Após 8 anos de autocracia, quais fatores impedem a saída negociada para Maduro?

ANÁLISE POLÍTICA > Maduro já ganhou | Portal O Ralho

Charge do Clayton (O Povo/CE)

Marcus André Melo
Folha

A conversão do autoritarismo eleitoral chavista em autocracia plena não ocorreu agora, mas em 2015. Tratei da Venezuela historicamente aqui. Quando perdeu a maioria legislativa, Maduro deflagrou o processo de dissolução da Assembleia Nacional. Maduro mobilizou a Suprema Corte de maioria chavista para impedir a posse de deputados que garantiriam o quórum constitucional oposicionista. Depois mobilizou a Corte para a dissolução da Assembleia, o que ela fez.

A medida, no entanto, foi revertida, o que levou Maduro a convocar uma Assembleia Constituinte (que a oposição boicotou), que finalmente decretou a esperada dissolução.

ALÉM DISSO… – A Constituinte também destituiu a Procuradora Geral do cargo, retirou a imunidade do presidente da Assembleia, Juan Guaidó; e cancelou os registros dos principais partidos da oposição, impedindo-os de participar das eleições. Tudo isso levou à crise de 2019.

Na atual eleição Maduro reproduz as mesmas práticas ditatoriais. Quais as chances do país se redemocratizar?

Houve diversos padrões de transição à democracia na América Latina durante a chamada terceira onda da democracia (1974-1999). Em três países — Brasil, Chile e Uruguai — o processo foi negociado, assegurando-se garantias às elites autoritárias incumbentes.

EVENTOS EXTERNOS – Em dois países — Panamá e Argentina — eventos externos levaram ao colapso dos regimes : a intervenção dos EUA e derrota militar, respectivamente. No Paraguai (1989) e na Bolívia (1978-1982) golpes por defecções entre facções militares deflagraram o processo de democratização. No Peru (2000), isto também ocorreu combinado com ampla mobilização interna e externa.

Há esperanças de uma saída negociada para Maduro, que seria menos traumática, embora a impunidade de ditadores gere justificada perplexidade. Três fatores tornam essa saída improvável.

O primeiro deles é que o regime está politicamente muito fraco. Primeiro, saídas negociadas ocorrem quando os regimes ainda não estão muito enfraquecidos, como era o caso do Brasil, Uruguai e Chile.

ALTA CRIMINALIDADE – O segundo fator é que o regime está enredado em alta criminalidade; seus delitos ultrapassam em muito seus graves crimes políticos, envolvendo redes de narcotráfico e lavagem de dinheiro. Para muitos atores envolvidos, o dilema de negociar com máfias violentas é variável não trivial.

 O regime não controla partes do aparelho de estado e do território —uma pré-condição de negociações efetivas; tendo delegado autonomia a setores —mineração por exemplo— a redes dominadas por militares e paramilitares.

O terceiro fator é que nas saídas negociadas a liberalização precede à democratização o movimento inverso do que se observa na trajetória do Chavismo (embora tudo tenha começado com dois golpes fracassados de Chávez, em 1992).

4 thoughts on “Após 8 anos de autocracia, quais fatores impedem a saída negociada para Maduro?

    • O Maior Ladrão que o Mundo já viu (Palavras do Padre)., além de ser cumplice do carniceiro sanguinário é também avalista do regime sovietico venezuelano que massacra o povo sem dó …..

  1. Digamos, que na má qualidade de iniciado, sua jura extrapolando pretenso amor á pátria e aos então “diferenaciados” alí nascituros e por último, ignorando que sua servilidade seria interrompida à qualquer tempo, por mero descarte, diante do sacana papel ou que porventura tenha interrompido a determinada agenda internacional imposta, quando de suas efêmeras, embora aprazíveis e pomposas “subidas na vida”!
    A esperada sina, à Saddam e Cadaf!
    PS. Lembrando: Alçados, não se atrevam a trazer soluções e a desestimular a USURA! Se assim o fizerdes, morrereis!
    Adivinhem, quem determina!

  2. Para Maduro e seus aliados, incluindo-se as FA e instituições, uma saída negociada, o que seria o evento mais desejado por muitos países, é algo que não está em seus planos.

    Por isso, a transição de uma ditadura disfarçada para uma ditadura de fato, parece ser o caminho mais verossímil. E, se realmente, uma ditadura mais contundente for instauirada, haverá perseguição aos adversários e críticos, como sói acontecer em qualquer ditadura.

    E as consequências aos países, principalmente os fronteiriços com a Venezuela, podem ser desastrosas com o êxodo de cidadãos daquele país.

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