Trump, o Oriente Médio e os riscos de um novo abismo geopolítico

Trump decidirá “em até duas semanas” se osEUA ingressarão na guerra

Pedro do Coutto

Num cenário global cada vez mais instável e complexo, a recente declaração do presidente norte-americano Donald Trump de que decidirá, “em até duas semanas”, se os Estados Unidos ingressarão na guerra entre Israel e Irã, é mais do que uma provocação: é um alerta.

Um aviso de que o tabuleiro geopolítico do século XXI segue sendo manuseado com a mesma ousadia — ou imprudência — que caracterizou os momentos mais tensos da Guerra Fria. O mundo assiste, atônito, enquanto o líder da maior potência militar do planeta transforma a diplomacia em espetáculo e o equilíbrio internacional em aposta.

CONFRONTO – Não é a primeira vez que Trump — em seu segundo mandato, cada vez mais moldado por impulsos e retórica nacionalista — flerta com decisões de alto risco em política externa. Mas nunca, desde a crise dos mísseis de 1962, a possibilidade de um confronto direto envolvendo múltiplas potências nucleares pareceu tão presente.

O conflito entre Israel e Irã, com raízes profundas e implicações regionais de larga escala, já tem sido motivo de preocupação da ONU e de líderes europeus. A entrada dos EUA no campo de batalha, ainda que sob justificativas de “apoio a um aliado estratégico”, representaria uma escalada imprevisível.

A interrogação que paira sobre analistas e chanceleres ao redor do mundo, no entanto, não se limita à decisão americana. A reação de Rússia e China será determinante para o desfecho desse impasse. Ambas as potências têm interesses concretos na estabilidade — ou instabilidade — do Oriente Médio.

INFLUÊNCIA AMERICANA – Moscou mantém laços militares e diplomáticos com Teerã, além de ver em qualquer enfraquecimento da influência americana na região uma oportunidade geopolítica. Pequim, por sua vez, aposta em parcerias comerciais e na segurança energética que passa, inevitavelmente, pela estabilidade do Golfo Pérsico.

Ao insinuar uma decisão tão drástica em prazo tão curto, Trump parece apostar novamente na imprevisibilidade como arma estratégica. É seu estilo. Um estilo que já balançou alianças históricas, rompeu com acordos multilaterais e impôs sanções econômicas à revelia de instituições globais. Mas o palco atual é diferente. O risco não é apenas diplomático: é humanitário, é militar, é civilizacional.

Em uma era em que redes sociais transformam discursos em faíscas e algoritmos amplificam tensões, a ausência de mediação ponderada entre líderes mundiais torna-se ainda mais perigosa. A política internacional não é mais conduzida apenas por tratados e embaixadores, mas por declarações intempestivas e vídeos virais. Nesse ambiente, uma frase mal colocada ou um míssil mal interpretado podem ser o estopim de um desastre.

O pano de fundo dessa ameaça também revela o quanto o mundo mudou — e o quanto permanece o mesmo. As rivalidades entre potências, os conflitos por influência regional e o uso da guerra como instrumento político continuam ativos, mesmo sob novas roupagens. A diferença é que, agora, tudo se dá em tempo real, com bilhões de olhos atentos e pouca margem para correções.

DIPLOMACIA  – A pergunta essencial, portanto, não é apenas se os EUA vão entrar em guerra. Mas se ainda existe espaço, no atual sistema internacional, para que a diplomacia, a racionalidade e o senso de responsabilidade global prevaleçam sobre o ego dos líderes. O destino de milhões pode depender disso.

Enquanto o presidente Trump ensaia mais um ato de sua diplomacia performática, o mundo gira — mas não gira em paz. Gira em torno do medo, da incerteza e da urgência de que a política volte a ser um instrumento de equilíbrio, não de provocação. Porque se as potências decidirem trocar palavras por bombas, não haverá vencedor. Apenas sobreviventes. E, talvez, nem isso.

11 thoughts on “Trump, o Oriente Médio e os riscos de um novo abismo geopolítico

  1. Boa diplomacia é a da Rússia (“onde nosso soldado pisa, é nosso”) e a do PCC Chinês frente a Taiwan e suas colonias africanas. Pela régua do Pedro Couto, se é “progressista” é bom, senão é do coisa ruim.

  2. Senhor Pedro do Coutto , ledo engano seu os EUA e OTAN já estão atuando e operando diretamente na guerra Israel x Irã , uma vez que o aumento significativo da esquadrilha da aviação Israelenses já diz tudo e que com toda certeza não estão sendo operadas somente pelos Israelenses , mas pelos países acima mencionados , sendo que os EUA vão escancarar de vez sua participação direta na guerra Israel x Irã , ou seja , nenhuma novidade por parte na declarações do presidente dos EUA , sendo com toda certeza os países Árabes aliados dos EUA , terão muito mais a perder caso essa guerra se expanda por todo o Oriente Médio e não terão ” bravatas ou ameaças ” para conterem os estragos em curto e médio prazo , sendo que o próprio ministro do exterior Israelenses revelou na ONU seu temor de que tais revides Iranianos , cheguem e atinjam partes de suas usinas nucleares no deserto Israelenses .

  3. Trump, que se reelegeu prometendo que não haveria mais guerras, com a inconstância de sempre agora faz performances pirotécnicas tentando agradar aos dois grupos de republicanos. Mas acho que nem ele seria tão idiota (embora seja um idiota em visível declínio cognitivo) para causar um confronto direto com a Rússia e a China atacando o Irã.

  4. Os EUA, nunca aceitaram a derrubada do regime do Chá Reza Pallevi, pelos Aiatola em 1979, que criaram a República Islâmica liderada pelo Aiatola Komeini. O presidente Jimi Carter tentou entrar no Irã, mas, uma tempestade de areia derrubou os helicópteros do Exército da maior potencial do mundo. O Irã ameaçou fechar o estreito de Ormuz no Golfo Pérsico, causando a paralização do fluxo dos navios petroleiros e uma crise mundial.

    Agora, Donald Trump usa o regime israelense, comandado por Benjamin Netanihau para destruir o arsenal nuclear do Irã e ao mesmo tempo forçar o povo iraniano a se unir para derrubar o governo. Na prática, os EUA, os europeus, as Autocracias árabes, como a Arábia Saudita, a Jordânia, o Catar e os Emirados Árabes, que não suportam o regime persa do Irã e temem a possibilidade deles conseguirem a tecnologia nuclear para se tornar detentores de ogivas nucleares e perderam a supremacia do Oriente Médio.

    Ingleses e americanos intervém no Oriente Médio desde sempre. Primeiro dividindo os territórios com Dinastias, Emires e Sultaos para melhor controlar a riqueza petrolífera para uso das suas indústrias.

    Quando um país saia do controle dos europeus e americanos, operando revoluções nacionalistas, eram assassinados, exilados e derrubados, como ocorreram na década de 50 ( assassinados os líderes do Egito, do Irã e da Argélia) e na “Primavera” Árabe de 2011, que pós fim aos governos da Líbia, do Sudão e da Tunísia. O caso da Líbia, que foi destruída por Drones assassinos, disparados pela frota americano nas costas da Líbia no Mediterrâneo. A capital líbia foi destruída, aeroporto, pontes, redes do sistema elétrico, abastecimento de água, um retrocesso na infraestrutura de 100 anos. Por fim, o ditador Muamar Kaddafi foi assassinado em fuga pelo deserto próximo do Sudão, com requintes de crueldade extrema, com o olhar complacente de Baravk Obama e Hilary Clinton.

  5. O objetivo estratégico de Donald Trump é a destruição do programa nuclear do Irã e em seguida a derrubada do regime secular dos Aiatolas. O filho do Chá Reza Pallevi, refugiado nos EUA, vem se apresentando como alternativa a queda do regime. Trump terceirizou a tarefa suja para o governo israelense, a custa de vidas humanas em Israel e no Irã. Por trás do pano, atrás das cortinas, Trump envia armas e munições de alta tecnologia em aviões militares, que pousam no aeroporto de Tela Viv, mesmo com o espaço aéreo fechado para pousos e decolagens, além de envio de dados sensíveis das fragilidades Iraniana, obtidas por satélites americanos e do serviço secreto.
    Para Israel, a tarefa de destruir o Irã atende ao objetivo do Estado judaico, incomodado com a ajuda militar e financeira dos iranianos aos grupos Hamas e Heszbollah, que lançavam mísseis da Faixa de Gaza e do Sul do Líbano em direção a Israel.

    A recente visita de Trump a Arabia Saudita, antes do ataque unilateral de Israel, iniciando a guerra, foi combinada com o regime de Israel.
    Trump foi recebido pelo príncipe da Arabia Saudita, Bin Salman na capital, RIAD para informar do ataque iminente ao Irã e pedir para ficar neutro no conflito. Trump também atuou para a mediação num encontro com o atual ditador do HTS na Síria, um ex jhiadista, o ex- guerrilheiro Al Salah, para que os aviões israelenses sobrevoassem os céus do espaço aéreo da Síria em troca do fim das incursões de Israel no território sírio, além das colinas de Golan.

    As atuais hostilidades no Oriente Médio remontam ao final da segunda grande guerra mundial , notadamente a partir da década de 50, quando foram assassinados os presidentes nacionalistas no Egito, na Argélia e no Irã, com a participação ativa dos EUA, da Inglaterra e da França.

    A partir de 2011, foi deflagrada a Primavera Árabe insuflado pelas potências ocidentais. Caíram os principais líderes nacionalistas da Tunísia, do Iraque e da Líbia.
    Na Líbia, o país foi destruído e sua infraestrutura retrocedeu 100 anos, tal a destruição de pontes, aeroportos, rede elétrica, abastecimento de água, estradas, etc…através das bombas lançadas pelos Drones americanos , a partir da frota naval estacionada na costa da Líbia no mar Mediterrâneo.
    A Líbia está um caos, sem governo, dividido por milícias, uma na antiga capital Tripoli e outra em Bengashi na fronteira com o Egito. A mídias européia e americana não dão um pio, sobre o drama que vive o povo líbio.

    Parece que os Estados Unidos, a França e a Inglaterra não aprenderam a lição da destruição da Líbia, pois pretendem o mesmo destino para o Irã. Querem uma tragédia anunciada de consequências dantescas.
    A única autoridade política das potências ocidentais, que se pronunciou sobre os riscos de uma tragédia que aflige a Líbia hoje se repita no Irã, foi o Primeiro Ministro da Alemanha, que alertou sobre o fim das fronteiras mundiais e a fragilidade dos Estados Nacionais ao custo da miséria dos países invadidos e divididos.

    Que fazer? Na realidade, poucos se importam, até que a tragédia comece a bater a nossa porta.

  6. Senhor Roberto Nascimento , essas suicidas autocracias (monarquias) árabes, como a Arábia Saudita, a Jordânia, o Catar e os Emirados Árabes , em breve terão o que lamentar por aprovarem as agreções ao Irã pelas potências Ocidentais , por acharem que estão incólumes aos ataques das potências ocidentais ao IRÃ através de Israel , sendo que o atual primeiro – ministro Alemão Friedrich Merz confessou com todas as letras numa reunião do G7 , que Israel estaria fazendo o serviço sujo para eles , sendo que se o Irã cair ressurgirão x ressuscitarão os ” temíveis e aterrorizantes ” grupos de esquadrões suicidas no Oriente Médio , estendendo-se por todos os países – membros da OTAN , que com toda certeza nenhuma tecnologia do mundo serão capazes de detê-los , no Legítimo revide aos seus agressores externos .

    • José Carlos Cabral, os EUA estão desesperados em busca de riquezas minerais para sustentar suas indústrias em decadência e perdendo terreno para a China, a potência em ascensão para ocupar o posto do Império Romano em ruínas, governador por Trump, que está destruindo o que ainda há de bom na América: As melhores Universidades do mundo’, um celeiro do saber e conhecimento geral. Trump está tentando destruir Harvard.

      A insanidade tomou conta dos líderes americanos e europeus. Erraram na Li Ibiá e estão errando no Irã.

      Espero que essas pragas, esses cupins da humanidade, esqueçam que o Brasil existe . Tenho muito medo, que decidam tomar a Amazônia da gente. Cruz credo bangalô três vezes.

  7. Só espero que os Governos dos países-membros da tríplice fronteira ” Brasil , Paraguai e Argentina ” não se deixem envolverem e arrastarem para esses conflitos e guerras que não nos dizem respeito , mas que infelizmente o atual presidente da Argentina Javier Gerardo Milei que esta com ” fogo no rabo ” para envolver e arrastar a Argentina para esses conflitos e guerras no mundo Árabe.

  8. Os Estados Unidos entraram na guerra contra o Irã junto de Israel e atacaram três instalações nucleares no território do Irã, uma das quais já teria urânio enriquecido, capaz de fabricar um artefato nuclear.

    Trump ultrapassou a barreira do bom senso. Não pode mais criticar Vladimir Putin.

    A entrada de Bush filho, presidente que ordenou a invasão do Iraque, criou o Estado Islâmico, grupo radical saído dos escombros do Exército Sunita de Saddan Hussein, ditador preso num buraco e enforcado pelas tropas americanas.

  9. As usinas nucleares Israelenses , já estão consolidadas e em plena carga dificultando o controle de vazamentos caso sejam atacadas e explodidas , que com toda certeza os estragos serão muito mais significativos e arrasadores tanto para Israel e quanto para os países próximos , ou seja , EUA x ISRAEL legitimaram os ataques e explosões de suas usinas nucleares , uma vez que deram o pontapé inicial em transformar usinas nucleares Iranianos como alvos legítimos numa guerra .

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