita.

AVAL DE MORAES – Para que o encontro ocorra, no entanto, será necessário o aval do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), responsável pelas medidas cautelares impostas ao ex-presidente.

Desde 4 de agosto, Bolsonaro está em prisão domiciliar por descumprimento de restrições determinadas pela Justiça. As visitas sem autorização estão limitadas a familiares diretos e advogados.

De acordo com fontes próximas ao ex-presidente, Bolsonaro teria pedido recentemente aos deputados do PL que aguardassem alguns dias antes de pressionar Hugo para pautar projetos de interesse da bancada, a fim de evitar novos desgastes com o presidente da Câmara.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vejam o altíssimo grau de surrealismo em que vive a política brasileira. A proposta é o que se chama ideia de jerico. A simples disposição de visitar Bolsonaro em pleno julgamento do Supremo é uma demonstração gratuita e veraz de solidariedade a ele. A justificativa é uma tremenda enrolação, pois os líderes do PL avaliam que uma eventual visita do presidente da Câmara serviria como um gesto simbólico de aproximação com a oposição e poderia fortalecer a articulação política do partido para o segundo semestre. Quem pode levar isso a sério? (C.N.)

Trump ameaça sanções contra países que regulam ou tributam redes sociais

Charge do Duke: redes sociais são terra de ninguém? - Rádio Itatiaia

Charge do Duke (Rádio Itatiaia)

Vinicius Torres Freire
Folha

Donald Trump atropela as instituições americanas, públicas ou privadas, como universidades e escritórios de advocacia; ameaça empresas por meio de extorsão, faz o diabo. Pode estar mais perto de mandar no banco central, no Fed.

Seja lá o que se pense a respeito de bancos centrais, o BC americano é um dos motivos principais do crédito, da confiança, no mercado dos títulos da dívida do governo dos Estados Unidos (isto é, dos empréstimos para o governo federal americano).

DEVE 30 TRILHÕES – O Fed é mais do que isso, mas o exemplo é relevante, aqui e agora. Trata-se de um mercado, de uma dívida, de US$ 30 trilhões, o equivalente ao valor de 14 PIBs do Brasil. No limite, um Fed bananeiro pode afetar o crédito do governo e da economia americana.

Pois bem. Trump não está nem aí. Se não tem receio de balançar as estruturas financeiras do país, por que teria problemas em dar mais tiros em países como o Brasil?

Nesta mesma semana em que tenta decapitar uma diretora do Fed, Trump anunciou que vai aumentar o imposto de importação (“tarifas”) de produtos de países que regulem ou também tributem as “big techs”.

MAIS ENCRENCA – Isto é, Trump ameaça mais encrenca com União Europeia, Canadá, Coreia do Sul e países como o Brasil, que já está sob investigação americana, o que pode redundar em novas sanções.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva está para enviar ao Congresso um ou dois projetos de regulação de “big techs”, plataformas sociais, essas coisas. Afora novas turumbambas no Congresso, deve fazê-lo no setembro do julgamento de Jair Bolsonaro, outro motivo possível de mais tiros no Brasil.

No que interessa a ele, Trump teve sucesso no “tarifaço”. Dobrou ou ignorou todos os países, com exceção da China, que respondeu com chumbo na mesma medida, porque pode. Ameaça intervenções variadas em semicondutores, produtos farmacêuticos, móveis, jujuba, quem sabe.

SEM CONTESTAÇÃO – Até agora, não tem contestação jurídica ou oposição política relevantes nos Estados Unidos. Não teve de se preocupar nem mesmo com os povos dos mercados, que pelo menos nesta terça-feira não deram a mínima para o plano de decapitar Lisa Cook, a diretora do Fed.

Juros e preços de ações se moveram como em um dia tedioso de fim de férias de verão —nada. Em abril, na semana das “tarifas da libertação”, o tamanho da maluquice ao menos levou Trump a recuar.

Trump demitiu ou acredita ter demitido Cook —pode vir a ser um caso enrolado e comprido na Justiça. O presidente dos Estados Unidos indica os sete diretores do conselho do Fed, que sempre votam no que fazer da taxa básica de juros (Trump já tem dois nomeados, vai indicar um terceiro, seu ideólogo econômico, Stephen Miran, e pode ter mais uma vaga na mão, se tiver a cabeça de Cook).

EM RODÍZIO – Os sete do conselho são acompanhados de mais cinco votantes: o presidente regional do Fed de Nova York e outros quatro dos doze chefes dos Feds regionais (em rodízio). O conselho pode encrencar a nomeação dos presidentes regionais, a cada cinco anos, como será o caso em 2026.

Em resumo, Trump pode ter uma diretoria para chamar de sua no ano que vem. Pode não nomear gente tão lunática e despreparada como é aquela que ocupa mais da metade de seu secretariado (ministério). Mas é grande o risco de o BC dos EUA fazer também parte do admirável mundo novo de Trump.

Se Trump faz o que faz com um pilar do centro do capital, acha mesmo que é o imperador do mundo, como diz Lula. O que vamos fazer para fugir dos tiros?

Tribunal cita “grau máximo” de risco de fuga e mantém Zambelli presa

Deputada Federal Carla Zambelli no Congresso Nacional

Zambelli e o marido estão com as contas confiscadas

Deu em O Globo

A Justiça italiana decidiu que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ficará presa. A deliberação foi divulgada um dia depois de a parlamentar passar por uma audiência na Corte de Apelação de Roma. O tribunal avaliou que existe “grau máximo” de risco de fuga da brasileira, caso ela fosse solta.

Nesta quarta-feira, o tribunal encerrou sua sessão sem analisar se Zambelli poderia aguardar em liberdade uma decisão sobre o pedido de extradição para o Brasil, como pedira a defesa dela. O juiz responsável pediu mais tempo para avaliar os documentos apresentados.

LAUDOS MÉDICOS – Os juízes analisaram laudos médicos e afirmaram que Zambelli tem condições de seguir detida. Com a nova decisão, reportada pelo g1, a parlamentar continuará presa no complexo penitenciário de Rebibbia, nos arredores de Roma.

A defesa da parlamentar pediu que Zambelli, considerada foragida da Justiça brasileira, fosse solta enquanto não há uma deliberação sobre a transferência ou não ao Brasil.

Os advogados de Zambelli citaram motivos de saúde para embasar o pedido de soltura e alegaram que o governo brasileiro não requereu a prisão preventiva dela. A Corte Suprema da Itália, no entanto, já havia afirmado que a inclusão de um acusado na difusão vermelha da Interpol, como ocorreu com a deputada, equivale a um pedido de prisão.

TUDO NORMAL – Segundo informações do laudo médico-legal apresentado à Justiça a pedido do governo italiano, antecipado pelo UOL e confirmado pelo GLOBO, as condições clínicas da deputada não impedem sua permanência na prisão nem uma eventual transferência para o Brasil.

Durante sua audiência de custódia anterior, a parlamentar relatou estar se sentindo mal e precisou receber atendimento médico. Depois do episódio, a sessão foi suspensa e remarcada para ser retomada nesta quarta.

A defesa da parlamentar argumentou que ela sofre uma série de problemas “físicos e psicológicos”, entre eles fibromialgia, que acarreta dores generalizadas pelo corpo, e depressão”. A lista de doenças foi apresentada no tribunal como um dos argumentos para que ela respondesse ao processo em liberdade ou tivesse a prisão convertida em domiciliar.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O advogado está no caminho certo, ao alegar que não existe o menor risco de fuga. Pelo contrário, o ministro Moraes bloqueou não somente as contas bancárias dela, como também do marido, o que é ilegal, pois ele nem está sendo processado. Zambelli, portanto, depende da prisão para se alimentar, comprar remédios etc. O marido deve estar sendo sustentado por parentes e amigos. Na verdade, Moraes condenou o casal à pena de morte, por falta de dinheiro. (C.N.) 

Isenção de Imposto de Renda para até R$ 5 mil mensais empacou no Centrão

Isenção de IR sozinha piora desigualdade, diz Fazenda - 13/06/2025 -  Mercado - Folha

Charge do Galvão Bertazzi (Folha)

William Waack
da CNN

O governo brasileiro pediu ao Congresso uma cereja para o bolo. Como se sabe, o bolo seria uma série de programas econômicos de cunho principalmente assistencialista, voltada para as faixas de renda nas quais o presidente Lula (PT) acha que precisa ganhar um reforço nas próximas eleições. A cereja é a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

O Centrão ensaiou a entrega aprovando a tramitação em regime de urgência dessa matéria tão cara eleitoralmente para o governo. Mas onde está a cereja?

COMPENSAÇÃO – Empacou no fato de que o Congresso – leia-se o Centrão – não parece mesmo disposto a entregar ao governo o que ele acha que quer.

Até topa aprovar nesse regime de urgência a isenção até R$ 5 mil, mas o Planalto que se vire para conseguir a compensação dessa isenção, que deve custar aos cofres públicos aproximadamente R$ 25 bilhões, dependendo de quem calcula.

O grande problema para o governo não é, no momento, enfrentar uma campanha ricos contra pobres, como Lula tratou de carimbar o Congresso, mas enfrentar uma vingança da oposição pela qual a faixa de isenção seria até ampliada, com o Planalto tendo que correr para arrumar alguma compensação, que não poderia, evidentemente, ser mais impostos.

ELEIÇÕES DE 2026 – O pano de fundo de tudo isso é claramente as eleições do ano que vem, para as quais o petista quer do Centrão a entrega de matérias que são consideradas estratégicas para o governo, além de lealdade, como Lula acabou de cobrar em reunião ministerial.

Brasil perdoa todos os anistiados, exceto quem comete o crime de ser pobre…

Renda da população mais pobre cai 20% e ricos já ganham mais que antes da  crise | Celso Giannazi

Charge do Jean Galvão (Arquivo Google)

Conrado Hübner Mendes
Folha

Luiz Fux, Flávio Dino e Alexandre de Moraes mantiveram condenação de duas mulheres por furto de R$ 14 e de pedaço de carne. André Mendonça, Nunes Marques e Dias Toffoli negaram liberdade a homem que furtou produtos no valor de R$ 62. Dois exemplos recentes da rejeição do princípio da insignificância em ações de habeas corpus no STF. Crime sem violência, sem ameaça, sem prejuízo relevante. Só pobreza.

Há distinção de classes dentro da legalidade. Mesmo não escrita na letra da lei, aparece nas práticas institucionais. Nas entreletras da lei, o Estado de Direito discrimina. Dá tratamento diverso e desvantajoso ao pobre.

RICO E POBRE – A sociedade brasileira se comprometeu, por meio da Constituição de 1988, a reduzir desigualdades, erradicar pobreza e combater causas da pobreza. Mas nossa poderosa vulgata sobre riqueza e pobreza faz inferências moralmente cruéis e empiricamente ignorantes sobre o indivíduo rico e pobre, sobre as qualidades de caráter que explicam riqueza, os defeitos que justificam pobreza. E bloqueou a promessa.

Pobre tem vício, rico tem virtude. Pobre é dotado de preguiça, burrice e inveja. E doença. E falta de tempo. E falta de saúde e educação. E vício da má alimentação. E culpa pela insegurança alimentar.

Padece de dependência do Estado, de “vício em Bolsa Família”. E da mania de engravidar. Pobreza é demérito na “loteria do nascimento” (vale ler livro de Michael França e Filipi Nascimento).

FIBRA E ESFORÇO – Ricos somos dotados de fibra e esforço, propósito e inteligência. E berço. E herança. E boa escola. E escrivaninha. E tempo livre. E sono. E alimentação saudável. E rede social não virtual. Geramos emprego, fazemos a economia crescer. Riqueza é mérito individual.

Esses vícios e virtudes presumidos geram efeitos jurídicos. Ricos recebemos subsídio, incentivo e isenção. Perdão, anistia e desoneração. E supersalário. Gozamos da simpatia judicial e policial. Gozamos da presunção de legalidade. De segurança no espaço privado.

Podemos pagar advocacia da litigância de má-fé, das nulidades e dos recursos criativos (“quem tem sai na frente”, mostrou o sociólogo Marc Galanter). “Ser rico não é pecado”, confessou João Camargo, “mas não dá direito à moleza”, respondeu Armínio Fraga.

POBRE SEM LOBBY – Pobre paga mais imposto e leva pejotizaçāo. Sofre abordagem policial com cacetete e tiro. Sofre antipatia judicial e policial, violência e segregação no espaço público. Sofre presunção de ilegalidade.

Não tem lobby político nem advocatício. No conflito distributivo, corte de gastos costuma empobrecer o pobre. Ricos tendemos a ter “déficit de compaixão”, diz a psicologia.

Há fome em São Paulo. Quase ninguém assume autoria desse algoritmo da cultura nacional. Soa caricato demais, imoral demais.

DISCRIMINAÇÃO – Esse senso comum compilado sintetiza um código da discriminação, e segue influenciando nossos reflexos verbais, políticos e jurídicos. Causa não só derrotas distributivas como desequilíbrios punitivos.

O regime jurídico não escrito da pobreza, em especial o regime penal e prisional da pobreza, ilumina a depravada contradição dos recentes atos por anistia da delinquência política serial.

Existe virtude no perdão, a depender de quem se perdoa, por quais razões. O mesmo país que dá anistias formais e informais a criminosos públicos, pela via legislativa, judicial e por obstrução monocrática do STF, não perdoa o crime de pobreza.

PF em Brasília já tem cela especial pronta para Bolsonaro cumprir pena

Bolsonaro tinha “pleno conhecimento” de plano para matar Lula, conclui PF |  ac24horas | Notícias do Acre

Bolsonaro confirma que não irá assistir ao julgamento

Cézar Feitoza
Folha

Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) têm avaliado que uma prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por eventual condenação pela tentativa de golpe de Estado não deve ser cumprida em um quartel do Exército. A avaliação parte de uma leitura no Supremo de que uma possível detenção de Bolsonaro em área militar poderia precipitar movimentos de apoiadores do ex-presidente em área próxima ao QG do Exército —uma reedição dos acampamentos golpistas de 2022.

Diante do receio, passaram a ser consideradas nos bastidores duas possibilidades. Uma é a reserva de uma cela especial no Centro Penitenciário da Papuda, em Brasília. A Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal é outra alternativa.

CELA ESPECIAL – A PF já deixou uma cela especial pronta em sua sede regional de Brasília por precaução. A decisão foi tomada com base na possibilidade de o ex-presidente ser alvo de uma prisão preventiva.

A detenção em uma superintendência da PF seria uma forma de o Supremo dar o mesmo tratamento a Bolsonaro que a Justiça Federal deu ao presidente Lula (PT). O petista ficou preso por 580 dias na sede da corporação em Curitiba, condenado por corrupção na esteira da Lava Jato.

A cela especial na PF é uma sala improvisada para custódia individual, com banheiro, cama, mesa e televisão. São características semelhantes ao espaço ocupado por Lula durante sua detenção.

SUPERLOTAÇÃO – Já a Papuda vive uma crise de superlotação há mais de uma década. Um relatório produzido pelo Ministério Público do Distrito Federal mostrou que no fim de 2024 havia 16.151 presos no centro penitenciário.

O número representa uma superlotação de 48%, com déficit de 5.273 vagas. O Ministério Público ainda diz que encontrou, durante inspeções, celas para oito pessoas ocupadas por 25.

“Os internos dividiam as camas; alguns dormiam em redes improvisadas, e outros em colchões no chão. Devido ao espaço limitado, alguns colchões eram posicionados próximos à área de banho e sanitários, o que levava ao contato com a umidade, provocando relatos de mofo e condições insalubres”, diz o relatório.

EXEMPLO DE COLLOR – No cenário de prisão na Papuda, Bolsonaro teria direito a uma sala especial. O precedente mais recente é o do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que passou uma semana detido numa sala improvisada do presídio Baldomero Cavalcanti, em Maceió.

O ministro Alexandre de Moraes permitiu que Collor escolhesse em qual cidade cumpriria sua pena. As opções eram Maceió e Brasília, e o ex-presidente escolheu a capital alagoana.

Uma semana após ser preso, Collor conseguiu ser transferido para prisão domiciliar, sob a alegação de ter problemas de saúde e idade avançada (está com 76 anos). Ele tem diagnóstico de Parkinson, e Moraes considerou que o tratamento da doença no presídio não seria adequado.

SIITUAÇÃO DE SAÚDE – Jair Bolsonaro tem 70 anos e enfrenta problemas de saúde. Ele vem sofrendo com crises de soluço que, por vezes, levam a vômitos. Fez exames médicos nas últimas semanas para investigar uma possível pneumonia. O resultado, segundo seus médicos, apresentou quadro de infecções pulmonares, esofagite e gastrite.

A situação de saúde do ex-presidente também deve ser considerada na definição de sua eventual condenação. Um ministro do Supremo afirmou à Folha que a permanência de Bolsonaro em prisão domiciliar não está descartada.

O Exército será um dos principais afetados com o julgamento do núcleo central da trama golpista. A Primeira Turma do STF começa a análise do processo na próxima terça-feira (2) e prevê sua conclusão em 12 de setembro. Seis dos oito réus são integrantes das Forças Armadas; cinco são do Exército.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O Exército não deixará preparadas celas para o cumprimento das possíveis penas. A Força decidiu esperar as decisões do STF para definir os caminhos a tomar. E não lhe faltam salas especiais para abrigar seus amotinados. Todo quartel tem salas (C.N.)

No Rancho Fundo, onde aperta a saudade desse povo brasileiro

Lamartine Babo criou clássicos da música brasileira e embalou carnavais -  Rádio Itatiaia

Lamartine Babo fez a letra dessa canção

Paulo Peres
Poemas & Canções

O radialista, músico e compositor mineiro Ary de Resende Barroso (1903-1964) e o advogado e compositor Lamartine de Azeredo Babo, na letra de “No Rancho Fundo”, falam das desilusões amorosas de um cantor humilde na cidade grande. O samba-canção “No Rancho Fundo” foi gravado por Elisa Coelho, em 1931, pela RCA Victor.

O RANCHO FUNDO
Lamartine Babo e Ary Barroso

No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade contam coisas da cidade.
No rancho fundo, de olhar triste e profundo,
Um moreno conta as mágoas tendo os olhos rasos d’água.
Pobre moreno, que de tarde no sereno
Espera a lua no terreiro tendo o cigarro por companheiro.
Sem um aceno, ele pega da viola
E a lua por esmola vem pro quintal deste moreno.

No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo, 
Nunca mais houve alegria nem de noite nem de dia.
Os arvoredos já não contam mais segredos
E a última palmeira já morreu na cordilheira.
Os passarinhos internaram-se nos ninhos
De tão triste esta tristeza enche de trevas a natureza.
Tudo por quê? Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno para uma casa de sapê

O que fazer com os milhões que querem votar na extrema direita por convicção?

Charges sobre democracia - 07/08/2020 - Política - Fotografia - Folha de  S.Paulo

Charge do Benett (Folha)

Fabiano Lana
Folha

Por décadas, o Brasil viveu um consenso ilusório e ingênuo. Imaginava-se que o fim de duas décadas de ditadura representaria a união de todo um País em torno da democracia e uma série de valores compartilhados. Que agora as tarefas da sociedade eram outras, mais práticas. Como superar a inflação, a miséria, a desigualdade. As disputas pelo poder seriam entre os grupos políticos mais capazes de lidar com a missão econômica e social.

Nessa utopia prestes a se realizar na cabeça dos ludibriados, o Brasil seria formado por um povo gentil e contaria com grandes artistas, cantores, compositores, atores, a dar bênçãos aos nossos administradores.

PT e PSDB – A eleição de Fernando Collor em 1990 foi considerada um equívoco de trajetória, logo corrigido com um impeachment. O Brasil, portanto, seria governado por duas agremiações sociais-democratas, o PT, que tendia mais ao socialismo, e o PSDB, mais próximo do liberalismo.

Mas essa visão rósea da sociedade deixava de fora milhões de pessoas que eram saudosas do regime militar, que não viam com bons olhos a progressiva liberalidade na questão dos costumes, que queriam políticas fortemente repressivas na segurança pública, que mantinham o trinômio “pátria, família e religião”. E, do ponto de vista da cultura, não viam gente como Chico Buarque, Caetano Veloso ou Gilberto Gil como ídolos musicais, muito pelo contrário.

NUM PRIMEIRO MOMENTO – Votavam no PSDB, num primeiro momento, pelo êxito do Plano Real; e, num segundo momento, não exatamente pelos valores dos tucanos, mas para evitar que Lula e o Partido dos Trabalhadores tivessem poder.

De alguma maneira, a paranoia anticomunista se manteve viva durante a Nova República e os tucanos e petistas eram igualmente alvos. O filósofo Olavo de Carvalho defendia essa tese em seus artigos, mas era visto apenas como um doidivanas. Publicamente, quase ninguém se dizia de direita – era o equivalente a um pecado.

Nem mesmo o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen, aceitava o rótulo. Direita era estar associado não só à ditadura. Mas também tinha a ver com insensibilidade social, truculência, falta de modos, anacronismo, falta de gosto – cafonice, enfim.

DIREITISTAS – Foram nesses momentos que o PT soube subjugar o PSDB, apenas taxando seus integrantes de “direitistas”. Os tucanos se deprimiam com a acusação e nunca reagiram efetivamente.

Foi preciso uma grande crise política, econômica e moral – a combinação de recessão e Lava Jato -, somada com o advento das redes sociais, onde cada cidadão é um palanque – para a verdadeira direita sair do armário, sob a liderança do até então obscuro deputado do baixo-clero, Jair Bolsonaro.

Agora, os direitistas tinham a opção de varrer do mapa tanto o petismo quanto o PSDB. Conseguiram com relação aos tucanos (sem contar os motivos internos da sigla).

NÃO É DEMOCRATA – Jair Bolsonaro foi eleito democraticamente em 2018. A questão é que tudo indica que seu apreço pela democracia não seja verdadeiro, assim como o de boa parte de seus eleitores.

Hoje, com o líder prestes a ir para cadeia, bolsonaristas bradam que vivemos em uma ditadura. Ora, ditadura era o que eles queriam implantar e regime do qual têm nostalgia. Que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, algoz de Bolsonaro, cometeu excessos, hoje pouca gente nega.

A questão é que odeiam Moraes não pelos seus erros, como as excessivas penas dos vândalos de 8/1/23, mas pelo acerto de possivelmente condenar os líderes golpistas malfadados, de dezembro de 2022.

HÁ UM DILEMA – Porém, a democracia tem um dilema. Como lidar com milhões e milhões de pessoas radicais, que votaram em Bolsonaro não apenas para evitar o PT, mas por consonância de ideias com o líder. Há quem defenda extirpá-los da sociedade, censurá-los, não publicar suas opiniões nos jornais, e até mesmo prendê-los. Ou seja, há quem proponha soluções autoritárias para acabar com o autoritarismo.

A política, por sua vez, parece caminhar em apresentar suas soluções. A direita cogita lançar candidatos sem o sobrenome Bolsonaro na disputa com Lula em 2026 – para o desespero e indignação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que ainda sonha com essa possibilidade. A aposta centro-direitista seria evitar um Bolsonaro em disputa pela presidência para colher os votos dos bolsonaristas sem opção e dos moderados. O tempo vai dizer se a estratégia funcionará.

A tarefa passa também por convencer milhões de que o bolsonarismo – que tantos colocaram suas esperanças e convicções – na verdade, é um movimento político arriscado, regressivo e golpista. Convencer que, se o objetivo for encontrar um remédio para derrotar o petismo, o bolsonarismo tornou-se um veneno a contaminar toda a sociedade. E, por último e mais importante, de ponto de vista do consentimento: hoje, o bolsonarismo, por provocar ojeriza nos centristas, tem ajudado Lula e o PT a se reeleger.

Lula e Tarcísio: o prenúncio de uma disputa central em 2026

Lula está disposto a enfrentar Tarcísio e disputar um quarto mandato

Pedro do Coutto

O cenário eleitoral de 2026 começa a ganhar contornos cada vez mais nítidos com a sinalização de que o presidente Lula da Silva está disposto a disputar um quarto mandato e já prepara terreno para enfrentar aquele que desponta como seu principal adversário: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Ao assumir publicamente a disposição de entrar novamente no jogo, Lula não apenas projeta sua imagem de liderança política consolidada, mas também antecipa uma polarização que, segundo analistas e pesquisas recentes, tende a marcar o próximo pleito. Outros governadores antes cogitados, como Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Eduardo Leite, parecem perder espaço nesse tabuleiro, deixando o embate concentrado em duas figuras centrais.

VANTAGEM – Esse duelo, no entanto, carrega características que podem definir os rumos da campanha. Enquanto Lula tem a vantagem institucional de permanecer no cargo durante a disputa, beneficiando-se do alcance da máquina federal, Tarcísio precisa deixar o governo paulista seis meses antes do pleito, renunciando ao cargo em abril de 2026.

Essa descompatibilização cria um ponto de inflexão: de um lado, o governador terá de provar que mantém força política sem o peso da caneta do Palácio dos Bandeirantes; de outro, Lula poderá articular-se em Brasília, usando a simbologia do “boné azul” como sinal de campanha antecipada e de reorganização de apoios no Congresso.

As pesquisas divulgadas ao longo deste ano reforçam o caráter competitivo dessa disputa. Levantamentos da Quaest e da AtlasIntel mostram um cenário de equilíbrio no segundo turno, com Lula e Tarcísio aparecendo em empate técnico em diversas simulações, embora o presidente tenha conseguido ampliar a vantagem em sondagens mais recentes.

OSCILAÇÕES –  Em contrapartida, dados de institutos como o Futura Inteligência chegaram a indicar um leve favoritismo de Tarcísio, revelando que a disputa será marcada por oscilações e dependerá de fatores ainda em aberto, como a economia, a articulação partidária e a capacidade de cada candidato em atrair o eleitorado de centro.

Mais do que uma eleição, o embate entre Lula e Tarcísio sintetiza duas visões de país. O atual presidente se apresenta como defensor da continuidade do projeto iniciado em 2003 e reeditado em 2022, sustentado por uma frente ampla de alianças. Já o governador paulista encarna a aposta da direita em um nome mais técnico, menos marcado pela polarização tradicional e com capacidade de dialogar com setores empresariais.

Em meio a essa construção, o Brasil se prepara para mais um capítulo de sua história política recente, onde a disputa pelo poder se traduz também em um confronto de estilos, estratégias e, sobretudo, de futuro.

BASE ESTÁVEL – Um elemento a ser observado é como o Congresso e o chamado Centrão se posicionarão diante desse novo cenário. Lula, mesmo com sua experiência, enfrentará dificuldades para manter uma base estável, sobretudo em um ambiente político cada vez mais fragmentado e pragmático. Já Tarcísio, caso consiga costurar apoios fora do eixo tradicional da direita bolsonarista, poderá se apresentar como alternativa viável a setores que hoje se mostram céticos com a polarização, ampliando sua rede de alianças e fortalecendo seu discurso de gestão eficiente.

Por fim, o pano de fundo dessa disputa será a situação econômica do país. Se Lula chegar a 2026 com inflação controlada, crescimento sustentável e programas sociais fortalecidos, terá uma narrativa sólida para defender sua continuidade. Mas se o cenário for de estagnação, desemprego elevado e desgaste fiscal, Tarcísio poderá explorar a promessa de mudança e modernização, apresentando-se como símbolo de uma nova etapa política.

Assim, a eleição de 2026 não será apenas uma escolha entre dois candidatos, mas um teste de confiança da sociedade brasileira sobre os rumos que deseja para a próxima década.

Plano de Moraes é obrigar Bolsonaro a cumprir pena no presídio da Papuda

Brasil terá 1,47 milhão de presos até 2025, aponta Ministério da Segurança  Pública | Jovem Pan

Relatório indica que presídio da Papuda está superlotado

Igor Gadelha
Metrópoles

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia, na manhã desta terça-feira (10/6) o segundo dia de interrogatório dos réus acusados de tentativa de golpe de Estado para manutenção do ex-presidente Jair Bolsonaro no poder

O ministro do STF Alexandre de Moraes planeja ordenar que Jair Bolsonaro cumpra a pena no Complexo da Papuda, em Brasília, caso seja condenado no inquérito do golpe.

TERÇA-FEIRA – O julgamento do ex-presidente no âmbito da ação golpista está marcado para começar na terça-feira (2/9) e seguir até o dia 12 de setembro, na Primeira Turma do Supremo.

Mas um relatório alerta para superlotação na Papuda e mais de 400 detentos fugiram do sistema penitenciário. Além do número de encarcerados, existem 5.721 mandados de prisão em aberto na capital federal, de acordo com o Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões (BNMP)

Inicialmente, especulou-se que Bolsonaro poderia cumprir pena em uma unidade do Exército — o ex-presidente é militar da reserva — ou em uma sala na superintendência da Polícia Federal.

NO PRESÍDIO – Fontes graduadas do Judiciário próximas a Moraes garantem, porém, que o ministro já indicou que, inicialmente, ordenará que Bolsonaro cumpra a pena em uma cela especial na Papuda.

Segundo essas fontes, a sala que chegou a ser preparada pela PF em Brasília seria apenas para o caso de Moraes decretar a prisão preventiva de Bolsonaro em regime fechado antes do julgamento.

Integrantes da cúpula da Polícia Federal admitem que, a rigor, o Código de Processo Penal prevê que autoridades fiquem reclusas em unidades especiais apenas em casos de prisão cautelar.

OUTROS CONDENADOS – O plano do ministro do Supremo, de acordo com aliados, é também mandar para a Papuda outros condenados no inquérito do golpe, criando o que aliados do ministro chamam de “ala golpista”.

“Só um milagre ou uma crise grave de saúde tiram Bolsonaro da Papuda após o julgamento definitivo”, disse à coluna um ministro com acesso direto a Moraes.

Desde o início de agosto, Bolsonaro está detido em prisão domiciliar, por ordem de Moraes. A decisão, no entanto, não se enquadrou como prisão preventiva, embora, na prática, funcione como tal.

SEM OBRIGAÇÃO – De acordo com fontes do Alto Comando do Exército, apesar de Bolsonaro ser capitão da reserva, não há obrigação de ele ser preso em unidade militar. A decisão, segundo a Força, cabe ao juiz do caso.

Outros ex-presidentes presos tiveram tratamento diferenciado quando presos. Lula, por exemplo, ficou detido em uma sala da superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Michel Temer (MDB), por sua vez, ficou preso inicialmente na sede da PF em São Paulo. Depois, foi transferido para o Comando de Policiamento de Choque, da Polícia Militar.

Já Fernando Collor de Mello, que foi preso em abril de 2025, chegou a ser enviado primeiro para um presídio comum em Maceió (AL) e só depois foi autorizado a ir para prisão domiciliar.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGCom toda certeza, Moraes quer humilhar Bolsonaro. É pena. Juiz não pode ser vingativo. (C.N.)

Tagliaferro confirma participação em audiência no Senado sobre erros de Moraes

Quem é Eduardo Tagliaferro, que ameaça expor Moraes

EduardoTagliaferro é como “o homem que sabia demais”

Deu no Estadão

O perito criminal Eduardo Tagliaferro, que foi chefe da assessoria de combate à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na gestão de Alexandre de Moraes, confirmou nesta quarta-feira, 27, que vai participar por videoconferência de audiência na Comissão de Segurança Pública do Senado no próximo dia 2.

A reunião do colegiado presidido pelo senador Flávio Bolsonaro (PL) será na mesma data do início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.

NO CONVITE – “Confirmado”, escreveu Tagliaferro no X (antigo Twitter), com imagens do convite para a audiência enviado pela comissão da Casa. O requerimento foi aprovado nesta terça-feira, 26. O perito criminal está na Itália e, na semana passada, teve a extradição solicitada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

Como mostrou o Estadão, Tagliaferro tem se manifestado nas redes sociais, com o apoio de bolsonaristas, e ameaça expor bastidores do funcionamento do gabinete de Moraes.

Tagliaferro passou de assessor de confiança de Moraes no TSE para indiciado por vazamento de mensagens da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação e, mais recentemente, a garoto propaganda do bolsonarismo sobre as supostas arbitrariedades praticadas pelo magistrado.

OUTROS CONVIDADOS – Além de Tagliaferro, os senadores convidaram os magistrados Marco Antônio Martins Vargas, ex-juiz auxiliar de Moraes, e Airton Vieira, que foi ministro e braço direito do ministro por seis anos.

Outro convidado foi o jornalista Michael Shellenberger, que é responsável pela publicação do relatório “Arquivos do 8 de Janeiro: por dentro da força-tarefa judicial secreta para prisões em massa”.

O documento produzido por Shellenberger foi utilizado como justificativa para o convite dos ex-funcionários do gabinete de Moraes. O relatório reúne mensagens vazadas entre Tagliaferro e Vieira e outros documentos sobre a atuação de Moraes e tenta demonstrar um direcionamento do ministro contra bolsonaristas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGNo mesmo dia, começam dois calvários diferentes – no Supremo, o de Bolsonaro, e no Senado, o de Moraes. Não esqueçam de comprar pipocas, serão ocasiões muito especiais. (C.N.)

Israel mata jornalistas em Gaza, e o conivente Trump sonha com Nobel 

Médicos palestinos atendem um homem ferido após o ataque de Israel ao hospital Nasser, em Khan Yunis

Médicos atendem palestino ferido em ataque ao hospital

Wálter Maierovitch
do UOL

Num ataque com drones, o Exército de Israel (IDF) matou 20 pessoas em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. Entre os mortos, estavam cinco jornalistas em trabalhos de cobertura da guerra, de agências de notícias como Reuters, Associated Press e Al Jazeera.

As mortes ocorreram quando um dos drones atingiu o complexo hospitalar Nasser — em violação ao direito internacional, que prevê regras para ataques a hospitais, enfermarias e barracas de atendimento médico-hospitalar.

DESCULPA FURADA – Depois do ataque com mortes, o Estado-Maior israelense informou ter aberto um inquérito apuratório de responsabilidades.

Quanto ao premiê Benjamin Netanyahu, emitiu um boletim considerado patético. Lamentou as mortes de jornalistas e civis. Frisou que Israel tem como meta eliminar a organização terrorista Hamas e salvar os reféns do ataque de 7 de Outubro, que deixou 1.200 mortos, sendo 800 civis, além de 240 sequestrados.

Disse também respeitar o jornalismo e afirmou que nunca houve intenção de eliminar jornalistas. Em outras palavras, quis passar a ideia de culpa sem dolo.

SEM JUSTIFICATIVA – Na verdade, Netanyahu tenta justificar o injustificável. Lançar drones explosivos perto de hospitais significa assumir o risco de causar mortes. No direito internacional, vale, na análise dos fatos, o chamado dolo eventual, ou seja, diante do ocorrido no complexo hospitalar Nasser, em Khan Younis, não querer diretamente o resultado — 20 mortes—, mas assumir o risco de produzi-lo. Em síntese, não se trata de mera culpa por imprudência ou imperícia.

Israel já eliminou a cúpula do Hamas e sua estrutura de guerra. Prossegue, no entanto, na tentativa de ter o pleno controle da Faixa de Gaza, sem verificar —pois Netanyahu impede, para não ser responsabilizado por omissões na segurança— as causas que facilitaram o ataque terrorista do Hamas.

Além disso, Netanyahu não demonstra interesse em apressar um acordo de cessar-fogo. Não avançam as tentativas pacificadoras desenvolvidas pelo Egito, Catar e Estados Unidos.

NÚMEROS CRESCEM – A tragédia cresce, com 62 mil palestinos mortos, segundo dados do Hamas, confirmados por organismos internacionais e ONGs independentes. Entre as vítimas palestinas, estariam 19 mil crianças.

A tragédia em Khan Younis ocorreu no momento em que o presidente norte-americano Donald Trump — que apoia o premiê israelense Benjamin Netanyahu — intensifica sua campanha para conquistar o Nobel da Paz.

Nem o fracasso do encontro no Alasca com Vladimir Putin, sobre um cessar-fogo na Ucrânia, desanimou Trump. Ele se apresenta como pacificador de seis conflitos: Paquistão, Israel-Irã, Tailândia-Camboja, Ruanda-República Democrática do Congo, Sérvia-Kosovo e Egito-Etiópia.

PROPOSTA CRIMINOSA – Trump já chegou a propor, insanamente, expulsar cerca de 2 milhões de palestinos da Faixa de Gaza para instalar ali um centro turístico de luxo. Só desistiu da ideia quando alertado de que, pelo direito internacional, tratava-se de proposta criminosa.

Além disso, não contesta nem freia as ações de Israel voltadas à ocupação do centro de Gaza (Gaza City), com destruição de casas e prédios e o deslocamento de seus 1 milhão de habitantes, empurrados para o sul da Faixa.

A meta de Netanyahu é, como já aconteceu no passado, ocupar toda a Faixa de Gaza. E há mais. Para manter o apoio de fanáticos religiosos e supremacistas que lhe dão maioria parlamentar, Netanyahu avança na política de assentamentos na Cisjordânia, ocupada e não devolvida aos palestinos.

GRANDE ISRAEL – Com o silêncio de Trump, Netanyahu deu início, na Cisjordânia, ao chamado “Projeto da Grande Israel”. Para religiosos radicais e supremacistas, a área já pertenceu ao reino judeu, nas regiões bíblicas da Judeia e Samaria.

Trump, como qualquer observador atento pode notar, é um ególatra a ponto de se achar merecedor do Nobel da Paz.

No último encontro com líderes europeus sobre a paz na Ucrânia, a egolatria ficou patente quando Trump segredou ao presidente francês, Emmanuel Macron: “Acho que Putin quer fazer um acordo em consideração a mim. Você entende isso? Por mais louco que isso possa parecer”.

Tarcísio deu a Lula um presente que nenhum petista sonhava ganhar

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), segura um boneco de Bolsonaro na Festa do Peão de Barretos

Tarcísio empunha o boneco de Bolsonaro em Barretos

Marcelo Godoy
Estadão

Ao deixar a Academia Militar de Saint-Cyr, o jovem aspirante Charles de Gaulle foi enviado ao 33.º Regimento de Infantaria, em Arras. Ali foi apresentado ao seu primeiro chefe, o coronel Philippe Pétain. “Demonstrou-me o que valem o dom e a arte de comandar.” Essas são as primeiras páginas das Memórias de Guerra do general De Gaulle.

Não é preciso recontar o que se passou nos anos seguintes com a França e os dois personagens desse parágrafo para reconhecer a coragem moral do general diante da capitulação de Pétain ao inimigo.

TRAIDOR DE VICHY – Seu antigo chefe passaria à história como o traidor de Vichy, artífice de um desastroso armistício militar que submeteu seu país não apenas à servidão estrangeira, mas ao nazifascismo. Quando um líder se desvia de princípios e valores que diz defender, não é o subordinado que se torna desleal ao romper; ele apenas reafirma o que aprendeu na caserna.

Se já não bastassem as provas do processo no STF, conversas recém-reveladas entre Jair Bolsonaro e o filho Eduardo reforçam, segundo a PF, que ambos procuraram prejudicar indistintamente o País só para salvar o ex-presidente.

Analistas em Brasília consideram que elas deveriam levar as forças políticas que almejam a Presidência a não mais se envolverem com essa família. Se não por convicção, por cálculo e juízo.

“NADA EM EXCESSO” – Nenhuma perseguição é capaz de desmentir o que foi dito. A Alexandre de Moraes, pode-se lembrar a inscrição no templo de Apolo, em Delfos: “nada em excesso”, como advertência contra a hybris, a arrogância, a incapacidade de respeitar os limites.

Mas juristas reafirmam que há fatos e eles devem ter consequências, ainda que só se conheçam as mensagens de uns e não as de todos os políticos do País.

É nesse contexto que uma estranha compulsão tomou conta de alguns governadores: ir até o fim na associação com Bolsonaro. A imagem de Tarcísio de Freitas brandindo um boneco do ex-presidente na Festa do Peão, em Barretos, parece um meme. Feito pelo PT.

O BONECO DE LULA – Lula sorriu no Planalto. Sidônio abriu champanhe. Nem mesmo em seus sonhos mais desvairados, o petismo poderia sonhar com tal favor.

Haddad disputou a eleição de 2018 sob o signo de ser o “poste de Lula”. Pois Tarcísio concede – e de graça – ao lulopetismo a imagem que marcará a sua campanha: o boneco de Bolsonaro. Algum assessor esqueceu de dizer ao governador que quando ele se apresenta ao lado do boneco do Jair não é o Jair que se transforma em governador.

Nem o mais delirante petista podia imaginar esse presente de Tarcísio: mostrar que a moderação necessária à pacificação do País pode ser trocada por uma prenda que se carrega diante da plateia de uma festa de peão.

Israel bloqueia alimentos e 43 mil crianças podem morrer em Gaza

Entenda como o atual cenário de fome em Gaza se compara a outras crises  alimentares na História

Israel continua impedindo a entrada de alimentação

Jamil Chade
do UOL

Em informe apresentado ao Conselho de Segurança, o Departamento de Emergência da ONU alertou que se nada for feito para garantir o abastecimento de alimentos para Gaza, 43 mil crianças estão sob o “risco de morte” de fome até meados de 2026.

A projeção foi apresentada dias depois de a organização declarar a fome no território palestino e acusar o governo de Israel de estar impedindo a entrega de alimentos.

ALERTA DA ONU – O discurso diante das potências, feito por Joyce Msuya, secretária-geral adjunta para Assuntos Humanitários e Coordenadora Adjunta de Ajuda de Emergência da ONU, ecoou como um alerta nesta quarta-feira.

“Mais de meio milhão de pessoas enfrentam atualmente a fome, a miséria e a morte. Até o final de setembro, esse número poderá ultrapassar 640 mil”, disse Msuya.

Segundo ela, aproximadamente 1 milhão de pessoas estão na Fase 4 de Emergência do ranking que avalia a dimensão da desnutrição, em uma escala de 1 a 5. Mais de 390 mil estão na Fase 3 de Crise. “Praticamente ninguém em Gaza está imune à fome”, afirmou.

DESNUTRIÇÃO AGUDA – De acordo com a ONU, pelo menos 132 mil crianças menores de 5 anos sofrerão de desnutrição aguda entre agora e meados de 2026. “O número daquelas em risco de morte entre elas triplicou, chegando a mais de 43.000”, afirmou. “Para mulheres grávidas e lactantes, esse número deve aumentar de 17 mil para 55 mil”, constatou.

“Sejamos claros: essa fome não é resultado de uma seca ou de algum tipo de desastre natural. É uma catástrofe criada – resultado de um conflito que causou mortes em massa de civis, ferimentos, destruição e deslocamento forçado”, disse a representante da ONU.

A entidade destaca que, em julho, mais de 100 palestinos, em média, foram mortos todos os dias. Trata-se de quase o dobro da média diária registrada em maio. No mesmo período, cerca de 800 mil pessoas foram deslocadas, empurradas para áreas superlotadas que carecem de abrigo e outros itens essenciais.

REGIME DE HORROR – “Esta fome é também o resultado de 22 meses de restrições e compromissos no fornecimento de bens humanitários e comerciais essenciais, sistemas de saúde e nutrição degradado, falta de abrigos adequados e redes de água, saneamento e higiene danificadas, o que acelerou a propagação de doenças e transformou a higiene menstrual num pesadelo para mulheres e meninas”, disse a representante.

A ONU ainda destaca que a fome em Gaza é também o resultado de um sistema de produção alimentar destruído, em que 98% das terras aráveis estão danificadas ou inacessíveis e em que o gado foi dizimado.

De acordo com a representante da entidade, após uma longa pausa, o fornecimento de ração animal foi retomado nos últimos dias em Gaza. “Esses são desenvolvimentos importantes, mas não reverterão a fome nem a impedirão”, disse. “Para atender às necessidades de 2,1 milhões de pessoas famintas e esfomeadas, precisamos de muito, muito mais”, alertou.

Segundo ela, a falta de ação agora terá consequências irreversíveis. “Para acabar com esta crise causada pelo homem, precisamos agir como se fossem nossos pais, nossos filhos, nossa família tentando sobreviver em Gaza hoje”, pediu.

EUA CULPA HAMAS –      Os apelos da ONU foram respondidos de forma enérgica por parte do governo de Donald Trump. Num discurso momentos depois, a delegação americana afirmou “rejeitar a falsidade de que existe uma política de fome em Gaza”.

“Desde o início da guerra em Gaza, Israel permitiu que uma quantidade sem precedentes de mais de dois milhões de toneladas de ajuda chegasse à Faixa de Gaza”, afirmou a embaixadora dos EUA, Dorothy Shea. “Estamos trabalhando em estreita colaboração com o Governo de Israel para aumentar o fluxo de ajuda sem beneficiar o Hamas e estamos vendo resultados tangíveis”, disse.

“Em vez de ecoar narrativas falsas que apenas encorajam o Hamas, prolongam a guerra e prejudicam os civis em Gaza, instamos a ONU e o restante deste Conselho a se unirem a nós no trabalho construtivo para entregar ajuda aos civis que não beneficie o Hamas”, pediu.

Zambelli está presa após audiência, mas seu juiz ainda analisará o caso

Justiça da Itália marca nova audiência no processo de extradição de Carla  Zambelli - Estadão

Carla Zambelli alega estar com problemas de saúde

Michele Oliveira
Folha

Depois de comparecer à Corte de Apelação de Roma, na Itália, para uma nova audiência nesta quarta-feira (27), a deputada Carla Zambelli (PL-SP) voltou ao cárcere de Rebibbia sem uma decisão definitiva sobre se deverá esperar a tramitação do processo de sua extradição dentro ou fora da prisão.

O tribunal, ao encerrar a sessão de cerca de uma hora, preferiu tomar a decisão de forma reservada, que será comunicada diretamente aos advogados. Não foi anunciado um prazo, mas deve ser dentro dos próximos dias.

ESTADO DE SAÚDE – A congressista está detida desde o fim de julho, e seus advogados alegam que o estado de saúde de Zambelli é incompatível com a cadeia. Eles pedem que a Justiça determine medidas menos restritivas, como a prisão domiciliar.

Para decidir, o tribunal encomendou uma perícia médica que atestasse as condições clínicas de Zambelli.

O laudo, apresentado durante a audiência, concluiu que ela pode continuar na prisão. Apesar de terem sido identificados distúrbio depressivo e dificuldades relacionadas ao sono, não foi detectado risco de morte, e eventuais tratamentos podem ocorrer na penitenciária. Ela foi examinada pessoalmente na cadeia e sua documentação sanitária foi avaliada.

CONDENAÇÃO – Zambelli fugiu para a Itália para escapar da condenação de dez anos de prisão determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Ela foi acusada de participar da invasão do sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para emitir um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Sua defesa na Itália, para evitar a extradição, pretende demonstrar que o processo tem “anomalias”, como o fato de “a vítima do suposto crime ser a mesma pessoa que fez a sentença, que decidiu pela execução da sentença e que decidiu a apelação”, afirmou o advogado Pieremilio Sammarco. A deputada Zambelli se diz vítima de perseguição política no Brasil.

Na última sexta-feira (22), ela foi condenada pelo STF a outros cinco anos e três meses de prisão em regime semiaberto por outro caso, referente ao episódio em que sacou e apontou uma arma a um homem na véspera do segundo turno das eleições de 2022.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGUma coisa é fazer justiça, outra coisa, muito diferente é fazer perversidade. Moraes já condenou Zambelli a uma pena exagerada, que a maioria dos assassinos não pega. Além disso, bloqueou as contas bancárias dela e do marido, que não foi condenado a nada, tem ficha limpa e tudo o mais. E ainda chamam isso de Justiça. (C.N.)

Está no fim a carreira de Malafaia como ‘papa dos evangélicos’?

Silas Malafaia foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal na quarta-feira (20)

Malafaia se comporta como se fosse o papa evangélico

Juliano Spyer
Folha

Está em curso uma disputa sucessória para substituir o pastor Silas Malafaia como a voz e a consciência política dos evangélicos? Um outro pastor de direita o criticou publicamente por se apresentar como alguém perseguido por suas crenças.

Após depor na Polícia Federal, Malafaia voltou a chamar o ministro Alexandre de Moraes de ditador e insistiu que não teme ser preso. Convidado para repercutir o caso, o deputado federal Otoni de Paula, que é pastor da Assembleia de Deus, defendeu que o ministro do STF pode ser criticado, mas não por atacar uma religião.

NÃO É O CASO -“Seria perseguição religiosa só se o pastor Silas estivesse no inquérito da Polícia Federal porque estava orando, evangelizando em praça pública, pregando a palavra de Deus. Não é o caso”, disse Otoni em entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews.

Ex-vice-líder do governo Bolsonaro e da bancada evangélica no Congresso, Otoni se reposicionou politicamente após ser rejeitado pelo ex-presidente como candidato para disputar a Prefeitura do Rio em 2024.

Pastor do poderoso Ministério Madureira da Assembleia de Deus, Otoni parece contar com o respaldo de suas lideranças para se projetar como uma nova referência nacional, em um esforço de estancar os problemas criados pela associação das igrejas ao bolsonarismo.

OUTRA NARRATIVA – Otoni vem apresentando uma narrativa alternativa à de Malafaia para orientar a atuação política dos evangélicos. Afirma ser conservador nos valores e, por isso, se identifica como alguém de direita, mas critica os que substituíram o culto a Jesus pela devoção a Bolsonaro.

A imagem mostra um grupo de homens, alguns usando camisetas amarelas, em uma manifestação. No centro, um homem de camiseta azul está com a mão no coração, enquanto é cercado por câmeras e repórteres. Ao fundo, uma multidão se reúne em uma rua, com árvores e sinalização visíveis. A atmosfera parece ser de apoio e mobilização.

Foi a partir desse argumento que Otoni responsabilizou Malafaia por uma eventual prisão. “Eu faço parte da geração que viu o pastor Silas ganhando almas, falando as verdades do evangelho. Mas ele vai ser preso por amor a Bolsonaro, e isso não glorifica Jesus”, disse o deputado. E provocou: “Eu não vou atrapalhar o sonho do pastor Silas, que é ser preso”.

PERDE E GANHA – O posicionamento do deputado reflete a percepção de parte da liderança evangélica de que suas igrejas mais perdem do que ganham ao abraçar o bolsonarismo.

Essa aproximação gerou atritos internos e perseguição a membros que rejeitam o ex-presidente, além de associar ao campo evangélico temas polêmicos, como a defesa do uso de armas.

O bolsonarismo também enfraqueceu a representação política evangélica, já que fiéis passaram a apoiar candidatos conservadores sem vínculos religiosos.

NOVA FRENTE – O argumento de perseguição religiosa é central para Malafaia. O evangelicalismo brasileiro mantém vínculos estreitos com denominações influentes nos EUA, muitas delas entre os apoiadores mais fiéis de Donald Trump.

Ao levar o embate com Moraes ao campo religioso, Malafaia pode abrir nova frente de pressão para que o governo Trump penalize o Brasil e opositores de Bolsonaro.

Já o posicionamento de Otoni sinaliza que parte dos evangélicos começa a contemplar um futuro sem Bolsonaro, que deve ser preso, e sem Malafaia, que perde seu papel de “papa dos evangélicos”.

Efeito Tagliaferro gera reforma na assessoria interna de Moraes

O perito computacional Eduardo Tagliaferro ao lado do ministro Alexandre de Moraes.

Ex-assessor, Tagliaferro ameaça relatar erros de Moraes

Weslley Galzo
Estadão

O vazamento de conversas entre o ex-assessor Eduardo Tagliaferro e o ex-juiz instrutor Airton Vieira, ambos ex-integrantes das equipes do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), provocou uma reforma da assessoria do ministro, que segue desfalcada mais de oito meses após o início das mudanças.

Em janeiro deste ano, Moraes dispensou Airton Vieira da sua equipe no STF sem tornar o processo público ou fornecer informações sobre as mudanças. Entre fevereiro e março, foi a vez dos juízes auxiliares Rogério Marrone de Castro Sampaio e André  Solomon Tudisco deixarem o gabinete do ministro. Sampaio trabalhava com Moraes desde 2018 e Tudisco desde junho de 2024.

SEM COMENTÁRIOS – Procurado, o gabinete não forneceu informação sobre as substituições que ainda precisam ser feitas. Essas dispensas fizeram com o que os juízes de apoio do ministro na condução dos seus mais de 2,7 mil processos passassem de quatro para um no intervalo de três meses.

Apenas o juiz auxiliar Rafael Tamai Rocha se manteve no cargo e foi ele que, em plena tramitação das ações penais do golpe de Estado, assumiu extraoficialmente a função de instrutor.

O juiz Airton Vieira esteve no centro do caso revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, que divulgou áudios em que ele e Tagliaferro compartilhavam fora do rito legal informações do STF para munir as decisões de Moraes no TSE. Um ano após o vazamento das conversas, foragido na Itália, Tagliaferro ameaça divulgar novas mensagens que comprovariam o direcionamento de Moraes em processos contra bolsonaristas.

AMEAÇA DELATAR – O ex-assessor faz barulho nas redes e trata de lembrar Moraes como possíveis falhas na montagem da sua equipe expuseram os bastidores do seu gabinete na condução de processos sensíveis.

Moraes só foi recompor parcialmente o seu gabinete em maio deste ano com a nomeação da juíza auxiliar Luciana Yuki Fugishita Sorrentino, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).

Ela também atuou de forma improvisada como instrutora na ação penal do golpe, tendo sido responsável pela oitiva de dezenas de testemunhas.