A necessária erradicação do trabalho infantil no Brasil

Charge do Nando Motta (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Uma reportagem publicada no O Globo deste sábado, revela que, em 2023, havia 1,6 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos trabalhando no Brasil. O número representa uma queda de 14,6% em relação a 2022, sendo o menor registrado desde o início da série histórica em 2016, conforme divulgado pelo IBGE. Embora a proporção de menores no trabalho infantil estivesse diminuindo ao longo dos anos, houve um aumento para 4,9% em 2022, após a pandemia. No entanto, em 2023, o índice recuou para 4,2%, o menor percentual desde 2016.

A pesquisa também revela que mais de 586 mil crianças e adolescentes estavam envolvidos em atividades perigosas e insalubres, como operação de máquinas, manuseio de produtos químicos e extração de minério. Embora o número tenha caído 22,5% em relação a 2022, quando 756 mil menores estavam nessas condições, seis em cada dez crianças de 5 a 13 anos remuneradas desempenhavam trabalhos perigosos.

AUMENTO DA RENDA – A queda no trabalho infantil pode ser atribuída ao aumento da renda familiar, impulsionado pela melhora no mercado de trabalho e pela expansão do programa Bolsa Família em termos de cobertura e valor do benefício. Além disso, é preciso ressaltar a importância das políticas públicas e a intensificação da fiscalização na redução desses números, fora o impacto do aumento do salário mínimo na redução do trabalho infantil, já que as famílias com melhores condições financeiras tendem a tirar as crianças do trabalho e incentivá-las a frequentar a escola.

A tendência é de novas reduções no trabalho infantil, à medida que ações promovidas pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil ganham força. O Brasil é signatário do compromisso de erradicar o trabalho infantil até o ano que vem, conforme as metas da Agenda 2030 da ONU.

Apesar do progresso neste cenário, é sempre importante lembrar que o trabalho infantil colide com a Constituição do país, revelando uma triste face que marca a realidade de milhares de famílias brasileiras. Inclusive porque muitas das crianças que deveriam estar nas escolas e não trabalhando, sequer recebem um salário mínimo.

INSALUBRIDADE – Desempenham tarefas, muitas vezes insalubres, em troca de tentar garantir a alimentação básica de seus familiares. Esta ainda é uma situação que deve envergonhar a sociedade, mostrando o quanto é possível que, pessoas, grupos ou empresas, disponham de mão-de-obra infantil para as suas atividades.

As crianças sequer se dão conta do que estão fazendo ao contribuir para uma injustiça social enorme. Até porque entendem que não têm outro caminho, mesmo numa fase da vida em que deveriam estar estudando e tendo os seus direitos garantidos.É necessário que as ações em prol das crianças e adolescentes se ampliem e garantam a todos o direito à educação, à saúde e à vida digna.

Datafolha: Nunes tem 51%, e Boulos, 33%, a 10 dias do 2º turno em SP

Em meio à crise com a Aneel, Planalto deve propor mudanças em agências reguladoras

Charge do Rice (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Na esteira da crise que envolve a Agência Nacional de Energia Elétrica e o apagão em São Paulo, o governo federal quer propor mudanças na legislação sobre as agências reguladoras no país. O presidente Lula da Silva solicitou à Advocacia Geral da União que elabore um texto para mudar o formato de como as agências prestam contas de suas atividades.

A proposta de mudança terá que passar pelo Congresso Nacional, onde o governo possivelmente terá dificuldades. O setor já causou incômodos ao governo em outras ocasiões. No final de agosto, Lula e o diretor da Anvisa trocaram farpas após o presidente cobrar mais agilidade na liberação de remédios.

PRIVATIZAÇÕES – As agências reguladoras foram criadas em 1997, após um programa de privatizações do governo FHC, com o objetivo de fiscalizar serviços que antes eram geridos unicamente pelo Estado. Elas são independentes e foram criadas para serem “blindadas” de influências políticas, o que torna sempre delicadas as tentativas de mudanças.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, declarou nesta semana ser favorável ao fim dos mandatos nas agências reguladoras. Na prática, significa autorizar o Planalto a demitir diretores das autarquias. Segundo Silveira, o presidente Lula tem uma posição mais conservadora, mas que ainda intervém no atual modelo. Lula quer coincidir o mandato dos diretores com o do presidente da República.

EMBATE –  A posição mais radical de Silveira é resultado de um constante embate do ministro com a Aneel. Desde o início do ano, Silveira tem tido contratempos com a agência e já disse em algumas oportunidades que a agência está “boicotando” o governo. Hoje, os mandatos nas agências têm duração de quatro anos, mas o período não é casado com o mandato presidencial. Todos os diretores da Aneel foram indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, com alguns mandatos se estendendo até 2028.

Silveira declarou que a Aneel é omissa ao não iniciar rapidamente um processo administrativo contra a Enel pelo apagão em São Paulo, o que poderia levar a uma intervenção federal na concessão. Na sua visão, que é compartilhada por outras figuras do Planalto, não faz sentido o Planalto ser obrigado a ter que lidar com diretores indicados pelo presidente da gestão anterior.

PROCESSO –  Silveira disse que as agências reguladoras deveriam ter um processo similar ao da Empresa de Pesquisa Energética. Na estatal, o presidente pode ser demitido pelo chefe da República e trocado sem passar pelo Congresso Nacional.

O descalabro causado pelo apagão acarretou prejuízos imensos na Grande São Paulo. A Enel, concessionária de energia elétrica, afirmou nesta quinta-feira, que 3,1 milhões de imóveis ficaram sem luz – mais do que os 2,1 milhões inicialmente informados pela empresa. Propor alterações nas agências reguladoras, após o incidente, parece tardio. Mas é preciso que se tenha uma ação concreta. Caso contrário, o quadro poderá se repetir, fazendo com que a população seja o principal alvo dos incidentes.

A insegurança pública que aterroriza o Rio de Janeiro diante da inércia governamental

Ônibus são sequestrados e usados como barricada no Itanhangá

Pedro do Coutto

Mais uma vez, o Rio de Janeiro viu em seu cotidiano os reflexos da violência que há décadas assola a cidade. Nesta quarta-feira, nove ônibus foram sequestrados por criminosos e usados como barricadas no Itanhangá, na Zona Oeste, durante uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na comunidade da Tijuquinha. A Estrada do Itanhangá dá acesso às comunidades da Muzema, Tijuquinha e Rio das Pedras, áreas comandadas por criminosos que aterrorizam moradores e permanecem intocáveis.

De acordo com o sindicato das viações que operam na capital, os bandidos pediram para os passageiros descerem e atravessaram os veículos na via. É o tipo de estratégia que a bandidagem utiliza para desviar a atenção da Polícia Militar, tentando criar essa cortina de fumaça, levando a desordem e o caos para pessoas inocentes.

INTERDIÇÃO – A via foi interditada nos dois sentidos e, em função disso, uma longa fila de ônibus se formava na região. As emissoras de televisão registraram muitos carros manobrando para escapar do local. Várias linhas de coletivos que circulam na localidade tiveram o itinerário alterado, mexendo também com a rotina de centenas de trabalhadores.

Por incrível que pareça, segundo a Polícia Civil, o crime organizado tem uma espécie de função para gerentes de barricadas, responsáveis por instalar bloqueios nas comunidades do Rio para dificultar o acesso dos agentes.

DESVIOS – “Nos últimos 12 meses, já foram 130 veículos sequestrados. Todas as linhas que circulam pela região estão sofrendo desvios de itinerário. A recorrência dos casos reitera a necessidade de ações efetivas por parte das autoridades de segurança pública do Rio de Janeiro”, informou o sindicato que representa as empresas. Em 2024, até o momento, 95 ônibus foram sequestrados para serem utilizados como barricadas e oito foram incendiados.

Este não foi um ato isolado, infelizmente. E não adianta, após o ocorrido, o governador do Rio ou qualquer outra autoridade pública prometer, mais uma vez, que a segurança será reforçada e que o efetivo disponível aumentará. O cidadão está cansado de promessas e discursos que nunca se tornam realidade. A insegurança está instaurada há longas gestões e até o momento sem perspectiva de que algo será feito. A solução fica apenas nos rascunhos de campanhas eleitorais, mas sem nunca sair do papel.

O crime dos transplantes, o apagão em SP e a omissão do poder público

Ontem, SP ainda registrava milhares de imóveis sem energia

Pedro do Coutto

O crime dos transplantes e o bloqueio da energia elétrica na grande São Paulo são os fatos marcantes que refletem o descaso das ações governamentais em relação à população. No primeiro caso, a Anvisa e o Ministério Público investigam a contaminação de seis pacientes que receberam órgãos transplantados no Rio de Janeiro e foram infectados com HIV. De acordo com técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, os exames de sangue feitos nos doadores apresentaram um falso negativo.

Todos os testes foram realizados na empresa PCS laboratórios, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O grupo foi contratado emergencialmente pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro em dezembro do ano passado. A situação foi descoberta quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve o resultado para HIV positivo; ele não tinha o vírus antes do transplante.

CASOS –  Amostras dos órgãos doados pela mesma pessoa foram analisadas e outros dois casos foram confirmados. Há uma semana foi notificado que mais um receptor de órgãos teve o exame de HIV positivo após o transplante. Até o momento, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro confirmou seis casos idênticos.

A Anvisa esteve no laboratório PCS e descobriu que a unidade não tinha kits para realização dos exames de sangue e também não apresentou documentos comprovando a compra dos itens, o que levantou a suspeita de que os testes podem não ter sido feitos e que os resultados tenham sido forjados. A investigação, até o momento, identificou que a contratação emergencial foi feita pela Fundação Saúde, órgão ligado à Secretaria Estadual de Saúde do Rio, em um momento em que o Hemorio estava sobrecarregado.

No entanto, não constavam na licitação recomendação técnicas da Anvisa; as regras são obrigatórias para o atendimento de centrais de transplantes. Entre dezembro e setembro, quando o laboratório teve o contrato com o governo do Rio suspenso, foram realizados mais de 500 transplantes no Rio. Todos os pacientes que tiveram exames realizados pelo laboratório PCS estão sendo examinados novamente. A situação não tem precedentes no Brasil, que realiza transplantes desde 1964.

APAGÃO –  No segundo caso citado no início deste artigo, mais um fato de ampla gravidade. Cerca de 214 mil clientes, até a tarde de ontem, continuavam sem energia elétrica desde o apagão da sexta-feira na Grande São Paulo. Levantamento feito pela FecomercioSP aponta que a falta de eletricidade em parte significativa da cidade está gerando prejuízos aos setores do varejo e de serviços. A perda é estimada em R$ 1,65 bilhão.

Só no varejo, segundo a Fecomércio-SP, os prejuízos são de pelo menos R$ 536 milhões nos dias em que parte dos agentes do setor ficou sem funcionar na cidade. No caso dos serviços, as perdas somaram R$ 1,1 bilhão. “Esses dados foram compilados levando em conta que, aos fins de semana, o comércio de São Paulo tende a faturar, em média, R$ 1,1 bilhão por dia, enquanto os serviços têm receitas de R$ 2,3 bilhões”, disse um comunicado da empresa divulgado na madrugada desta terça-feira.

RESPOSTAS – “O valor deverá ser maior, porque a empresa responsável pela distribuição de energia, a Enel, ainda não forneceu respostas concretas sobre o retorno do serviço à totalidade dos imóveis que dependem da rede”, completou a Fecomércio-SP. A capital paulista foi o município mais afetado, principalmente na Zona Sul. Moradores chegaram a fazer protestos nas ruas, com bloqueio de vias e panelaço, para cobrar o retorno da energia elétrica. O apagão ainda afetou o abastecimento de água em diversas regiões.

São fatos inadmissíveis e que decorrem de omissões e erros seguidos por órgãos responsáveis por fiscalizar. Impressionante como o poder público se omite e ao longo do tempo não apresenta soluções. Casos se repetem e se estendem por vários setores ao mesmo tempo, sobrecarregando a própria administração pública. Até quando ?

Israel diz que forças de paz da ONU são “escudo para o Hezbollah”

Lula e PT precisam traçar novas estratégias para reconquistar eleitorado

Identidade com o eleitor que o PT possuía deixou de existir

Pedro do Coutto

O presidente Lula já precisa se preparar para a disputa da sua reeleição em 2026, a começar pelas bases partidárias diante da perda de prefeituras que o PT comandava e que agora já não o faz após o resultado das urnas deste ano.

Na verdade, de 2012 para cá, o volume de cidades administradas no país pelas principais legendas do campo caiu pela metade — resultado que suscita o debate sobre valores do eleitorado e os dilemas da esquerda. Até Lula reconheceu que é preciso “rediscutir” o papel eleitoral do PT.

ORGANIZAÇÃO – É preciso que Lula se organize para a disputa a ser realizada daqui a dois anos e alinhe o seu partido, indo ao encontro do eleitorado. Essa identidade com o eleitor que o PT possuía deixou de existir, conforme os últimos números dos pleitos. É fundamental que não só a legenda, mas o próprio Lula repense a sua atuação junto às diversas classes sociais. A perda principal que atingiu o PT se concentra nas classes mais pobres da população,indo no sentido contrário do que existia anteriormente.

Hoje o PT deixou de motivar tanto os grupos sociais conforme havia ocorrido na última década. O partido de Lula tem que se atualizar e buscar novas fontes de comunicação. Surgiram novos perfis sociais nesse período e o diálogo exigido não se dá da mesma forma a exemplo de outras épocas. O PT precisa acordar para essa nova realidade, e Lula não levou em consideração a aliança com os grupos que surgiram. É preciso buscar-se um elo que garanta a corrente eleitoral da campanha  até o voto na urna.

DIVISÃO – Importante destacar uma divisão interessante no espectro político nesta eleição. No campo da esquerda, observa-se uma parcela significativa de eleitores de Lula que não apoiaram, por exemplo, Guilherme Boulos. Já na direita, o movimento do ex-presidente Jair Bolsonaro em direção ao centro e a partidos mais institucionalizados deixou uma parcela de eleitores órfãos, suscetíveis a novos nomes da direita, como foi o caso de Ricardo Nunes. Esta dinâmica revela limites tanto para Lula quanto para Bolsonaro.

Dessa forma é possível ver limites do presidente Lula muito claramente, mas também limites de Bolsonaro, o que dá uma abertura de espaço para a discussão de novas possibilidades políticas. Esse cenário de fragmentação e realinhamento político abre espaço para novas discussões sobre o futuro da política brasileira, indicando que o eleitorado está se tornando mais complexo e menos previsível em suas escolhas eleitorais.

Lula reconhece fracasso do PT nas urnas durante eleições municipais

Presidente defendeu necessidade de mudar estratégia do partido

Pedro do Coutto

Numa entrevista para uma emissora de Fortaleza, reproduzida pela GloboNews na sexta-feira, o presidente Lula reconheceu antecipadamente a derrota eleitoral do PT na maioria das cidades do país, inclusive em São Paulo, com o péssimo desempenho da legenda, afirmando que é preciso reformular posições ideológicas que levam ao isolamento.

“Temos que rediscutir o papel do PT na disputa das prefeituras. O PT, nessas eleições, 80% dos nossos prefeitos foram eleitos em cinco países (sic), todos eles no Nordeste. Nós tivemos uma boa participação no Rio Grande do Sul, não tivemos uma boa participação em São Paulo, em Minas Gerais ganhamos as duas cidades que governamos”, declarou.

PERDAS – Lula disse que “o PT cresceu o número de prefeitos e vereadores, mas já governou São Paulo, Porto Alegre e outras capitais importantes”. “O dado concreto é que o PT perdeu inclusive Araraquara, que era uma cidade que tínhamos certeza de que iríamos ganhar. Em Teresina, até uma semana das eleições, todo mundo dava como certa a eleição do candidato do PT e não aconteceu”, disse.

Lula afirmou, porém, que o resultado das eleições municipais não têm efeito direto nas eleições presidenciais. “Toda vez que termina eleições, aparecem os vencedores e heróis que acham que o mundo, a partir dali, mudou. A eleição de prefeito não tem muita incidência na eleição presidencial. Porque nem todo prefeito no segundo ano de mandato está bem”, declarou.

RECURSOS – Segundo o petista, a quantidade de prefeitos reeleitos no Brasil está diretamente ligada aos recursos investidos por meio de emendas do orçamento federal. “Essa quantidade de prefeitos reeleitos é em função de que eles estão com recursos para fazer coisas, senão não seriam reeleitos.

Além disso, tem as emendas do orçamento, que era secreto até outro dia, que faz com que o dinheiro chegue na mão da prefeitura, às vezes sem chegar na do governador. É o maior percentual de prefeitos reeleitos da história, antes não era assim”, afirmou.

O índice de prefeitos eleitos pela legenda, de fato,  foi muito pequeno e destaca o isolamento partidário do PT. Lula justificou que a sua não participação de forma mais intensa em campanhas, inclusive na de Guilherme Boulos, decorre da divisão de suas bases eleitorais. O presidente deixou claro a necessidade de uma reaglutinação.

COMBINAÇÃO – “O PT precisa transformar essa preferência eleitoral e simpatia que tem em voto, que eu recebo, mas a gente não consegue receber nas prefeituras. É preciso fazer essa combinação. Tive uma participação mais acanhada nestas eleições, sou presidente da República e tenho uma base muito ampla”, afirmou.

O presidente disse acreditar que o deputado Guilherme Boulos pode ganhar as eleições em São Paulo. Apesar de apoiar o aliado, a escolha de palavras do presidente não demonstrou o mesmo entusiasmo que ele indicou em relação ao candidato do PT à prefeitura de Fortaleza, Evandro Leitão. Quando se referiu ao cearense, Lula disse estar “confiante” com a sua eleição. No caso de Boulos, disse que o deputado federal “pode ganhar as eleições”. O petista, porém, defendeu o líder do movimento sem teto, a quem chamou de “uma figura muito preparada”.

“Leio que o Boulos pode ganhar as eleições. O Boulos é uma figura muito preparada. Tivemos um problema no primeiro turno, porque é muito difícil convencer um petista, que estava habituado a votar em 13 desde 1980, a votar 50. Tem 50 mil pessoas que votaram no 13. Eu, inclusive, gravei para o Boulos dizendo que as pessoas habituadas a votar no 13 a votar no 50″, afirmou.

Segundo turno em São Paulo poderá ser prenúncio de duelo entre Lula e Tarcísio

Lula e Tarcísio se empenham pela Prefeitura de São Paulo

Pedro do Coutto

Na cidade de São Paulo, de acordo com o levantamento do Datafolha divulgado nesta semana, o quadro favorece amplamente Ricardo Nunes que atinge 55% de preferências dos votos contra 33% de Guilherme Boulos. A situação parece definida, embora faltem duas semanas para as eleições.

O 2º turno das eleições em São Paulo vai marcar o primeiro embate direto do presidente Lula com o governador paulista Tarcísio de Freitas, ambos cotados como possíveis candidatos à Presidência em 2026. Nunes tem o apoio do chefe do Executivo estadual. Boulos, do petista.

DUELO – A disputa antevê um possível, ainda que incerto, duelo em dois anos. Tarcísio é o principal cabo eleitoral de Nunes, enquanto Lula tem o mesmo papel para Boulos. Como o ex-presidente Jair Bolsonaro está inelegível, Tarcísio é o nome mais citado para concorrer com o seu apoio.

A vitória de Boulos é considerada pelo presidente a maior prioridade eleitoral deste ano. No fim de agosto, Lula foi a dois comícios ao lado do psolista em São Paulo. Também participou de propagandas eleitorais do candidato. Fez ainda uma caminhada na Avenida Paulista na véspera do 1º turno.

DIVISÃO – Importante destacar uma divisão interessante no espectro político nesta eleição. No campo da esquerda, observa-se uma parcela significativa de eleitores de Lula que não apoiaram Boulos. Já na direita, o movimento do ex-presidente Jair Bolsonaro em direção ao centro e a partidos mais institucionalizados deixou uma parcela de eleitores órfãos, suscetíveis a novos nomes da direita, como foi o caso de Ricardo Nunes. Esta dinâmica revela limites tanto para Lula quanto para Bolsonaro.

Dessa forma é possível ver limites do presidente Lula muito claramente, mas também limites de Bolsonaro, o que dá uma abertura de espaço para a discussão de novas possibilidades políticas. Esse cenário de fragmentação e realinhamento político abre espaço para novas discussões sobre o futuro da política brasileira, indicando que o eleitorado está se tornando mais complexo e menos previsível em suas escolhas eleitorais.

Datafolha em São Paulo: Nunes tem 55% e Boulos tem 33% no segundo turno

Diferença entre Nunes e Boulos no 1º turno foi de 25 mil votos

Pedro do Coutto

O Instituto Datafolha divulgou ontem a primeira pesquisa para o segundo turno da eleição municipal em São Paulo. Ricardo Nunes aparece com 55% dos votos na pesquisa estimulada, enquanto Guilherme Boulos tem 33% das intenções de voto.  O atual prefeito da cidade chegou ao segundo turno com 29,48%  e o deputado federal, por sua vez, teve 29,07%. A diferença foi de apenas 25 mil votos.

Segundo o levantamento, 84% dos eleitores de Pablo Marçal, que ficou em terceiro lugar na disputa, disseram que vão votar em Ricardo Nunes, que agora é nominalmente apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Apenas 5% das pessoas que votaram em Marçal declararam voto em Boulos no segundo turno.

VOTOS DE TABATA – A transferência dos votos recebidos pela deputada federal Tabata Amaral, que terminou em quarto lugar, vai 50% para Boulos, enquanto 33% dos eleitores dela migram para Nunes no segundo turno. O levantamento também mostra que 85% dos eleitores estão totalmente decididos a votar; outros 15% ainda podem mudar o voto. Os números são os mesmo entre os apoiadores de Nunes.

Já em relação aos eleitores de Boulos, 86% estão totalmente decididos, e 13% disseram que ainda podem mudar. Pelos números do levantamento, Boulos terá que mudar de estratégia para poder enfrentar esse novo cenário em que Nunes parece despontar com uma ampla vantagem, contando ainda com um apoio de vereadores de São Paulo.

TRANSFERÊNCIA –  Apesar da cúpula petista ter decidido transferir R$ 15 milhões para o 2º turno da campanha de Guilherme Boulos na capital paulista, a questão financeira não garante a estabilidade e as condições do candidato do Psol para chegar vitorioso nas urnas e conquistar a Prefeitura.

Claro que ainda há o debate entre os dois , com a possibilidade de apresentações de ideias e projetos. Porém, de qualquer forma, Boulos enfrenta um grande desafio.

Lula e Bolsonaro terão que sair do anonimato neste segundo turno

Charge do Benett (folha.uol.com.br)

Pedro do Coutto

A atuação do presidente Lula nesta fase final das eleições em muitas cidades estará em jogo, sobretudo em São Paulo, onde o seu candidato, Guilherme Boulos, obteve a segunda colocação no primeiro turno. Durante a primeira fase encerrada no dia 6, o apoio não foi explícito, mas todos sabem que Boulos é o candidato do Palácio do Planalto num embate que pode colocar frente a frente Lula e Bolsonaro.

Curioso é que enquanto Lula hesita em seu posicionamento, de outro lado, Bolsonaro também vacila ao não apoiar intensamente Ricardo Nunes.Parece que tanto Lula quanto Bolsonaro temem ainda definir as suas preferências no turno final. Mas isso é difícil, pois Boulos representa Lula de qualquer forma, implicando-o na corrida eleitoral. E Nunes é apoiado pelo partido de Bolsonaro.

DESFECHO – O resultado é incerto, tanto para Lula quanto para Bolsonaro que se enfrentam na cidade de São Paulo. Um desfecho difícil de prever. Não se trata apenas de transferência de votos de Pablo Marçal para Boulos ou para Nunes, mas na capacidade que podem ter os candidatos de arrebatar votos dos que esperam um titular eleito.

Por mais que Lula e Bolsonaro queiram se ocultar, não conseguirão, pois todos sabem que num desfecho favorável, Lula capitalizará a vitória. Se Boulos perder, o temor é que a vitória de Nunes seja transformada em ganhos para Bolsonaro. O jogo se complica, e quem vai faturar o resultado final?

Admitindo-se que Ricardo Nunes fique com a mesma votação e Boulos absorva todos os votos de Tabata Amaral e de outros seis deixados de fora, partirá de 42%. Para chegar aos 50%, terá que buscar mais de 600 mil votos no estoque de Marçal. Como 2,5 milhões não foram votar no domingo, essa conta só fechará na noite da próxima eleição. No final das contas, uma coisa é certa: em matéria de votos, ninguém pode se eximir atrás de uma cortina de silêncio. Há sempre um comprometimento.

Nunes x Boulos: quem herdará os votos de Pablo Marçal?

Charge do Cláudio (folha.uol.com.br)

Pedro do Coutto

O segundo turno das eleições na cidade de São Paulo, após o primeiro turno, apresenta uma situação atípica. Em reportagem nesta terça-feira, O Globo afirma que o candidato Ricardo Nunes não deseja o apoio de Pablo Marçal. O atual prefeito e candidato à reeleição participou de um encontro com mulheres. Questionado se aceitaria que Marçal fizesse campanha ao seu lado, Nunes negou: “No meu palanque, não”.

Após o resultado das urnas, o ex-coach afirmou que poderia apoiar o atual prefeito caso algumas de suas propostas fossem incorporadas. “Tomara que o Ricardo leve em consideração algumas das nossas propostas, porque o eleitorado dele é exatamente do tamanho do meu eleitorado, espero que ele leve em consideração”, afirmou.

ERROS – Nunes afirmou que não irá procurar o candidato do PRTB. “Não vou procurar [Marçal]. Se for procurado, eu vou dizer a ele que espero que tenha aprendido com os erros e possa fazer uma reflexão de tudo aquilo que cometeu de erro e que siga o caminho dele e eu sigo o meu”, afirmou. Ele destacou que precisa dos eleitores de Marçal “que entendem que estamos em uma batalha contra a extrema-esquerda”, mas que não conversaria com o ex-adversário.

Já Guilherme Boulos disse ontem que os eleitores que votaram em Pablo Marçal votaram pela mudança. A fala rebate Ricardo Nunes que afirmou que o perfil do eleitorado do ex-coach é semelhante ao seu. Sobre como irá dialogar com os eleitores de Marçal, Boulos afirmou que quer falar com todos que votaram insatisfeitos com a situação atual de São Paulo.

DIÁLOGO – Disse ainda que o atual prefeito não tem pulso para governar a cidade por ser “um pau-mandado do centrão, sem identidade, vindo do Governo Dória”. “Vamos dialogar não só com os eleitores do Marçal, mas com o conjunto dos eleitores da cidade, 70% dos eleitores que votaram pela mudança”, acrescentou.

O fato é que os votos de Marçal foram muito numerosos e devem ser divididos entre Nunes e Boulos. No fundo da questão, esses são pontos fundamentais que podem ser decisivos para a vitória. Se Nunes não conseguir conquistar os votos de Marçal, estará jogando o eleitor do ex-coach no colo de Boulos. Política é assim, contradições que se estabelecem e se desfazem com o andar dos interesses em jogo.

O município acabou prevalecendo na preocupação do eleitor brasileiro

A importância das pesquisas eleitorais no cenário político

Charge do Ivan Cabral (ivancabral.com)

Pedro do Coutto

Uma perícia técnica do Instituto de Criminalística de São Paulo concluiu que o laudo apresentado por Pablo Marçal contra Guilherme Boulos é falso, o que pode ter acarretado uma vantagem maior para o candidato do Psol em São Paulo. Boulos imediatamente teve uma grande exposição do seu nome nos jornais e emissoras de televisão, assumindo uma posição de quem sofreu uma grande injustiça. E esse fato possivelmente se refletiu numa faixa do eleitorado, reforçando alguma vantagem sobre os seus adversários.

Na cidade de São Paulo, conforme mostraram os resultados, haverá segundo turno. Os institutos Datafolha e Quaest praticamente convergiram para essa posição durante as pesquisas que confirmaram os prognósticos apresentados. Isso demonstra a grande evolução dos processos, mas também dos próprios trabalhos destes órgãos.

PERMUTAS – Antigamente, o Instituto Ibope para fazer pesquisas recorria às permutas com os órgãos de imprensa. Hoje, ao contrário, além da exposição de seus resultados, os institutos recebem contratos firmados com as emissoras e os jornais.

Foi uma longa trajetória para a concretização da credibilidade e das ações nesse cenário,  sobretudo pelo fato de os grupos entrevistados serem muito pequenos em relação ao total da população, o que inicialmente não atribuía confiança por parte de grande parte dos eleitores. Nem todos viam os números e projeções como parâmetros corretos.

Mas hoje muitos órgãos de pesquisa são de grande aceitação em seus levantamentos, tendo em vista a grande quantidade de acertos nos últimos anos, com números efetivos praticamente iguais aos previstos durante as campanhas eleitorais. A grande arma dos institutos é exatamente a credibilidade que só é conquistada com o trabalho realizado ao longo do tempo, aperfeiçoado e cada vez mais alinhado com a realidade.

INDICATIVO – A profusão de pesquisas eleitorais às vésperas de cada pleito são um claro indicativo da importância dada a esse instrumento não apenas por candidatos aos mais diversos cargos, mas também pelos meios de comunicação e pela sociedade em geral.

É importante ressaltar que os resultados de uma pesquisa não são números exatos, mas sim estimativas e devem ser interpretados de um intervalo que estabelece limites em torno da estimativa obtida.  Quanto maior for à amostragem e mais homogênea for à população em estudo, mais seguras serão as informações da pesquisa eleitoral.

O problema que se percebe, é que hoje o eleitor está mais heterogêneo, pois está mais pela emoção do que pela razão.  A decisão do voto é muito sensível, podendo mudar na última hora da eleição. Hoje, mais uma vez, podemos fazer um comparativo dos números levantados antes e após os pleitos eleitorais, reforçando através da grande maioria das capitais a confiabilidade dos números dos institutos.

Taxas de rejeição não alteram os resultado das pesquisas eleitorais

Charge do Baggi (instagram.com/falabobaggi/)

Pedro do Coutto

Sobre o empate triplo desenhado para as eleições para a Prefeitura de São Paulo, alguns analistas recorrem à taxa de rejeição de cada um dos candidatos como possível meio de definir a disputa ou reviravoltas em possíveis prognósticos. É um equívoco. A taxa de rejeição já está embutida nos percentuais que os candidatos obtêm nos levantamentos.

No momento em que o eleitor escolhe um candidatos entre os três candidatos, a exemplo das pesquisas para a Prefeitura de São Paulo, ele já rejeitou os outros dois. Ou seja, essa taxa não faz diferença. É um erro procurar nesse ponto da questão qualquer força, pois a intenção de voto já está presente nas declarações feitas durante a pesquisa. A taxa de rejeição é teórica e recorrer a esta é uma consideração dupla dos elementos envolvidos.

ALTERNATIVAS – O Ministério da Fazenda estuda alternativas para cumprir a promessa de campanha do presidente Lula da Silva e garantir a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Uma possibilidade em análise é limitar o benefício a quem efetivamente ganha até esse valor por mês, mas haveria uma “rampa” para evitar que trabalhadores que recebem um pouco mais não sejam prejudicados.

O tema está em discussão na pasta de Fernando Haddad antes de ser apresentado a Lula, que irá tomar uma decisão sobre o assunto. O projeto faz parte da agenda de reforma de regras tributárias sobre a renda. No caso da ampliação da isenção do IR, os obstáculos são maiores. O desenho que está sendo feito agora teria um impacto de cerca de R$ 35 bilhões na receita de impostos. A equipe econômica busca saídas para cumprir a promessa sem prejudicar as contas públicas e quer propor formas de compensação dessa isenção.

É isso que vem travando as discussões. Para técnicos, não há uma saída “óbvia”, como tributação de lucros e dividendos ou aumento de faixas do IR, com alíquotas mais altas para rendimentos maiores. Trata-se de uma iniciativa positiva, sobretudo para os que têm menor renda. Mas o estudo requer mais atenção por parte das correntes da Fazenda, pois o assunto não é pacifico. O fato é que o governo tocou num ponto importante de isentar uma faixa maior de rendimento. A isenção inclusive vai se refletir num consumo maior das famílias.

Empate triplo desafia as eleições à Prefeitura de São Paulo

Indefinição é resultado do acirramento das últimas semanas

Pedro do Coutto

Enquanto no Rio de Janeiro, a vitória de Eduardo Paes no primeiro turno já parece ser um fato consumado, uma vez que a pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira mostra o atual prefeito em uma posição confortável na disputa, com 54% das intenções de voto, apesar de ter registrado uma queda de 5 pontos percentuais em comparação com a pesquisa anterior, em São Paulo um verdadeiro desafio se estabeleceu nesta reta final, com três candidatos brigando pelas duas vagas no segundo turno.

Na maior cidade do país, o prefeito Ricardo Nunes, de centro e com apoio tímido do ex-presidente Jair Bolsonaro, defende sua gestão, confrontando-se com o deputado federal Guilherme Boulos, do campo da esquerda e apoiado pelo presidente Lula da Silva — que pouco participou da campanha —, e pelo influenciador digital e empresário Pablo Marçal, o outsider de direita que bagunçou a campanha com a sua estratégia de desrespeitar qualquer regra de bom comportamento.

REDES SOCIAIS – Sem direito ao horário eleitoral obrigatório, Marçal fez a sua campanha praticamente pelas redes sociais, onde tem milhões de seguidores. Correndo por fora, está a deputada Tabata Amaral (PSB), que viu seu nome crescer nas pesquisas, mas não a ponto de ameaçar o trio favorito. A deputada, porém, é quem melhor aproveitou o espaço que os debates abriram para se fazer mais conhecida. Foi, também, a mais contundente nas críticas a Pablo Marçal, por ter visto boa possibilidade de roubar votos do influenciador.

Segundo pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta-feira, instaurou-se um cenário embolado no primeiro turno para a Prefeitura da cidade, com Guilherme Boulos registrando 26% dos votos, seguido por Ricardo Nunes, com 24%, e Pablo Marçal, também com 24%. Os três estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

RECUO – Na comparação com a semana passada, Nunes recuou três pontos (tinha 27%). Boulos teve oscilação positiva (possuía 25% e variou um ponto para cima), e Marçal, que estava em terceiro lugar, com 21%, manteve a curva ascendente e teve variação positiva de três pontos, igualando-se ao índice do atual prefeito.

A parcela dos que não sabem é de 3% agora, mesmo patamar da pesquisa anterior. A opção pelo voto nulo ou branco é declarada por 6% dos eleitores. No segundo pelotão, Tabata Amaral confirmou o descolamento de José Luiz Datena. A deputada do PSB oscilou para cima e agora chega a 11% na estimulada (tinha 9%), enquanto o apresentador tem 4% (antes marcava 6%, em empate técnico com a deputada).

PRESSÃO – A parlamentar se insurgiu nos últimos dias contra as pressões por voto útil na esquerda, após manifesto de artistas e intelectuais defender o apoio a Boulos para evitar um segundo turno “trágico”, com dois bolsonaristas, Nunes e Marçal. Tabata apela às rejeições na tentativa de se mostrar ainda no jogo.

O cenário de indefinição até a reta final é resultado do acirramento das últimas semanas, com Nunes e Marçal disputando o eleitorado à direita e ligado a Bolsonaro, e Boulos em estabilidade, mas com dificuldade para avançar entre eleitores do presidente Lula, seu apoiador e incentivador da nacionalização da eleição paulistana.

Troca de hostilidades e bombas entre Israel e o Irã impactam milhares de civis

Confrontos ignoram qualquer tipo de regra ou respeito à vida

Pedro do Coutto

Agrava-se a crise no Oriente Médio com a troca de hostilidades e bombas entre Israel e o Irã. A população civil sofre o impacto de uma situação verdadeiramente catastrófica no Líbano, com cerca de um milhão de pessoas impactadas. O ritmo de deslocamento da população excedeu os piores cenários desde 23 de setembro. Israel aumentou drasticamente os bombardeios, matando mais de 500 pessoas em um único dia, segundo o governo libanês. O nível de trauma e de medo na população é extremo.

Israel defende que sua ofensiva contra o Hezbollah — grupo fortemente armado e apoiado pelo Irã — tem como objetivo garantir o retorno para casa de israelenses retirados de regiões próximas à fronteira libanesa, em consequência de praticamente um ano de ataques do Hezbollah contra o norte de Israel. O governo libanês diz que cerca de 1,2 milhão de pessoas tiveram de deixar suas casas por causa dos ataques israelenses. Algumas morreram em ataques israelenses após deixarem seus lares.

Com a ofensiva lançada contra Israel, o Irã abre novo capítulo dramático no Oriente Médio

Ataque direto atingiu principalmente Tel Aviv

Pedro do Coutto

O ataque do Irã a Israel e a resposta de Netanyahu, garantindo retaliação, formam um novo capítulo dramático da guerra no Oriente Médio que agora pode ser expandida. O Irã disparou cerca de 200 mísseis balísticos em direção ao território israelense nesta terça-feira, no primeiro ataque direto após a escalada de tensão entre Israel e o Hezbollah, grupo extremista, embora atue no Líbano, é financiado pelo regime iraniano.

Na última segunda-feira, um dia antes da ofensiva iraniana, Israel lançou uma ofensiva terrestre no Líbano mirando alvos específicos do Hezbollah. A invasão ocorreu após mais de uma semana em que Israel vem bombardeando diferentes regiões do Líbano, inclusive a capital, Beirute, em uma ação que marcou um novo conflito na guerra do Oriente Médio.

TENSÃO – Há quase um ano, Israel luta também contra o Hamas na Faixa de Gaza, desde que o grupo terrorista invadiu o sul do país, matou 1,2 mil pessoas e sequestrou outras centenas. O Hezbollah tem bombardeado o norte de Israel desde então, em apoio ao Hamas. A tensão na região escalou nos últimos dias, com bombardeios de Israel contra alvos do Hezbollah em vários pontos do Líbano, incluindo a capital Beirute. Um dos ataques provocou a morte do chefe do grupo extremista, Hassan Nasrallah, na sexta-feira.

Em apenas 12 minutos, os mísseis iranianos atravessaram os céus de pelo menos dois outros países do Oriente Médio e chegaram em Israel. Cerca de 20 minutos após uma primeira onda de mísseis, uma segunda leva de artefatos foi lançada. Parte dos artefatos foi abatida pelo Domo de Ferro, um dos poderosos sistemas antimísseis israelenses.

ESPAÇO AÉREO – Alguns mísseis atingiram locais controlados por Israel na Cisjordânia. Além de Israel, Jordânia e Iraque também fecharam seus espaços aéreos, posteriormente reabertos. O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, afirmou também que o ataque desta terça representa somente parte da capacidade ofensiva do Irã, e disse: “não entrem em confronto com o Irã”. Já o porta-voz do Exército israelense disse que o ataque foi “sério” e que “haverá consequências”.

Não já sinalização de nenhum parte envolvida nas ações bélicas de um possível recuo ou acordo de cessar fogo. Novamente, o mundo prende a respiração e se coloca de prontidão diante dos próximos passos da temida guerra no Oriente Médio.

Israel começa invasão terrestre contra o Hezbollah no Líbano

Israel invade Líbano em busca do Hezbollah e nova guerra se inicia

Pedro do Coutto

A guerra no Oriente Médio vinha se desenrolando, até agora, por meio de ataques mútuos entre Israel e o Hezbollah. De ataques ao Líbano a atentados na Faixa de Gaza, a tensão se agravava, desde outubro do ano passado, com episódios sucessivos de ações contra hospitais e em importantes centro urbanos, como Beirute. Ontem, porém, uma nova página da guerra começou a ser escrita. As tropas de Israel e do Hezbollah começaram a travar o primeiro confronto direto.

Segundo informações do Exército israelense, o confronto aconteceu no sul do Líbano. Por lá, os soldados israelenses fizeram incursões por terra desde a tarde de segunda-feira.  Até o momento em que escrevo esse artigo, não havia informações sobre mortos ou feridos no confronto direto, mas o Exército israelense comunicou que “há um combate intenso” no sul libanês. Os militares de Israel também informaram a realização de um novo bombardeio em Beirute, capital do Líbano.

ATAQUES – A invasão israelense ao Líbano já era esperada. Desde que os ataques a pagers no país tomaram o noticiário, nas últimas semanas, o agravamento indicava que as tropas de Netanyahu avançaram sobre o território dominado pelo Hezbollah. Outro ponto da guerra diz respeito à morte do chefe do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, no último sábado, após um ataque nos subúrbios do sul de Beirute e que fez o grupo reafirmar que continuaria a batalha com Israel. Agora, em meio à invasão ao território libanês, Israel determinou que os residentes de mais de 20 cidades no sul do Líbano saíssem imediatamente das suas casas.

O Exército israelense também anunciou nesta terça ter mobilizado mais quatro brigadas reservistas para serem destacadas no norte do país. “Isso nos permitirá continuar as atividades operacionais contra a organização terrorista Hezbollah e alcançar objetivos operacionais, acima de tudo o retorno seguro dos habitantes do norte de Israel às suas casas”, disse o Exército em comunicado.

Com a invasão terrestre do Líbano pelas forças de Israel, agravou-se a crise no Oriente Médio, inclusive com a perspectiva da entrada do Irã, que financia o Hezebolah.  Israel não tem linha de recuo e ainda não sabe o que o Irã fará diante da ameaça. Mais uma vez, o terror da guerra sem limites ameaça a vida de milhares de pessoas e a paz mundial.

Ataques israelenses provocam fuga em massa do Líbano para a Síria

A guerra não poupa inocentes, mulheres ou crianças

Pedro do Coutto

O conflito no Oriente Médio está assumindo um caráter de catástrofe diante da pressão e do temor da ofensiva de Israel. Cerca de 100 mil pessoas, 80% delas sírias, fugiram do Líbano para a Síria devido aos ataques israelenses, número que dobrou em dois dias. A reversão desse fluxo, uma vez que a Síria enfrenta uma guerra civil há 13 anos que já deslocou mais de 12 milhões de pessoas, expõe o desespero dessas pessoas à medida que o conflito entre Israel e o Hezbollah se intensifica, com a morte do líder do movimento xiita, Hassan Nasrallah, na última sexta-feira, marcando uma escalada sem precedentes.

Até sexta-feira, 30 mil pessoas haviam cruzado para a Síria, de acordo com a agência da ONU. A maioria são mulheres e crianças. As pessoas em fuga fogem dos bombardeios e chegam à Síria exaustas, traumatizadas e precisando desesperadamente de ajuda. Israel ampliou seus ataques nos últimos dias para incluir o Líbano e a Faixa de Gaza, tendo como alvo o Hezbollah, aliado regional do Irã.

REDUTO – Na sexta-feira, um ataque israelense contra a região sul de Beirute, um dos redutos do Hezbollah, matou Nasrallah. O bombardeio atingiu prédios residenciais sob os quais funcionava o quartel-general do movimento xiita. Foram mais de 80 bombas em poucos minutos, segundo informou o New York Times. O corpo de Nasrallah foi recuperado no domingo.

Os ataques israelenses tampouco pouparam civis e na última semana os bombardeios mataram mais de 700 pessoas no Líbano, incluindo 14 paramédicos em um período de dois dias, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano. Nesta segunda, um ataque de drone atingiu um prédio no centro de Beirute, com um grupo armado palestino dizendo que havia matado três de seus membros. O Ministério da Saúde libanês também relatou o ataque, o primeiro no centro da capital libanesa, dizendo que matou quatro pessoas e feriu outras quatro.

Uma situação de pânico que está abalando a humanidade. Israel, segundo Netanyahu, dará sequência aos bombardeiros. O mundo, mais uma vez, corre o risco de um conflito generalizado, pois  o Irã anuncia apoio ao Hezbollah, o que causará uma nova etapa da guerra que poderá ocorrer. O risco já se estende pelo Oriente Médio e não dá sinais de que os conflitos possam ser suscitados pela intervenção das grandes potências. Netanyahu rejeitou as propostas dos Estados Unidos de uma trégua na região. A humanidade se curva diante da ignorância e a violência de mais uma guerra.