A escalada de Trump e o xadrez global da tensão

Charge do Amarildo (amarildocharge.wordpress.com)

Pedro do Coutto

Por mais improvável que pareça aos olhos da razão diplomática, o mundo volta a flertar com o abismo. Donald Trump tem elevado o tom em relação ao Irã. Com declarações que soam mais como um ultimato imperial do que como uma estratégia ponderada, Trump sugeriu uma “rendição incondicional” do regime iraniano em meio à escalada de tensões com Israel. Seu discurso, no plural majestático, carrega ecos de uma ambição geopolítica que ultrapassa as fronteiras da razoabilidade e se aproxima perigosamente do delírio de poder.

O pano de fundo é conhecido, mas não menos explosivo. Israel e Irã travam uma guerra de sombras há anos — ora por meio de ataques cibernéticos, ora por bombardeios indiretos por grupos aliados. A diferença agora é a possível reentrada dos Estados Unidos, sob uma liderança que flerta com uma retórica bélica agressiva. Ao acenar com a possibilidade de destruir o sistema nuclear iraniano, Trump acende alertas que vão de Teerã a Moscou, passando por Bruxelas e Pequim.

SUPERFICIALIDADE – A fala  de Trump sobre “matar Kamenev” — numa provável referência equivocada a Ali Khamenei, o líder supremo do Irã — revela a superficialidade com que temas de altíssima complexidade são tratados, numa lógica que mistura personalismo com demonstração de força bruta.

Mas o mundo do século XXI não se curva tão facilmente a imposições unilaterais. O presidente russo, Vladimir Putin, vê no Irã não apenas um parceiro estratégico, mas uma peça-chave no equilíbrio de forças do Oriente Médio. Com a guerra na Ucrânia ainda em curso e a Rússia sob sanções severas do Ocidente, Teerã tornou-se uma válvula de escape econômica e política para Moscou. Uma ofensiva americana contra o Irã seria, portanto, percebida por Putin como um ataque indireto à sua própria influência na região.

CAUTELA – Por sua vez, a China adota uma postura cautelosa, mas não inofensiva. Pequim tem interesses comerciais profundos no Irã e, embora evite o confronto direto, não tolerará um colapso regional que prejudique suas rotas energéticas e projetos de expansão. A posição chinesa, moderada na superfície, é respaldada por uma presença diplomática cada vez mais ativa no Oriente Médio — um contraponto silencioso, porém firme, à agressividade ocidental.

É neste cenário de múltiplas tensões que a pergunta crucial se impõe: o que acontecerá se os Estados Unidos realmente bombardearem o Irã? As consequências seriam imprevisíveis, mas certamente catastróficas. Além das baixas humanas, que seriam incontáveis, o mundo testemunharia uma reação em cadeia que poderia afetar desde os preços do petróleo até a estabilidade de regimes aliados em toda a região.

A aposta de Trump em uma política de força total pode agradar setores militaristas e conservadores, mas ignora os aprendizados históricos das guerras do século XX e início do XXI. O unilateralismo tem limites e, numa era atômica, o risco de erros de cálculo é alto demais. As palavras de Trump são fagulhas reais num barril de pólvora em combustão.

“REI DO MUNDO” – Há, também, um ponto de inflexão simbólico importante: ao agir como se fosse o “rei do mundo”, Trump testa não apenas os limites do poder americano, mas da própria ordem internacional pós-Segunda Guerra. Organismos multilaterais, como a ONU, são sistematicamente desrespeitados ou ignorados. O direito internacional torna-se refém da conveniência das potências. Nesse ambiente, a paz torna-se um ideal frágil e cada vez mais distante.

A comunidade internacional, portanto, precisa reagir não com mais violência, mas com mais diplomacia. Este é o momento de ativar os canais de diálogo — entre potências, entre povos, entre instituições. A escalada de tensões só poderá ser contida se houver responsabilidade de Estado, visão estratégica e coragem política para resistir aos impulsos autoritários travestidos de patriotismo.

Se o século XXI tem alguma lição a oferecer, é que o poder não reside apenas na força, mas na capacidade de evitar a guerra quando ela parece inevitável. Nesse xadrez geopolítico global, as peças já se movem — mas o xeque-mate, desta vez, pode ser contra toda a humanidade.

13 thoughts on “A escalada de Trump e o xadrez global da tensão

  1. Em se tratando de Netanyahu (cujo objetivo é fugir de seus próprios problemas), chego a duvidar, tamanho o caráter suicida (da credibilidade, da opinião pública, da guerra de versões), do ataque do Irã a um hospital em Israel.

    Há quem questione se haverá algo além da retórica por parte de China e Rússia em favor do regime de 1979 do Irã.

    Apesar de todas as versões mentirosas e desmentidas sucessivamente (cada hora Trump fala uma coisa e depois se desmente), os Estados Unidos sempre estiveram envolvidos acima do pescoço no conflito, em cada passo estratégico que foi dado até aqui.

    • O plano é fazer com que o regime do Irã seja minado, o próprio povo se rebele e Reza Palevi, filho do destronado, que ainda é bastante jovem e vive nos Estados Unidos, seja recolocado no poder no Irã.

      O problema é que a execução está sendo feita por criaturas espalhafatosas, do mais baixo escalão moral e espiritual, incompetentes na resolução de problemas.

  2. Maior frustração de Lula no G7 foi não conseguir tirar uma foto com Trump

    Lula só foi ao Canadá, na reunião do G7, grupo ao qual o Brasil não pertence, para tirar uma foto ao lado de Trump, que foi embora antes sem nem tomou conhecimento da presença do petista.

      • Sob o comando de Reza Palevi e coladinho em Estados Unidos-OTAN-Israel poderia ter as mais de 90 que Israel tem.

        Ali não tem santo.

        O encontro do BRICS, que o Irã integra, daqui a duas semanas no Rio, considera os riscos e há treinamentos em curso considerando essa conjuntura.

        Lembro da aproximação entre O CARA (segundo Obama em 2009) e Ahmadinejad há pouco mais de uma década.

        A lógica é: Coreia do Norte (seu ditador e sua dinastia apenas) se deu bem e diz já ter mais de 50 bombas.

        Quem tem poder tem bomba nuclear.

        Rússia, Índia, China, França, Inglaterra, Estados Unidos, Israel.

        Alguns podem ter.

        Outros não podem ter.

        Mas, quem não tem tá lascado e submisso.

      • “O ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, escapou por pouco de uma tentativa de assassinato após uma suposta sabotagem em seu veículo, segundo informaram veículos de mídia iranianos nesta quarta-feira, com base em apuração da Newsweek.

        O plano envolvia uma manipulação no sistema do carro utilizado por Ahmadinejad. Durante uma viagem a Zanjan, na segunda-feira, 15 de julho, para uma cerimônia religiosa de luto do mês de Muharram, seu chefe de segurança percebeu que o ar-condicionado do Toyota Land Cruiser apresentava falhas. Imediatamente, recomendou ao ex-presidente que trocasse de veículo.

        Ainda durante o deslocamento, o carro inicialmente designado para Ahmadinejad — agora com seus seguranças a bordo — perdeu o controle, colidiu com outro automóvel da comitiva e só parou ao atingir mais um veículo.”

      • No Irã existe o Fatwa (quase uma Constituição deles) e nele é vetado a criação de bombas nucleares pois isso é contra o Islã. Havia um acordo que o Irã assinou se comprometendo em não enriquecer o urânio para fins militares e todas as instalações estavam abertas e inspecionadas pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Trump no seu primeiro mandato rasgou esse acordo, agora quer criar um incluindo o abandono de mísseis e drones por parte do Irã.

    • Maior frustração de Lula no G7 foi não conseguir tirar uma foto com Trump

      Lula só foi ao Canadá, na reunião do G7, grupo ao qual o Brasil não pertence, para tirar uma foto ao lado de Trump, que foi embora antes do final do evento sem tomar conhecimento da irrelevante presença do petista.

      A Janja teria certamente ‘argumentos’ para atrair Trump. Mas, como ela não foi na viagem por causa da pressão de oposicionistas sobre seus gastos turísticos milionários, Lula ficou então relegado à sua insignificância internacional.

      Barba, que levou a tiracolo seu fotógrafo Stuckinha, queria a foto com Trump para depois fazer o seu manjado marketing: ficar um mês falando aquele monte de mentiras, de que falou isso falou aquilo para o presidente dos States, sem ter, na verdade, falado nada de interesse do País. Só ‘abobrinha’.

      Lula é um ilusionista em decadência.

      Acorda, Brasil!

  3. Flertar com a china é sinônimo de que. Essa turma acha que os chineses são os bonzinhos. A África já está nas garras do dragão, agora estão fazendo o mesmo com a América Latina e dizem que o próximo passo é a região do Caribe.

    • Não tem bonzinho nem na pastelaria de Caxias em que o dono muquirana matava cachorros de rua a pauladas para rechear pasteis.

      O Brasil deveria apenas enxergar o tamanho que tem e fazer projetos de longo prazo de forma soberana e em favor dos interesses do seu próprio povo.

  4. DEUS E A SERPENTE DO PARAÍSO! Deus solucionou rapidinho a questão, chutando todo mundo pra fora de casa! O problema é a serpente de 9 metros, sempre faminta, que Ele deixou dentro de seus ‘’escolhidos’’ os quais precisam trabalhar muito, ‘’com o suor do rosto’’ para aplacar sua fome! É bonito isso que você fez, Criador do Universo? (L. C. Balreira).
    O fundamentalismo evangélico teocrático de Trump e Bolsonaro caminha há milhares de anos lado a lado com a ignorância, o analfabetismo, com ambições políticas de controle e domínio, e com o instinto escravista, selvagem e bestial da humanidade. A religião egípcia considerava a guerra uma forma legítima e eficaz de dar sustentabilidade a ‘’Ordem Divina’’, assim com o judaísmo, o Cristianismo e demais religiões, e seus milhares de anos de guerras, massacres, morticínios, etc. (L. C. Balreira).
    Diferentemente das religiões, a Ciência não precisa de sacrifícios humanos para providenciar colheitas suficientes para alimentar bilhões de pessoas! A Ciência desenvolveu e industrializou os fertilizantes, inventou máquinas para semear, colher, transportar alimentos para todos os lugares do mundo! Sem a necessidade dos brutais, terríveis, tenebrosos, sacrifícios de crianças, meninas virgens, animais, etc. (L. C. Balreira).
    Mas nada disso importa para as massas e multidões globais fanatizadas pelas religiões e hostis, agressivas, inimigas imortais da Ciência! O fundamentalismo religioso eclesiástico e seus colaboradores eclesiais não bastam! Esses trogloditas infernais querem continuar eternamente nos poderes políticos e administrativos estatais, como na idade das trevas medievais do cristianismo ignorante, analfabeto, diabólico! (L. C. Balreira).
    O cristianismo é uma patologia mental gravíssima, crônica e incurável! Todas as guerras e morticínios provocados pelo cristianismo foram e continuam sendo justificados pelo amor, a paz, o perdão, a misericórdia de Deus! Os Deuses urbanizados das selvas americanas igualmente promoviam genocídios sacrificiais sanguinários, brutais, para aplacar a ira dos deuses quando o sangue humano parava de fertilizar o solo. (L. C. Balreira).
    Muitas provas de plágios e mentiras do Judaísmo e do cristianismo foram por estas religiões destruídas, pelo fogo, pela destruição de seus templos, pelo genocídio de povos conquistados dominados pelas brutais e sanguinários colonizações. Foram no total mais de 3 mil anos de destruições e extermínios. No entanto, muito das mentiras já foram reveladas e continuam sendo pelos linguistas, arqueólogos!
    Placas de barro encontradas em escavações na Babilônia (Iraque), enterradas há milhares de anos antes do judaísmo e do cristianismo revelaram a trigonometria babilônica, reclamada como ‘’pitagórica’’, por exemplo, pertence à Babilônia, tendo sido indispensável para a construção da Torre de Babel ou dos Zigurates; mas não só; também para os grandes arranha-céus da engenharia ou arquitetura atuais. Assim sendo, a trigonometria pertence a um gênio de nome ainda desconhecido da Babilônia de 1000 anos antes de Pitágoras! (L. C. Balreira).
    Mas a inveja mata! Jeová não gostou nadinha daquela engenharia civil herética, aquela ‘’presepada’’ que estava invadindo o Reino dos Céus. Dezenas de milhares de placas de cerâmica de 4mil, de 5 mil anos ou mais ainda precisam ser traduzidas da escrita cuneiforme. Por certo nos revelarão muitas coisas! Gilgamesh, plagiado por ‘’Noé’’ da Bíblia, também foi assim revelado por cientistas linguistas e arqueólogos! Ícaro, a propósito, caiu das alturas para a morte, pela desobediência aos avisos de seu Pai, e pela arrogância ‘’tecnológica’’ semelhante à ‘’arrogante’’ engenharia babilônica! (L. C. Balreira).

  5. Senhor PEDRO RICARDO MAXIMINO , quantos hospitais Israel bombardeou na ” Faixa de Gaza ” , sob o pretexto de que sua cria ” GRUPO HAMAS ” os usavam como sua base de comado , que achando pouco quantas mil ” vidas e mutilações ” , causou na Palestina , num povo sabidamente desarmado em sua totalidade, enquanto que os EUA e Israel estão envenenando os sobreviventes do ” HOLOCAUSTO ” Palestino , pela sua agência ” Fundação Humanitária de Gaza – GFH ” , portanto sugiro que tais ajudas sejam submetidos a testes laboratoriais num país neutro , que não seja tendencioso.

  6. Senhor PEDRO RICARDO MAXIMINO , quando da pós revolução Islâmica no IRÃ em 1979 , quase que imediatamente o IRÃ foi forçado a entrar numa guerra com o Iraque ao longo de nove anos , mas se reergueu e conquistou seu atual nível de desenvolvimento ” industrial , tecnológico e científico ” , a despeito do Brasil que nunca entrou numa guerra externa , mas vive patinando no subdesenvolvimento e as turras com seus inimigos internos nacionais BR cujo grau de ” perigosidades e nocividades ” , é pior que se o Brasil tivesse entrado numa guerra com outro país .

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