Carlos e Michelle Bolsonaro medem forças na política catarinense

Carlos ‘confirmado’ e pressão de Michelle por mais mulheres

Gabriel Sabóia
O Globo

A escolha do vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) para disputar uma vaga ao Senado por Santa Catarina nas eleições do ano que vem o colocou novamente em posição oposta à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Visto como um “caminho seguro” para que o filho de Jair Bolsonaro passe a cumprir expediente em Brasília, Santa Catarina tinha como favorita para disputar uma vaga ao Senado pelo PL a deputada Caroline De Toni.

A parlamentar conta com a simpatia de Michelle, que é presidente do PL Mulher e já externou ao presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e ao marido, Bolsonaro, o descontentamento com o baixo número de mulheres na disputa para esta função no ano que vem.

SIMPATIA – Embora dois senadores sejam eleitos no ano que vem, a segunda vaga no estado deve caber a Esperidião Amin (PP), aliado de Bolsonaro que tentará a reeleição. Amin é visto como um nome que agrega mais no estado e amplia o eleitorado para a chapa. Além disso, o senador possui a simpatia do governador Jorginho Mello (PL).

A composição para o Senado é vista como uma prioridade para Bolsonaro, já que pretende fazer maioria na Casa para mobilizar ações contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Além da vaga de Amin, a outra cadeira que estará em disputa pertence hoje à senadora Ivete da Silveira (MDB).

SOLUÇÃO – A insistência de Michelle em ter De Toni como candidata ao Senado faz com que o partido busque uma solução para acomodar a deputada, sem fazer com que concorra novamente à Câmara. Na atual legislatura, De Toni foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Recentemente, a parlamentar abriu mão da liderança da minoria da Câmara para que outro filho de Bolsonaro, o deputado Eduardo (PL-SP), pudesse cumprir o seu mandato distante da Casa, enquanto permanece nos Estados Unidos. A manobra, entretanto, não foi aceita pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Valdemar admite a dificuldade de lidar com o tema. “A Carol é querida pela Michelle e por todos nós, mas o Esperidião Amin também quer a vaga e o Bolsonaro já bateu o martelo que o Carlos vem por Santa Catarina. Até daria para termos ela e Carlos concorrendo simultaneamente, mas o Esperidião nunca faltou para nós, ele é da direita. Estamos vendo o que fazemos, cogitamos pedir para que o Jorginho Mello a coloque de vice”, diz.

VIABILIDADE – Um dos elementos por trás da disputa interna é a força do bolsonarismo no estado, o que faz aliados do ex-presidente acreditarem ser viável eleger dois senadores. No segundo turno da eleição em 2022, Bolsonaro somou 69,27% dos votos válidos, contra 30,73% do presidente Lula. Santa Catarina foi o quarto estado onde Bolsonaro teve proporcionalmente mais votos, atrás de Roraima, Rondônia e Acre.

Procurada, Caroline De Toni não se manifestou. De acordo com pessoas próximas a Michelle, a ex-primeira-dama teria se queixado de não ter tido o pedido para uma candidatura feminina por Santa Catarina atendido.

À frente do PL Mulher, Michelle é responsável por atrair filiadas ao partido e montar a nominata feminina. Entretanto, lamentou só ter voz em relação às escolhas para a Câmara. A ex-primeira-dama deve ser candidata nas eleições do ano que vem ao Senado pelo Distrito Federal. Apesar da reclamação, ela não teria se oposto diretamente ao nome de Carlos.

ELOGIO – Depois de anos de relação conturbada, Carlos elogiou recentemente a ex-primeira-dama, a quem chamou de “guerreira”, durante uma live com o senador Magno Malta (PL-ES), ao comentar a saúde do ex-presidente. Meses antes, em uma entrevista, Michelle disse que não falava com o enteado e que não pretendia retomar os contatos. Depois disso, em uma manifestação, os dois se cumprimentaram.

Enquanto aguarda a oficialização de seu nome como pré-candidato do Senado por Santa Catarina, Carlos se prepara para renunciar ao mandato na Câmara Municipal do Rio, o que pode ocorrer ainda neste mês, segundo o colunista doO Globo Lauro Jardim.

A ideia do vereador carioca é fixar domicílio em São José, na Região Metropolitana de Florianópolis. Carlos, segundo a coluna de Lauro Jardim, já escolheu um apartamento para morar e se dedicar à campanha ao Senado. Ao contrário do irmão vereador Jair Renan (PL-SC), que vive na litorânea Balneário Camboriú, Carlos optou por um município industrial, sem grande apelo turístico, mas com forte presença de clubes de tiro. São José é a quarta maior cidade catarinense.

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E se a ciência conseguir provar que a vida continua após a morte?

O Processo de Mudanças do Espiritismo, por Reinaldo Di Lucia – Portal  Espiritismo com Kardec – ECK

Imagem de Gerd Altmann (Pixabay)

Juliano Spyer
Folha

A ideia exposta no filme “Blade Runner”, de robôs com consciência, parece que se aproxima da realidade. No Vale do Silício, o tema já é tratado como uma religião pelo movimento conhecido como transumanismo. É um bom momento para discutir a relação entre espiritualidade e ciência.

O Brasil, especialmente o mundo popular, é profundamente religioso. Ainda assim, mesmo leitores desta coluna que acreditam em Deus podem estranhar a ideia de misturar fé e ciência. Mas por que não?

PESQUISAR  – Se você acredita na existência de Deus e que a consciência é mais que o resultado de combinações aleatórias que produziram a vida, por que não pesquisar sobre isso?

Responder a essa pergunta se tornou a missão do psiquiatra brasileiro Alexander Moreira-Almeida (UFJF), fundador do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes). Seu trabalho, que investiga a relação entre espiritualidade e saúde mental, tem ganhado reconhecimento internacional.

Neste ano, ele recebeu o Prêmio Oskar Pfister, concedido anualmente pela American Association of Psychiatry (APA) a pesquisadores que estudam temas na intersecção entre ciência e religião. O neurologista Oliver Sacks, o historiador Peter Gay e o filósofo Paul Ricoeur estão entre os agraciados de edições anteriores.

SUCESSO MUNDIAL – A força do trabalho de Alexander está no fato de ele produzir ciência dentro da universidade, com metodologia médica e atuação internacional. Ele foi coordenador da seção de saúde mental e espiritualidade da Associação Mundial de Psiquiatria e também se dedica à divulgação científica, publicando conteúdo acessível ao público não especializado.

No livro “Ciência da Vida após a Morte” (Springer, 2022), feito com dois coautores, ele alerta para a influência de uma ideologia dominante —o fisicalismo materialista— que considera a espiritualidade uma fantasia humana, embora a ciência jamais tenha provado que a consciência morre junto com o corpo físico.

A segunda parte da obra apresenta evidências empíricas que sugerem a possibilidade de sobrevivência dessa consciência. Entre os estudos analisados estão pesquisas sobre mediunidade, experiências de quase-morte e reencarnação.

DEBATE NA FOLHA – Curioso? Na próxima semana você poderá fazer perguntas diretamente a Alexander. Ele participará de um debate com o diretor de Redação desta Folha, o jornalista Sérgio Dávila, e com a psicóloga Marta Helena de Freitas, professora da Universidade Católica de Brasília e presidente da International Association for the Psychology of Religion (IAPR).

O evento faz parte da série Conversas Difíceis, da qual sou curador. Será na segunda-feira (13), às 19h, no espaço Cívico (rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 445 – Pinheiros, SP). A entrada é gratuita, mas as vagas são limitadas. Haverá transmissão ao vivo pelo canal do YouTube do Instituto Humanitas360.

O que mudaria se a ciência admitisse —e eventualmente comprovasse— que a vida não termina com o corpo? Como isso afetaria nossa visão de mundo e o modo como escolhemos viver e morrer? Apareça. Leve sua curiosidade.

Jair Bolsonaro transforma sua prisão domiciliar em bunker político

Charge do Izânio (Instagram)

Luísa Marzullo
O Globo

Confinado em sua casa em um bairro de classe média alta de Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem dividido a rotina entre encontros políticos, consultas médicas e momentos de lazer diante da televisão, assistindo a jogos de futebol. No sábado, o ex-presidente completou dois meses em prisão domiciliar, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos último 60 dias, recebeu mais de trinta visitas de políticos e aliados próximos — como do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. As conversas têm girado em torno do cenário eleitoral de 2026 e de seus planos para reorganizar a direita. Entre remédios espalhados pela casa e crises de soluço recorrentes, Bolsonaro tem enviado recados sobre possíveis candidaturas para o ano que vem e reforçado um tema recorrente: o pedido de anistia.

SEM NEGOCIAÇÕES – Antes de o Congresso aprovar a urgência do texto Bolsonaro já havia deixado claro a quem o procura que não aceita negociações que não resultem em perdão amplo e irrestrito. Tentativas de parte da bancada do PL ligada ao Centrão de construir uma saída intermediária — com redução da pena para dois ou três anos e manutenção em regime domiciliar — não foram bem recebidas pelo próprio ex-presidente.

A articulação já encontrava dificuldades no Congresso e esfriou nesta semana quando o projeto de dosimetria relatado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP) perdeu tração. Após a derrota da PEC da Blindagem, até mesmo o PL da dosimetria, como foi renomeado, não encontra consenso.

CANDIDATA AO SENADO – Nas conversas, Bolsonaro também tem dito que Michelle será candidata ao Senado pelo Distrito Federal; Eduardo disputará uma cadeira no Senado; e Tarcísio de Freitas está liberado para se articular nacionalmente.

A rotina do ex-presidente tem sido intensa também nos cuidados médicos. Em outubro, Bolsonaro precisou ser internado por dois dias em um hospital particular de Brasília. As crises de soluço e refluxo, que já vinham se intensificando, o levaram a fazer uma bateria de exames.

CONDIÇÃO CLÍNICA – Desde a leitura da sentença condenatória no STF, o receio de ser transferido para o Complexo da Papuda virou preocupação constante no entorno do ex-presidente. A expectativa é que a condição clínica dele, porém, seja usada como argumento para manutenção do regime domiciliar.

Nesta semana, o ex-mandatário quase precisou retornar ao hospital. Segundo seu médico, Cláudio Birolini, os soluços se intensificam quando ele fala por longos períodos. Sua última crise ocorreu logo após a visita do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que passou pouco mais de duas horas em sua residência.

Na casa, a cena política acontece em um ambiente típico de enfermaria. A sala que já serviu de palco para transmissões ao vivo e encontros com pastores agora tem receitas médicas e caixas de medicamentos sobre a mesa. Entre chás e comprimidos para controlar o refluxo, Bolsonaro recebe aliados para conversar sobre palanques regionais e a disputa de 2026.  O tom, no entanto, é mais contido: quem o visita nota a dificuldade em manter longas conversas sem que sejam interrompidas pelas crises de soluço.

ROTINA DOMÉSTICA – Além das conversas políticas, Bolsonaro tem se agarrado a uma rotina doméstica. Passa boa parte do tempo diante da televisão, alternando transmissões de futebol e noticiários — momento em que, segundo aliados, reage com comentários sobre sua condenação e o futuro da direita.

A rotina de TV se mistura a pausas para remédios e chá, quase sempre preparados por Michelle. Ela é quem dita o ritmo da casa: controla entradas e saídas, organiza refeições simples e, muitas vezes, interrompe encontros para lembrar o marido da hora dos medicamentos.

Em paralelo, o senador Flávio Bolsonaro assumiu o papel de intermediário com líderes do Congresso, transmitindo recados e monitorando negociações. Carlos aparece menos, mas tem se intercalado entre Brasília e Santa Catarina, onde deve concorrer ao Senado. Jair Renan também tem passado períodos junto ao pai.

PEREGRINAÇÃO – O portão preto da casa virou símbolo de uma peregrinação constante. Deputados, senadores, governadores e líderes partidários já passaram pelo endereço, sempre com autorização do ministro Alexandre de Moraes.  Michelle organiza as recepções.

Em 24 de setembro, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro protocolou um pedido para suspender a medida de prisão domiciliar, ainda pendente de análise por parte de Moraes. Ao longo dos últimos dois meses, os advogados orientaram Bolsonaro a evitar entrevistas, mesmo após Moraes ter autorizado contato com alguns veículos. Agora, a expectativa gira em torno da publicação do acórdão do julgamento, etapa necessária para que a defesa apresente recursos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGBolsonaro já entendeu que está fora da disputa em 2026. Mesmo se houver anistia, os petistas conseguirão manter sua inelegibilidade através do TSE ou do Supremo. E o pior são os problemas de saúde. Já está a caminho dos 71 anos, e a facada acabou com seu prazo de validade. Chegou a hora do chinelo e de passar o bastão. (C.N.)

Brasil está preso nesse intrincado labirinto da delinquência nacional

A ilustração de Ricardo Cammarota foi executada em técnica pastel oleoso sobre papel.
Mostra duas figuras humanas lado a lado, com roupas semelhantes: camisa branca, gravata preta e suéter verde. Ambas têm cabeças substituídas por espirais concêntricas amarelo-alaranjadas, como caracóis ou labirintos. As duas espirais estão conectadas por uma linha reta preta que liga seus centros. O fundo é preenchido por textura em tons de vermelho e rosa, com toques de azul nas bordas.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Haverá mais “pensamento crítico” nas décadas em que os seres humanos terão de competir e conviver com as tais inteligências artificiais? De onde tiraram essa ideia?

Perguntas como essas são delicadas de responder numa era em que a destruição do pensamento público é levada a cabo não só pela estupidez das ideologias políticas mas, também, pela ciência do marketing, essa devoradora de almas.

MENTIR É PRECISO – A delicadeza exigida por perguntas que se referem ao que de especificamente humano haveria de ser “preservado e desenvolvido” num mundo dominado pela IA se deve ao fato de que nos tornamos animais do ressentimento, e este, hoje, é monetizado.

Mentir para não ferir nosso coração ressentido é, desde o ridículo século 21, uma ciência de mercado e lei. O fato é que não temos a mínima ideia do que existe de essencialmente humano a ser preservado e desenvolvido em nós, a não ser ideias clichês, e uma delas é o tal do “pensamento crítico”.

Mas, deixando de lado o medo de ferir esse coração desejoso de autoestima baseada em mitos que não chegam aos pés dos mitos antigos em dramaticidade, temo que esse tal “pensamento crítico” seja uma realidade da família dos gnomos, isto é, gente grande não deveria levar a sério.

PENSAMENTO CRÍTICO – Não nego que haja ou que tenha havido algum tipo de “pensamento crítico” na experiência humana —como um filósofo. Seria meio esquisito negar universalmente tal experiência, mas é sempre episódico, quase um milagre, fruto de um esforço semelhante a uma ascese. Como diria o grande Nelson Rodrigues, a respeito da razão, “uma ascese como a santidade”.

A experiência é mais aparentada ao desespero do que a esperança numa humanidade melhor. Portanto, nada tem a ver com o glamour do que há a ser “preservado e desenvolvido” na experiência humana em um mundo que é dominado pela IA, no que tange à cadeia produtiva.

O mais perto que chegamos ao objeto que teria como representante linguístico a expressão “pensamento crítico”, hoje mais do que nunca, seria identificá-lo com o que concorda com o que nós julgamos correto.

PENSAR CONTRA – Num espírito aparentado à filosofia baconiana, pensar é pensar contra nós mesmos, contra nossos ídolos, e essa ideia foi abandonada há algum tempo, talvez mesmo pelo próprio Bacon ao iniciar a linhagem ética em que pensar é um ato a favor do nosso bem-estar.

O que significaria um “pensamento crítico” nesse território ainda pouco desbravado da IA? Criticar as expectativas demasiado humanas de que a IA nos faça mais ricos e mais produtivos? Chamar a atenção dos ricos para o aumento de desigualdade social causada pela desigualdade de acesso à tecnologia? Ou repetir a ladainha de que os alunos deixarão de ler? Quase ninguém nunca leu nada para além da leitura funcional.

A atividade da leitura não pegou na nossa espécie. A educação pública brasileira, em sua maioria, mal consegue ensinar aos alunos fazer contas e ler legendas na televisão. Como esperar que essa educação ofereça solução para a imensa desigualdade geopolítica que a IA poderá gerar?

POUCO RESTA – Afora as bravatas da moda no governo federal, pouco resta. O Brasil é um país que dormita na inércia histórica, afundado na corrupção e no oportunismo das classes dirigentes que gozam com as próprias palavras ditas em ritos públicos. Um país em coma —que delira com um “Lula Gandhi”, que vergonha, meu Deus!—, em cuja enfermaria são penduradas bandeirolas coloridas de tom festivo.

COLMÉIA DE ABELHAS – Um país imerso num zumbido que mais lembra uma colmeia de abelhas do que um movimento real em busca de soluções. A vaidade nacional é um atestado da vergonha nacional. Voltando ao tal do “pensamento crítico”.

Talvez um pequeno guia de sobrevivência na selva da ausência total de pensamento nos ajude. Preste atenção. Se você usa alguma dessas expressões abaixo, busque ajuda profissional.

“No mundo só os homens brancos ficam mais ricos. A culpa do aquecimento global é do patriarcado. Não quero ter filhos por culpa do patriarcado. A maternidade é uma forma de opressão. A extrema direita leva a pessoa à doença mental. Os globalistas querem dominar a Disney. As vacinas contra Covid-19 matam pessoas até hoje. Minha mãe é uma fascista porque reclama de mulher trans no banheiro feminino. O STF é globalista. Estou deprimido porque Trump é presidente. O Mickey e o Pateta são fascistas. Masculinidades. O homem do século 21 é vulnerável.”

TODOS EXAURIDOS – Há muito tempo o Brasil não se encontra tão emaranhado nos labirintos do poder em Brasília. A sociedade brasileira, tal qual o Minotauro de Creta, presa nesse labirinto da delinquência nacional, se exaure em tentativas malsucedidas de fazer uma sociedade mais realista e adulta.

Emílio Moura, um poeta entre o desejo e a angústia

Exílio - Emílio Moura

Moura, destacado poeta mineiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, professor e poeta mineiro Emílio Guimarães Moura (1902-1971), no poema “Poema Patético”, revela como o amor entremeia emoções diferentes entre o desejo e a angústia.

POEMA PATÉTICO
Emíl
io Moura

Como a voz de um pequeno braço de mar
perdido dentro de uma caverna,
Como um abafado soluço que irrompesse de súbito de um quarto fechado,

Ouço-te, agora, a voz, ó meu desejo, e instintivamente recuo até as
origens de minha angústia,
Policiada e vencida, oh! afinal vencida por tantos e tantos séculos
de resignação e humildade.
Em que hora remota, em que época já tão distanciada, foi que os ares
vibraram pela última vez, diante de teu último grito de rebeldia?

Quantas vezes, ó meu desejo, tu me obrigaste a acender grandes fogueiras
dentro da noite.
E esperar, cantando, pela madrugada? Mas, e hoje? Hoje a tua voz ressoa dentro de mim, como um cântico de órgão.
Como a voz de um pequeno braço de mar perdido dentro de uma caverna,
Como um abafado soluço que irrompesse, de súbito, de um quarto fechado.

Coaf aponta R$ 1,3 milhão em conta de auxiliar ligado a ex-presidentes do INSS

Genial/Quaest: Maioria dos brasileiros vê Lula mais forte após diálogo com Trump

51% acham que os dois se darão bem caso façam uma reunião

Geovani Bucci e
Pedro Augusto Figueiredo
Estadão

A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 8, indica que a maioria dos brasileiros considera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu politicamente fortalecido após o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). O levantamento foi realizado antes da videoconferência entre os dois líderes, ocorrida na última segunda-feira, 6.

Para 49% dos entrevistados, Lula ganhou força após a aproximação com o mandatário norte-americano. Outros 27% avaliam que ele ficou “mais fraco”, enquanto 10% dizem que sua posição permaneceu a mesma. Já 14% não souberam ou não responderam.

FORTALECIMENTO – A percepção de fortalecimento é predominante entre lulistas (78%) e eleitores que se declaram de esquerda (75%), enquanto a de enfraquecimento é maior entre bolsonaristas (51%) e pessoas que se identificam com a direita (48%). Entre os que afirmam não terem posicionamento, 44% dizem que o petista saiu mais forte e 25%, mais fraco.

A maioria dos brasileiros também acredita que Lula e Trump vão “se dar bem” ao iniciarem uma relação mais próxima, opinião de 51% dos entrevistados pelo instituto. Outros 36% avaliam que os dois não terão boa relação, enquanto 13% não souberam ou não responderam. Além disso, 65% defendem que o presidente brasileiro adote uma postura amigável em relação ao líder norte-americano. Outros 25% preferem que o petista mantenha uma posição “mais dura” diante de Trump.

No mesmo levantamento, 52% avaliaram como bom o discurso do petista na Assembleia Geral da ONU, e 34% o consideraram ruim. Em sua fala, o petista disse que as instituições do País estão “sob um ataque sem precedentes” de nações estrangeiras, mas não citou Trump nominalmente. “Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela”, afirmou.

TARIFAS – Durante a conversa de cerca de 30 minutos, Lula pediu a retirada da sobretaxa de 40% aplicada a produtos brasileiros e o fim das restrições impostas a autoridades do País. Trump afirmou ter gostado do telefonema e classificou o diálogo como “ótimo”.

Segundo a Quaest, 46% dos entrevistados avaliam que Lula deveria se esforçar para realizar um novo encontro com o republicano, enquanto 44% defendem que ele adote uma postura mais cautelosa e espere. Os dois líderes concordaram em se reunir pessoalmente em breve.

A pesquisa foi realizada entre os dias 2 e 5 de outubro, com base em 2.004 entrevistas presenciais com brasileiros com 16 anos ou mais. A margem de erro estimada é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

Trump testa a fidelidade do militar americano ao regime democrático

Anna Moneymaker/Getty Images

Trump sonha com um terceiro mandato que não existe

Marcelo Godoy
Estadão

 

Uma reunião estranha. Um secretário que prefere ser chamado de secretário da Guerra e seu presidente mandam reunir 800 oficiais generais e sargentos vindos de todos os cantos do mundo em Quantico, na Virgínia, para mostrar que “ao meu comando” todos devem pensar como o chefe. Seria trocar o juramento de lealdade à Constituição pela lealdade ao líder?

Ao ouvir o discurso de Pete Hegseth, seguido pelo de Donald Trump, é impossível não se recordar do general Mark Milley, aquele que se desculpou por ter acompanhado fardado o chefe em uma saída de Trump próxima à Casa Branca, durante protestos, e que reagiu, prontamente, contra a tentativa de invasão do Capitólio, no dia da confirmação da posse de Joe Biden. O que a reunião em Quantico buscava mostrar aos generais é que um novo Milley não seria tolerado.

MUITAS BOBAGENS – Nada contra o que Hegseth pregou existe de fato nas Forças Armadas dos EUA. O espírito espartano em contraposição ao ateniense parece desconhecer que a guerra hoje é multidomínio e não mais combatida por hoplitas e gladiadores.

Nos EUA, não há uma epidemia de militares obesos e barbados. Nem os quartéis se transformaram em um clube da luluzinha. Mas a China continua sendo uma ameaça aos Estados Unidos. E outros polos de poder começam a despontar, como a Índia.

A coluna foi ouvir alguns militares brasileiros sobre suas impressões a respeito do discurso de Hegseth e as implicações para nova Estratégia Nacional de Defesa dos EUA. Um deles resumiu bem a cena e o espírito do que se viu.

DIZ O ESTRATEGISTA – O coronel Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, do Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEx). “Ouvi integralmente o discurso. Até 5 minutos e meio é um discurso com generalidades, que poderia ser dito por qualquer pessoa”, afirmou.

Paulo Filho continuou sua análise, assinalando: “A partir de então, ele fala do que vai tratar: ‘Essa conversa aqui hoje é sobre cultura, hoje vamos falar de cultura’. E começa a desenhar um quadro do Exército americano que não é real. Quantos oficiais americanos barbados você já viu na sua vida? Um ou outro, exceção. O Exército virou woke, perdeu poder combativo? Isso é uma falácia. O Exército americano é a mais poderosa força armada de todos os tempos; não tem comparação com nenhuma outra”.

MUDAR EM QUÊ? -O coronel Paulo Filho prosseguiu: “Hegseth disse que os padrões de mulher e de homem em funções de combate vão ser iguais. Mas eles já são iguais. Disse que vão fazer dois testes físicos por ano. Já são dois. O que chocou os generais presentes, com 30, 40 anos de serviço, é que eles sabem que o Exército que o Hegseth diz que precisa mudar, já é tudo isso. Isso é que chocou, essa guerra cultural sendo levada ao Exército americano”.

Paulo Filho não disse. Mas a vitória de Hegseth em sua guerra cultural interessa apenas ao seu grupo político. Só ele sairá vitorioso se o secretário tiver sucesso em sua cruzada.

A questão é: os militares americanos têm os anticorpos necessários para resistir à tentação autoritária de transformar as Forças Armadas em braço armado de um grupo político? Décadas de controle civil objetivo e de fidelidade à Constituição e não a um líder resistirão ao novo governo Trump?

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Artigo importantíssimo de Marcelo Godoy. Mostra que Trump e a ala civil de seu governo desconhecem inteiramente o funcionamento das Forças Armadas. Trump quer mais um mandato, que depende da Suprema Corte, porque nunca ocorreu situação semelhante. Precisa ter apoio das Forças Armadas para pressionar os ministros a aceitarem sua candidatura a um terceiro mandato em 2028. Será uma longa novela. Comprem pipocas. (C.N.)

Dirceu vê Bolsonaro sem equilíbrio emocional para cumprir pena na Papuda

Barroso sinaliza saída antecipada e acende disputa política por vaga no STF

Piada do Ano! Justiça condena Band a indenizar Pablo Marçal por ofensas em cobertura

Justiça aceitou pedido após Marçal ser chamado de ‘lixo humano’

Laura Intrieri
Folha

O juiz Paulo Henrique Ribeiro Garcia, da 1ª Vara Cível do Foro de Pinheiros, condenou a Band a pagar R$ 50 mil a Pablo Marçal (PRTB) por danos morais. O magistrado também ordenou a emissora a retirar do ar reportagens que continham termos considerados como ofensas pessoais ao empresário. Procurada, a Band informou que não comenta processos judiciais. Cabe recurso.

No processo, Marçal afirmou que, durante as enchentes no Rio Grande do Sul, organizou campanhas de doações e que caminhões com mantimentos teriam enfrentado exigência de notas fiscais e multa.

“FAKE NEWS” – A Band teria veiculado reportagem classificando como “fake news” a detenção por falta de documentação e, em comentários, seus jornalistas teriam usado expressões como “mané”, “canalha”, “zé ruela” e “lixo humano”.

A emissora sustentou em contestação que Pablo disseminou inverdades nas publicações a respeito do assunto, pois os caminhões não estavam sendo barrados por ausência de nota fiscal, mas sim por excesso de peso. Também afirmou que o histórico público do autor afastaria a indenização e que a cobertura estava protegida pela liberdade de expressão.

À época, o governo do Rio Grande do Sul desmentiu um vídeo em que Marçal dizia erroneamente, que “os cara não estava (sic) deixando entrar de barco gente sem habilitação” e que “os caras estão querendo nota fiscal e nós estamos querendo doar comida”. Procurado pela Folha na ocasião, Marçal afirmou que duas das dez carretas que ele teria enviado “foram paradas devido a questões burocráticas”, mas que “a situação foi resolvida”.

HARMONIA – Ao decidir, o magistrado afirmou que a liberdade de imprensa deve se harmonizar com a proteção à honra e à imagem. Destacou que, mesmo admitindo crítica e linguagem enfática, os termos empregados “passaram para o campo da agressão pessoal” e não guardam relação adequada com o fato noticiado.

“Chamar de canalha, a quem se atribui a divulgação de “fake news”, parece, à toda evidência, um excesso no linguajar, uma palavra desnecessária, que não se relaciona adequadamente com a narrativa em questão, cuja existência desvinculada do contexto acaba tendo o único efeito de ofender o autor”, diz o documento.

Antes da sentença houve uma tentativa de conciliação que terminou sem acordo. O juiz rejeitou o pedido de direito de resposta e negou o pedido para proibir o uso do nome do autor em publicações futuras, por configurar controle prévio.

Haddad vê espaço para reaproximação entre Lula e Trump e confia na diplomacia

Sucessão à direita: Tarcísio tira o pé da corrida e projeta Ratinho Júnior contra Lula

Trump a Lula: “Estamos sentindo falta do café brasileiro” — tarifa dispara preço nos EUA

Lula e Trump conversaram por videoconferência

Mariana Schreiber
G1

O cafezinho mais caro na mesa dos americanos teve destaque na videoconferência realizada ontem entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A conversa foi um novo marco na aproximação entre os líderes, iniciada em setembro, quando os dois tiveram um breve contato nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Os dois países ainda negociam um encontro presencial.

FALTA DO CAFÉ – Segundo apurou a BBC News Brasil, Trump admitiu, na videoconferência, que os EUA estão “sentindo falta” de alguns produtos brasileiros afetados pela tarifa de 50% imposta por seu governo sobre boa parte das exportações do Brasil, e citou especificamente o café.

O produto acumula forte inflação nos EUA e a tarifa imposta sobre a produção brasileira está agravando o cenário, já que o Brasil é o maior fornecedor do mercado americano.

Segundo o escritório americano de estatísticas, o preço do café cobrado de consumidores nos EUA registrou a maior alta mensal em quatorze anos ao subir 3,6% em agosto, primeiro mês da vigência da tarifa contra o Brasil. A taxa é nove vezes maior do que a média da inflação registrada naquele mês (0,4%).

ALTA – Já na comparação com um ano antes, o preço do café acumula alta de 20,9% nos EUA, também bem acima da inflação média do período 2,9%. Foi o maior aumento anual desde 1997. “A tarifa de 50% do governo Trump sobre o Brasil agrava as interrupções no fornecimento causadas pelo clima nos principais países produtores”, dizia a chamada da reportagem.

Uma reportagem do final de setembro do canal americano Fox Business, atribui a alta dos preços a dois fatores: questões climáticas que vêm afetando a produção em grandes fornecedores como o Brasil e a tarifa contra o produto brasileiro.

Já uma reportagem de setembro do canal americano CNN também destaca a forte inflação do café e indica que os preços seguirão subindo, conforme o impacto da tarifa sobre o Brasil continue a chegar às prateleiras.

TARIFA – O texto ressalta ainda que outro grande fornecedor de café para os EUA também foi tarifado pelo governo Trump, embora em nível menor: o café da Colômbia recebeu uma taxa de 10%. Ainda não há dados oficiais sobre a inflação de setembro nos EUA.

A sede por café entre os americanos é enorme. O país é o maior importador e consumidor global da bebida, e também o maior destino das exportações brasileiras do produto. Dois terços dos adultos americanos bebem café todos os dias, segundo dados da Associação Nacional de Café dos EUA. Cada americano que bebe café consome em média três xícaras por dia.

E essa sede vem crescendo. O consumo de café entre americanos cresceu 7% desde 2020. E o consumo de café gourmet cresceu 18%. Mas o problema, no caso do café, é que o produto não é cultivado nos EUA. E nem pode ser. O café é uma fruta tropical que cresce em uma estreita faixa de terra ao redor do Equador.

INSUFICIENTE – Nos EUA, o café é cultivado em algumas partes do Havaí e Porto Rico e em uma pequena parte do sul da Califórnia. E isso não é nem de longe suficiente para abastecer as 450 milhões de xícaras de café que os americanos bebem todos os dias.

Por isso, praticamente todo o café bebido nos EUA precisa ser importado. E o Brasil é fundamental nesse mercado, pois o país fornece cerca de um terço de todo o café consumido pelos americanos.

EXPORTAÇÕES – A tarifa de 50% imposta sobre produtos brasileiros teve forte impacto nas exportações de setembro, com destaque para o café. Segundo dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) nesta segunda-feira (6/10), as vendas totais para os EUA caíram 20,3% no mês passado em comparação com o mesmo mês de 2024, somando US$ 2,58 bilhões.

Pesquisa da BBC News Brasil nos dados oficiais do MDIC mostra o baque para o setor cafeicultor. Em setembro, a quantidade enviada aos EUA caiu quase pela metade (-47%). Já em valores, houve uma queda 31,5%, para US$ 113,8 milhões. A pesquisa considerou a soma das exportações de café em grãos, torrado e solúvel.

Já as compras do Brasil vindas dos EUA aumentaram 14,3% e chegaram a US$ 4,35 bilhões no mês passado. Com isso, a balança comercial entre os dois países ficou negativa para o Brasil em US$ 1,77 bilhão.

BALANÇA COMERCIAL – O déficit brasileiro foi mencionado na conversa com Trump por Lula, quando o presidente pediu a retirada da tarifa extra sobre o Brasil. A piora do comércio com os EUA afetou a balança comercial brasileira. O superávit do Brasil com o mundo caiu para US$ 3 bilhões em setembro, recuo de 41% ante o obtido um ano antes (superávit de US$ 5,1 bilhões).

No total, as exportações brasileiras cresceram 7,2% no mês passado para US$ 30,53 bilhões, enquanto as importações aumentaram 17,7%, somando US$ 27,54 bilhões.

MEDIDAS RESTRITIVAS –  Na conversa com Trump, Lula pediu a Trump também a retirada das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras, como a cassação de vistos e aplicação de sanções financeiras contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo a BBC News Brasil apurou com uma fonte do Palácio do Planalto, a videoconferência aconteceu a pedido do lado americano. Representantes de Trump buscaram os de Lula na semana passada para fazer os acertos.

Uma nova conversa entre os dois presidentes era esperada desde que eles se encontraram pessoalmente durante a Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, quando Trump disse que houve uma “química excelente” entre os dois.

TOM AMISTOSO – Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que a conversa ocorreu por 30 minutos “em tom amistoso” e informou que ambos concordaram em se encontrar pessoalmente “em breve”. “O presidente Lula aventou a possibilidade de encontro na Cúpula da Asean, na Malásia; reiterou convite a Trump para participar da COP30, em Belém (PA); e também se dispôs a viajar aos EUA.”

Trump não quis estabelecer uma nova data de encontro, mas determinou que as tratativas para isso continuem por meio dos assessores. Na conversa, em tom amigável, Trump chegou a comentar que estava mal humorado na Assembleia da ONU com os problemas na escada rolante e no teleprompter e que a interação com Lula teria sido o lado positivo: “Pelo menos a ONU serviu para alguma coisa”, disse, segundo o relato da mesma fonte.

Ao comentar sobre o assunto na rede Truth Social, Trump disse que teve “uma ótima conversa telefônica” com Lula. “Discutimos muitos assuntos, mas o foco principal foi a economia e o comércio entre nossos dois países. Teremos novas discussões e nos encontraremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos EUA. Gostei da conversa — nossos países se darão muito bem juntos!”

OPORTUNIDADE – Participaram, do lado brasileiro, o vice-presidente Geraldo Alckmin, os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Sidônio Palmeira (Comunicação) e o assessor especial Celso Amorim. “O presidente Lula descreveu o contato como uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”, destacou ainda a nota do Palácio do Planalto.

“[Lula] Recordou que o Brasil é um dos três países do G20 com quem os EUA mantêm superávit na balança de bens e serviços”. Ainda segundo o Planalto, Trump designou o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

“Eupoema”, a autodefinição do poeta e agitador cultural Décio Pignatari

Décio Pignatari | Esdianos | ESDI

Décio Pignatari, sempre inovador

Paulo Peres

O publicitário, ator, professor, tradutor, ensaísta e poeta paulista Décio Pignatari (1927-2012) autodefiniu-se no “Eupoema”. Foi um grande inovador da literatura e das artes, sempre revolucionário em tudo o que criava.

Décio PignatariEUPOEMA
Décio Pignatary

O lugar onde eu nasci nasceu-me
num interstício de marfim,
entre a clareza do início
e a celeuma do fim.

Eu jamais soube ler:
meu olhar de errata a penas
deslinda as feias fauces dos grifos
e se refrata:
onde se lê leia-se.

Eu não sou quem escreve,
mas sim o que escrevo:
Algures Alguém
são ecos do enlevo.

Silêncio estratégico: Eduardo Bolsonaro tenta salvar mandato e alianças

Eduardo serenou diante de processo no Conselho de Ética

Malu Gaspar
O Globo

Depois de algumas semanas emendando ataques a lideranças da direita nas redes, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) sossegou. Aliados relevantes já contabilizam uma semana sem que o filho 03 do ex-presidente lance nenhum petardo contra o próprio campo político e apontam um motivo: o processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

Para esses aliados, Eduardo entrou em uma fase comum a todo deputado que corre risco real de punição no colegiado, falando menos para se preservar. “O Conselho de Ética é a criptonita do deputado. Faz qualquer um ficar quieto”, opina um integrante do Centrão que acompanha bem de perto o caso.

VOTO DO RELATOR – O conselho se reúne nesta quarta-feira (8) para a leitura do relatório e do voto do relator, Delegado Marcelo Freitas (MG), do União Brasil e também bolsonarista. A partir daí, começam a correr os prazos para a discussão do caso, que a depender do andamento pode acabar com uma votação sobre a cassação no plenário da Câmara.

O caso em análise no Conselho de Ética começou com uma representação do PT por quebra de decoro em razão da campanha que ele move contra o Supremo Tribunal Federal (STF) nos Estados Unidos, e que resultou no tarifaço de Donald Trump contra produtos brasileiros.

Mas existe ainda outra possibilidade de Eduardo perder o mandato, por faltas. Como já informamos, o plano de seus aliados para evitar esse desfecho é conseguir uma suspensão, que também precisa ser aprovada em plenário. E, enquanto isso, esperar que o relator utilize todas as brechas possíveis do regimento para estender o processo por 90 dias. Assim, ele ganharia tempo para salvar o mandato.

APOIO DO CENTRÃO – Em qualquer das alternativas, Eduardo vai precisar do apoio do Centrão, bloco em que se enquadram o presidente do PL, Valdemar Costa Neto – com quem Eduardo trocou petardos publicamente há duas semanas – e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), alvo de seguidos ataques de Paulo Figueiredo, parceiro de Eduardo na campanha contra o Supremo e o governo brasileiro nos Estados Unidos.

Eduardo ainda fez ataques diretos ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), sempre cotado como candidato à Presidência no lugar de Jair Bolsonaro em 2026, e à senadora Tereza Cristina (PP-MS), por ter ido aos EUA na comitiva do Senado que foi tentar abrir canais de negociação com o governo Trump.

No final de julho, ainda atacou os governadores Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, por se colocarem como candidatos à Presidência pela direita e por criticarem o tarifaço.

RECUO  – Preocupado com o tumulto na direita – e mais especificamente com a polêmica entre Eduardo e Valdemar – o próprio Jair Bolsonaro pediu aliados como o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), que tentassem demover o filho de continuar avançando contra aliados na direita. Na semana passada, depois de algum esforço inclusive do próprio Valdemar, que declarou à equipe da coluna apoiar Eduardo, os ataques cessaram.

Contra Ciro Nogueira o próprio deputado não disse nada diretamente, mas Figueiredo sim. O senador, porém, declarou em entrevista ao O Globo publicada no domingo que tem conversado com Eduardo com frequência. Segundo interlocutores de Ciro, ele também tem procurado se manter próximo, num misto de gesto de solidariedade e de contenção.

Seja pelos esforços do pai ou pelo Conselho de Ética, o fato é que por enquanto o filho de Bolsonaro está em trégua com a direita e o Centrão. A expectativa agora entre os aliados é de que o silêncio contra seus pares acabe por salvá-lo.

Cabral e Pezão são condenados a devolver mais de R$ 4 bilhões ao Rio

Caso envolve repasses ilegais a empresas em troca de doações

Deu no G1

A Justiça do Rio condenou os ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão e ex-secretário Hudson Braga por envolvimento em um esquema de corrupção bilionário relacionado à concessão irregular de incentivos fiscais e ao financiamento ilícito de campanhas eleitorais.

A sentença, proferida pela 15ª Vara de Fazenda Pública da Capital, reconhece que os três cometeram atos de improbidade administrativa que resultaram em enriquecimento ilícito, prejuízo aos cofres públicos e violação aos princípios da administração. Os três podem recorrer.

REPASSES ILEGAIS – O caso envolve repasses ilegais a empresas em troca de doações eleitorais não declaradas, conhecidas como caixas 2 e 3. Cabral foi condenado ao pagamento de mais de R$ 2,5 bilhões, enquanto Pezão deverá pagar mais de R$ 1,4 bilhão. Hudson Braga, apontado como operador financeiro do grupo, foi condenado a mais de R$ 35 milhões. Todos tiveram os direitos políticos suspensos — Cabral por 10 anos, Pezão por 9 e Braga por 8.

Segundo a decisão, a corrupção se estendeu a diversos programas de fomento e incentivos fiscais do governo estadual, com destaque para os benefícios concedidos ao Grupo Petrópolis, à Fetranspor e ao grupo J&F, conglomerado que controla a JBS.

No caso do Grupo Petrópolis, Pezão foi condenado a devolver R$ 1,374 bilhão por ter aprovado um financiamento irregular via FUNDES, em troca de doações eleitorais feitas ilicitamente pela Odebrecht. Já no esquema da Fetranspor, Cabral deverá pagar R$ 2,5 bilhões em razão da renúncia fiscal e de multas. Além disso, ambos foram condenados por receber propina disfarçada de doações da Odebrecht, o que resultou em multa adicional de R$ 15,6 milhões para cada um.

INDENIZAÇÃO –  Pezão ainda deverá pagar R$ 15 milhões por vantagens indevidas ligadas ao grupo J&F, e Cabral, R$ 30 milhões. A sentença também prevê indenização por danos morais coletivos, fixada em R$ 25 milhões para Cabral e R$ 10 milhões para Pezão.

Trecho da decisão destaca que o esquema de corrupção teve impacto direto nas finanças do estado e nas políticas públicas: “A constatação de reiterado e contínuo ato de corrupção pelos demandados, com vistas à manutenção no Governo do Estado, gerou graves danos de natureza coletiva (…). A desenfreada concessão de benefícios fiscais em desvio de finalidade contribuiu para a grave crise financeira do Estado do Rio de Janeiro”, afirma o juízo.

A ação civil pública foi movida em 2018 pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate à Sonegação Fiscal e aos Ilícitos contra a Ordem Tributária (GAESF/MPRJ). O processo reuniu documentos, depoimentos e colaborações premiadas que apontaram o uso político da política de fomento estadual e abuso de poder nas eleições de 2014.

CONDENAÇÕES – Preso em 2016 na Lava Jato, Sérgio Cabral chegou a ficar seis anos na cadeia por condenações que somavam mais de 400 anos de prisão. Durante o período, Cabral frequentou seis unidades prisionais diferentes, nas cidades do Rio, Niterói e Pinhais, no Paraná.

Ao longo do processo, Cabral chegou a admitir o recebimento de valores indevidos em diversos contratos assinados durante seus dois mandatos como governador, entre 2007 e 2014. Após reviravoltas nos processos, como anulação de condenações pelo juiz Marcelo Bretas, que a Justiça Federal decidiu que não tinha competência para o caso, Cabral deixou a cadeia.

Em dezembro de 2022, o último preso da Lava Jato e réu em 35 ações foi inicialmente para prisão domiciliar em um imóvel da família em Copacabana, Zona Sul do Rio. Meses depois, foi liberado, mediante o cumprimento de medidas cautelares.

Tarcísio não é dono de seu destino e terá de ser candidato ao Planalto

Tarcísio de Freitas é o 14º ministro diagnosticado com covid-19

Na direita, Tarcísio é o único que poderá enfrentar Lula

Ricardo Corrêa
Estadão

Quantas vezes você já ouviu o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, dizer publicamente que pretende disputar a reeleição ao governo de São Paulo? Foi o que se deu, de novo, no início da semana, ao deixar a casa do ex-presidente Jair Bolsonaro. Também nos bastidores, vários aliados ouvem o mesmo. Ninguém acredita, porém, e as perguntas sobre o assunto continuam pipocando. E a razão é muito simples: Tarcísio não é mais dono de seu próprio destino.

Eis uma lição clássica que políticos mais antigos sempre repetem quando questionados sobre uma decisão sobre candidatura. Chega um momento em que você vai, empurrado ou não, queira ou não, no sacrifício ou não, para qualquer disputa. É exatamente o que pode se passar com Tarcísio. Por bons e maus motivos. Empurrado ou barrado pelo Centrão de um lado e por Bolsonaro de outro.

ALTA VIISIBILIDADE – O bom motivo é que ninguém é empurrado à cabeça de chapa de uma eleição ao mais importante do País sem que tenha se tornado uma figura de alta viabilidade. Tarcísio conquistou prestígio político e passa a ideia de alguém que pode vencer, razão pela qual as figuras do centrão que orbitavam o bolsonarismo o querem na campanha.

Esses grupos ao centro e na centro-direita, que até chegaram a tolerar a participação em uma gestão petista mas que sempre quiseram mais, veem o governador de São Paulo como o cara capaz de vencer.

Há, porém, a voz forte o suficiente para mexer com os destinos de Tarcísio de Freitas: o ex-presidente Jair Bolsonaro. E é por isso que aliados dizem que, se Bolsonaro pedir, Tarcísio, a contragosto, disputará a Presidência. Está expresso em reportagem de Bianca Gomes e Pedro Augusto Figueiredo publicada neste Estadão, acerca da visita de Tarcísio a Bolsonaro.

SERIA MISSÃO – Recentemente, um aliado de Tarcísio explicitava com mais detalhes esse raciocínio. Usava como argumento a disciplina militar e o senso de que “missão dada é missão cumprida”.

Dizia ele que, uma vez que Bolsonaro passasse uma missão a Tarcísio, o homem que ele inventou para a política, seja por gratidão ou pelo desafio, Tarcísio não poderia dizer não.

Hoje, o governador diz que tem interesse em disputar a reeleição. Nem poderia ser diferente. Não poderia atropelar a palavra de Bolsonaro e seus familiares, que estrilam apenas com um movimento mais dúbio do governador. Ele não está autorizado a dizer nada diferente.

VITÓRIA TRANQUILA – Além do mais, preferir a disputa do Bandeirantes faz sentido. Tarcísio tem uma eleição considerada bastante viável em São Paulo e se manteria como um nome cotadíssimo para 2030, quando a disputa nacional tende a estar mais aberta.

Na esquerda, não estará mais o único homem que ganhou três eleições nacionais, elegeu aliados outras duas vezes e que, neste século, só viu seu grupo político perder uma disputa ao Planalto quando estava preso. Por mais que enfrente desgaste e uma popularidade claudicante, Lula, candidato a reeleição, é um nome sempre difícil de ser batido.

Há também os dissabores que Tarcísio terá que enfrentar se aceitar a empreitada. Se hoje ele já enfrenta as pressões do bolsonarismo, incluindo uma parcela ainda mais radical comandada por Eduardo Bolsonaro, imagine quando ele não tiver mais o controle do Estado, em abril do ano que vem, quando terá que se desincompatibilizar.

CARTILHA DA FAMÍLIA – Será obrigado a rezar a cartilha da família sem qualquer questionamento, sob o risco de ser abandonado ou traído, sem nada, com o lançamento de uma candidatura com o sobrenome de Jair.

Significa dizer que terá que defender a pauta radical que o bolsonarismo exige, gastando imagem e capital político, mesmo sob o risco de se tornar o cabra marcado para perder.

Mesmo sabendo de tudo isso, Tarcísio muito provavelmente precisará dizer sim se essa for a vontade de Bolsonaro. E cada vez mais parece não haver alternativa para o ex-presidente. O plano A da família, decantada a inelegibilidade de Jair, seria Eduardo. A campanha americana do deputado federal tornou essa possibilidade remota. Ele não poderá voltar ao Brasil. Será condenado e tornado inelegível. É carta fora do baralho da urna.

DESTINO DE TARCÍSIO – As ações no exterior em conspiração com Trump para salvar o pai afetaram também qualquer um com o mesmo sobrenome. De Jair a Michelle, passando por Flávio. As pesquisas mostram que a rejeição à família aumentou. Razão pela qual escolher um nome do núcleo se tornou mais difícil. A não ser que a vitória não esteja mais no horizonte.

Se Lula melhorar a ponto de se tornar um favorito mais claro, a família Bolsonaro pode escolher perder com um dos seus para tentar manter o controle da direita. Como fez Lula em 2018, ao se recusar a apoiar um nome viável de outro partido.

Se a disputa estiver aberta, como está hoje ainda, contudo, com qualquer alternativa a anistia ou ruptura por pressão externa fracassando, Bolsonaro terá que escolher quem tem mais chance de seu grupo. Apostando em um indulto, por mais polêmico e difícil que seja. Este nome é Tarcísio. E seu destino será concorrer.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente artigo de Ricardo Corrêa, ex-editor de Política de O Tempo, que reforça o time de analistas do Estadão. (C.N.)