Mauro Cid e a confissão pelo silêncio, em meio ao mistério das joias sauditas

Charge de Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

O tenente-coronel Mauro Cid, ao comparecer na quinta-feira à CPI da Câmara Legislativa de Brasília, adotou novamente o que pensa ser a estratégia do silêncio, limitando-se a apenas uma resposta, deixando as demais no vazio. Disse que tinha como tarefa cuidar dos presentes enviados ao então presidente Jair Bolsonaro. Uma extensa e excelente reportagem de Cézar Feitosa, edição desta sexta-feira da Folha de S. Paulo, destaca o novo episódio que teve como protagonista o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Ele, naturalmente, assessorado por seu advogado Cezar Bittencourt optou pelo caminho do silêncio, tentando com isso fugir do problema. Um engano completo. Ao contrário do que pensa, o seu silêncio, que vem sendo repetido em seus comparecimentos a inquéritos, como é o caso da CPI da Câmara dos Deputados e da Polícia Federal, representa uma confissão tácita. Se alguém é acusado de ilegalidades graves, como a venda de joias nos Estados Unidos para transformar presentes em dinheiro e entregá-lo ao então presidente da República ou à sua família, na medida em que se cala agrava o caráter antiético de sua atuação.

ROLEX – O problema ganhou uma perspectiva ainda maior com a entrada em cena de Frederico Wassef, o advogado das sombras que estava fazendo turismo na Pensilvânia e resolveu recomprar o Rolex para entregá-lo numa rota que conduziu à sua devolução ao Tribunal de Contas da União. Por sua vez, o advogado de Jair Bolsonaro, Paulo Amador Cunha Bueno, colocou em debate a tese espantosa de que o TCU deve devolver ao seu cliente as joias que foram resgatadas, sustentando que pela lei os presentes recebidos pelo ex-presidente pertencem a ele diretamente.  

Portanto, como se constata, a tese de Bueno colide frontalmente com a do advogado Cezar Bittencourt, aumentando a confusão que se estende a cada dia sobre a família Bolsonaro. Além disso, a Folha de S. Paulo, reportagem de Marcelo Rocha, destacou que o filho 04 de Bolsonaro, Jair Renan, passou a ser alvo da Polícia Civil de Brasília por falsificação de documentos, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. O advogado que defende Jair Renan, Admar Gonzaga, demonstrou-se surpreso com a ação.

LINHA DE DEFESA – Bela Megale e Miriam Leitão, O Globo, edição de ontem, destacam a nova linha de defesa assumida pelo advogado Paulo Amador Bueno que passou a adotar a tese de que as joias entregues por Jair Bolsonaro ao TCU sejam a ele devolvidas, pois a lei, segundo o advogado, garante que elas pertencem ao ex-presidente por direito. Entretanto, o próprio Paulo Amador Bueno tem como certa a negativa do TCU e pretende recorrer à Justiça para tirar o processo de Bolsonaro do Supremo Tribunal Federal para a Justiça de 1ª Instância. O objetivo é que o julgamento não ocorra nunca por esse caminho legal.

Sustenta Paulo Amador Bueno que as joias são bens personalíssimos do ex-presidente, podendo o mesmo, portanto, fazer o que bem entender sobre a “sua propriedade”. O advogado, no fundo, de acordo com Bela Megale e Miriam Leitão, quer que o TCU negue o pedido de Bolsonaro para que ele então tente transferir o foro do processo que existe contra ele para a justiça comum.  Enquanto o tenente-coronel Mauro Cid permanece em silêncio, o ex-presidente da República busca ser julgado na Primeira Instância. São, ao meu ver, confissões por ações tácitas.

CRISE NA ARGENTINA –  João Sorima Neto, Janaína Figueiredo e Bruno Rosa, em reportagem no O Globo de ontem, revelam que o Banco Itaú venderá a sua presença no mercado argentino e deixará Buenos Aires.  A crise financeira do país é a causa da decisão. O Itaú Unibanco operava há 40 anos no país vizinho.

Na Argentina estão faltando dólares e o presidente Lula da Silva propôs na reunião do Brics que no comércio internacional, pagamentos de importações e exportações  possam ser feitos em yuans, moeda chinesa. Mas, a moeda chinesa não tem a mesma conversão da qual se reveste o dólar no mercado global.

Jurista critica o Supremo por derrubar a última regra que faltava – a moralidade

Charge do Zé Dassilva: STF - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Duarte Bertolini

Não escrevo ou comento com frequência, mas tento acompanhar a Tribuna da Internet e o noticiário político. Por isso estou enviando este texto/desabafo do renomado escritor e jurista José Paulo Cavalcanti Filho, ex-ministro da Justiça, membro da Academia Brasileira de Letras e consultor da ONU.

Achei o artigo muito apropriado para não esquecermos este absurdo votado em interesse próprio pelo Supremo Tribunal Federal. O texto está viralizando na web, porque mostra que o Supremo, lamentavelmente, conseguiu ultrapassar a última barreira que faltava ‒ a da moralidade.

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SUPREMO TORPOR
   José Paulo Cavalcanti Filho

No prefácio à sua monumental Comédia Humana, Balzac escreveu: “A acusação da imoralidade é a última que resta a fazer quando não se tem mais nada a dizer”. E o que devem dizer as pessoas de bem depois da última decisão do Supremo?, eis a questão. Calar? Lembro frase atribuída ao reitor perpétuo da Universidade de Salamanca, Miguel de Unamuno, “Há momentos na vida em que calar é mentir”.

Tudo menos calar, pois. Nem sair às ruas, como Balzac, denunciando a “imoralidade”, talvez fosse demasiado melodramático, mesmo levando em conta esse torpor que hoje invade nossas almas. Ao tema, pois.

COM O NOVO CÓDIGO – Começo explicando aos leitores não iniciados nos temas jurídicos que tudo começou em 16/03/2015, quando foi aprovado o novo Código de Processo Civil. Sendo presidente, da Comissão que o redigiu, Luiz Fux ‒ então ministro do STJ e, hoje, do Supremo.

Um dos pontos mais saudados, no novo Código, foi precisamente a extensão maior dada ao art. 144 (no anterior CPC, art. 134), inciso VIII. Que fala em impedimentos e suspeição de juízes, desembargadores e ministros do STJ e do Supremo, nos feitos “em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau”.

O Código, assim, explicita regra que, a rigor, nem precisaria ser posta em lei. Dado que, à toda evidência, um ministro (tomo, como exemplo, só uma categoria de cada lado) não pode julgar caso proposto, ao tribunal, por sua própria mulher. Em razão de um princípio elementar de decência, nem precisaria ir mais longe.

PODER MODERADOR – Só que os tempos mudaram, senhores. E, hoje, o Supremo se autoconferiu um papel que não está, nem nunca esteve, em nenhuma de nossas Constituições desde o início da República ‒ o de ser uma espécie de Poder Moderador do país.

Reproduzindo aquele exercido, nos tempos do Império, por Dom Pedro II. Um poder absoluto e sem nenhum limite ‒ nem nas leis ordinárias, nem na Constituição, nem na consciência dos cidadãos. E isso confessam sem nenhum pudor. Palavras do ministro Luiz Fux: “Enquanto Suprema Corte, somos editores de um país inteiro”. Ou, ainda mais explícito, em palavras do ministro Dias Toffoli, “Nós já temos um semi-presidencialismo, com o controle do Poder Moderador que hoje é exercido pelo Supremo Tribunal Federal”.

Por isso, já faz tempo, nem respeita mais o artigo 2º dessa Constituição que dispõe devam ser poderes “independentes e harmônicos o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. E assim, sem maiores preocupações, julga, legisla e executa (administra o país).

A PEDIDO DOS JUÍZES – Em 2018 a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), acreditem senhores, requereu a declaração da inconstitucionalidade do tal inciso VIII ‒ aquele que proíbe ministros de julgar casos propostos por suas mulheres. A pedido não se sabe de quem. Sob o argumento de que a regra “se presta apenas para enxovalhar alguns magistrados”.

Para a AMB, não se conformar que maridos julguem casos propostos por suas esposas seria enxovalhar alguns magistrados.

Ouvidos, Câmara dos Deputados, Senado, Advocacia Geral da União, Procuradoria Geral da República e a própria Presidência da República disseram o óbvio. Que não enxergavam qualquer inconstitucionalidade na regra. Nossa OAB Nacional, naquele momento e como se pregada na Santa Cruz, permaneceu previsivelmente muda. O ministro Fachin, relator do caso, acompanhou o entendimento desses todos. Para ele, sem dúvida com razão, a regra foi criada “para garantir um julgamento justo e imparcial”.

GILMAR CONTESTA – Ocorre que o Ministro Gilmar Mendes se insurgiu e abriu divergência, argumentando que seu gabinete “perde tempo na verificação dos impedimentos, deixando de auxiliar no julgamento das causas”. Sem explicar como é que esse fato significa alguma violação à Constituição.

O economista Bruno Brandão, da Transparência Internacional, pediu a palavra para contradizê-lo, dizendo ser um argumento “lamentável”, porque “empresas privadas fazem, há anos, esse tipo de checagem de vínculos societários, de maneira automatizada”.

Gilmar completa, dizendo que a regra pode “macular a reputação do julgador” e “diminuir não só a pessoa do juiz mas a imagem do Poder Judiciário”. Talvez seja o contrário, senhores. Ministros julgando casos propostos por suas mulheres é que maculam a reputação do Poder Judiciário.

DISSE ZANIN – Fosse pouco, o bravo ministro benjamin da casa, Cristiano Zanin, teve a coragem de justificar seu voto dizendo que a regra do impedimento “afronta a liberdade de iniciativa e ao direito do trabalho e à subsistência”. De parte a falta de respeito à língua portuguesa, dá para acreditar? Ao novo ministro não preocupa ser claramente imoral que maridos julguem casos propostos por suas mulheres. Porque, segundo ele, isso “afronta a liberdade de iniciativa”. Só mesmo rindo.

Na votação do Plenário Virtual os dois foram acompanhados por Alexandre de Moraes, André Mendonça, Kassio Nunes Marques, Toffoli e o próprio Luiz Fux ‒ que, ao redigir o projeto do novo CPC, considerou essa regra moralizadora. Enquanto, agora, votou contra.

Só para lembrar: Alexandre de Moraes, Gilmar, Toffoli e Zanin tem mulheres chefiando escritórios, entre os mais caros do país, com casos no Supremo.

ELIANA CALMON E BALZAC – A ex-ministra do STJ Eliana Calmon, sem meias palavras, assim disse: “A janela agora foi escancarada pelo Supremo. Ministros ganham muito pouco. Advogados de grandes escritórios, ganham muito mais. E, naturalmente, existe uma divisão familiar. Ou seja, a mulher fica com o poder econômico, nos escritórios; e os ministros ficam com o poder político, dentro do Poder Judiciário. Desta forma eles (marido e mulher) ganham muito e tem o poder político na mão. Um acasalamento perfeito”. Ao final, ela própria resumiu: “Eles estão fazendo com que haja a desmoralização do Poder Judiciário”. O que é grave porque, “sem Poder Judiciário, nós não temos Democracia”.

Voltando ao início do texto, como quem percorre um cordão sem ponta, quanto a essa (mais uma) deliberação do Supremo, Balzac com certeza diria ser uma “imoralidade”. Não vou tão longe, por conta da educação. Mas afirmo, com a consciência em paz, que isso não está certo.

Sob risco de bloqueio do Pix de Bolsonaro, novos depósitos serão na conta de Michelle

Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama do Brasil

Michelle Bolsonaro já pegou uma caneta para fazer as contas

Bela Megale
O Globo

Assessores e aliados de primeira hora de Michelle Bolsonaro colocaram nas redes sociais uma campanha para arrecadar recursos via Pix para a ex-primeira-dama. Deputados federais próximos a Michelle, como Amalia Barros (PL-MT) e Mário Frias, divulgaram, nesta tarde, a especulação de que Jair Bolsonaro terá os R$ 17 milhões que recebeu via Pix bloqueados e pedem doações para a ex-primeira-dama.

Assessores diretos de Michelle também estão divulgando o Pix da ex-primeira-dama por redes e mensagens de WhatsApp.

Mas investigadores relataram à coluna que não há a intenção de pedir o bloqueio dos recursos doados a Bolsonaro. A família, porém, já está se mobilizando para arrecadar mais dinheiro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É impressionante a ingenuidade dessa gente, que deposita dinheiro (seriam dízimos?) na conta de Jair Bolsonaro e de quem ele indicar. Essas pessoas não sabem que ele e Michelle, juntos, recebem mais de R$ 130 mil reais por mês, possuem patrimônio de R$ 20 milhões e ainda têm carro blindado e oito assessores pagos pelos contribuintes. Além disso, as doações Pix já garantem a Bolsonaro R$ 5 mil por dia, só de rendimento, o que equivale a uma renda adicional de R$ 150 mil por mês. Portanto, se você quer doar dinheiro a quem merece, adote uma causa nobre e ajude crianças pobres a ter um futuro melhor. Não doe seu dinheiro a quem dele não necessita. (C.N.)

Dizia Lêdo Ivo: “Não confie a ninguém seu segredo, a verdade não pode ser dita” 

Veredas da Língua: Lêdo Ivo - PoemasPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, cronista, romancista, contista, ensaísta e poeta alagoano Lêdo Ivo (1924-2012), da Academia Brasileira de Letras,  aconselha (queime tudo o que puder) no poema “A Queimada”, pois a verdade não é para ser dita, ela é o eterno segredo. Vale ressaltar que, se este poema fosse escrito atualmente, poderíamos dizer que o teor foi inspirado em certas autoridades brasileiras.

A QUEIMADA
Lêdo Ivo

Queime tudo o que puder:
as cartas de amor
as contas telefônicas
o rol de roupas sujas
as escrituras e certidões
as inconfidências dos confrades ressentidos
a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência
e anuncia a arterioesclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas.

Não deixe aos herdeiros esfaimados
nenhuma herança de papel.
Seja como os lobos: more num covil
e só mostre à canalha das ruas
os seus dentes afiados.

Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escória eletrônica.
Destrua os poemas inacabados, os rascunhos,
as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.

Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.
A verdade não pode ser dita.

Moraes reconhece ter se equivocado em inquérito do Supremo e faz seu primeiro recuo

PF faz operação para investigar ameaças a ministro do STF - Estadão

Pode ser que Moraes volte atrás também em outras decisões…

Carlos Newton

Acionado por Dias Toffoli, que presidia o Supremo e tentava evitar perseguições a ele, a Gilmar Mendes e às respectivas mulheres por questões fiscais (Imposto de Renda), o então inexperiente ministro Alexandre de Moraes criou em 14 de março de 2019 o inquérito das fake news e deu início a uma intervenção judicial na política que parece não ter fim, com investigações que jamais são concluídas e que passaram a ser chamadas de ”inquéritos do fim do mundo”, por não terem prazo para terminar.

Não mais que de repente, diria Vinicius de Moraes, enfim o ministro do Supremo reconhece o primeiro dos muitos erros cometidos nesta autoproclamada campanha em defesa da democracia. E mandou arquivar parcialmente o inquérito contra seis dos empresários que simplesmente exerciam o direito de apoiar Bolsonaro e de temer fraude nas urnas.

Moraes julgou que os empresários estavam financiando a execução do golpe de estado, porque alguns deles opinavam que um golpe militar seria preferível a um governo do PT.

ANTES TARDE… – Diz o velho ditado, antes tarde do que nunca. Moraes enfim chegou a conclusão de que eles não estavam financiando nada, apenas emitindo opinião. Assim, mandou arquivar o inquérito contra seis deles, mas manteve a investigação sobre Luciano Hang e Meyer Nigri, os dois que era mais ligados a Bolsonaro.

Um dos empresários inocentados, Emilio Dalçoquilo, chegou a lembrar que Bolsonaro ajuizou ação contra Moraes no Supremo por abuso de autoridade, “levando-se em conta seus sucessivos ataques à democracia, desrespeito à Constituição e desprezo aos direitos e garantias individuais”.

Na verdade, nada garante que o relator do Supremo venha a fazer o mesmo em outros inquéritos que contêm exageros processuais, até porque ele desfruta de apoio irrestrito da maioria dos ministros, o que é lamentável e até incompreensível.

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P.S. 1
A mim não interessa se esses inquéritos são contra Bolsonaro, pessoas ligadas a ele, ao Xá da Pérsia ou ao Dalai Lama. O que não se deve aceitar é que um deputado possa ser preso e condenado por emitir opinião ou mesmo fazer ameaças, e que a esposa dele tenha suas contas bloqueadas sem ser ré no processo. Da mesma forma, é inaceitável que um deputado seja cassado ilegalmente, por unanimidade, desprezando-se jurisprudência do próprio tribunal – no caso, o TSE.

P.S. 2 – Em qualquer país medianamente civilizado, precisa existir segurança jurídica. E isso somente se consegue quando a lei é respeitada e todos são juridicamente iguais. Apenas isso.

P.S. 3 – Vocês não acham que é um exagero tratar como “terroristas” aqueles bolsonaristas irresponsáveis, incluindo idosos e idosas, além de faxineira, manicure etc., que foram incitados a invadir os três Poderes em 8 de janeiro? (C.N.) 

Acossado por processos, Trump transforma a campanha em plebiscito sobre democracia

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump no aeroporto internacional de Washington, capital americana

Trump pensa (?) que pode destruir a democracia nos EUA

Demétrio Magnoli
Folha

Donald Trump não é burro como Bolsonaro. Diante de seu quarto indiciamento, na Geórgia, pela tentativa de fraudar o resultado das urnas do estado, sua campanha emitiu uma nota que diz o seguinte:

“Estas atividades dos líderes democratas constituem grave ameaça à democracia americana e são tentativas de despojar o povo americano de sua legítima preferência de voto para presidente. Chame-se isto de interferência nas eleições ou manipulação eleitoral, é um perigoso esforço da classe dirigente de suprimir o direito de escolha do povo.” Mais que demagogia, encontra-se aí uma síntese do programa insurrecional da direita extremista.

A referência a “atividades dos líderes democratas” mira a promotora democrata da Geórgia, omitindo o fato de que o indiciamento foi decidido por um júri popular com base em depoimentos devastadores de vários funcionários estaduais republicanos.

VERDADE POLÍTICA – A linha retórica de Trump enterra a verdade factual sob o granito de uma “verdade política” suprema: a democracia não passa de uma fachada do poder de uma maléfica “classe dirigente”. Por isso, o sistema judicial funcionaria, efetivamente, como mecanismo de perseguição do Líder do Povo.

A inversão é patente. Trump replica à acusação de que tentou fraudar as eleições de 2020 com a acusação de interferência do governo Biden na campanha para as eleições de 2024. O núcleo de sua mensagem: inexistem instituições estatais imunes à partidarização.

A esquerda tradicional aprendeu a usar a expressão “democracia burguesa” para dizer que as democracias funcionam realmente como ditaduras da classe dominante. Trump diz basicamente a mesma coisa, apenas substituindo a “burguesia” por uma indefinida Elite (assim, com maiúscula) “liberal” ou “esquerdista”.

É UMA NARRATIVA – O discurso insurrecional dispensa o ônus da prova. Desde a proclamação da vitória de Biden, Trump repete que as eleições foram fraudadas. Juízes de diferentes instâncias rejeitaram tais alegações. Pouco importa, já que os tribunais fazem parte da conspiração da “classe dirigente”.

O ex-presidente promete exibir, segunda-feira, um “relatório conclusivo” sobre as supostas fraudes na Geórgia. Evidentemente, o espetáculo acontecerá numa coletiva de imprensa, não num tribunal.

“Pântano de Washington” – eis o nome, enredado nas brumas do mistério, que Trump cunhou para indicar a conspiração da Elite contra o Povo. Nomear um inimigo invisível é truque antigo.

ESTADO PROFUNDO – Há muito, demagogos de direita ou esquerda clamam sobre as artimanhas demoníacas de um “Deep State”. O tal do “Estado profundo” chegou ao Brasil com Bolsonaro, que cometeu o erro tático de identificá-lo com o STF, e em tom mais suave com Lula, que incorre em equívoco similar ao identificá-lo com o Banco Central.

Nunca se deve desenhar os contornos de um inimigo poderoso que é tão ubíquo quanto oculto.

O truque condensa um programa de ação: erradicar os contrapontos institucionais ao poder presidencial, instituindo uma tirania da maioria.

RESCISÃO DA CONSTITUIÇÃO – Durante seu mandato, Trump invocou em diversas ocasiões, inutilmente, uma imaginária prerrogativa presidencial de fazer qualquer coisa. Depois da derrota eleitoral, exigiu a “rescisão da Constituição” para propiciar sua recondução à Casa Branca. Hoje, acossado por múltiplos processos judiciais, transforma sua campanha em um plebiscito sobre a democracia americana.

Trump só reconhece o tribunal das urnas – e, claro, com a condição de que forneçam o resultado desejado. No lugar de uma defesa jurídica, o ex-presidente calunia promotores e juízes, qualificando-os como “tendenciosos”, “corruptos” ou “dementes”.

Os analistas do declínio das democracias alertam para a lenta erosão institucional promovida por líderes populistas no exercício do poder. No caso dos EUA, o perigo iminente é outro: um voto popular majoritário pela “rescisão da Constituição”.

Governo fala em Reforma Tributária, mas quer recriar o execrável imposto sindical

Centrais já usam assembleia para cobrar novo imposto de trabalhadores -  Jornal Contábil

Charge reproduzida do Arquivo Google

Elio Gaspari
O Globo/Folha

Era pedra cantada e as repórteres Geralda Doca e Victoria Abel mostraram a receita. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, cozinha um projeto de restabelecimento do imposto sindical, extinto em 2017, durante o governo de Michel Temer. Esse imposto cobrava anualmente um dia de trabalho a todos os assalariados para financiar as máquinas dos sindicatos e federações.

Para dar um toque de modernidade à tunga, ele virá com outro nome e vai se chamar Contribuição. Pelo formato atual, será equivalente a 1% do rendimento anual do trabalhador, sindicalizado ou não. Pelas contas do professor José Pastore, um cidadão com salário de R$ 3.000 mensais, pagava R$ 100 a cada ano. Nesse novo sistema, considerando-se o 13º salário, férias etc., pagará R$ 390. Quase quatro vezes mais.

VOTAR CONTRA – O ministro Marinho sustenta que “uma democracia precisa ter um sindicato forte”. Segundo ele: “O que está em debate é criar uma contribuição negociável. Se o sindicato está prestando um serviço, possibilitando um aumento salarial, é justo que o trabalhador não sindicalizado pague a contribuição. Se ele não aceitar pagar a taxa, é só ir à assembleia e votar contra”.

Na parolagem, faz todo sentido. Levando-se em conta que a maioria dos trabalhadores não é sindicalizada e a maioria dos sindicalizados não vai às assembleias, o palavrório serve apenas para adoçar uma tunga. O trabalhador pode votar contra, mas, perdendo, deverá pagar.

O professor José Márcio Camargo, que, como Pastore, conhece a economia do trabalho e o mundo dos sindicatos, não gostou da ideia: “Acho péssimo porque obriga o trabalhador a pagar pelo que não escolheu. Aumenta o custo do trabalho, principalmente dos menos qualificados. Para ter uma contribuição desse tipo, é fundamental acabar com a unicidade sindical”.

HERANÇA DA DITADURA – Bingo! O nome do problema está na unicidade sindical, herança do Estado Novo. Se um sindicato luta pelos seus associados e consegue um acordo benigno negociando com os patrões, merece ser remunerado. A maioria dos sindicatos brasileiros presta maus serviços e negocia pouco.

Como cada categoria só pode ter um sindicato, o trabalhador não tem para onde correr e acaba mordido. Quebrada a herança da unicidade, os sindicatos serão obrigados a competir pelos associados. Quando Lula era dirigente sindical, defendia a libertação dos trabalhadores, mas esse Lula é coisa do século passado.

É possível que a mordida de 1% sobre o rendimento anual dos trabalhadores seja um bode. Se ela for reduzida a 0,5% do rendimento anual, ainda assim equivalerá ao dobro do valor do imposto extinto em 2017.

SISTEMA CARTORIAL – O fim do velho imposto sindical secou as arcas das guildas. Estima-se que a arrecadação compulsória rendia R$ 3,6 bilhões. Tornada voluntária, caiu para R$ 68 milhões. Essa é a cifra que reflete a disposição dos trabalhadores de financiar seus sindicatos.

Marinho diz que uma democracia precisa de “um sindicato forte”. Talvez seja melhor refraseá-lo: uma democracia precisa de vários sindicatos fortes em cada categoria.

Um governo que se orgulha do aspecto modernizador de sua Reforma Tributária, cantada como vinho, cozinha no vinagre uma tunga que favorece um sistema cartorial e monopolista de organização sindical.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lula passou a campanha mentindo, dizendo que iria rever a reforma trabalhista, mas não iria recriar o imposto sindical, embora prometesse recriá-lo nos encontros fechados com sindicalistas de toda espécie. O Brasil tem mais de 1,2 mil sindicatos. Todos os demais países do mundo, juntos, têm menos, apenas 1,1 mil sindicatos. Lula quer recriar essa aberração, que só existia no Brasil. É deplorável. (C.N.)

Supremo volta a julgar sobras eleitorais, que podem mudar bancadas na Câmara

Gafe! Rollemberg ignora candidato do partido e festeja Reguffe | Metrópoles

Ex-governador Rodrigo Rollemberg pode voltar à Càmara

José Carlos Werneck

A jornalista Ana Maria Campos, editora da coluna Eixo Capital, no Correio Braziliense, informa que o Supremo Tribunal Federal retomou nesta sexta-feira, em plenário virtual, o julgamento das ações que podem mudar a composição das bancadas dos partidos na Câmara dos Deputados.

Entre as substituições em discussão, há uma no Distrito Federal: sairia o deputado Gilvan Máximo, do Republicanos, para a entrada do ex-governador Rodrigo Rollemberg, do PSB.

PEDIDO DE VISTA – O processo começou a ser julgado em abril, com o voto do relator, ministro Ricardo Lewandowski, mas foi suspenso por um pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral .

No plenário virtual, o julgamento teve recomeço agora e deverá ser concluído na próxima sexta-feira, com os ministros votando eletronicamente.

INCONSTITUCIONALIDADE – Os partidos PSB, Podemos e Rede questionam as regras utilizadas pela Justiça Eleitoral em 2022 para cálculo das sobras eleitorais. Está em discussão, a terceira fase da análise.

Os partidos questionam dispositivos do artigo 109 do Código Eleitoral (Lei 4.737/1965), alterado pela Lei 14.211/2021, e a Resolução 23.677/2021 do Tribunal Superior Eleitoral.

Lewandowski julgou procedente a demanda dos partidos, apontando como inconstitucionais a mudança no Código Eleitoral e a resolução do TSE que basearam a distribuição das vagas na última eleição.

DISSE LEWANDOWSKI – O ministro, hoje aposentado, considerou que, na forma adotada nas últimas eleições, candidatos com votação inexpressiva podem perder a cadeira para adversários com mais eleitores.

Lewandowski entendeu que todas as legendas e candidatos podem participar da distribuição das vagas remanescentes, independentemente de terem alcançado a exigência dos 80% e 20% do quociente eleitoral. Leva a vaga, nesta terceira rodada, quem teve mais votos, mas o entendimento só valeria para as eleições municipais de 2024.

O julgamento foi retomado com o voto do ministro Alexandre de Moraes, que acompanhou em parte Lewandowski. “Tem-se, assim, várias situações concretas nas quais a aplicação das regras de distribuição de sobras eleitorais, naquilo em que excluem partidos em razão de seu desempenho, produzem resultados que, do ponto de vista do princípio democrático, da soberania popular, entre outros princípios, se revelam inaceitáveis, por (a) desprezar um montante considerável de votos, e (b) preterir candidatos com maior votação apenas em razão do desempenho de seus partidos”, afirmou o ministro.

E agora? Lula assiste à China engordar o Brics com ditaduras e Estados falidos

Chanceler da África do Sul diz que países do Brics concordaram sobre  expansão | Dinheirama

Dois pra lá, dois pra lá, e a China vai dominando o Brics

Igor Gielow
Folha

Quando surgiu como ideia nos anos 2000, o Brics fazia sentido ante uma realidade mutante. A China emergia com força para o posto de potência desafiante do século 21, com os desafiados Estados Unidos envolvidos em suas guerras sem sentido.

Brasil e Rússia viravam xodós dos mercados com a forte demanda por commodities e os altos preços do petróleo, e no fim da festa a África do Sul chegou para marcar a presença do continente africano, grande playground das ambições chinesas com seus investimentos da Iniciativa Cinturão e Rota. Já a complexa Índia vinha com o peso de sua economia e população, que viria a ultrapassar a chinesa neste ano.

MULTIPOLARIDADE – Como bloco, o Brics encarnava uma multipolaridade que rejeitava o domínio americano estabelecido no pós-Guerra Fria, ainda que na prática seus membros estivessem fazendo negócios com o Tio Sam como sempre.

Ao longo dos anos, do ponto de vista político, navegou entre a utilidade retórica a governantes de ocasião e a mera irrelevância. Seu único ramo concreto, o banco ora presidido pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, é um instrumento de “soft power” chinês na essência, não por acaso sediado em Xangai.

A Guerra Fria 2.0 lançada em 2017 por Donald Trump contra a assertividade de Xi Jinping, seguida pela convulsão que o mundo vive após uma pandemia devastadora e a volta dos canhões à Europa, cortesia de um dos fundadores do Brics, Vladimir Putin, tudo isso alterou esse cenário.

INVASÃO DA UCRÂNIA – A invasão de 2022 da Ucrânia e a reação ocidental, na forma de sanções draconianas à Rússia e o apoio militar a Kiev, aceleraram o processo de divisão mundial. Grosso modo, Pequim, Moscou e aliados de um lado, EUA e o tal Ocidente coletivo, do outro. No meio, atores relevantes, mas de musculaturas díspares. Caso de Brasil e Índia.

O presidente Lula acalentava, com sua volta ao poder após a devastação deixada na política externa de Jair Bolsonaro, o sonho de tornar-se um líder mundial inconteste. Meteu os pés pelas mãos com suas idas e vindas sobre a guerra e é contestado em seu próprio quintal, do pequeno Uruguai à nova esquerda andina.

Enquanto isso, os indianos iam à Lua, literalmente até. De forma figurativa, Narendra Modi deu um salto espacial à influência de seu país, virando o verdadeiro Lula idealizado: cortejado com visitas de Estado e negócios militares com EUA e França ao mesmo tempo em que, falando em paz, se nega a condenar Putin e amplia a compra de petróleo barato russo.

GRUPO QUAD – Isso permite ao país permanecer num Brics cada vez mais chinês e ser o maior antagonista de Pequim na Ásia, alinhando-se cada vez mais com Washington no Indo-Pacífico, como o grupo Quad (com Japão e Austrália também) demonstra. Se a convivência será possível no futuro, é insondável enquanto o bloco mantiver sua inapetência política.

Com tudo isso, a cúpula da grande expansão do Brics foi um espetáculo de Xi, que busca ser o líder do autoproclamado Sul Global. Rótulos em diplomacia são úteis para sistematizar processos e vender notícia, mas simplificam as coisas.

Veja o Eixo do Mal, pecha impingida pelo presidente George W. Bush ao trio Irã, Iraque e Coreia do Norte em 2002, na aurora de sua campanha militarista que marcou o início do século. Era uma falácia para designar os bodes expiatórios da ocasião. O Sul Global, os antigos não alinhados da primeira Guerra Fria, é uma construção imaginária dadas as disparidades de interesses.

NAFTALINA IDEOLÓGICA – O termo carrega naftalina ideológica antiamericana, mas é dito com boca cheia pelo indiano Modi, para ficar em um exemplo. Hoje, o Brics abarca uma ditadura rival dos EUA (China), uma autocracia aliada a Pequim (Rússia) e três democracias em estágios diferentes de desenvolvimento, com boas relações com o Ocidente (Brasil, Índia e África do Sul).

A composição proposta no convite a novos membros altera esse balanço, embora sempre seja possível justificar abraço em qualquer capeta. Se todo mundo entrar, o grupo ganhará três ditaduras árabes (Arábia Saudita, Emirados e Egito), uma teocracia integrante do antigo Eixo do Mal (Irã) e dois Estados em graus variáveis de falência, a Argentina em crise aguda e a Etiópia recém-saída de mais uma guerra civil.

Os petrodólares dos representantes do Golfo Pérsico justificam qualquer coisa, claro, e Lula poderá cantar vitória por finalmente ter incluído a Argentina no pacote —embora a possibilidade do radical Javier Milei levar a Presidência no país vizinho embaralhe tudo.

NOVOS CAPÍTULOS – A desdolarização, uma das pedras de toque das nações do Brics, ganhará novos capítulos e servirá à retórica de autonomia ao gosto do cliente: Putin precisa dela porque está desplugado do sistema internacional, Xi quer ampliar o escopo do yuan, Lula busca falar grosso.

Nos EUA e na Europa, o Brics ampliado será visto como uma versão sinófila do Eixo do Mal, o que é tão reducionista quanto acreditar em Sul Global.

Na prática, será preciso esperar para ver se a fanfarra dará lugar a mecanismos novos de integração ou se o bloco seguirá sua vocação de irrelevância, agora um pouco mais a serviço de Pequim no seu embate com Washington.

Com o caso das joias, Bolsonaro perde apoio na base da coalizão que o conduziu ao poder

Jair Bolsonaro, na filiação de Fernando Holiday e Lucas Pavanato, ex- MBLs, ao PL, no salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo

Jair Bolsonaro está enfrentando cada vez mais problemas

Marcus André Melo
Folha

Em coluna publicada em 2019, afirmei que “a exposição da grande corrupção favoreceu Bolsonaro; a da pequena poderá fraturar sua base”. A expectativa mostrou-se acertada. Na atual conjuntura o caso das joias está levando o ex-mandatário a uma bancarrota política inédita.

A literatura especializada distingue a petty corruption (corrupção de pequena escala) da grand corruption (de grande escala). A primeira diferencia-se por ser transações singulares, individualizadas, e não institucionalizadas; a segunda por ser institucionalizada, envolvendo burocracias públicas, partidos políticos, estatais, sendo recorrente e de elevado valor.

PETROLÃO E RACHADINHAS – Referia-me na coluna às rachadinhas e ao papel que a exposição na opinião pública do mensalão e petrolão teve na ascensão de Bolsonaro. O caso teve pelo menos dois desdobramentos institucionais — no Coaf e na Polícia Federal — nos quais teve participação ativa com custos políticos e derrotas no STF.

A fratura na base da coalizão que levou Bolsonaro ao Planalto acarretou a defecção dos setores que apoiavam a Lava Jato. Seu símbolo foi a saída de Moro do governo. Ao que se seguiu o rapprochement do governo com o centrão e a marginalização de olavistas e militares.

A pequena corrupção no país é uma das menores da América Latina e similar à média da OCDE. Já no pioneiro Barômetro da Corrupção (2011) a percentagem de brasileiros que declaravam ter pago propina (a policiais, fiscais, provedores de serviço etc.) foi de 4%, baixa comparada aos 12% da Argentina, 21% do Chile e 31% do México. Em 2019, continuou a menor da região (11%).

CHILE À FRENTE – Os dados sobre “tentativas de obtenção de propina” são mais fidedignos. No Lapop (2021), a percentagem de pessoas que responderam positivamente à pergunta “alguma vez nos últimos 12 meses algum funcionário público lhe pediu uma propina” foi 4,8% (Brasil), 26,2% (México), 19% (Paraguai), 13,9 (Peru) e 7,7% (Argentina); Chile (2,0%) supera o Brasil.

A grande corrupção, ao contrário da pequena, não pode ser aferida por pesquisas. É clandestina: não podemos divisá-la salvo em conjunturas excepcionais. O Brasil foi o epicentro de evento raro em que seus tentáculos puderam ser vistos. O affair Odebrecht chegou tardiamente à Colômbia — cuja Procuradoria indiciou nesta semana 60 pessoas após pedido do presidente Gustavo Petro — e depois de ter derrubado três presidentes no Peru.

A bancarrota política de Bolsonaro é assim a crônica de uma morte anunciada já na sua investidura, quando foi assombrado pelos desmandos de seu entorno familiar; só que agora encarna o personagem principal. Institucionalmente, o caso salpica nas Forças Armadas.

Celular de Jair Renan poderá esclarecer várias acusações de tráfico de influência 

Jair Renan: o que se sabe sobre operação policial envolvendo filho 04 de  Bolsonaro - BBC News Brasil

Desta vez, o filho Zero Quatro ficou realmente preocupado

Bernardo Mello Franco
O Globo

Os problemas da família Bolsonaro chegaram ao Zero Quatro. Policiais apreenderam ontem o celular de Jair Renan, o caçula entre os filhos homens do ex-presidente. Ele foi alvo de uma operação que apura crimes de estelionato, falsificação de documentos, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.

A Polícia Civil de Brasília não detalhou as suspeitas, mas se referiu a Jair Renan como “comparsa” do mentor do esquema — um golpista que já chegou a ter dez CPFs. Os dois são amigos e costumavam desfilar juntos nas noites da capital. Agora os investigadores querem saber se a parceria se estendeu à prática de trambiques.

ADVOGADO TRANQUILO – O advogado do Zero Quatro disse que ele está “absolutamente tranquilo”. Não deveria, a julgar pela quantidade de rolos em que já se meteu. No ano passado, o jovem Bolsonaro passou cinco horas na sede da Polícia Federal. Foi ouvido em investigação sobre tráfico de influência no governo do pai.

Num dos casos que vieram à tona, empresários presentearam Jair Renan com um carro de R$ 90 mil. No mês seguinte, o rapaz acompanhou a turma em audiência com um ministro de Estado. Em outro episódio, uma produtora que tinha contratos com o governo foi recrutada para filmar a inauguração da empresa do Zero Quatro. De acordo com os envolvidos, o serviço foi gratuito. Para o filho de Bolsonaro, é claro.

Jair Renan gosta do agito. Em março, mudou-se para Balneário Camburiú, considerada a capital brasileira da música eletrônica. Para ficar mais perto das raves, ganhou cargo no gabinete local do senador Jorge Seif. Ele acabou de chegar à cidade, mas já faz planos de se candidatar a vereador em 2024.

DNA DA FAMÍLIA – As redes do Zero Quatro espelham o DNA da família. Ele gosta de se exibir com armas e já publicou vídeo cuspindo no rosto da própria mãe. Em outros posts, debochou de vítimas do coronavírus e descreveu a pandemia como “a época em que mais peguei gente”.

As cafajestagens de Jair Renan são problema dele e dos eleitores do clã. Seus negócios durante o governo do pai mexem com o interesse público e precisam ser apurados. O celular recolhido ontem deve ajudar na tarefa.

Depois da operação, o senador Flávio Bolsonaro acusou a polícia de procurar “pelo em ovo” e disse que o irmão “não tem onde cair morto”. Se ele acredita no que diz, poderia ceder uma das suítes de sua mansão de R$ 6 milhões.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O moleque abandonou os estudos e ganha R$ 9,5 mil mensais, sem obrigação de comparecer ao “trabalho”. Dedica-se a se transformar num fenômeno empresarial, ao estilo da família. O pai não está nem aí para o rebento. (C.N.)

Piada do Ano! Integrante  da segurança de Lula estava em grupo de Zap golpista

Segurança de Lula: quem é o militar do Exército no GSI que estava em grupo  golpista - Revista Fórum

Tenente-coronel André Correia foi transferido pelo GSI 

Andréia Sadi e Matheus Moreira
g1 Brasília

A apreensão do celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, levou a Polícia Federal a descobrir que um segurança presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva estava em um grupo de WhatsApp com militares da ativa que defendiam um golpe de Estado e que faziam ameaças ao ministro Alexandre de Moraes.

Segundo informações apuradas pelo blog, o tenente-coronel André Luis Cruz Correia estava no grupo que, entre outros, tinha Mauro Cid como membro. Na semana retrasada, o jornalista Cesar Tralli antecipou, na GloboNews, que havia essa suspeita.

FOI DEMITIDO – Assim que descobriu a informação, a PF levou o caso ao Palácio do Planalto — que mandou demitir Correia. Ele era subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e, segundo integrantes do governo, atuava na segurança direta de Lula. Ele chegou, inclusive, a participar de viagens recentes com o presidente, como a da Bélgica.

A descoberta da presença de Correia no grupo de WhatsApp golpista turbinou a guerra de desconfiança nos bastidores entre PF e o GSI.

A PF defende, desde o ano passado, que a segurança presidencial seja feita pela Polícia Federal. No entanto, para evitar desgaste com militares, Lula ordenou um modelo híbrido: com GSI no comando.

MAIS UM CAPÍTULO – Nos bastidores, o GSI trata o episódio envolvendo Correia como mais um capítulo dessa briga — e integrantes do gabinete afirmam que o tenente coronel não pode ser julgado por integrar o grupo sem se saber se houve interação ou participação ativa dele nas conversas.

Já investigadores da PF se dizem incrédulos com mais um capítulo de desconfiança envolvendo o GSI, que já teve integrantes envolvidos nos ataques de 8 de janeiro.

Além disso, volta à cena a revelação de que Mauro Cid estava no e-mail de ajudância de ordens da Presidência. O GSI informou, à época, que abriria uma sindicância para apurar o caso e que não cabia ao gabinete fazer a limpeza nesse tipo de e-mail. No entanto, até o momento, o governo não explicou de quem era a responsabilidade.

GRAVE E PREOCUPANTE – Na PF, a avaliação é a de que só o fato de que um segurança que lida com a proteção da vida do presidente da República compor um grupo criado para dar um golpe de Estado é grave e preocupante.

Inclusive, investigadores têm a informação de que o coronel Correia teria pedido ajuda para Cid para conseguir uma realocação da Bahia para Brasília —o que, de fato, aconteceu.

No GSI, fontes ouvidas pelo blog afirmam que não foi um pedido de ajuda —mas uma consulta sobre vagas disponíveis na capital federal. Tudo isso aconteceu em março deste ano, após os atos golpistas de 8 de janeiro. Correia só foi designado para a segurança de Lula no final de março.

MINISTRO DESCONHECE – Procurado pelo blog, o ministro do GSI, general Marcos Antonio Amaro dos Santos, confirmou a saída de Correia da segurança presidencial e disse que se trata de uma transferência, não uma demissão. Ele também disse desconhecer a existência de um relatório da PF que indique que Correia estava em grupo golpista.

Questionado sobre se sabia da existência do relatório da PF que indica a presença de Correia em um grupo golpista, o general disse desconhecer a informação.

Ele também afirma que Cid não tinha como ajudar Correia a entrar no GSI. “Não conheço. Não tinha [informações sobre o relatório da PF]. Eu acredito que não teria ajuda para ele [Correia] vir para cá [GSI]. Quem define quem vem para cá, de acordo com os critérios de seleção, é o comando do Exército. É o gabinete do comandante do Exército. [O ingresso no GSI] não é por indicação pessoal, não”, disse ao Blog, anunciando que o GSI planeja uma reestruturação no órgão que deve ser publicada já na próxima semana.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Parece Piada do Ano, mas o fato apenas demonstra o que já se sabia. A grande maioria dos militares apenas tolera Lula, não se sentem representados por ele. Isso é normal na democracia. Muitos militares que serviram na Casa Branca também sentiam o mesmo ao trabalhar com um cafajeste, sonegador de impostos e deslumbrado como Donald Trump. A democracia tem dessas coisas, pois garante o direito de voto, mas exige o respeito ao adversário, digamos assim. (C.N.)

Desvios serão repudiados, diz comandante do Exército sobre os “militares golpistas”

Comandante critica interferência de Bolsonaro e diz que eleição de Lula foi  “indesejada” no Exército | Metrópoles

Comandante Tomás Paiva tenta acalmar os ânimos

Matheus Teixeira
Folha

O comandante do Exército, general Tomás Paiva, afirmou nesta sexta-feira (25) que desvios cometidos por militares serão repudiados. A declaração foi dada em discurso na cerimônia de comemoração do Dia do Soldado, que contou com a presença do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro Alexandre de Moraes, que é relator no STF (Supremo Tribunal Federal) de investigações que atingem militares próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ele também afirmou que as Forças Armadas conquistaram respeito devido ao cumprimento à Constituição. “Esse comportamento coletivo não se coaduna com eventuais desvios de conduta, que são repudiados e corrigidos, a exemplo do que fez Caxias, o forjador do caráter militar brasileiro”, disse.

ATIVISTAS MILITARES – Paiva discursou na manhã desta sexta-feira por ocasião da cerimônia do Dia do Soldado, realizada no Quartel-General do Exército, em Brasília. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, também participou do evento.

Todas as investidas contra o sistema eleitoral no governo Bolsonaro têm ou tiveram alguma participação de integrantes da ativa ou reserva das Forças Armadas.

A constatação, como mostrou a Folha, é possível ao analisar capítulo a capítulo da escalada de ataque às urnas patrocinada pelo presidente derrotado nas eleições deste ano.

EM PLENO TURBILHÃO – A fala de Tomás Paiva acontece no momento em que o Exército e as Forças Armadas, em geral, se encontram no centro de um turbilhão por causa do envolvimento das cúpulas militares no governo Bolsonaro.

Também acontecem em meio ao avanço das investigações relacionadas aos atos golpistas do dia 8 de janeiro e das suspeitas de irregularidades envolvendo o ex-presidente e seus auxiliares, em particular o tenente-coronel Mauro Cid.

Nos bastidores do Exército, como mostrou a Folha, é dado como certo que Cid vai para o barro. A gíria da caserna, usada por um oficial que comentou a situação, é sinônimo de que um militar será punido.

CID PODE SER EXCLUÍDO -No caso do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a aposta é que ele será excluído da corporação e perderá sua patente caso condenado na Justiça comum – hipótese também considerada muito provável diante dos fatos já revelados nas investigações em que Cid está envolvido.

Cid está preso há três meses e meio num batalhão da Polícia do Exército em Brasília sob suspeita de ter falsificado cartões de vacinação de Bolsonaro e familiares e é investigado em outros casos, como o do vazamento de dados sigilosos sobre a urna eletrônica e os ataques golpistas do 8 de janeiro.

Além disso, participou da venda das joias que pertenceriam à Presidência.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– O Exército é tão corporativista quanto a Justiça. Se for condenado, o oficial é declarado morto e a esposa (ou filha) fica recebendo a pensão. Ou seja, o oficial é condenado a se reformar (aposentar) mais cedo… Parece brincadeira, mas é verdade. Igual ao que acontece com juízes corruptos. (C.N.)

Polícia Federal encontrou o problema que Bolsonaro finge não ver na conspiração 

Bolsonaro critica prisão preventiva de seus auxiliares

Bolsonaro admite ter enviado a mensagem ao empresário

Bruno Boghossian
Folha

Anos de blindagem devem ter deixado Jair Bolsonaro mal-acostumado. Sem embaraço, o ex-presidente admitiu que enviou ao empresário Meyer Nigri, no ano passado, uma mensagem que atacava a credibilidade das eleições e pedia ao aliado que repassasse “ao máximo” o texto.

“Eu mandei para o Meyer, qual o problema?”, questionou Bolsonaro, em conversa com a Folha. O ex-presidente é um especialista no uso de perguntas retóricas para fazer pouco caso do risco de pagar pelos próprios atos (“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”).

NOTÍCIAS FALSAS – Desta vez, será mais difícil sustentar o deboche. A Polícia Federal já encontrou “o problema”. Além de disparar absurdos em público, Bolsonaro também era uma metralhadora de notícias falsas em conversas privadas. Abastecia aliados e estimulava a disseminação de mentiras sobre as eleições, fornecia matéria-prima para o golpismo e espalhava mensagens que falavam em guerra civil.

As provas coletadas pelos investigadores são elementos concretos de materialidade sobre o papel de Bolsonaro na incitação de uma insurreição.

O então presidente usava sua autoridade para ampliar o alcance de informações falsas que corroíam a credibilidade das eleições e serviriam de munição para ataques golpistas.

TRAMA DO TSE – Os contornos dessa cadeia são nítidos no caso da mensagem que o ex-presidente confessou ter enviado, insinuando a existência de uma trama liderada pelo TSE. Segundo a GloboNews, logo depois do disparo, o texto foi reproduzido em páginas de aliados de Bolsonaro. Meses mais tarde, eles usariam aqueles argumentos num movimento golpista.

A PF também encontrou mensagens distribuídas por Bolsonaro que citavam um conflito violento como possível consequência daquela campanha de desinformação. “O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil”, dizia um dos textos, obtido pelo UOL.

Sobram provas de que o então presidente era um integrante ativo de uma conspiração que pretendia derrubar o governo eleito e culminou nos ataques de 8 de janeiro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Note-se como o ex-presidente se comporta como um completo idiota. Ele próprio se encarrega de confirmar provas materiais que seriam apenas circunstanciais. Bolsonaro poderia alegar que a mensagem teria sido postada por algum assessor mais dedicado, digamos assim, mas fez questão de confirmar que ele mesmo tomou a esdrúxula iniciativa. E assim fica cada vez mais difícil defendê-lo. (C.N.)

Bolsonaro, Michelle, Cid pai e filho, Wassef e outros depõem quinta-feira na PF

Depoimentos conjuntos visam evitar respostas combinadas

Pedro do Coutto

Num fato tão inédito quanto a venda de joias nos Estados Unidos, a Polícia Federal marcou para o dia 31 de agosto, quinta-feira, o depoimento conjunto do ex-presidente Jair Bolsonaro, de sua esposa Michelle Bolsonaro, do tenente-coronel Mauro Cid, do general Lourena Cid e do advogado Frederick Wassef, além de três integrantes de sua equipe no Palácio do Planalto.

Os depoimentos foram escalados simultaneamente no sentido de que não surjam respostas combinadas entre si, capazes de dificultar o esclarecimento dos fatos, situação prevista pela PF. O tema predominante são as joias, entre elas o relógio vendido por Mauro Cid e recomprado por Wassef, um personagem misterioso que surge das sombras para amortecer complicações. Assim, ele hospedou em sua casa em Atibaia, em São Paulo, Fabrício Queiroz, acusado de irregularidades no gabinete de Flávio Bolsonaro, hoje senador, mas no tempo em que foi deputado estadual no Rio de Janeiro.

VERGONHA – A investigação conjunta envergonha um governo pelo seu ineditismo e o absurdo das situações. Como é possível prever tal desfecho melancólico e imaginar que integrantes de um governo pudessem ser capazes de vender no exterior, em dólar, presentes recebidos de governos estrangeiros, principalmente da Arábia Saudita.

Paralelamente a tudo isso, Jair Bolsonaro – reportagem de Igor Gielow, Folha de S. Paulo desta quinta-feira – confirma ter enviado mensagem ao empresário Meyer Nigri para que repercutisse na rede da Internet falsas acusações contra integrantes do Supremo Tribunal Federal e do tribunal Superior Eleitoral, ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

No texto, Bolsonaro acusa Barroso de ter incentivado a rejeição do projeto do voto impresso e mantido as urnas eletrônicas. Roberto Barroso foi convidado a falar na Câmara Federal sobre o sistema de voto brasileiro. Alexandre de Moraes sucedeu a Barroso na Presidência do TSE. A confissão de Bolsonaro o coloca numa situação inadmissível para quem era presidente da República do Brasil.

INTERNAÇÃO – Jair Bolsonaro, entretanto, foi internado na quarta-feira no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, para fazer exames. Segundo a repórter Marianna Holanda, também na Folha de S. Paulo, Bolsonaro revelou que fará três operações cirúrgicas no próximo mês de setembro. O médico de Bolsonaro, Antonio Luis Macedo, disse que ele precisa de uma nova cirurgia desde quando retornou ao Brasil no início do ano. A intervenção cirúrgica, admito, poderá adiar o depoimento à Polícia Federal. A venda das joias foi um desastre e ficará para sempre na história do país.

 No meio da tempestade, há ainda a ação criminosa do hacker Walter Delgatti que foi recebido num café da manhã pelo ex-presidente Bolsonaro no Alvorada e depois pelo general Paulo Sérgio Nogueira, que era ministro da Defesa. O palco político desceu aos porões e Delgatti, no Ministério da Defesa, entrou pela porta dos fundos. Tal roteiro era o caminho do abismo.

PETRÓLEO –  A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, manteve a sua firme posição contra a possibilidade de a Petrobras vir a extrair petróleo na foz do Amazonas. “Não existe acordo. Não existe conciliação sobre a foz do Amazonas. As posições do Ibama são técnicas e esta questão não se discute”, afirmou a ministra.

Marina Silva descartou debater o tema numa câmara de arbitragem junto com representantes da Petrobras. No O Globo, a reportagem é de Manuel Ventura. Nela, Marina Silva sustenta que o Ibama não dá licenças políticas, rebatendo, portanto, a investida da Advocacia-Geral da União.

Carla Zambelli pode ser cassada e até presa por contratar o hacker Delgatii

A deputada federal Carla Zambelli chega a sede da Polícia Federal em São Paulo. O depoimento dela foi adiado

Sem dúvida, Zambelli extrapolou ao exercer seu mandato

Ana Gabriela Oliveira Lima
Folha

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) pode ser condenada a até seis anos de prisão em regime semiaberto e perder o mandato se for considerada culpada em ação que trata da perseguição armada contra um homem em São Paulo em outubro do ano passado.

A caracterização de grave ameaça decorrente do uso de arma de fogo impede que eventual pena de prisão seja convertida em alternativas como prestação de serviço à comunidade, segundo especialistas.

DUAS ACUSAÇÕES – Zambelli é acusada de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma em denúncia movida pela PGR (Procuradoria-Geral da República). As acusações se referem ao episódio em que a deputada perseguiu com uma arma 9mm um homem em São Paulo na véspera do segundo turno das eleições do ano passado.

Na última segunda-feira (21), o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu tornar Zambelli ré na ação, por 9 votos a 2. Divergiram da maioria os ministros André Mendonça e Kássio Nunes Marques.

Segundo Rossana Leques, advogada criminalista mestre em direito penal pela USP (Universidade de São Paulo), a deputada pode enfrentar uma pena de até seis anos iniciada em regime semiaberto caso seja considerada culpada pelos dois crimes.

SEM PENA ALTERNATIVA – Leques afirma que os ministros poderão optar, caso decidam pela condenação, por uma pena mais grave, no regime fechado, ou mais branda, segundo a interpretação do caso. De qualquer maneira, a especialista aponta que o uso da pistola caracterizou grave ameaça que impede que a pena seja convertida em pena alternativa.

Além da restrição de liberdade, há também a previsão de multa, cujo valor varia segundo as especificidades do caso e o poder aquisitivo da ré.

A pena para o crime de porte ilegal de arma de fogo é de dois a quatro anos de reclusão e multa. No caso do crime de constrangimento ilegal, a pena é de três meses a um ano de detenção ou multa. A utilização da arma de fogo é uma qualificadora que pode dobrar a pena atribuída ao crime de constrangimento. Por isso, a detenção poderia ser de até dois anos.

REGIME SEMIABERTO – Para Luana Magalhães, advogada e doutora em direito pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a pena máxima que Zambelli pode enfrentar é de quatro anos de prisão em regime semiaberto.

“Por uma única ação, ela cometeu dois crimes diferentes. A gente chama isso no direito de concurso formal, em que se aplica a pena do crime mais grave. Ela [Zambelli] cumpriria a pena do crime mais grave, que no caso seria de quatro anos. Dificilmente, nessa hipótese específica, a gente teria a soma do prazo das penas”, diz ela.

Se for considerada culpada pelos juízes, Zambelli também deve perder o mandato. Segundo Alberto Rollo, advogado e professor de direito eleitoral pela Escola Paulista de Direito, a ré, depois da condenação transitada em julgado, tem a suspensão de direitos políticos pelo tempo da sentença, o que implicaria a perda do cargo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A matéria é meio exagerada. Como a deputada tem porte de arma, a denúncia se torna mais leve. A acusação é de que o porte não permitiria que a arma fosse sacada, o que é uma maluquice jurídica, porque a deputada alegou ter sido ameaçada várias vezes para ganhar direito ao porte. O problema grave de Zambelli é ter contratado o hacker e levado ao Planalto. O resto é folclore, como diz Sebastião Nery. (C.N.)

Na tarde sertaneja, esse açoite da saudade, a cortar e marcar a alma da gente

TRIBUNA DA INTERNET | Na hora da saudade, passa o tempo como ventania e na  capela soa a Ave-Maria

Cristina Saraiva, cantora e compositora

Paulo Peres
Poemas & Canções

A produtora, professora de história, cantora e compositora (letrista) carioca Cristina Gomes Saraiva, em parceria com Jaime Alem,  confessa que, diariamente, sonha com a volta do seu amor. Cristina Saraiva gravou “Tarde Sertaneja” no CD Primeiro Olhar, em 2001, produção independente.

TARDE SERTANEJA
Jaime Alem e Cristina Saraiva

Quando a noite
Começa a chegar
Quando não mais se ouve
Bem-te-vi, sabiá
Quando a vida se aquieta
O sonho desperta
E vem me levar

Foi aqui
Nesse mesmo lugar
Que primeiro te vi
E ainda menina
Selei minha sina
De viver pra te amar

Juriti
Lá no pé de araçá
Bem tentou me avisar
Mas eu era menina
E menina não escuta
A prudência chamar

Esse açoite
Saudade a cortar
Marca a alma da gente
E nem água corrente
Consegue lavar essa dor
Levar esse amor
Pra outro lugar

Hoje canto
Pra tentar te fazer me escutar
Como então juriti
Costumava cantar
Me recosto
No pé de araçá
Foi-se o tempo
Cantigas no vento
Viola, estrelas
Amor ao relento…

Juriti, voa lá
Vá buscar meu amor
Diz pra ele voltar

Aviso aos navegantes! Advogado sinaliza que Mauro Cid já aceita culpar Bolsonaro

Brasília (DF), 24/08/2023, O tenente-coronel, Mauro Cid, depõe na CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Cid leu o texto redigido pelo advogado e depois trancou a boca

Carlos Newton

Preso há três meses, o tenente-coronel Mauro Cid já está no terceiro advogado. Por óbvio, isso significa que não estava aceitando a estratégia de defesa dos dois primeiros, que imaginavam (?) uma tática conjunta com os advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas isso “non ecziste”, diria o sempre atento padre Óscar Quevedo, sabedor de que na Justiça as acusações são individualizadas e o que vale é cada um por si, em respeito à famosa Lei de Murici, que nunca existiu, mas continua em vigor.

Ao fingir depor nessa quinta-feira, na CPI dos Atos Antidemocráticos, que funciona na Câmara do Distrito Federal, Mauro Cid levou um texto por escrito, redigido pelo novo advogado Cezar Bitencourt, que é coronel reformado do Exército e especialista em Justiça Militar.

DISSE MAURO CID – Nessa declaração aos deputados distritais, o tenente-coronel, que só se apresenta trajando o uniforme do Exército, disse que no eixo-Planalto/Alvorada estava desempenhando uma missão militar, para a qual fora designado pelo Alto Comando.

Cid fez questão de mencionar todas as funções que desempenhava, para nelas incluir o encargo de “receber e entregar” os presentes oferecidos ao presidente da República.

Em tradução simultânea, o novo advogado instruiu o tenente-coronel a alegar que estava somente cumprindo sua obrigação militar ao tratar dos presentes presidenciais, o que incluiria as tarefas subsidiárias de avaliar, intermediar, receber valores etc. Ou seja, tudo o que fazia era em obediência ao presidente.

ESTRATÉGIA ÚNICA – Bem, não há outra estratégia para livrar o ajudante de ordens. Mas os advogados anteriores relutaram, porque essa linha de defesa significa culpar exclusivamente Bolsonaro, até porque nenhum militar pode desobedecer ordens de superior, salvo na hipótese de se tratar de uma determinação claramente equivocada ou até ilegal.

No caso das joias, não se trata de situação militar, Mauro Cid pode alegar que confiava em seu superior e desconhecia totalmente a legislação que proíbe o presidente de vender seus objetos personalíssimos, sem antes oferecê-los à União.

Em suma, o advogado Cezar Bitencourt é caricato e falastrão, mas sabe o que está fazendo e vai jogar a culpa inteiramente em Bolsonaro.

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P.S. 1
Os advogados de Bolsonaro já perceberam a jogada de Bitencourt e estão desconcertados, porque tinham instruído o ex-presidente a afirmar que El Cid tinha “plena competência” para cuidar das joias, fazer o que bem entender, inclusive mandar avaliar, conforme Bolsonaro chegou a dizer. Eles pensaram (?) que El Cid aceitaria assumir parte da culpa, para tumultuar o processo e descaracterizar responsabilidades, mas as coisas não são bem assim.

P.S. 2 – Agora vai ser na Lei de Murici, em que cada um cuida de si. Ao contrário do que pensam (?) os advogados de Bolsonaro, a família Cid é formada por espertalhões em ganhar dinheiro. Criaram nos EUA a empresa Family Cid Trust, que opera na casa dos milhões. Assim, o pai e os dois filhos têm green-card (visto nacional) e estão a salvo da Justiça brasileira, porque não é desta vez que El Cid será derrotado. Perguntem a Molière. (C.N.)

Bolsonaro confirma envio de mensagem a empresário e se defende de fake news

Bolsonaro admite ter pedido a empresário para 'repassar ao máximo' mensagem questionando as urnas eletrônicas | Política | G1

Bolsonaro mandou mensagem e pergunta: “Qual é o problema”

Gabriel Sestrem
Gazeta do Povo

Na manhã desta quarta-feira (23), o ex-presidente Jair Bolsonaro confirmou o teor da mensagem enviada ao empresário Meyer Nigri sobre o processo eleitoral brasileiro. No texto (veja na íntegra abaixo) encontrado pela Polícia Federal (PF) no celular do empresário, que é apoiador de Bolsonaro, o ex-presidente afirmava que o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), estaria em campanha contra a PEC do voto impresso auditável, que acabou sendo rejeitada na Câmara dos Deputados em 2021.

Bolsonaro disse também que Barroso estaria mentindo sobre o voto impresso, que haveria “desserviço à democracia” por parte de três ministros do STF e que um instituto de pesquisa estaria manipulando números de pesquisas eleitorais.

INTIMAÇÃO – A identificação da mensagem levou a uma intimação, pela PF, para que o ex-presidente prestasse depoimento sobre o caso. A oitiva foi agendada para 31 de agosto.

“Eu mandei para o Meyer, qual o problema? O Barroso tinha falado no exterior [com críticas à proposta do voto impresso na Câmara]. Eu sempre fui um defensor do voto impresso”, declarou Bolsonaro à Folha de S. Paulo.

A mensagem que originou a polêmica foi enviada por Bolsonaro no dia 26 de junho de 2021. Um dia antes, Barroso – que na época era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – participou da abertura do Brazil Forum UK, evento realizado por estudantes brasileiros no Reino Unido desde 2016. Na ocasião, o ministro criticou o voto impresso, bateu boca com participantes que defendiam a medida e disse que o “pensamento conservador foi capturado pela grosseria”.

CÂMARA REJEITOU – O plenário da Câmara dos Deputados rejeitou, no dia 10 de agosto de 2021, a PEC do voto impresso auditável, que era arduamente defendida por Bolsonaro. Foram 229 votos a favor, 218 contra e uma abstenção. Para ser aprovada eram necessários pelo menos 308 votos (dois terços dos deputados).

Nas semanas anteriores à votação, Bolsonaro criticou Barroso por diversas vezes, alegando que o ministro agiu politicamente no Congresso para barrar a aprovação da PEC do voto impresso.

“O ministro Barroso faz peregrinação no exterior sobre o atual processo eleitoral brasileiro, como sendo algo seguro e confiável. O pior, mente sobre o que se tentou aprovar em 2021: o voto impresso ao lado da urna eletrônica, quando ele se reuniu com lideranças partidárias e o Voto Impresso foi derrotado. Isso chama-se INTERFERÊNCIA”, dizia Bolsonaro, acrescentando:

“Todo esse desserviço à Democracia dos 3 ministros do TSE/STF faz somente aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições. O DataFolha infla os números de Lula para dar respaldo ao TSE por ocasião do anúncio do resultado eleitoral. REPASSE AO MÁXIMO”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O texto enviado por Mário Assis Causanilhas me surpreendeu. Caramba! Será que o Congresso proibiu defender o voto impresso e ninguém me disse nada? Bolsonaro vai ser condenado por ter cometido esse crime?  Brizola também apoiava o voto impresso e nunca foi preso por isso. (C.N.)

Petrobras quer discutir aspectos técnicos, porém Marina não aceita abrir o debate

Lula defende perfuração na Bacia da Foz do Amazonas - YouTube

A pesquisa será feita muito distante da foz do Amazonas

Julia Duailibi
g1 Brasília

Após a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, dizer nesta quarta-feira (23) que “não existe conciliação para questões técnicas”, referindo-se à discussão sobre a possibilidade de exploração pela Petrobras da bacia da Foz do Amazonas, o presidente da companhia, Jean Paul Prates, disse ao blog que “licenciamento ambiental é sempre uma questão técnica”.

Em vídeo gravado por ele e enviado com exclusividade ao blog, Prates comenta: “A questão dos licenciamentos ambientais é sempre uma questão técnica. Pode ser de técnica jurídica, legislativa, econômica, operacional ou ambiental. Portanto, o licenciamento é sempre técnico”.

SEM ACORDO – Durante audiência na Comissão de Meio Ambiente do Senado nesta quarta, Marina Silva afirmou que aspectos técnicos apontados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) não podem ser negociados em um acordo.

“Não existe conciliação para questões técnicas, não tenho como dizer diferente, porque não posso colocar numa rodada de conciliação a Anvisa, para decidir, por decisão administrativa, o que for, se aquele remédio é tóxico ou não. A mesma coisa são os processos técnicos de licenciamento do Ibama”, declarou a ministra.

Na terça-feira (22), o Ministério de Minas e Energia, que defende a exploração na localidade, divulgou parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre o tema. No documento, a AGU sugere que entraves levantados pelo Ibama para a exploração da área sejam levados à Câmara de Mediação e de Conciliação da Administração Pública Federal (CCAF), com a possibilidade de um acordo.

PENDÊNCIA JURÍDICA – Prates afirmou ao blog que, nesse caso, havia uma pendência de interpretação jurídica sobre a necessidade de uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) de toda a área, que inclui o poço e o bloco exploratório na Foz do Amazonas. “Portanto, uma decisão técnica, um parecer técnico e jurídico interpretou que essa AAAS não é necessária”.

A citada AAASé um estudo contratado pelo governo federal para analisar o impacto socioambiental da exploração de petróleo em uma determinada região antes da concessão de áreas em leilão.

“Agora, vamos partir para outra dimensão, também técnica, que é o licenciamento específico desse poço nessa locação, com essas condições e com as condicionantes que o Ibama impuser à Petrobras, que serão integralmente seguidas”, disse Prates.

LICENCIAMENTO – O presidente da Petrobras reiterou que “quaisquer condições colocadas pelo Ibama para este licenciamento, que sabemos que é numa área sensível, que levantou uma celeuma pública muito importante, será seguido pela Petrobras.”

“Há uma dimensão política que é dos estados, do Estado brasileiro e dos municípios que querem saber se essa potencial riqueza será explorada de fato e como ela será explorada. Se em detrimento deles ou em favor da transição energética e da preservação ambiental da Amazônia”, acrescentou.

Em maio, quando negou pedido da Petrobras para fazer perfurações na área, o Ibama apresentou três argumentos principais: ausência de uma AAAS para a bacia da Foz do Amazonas, considerada necessária pelo Ibama; impacto sobre as comunidades indígenas; falhas no plano de proteção à fauna apresentado pela Petrobras.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A estatal pretende perfurar um mísero poço a cerca de 175 km da costa e a 500 km da foz do Rio Amazonas. O processo tramita no órgão ambiental desde 2014, quando a área era operada pela petroleira britânica BP. Dois argumentos de Marina são ridículos, porque não há comunidades indígenas na costa do Amapá e também não há falhas no plano de proteção da fauna numa distância tão grande da foz. E ainda há quem admire e apoie essa falsa seringueira. (C.N.)