Campos Neto revela que o Banco Central esteve muito perto de intervir no câmbio

“Nunca houve um espírito de equipe tão grande”

Pedro do Coutto

Numa entrevista de página inteira a Miriam Leitão, Roberto Campos Neto afirmou que o Banco Central esteve perto de intervir no mercado de câmbio para conter as elevações verificadas, mas depois desistiu da ideia. Miriam Leitão indagou a respeito da alta dos juros, e Campos Neto afirmou que “A gente sempre disse que se fosse necessário subir os juros, subiria, mas não lembro de ter falado de alta de juros. O mercado já vinha colocando um pouco de expectativa de alta na curva. Mas não depende só do mercado, precisa olhar o cenário daqui para frente. A economia está forte, parte do mercado de trabalho está forte, a inflação em 12 meses bateu 4,5%, mas vai cair um pouco, e os próximos números vão ser melhores.”

Segundo Campos Neto, há indícios de que o mercado de trabalho forte está começando a afetar serviços, mas que isso ainda não está evidente. “Por outro lado, sobre a economia americana há agora a percepção de que haverá desaceleração organizada. Os economistas não estão prevendo alta ( de juros) para este ano, mas o mercado sim. É importante ter calma, ter cautela nos momentos de muita volatilidade”, acrescentou.

PATAMAR – O mercado de câmbio foi considerado como um fantasma por Roberto Campo Neto, mas, segundo ele, as coisas voltaram ao seu patamar aceitável, não sendo preciso um ato de impacto no mercado que poderia gerar efeitos difíceis de prever.

“Esse fantasma tinha três razões. O medo de que a desaceleração nos EUA fosse ser muito mais forte. Esse fantasma desapareceu. Outra razão era que uma parte grande do mercado financeiro mundial estava `fundiado´ em iene, ou seja, tinha a perspectiva de que, no Japão, a taxa de juros ia ficar baixa para sempre, de que era fácil pegar dinheiro emprestado lá para aplicar em outros lugares. Esse movimento foi desmontado em mais ou menos 50% a 60%, já não tem mais o mesmo peso. O mercado começou a ter uma preocupação muito grande sobre a relação entre EUA e China, com medo de uma desaceleração global”, destacou.

INTERVENÇÃO – Sobre a possível intervenção no mercado de câmbio, o presidente do BC disse que houve a discussão se, em alguns momentos, deveria-se vender câmbio ou não. “A curva longa de juros estava subindo muito e uma das coisas que a gente aprendeu aqui é que tem que fazer intervenção quando tem disfuncionalidade no mercado. A gente olhava a liquidez no câmbio e achava que não. Olhava a precificação do câmbio com outras variáveis do Brasil e achava que não. Mas quando olhava a desvalorização do câmbio, tinha sido bastante rápida naquele período. Então gerou um debate, a gente preferiu esperar. Teve momentos que a gente estava preparado para intervir de fato”, disse Campos Neto.

Ele afirmou ainda sobre ter sido criticado pela camisa que usou na campanha presidencial passada que hoje teria feito diferente, destacando que “o voto é um ato privado”. “Acho que, no fim das contas, a autonomia e a independência se fazem pelo que eu fiz ao longo do tempo no Banco Central. Fizemos a maior alta de juros no período eleitoral dos países emergentes”, destacou.

Por fim, Campos Neto  frisou que não se lembra do tempo em que esteve no cargo de um grupo de diretores do banco estar tão coeso. “Acho que isso é sinal de que a transição para o meu sucessor será marcada pela tranquilidade”, finalizou.

Golpe das criptomoedas em SC: Quadrilha movimenta quase R$ 1 bilhão no Brasil

Charge do Iotti(gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

No Brasil, mais uma vez, surge um esquema de corrupção com as operações financeiras digitais. Na última semana, a Polícia Civil de Santa Catarina deflagrou a Operação Cripto Farsa, contra o golpe de falso investimento em criptomoedas. Quatro estados brasileiros foram alvo de um total de oito mandados de busca e apreensão.

A investigação começou com a denúncia de uma idosa que sofreu um golpe de falso investimento em criptomoedas em Lages, na Serra catarinense. A vítima registrou boletim de ocorrência após investir R$ 90 mil na compra de bitcoins e nunca receber o lucro prometido ou o reembolso do investimento.

GOLPE – Além de fazer vítimas em Santa Catarina, os investigados aplicaram o golpe das criptomoedas em diversos cidadãos no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. A polícia ainda constatou que os golpistas envolvidos no esquema movimentaram mais de R$ 900 milhões nos últimos anos.

Durante as buscas, foram apreendidos diversos aparelhos eletrônicos, entre computadores e telefones celulares, além de farta documentação que comprova a prática dos crimes. Os documentos e equipamentos eletrônicos serão analisados para dar seguimento às investigações e identificar os demais envolvidos.

O mais irônico é que o sistema de criptomoedas vem sendo anunciado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como um avanço nas relações financeiras internacionais. Verifica-se agora uma sequência de armadilhas na fixação de valores irreais em aplicações. É impressionante o impulso brasileiro para a fraude, bastando para isso que surja um sistema novo de investimentos.

INVESTIGAÇÃO – A moeda digital vinha sendo destacada como um progresso, pois o crédito das operações era imediata. Agora o BC abriu investigação para identificar os responsáveis pelas operações que apresentaram valores superestimados para transações financeiras.

A perplexidade dá lugar à investigação no mercado, ficando evidente que o superfaturamento foi uma peça chave para que essas fraudes se desenrolassem. Quem paga isso é o mercado brasileiro, como sempre acontece. Pessoas físicas ou jurídicas contribuem para que as fraudes se realizem. Quando são identificadas já é tarde.

O adeus a Silvio Santos, o mais popular apresentador da TV brasileira

O apresentador estava internado desde o início de agosto

Pedro do Coutto

Foi grande a manifestação de todos os órgãos da imprensa sobre a passagem de Silvio Santos, o mais popular apresentador de televisão que a cultura brasileira já conheceu, destacando a sua trajetória singular.

Silvio Santos foi camelô nas ruas do Rio, um popular locutor de rádio e apresentador de TV antes de fundar sua própria emissora, o Sistema Brasileiro de Televisão, que desafiou por décadas a liderança da rival Globo. Silvio também flertou com a política e chegou a se lançar à Presidência da República em 1989, mas a candidatura foi impugnada pela Justiça eleitoral.

OPÇÃO – O nome artístico Silvio Santos surgiu quando a carreira no rádio e televisão virou uma opção para o vendedor aumentar seus lucros. Assim, Silvio, depois da parceria com Manoel da Nóbrega, estreou nas telas em 1962, no programa Vamos Brincar de Forca, na TV Paulista. No ano seguinte, estreou o Programa Silvio Santos, que, desde 1963, está no ar no país.

Para Maurício Stycer, biógrafo do apresentador e autor do livro Topa Tudo Por Dinheiro, Silvio buscou a televisão e o rádio como uma maneira de ampliar os negócios e conseguir o próprio canal. Percebendo o sucesso da empreitada, Silvio Santos decidiu dobrar a aposta e passou a lutar para criar uma rede de televisão.

SBT – O sonho começou em 1976, quando o general Ernesto Geisel, um dos presidente do período da ditadura militar, concedeu ao comunicador a TVS (TV Studios) do Rio de Janeiro. Quase cinco anos depois, em 1981, Silvio Santos fundou o SBT. O Globo, neste domingo, editou um caderno especial focalizando em Silvio Santos e durante todo o dia de sábado a Rede Globo permaneceu no ar com a sua programação voltada para a vida do apresentador.

Foi sem dúvida uma trajetória fantástica marcada pelo êxito absoluto a cada passo. Foram ouvidas integrantes da classe artística à qual ele pertencia e personalidades de todos os setores, inclusive da política. O presidente Lula da Silva ressaltou o papel de Silvio Santos como um exemplo de alguém que partiu de uma classe pobre para chegar ao auge do sucesso. Inúmeras pessoas destacaram a sua gratidão por aquele que à frente do programa dominical conseguiu levá-los a uma posição de plena relevância no cenário artístico.

Foi uma escalada registrada em caráter excepcional. Todas as homenagens que lhe foram dirigidas são justas e refletem uma posição humana que parte do reconhecimento para configurar toda a nossa gratidão.

Em confronto com o Congresso. o Supremo mantém suspensão de emendas

Dino interrompeu repasse de emendas impositivas

Pedro do Coutto

O panorama político do país está, sem dúvida, afetado pela decisão do Supremo Tribunal Federal que, por unanimidade, 11 votos a zero, decidiu manter a decisão individual do ministro Flávio Dino que suspendeu a execução das emendas impositivas de deputados federais e senadores ao Orçamento da União. A decisão também valida a suspensão das chamadas “emendas Pix”.

Na última quarta-feira, o ministro Flávio Dino decidiu que os repasses das emendas impositivas deverão ficar suspensos até que os Poderes Legislativo e Executivo criem medidas de transparência e rastreabilidade das verbas. Esse tipo de emenda obriga o governo federal a enviar os recursos previstos para órgãos indicados pelos parlamentares.

MOTIVAÇÃO – A decisão foi motivada por uma ação protocolada na Corte pelo PSOL. O partido alegou ao Supremo que o modelo das emendas impositivas individuais e de bancada de deputados federais e senadores torna “impossível” o controle preventivo dos gastos.

O ministro entendeu que a suspensão das emendas é necessária para evitar danos irreparáveis aos cofres públicos. Pela decisão, somente emendas destinadas para obras que estão em andamento e para atendimento de situação de calamidade pública poderão ser pagas.

“EMENDAS PIX” – No início deste mês, Dino suspendeu as chamadas “emendas Pix”. Elas são usadas por deputados e senadores para transferências diretas para estados e municípios, sem a necessidade de convênios para o recebimento de repasses.O ministro entendeu que esse tipo de emenda deve seguir critérios de transparência e de rastreabilidade. Pela mesma decisão, a Controladoria-Geral da União (CGU) deverá realizar uma auditoria nos repasses no prazo de 90 dias.

Mas a questão não terminou ainda, pois o Congresso tem colocado em pauta um projeto de emendas constitucionais que efetivamente colide com a decisão do Supremo e dá nova forma para o problema. De um lado, portanto, temos o Supremo mantendo a suspensão do pagamento das emendas e de outro temos uma investida do parlamento para anular a decisão da Corte Suprema, estabelecendo uma nova confusão legal.

O presidente Lula, apesar de distante do choque, será por ele atingido, uma vez que torna-se difícil administrar o país em meio aos confrontos envolvendo o STF e o Congresso Nacional. Afinal de contas, quem tem a chave do cofre é o Executivo. Logo, qualquer decisão contrária levará Lula a um impasse: ou atende ao Congresso ou coloca-se ao lado do Supremo Tribunal Federal. É difícil governar assim. Falta sensibilidade à classe política para conviver com o regime atual e com o fortalecimento do Poder Judiciário.

Maduro e María Corina Machado já descartaram realização de nova eleição

Lula ainda não reconhece Maduro como presidente eleito da Venezuela

Lula ainda não reconhece Maduro como presidente eleito da Venezuela |  Agência Brasil

Maduro sabe que está devendo uma explicação, diz Lula

Pedro do Coutto

O presidente Lula reafirmou, nesta quinta-feira, que ainda não reconhece a reeleição do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Segundo o chefe do Executivo, os dados e as atas eleitorais devem ser apresentadas para comprovar os resultados das eleições. O presidente venezuelano, no poder desde 2013, já foi diplomado pelo Conselho Nacional Eleitoral do país para novo mandato a partir de janeiro de 2025.

“Eu sempre digo o seguinte: não é fácil e não é bom que um presidente da República fique dando palpite sobre a política de um presidente de outro país. Mas nós queremos que o Conselho Nacional, que cuidou das eleições, diga publicamente quem é que ganhou. Porque até agora ninguém disse quem ganhou. Ele [Maduro] sabe que está devendo uma explicação para a sociedade e para o mundo”, afirmou.

IRREGULARIDADES – Lula destacou ainda que os enviados do país para acompanhar o pleito na Venezuela em 28 de julho, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, e Audo Faleiro, não observaram irregularidades no dia das eleições. As confusões, diz Lula, começaram quando Maduro declarou ter ganhado e o candidato Edmundo González também.

De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral, o atual presidente recebeu 51,2% dos votos, enquanto Edmundo González, principal candidato da oposição, obteve 44%. A oposição, no entanto, sustenta que González recebeu 70% dos votos. As atas ainda não foram divulgadas. “Tem que apresentar os dados por algo que seja confiável, O Conselho Nacional Eleitoral, que tem gente da oposição poderia ser. Mas ele não enviou para o Conselho, mas para a Justiça”, afirmou Lula.

ESFORÇOS – O presidente também mencionou os esforços do Brasil juntamente com outros países, como Colômbia e Venezuela, para “encontrar uma saída”. Ele propõe, entre outras medidas, governo de coalizão, critérios de participação de todos os candidatos ou a criação de um comitê eleitoral suprapartidário.

Ao que tudo indica, será preciso esperar uma solução para o desfecho. Uma alternativa seria a realização de novo pleito com a supervisão internacional, mas isso Maduro se recusa, pois ele sabe que foi derrotado. O impasse continua. Caso Lula reconhecesse a vitória de Maduro perderia pontos preciosos e prestígio dentro do Brasil. E isso, definitivamente, ele não quer.

Taxação em plano de previdência deixado como herança avança na Câmara

Pelo texto, quanto maior a herança, maior a alíquota

Pedro do Coutto

A Câmara dos Deputados aprovou um projeto que permite a taxação da previdência privada no momento da transferência aos herdeiros. Tal projeto é absurdo, sobretudo porque remete aos estados a possibilidade de fazer tal transferência aos que nada contribuíram. A herança é sempre uma decisão dos que contribuíram para os planos de previdência sem prever taxação alguma.

O texto aprovado pelos deputados estipula a cobrança do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), o imposto sobre herança, nos planos de previdência privada, como PGBL e VGBL. Enquanto no VGBL o Imposto de Renda incide apenas sobre os rendimentos, no PGBL, o imposto incide sobre o valor total a ser resgatado ou recebido sob a forma de renda. A proposta estabelece, porém, que investidores que ficarem mais de cinco anos no VGBL, a contar da data do aporte, serão isentos. Já o PGBL será tributado independentemente do prazo.

COBRANÇA – O secretário Extraordinário de Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, defendeu a medida, apesar de o governo ter retirado a cobrança do texto encaminhado ao Congresso. A tributação, porém, foi retomada pela Câmara. A minuta do projeto de lei elaborado pela equipe econômica previa a cobrança do imposto de herança sobre a previdência privada.

Com a repercussão negativa, principalmente nas redes sociais, a cobrança foi retirada do texto – sob determinação do presidente Lula da Silva. É injusta e ilegítima a forma com que o projeto de lei estabelece. São coisas do Brasil. Em última análise, pode-se esperar o veto por parte do presidente Lula da Silva. É incrível como se fazem as leis no país.

APOIO – Marcelo Freixo anunciou seu voto em Eduardo Paes. Principal nome da esquerda carioca nas últimas duas décadas e notório adversário de Paes, Freixo afirma que fará campanha este ano para o prefeito. Não só: o ex-PSOL e PSB reforça a necessidade de uma vitória no primeiro turno — que, na visão dele, passa por levar o eleitorado de esquerda ao candidato à reeleição — e defende que Paes concorra ao governo do estado em 2026.

“Em 2012, quando concorri contra ele, o Eduardo representava a direita. Hoje há outra configuração política no país e no Rio. A extrema direita e a direita estão fora do projeto do Eduardo. A candidatura dele, hoje, configura o campo democrático. O que vai derrotar a extrema direita no Brasil não é a esquerda, é essa aliança do campo democrático”, afirmou.

Delfim Netto, a figura mais atuante na economia brasileira em todos os tempos

Delfim foi ministro da ditadura e interlocutor da esquerda

Pedro do Coutto

Morreu Delfim Netto, a figura mais atuante na economia brasileira e também no plano social dos períodos da ditadura militar que se sucederam desde o governo Costa e Silva até João Figueiredo. Uma interrupção foi no governo Geisel em que foi nomeado embaixador de Paris.

Delfim Netto foi um dos economistas mais poderosos do País e também uma das figuras mais complexas da história brasileira. Atuou como ministro do regime militar nos governos dos generais Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e João Baptista Figueiredo, foi deputado federal e também um dos principais conselheiros de presidentes petistas e de empresários.

PIB – A economia, entre 1967 e 1973, anos mais violentos da ditadura, esteve sob o seu comando quando o Produto Interno Bruto cresceu 85% e a renda per capita dos brasileiros, 62%. Delfim personificou o milagre brasileiro  que culminou mais tarde na crise do endividamento externo brasileiro. Em quatro anos, saiu 18 vezes na capa da revista Veja e era a figura do governo mais presente nas páginas dos jornais. Nenhum outro ministro concentrou tanto poder como ele.

Sob o comando de Delfim, o país investiu em grandes obras de infraestrutura, como a Ponte Rio-Niterói e a nunca terminada rodovia Transamazônica. Para reduzir a inflação, ele manipulou os preços dos alimentos: sabia exatamente quais gêneros entravam no cálculo do índice feito pela Fundação Getúlio Vargas, apenas no Rio, e dava um jeito de aumentar a oferta desses produtos na cidade, derrubando os preços.

INFLUÊNCIA – Delfim não só testemunhou, como influenciou alguns dos momentos mais marcantes da história do Brasil. Estava presente e votou a favor, no dia 13 de dezembro de 1968, quando o general Costa e Silva baixou o Ato Institucional número 5, decreto que acabou com liberdades políticas e deu poder de exceção a governantes para punir arbitrariamente os inimigos do regime. Viu a hiperinflação, a redemocratização, participou da Constituinte, criticou o Plano Real, ajudou o PT a chegar ao poder.

Mesmo com mais de 90 anos, Delfim continuava contribuindo com o debate econômico e não parou de se atualizar: seguia estudando e produzindo artigos acadêmicos, em sua antiga máquina de escrever Olympia. Foi um homem muito inteligente com grande vocação para o poder e com isso marcou a sua passagem no tempo como uma pessoa de talento e assim será lembrado.

Acidente aéreo em Vinhedo e a necessária idenficação das causas

Equipes trabalham após queda de avião da Voepass em Vinhedo

Pedro do Coutto

A queda de um avião turboélice ATR-72 operado pela companhia aérea regional Voepass na última semana em uma área residencial em Vinhedo, interior de São Paulo, matando todos os 62 passageiros a bordo, reacende uma disputa que se arrasta por anos ainda sem solução.

Investigadores recuperaram a caixa-preta do avião, que contém gravações de voz e dados de voo, e um relatório preliminar deve ser apresentado em 30 dias, conforme informou o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) neste domingo.

CÉU LIMPO – A aeronave estava voando normalmente, quando parou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo, e o contato com o radar foi perdido.Vídeos do acidente mostram que o céu estava aparentemente limpo quando o avião começou a girar em um movimento circular incomum.

Anthony Brickhouse, especialista em segurança aérea dos Estados Unidos, disse que os investigadores irão analisar aspectos como o clima e verificar até que ponto os motores e controles estavam funcionando corretamente, para ajudar a identificar o que causou a perda de controle.

Vídeos do acidente analisados por especialistas em aviação levaram alguns a especular que havia gelo acumulado no avião. Na sexta-feira, a Voepass disse que o gelo era previsto nas altitudes em que o avião estava voando, mas que deveria estar dentro de um nível aceitável.

GELO – Conforme publicado pela CNN, o engenheiro aeronáutico brasileiro e investigador de acidentes Celso Faria de Souza disse que, a julgar pelo vídeo, tem quase certeza de que o gelo causou o acidente. Os aviões ATR-72 já tiveram problemas com formação de gelo, com um acidente em 1994 no Estado norte-americano de Indiana matando 68 pessoas após o avião não conseguir se inclinar devido ao acúmulo de gelo.

Após esse incidente, a fabricante ATR aprimorou seu sistema de degelo.Em 2016, na Noruega, um ATR-72 enfrentou problemas devido ao acúmulo de gelo no avião, mas o piloto conseguiu retomar o controle.

SEGURANÇA – Há os que não veem culpa na empresa e os que pregam a responsabilidade. Não é questão de excesso de passageiros, mas de segurança de voos. Não é a primeira vez que isso acontece. A possibilidade de acumulação de gelo sobre as asas dos aparelhos é uma realidade dos tempos não tão remotos assim nas empresas de aviação.

É uma situação extremamente crítica que leva à necessidade de uma limpeza permanente e aí entra a responsabilidade. É preciso medir de quanto em quanto tempo as manutenções são feitas.  Os responsáveis da companhia tinham que ter isso em mente, afinal estavam transportando passageiros para uma ida sem volta. As investigações têm que encontrar responsáveis diretos ou indiretos  do acidente fatal.

Brasil fecha a Olimpíada abaixo da meta, mas desta vez as mulheres brilharam

Rebeca Andrade é a maior medalhista da história do Brasil

Pedro do Coutto

Encerrada a Olimpíada de Paris, com vários recordes quebrados, a pergunta que se pode fazer é: até onde vai o limite humano? Nas competições, especialmente as de velocidade, os resultados foram impressionantes, sobretudo nas provas de cem metros rasos. O evento foi marcado por um espetáculo de superação e empenho pela vitória.

Entre celebrações, conquistas improváveis e decepções, o Brasil encerrou a sua participação com 20 medalhas no total, sendo três ouros, sete pratas e dez bronzes. Os números ficam abaixo das últimas edições se levarmos em consideração o total de medalhas de ouro.

RECORDE – Nas Olimpíadas de Tóquio e Rio de Janeiro, o Brasil bateu seu recorde ao subir no lugar mais alto do pódio em sete oportunidades. Antes, o recorde era de Atenas 2004, quando cinco medalhas douradas foram garantidas pela delegação brasileira. Em outras edições os números eram mais modestos, com três medalhas no máximo.

Em 24 participações na história olímpica, o Brasil deixou de ganhar medalha de ouro em 10 edições: Paris 1924, Los Angeles 1932, Berlim 1936, Londres 1948, Roma 1960, Tóquio 1964, Cidade do México 1968, Munique 1972, Montreal 1976 e Sydney 2000.

Neste ano, o Brasil marcou um ponto importante. Pela primeira vez na história, as mulheres conquistaram mais medalhas que os homens para o país. Os resultados do ciclo olímpico inteiro já indicavam que isso iria acontecer. Das 20 medalhas, 12 foram delas, sete deles e uma mista, na competição do judô por equipes.

ORGULHO – Com isso, o Brasil termina os Jogos Olímpicos Paris 2024 com muitos motivos para se orgulhar, sobretudo diante do desempenho feminino, com medalhas inéditas, passando pela reafirmação de ídolos que entraram no patamar de maiores nomes brasileiros das modalidades e por desempenhos nunca antes conquistados.

Entre tantas performances de destaque, temos que ressaltar, é claro, a maior de todas, a ginasta Rebeca Andrade, que virou ícone mundial ao ser reverenciada por Simone Biles no pódio, e a maior medalhista da história do Brasil, com seis pódios no total. Glória eterna aos atletas brasileiros.

Inflação de 12 meses chega a 4,5% e alcança o teto da meta para este ano

Maduro perdeu para González na Venezuela, diz Carter Center

Organização diz que Poder Eleitoral age de maneira enviesada

Pedro do Coutto

Os integrantes do Instituto Carter Center concluíram, após verificados os dados das atas eleitorais coletadas pela sociedade civil e por representantes de partidos opositores, confirmado que elas são consistentes, que Edmundo González venceu as eleições na Venezuela de maneira clara e “por uma margem intransponível”.

A instituição diz que os resultados coincidem com uma pequena amostra de dados coletados por seus observadores em campo no dia da votação e que não há dúvidas da vitória real da oposição. É uma das manifestações mais contundentes até aqui em favor de González.

INDPENDÊNCIA  –  Para a organização, o Poder Eleitoral no país é enviesado e não agiu de maneira independente no pleito que oficialmente elegeu o ditador Nicolás Maduro para mais seis anos de mandato. “O chavismo está impregnado no Estado venezuelano de tal forma que está presente nas instituições que deveriam ser independentes de uma maneira frugal”, disse Ian Batista, analista eleitoral na missão de observação que o Carter Center enviou a Caracas a convite do regime.

Com isso, a posição do ditador Nicolás Maduro sofre um forte abalo na medida em que ele procurava divulgar apenas o seu lado da questão e não as atas conjuntas que marcaram o pleito na Venezuela. A missão internacional representada no Instituto Carter Center concluiu o seu trabalho chegando a uma constatação que no fundo todos sabiam, partindo do fato de que Maduro rejeitou qualquer auditoria eleitoral realizada pelo conjunto de países formado pelo Chile, Brasil, Colômbia e México. Ultrapassa-se assim o estágio nítido que confirma não somente a vitória de Edmundo González, mas também a comprovação sobre a rejeição a Maduro.

DESEQUILÍBRIOS – A equipe do Carter Center afirma ter encontrado o que chama de graves desequilíbrios em diversas etapas do processo eleitoral ao compará-las com boas práticas para um pleito democrático. “O registro de eleitores não atendeu ao padrão internacional”, relata Batista.

“Os imigrantes não tiveram oportunidade de se registrar. Existe uma estimativa de que três milhões de venezuelanos dentro do país tampouco conseguiram atualizar o registro eleitoral porque migraram internamente, e o período proposto pela autoridade eleitoral para atualização foi insuficiente para atender a essa demanda”, acrescentou.

González nem era o nome mais popular e se mesmo assim venceu com 78% dos votos é porque o governo Maduro é fortemente rejeitado pela maioria esmagadora da população da Venezuela. É Incrível que isso aconteça e que um ditador insista em se manter no poder contra a vontade da população de seu país.

Venezuela caminha para um impasse e Amorim teme “guerra civil no país”

Amorim voltou a comprovação de resultado

Pedro do Coutto

A situação na Venezuela caminha para um impasse e o assessor especial para assuntos externos da Presidência da República, Celso Amorim, revelou em entrevista ontem ao O Globo que teme que o agravamento da situação resulte em uma “guerra civil no país”.

Amorim voltou a cobrar do presidente Nicolás Maduro a comprovação de um resultado oficial, mas disse não confiar nas atas eleitorais apresentadas pela oposição, destacando a importância da flexibilidade entre governo e oposição no país para se chegar a uma conciliação, criticando a postura de outros países, como os Estados Unidos.

RECEIO –  “Eu temo muito que possa haver um conflito muito grave. Não quero usar a expressão guerra civil, mas temo muito. E eu acho que a gente tem que trabalhar para que haja um entendimento. Isso exige conciliação. E conciliação exige flexibilidade de todos os lados. Por que os Estados Unidos mantiveram sanções violentas quando já havia processo de negociação? Por que a União Europeia manteve sanções quando foi convidada para ser observadora?”, disse.

O posicionamento do Brasil, até agora, é de aguardar a publicação das atas, apesar da demora do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que sofre influência direta de Maduro. Os documentos, oferecidos nesta quarta-feira ao governo brasileiro pela líder da oposição, María Corina Machado, podem até ser recebidos, mas “não seriam avalizados pela diplomacia brasileira”, dizem integrantes do governo.

DESCONFIANÇA – Na entrevista, Amorim reiterou que não confia nos boletins da oposição. “Claro que é lamentável que as atas não tenham aparecido. Eu não estou dizendo agora, disse isso para o presidente Maduro no dia seguinte à eleição. E também não tenho confiança nas atas da oposição”, afirmou.

A oposição admitiu a possibilidade de uma mediação para a crise e ofereceu as atas das eleições ao Brasil como agente de conciliação. Dificilmente, Nicolás Maduro aceitará essa alternativa, pois são essas atas que confirmam a sua derrota nas urnas. O governo Maduro continua numa posição irredutível de acentuar que perdeu o pleito.

O que acontece na Venezuela é que o problema cresceu tanto que Maduro chegou a convocar eleições sob uma farsa, uma vez que não aceitou resultados concretos, falsificando o que de fato aconteceu. Para o Brasil, aceitar o papel de mediador será uma posição difícil, pois isso significa reconhecer com base nas atas a existência de fraude, colocando em cheque todo o processo eleitoral da Venezuela. Impressionante a desfaçatez do governo de Caracas.  

Maduro manda prender chefe de campanha da oposição e agrava a crise

Oropeza (de azul) discursa ao lado de María Corina Machado

Pedro do Coutto

Na Venezuela, começaram as prisões de figuras contrárias a Maduro, incluindo María Oropeza, colaboradora da líder da oposição María Corina Machado, que anunciou a detenção na rede social X e confirmada pelo Comitê de Direitos Humanos do partido Vente Venezuela.

Oropeza fez uma transmissão ao vivo mostrando, segundo ela, o momento de sua detenção. “Eu não fiz nada de errado”, disse a coordenadora na transmissão. No vídeo, feito de dentro de um imóvel, a chefe de campanha mostra um grupo de homens arrombando a porta do local. Após conseguirem abri-la, os homens, alguns encapuzados, sobem uma escada em direção a María Oropeza sem falar nada e sem mostrar ordem de prisão.

ORDEM JUDICIAL – O partido Vente Venezuela afirmou que não foi apresentada nenhuma ordem judicial e que Oropeza foi “sequestrada” por forças do regime de Maduro. Horas antes, a chefe regional de campanha havia publicado uma postagem nas redes sociais criticando a criação de uma linha de telefone do governo para receber denúncias de “crimes de ódio” contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Oropeza é chefe da campanha de Edmundo González no estado de Portuguesa, no noroeste da Venezuela. Ela coordenava a campanha de María Corina Machado antes de a oposicionista ser impedida de concorrer à presidência do país, em janeiro, pelo Tribunal Supremo da Venezuela, alinhado ao regime de Maduro.

SEM ARGUMENTOS – Essa etapa absurda era esperada, uma vez que, quando a ditadura começa a ser abalada em suas bases, começam as posições de figuras opositoras, refletindo a brutalidade e a falta de argumentos do regime controlado por Maduro. Os países democráticos, incluindo o Brasil, precisam tomar uma posição bastante firme nesse contexto, pois, caso contrário, a violência poderá aumentar cada vez mais na Venezuela.

Maduro convocou uma eleição e promoveu uma grande farsa para se manter no poder. Mas existem reações internacionais que se confrontam com tal realidade. Não será fácil a solução, se é que chegarão a algum cenário de pacificação. Este é um problema para todos os defensores da democracia.

Edmundo González se autodeclara presidente e intensifica crise na Venezuela

A autoproclamação de González tem caráter simbólico

Pedro do Coutto

Em um movimento que intensifica a crise política na Venezuela, Edmundo González, adversário de Nicolás Maduro na eleição presidencial, declarou-se presidente eleito do país nesta segunda-feira, em uma carta publicada em suas redes sociais.

A carta é assinada por González e María Corina Machado, líder da oposição que teve seus direitos políticos cassados pela Suprema Corte do país, impedindo-a de ser candidata. A oposição contesta o resultado da eleição desde o dia da votação, em 28 de julho.

VITÓRIA – “Nós ganhamos essa eleição, sem dúvida alguma. Foi uma avalanche eleitoral, com uma organização cidadã admirável, pacífica, democrática e com resultados irreversíveis. Agora, cabe a nós fazer a voz do povo ser respeitada. Proceda, imediatamente, a proclamação de Edmundo González Urrutia como presidente eleito da República”, diz a carta.

Em declarações à imprensa internacional, membros da oposição afirmam que o anúncio não visa formar um governo paralelo ao regime de Caracas, mas sim buscar a confirmação do que as atas eleitorais recolhidas pela oposição mostram. Eles também afirmaram que González não pretende exercer funções presidenciais antes de uma transição, evitando seguir o exemplo de Juan Guaidó em 2019.

A oposição também apelou às Forças Armadas do país. “Instamos vocês a impedir a desenfreada repressão do regime contra o povo e a respeitar, e fazer respeitar, os resultados das eleições de 28 de julho. Maduro deu um golpe de Estado que contraria toda a ordem constitucional e quer torná-los cúmplices.”

ATAS – Urrutia afirmou ter obtido 67% dos votos no pleito da semana passada, enquanto Maduro teria recebido 30%, de acordo com uma apuração independente. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão eleitoral venezuelano, anunciou a vitória de Nicolás Maduro, mas ainda não divulgou as atas eleitorais, o que tem gerado críticas e pressão internacional devido à falta de transparência do processo.

A oposição denunciou que o CNE não forneceu atas de votação aos seus fiscais, como exige a lei, e que os números oficiais contradizem os dados das atas obtidas por representantes que estiveram na maioria dos locais de votação, assim como os resultados das pesquisas independentes de boca de urna e das contagens rápidas realizadas no dia das eleições.

A publicação da carta assinada por González Urrutia e Corina Machado, solicitando que as instituições do país procedam à proclamação de González como presidente eleito, foi recebida com apreensão pelo Itamaraty, que ainda aposta em uma “saída negociada” entre Maduro e os oposicionistas.

“ERRO” – Interlocutores do Ministério das Relações Exteriores brasileiro consideram que o comunicado, direcionado às forças militares e policiais que sustentam o regime chavista, foi um “erro” com potencial de “dificultar” os esforços diplomáticos para que Maduro divulgue as atas eleitorais. Em resposta, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, ex-vice de Maduro, anunciou a abertura de um inquérito criminal contra González e María Corina por instigação à insurreição, desobediência de leis, “usurpação de funções”, “disseminação de informações falsas” e conspiração.

A carta coloca um dilema para o presidente Lula da Silva, que precisará decidir como proceder diante do apelo. Lula não poderá ficar em silêncio, sob risco de parecer conivente com o golpe que Maduro pretende desferir contra a democracia. O problema está posto.

Rebeca Andrade leva ouro e vira maior medalhista da história do Brasil

Brasil terá que resolver impasse com os EUA sobre a questão da Venezuela

Procura-se uma saída para a contradição e o impasse

Pedro do Coutto

A divergência de posições entre os Estados Unidos e o Brasil na questão das eleições na Venezuela poderá trazer problemas para o governo Lula da Silva. O fato de o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, ter reconhecido uma possível vitória de Edmundo González sobre Nicolás Maduro na eleição presidencial da Venezuela dificulta o trabalho conjunto entre os governos norte-americano e brasileiro.

Blinken afirmou que: “dada a esmagadora evidência, está claro para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano, que Edmundo González Urrutia ganhou a maioria dos votos nas eleições presidenciais da Venezuela em 28 de julho”. Dois dias antes, os presidentes Lula da Silva e Joe Biden haviam conversado por telefone e concordado sobre a necessidade de a Venezuela divulgar na íntegra as atas eleitorais.

ATAS – A Casa Branca e o Palácio do Planalto não fizeram, naquele momento, qualquer menção a atestar um dos lados como vencedor. Os governos de Brasil, Colômbia e México reiteraram uma cobrança à Venezuela pela divulgação das atas eleitorais. Os países também instaram todas as partes a resolver por vias institucionais as “controvérsias”.

O apoio que o presidente Lula da Silva transferiu para Nicolás Maduro criou, inclusive, reações contrárias entre integrantes da base do próprio governo, formalizando críticas por ele ter assumido esse posicionamento. A tolerância do presidente brasileiro em relação ao regime autoritário de Maduro tornou-se um dos temas mais desgastantes para o Palácio do Planalto durante o terceiro mandato do petista.

Em meio à repressão militar aos protestos da oposição e às suspeitas de fraude nas eleições venezuelanas, membros do governo, da base aliada e até mesmo do PT manifestaram descontentamento com a postura de Lula, que minimizou a crise venezuelana, e com a decisão de seu partido de reconhecer a vitória de Maduro como “democrática”. O tema também foi explorado pelo bolsonarismo e se tornou uma das principais bandeiras da “guerra cultural” nas redes sociais.

SEM RESPALDO – O desfecho da crise não poderá ser dos melhores para Nicolás Maduro, já que evidentemente os dados fornecidos pelo governo de Caracas não encontram respaldo na realidade. Caso encontrassem ressonância não teriam sido produzidos de forma praticamente secreta e depois de surgirem os dados que apontavam cerca  de 78% dos votos para a oposição. Logo, se os Estados Unidos rejeitam a fraude e o governo brasileiro a aceita, está visto que reflexos poderão surgir .

É evidente que o recurso à fraude foi o instrumento utilizado por Maduro para ampliar a sua permanência no poder usando métodos  obscuros e que, por esse motivo, o torna desmoralizado totalmente. Não se entende bem a posição brasileira que não pode insistir em uma tentativa de amenizar o episódio marcado pela falta da verdade. É através do voto que se exerce a vontade popular.  Um político que recorre às manobras usadas por Maduro, legitimamente reconhece  a própria derrota. O problema agora, entretanto, é saber qual será o desfecho na investida de Maduro e o resultado da divergência entre os Estados Unidos e o Brasil. Procura-se uma saída para a contradição e o impasse.

Aprovação de governo Lula é de 35%, diz nova pesquisa Datafolha

33% reprovam o governo e 30% consideram a gestão como regular

Pedro do Coutto

De acordo com uma pesquisa do Datafolha divulgada neste sábado, pela Folha de S.Paulo, a administração do presidente Lula da Silva tem 35% de aprovação entre os brasileiros, 33% de reprovação e é considerada regular por 30%. Esses números são comparáveis aos do ex-presidente Jair Bolsonaro no mesmo período de seu governo. Além disso, 3% dos entrevistados não souberam opinar sobre a gestão atual.

No mesmo período de governo, Bolsonaro tinha 37% de aprovação, 34% de reprovação e 27% consideravam sua gestão regular. Levando em conta a margem de erro, os índices de aprovação e reprovação de Lula são semelhantes aos de Bolsonaro na época. Segundo o levantamento, 42% dos entrevistados afirmam que a situação econômica do país piorou nos últimos meses, enquanto 26% acreditam que melhorou.

ECONOMIA – Para 29%, a situação permaneceu a mesma, e 2% não souberam responder. Quanto à situação econômica pessoal, 29% dos entrevistados disseram que suas condições melhoraram, 24% afirmaram que pioraram, e 46% declararam que sua situação não mudou. Apenas 1% não soube responder.

O cenário representa estabilidade para Lula comparado à pesquisa imediatamente anterior, com entrevistas realizadas de de 4 a 13 de junho. A avaliação do atual mandato de Lula também é parecida com a realizada no primeiro mandato dele, de 2003 a 2006, considerando o mesmo período de tempo, com 35% de “ótimo ou bom”

Quando comparado ao segundo mandato do petista, de 2007 a 2010, entretanto, há diferenças marcantes: 64% aprovavam o governo e somente 8% o consideravam ruim ou péssimo – entre os que avaliavam a gestão como regular, a fatia era de 28%, semelhante a de agora.

RESSALVA – A pesquisa faz a ressalva que as recentes declarações e posicionamento de Lula frente à crise na Venezuela, enquanto diversos países levantam questionamentos sobre a lisura do processo eleitoral, ocorreram enquanto os pesquisadores já faziam as entrevistas, mas que, segundo eles, a política externa não contribui tanto na avaliação dos governos.

Como se vê, o resultado reflete a extrema polarização no eleitorado, vista há alguns anos no País, e faz com que as fatias intermediárias, ou seja, as que consideram o governo como “regular”, sejam as mais “fiéis” na balança. 

EUA reconhece vitória de Edmundo González e complica panorama internacional

Blinken dz ser claro que Maduro foi derrotado nas urnas

Pedro do Coutto

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que Edmundo González obteve o maior número de votos na eleição presidencial de domingo na Venezuela. “Dadas as evidências esmagadoras, está claro para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano que Edmundo González Urrutia obteve o maior número de votos nas eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela.”, disse Blinken em um documento do Departamento de Estado dos EUA.

A autoridade americana ainda declarou apoio à transição democrática entre os governos na Venezuela, dizendo que os Estados Unidos estão “prontos a considerar formas de reforçá-lo em conjunto com os nossos parceiros internacionais”.

DISCUSSÕES – Ele acrescentou: “Parabenizamos Edmundo González Urrutia pelo sucesso de sua campanha. Agora é a hora de as partes venezuelanas iniciarem discussões sobre uma transição respeitosa e pacífica, de acordo com a lei eleitoral venezuelana e os desejos do povo venezuelano”.

Com a decisão do governo dos Estados Unidos de reconhecer a vitória nas urnas da oposição na Venezuela, o panorama internacional se complica, pois quais serão os lances seguintes a respeito do pleito fraudado por Nicolás Maduro ? Com isso, o presidente Joe Biden amplia a pressão contra Maduro no sentido de que se afaste do poder.

O Brasil está tentando se equilibrar em relação e o Itamaraty teve que entrar em ação para aceitar os diplomatas argentinos que foram expulsos da Venezuela por ordem de Maduro. O agredido, no caso, foi Javier Miley, presidente argentino, pois a embaixada daquele país tinha se manifestado focalizando a fraude cometida na Venezuela.

MANOBRA –  Verifica-se que o caso é singular. Não há como não reconhecer que Maduro manobrou de forma fraudulenta a sua suposta vitória. Se ele ocultou o resultado semioficial do pleito é porque os dados que apresentou não são verdadeiros. Caso contrário, não teria tanta dificuldade em divulgá-los de forma transparente.

Os Estados Unidos ao reconhecerem a vitória da oposição cria um caso de grandes dimensões na política externa, pois dividirá novamente facções lideradas por países de maior poder.  A Venezuela ficou com o seu governo extremamente vulnerável e a posição americana refletirá na posição brasileira. Logo, Lula se equilibrará numa corda bamba e terá que reconhecer a farsa de Maduro.

Vimos a multidão que se uniu à oposição nas ruas de Caracas, suficiente para demonstrar mais uma vez a verdade que derruba tantas falsidades acumuladas. Maduro é um personagem de si mesmo, mas dessa vez a frente que se descortina para ele não é favorável. Ele está sendo rejeitado pela opinião pública mundial e não encontra uma saída para a sua permanência.

Apoio desnecessário a Maduro gera desconforto no governo Lula

Apoio de Lula a Maduro municia oposição

Pedro do Coutto

O apoio absurdo que o presidente Lula da Silva transferiu para Nicolás Maduro criou reações contrárias entre integrantes da base do próprio governo, formalizando críticas por ele ter assumido esse posicionamento.

Reportagem de Gabriel Saboya e Sérgio Roxo, O Globo desta quinta-feira, focaliza essa atitude de Lula em relação a Maduro, apesar de já terem morrido várias pessoas em face dos protestos que reuniu milhares de pessoas que foram às ruas de Caracas contra a farsa encenada pelo presidente da Venezuela.

DESGASTE – A tolerância de Lula em relação ao regime autoritário de Maduro tornou-se um dos temas mais desgastantes para o Palácio do Planalto durante o terceiro mandato do petista. Em meio à repressão militar aos protestos da oposição e às suspeitas de fraude nas eleições do último domingo, membros do governo, da base aliada e até mesmo do PT manifestaram descontentamento com a postura de Lula, que minimizou a crise venezuelana, e com a decisão de seu partido de reconhecer a vitória de Maduro como “democrática”.

O tema também é explorado pelo bolsonarismo e se tornou uma das principais bandeiras da “guerra cultural” nas redes sociais. Embora Lula não dê sinais de que mudará sua postura, a percepção no Planalto é de que a Venezuela se tornou um dos temas internacionais de maior repercussão, devido à exploração feita pela base de Bolsonaro.

POPULARIDADE – Levantamentos internos indicam que, em outros momentos, a popularidade do petista foi afetada quando ele demonstrou apoio ao regime de Maduro. Esse desgaste, porém, antecede a posse de Lula no terceiro mandato e foi amplamente explorado pelo bolsonarismo nas redes sociais durante as eleições de 2018, quando o petista Fernando Haddad foi derrotado por Jair Bolsonaro.

Em uma entrevista concedida na terça-feira, Lula afirmou não ver “nada de anormal” na situação política do país vizinho, embora tenha solicitado a divulgação das atas das seções eleitorais.

O presidente brasileiro evitou mencionar as denúncias de violações de direitos humanos e perseguição a adversários do chavismo.É inexplicável a posição assumida por Lula em sua defesa de algo indefensável, como a de Nicolás Maduro. Aguardemos a repercussão de suas declarações para o país e para o próprio governo.