Eleições municipais demonstram que a política só atrai os “piores em tudo”

Observe a charge Infere-se sobre a charge:

Charge do Rico (Arquivo Google)

Mario Sabino
Metrópoles

É um lugar-comum dizer que os cidadãos não vivem nos seus países ou nos seus estados. Vivem nas suas cidades, como é repetido em todas as eleições municipais. Lugares-comuns só são comuns porque embutem verdades, com o perdão de outro lugar-comum. Os efeitos de um mau governo municipal são muito mais palpáveis do que os de maus governos nas outras esferas.

Sou paulistano, vivo em São Paulo e me desconsolo ainda mais a cada eleição para prefeito. Acho que não é diferente com você, que mora em qualquer outra cidade do Brasil. Assim como ocorre nos níveis federal e estadual, as eleições municipais nos compelem a escolher entre os menos ruins, visto que a política brasileira virou polo de atração apenas para os piores em tudo.

ERRO DOS PAIS – Costumo brincar que, nos Estados Unidos, quando uma criança diz que quer ser presidente, os pais se enchem de orgulho, ao passo que, aqui, quando uma criança diz que quer ser presidente, os pais se enchem de preocupação e se perguntam onde erraram na educação do filho. Vale para prefeito e para governador.

Tenho um amigo que já foi secretário em mais de uma administração paulistana. Não conheço ninguém que conheça São Paulo como ele. Não conheço ninguém que ame São Paulo como ele. E, no entanto, ele foi continuamente preterido para ser prefeito. Era bom demais para ocupar o cargo.

A política brasileira é polo de atração apenas para os piores em tudo, eu disse. Piores no caráter, piores no ideário, piores na competência. O resultado, no plano municipal, é este aí: temos as cidades mais desoladoras do mundo que se pretende civilizado. Falta-lhes infraestrutura básica e são geralmente horrorosas quando a bela natureza do país não é suficientemente encobridora da má ação dos seus administradores, construtores — e moradores.

PROTEÇÃO COLETIVA – As cidades têm papel decisivo na história humana. Surgiram como forma de proteção coletiva, cresceram como praças de trocas comerciais e evoluíram para espaços de produção intelectual e artística.

Nenhum avanço teria sido possível fora do âmbito urbano, o que faz pensar que também por termos cidades tão precárias, tão difíceis à convivialidade, tão pouco inspiradoras, progridamos pouco nos diversos campos do conhecimento.

O crítico de arte Giulio Carlo Argan, que foi prefeito de Roma há mais de 40 anos, é autor de um livro de ensaios intitulado História da Arte como História da Cidade. Outro dia, peguei a minha edição italiana para constatar, naquela obviedade sempre surpreendente, que os livros amarelecem à medida que os nossos cabelos embranquecem ou caem.

IDEAL E REAL – Em um dos seus ensaios, Giulio Carlo Argan discorre sobre a cidade ideal e a cidade real:

“Em geral, o desenho da cidade ideal implica o pensamento de que, na cidade, se realiza um valor de qualidade que permanece praticamente imutável conforme a quantidade muda, se a premissa é que qualidade e quantidade são entidades proporcionais. A relação entre quantidade e qualidade, antes proporcional e hoje de antítese, está na raiz de toda a problemática urbanística ocidental.”

No Brasil, a cidade ideal nunca esteve no horizonte de ninguém, com a exceção dos criadores de Brasília, cujo Plano Piloto está para ser desfigurado com a nova legislação aprovada pelos capadócios gananciosos dos deputados distritais.

CIDADES INCHADAS – As grandes cidades do país incharam desordenadamente como se fossem acampamentos de refugiados, e todas os projetos de revitalização dos poucos centros históricos vêm falhando miseravelmente. São projetos desconectados da quantidade na sua qualidade.

Estamos muito próximos de outra eleição municipal. Em São Paulo, o que menos importa para os candidatos na liça é a cidade, envolvidos que estão em interesses financeiros, ideológicos ou ambos.

Recoloco o livro de Giulio Carlo Argan na estante, talvez para sempre, e tento não olhar para o cenário de devastação lá fora. Que vença o menos ruim no campeonato dos piores em tudo.

Morre Delfim Netto, ministro do “milagre brasileiro”, quando PIB crescia 11% ao ano 

Morre Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, aos 96 anos, o homem do milagre econômico na ditadura militar

Delfim Netto doou sua imensa biblioteca para a USP

Elio Gaspari

Antonio Delfim Netto, que morreu nesta segunda-feira (12), em São Paulo, foi o ministro da Fazenda mais poderoso da história republicana. Neto de um imigrante italiano que fugiu do eito das fazendas de café e trabalhou no calçamento das ruas de São Paulo no século 19, chegou ao poder em 1967, aos 39 anos. Pouco conhecido, com o sotaque do Cambuci, solteiro, gordo e vesgo, vestia-se de preto com camisas brancas. “Fantasia de viúvo”, explicava.

Delfim chegava cedo ao ministério e saía tarde, quase sempre para uma mesa do fundo do restaurante Le Bistrô, em Copacabana, sentando-se com os amigos que colocara em postos-chave da administração. De um lado o presidente do Instituto Brasileiro do Café (principal produto da exportação nacional). Adiante, o presidente da Caixa Econômica ou o responsável pelo conselho que controlava milhares de preços de produtos.

MILAGRE BRASILEIRO – Ao contrário de Paulo Guedes, que acumulou ministérios, Delfim apenas espalhava seus quadros no tabuleiro do poder. Durante os seis anos em que esteve na Fazenda, a economia nacional cresceu na média 11% ao ano. Era o que se chamou de “Milagre Brasileiro”. Cavalgando-o, poderia ter chegado à presidência da República. A conta era simples:

em 1974 ele sairia do ministério, seria eleito (indiretamente) governador de São Paulo e quatro anos depois substituiria o general Ernesto Geisel no Planalto.

Delfim costumava dizer que a história do Brasil tem enigmas e que um deles foi o desentendimento de D. Pedro I com José Bonifácio, em 1823. Outro foi o surgimento de uma barreira afastando-o dos generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva entre o final de 1973 e o primeiro semestre de 1974. Geisel chegara a admitir que ele continuasse ne ministério. Logo mudou de ideia, até que resolveu cortar-lhe as asas, barrando também sua pretensão de governar São Paulo.

ILUSÃO À TOA – Delfim achava que poderia ser escolhido pelo partido do governo, contra a vontade do Planalto. Iludiu-se vendo tolerância na ditadura a que servia. Geisel estava disposto a tudo para cortar seu caminho, até que Delfim ouviu a sentença: “O regime é implacável”. Meses depois resignou-se aceitando um exílio dourado como embaixador do Brasil na França.

Delfim reaproximou-se do poder numa conversa com o general Golbery. Quando chegou à Granja do Ipê, onde morava o chefe do Gabinete Civil da presidência, ele indicou-lhe o lugar onde deveria sentar-se. “Achei que estaria gravando”. Pode ser que tenha achado, pode ser que não, mas havia um microfone embaixo do sofá e um gravador na cozinha. (Foram colocados pelo coronel que comandava a tenebrosa reserva de mercado dos computadores.

Na ditadura era mais fácil passar por um aeroporto com um pacote de cocaína do que com um computador cuja memória era inferior à de um celular de hoje.

OS INIMIGOS – A barreira que cortou o caminho de Delfim teve diversos ingredientes. A plutocracia intrigava-o. Eugenio Gudin, o corifeu do liberalismo nacional, dizia que “o homem é diabólico”, engrossando o coro que o acusava (com razão) de maquiar o índice da inflação de 1973. Delfim também desentendera-se com Geisel, presidente da Petrobras, por causa do preço dos combustíveis.

Acima de tudo, a idiossincrasia derivou da simpatia que Delfim teve por uma eventual prorrogação do presidente Emílio Garrastazu Médici. Registre-se que Médici não aceitava que seu mandato fosse prorrogado. Se aceitasse, teria continuado no governo. Geisel não se oporia.

O Delfim do Milagre triunfou porque trabalhava duro e movia os cordões do poder com silenciosa frieza. Quem ficava no seu caminho era atropelado. Assim sucedeu a um ministro da Indústria e a outro da Agricultura. Mais tarde, quando o presidente do Banco Central saiu da linha, detonou-o. No dia seguinte o defenestrado queria voltar ao Rio no avião do Banco. “Manda ele voltar de ônibus”, disse Delfim ao intermediário que encaminhou o pleito.

NO AI-5 – Aquele italianinho gordo assumiu em 1967 conhecendo a economia nacional, sabendo que os seus antecessores, Roberto Campos e Otavio Gouveia de Bulhões já “haviam feito o serviço de salsicharia”.

Na tétrica reunião do Conselho de Segurança que baixou o Ato Institucional nº 5 ele queria fazer mais, e fez. Com um Ato Complementar, centralizou na sua caneta as autorizações de gastos dos fundos dos estados e municípios. Ao contrário da maioria dos signatários do AI-5, ele nunca se arrependeu de tê-lo assinado.

Delfim tinha uma biblioteca de leitor voraz e doou-a à Universidade de São Paulo. Quando ia a Nova York, parava uma camionete diante do supersebo Strand e enchia o carro com as compras. Seu outro gosto era comer. Depois de mais de uma dúzia de ostras da cantina Roma, encarava um espagueti ao alho e óleo. (Bebia quase nada e era capaz de passar uma noite com um copo de uísque, renovando apenas a água.)

FRACASSO FINAL – Delfim voltou ao ministério durante o governo do general João Baptista Figueiredo (1979-1985). Seu retorno ao comando da economia foi recebido com festas. Fracassou. O país quebrou, a inflação ressurgiu e houve anos de queda do Produto Interno Bruto. As ruas voltaram a se manifestar com o grito “o povo está afim da cabeça do Delfim”.

Ele tinha nas paredes de seu escritório charges onde aparecia como o ministro poderoso e também as da ruína, inclusive a capa da revista Veja na qual estava decapitado.

Antes da pandemia, Delfim combinou com o repórter Pedro Bial que gravaria um depoimento para a história. Podia perguntar o que quisesse. Ficou devendo.

Brasil fecha a Olimpíada abaixo da meta, mas desta vez as mulheres brilharam

Rebeca Andrade é a maior medalhista da história do Brasil

Pedro do Coutto

Encerrada a Olimpíada de Paris, com vários recordes quebrados, a pergunta que se pode fazer é: até onde vai o limite humano? Nas competições, especialmente as de velocidade, os resultados foram impressionantes, sobretudo nas provas de cem metros rasos. O evento foi marcado por um espetáculo de superação e empenho pela vitória.

Entre celebrações, conquistas improváveis e decepções, o Brasil encerrou a sua participação com 20 medalhas no total, sendo três ouros, sete pratas e dez bronzes. Os números ficam abaixo das últimas edições se levarmos em consideração o total de medalhas de ouro.

RECORDE – Nas Olimpíadas de Tóquio e Rio de Janeiro, o Brasil bateu seu recorde ao subir no lugar mais alto do pódio em sete oportunidades. Antes, o recorde era de Atenas 2004, quando cinco medalhas douradas foram garantidas pela delegação brasileira. Em outras edições os números eram mais modestos, com três medalhas no máximo.

Em 24 participações na história olímpica, o Brasil deixou de ganhar medalha de ouro em 10 edições: Paris 1924, Los Angeles 1932, Berlim 1936, Londres 1948, Roma 1960, Tóquio 1964, Cidade do México 1968, Munique 1972, Montreal 1976 e Sydney 2000.

Neste ano, o Brasil marcou um ponto importante. Pela primeira vez na história, as mulheres conquistaram mais medalhas que os homens para o país. Os resultados do ciclo olímpico inteiro já indicavam que isso iria acontecer. Das 20 medalhas, 12 foram delas, sete deles e uma mista, na competição do judô por equipes.

ORGULHO – Com isso, o Brasil termina os Jogos Olímpicos Paris 2024 com muitos motivos para se orgulhar, sobretudo diante do desempenho feminino, com medalhas inéditas, passando pela reafirmação de ídolos que entraram no patamar de maiores nomes brasileiros das modalidades e por desempenhos nunca antes conquistados.

Entre tantas performances de destaque, temos que ressaltar, é claro, a maior de todas, a ginasta Rebeca Andrade, que virou ícone mundial ao ser reverenciada por Simone Biles no pódio, e a maior medalhista da história do Brasil, com seis pódios no total. Glória eterna aos atletas brasileiros.

“A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?”

Ser feliz sem motivo é a mais... Carlos Drummond de Andrade - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

Bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta, o mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é um dos mestres da poesia brasileira. O poema “José” mostra uma visão pessimista do cotidiano, onde a solidão humana  revela uma profunda angústia pela vida. Inicialmente, observamos que a alegria e a felicidade já existiram, mas agora, “a festa acabou”. Em seu lugar ficou a escuridão, o frio, o abandono: José está só.

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JOSÉ
Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, proptesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse….
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Ignorância, mesquinharia e politicagem no caso do relógio que Lula vai devolver

Brasil Sem Medo - Lula devolveu apenas 9 dos 568 presentes recebidos de  chefes de estado até 2010, diz TCU

Esse relógio não é bem personalíssimo, mas Lula levou

Carlos Newton

Esse caso do relógio de Lula, acoplado às joias sauditas de Bolsonaro, virou uma polêmica que parece não terá fim. Tudo começou lá atrás, quando onde caminhões de Granero desceram de Brasília para São Paulo, levando as bagagens de Lula e Dona Marisa, que incluía obras de arte e joias avaliadas à época em cerca de R$ 32 milhões.

Para se ter uma ideia da rapinagem, o casal Lula e dona Marisa da Silva levou até um grande pilão de madeira que Juscelino e dona Sara tinham trazido de Minas Gerais para ornamentar o Palácio da Alvorada. Um dos caminhões era refrigerado para levar milhares de caixas de bebidas.

SEM DESCULPA – Não adianta dizer que Lula e Marisa desconheciam a lei, achavam que tudo aquilo lhes pertencia, etc. e tal, porque eles sabiam exatamente o valor das peças, pois as mais valiosas foram cuidadosamente estocadas no cofre-forte de uma agência do Banco do Brasil em São Paulo.

Na época da Lava Jato, a coleção da família Da Silva, digamos assim, foi apreendida pela Polícia Federal e levada de volta para Brasília, contrariando a vontade de Lula, que até hoje insiste em declarar que tudo aquilo lhe pertence e está movendo processo na Justiça Federal para retomar tudo de novo, em ação movida pelo então advogado Cristiano Zanin, conforme matéria que publicamos recentemente aqui na Tribuna da Internet, com absolutamente exclusividade.

Zanin teve de se afastar do caso, é claro, mas o processo continua, Lula jamais desistiu dos R$ 32 milhões, que agora já devem ter chegado a R$ 38 milhões, pela inflação do período.

CLIMA QUENTE – Agora, a decisão do Tribunal de Contas da União esquentou o ambiente, ao determinar que o relógio Cartier pertence a Lula, como bem “personalíssimo”, conforme está determinado em decreto-lei sobre presentes da União.

Como o arqui-inimigo Jair Bolsonaro também está enrolado no mesmo caso, Lula teve a audácia de ligar para o presidente do TCU e tentar influir no resultado do julgamento, vejam a que ponto chegamos. Como não conseguiu, agora quer devolver o Cartier à União, para que o argumento não seja usado pela defesa de Bolsonaro.

Bem, paranoias à parte, é preciso reconhecer que o TCU tem razão. O decreto é claro, “bens personalíssimos” pertencem ao presidente, não à União, e nem interessa o valor..

DOIS NEURÔNIOS – Não é preciso ter mais de dois neurônios para entender o que seja “bem personalíssimo”. Em tradução simultânea, é aquele objeto que pertence à pessoa (ou persona), pode ser usado ou portado por ela.

O relógio Cartier, por exemplo, é um bem personalíssimo, usado por Lula, assim como as muitas canetas que recebeu. Mas a adaga de ouro, cravejada de brilhantes e pedras preciosas, não é bem personalíssimo. Se chegar ao Planalto com a adaga na cintura, certamente Lula enlouqueceu e pensa que é o Sheik de Agadir.

Se o relógio for de parede, não é personalíssimo. Obras de arte e peças de decoração, idem. E as joias? Bem, se a joia for de homem (como abotoadura, prendedor de gravata, isqueiro, canivete) é bem personalíssimo. Brincos, colares, anéis etc. pertencem à União, porque a primeira dama não é presenteável e o presidente só pode usar se deixar de ser cis, imbrochável ou com tesão de 20 anos, essas lorotas que dizem por aí.

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P.S. 1
E as bebidas? Bem, já ia esquecendo, mas no caso de Lula aquelas milhares de garrafas eram bens personalíssimos, é claro.

P.S. 2 – Viram como é fácil saber se o presente é bem personalíssimo ou não? Aliás, nem deveríamos perder tempo com tanta luxuosa bobagem. Mas há governantes, como Lula e Bolsonaro, que não têm medo do ridículo. (C.N.)

Pesquisador analisa revoluções do passado e do presente para defender o liberalismo

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 7 de julho de 2024, mostra, em primeiro plano, personagens de cinco revoluções, sendo quatro do passado —a Holandesa, a Gloriosa, a Francesa, a Industrial—, e um atual, um homem de negócios oriental de cabelos ruivos, terno rosa choque e camisa roxa, representando um mix das revoluções do presente: globalização, tecnologia, identidade e geopolítica. Ao fundo, uma cena de turbulência popular, com pessoas brigando em tumulto.

Ilustração de Annette Schwartsman (Folha)

Hélio Schwartsman
Folha

Numa época em que a ordem liberal vem sendo desafiada e sofre reveses, é natural que surjam obras que procurem apontar para as virtudes desse sistema que, aos trancos e barrancos, vem se consolidando no Ocidente. “Age of Revolutions”, do jornalista Fareed Zakaria (CNN, Washington Post), é uma delas.

O autor se propõe a tentar entender como certos períodos da história concentram mudanças que deixam marcas profundas num país e por vezes no mundo. Nós os chamamos de revoluções.

NOVE MUDANÇAS – No livro, Zakaria investiga nove delas, cinco do passado (Holandesa, Gloriosa, Francesa e a Industrial, em suas vertentes inglesa e americana) e quatro do presente (globalização, tecnologia, identidade e geopolítica).

A escolha das revoluções do passado tem algo de arbitrário que já trai as intenções do autor. Ele descreve todas elas, exceto a Francesa, como movimentos liberais que deixaram um saldo positivo, apesar ter eventualmente produzido vítimas.

A prosperidade material experimentada hoje pelo terráqueo médio, por exemplo, é fruto das duas Revoluções Industriais. Já a Francesa aparece como uma revolução fracassada, iliberal, que traiu um a um todos os seus ideais. Não é uma posição absurda (Burke pensava do mesmo modo), mas há visões divergentes que também fazem sentido.

HÁ RETROCESSOS – Quanto às revoluções modernas, Zakaria admite que elas estão provocando tensões e retrocessos, mas diz que não precisamos ser pessimistas. Se assimilarmos as lições das revoluções liberais, conseguiremos nos livrar do populismo e outras chagas do iliberalismo e seguir avançando incrementalmente, como holandeses e ingleses fazem desde os séculos 16 e 17.

Zakaria escreve bem e sabe contar histórias. O livro é verdadeiramente prazeroso de ler. Não discordo de suas teses centrais, mas devo dizer que fico um pouco preocupado quando defensores do liberalismo têm de apelar para uma espécie de fé em suas virtudes, como faz o autor.

 

Não há saída, e o governo Lula terá problemas com permanência do ditador Maduro

MADURO NO BRASIL - Jônatas Charges - Política Dinâmica

Charge do Jônatas (Política Dinâmica)

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

Atrapalhada por ruídos causados pela vergonhosae nota do PT e pelas declarações estapafúrdias de Lula sobre a normalidade do que se passou na eleição venezuelana, a estratégia inicial do Itamaraty mostrou-se adequada como reação às suspeitas que pesaram e pesam contra a vitória cantada e assumida por Maduro.

O pedido de mais transparência, com a divulgação das atas eleitorais que poderiam comprovar a veracidade do resultado, foi cauteloso mas sugestivo na desconfiança. A diplomacia brasileira manteve seu conhecido padrão de intermediação e diálogo. Deu um passo a mais ao se reunir aos governos do México e da Colômbia para formar um grupo que tem atuado ativamente nos bastidores com vistas a um desenlace satisfatório para a crise.

EMBARAÇOS – O tempo, porém, pode criar muitos embaraços. As atas, ao que tudo indica, não serão apresentadas. Caso entregues, serão falseadas e facilmente denunciáveis. Aquelas que a oposição divulgou e alega serem verdadeiras parecem de fato ser. Estão, aliás, à disposição do governo brasileiro.

É cada vez mais plausível que Edmundo González tenha vencido o pleito –como declarou, aliás, o governo dos EUA, de resto quase sempre envolto em justificada suspeita.

O problema é que a verdade das urnas, mesmo documentada, não será suficiente para alterar uma situação na qual Maduro controla instituições e encontra apoio no Exército para prosseguir com sua ditadura. Será um grande feito se Brasil, México e Colômbia conseguirem uma transição democrática. Nada indica, contudo, que isso possa ocorrer. Quais serão os próximos passos?

NOVAS SANÇÕES – Dos EUA esperam-se sanções, com apoio de aliados ricos e remediados. A Venezuela, se isso é possível, verá agravar-se sua situação de pária no mundo ocidental. Como disse Celso Amorim, aumentará o cansaço. Maduro não se preocupa tanto com isso. Tem apoio de China e Rússia e poderá sobreviver, se não for atingido por um golpe ou levante popular.

Ao Brasil, de modo mais ou menos leniente, interessará manter relações comerciais com a Venezuela. Posições mais veementes não terão lugar, ainda que em nome da democracia e dos direitos humanos. Nem o Itamaraty, muito menos o PT e o governo aceitariam condenações enfáticas.

O fato é que Lula sempre foi frouxo com a ditadura de Maduro. Isso não se deve apenas à necessidade de manter relações com o vizinho. Trata-se de uma empatia ideológica envelhecida e atrasada. Apesar do acerto do Itamaraty, uma palavra de apreensão ou crítica poderia ter sido pronunciada.

FICARÁ MUDO? – Com a sonegação das atas, o que dirá o Brasil? Ficará mudo? Em tese, pelos próprios termos da nota, alguma manifestação ou retórica mais incisiva deveria vir.

Não se trata de romper relações e criar obstáculos intransponíveis. Na realidade, a defesa da democracia não serve como principal critério para decisões mais drásticas de política externa. Este foi, aliás, um erro que o presidente dos EUA, Joe Biden, cometeu em seu mandato. Alardeou uma atuação internacional baseada em defesa da democracia e direitos humanos e acabou caindo em sua própria armadilha.

Bastariam as relações com a China ou a visita à Arábia Saudita para jogar por água abaixo essa premissa. Política externa deve levar em conta as vantagens comerciais ou eventualmente geopolíticas que os demais países oferecem. Se são ou não democracias, não é o que importa, embora defendê-las mesmo que retoricamente não faça mal.

Não havia Dia dos Pais quando Vinicius recebeu a notícia de que perdera o seu pai

Portal PUC-Rio Digital

Vinicius de Moraes e seu segundo filho, Pedro

José Carlos Werneck

Ainda não havia Dia dos Pais aqui no Brasil, quando o gigantesco poeta Vinicius de Moraes recebeu a comunicação de que perdera seu pai, um poeta que celebrara em soneto a proximidade do nascimento dele, Vinicius. E a gente fica pensando como é importante ter um pai, e nem precisa ser poeta.

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PAI E FILHO POETAS

Vinicius de Moraes

Faz hoje nove anos que Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, homem pobre mas de ilustre estirpe, desincompatibilizou-se com este mundo. Teve ele, entre outras prebendas encontradas no seu modesto, mas lírico caminho, a de ser meu pai.

E como, ao seu tempo, não havia ainda essa engenhosa promoção (para usar do anglicismo tão em voga) de imprensa chamada “O Dia do Papai” (com a calorosa bênção, diga-se, dos comerciantes locais), eu quero, em ocasião, trazer nesta crônica o humilde presente que nunca lhe dei quando menino; não só porque, então, a data não existia, como porque o pouco numerário que eu conseguia, quando em calças curtas, era furtado às suas algibeiras; furtos cuidadosamente planejados e executados cedo de manhã, antes que ele se levantasse para o trabalho, e que não iam nunca além de uma moeda daquelas grandes de quatrocentos réis.

SEM PALAVRAS – Eu tirava um prazer extraordinário dessas incursões ao seu quarto quente de sono, e operava em seus bolsos de olho grudado nele, ouvindo-lhe o doce ronco que era para mim o máximo. Quem nunca teve um pai que ronca não sabe o que é ter pai.

Se Clodoaldo Pereira da Silva Moraes e eu trocamos dez palavras durante a sua vida, foi muito. Bom dia, como vai, até a volta – às vezes nem isso. Há pessoas com quem as palavras são desnecessárias.

Nos entendíamos e amávamos mudamente, meu pai e eu. Talvez pelo fato de sua figura emocionar-me tanto, evitei sempre pisar com ele o terreno das coisas emocionais, pois estou certo de que, se começássemos a falar, cairíamos os dois em pranto, tão grandes eram em nós os motivos para chorar: tudo o que podia ter sido e que não foi; tudo o que gostaríamos de dar um ao outro, e aos que nos eram mais caros, e não podíamos; o orgulho de um pai poeta inédito por seu filho publicado e premiado e o desejo nesse filho de que fosse o contrário… – tantas coisas que faziam os nossos olhos não se demorarem demais quando se encontravam e tornavam as nossas palavras difíceis.

ME ABRAÇAR A ELE – Porque a vontade mesmo era a de me abraçar com ele, sentir-lhe a barba na minha, afagar-lhe os raros cabelos e prantearmos juntos a nossa inépcia para construir um mundo palpável.

De meus amigos que conheceram meu pai, talvez Augusto Frederico Schmidt e Otávio de Faria sejam os que melhor podem testemunhar de sua paciência para com a vida e da enorme bondade do seu coração. E de sua generosidade. Fosse ele um homem rico, e nunca filhos teriam tido mais.

Sempre me lembra os Natais passados na pequena casa da ilha do Governador, e a maratona que fazíamos, meus irmãos e eu, quando o bondinho que o trazia do Galeão, onde atracavam as barcas, rangia na curva e se aproximava, bamboleante e cheio de luzes, do ponto de parada junto à grande amendoeira da praia de Cocotá.

Eram pencas de presentes, por vezes presentes de pai abastado, como o jogo de peças de armar, certamente de procedência americana, com que me regalou e com que construí, anos a fio, pontes, moinhos, edifícios, guindastes, e tudo o mais.

E os fabulosos Almanaques do Tico-Tico, lidos e relidos, e de onde, uma vez exaurida a matéria, recortávamos as figuras queridas de Gibi, Chiquinho, Lili e Zé Macaco.

Como poeta, meu pai foi um pós-parnasiano com um pé no simbolismo. É conto familiar que Bilac, seu amigo, animou-o a publicar seus versos, que as mãos filiais de minha irmã Letícia deveriam, depois, amorosamente, copiar e reunir num grande caderno de capa preta. Há um soneto seu que me celebra ainda no ventre materno. Eu também escrevi em sua memória uma elegia em lágrimas, no escuro de minha sala em Los Angeles, quando, no dia 30 de julho de 1950, a voz materna, em sinistras espirais metálicas, anunciou-me pelo telefone intercontinental, às três da madrugada, a sua morte.

Entramos numa era estranha, em que tudo é exagerado ou politicamente incorreto

The Colombian painter and sculptor Fernando Botero turns 89

Fernando Botero, artista colombiano, só pinta gordos

Eduardo Affonso
O Globo

Nas novelas mexicanas de antigamente (ou nem tão antigamente assim), a vilã tinha cara de vilã, pinta de vilã, roupa de vilã — eventualmente, até tapa-olho de vilã. Bastava que entrasse em cena e sabia-se que boa bisca ela não era. Tudo — cabelo, tom de voz, adereços, maquiagem — conspirava para que não pairasse dúvida sobre sua abominável índole.

Era um recurso dramatúrgico, impedindo que, ao coração do telespectador, ocorresse a ideia de balançar entre a mocinha (boa) e a vilã (péssima).

APERTEM OS CINTOS – Pois mexicanizaram a política e a linguagem. Sim, apertem os cintos: a direita sumiu. A polarização agora é entre esquerda e extrema direita.

De um lado do ringue — de calção vermelho, pés descalços e mãos nuas — temos a esquerda (progressista, democrática, de profundos valores humanistas, zelosa defensora dos pobres e oprimidos) e do outro — de armadura azul, portando o raio da morte — a extrema direita (fascista, desumana, de tapa-olho). Entre uma e outra, só o Centrão — pendendo para o lado vencedor, claro.

Na América Latina, a Venezuela de Maduro, a Nicarágua de Ortega e a Cuba de Díaz-Canel são apenas “de esquerda”. Mas Nayib Bukele, em El Salvador, e Javier Milei, na Argentina, vão direto para a extrema direita, sem escalas — isso até o adjetivo “extrema” perder o vigor, e o prefixo “ultra” ser acionado.

TUDO EXAGERADO – Foi-se o tempo em que fobia era um medo exagerado (como em “claustrofobia”) ou uma neurose de angústia. Hoje não é preciso entrar em pânico diante de alguém com sobrepeso. Basta considerar esteticamente desagradável um corpo obeso para ser diagnosticado como gordofóbico.

Tampouco é necessário negar a alguém o direito de assumir nova identidade e nome social e se perceber como pertencente a um gênero distinto daquele assignado no nascimento.

Acreditar em sexo biológico e que homens levem vantagem sobre mulheres nas competições esportivas (mesmo após transição de gênero e terapias hormonais) transforma qualquer um em transfóbico.

TUDO É BANAL – Genocídio é, em estado de dicionário, o “extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso” (como nos casos armênio, ruandês e bósnio).

Entretanto o termo tem sido usado de forma corriqueira para caracterizar ações policiais de combate ao crime organizado em áreas onde a população é de maioria preta ou parda — ou para a calamitosa gestão da pandemia de Covid-19, no governo Bolsonaro.

Não faltam tentativas de banalizar o Holocausto — perseguição, segregação, exclusão, expropriação, tortura e extermínio de 6 milhões de judeus — com a extensão do termo à guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas, em Gaza.

TRÊS CLASSES – E no Brasil existem agora três classes: os pobres, a classe média e os milionários (ou bilionários, como prefere o presidente Lula). Ser rico ou muito rico não soa ofensivo o bastante.

A hipérbole acabará por esvaziar certas palavras, tirar-lhes a potência. Parafraseando Ariano Suassuna — sobre como se referir a Beethoven depois de a palavra “genial” ter sido gasta com Ximbinha —, se todo mundo de quem você não gosta é fascista (ou comunista), que nome caberá a Eduardo Bolsonaro, Jones Manoel, Breno Altman, Nikolas Ferreira?

De tanto gritarem “É o lobo, é o lobo!” a cada vira-lata que aparece, ninguém dará a mínima se (ou quando) o Lobo Mau — o de verdade — der as caras. Mesmo que venha de dentes à mostra, garras afiadas e tapa-olho combinando com a cortina.

Proximidade de Lula com ditaduras prejudica a política externa do país

Lula exige avião com sala de reunião, escritório pessoal e suíte para  casal; veja quanto custará - Estadão

Apoio a ditadores e terroristas tem repercussão negativa

Roberto Nascimento

O presidente Lula está perdendo a terceira chance de se tornar um mediador de crises no cenário das nações. Na primeira, falhou grosseiramente. Ao invés de se portar como árbitro, que não pode ter preferência, foi logo se alinhando a Putin no caso da invasão da Ucrânia

Na segunda oportunidade, atacou duramente Israel, até com certa razão, mas não condenou com a mesma veemência o inacreditável ataque terrorista do Hamas. Recebeu imediatamente o troco de Netanyahu, primeiro-ministro israelense, e ficou novamente desclassificado como mediador.

CASO DA VENEZUELA – Na terceira vez, Lula se perdeu numa entrevista a uma TV de Mato Grosso do Sul, quando relativizou a eleição vencida por Edmundo Gonzales. Chegou até a ironizar a imprensa, que a seu ver estaria comparando a crise venezuelana à Terceira Guerra Mundial.

Ficou claro que Lula ou desconhece a realidade venezuelana ou apoia Maduro incondicionalmente. Assim, passou a ser criticado por gregos e troianos, interna e externamente, e Lula resolveu silenciar.

Apoiar diversos ditadores, como Nicolás Maduro na Venezuela, Daniel Ortega na Nicarágua, Daniel Ortega, é um contrassenso. Não se pode ser contra a ditadura e tentativa de golpe aqui no Brasil, mas achar que isso é normal na terra dos outros, achar que é normal. Essa atitude dúbia se refletirá na aprovação de Lula nas próximas pesquisas.

HUMILHAÇÕES – Maduro humilhou Lula, mandando que tomasse chá de camomila, e Ortega fez o mesmo, ao expulsar da Nicarágua o embaixador brasileiro da Nicarágua. Maduro recomendou o presidente brasileiro a beber chá de camomila e disse que nossas Urnas Eletrônicas não são confiáveis. Estamos aguardando o troco de Lula e do governo brasileiro. Uma resposta à altura tem que vir do Brasil.

O Brasil e Lula devem manter distância regulamentar dessas duas ditaduras, Venezuela e Nicarágua, que prendem, torturam e matam seus opositores. Nem os clérigos, bispos e padres escapam das prisões.

DIAS CONTADOS – Os dias desses dois ditadores estão contados, porque os generalecos que apoiam essas duas tristes figuras, não vão conseguir oprimir o povo por muito tempo. Na Venezuela, o povo vai perdendo o medo e indo para às ruas protestar. A vida lá tem se tornado uma descida para o inferno.

Ditaduras não dão flores para o povo, pelo contrário, matam e torturam quem se opõe a elas, além de tirar paulatinamente, todos os direitos do bem estar social, levando o povo a penúria total. Até o limite, que ninguém aguenta mais. É quando se aproxima o caos, como ocorre na Venezuela e na Nicarágua.

O Brasil não tem condições de mediar, negociar, de nada fazer. Só os povos venezuelano e nicaraguense têm condições de sair desse labirinto, mas sempre às custas de muito sangue, suor e lágrimas, como dizia Churchill, quando a democracia mundial foi ameaçada na Segunda Grande Guerra.

Eleição sem debate nos EUA? É difícil que isso venha realmente a acontecer

Donald Trump é incapaz de liderar', diz editorial do New York Times

Donald Trump não quer mais fazer debate na rede ABC

Deu em O Globo

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, reafirmou  que não participará de um debate marcado para o dia 10 de setembro, apresentado pela rede ABC, que deveria ser seu primeiro embate com a virtual candidata democrata à Presidência, Kamala Harris. Mas Trump disse que segue disposto a debater, desde que seja de acordo com suas regras. A campanha da democrata rejeitou a proposta.

“Concordei com a Fox News para debater com Kamala Harris na quarta-feira, 4 de setembro. O debate estava previamente agendado contra o “sonolento” Joe Biden na ABC, mas foi cancelado porque Biden não será mais candidato, e estou em litígio contra a ABC e George Stepanopoulos (apresentador da ABC), criando assim um conflito de interesses”, escreveu Trump em sua rede social, o Truth Social.

QUER PÚBLICO – Além de escolher a Fox News, uma rede considerada alinhada ao trumpismo, o ex-presidente especificou que o debate deve ser apresentado pelos apresentadores Bret Baier e Martha MacCallum, que deve ser realizado no estado da Pensilvânia — onde foi vítima de um atentado no mês passado —, e que as regras serão “semelhantes” à do debate realizado em junho com Biden.

Contudo, ele estipulou que haveria público no local, o que não ocorreu no primeiro debate, organizado pela rede CNN.

Em comunicado, a campanha de Kamala Harris rejeitou a mudança de datas e formatos. “Donald Trump está correndo assustado e tentando desistir do debate com o qual ele já concordou e correndo direto para a Fox News para resgatá-lo”, disse o diretor de comunicações de sua campanha, Michael Tyler, em um comunicado. “Ele precisa parar de jogar e aparecer no debate com o qual ele já se comprometeu em 10 de setembro.”

KAMALA DESAFIA – Na terça-feira, durante um comício na Geórgia, ela provocou Trump para que os dois debatessem. “Donald, espero que você reconsidere me encontrar no palco do debate porque, como diz o ditado, se você tem algo a dizer, diga na minha cara” — disse Kamala, que na sexta-feira conseguiu os votos necessários para ser confirmada a candidata do Partido Democrata à Presidência.

Talvez já prevendo que Kamala não fosse aceitar suas condições, Trump disse que, caso a democrata não compareça, ele acertou com a Fox News para que seja realizado um programa ao estilo “Town Hall”, no qual o candidato responde perguntas dos apresentadores e do público.

Não está claro se o mesmo pode acontecer com a ABC, caso o republicano mantenha a decisão de não comparecer.

QUEBRANDO A REGRA – Em mais uma peculiaridade da campanha para a Casa Branca este ano, Trump e o então candidato à reeleição, Joe Biden, concordaram com a realização de dois debates, que seriam organizados pela rede CNN e pela rede ABC, quebrando uma tradição vinda desde os anos 1980, quando os programas eram realizados pela Comissão de Debates Presidenciais.

Dentre as regras acertadas estava o corte do microfone do candidato que não estivesse com a palavra naquele momento.

E foi justamente o debate de junho que serviu como ponto de partida para o fim da candidatura de Biden. Seu desempenho impulsionou as críticas à sua capacidade de conduzir uma campanha até o fim e de comandar o país por mais quatro anos — se fosse eleito, Biden chegaria ao dia da posse com 82 anos.

DESISTÊNCIA – No mês passado, após intensa pressão, o presidente abriu mão da candidatura, e o partido se uniu em torno de Kamala, em meio ao que analistas veem como um “choque de entusiasmo”.

Por sinal, a saída de Biden da corrida foi criticada por Trump, que acusa o Partido Democrata de tratá-lo de “forma horrível”.

“Gastei centenas de milhões de dólares, tempo e esforço lutando contra Joe [Biden], e quando ganhei o debate, eles colocaram um novo candidato no ringue”, disse Trump na sexta, em publicação no Truth Social.

A imagem na política: análise do debate entre Kennedy x Nixon

Kennedy e Nixon inauguraram a era dos debates

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A possibilidade de realizar uma eleição presidencial nos Estados Unidos sem haver debates entre candidatos é uma situação nova e inimaginável, desde o histórico confronto entre John Kennedy e Richard Nixon, em 1960. Chega a ser inacreditável. Vamos aguardar. (C.N.)

Há um futuro que esquerda e direita mal podem enxergar, reféns da esquizofrenia

Inteligência artificial vai tirar empregos de trabalhadores

Com certeza, a Inteligência Artificial cai reduzir empresgos

Miguel de Almeida
O Globo

Não é de estranhar que os bolsonaristas incentivem memes contra Fernando Haddad. Desde já percebem de onde surgem indícios de uma política pública alternativa à polarização — e com resultados. Estranho seria se os alvos fossem Sonia Guajajara ou Anielle Franco, com suas práticas datadas.

O ótimo livro de Daron Acemoglu e Simon Johnson “Poder e progresso”, ao mergulhar na história das tecnologias e de seus reflexos sociais, escancara como a agenda brasileira permanece em sua contumaz esquizofrenia entre moderno e arcaico.

EXTRATIVISMO – Calma, o Brasil não é personagem da obra, porque nossa vocação extrativista é antes um fenômeno sociopatológico, jamais econômico. Nas páginas, encontram-se até pistas para compreender o retrocesso chamado Trump. Ou Bolsonaro, seu êmulo (até nos muitos casamentos).

Como ocorreu noutras revoluções — entre elas a Industrial —, as tecnologias digitais provocaram desnorteamento em muitos setores econômicos, com reflexos imediatos na organização social.

Diversas ocupações foram extintas, muitas profissões perderam seu valor, junto a fábricas hoje obsoletas. Em seu rastro, há bairros e cidades inteiras diante de uma inesperada decadência.

RIQUEZA DO ALGODÃO – Dois momentos da História brasileira poderiam constar da obra de Acemoglu. O Maranhão, no século XVIII, era poderoso produtor e exportador de algodão. Quem conhece Alcântara ainda consegue ver os casarões, hoje escombros, símbolos da antiga riqueza trazida pelo que foi apenas outro fausto tipicamente brasileiro (poderia usar também como exemplo Manaus e seu ciclo da borracha). Os bacanas da época mandavam lavar (e engomar) suas roupas em Portugal…

Como concorrente, Mississipi e suas lendárias plantações. Ambos se apoiavam em mão de obra escrava, quando dois fatos mudaram a vida nababesca da elite maranhense: o aumento de impostos praticado pela Coroa portuguesa (para sustentar os suspeitos de sempre) e o início do uso de maquinário industrial nos Estados Unidos.

Vale lembrar que os americanos, com pouca oferta de trabalhadores, rapidamente buscaram desenvolver equipamentos capazes de incrementar a produtividade. Logo o preço final do algodão brasileiro tornou-se inviável. O resto é decadência.

CAPACITAÇÃO – Outro exemplo é nosso Lula da Silva, migrante nordestino, formou-se torneiro mecânico em curso técnico em São Paulo. Foi trabalhar na indústria automobilística. Não tivesse se tornado líder sindical, a depender de políticas públicas de capacitação praticadas pelos governos petistas, estaria na água (sem duplo sentido). Sua ocupação deixou de existir, tornada obsoleta pela automação.

O caso de Bolsonaro não é tratado em “Poder e progresso”, embora alguns exemplos trazidos por Daron Acemoglu possam ser úteis para entendê-lo. O ex-presidente, por sua infelicidade e deficiência, nunca chegou a ser oficial, dado que se viu reprovado nas tentativas de ascensão militar. É outro que estaria na água caso vivesse na Manchester, centro têxtil da Inglaterra.

A chegada da Segunda Revolução Industrial, em meados do século XIX, exigiu melhor capacitação dos trabalhadores. Mesmo na agricultura, para lidar com maquinário além de enxada e de foice. Passou a ser exigida melhor educação; em muitos casos, conhecimentos básicos de matemática (o Brasil inteiro sabe como Bolsonaro é ruim nas quatro operações, não vou repetir). Sem futuro, ele foi ser político de extrema direita.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – Acemoglu, também coautor do imperdível “Por que as nações fracassam”, depois de historiar diversos momentos econômicos da humanidade, se mostra assustado com a falta de política na chegada da inteligência artificial. É experiente e não se empolga com a jequice consumista de trocar de celular a cada ano.

Tampouco com o discurso exalado do Vale do Silício de vender condomínio em Marte. A questão não é inovação, mas o que chama de ausência de prosperidade compartilhada. A tecnologia, no passado e agora, sem política pública, resulta em aumento de desigualdade.

A atual revolução digital deu na Uber, mas também no Facebook e em sua traição política. A primeira trouxe novas oportunidades econômicas; o segundo, o ódio. A Alemanha subsidia as empresas (até quatro meses) que capacitam seus trabalhadores nas novas tecnologias. Idem Japão. Ao contrário dos Estados Unidos, cujo desnorteamento e desigualdade ajudaram a eleger Trump em 2016. No Brasil, a continuar a novilíngua janjística, nem todes (sic) terão as oportunidades dadas a Lula e Bolsonaro.

Ditaduras de Maduro e Ortega obrigam Lula a agir em oposição a seus intentos

Análise: Papa e Biden recorrem a Lula para negociar com Maduro e Ortega

Lula acabou caindo na armadilha armada por ele próprio

William Waack
CNN

O Brasil foi obrigado a expulsar a embaixadora da Nicarágua em Brasília após o embaixador brasileiro ser expulso de Manágua, a capital da Nicarágua, por não ter comparecido a uma solenidade oficial. O motivo é fútil, mas o significado político é amplo.

A Revolução Sandinista na Nicarágua é um antigo amor de Lula, assim como a Revolução Cubana e a Revolução Chavista. Todas esses movimentos populares desembocaram em ditaduras com as quais Lula sempre tratou de manter as melhores relações possíveis.

EM NOME DO PAPA – Mas a recíproca não é verdadeira. O ditador Daniel Ortega ficou bravo com Lula quando o presidente brasileiro, atendendo a um pedido do papa Francisco, quis interceder por um bispo católico.

Maduro, por sua vez, vem causando severos problemas para Lula ao desrespeitar acordos que o Brasil endossou, ameaçar invadir um país vizinho e fraudar uma eleição que o presidente brasileiro chamava de democrática, sem mencionar o calote em créditos brasileiros.

A maneira como amigos se tratam é problema deles. Mas é problema de todos nós quando os interesses do país são subordinados a amizades e preferências políticas pessoais do presidente da República.

OBRIGANDO A AGIR – No caso da Nicarágua, o velho, decrépito e tosco ditador Daniel Ortega obrigou Lula a agir, depois de dar um “chute” no representante diplomático brasileiro.

Lula já recebeu vários “chutes” de Maduro, de quem voltou a cobrar nesta sexta-feira, em comunicado assinado com México e Colômbia, a apresentação dos resultados das últimas eleições e o respeito a direitos humanos. Até aqui, Maduro ignorou tudo isso.

Seu colega Daniel Ortega criou para Lula uma situação impossível. Maduro está fazendo o mesmo.

Inflação de 12 meses chega a 4,5% e alcança o teto da meta para este ano

O milagre das mãos do Pai, nas poesias de Mário Quintana e Paulo Peres

Carlos Newton

Para comemorar o Dia dos Pais, uma data que precisa ser alegre, embora em muitos casos possa ser triste, selecionamos hoje dois poemas relativos ao tema. Um deles, do gaúcho Mário Quintana, e o outro, do carioca Paulo Peres. Quando trabalhamos com o jornalista, cronista e poeta Rubem Braga, com ele Peres aprendeu que a poesia é necessária e acabou se dedicando inteiramente a ele, como poeta, jornalista e letrista.

AS MÃOS DO MEU PAI
Mario Quintana

As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos…

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos
e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas…
essa chama de vida — que transcende a própria vida…
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma…

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DIA DOS PAIS
Paulo Peres

Festejai, pai material,
Este dia especial.
Receba o carinho celestial
– Família, luz e amor
Através à bênção do Pai Maior,
O Nosso Deus-Pai Espiritual 

Decisão sobre o relógio de Lula não terá influência no julgamento de Bolsonaro

Imagem

Charge do Latuff (Brasil de Fato)

Bela Megale
O Globo

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam que a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o relógio de Lula não terá peso algum no julgamento de Jair Bolsonaro sobre as joias sauditas.

A leitura de magistrados ouvidos pela coluna é que as situações são incomparáveis, especialmente porque Bolsonaro e seus auxiliares realizaram operações irregulares de venda e recompra dos presentes que recebeu quando foi chefe de Estado, o que sinaliza que tinham conhecimento da ilegalidade de seus atos.

Na avaliação dos ministros, a defesa do ex-presidente tenta “se aproveitar” da confusão que existe na legislação sobre o destino que deve ser dado aos itens recebidos pelos presidentes da República quando estão no cargo.

INDICIAMENTO – Para ministros, o inquérito das joias sauditas de Bolsonaro é de competência exclusiva da Justiça Criminal, que decidirá o caso com base nas provas apresentadas pela Polícia Federal.

Em julho, Bolsonaro foi indiciado por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro no âmbito desta investigação.

Entre ministros do Supremo há a avaliação de que a estratégia da defesa de Bolsonaro de recorrer à decisão do TCU para tentar o arquivamento do caso também não terá eco na Procuradoria-Geral da República.

ENTENDIMENTO – Essa interpretação converge, inclusive, com entendimento de alguns integrantes do próprio TCU. Um dos magistrados descreveu o episódio como fruto do “excesso de confiança da ala bolsonarista da corte de contas”.

Para dois magistrados do TCU ouvidos pela coluna, com a decisão a corte de contas abriu mão de fixar os diretos dos ex-presidentes sobre os presentes e reforçou a prerrogativa da Justiça Criminal para o caso de Bolsonaro.

Na leitura de ambos, a decisão do relógio de Lula não tem efeito sobre a investigação de Bolsonaro e das joias sauditas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Bela Megale tem toda razão. Uma coisa é o Tribunal de Contas da União, cujas funções são limitadas, e outra coisa muito diferente é o Supremo Tribunal Federal, que no Brasil passou a ter um poder ilimitado, infinito,  desarrazoado e que chega a ser assustador até para o cidadão de bem, digamos assim. (C.N.)

Trump diz que dará “grande entrevista” a Elon Musk, ao vivo, na segunda-feira

Trump terá em Musk um dos seus maios financiadores

Deu no Poder360

O ex-presidente dos EUA e candidato do Partido Republicano à Casa Branca, Donald Trump, disse que concederá uma “grande entrevista” ao dono do X (ex-Twitter), Elon Musk. Em publicação na rede social Truth Social, Trump afirmou que a conversa ocorrerá na noite da próxima segunda-feira (12.ago). O republicano declarou que logo daria mais detalhes da entrevista. 

Em 13 de julho, depois que Trump foi alvo de atentado a tiros, Musk se manifestou a favor do republicano. “Apoio totalmente o presidente Trump e espero pela sua rápida recuperação”, escreveu no X. Ele disse ainda que a última vez que os EUA tiveram um “candidato tão casca-grossa foi com Theodore Roosevelt (1858-1919)”, em referência ao 26º presidente dos EUA.

PUBLICIDADE PAGA – Musk criou, em meados de julho, o PAC (sigla em inglês para Comitê de Ação Política). Nos EUA, é proibido receber doações de empresas para campanhas, como se dá no Brasil. No entanto, o país permite que se abra uma ONG que apoie determinadas causas alinhadas a campanhas. 

 Essas organizações podem pagar por comerciais na TV e publicidade na mídia em geral – não há, nos Estados Unidos, horário eleitoral gratuito e, por isso, os candidatos precisam comprar os espaços para divulgar suas propagandas. Elas são chamadas de PACs. As maiores são consideradas Super PACs.

Em 15 de julho, o Wall Street Journal publicou uma reportagem afirmando que o bilionário usaria a iniciativa para doar US$ 45 milhões por mês a campanha de Trump.  Segundo o texto, o fundo teria o objetivo de convencer as pessoas a se registrarem para votar, principalmente nos Estados sem um candidato amplamente favorito.

MUSK DESMENTE – Na ocasião, o empresário classificou a reportagem como fake news. Musk negou que doaria esse valor. Conforme o empresário, o PAC criado por ele não é “hiperpartidário”, ou seja, dedicado a uma sigla específica. Musk disse que o objetivo principal da iniciativa é promover os “valores que tornaram os Estados Unidos grande”.

No último domingo (4.ago), o gabinete do secretário do Michigan (EUA) anunciou que o PAC criado por Musk está sendo investigado por causa de possíveis violações das leis de privacidade e transparência do Estado.

De acordo com as autoridades, a iniciativa permitiria o acesso a dados de norte-americanos que se registram no site.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vai dar uma tremenda audiência, é claro. Trump e Musk, juntos, são dose para leão. E a campanha vai pegar fogo, com toda certeza. (C.N.)

Brasil esnoba Ocidente e prefere China, Rússia e ditaduras do Oriente Médio

Fotografados, de mãos dadas: Lula, Xi Jinping (China), Cyril Ramaphosa (África do Sul), Narendra Modi (Índia) e Sergey Lavrov (ministro de relações exteriores da Rússia)

Brasil vai abandonando a tradicional política diplomática independente

Merval Pereira
O Globo

O afastamento cada vez maior da política externa brasileira do grupo das democracias ocidentais, em favor de países com governos autoritários, ou mesmo ditaduras como o Irã ou Cuba, faz com que o Brasil perca a capacidade de ser o intermediário nas negociações internacionais, mesmo as que se desenvolvem no nosso continente, como agora na crise da Venezuela de Maduro.

Depois da conversa telefônica pedida pelo presidente dos Estados Unidos Joe Biden, parecia que Lula estava sendo reconhecido como o líder regional. Mas, poucos dias depois, o governo americano surpreendeu o Brasil com uma nota oficial do Departamento de Estado onde declarava que a oposição vencera as eleições.

GANHAR TEMPO – A decisão indica que a postura “cautelosa” do governo brasileiro é interpretada em Washington como uma maneira de ganhar tempo em favor de Maduro. Não foi a primeira vez que Lula foi abandonado pelo governo americano. No último ano de seu segundo mandato, o Brasil tentou intermediar um acordo nuclear entre Irã e Estados Unidos, rejeitado pelos americanos.

O governo brasileiro divulgou uma carta que o presidente americano enviara a Lula querendo provar que o governo dos EUA fugia de compromissos assumidos. Só que na carta de Obama estava definido que o Irã deveria “reduzir substancialmente” seu estoque de urânio de baixo enriquecimento na transição para o acordo internacional.

Como o Brasil permitia que o Irã continuasse a enriquecer urânio por um ano antes dessa transição, o governo americano recusou o acordo, fechado mais adiante, nos termos americanos.

ROMPIMENTO – Em 22 de julho de 2010, em meio a uma crise causada pelas acusações do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe na OEA de que guerrilheiros das Farc tinham estabelecido bases e se escondido atrás da fronteira venezuelana, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países.

O Brasil se ofereceu para intermediar um acordo, mas foi vetado pela Colômbia por não ter imparcialidade para tal.

Atualmente, depois de ter assumido uma posição descabida a favor da Rússia na guerra com a Ucrânia, o Brasil perdeu completamente a capacidade de participar de um “grupo de países a favor da paz”.

ESTRATÉGIA ERRADA – A questão do governo brasileiro é manter relação cordial com países que têm importância para a geopolítica de um mundo que no futuro, na visão dos analistas governamentais, será muito mais próximo dos países que hoje são periféricos e tentam se desenvolver, do que da Europa e dos Estados Unidos.

O Brasil está fazendo uma escolha, apostando num futuro que nada indica que vá mudar tão cedo, se afastando das principais potências do Ocidente, para se aliar a ditaduras do Oriente Médio, da Rússia e da China.

O Brasil não deveria estar nesta onda revisionista, de acreditar que o poder hegemônico do Ocidente está sendo superado por estas nações emergentes. É uma política infantil que não vê o Ocidente como potência num futuro próximo.

NO FUTURO – A criação do BRICS, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, levou a política externa brasileira a aprofundar sua crença de que os países do futuro são esses, unidos pela criatividade do chefe de pesquisa econômica global da Goldman Sachs, Jim O’Neill.

Embora a premissa de que os quatro países inicialmente citados – a África do Sul entrou depois – seriam os que mais cresceriam no futuro, o BRICS se concretizou apenas como um reunião política de parceiros, que este ano incluiu Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã.

Perderam o acrônimo que em inglês soa como “tijolo”, uma metáfora para a construção de um novo grupo econômico internacional, mas ganharam mais parceiros, cujos pontos em comum são mais próximos do autoritarismo do que da democracia.

Moraes afirma que os partidos já são “mais rentáveis que 99% das empresas”

ministro Alexandre de Moraes

Ministro Moraes defende reformas nos Très Poderes

Deu no Estadão

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, defendeu nesta sexta-feira (9) “alterações institucionais” e uma mudança nos três poderes da República para enfrentar o descrédito por parte da população. O ministro pregou uma reforma política. Ele ressaltou que o Fundo Partidário tornou as legendas “mais rentáveis do que 99% das empresas nacionais”.

Moraes participou da 22ª Semana Jurídica do Tribunal de Contas do estado de São Paulo. Ele apontou para o Judiciário. “Também está devendo para a sociedade, especialmente em celeridade.”

POPULISMO DIGITAL – O ministro disse que que, para fortalecer a democracia, há necessidade de se identificar quais os pontos, no Executivo, Legislativo e Judiciário, que “levaram ao descrédito e que puderam ser explorados ilicitamente, de forma maldosa e fraudulenta, por esse novo populismo digital extremista”.

Em uma espécie de ‘mea culpa’, observou que, se as instituições não derem respostas às “angústias” da sociedade, elas “obviamente caem em descrédito”. “O descrédito leva ao desgosto, que leva ao ataque à democracia”, indicou.

Moraes falou da perda de confiança nas instituições. “Todas as instituições estão com descrédito, uma parte por não termos todos evoluído, outra por bombardeamento de notícias fraudulentas. Mas há necessidade de refletirmos, no âmbito dos três poderes, de mudarmos”, sugeriu.

REFORMAS – A primeira mudança proposta por Moraes foi sobre o sistema representativo. Uma reforma política, manifestou o ministro. Ele destacou como o sistema político eleitoral brasileiro é um dos mais caros do mundo, apontando que mesmo que haja muito dinheiro envolvido – R$ 6 bilhões do Fundo Eleitoral -, não é suficiente para irrigar as campanhas. “Nosso sistema não está correto”, afirmou.

“O Fundo Partidário tornou os partidos políticos mais rentáveis que 99% das empresas nacionais. Hoje um presidente de partido tem mais dinheiro para investir do que um CEO e acaba se perpetuando no poder. O dinheiro é gigantesco, mas sabemos que é insuficiente porque são as campanhas mais caras do mundo”, disse.

VOTO DISTRITAL – O ministro também defendeu um avanço na relação Executivo e Legislativo. Classificou como “loucura” o fato de o presidente da República “ter que conviver com 16 partidos”.

Em sua avaliação, caso houvesse uma reforma política com o sistema distrital, o País poderia ter cinco ou seis partidos, como acontece na Alemanha, resultando em uma “possibilidade de estabilidade maior”.

Moraes ainda ponderou que o “Judiciário também está devendo para a sociedade”, especialmente quanto à celeridade processual. Na avaliação do ministro, com o uso de tecnologias é possível “revolucionar” o Judiciário, “mas não adianta usar novos instrumentos” se não houver uma reestruturação institucional.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes, que até recentemente era presidente do TSE, nada fez para aprimorar a fiscalização da contabilidade dos partidos. Agora faz criticas ao sistema, sem ter contribúido para melhorá-lo. (C.N.)

Sindicato vai recorrer da suspensão de um “penduricalho” bilionário no TCU

Tribuna da Internet | Mais uma vez, ocorre um Natal cheio de penduricalhos,  mas só para magistrados

Charge do Nani (nanihumor.com)

Daniel Gullino
O Globo

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) suspendeu nesta sexta-feira o pagamento de um “penduricalho” que havia começado a ser pago para servidores do Tribunal de Contas da União (TCU) e que poderia ter um custo bilionário. A decisão atendeu a um pedido apresentado pelo governo federal.

O pagamento diz respeito ao chamado “quinto”, que é uma compensação que era paga a cada ano em que foi exercida uma função de chefia. O sindicato que reúne os servidores do TCU, o Sindilegis, entrou na Justiça para garantir o pagamento para quem exerceu cargos desse tipo entre 1998 e 2001, quando houve uma mudança nas regras.

GANHO DE CAUSA – A Justiça Federal do Distrito Federal havia dado ganho de causa ao sindicato. Entretanto, a AGU recorreu e teve um pedido aceito pela vice-presidente do TRF-1, Gilda Sigmaringa Seixas. A desembargadora federal considerou que seria necessário um efeito suspensivo por considerar que ainda há possibilidade de um recurso sobre o caso seja aceito pelos tribunais superiores.

Seixas ainda justificou a decisão “diante do impacto financeiro que a prosseguimento das execuções poderá causar à União”. A AGU havia informado que o impacto poderia chegar a R$ 1,12 bilhão. Agora, atualizou para R$ 1,5 bilhão, contando com os honorários de sucumbência que seriam pagos pela derrota no processo.

Na semana passada, o Sindilegis havia informado que cerca de 500 servidores tinham recebido o primeiro pagamento. O sindicato disse ainda que atua para que aproximadamente outros 500 servidores também sejam contemplados.

NA PRÓPRIA FOLHA – O pagamento realizado na semana passada corresponde a valores incorporados na folha de pagamento. Um eventual repasse retroativo, devido ao período sem a compensação, ocorrerá por meio de precatório.

O fato é que, em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que o recebimento dos quintos no período entre 1998 e 2001 seria inconstitucional. Entretanto, em 2019 a Corte modulou os efeitos da decisão e garantiu o pagamento para quem já tinha ação transitada em julgado (ou seja, sem direito a recurso). Neste intervalo, a ação do Sindilegis foi encerrada em 2017.

A AGU argumenta que o pagamento não deveria ocorrer devido à decisão anterior do STF. “Embora tenha transitado em julgado, a demanda não poderia ser executada, pois a coisa julgada ocorreu após tese do STF sobre sua inconstitucionalidade”, afirma o órgão, em nota.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os penduricalhos são ilegais, imorais e inconstitucionais, mas ninguém consegue vencê-los, porque a força da ganância é um pode inexpugnável. Na semana passada, o TCU informou que “sempre negou todos os pedidos de reconhecimento do benefício em questão pela via administrativa”, mas que não tem ingerência na disputa judicial. É a mesma desculpa de sempre. (C.N.)