Trump e Musk estariam inaugurando a era dos países-empresas?

Musk seria capaz de melhorar a eficiência do Estado?

José Manuel Diogo
Folha

O ex-presidente francês Charles de Gaulle costumava dizer que a França não tinha amigos, apenas interesses. Adaptando sua máxima à era contemporânea, poderíamos dizer que “os Estados Unidos não são mais um país; são uma empresa”.

Essa transformação, intensificada agora por Donald Trump, redefine as políticas públicas americanas, promovendo uma lógica de mercado em que o próprio Estado se reorganiza sob o domínio do lucro e da competitividade.

NOVO PARADIGMA – A nomeação de Elon Musk —bilionário polêmico e figura central do ultraliberalismo— para o comando do Departamento de Eficiência Governamental revela um novo paradigma: um modelo de Estado onde a linha entre governança pública e interesses empresariais promete desaparecer.

Ao trazer Musk para o governo, Trump admite sem vergonha que é a pura lógica de mercado que vai gerir a “Empresa América”. Nela, as parcerias tradicionais são substituídas por transações; os aliados são tratados como clientes, subordinando as relações internacionais a uma dependência mercadológica.

E Musk, com seu histórico de busca de controle sobre redes sociais, como foi o caso do X, e suas iniciativas de infraestrutura digital, como a Starlink, põe a conectividade global sob uma lógica de domínio vertical, limitando a autonomia nacional dos países-clientes.

CARÁTER TRANSNACIONAL – A diplomacia americana assume um caráter transacional inédito, onde tudo é mesmo negócio e um “protecionismo sem fronteiras” emerge como estratégia, onde as relações globais se definem pelo valor das tarifas, o tamanho das barreiras comerciais e o poder de influência econômica.

Na prática, essa abordagem lança um dilema sobre muitos países, sobretudo os menores: aceitar o domínio ou ser excluído do mercado global. Nações inteiras, reféns desta nova ordem mundial, perderão, de fato, parte de sua soberania.

Internamente, a nomeação de Musk —que comandará a pasta ao lado do empresário Vivek Ramaswamy, que disputou as primárias republicanas este ano prometendo dar fim à “burocracia do governo”— sinaliza um Estado que privilegia a lógica do lucro sobre qualquer interesse público. Quando políticas são definidas por esse raciocínio, o cidadão é apenas um cliente, e a governança democrática se rende à gestão fria da eficiência financeira.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Com todo o respeito, e seu Trump estiver apenas buscando aprimorar a eficiência do Estado, uma meta comum a qualquer nação que se preze? Como dizia Helio Fernandes, o cidadão-contribuinte-eleitor não aguenta mais esses Estados perdulários, gananciosos e aproveitadores. (C.N.)

“STF resistirá a ímpetos autoritários”, diz Barroso, sem citar Trump

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso

Uma das preocupações de Barroso é a nova ordem mundial

José Marques
Folha

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, afirmou nesta quarta-feira (13) que a corte resistirá a “qualquer ímpeto autoritário que venha de qualquer lugar do mundo”.

Ele fez a afirmação enquanto listava o que seriam suas principais preocupações, em palestra no Fórum Brasil do Lide, realizado em Brasília.

NOVA ORDEM – Uma delas, disse, é uma “nova ordem internacional em que há risco para o multilateralismo, em que há risco de vir uma nova onda autoritária”. “Nós precisamos resistir”, afirmou ainda.

Embora não tenha feito referência nominal ao político norte-americano, o discurso acontece depois da eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Ao ser questionado por outros participantes da mesa se via alguma nova ameaça autoritária para o Brasil, o presidente do Supremo afirmou que, por aqui, “nós contivemos”.

AMEAÇA SUPERADA – “É uma ameaça felizmente superada no Brasil, e existe a maior normalidade institucional para o país e uma relação boa entre os Poderes”, afirmou.

“O Brasil vive uma normalidade institucional com as divergências naturais de uma vida democrática. Pensamento único só existe em ditadura.”

Como mostrou a Folha, logo após a eleição de Trump, ministros do STF afirmaram reservadamente que a volta do republicano à Casa Branca não terá efeito no Judiciário em relação às condenações de inelegibilidade impostas a Jair Bolsonaro (PL) nem sobre investigações já avançadas, como a que trata da trama golpista que culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

PRESSÃO POLÍTICA – Apesar disso, magistrados dizem avaliar que pode crescer a pressão política para que o ex-presidente tenha a inelegibilidade revertida via perdão dado pelo Congresso Nacional —movimento que, caso concretizado, ainda passaria por sanção ou veto do presidente Lula (PT) e que provavelmente seria contestado na Justiça, sendo desta forma levado ao STF.

No evento desta quarta, Barroso ainda listou, como suas preocupações, as mudanças climáticas, a segurança jurídica, a educação básica e o que chama de “volta à civilidade”.

Segundo ele, as pessoas precisam “voltar a sentar na mesma mesa sem desqualificar um ao outro”.

ORÇAMENTO – Também mencionou as emendas parlamentares e disse que os três Poderes estão fazendo um esforço para “tentar dar um pouco mais de racionalidade, rastreabilidade, controlabilidade ao Orçamento público”.

“O volume de emendas individuais, emendas de comissão e emendas de bancada, a maior parte impositiva, alcança um percentual que é superior à média praticada em todos os países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]”, afirmou o presidente do Supremo Tribunal Federal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Barroso se sente o máximo, superpoderoso. No dia em que o Capitólio impedir seu ingresso no país, talvez a ficha caia e ele acorde para a realidade. Por enquanto, ele parece viver num mundo panglossiano, diria Cândido, o Otimista. (C.N.)

Flávio Dino torna-se mais uma ameaça à liberdade de expressão

Flávio Dino diz que nome da lista tríplice na PGR depende de diálogo |  Metrópoles

Dino já engoliu uma cláusula pétrea da Constituição

André Marsiglia
Poder360

Por decisão monocrática, o ministro Flávio Dino mandou, na sexta-feira (1º.nov.2024), serem excluídos de livros trechos que continham potenciais ofensas contra minorias LGBTQIA+. O que Dino não sabe é que livros não ofendem porque não existe debate ofensivo, ofensivo é não haver debate. Se os trechos contêm burrice intelectual, muito mais burra é a sociedade que os manda excluir.  E como antídoto a esse tipo de censura, tenho dois argumentos: um filosófico e outro jurídico.

O argumento filosófico: acreditar que a inexistência de livros resultará na inexistência de ideias indigestas é um pensamento mágico e infantil.

NAÇÃO SEM VALORES – Acreditar que essas ideias colocam em risco os valores reais de uma nação é digno de uma sociedade fraca, frouxa e medrosa. Ou de uma nação sem valores reais. E temos vivido essa democracia covarde no Brasil, desde que o STF se tornou síndico do debate público, com os inquéritos das fake news.

Pelo medo de a democracia ser ameaçada, não permitimos seu questionamento; pelo medo de a liberdade de expressão ser abusada, não permitimos seu uso; pelo medo de batermos o carro, não o retiramos da garagem. E vivemos como se não tivéssemos o carro, a liberdade e a democracia.

Não faz sentido acreditar em valores que não podem ser tirados do plástico, do embrulho, serem postos à prova.

DIREITO FUNDAMENTAL – O argumento jurídico é de que a liberdade de expressão no Brasil não é absoluta, mas é um direito fundamental e, por isso, não pode ser excluído. É uma questão de lógica: se puder ser excluído, não será fundamental.

A livre expressão precisa, portanto, ser conciliada com demais direitos.  A decisão de Dino seria mais correta, por exemplo, se arbitrasse indenização a quem eventualmente foi ofendido pela obra, mas não mandasse retirar seus trechos, inibindo ou inviabilizando sua circulação.

Além disso, Dino já havia se manifestado em ocasião anterior, dizendo entender que chamar a alguém de nazista ou fascista faz parte do debate público. Por qual razão, então, para ele, determinados grupos poderiam ser ofendidos e outros não?

UM DESASTRE – Um grupo minoritário não se ofende mais ou menos que outros, não há mais ou menos justiça em ofender esta ou aquela pessoa, desta ou daquela forma. Crer nisso inviabiliza uma análise objetiva dos fatos, deixando pesar na balança da Justiça a subjetividade do juiz, e não a lei.

Por qualquer ângulo, o que Dino fez foi um desastre para a liberdade de expressão. E só não está reverberando como um verdadeiro escândalo porque nós temos no Brasil advogados, jornalistas e intelectuais capachos e interesseiros suficientemente para aplaudir qualquer absurdo que brote de alguma autoridade dotada de poder.

Trump não pretende brigar com o Supremo por causa de Bolsonaro

A conversa entre Jair e Trump foi intermediada por Eduardo Bolsonaro

Eduardo intermediou a conversa entre Bolsonaro e Trump na festa

Merval Pereira
O Globo

O bolsonarismo está comemorando a vitória de Donald Trump até pessoalmente – o filho, deputado Eduardo estava na mansão da Florida na festa após a eleição. A relação entre eles é um peso político importante para Bolsonaro, mas acho que ele está enganado, achando que poderá ser anistiado.

Anda falando demais, como é seu hábito, e diz que Alexandre de Moraes tem a obrigação de liberar seu passaporte para ir à posse, em janeiro. Está perdendo tempo, porque ameaçar o STF por ser amigo do homem mais forte do mundo é uma bobagem.

OUTRA REALIDADE – Nem Trump vai dedicar seus esforços políticos na América Latina para defender Bolsonaro; não vai pressionar o STF. Musk sabe que não vale a pena brigar ali. Politicamente, Bolsonaro e toda a direita internacional se beneficiam desta vitória larga de Trump e ganham um novo ânimo na disputa.

Como o mundo está semelhante na reação dos eleitores, é possível uma onda direitista no mundo que Trump pode incentivar. Mas com Bolsonaro não passa de torcida e simpatia. É bobagem insistir numa interferência direta para colocá-lo na disputa de 2026. Não há a menor chance de acontecer.

Nem para o PT Lula ainda é considerado de esquerda, diz ministro

Não me considero inimigo de ninguém”, diz Renan Filho sobre Lira

Renan Filho aceita cortes no Orçamento dos Transportes

Julio Wiziack
Folha

O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL), quer fazer 35 leilões de rodovias e ferrovias neste ano para destravar investimentos de R$ 190 bilhões até lá, superando o ex-ministro Tarcísio de Freitas, hoje potencial nome da direita alinhado com o mercado para disputar as eleições residenciais de 2026.

Para ele, no entanto, a predominância do capital privado no setor mostra que Lula um presidente pragmático e de centro, posição que precisa ser difundida caso ele seja candidato à reeleição.

O senhor já disse que já fez mais do que Tarcísio, ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, e que, pela primeira vez, o capital privado será maioria em rodovias e ferrovias. A comparação entre gestões, que também se percebe em outras pastas, é uma orientação de Lula, mirando 2026?
Não é uma polarização política, nem uma obrigatoriedade [imposta pelo Planalto]. O fato é que o presidente Lula é o maior líder de centro do país. Muito antes do centro vencer as eleições municipais, PP, União, PSD, Republicanos já estavam no governo. Agora, é importante colocar para as pessoas compararem, porque é muito fácil dizer que Bolsonaro é liberal. Nunca foi. E também não foi eficiente, não fez concessão, não atraiu capital privado. Com Lula, teremos o domínio do capital privado em rodovias e ferrovias, uma inversão histórica.

Então, o ponto é reforçar que Lula é de centro para afastar a imagem de que ele é de esquerda?
Só na bolha [de Bolsonaro] ele é de esquerda. Nem a bolha do Lula acha isso. Porque, para o PT, o presidente não é de esquerda.

Por isso o ministro Fernando Haddad tem problemas com o PT?
Ele tem alguns problemas com a extrema esquerda, mas também com a extrema direita. Se ele não tivesse [problemas] com os extremos, seria com o centro. E é melhor que seja com os extremos. Então, acho que o presidente acerta. No fundo, ele é um pragmático, faz na economia o que precisa ser feito.

Mas o governo resistiu a fazer o ajuste.
Ele está fazendo. E tem que rever despesas. Mas é importante dar uma olhadinha no andar de cima. Temos R$ 500 bilhões em incentivos fiscais.

Isso depende mais do Congresso. Como resolver?
Ao invés de tirar o benefício de um setor, cortar 10% de todo mundo. É o que proponho. Fiz isso quando fui governador [de Alagoas] e funcionou. O estado foi o que mais investiu com recursos próprios. Nossas rodovias [estaduais], superaram as de São Paulo em qualidade, por exemplo.

Essa ideia de cortes funcionaria para as emendas parlamentares?
Não, as emendas cresceram muito ao longo dos últimos anos porque o governo anterior infantilizou a presidência da República. Como não há vácuo de poder, ele foi ocupado e o orçamento migrou em parcela significativa para o parlamento. O presidente Lula tenta criar uma lógica. Dá para tirar de uma vez, garantindo governabilidade, a aprovação da reforma tributária, do arcabouço? Talvez não.

As emendas não ajudam o Dnit, por exemplo, na manutenção de rodovias federais?
O Dnit tem orçamento próprio e estimula doações de emendas. O problema é que uma obra de infraestrutura não tem a mesma potência eleitoral que uma escola no bairro, um posto de saúde, um calçamento de rua. Na discussão que o STF está fazendo, o que se debate é garantir uma parte das emendas de bancadas para obras estruturantes. Algo como 20% poderiam ser direcionados para isso e o Dnit é que tem a maior carteira de obras estruturantes.

Essa discussão será definida em conjunto com o corte de gastos?
É casada. Quando for votar o orçamento, eu espero que já esteja decidida essa questão das emendas de bancada.

Então, em vez de cortar, sua pasta pode ter mais recursos?
Se obrigarem as emendas de bancada a serem para obras de infraestrutura, a chance é grande.

De quanto será seu corte?
Entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão. Acho que ainda tem espaço para, de alguma maneira, recuperar.

Lula: ‘Se é para cortar, cortamos de militares, políticos, empresas, todos’

Lula retoma nesta sexta-feira reunião para definir corte de gastos | Agência Brasil

Lula se aborreceu e quer cortar mordomias e penduricalhos

Tales Faria
do UOL

O presidente Lula (PT) deve enviar ao Congresso um pacote para cortar gastos de militares, políticos e empresas. O chefe do governo tem dito nas reuniões dele e nessa última, especialmente com ministros, que pretende enviar ao Congresso um pacote de cortes voltado não só para o que ele chama de ‘andar de baixo’, mas também para a ‘turma de cima’.

Isso inclui, segundo os interlocutores do presidente, as emendas dos parlamentares ao orçamento, aposentadorias de militares, vantagens e penduricalhos do Judiciário e subsídios às empresas.

DISSE LULA – A frase exata do presidente que eu apurei foi a seguinte: “Se é para cortar, cortamos de militares, políticos, empresas, todo mundo”. É difícil acreditar que o governo acabe mesmo mandando chumbo para todo lado, mas é o que Lula tem defendido.

O governo ainda não definiu as dimensões dos cortes que serão feitos. A estratégia seria mandar para o Congresso um pacote que justifique os cortes nos ganhos dos trabalhadores, esses chamados andar de baixo e assalariados, com uma contrapartida no chamado andar de cima.

A dimensão desses cortes e onde exatamente eles ocorrerão, por incrível que pareça, ainda não estavam definidos até essa segunda-feira (11). Tem algumas coisas definidas, mas a dimensão exata não está definida.

GASTOS SOCIAIS – Os debates incluem os ministérios da Saúde, Educação, Trabalho, Previdência e Desenvolvimento Social, todos os ministros dessas áreas têm reclamado.

Houve até casos com os dois ministros (da Previdência, o Carlos Lupi, do Trabalho, o Luiz Marinho), que ameaçaram se demitir. O presidente Lula falou incluir o andar de cima, justamente para acalmar os revoltosos.

O presidente Lula, é claro, espera reações do Congresso e do Judiciário. Já deixou claro que espera protestos também do Congresso e pressões do Judiciário, mas segundo ele, aí todo mundo vai ter que se expor, foi o que argumentou.

PREVIDÊNCIA MILITAR – Por isso que ele pediu ao ministro da Fazenda, o Fernando Haddad, que chamasse para as conversas o ministro da Defesa, o José Mucio. Segundo a ministra Simone Tebet, do Planejamento, a Previdência dos Militares causa um déficit de 49,7 bilhões ao orçamento.

O argumento do presidente é que tudo bem, todo mundo tem direito de reclamar, mas tem que se expor ao julgamento da sociedade tanto quanto do governo. Esta semana Lula e a equipe econômica teriam novas rodadas de reuniões com integrantes do Ministério da Defesa e da Casa Civil. Não se sabe se vão conseguir fechar os projetos hoje ou amanhã. A ideia é depois discutir com os presidentes da Câmara e do Senado e até do Supremo Tribunal Federal.

EMENDAS – Lula também levantou o gasto com emendas parlamentares, praticamente o que a Fazenda está pedindo de corte. No podcast Análise da Notícia, o colunista José Roberto de Toledo complementou:

São R$ 50 bilhões nesse ano, com um agravante que vem crescendo. Se a gente pegar o que aconteceu com as emendas parlamentares, desde que o Eduardo Cunha, então presidente da Câmara começou esse processo, ele ganhou corpo com Rodrigo Maia e se consolidou totalmente com o Arthur Lira. O aumento é de 11 vezes. É uma multiplicação dos gastos.

O valor aumentou também na gestão do Lira, mas o que o Lira conseguiu nos três primeiros anos como o presidente da Câmara, que talvez consiga de novo no quarto, é uma execução de 90%, 99% das emendas, entendeu? Não deixar nada sem ser pago. Realmente ele conseguiu transformar as emendas, mesmo as não impositivas, em algo quase obrigatório para o governo. E é isso pode entrar em negociação também, segundo José Roberto de Toledo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGLula da Silva tem toda razão.  Se é para cortar, vamos reduzir de quem ganha mais, de quem inventa penduricalhos, de quem exige privilégios, de quem não se interessa pelos pobres. Isso, sim, é fazer justiça social. Parabéns, presidente, siga nesta linha e terá o respeito e a admiração dos brasileiros. (C.N.)

Trump promete agir como “um ditador” em seu 1º dia na Casa Branca

Donald Trump caminha ao lado de muro que demarca a fronteira dos EUA com o México, no Arizona, em agosto de 2024 — Foto: Evan Vucci/AP Photo

Trump visita o muro na fronteira do México, sua obsessão

Da Associated Press

Donald Trump disse que não seria um ditador no seu segundo mandato – “exceto no primeiro dia”. Segundo suas próprias declarações, ele tem muito o que fazer logo que voltar ao comando da Casa Branca.

Sua lista inclui iniciar a deportação em massa de migrantes, reverter as políticas do governo Biden em relação à educação, remodelar o governo federal, demitindo potencialmente milhares de funcionários federais que ele acredita estarem trabalhando secretamente contra ele, e perdoar pessoas que foram presas por invadir o Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

NÃO É BEM ASSIM – Quando assumiu o cargo em 2017, Trump também tinha uma longa lista de afazeres, incluindo a renegociação imediata de acordos comerciais, a deportação de migrantes e a implementação de medidas para erradicar a suposta corrupção do governo. Essas coisas não aconteceram de uma só vez.

Quantas ordens executivas na primeira semana? “Haverá dezenas delas. Posso garantir isso”, disse a secretária de imprensa nacional de Trump, Karoline Leavitt, à emissora Fox News.

Certamente ele tentará se livrar de seus processos criminais, por causa da jurisprudência do Departamento de Justiça, que diz que os presidentes em exercício não podem ser processados.

ATRIZ PORNÔ – Trump não tem como conceder um autoperdão em relação à condenação de um tribunal em Nova York num caso de suborno envolvendo a ex-atriz pornô Stormy Daniels, mas ele pode tentar usar o status de presidente para anular ou expurgar a sua condenação por crime e evitar uma potencial sentença de prisão.

Um caso na Geórgia, onde Trump foi acusado de interferência eleitoral, será provavelmente o único processo criminal que restará contra ele. Mas deve ser suspenso até pelo menos 2029, no final do seu mandato presidencial.

Deve perdoar seus apoiadores que atacaram e invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando cinco guardas morreram. E mais de 1.500 pessoas, que Trump chama de “patriotas inacreditáveis”, foram acusadas formalmente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Há muitas promessas de campanha, inclusive envolvendo imigrantes, servidores públicos, importações industriais, estudantes transgêneros e tudo o mais. Conseguirá fazê-lo, logo no início? Claro que não. Mas quem se interessa? Na verdade, Trump é um extraordinário marqueteiro, que vive de vender ilusões, igual a qualquer outro político, digamos assim. (C.N.)

Artigo de Bolsonaro e vitória de Trump refletem o espírito de nosso tempo

Bonecos de Bolsonaro e de Trump nas ruas de São Paulo

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Tem gente indignada por Jair Bolsonaro ter publicado um artigo na Folha. Não entenderam nada. Sonham com um mundo no qual a imprensa determina quem tem voz. Na realidade atual, o papel que melhor cabe a um jornal de relevo é justamente ser palco para as diferentes vozes, permitindo que todos possamos melhor ouvi-las e julgá-las.

No caso, o artigo triunfalista de Bolsonaro pouco nos informa sobre seu apreço pela democracia que diz defender. Suas ações quando perdeu em 2022 falam mais alto. Serve, no entanto, como registro de uma forma de encarar este momento: finalmente a política ouve o cidadão comum, que é de direita, contrariando décadas de discurso da mídia e das elites culturais.

TEM FORTE APOIO – A vitória acachapante de Trump mostra que sua chegada ao poder em 2016 não foi um acidente, um glitch na máquina. Ele (e seus similares) realmente refletem a vontade de milhões de cidadãos. Vontade que é às vezes negada, às vezes ridicularizada, às vezes insultada, mas que nem por isso perde terreno. Os americanos estão prestes a receber o que pediram.

A democracia liberal tal como a conhecemos desde o pós-guerra está em xeque. Na administração pública, na regulação de setores econômicos, na diplomacia, na imprensa, até mesmo na saúde pública: a ideia de que especialistas podem contrariar a vontade da maioria era, no passado, uma obviedade; hoje é contestada.

A vontade da maioria encontra meios para se expressar graças às redes sociais. Quando vozes da esquerda brasileira, como Felipe Neto e Gleisi Hoffmann, vaticinam que a extrema direita só poderá ser derrotada se as redes forem regulamentadas, ecoam sem querer o discurso de Bolsonaro.

IGREJA DE ROMA – Quando, no século 16, a Reforma Protestante criticou a autoridade da Igreja de Roma até suas fundações, o sistema católico da época tentou se proteger como pôde. Criou o index de livros proibidos, passou a exigir autorização oficial expressa antes que qualquer livro fosse publicado.

Teologia era assunto importante demais para ficar na mão de leigos. A perseguição a hereges foi intensa, os riscos de se ler a Bíblia por conta própria foram sempre lembrados, junto da ameaça do inferno, mas nem por isso a “heresia” foi embora.

As imprensas tipográficas continuaram publicando e vendendo como nunca antes. Foi o mundo católico que se lançou numa crescente esterilidade intelectual.

PELA REPRESSÃO – As elites culturais e científicas do Ocidente democrático vivem um momento similar ao clero católico no início da Reforma. Têm sua própria legitimidade questionada. E, enquanto acreditarem na repressão como arma preferencial dessa guerra pelos corações e mentes, continuarão a perdê-los.

Vivemos o paradoxo da liberdade de Platão: o povo livremente escolhe líderes demagogos que lhes tirarão a liberdade. Para Platão, a saída era impedir o povo de escolher.

Nós, herdeiros do Iluminismo, ou apostamos na capacidade do povo de escolher melhor —ele não é, afinal, inferior às elites culturais que hoje rejeitam— ou abrimos mão desse legado da racionalidade e democracia. E, para promover essas melhores escolhas, é preciso colocar as fichas do sucesso político não nas promessas de uma regulação futura —mais um conjunto de regras bolado por especialistas para tutelar as massas—, mas na persuasão em pé de igualdade com aqueles que queremos persuadir.

Elon Musk vai comandar o novo Departamento de Eficiência dos EUA

Como Elon Musk está fazendo de tudo para eleger Donald Trump - Estadão

Musk aceitou convite de Trump e vai trabalhar no governo

Ederson Hising e Wesley Bischoff
g1 — São Paulo

O bilionário Elon Musk, escolhido por Donald Trump para chefiar o futuro Departamento de Eficiência Governamental dos Estados Unidos, que será criado no início do próximo governo, prometeu “máxima transparência” no cargo. O presidente eleito anunciou nesta terça-feira (12) que Musk comandará o órgão ao lado do empresário Vivek Ramaswamy.

O objetivo do novo departamento, segundo Trump informou em comunicado, é contribuir para que o governo “desmonte a burocracia governamental, reduza regulamentações excessivas, corte gastos desnecessários e reestruture agências federais”.

A ideia é também implementar ideias de fora da Casa Branca que criem uma “abordagem empreendedora para o governo”.

GASTOS ABSURDOS – Segundo Musk, o departamento terá um ranking sobre os “gastos mais absurdos” de impostos. “Isso será ao mesmo tempo extremamente trágico e extremamente divertido”, disse.

“Todas as ações do Departamento de Eficiência Governamental serão publicadas online para garantir máxima transparência. Sempre que o público achar que estamos cortando algo importante ou deixando de cortar algo desnecessário, basta nos avisar”, afirmou o bilionário, na rede social X.

Em outra publicação no X, Musk declarou que “ou conseguimos tornar o governo eficiente, ou a América vai à falência”. “É disso que se trata. Gostaria de estar errado, mas é a pura verdade”, explicou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nos Estados Unidos, o assunto é a modernização e simplificação do Estado. Aqui na filial, está em vigor a exploração do homem pelo Estado, e a meta é aumentar cada vez mais as já espantosas remunerações dos três poderes, incluindo os militares, que estão sendo transformados em grandes exploradores do povo, com as notórias exceções, é claro. Hoje, a maioria dos militares trabalha cada vez menos. Tragam um balde grande, por favor. (C.N.)

Desde Platão, o problema é o nível dos candidatos nas eleições democráticas

amo Direito - ⚖️😔🙏 Frase super atual de Platão. Vale compartilhar. 👍  Curta: fb.com/amoDireito | FacebookHélio Schwartsman
Folha

Donald Trump é o vencedor inconteste de eleições livres e limpas. Daí não se segue que os americanos tenham feito uma escolha sábia. Acho até que daria para construir um argumento de que ela é objetivamente errada, a exemplo do brexit, equívoco cujo tamanho pode ser calculado numericamente. Mas não precisamos ir tão longe.

O que me interessa investigar é se más escolhas eleitorais funcionam como argumento contra a democracia. Platão achava que sim. Para ele, a democracia padece de tantas falhas estruturais que acaba levando ao poder demagogos, ditadores potenciais e outras lideranças às quais faltam competência e qualidades morais.

O QUE FAZER? – Até esse ponto, é fácil concordar com o grego. Sua conclusão é quase uma descrição de Trump. O problema é que o filósofo propõe como regime ideal um sistema em que o poder seja exercido por uma elite de sábios especialmente treinados para comandar.

Isso talvez fizesse sentido no papel no século 4º a.C. Hoje, porém, abundam evidências empíricas de que conceder poder irrestrito a grupos restritos é um caminho até mais rápido para a tirania.

Curiosamente, as democracias contemporâneas incorporam algo das ideias de Platão. Certos cargos públicos são preenchidos por concursos nos quais se avalia o conhecimento do candidato. Temos também as agências, nas quais quadros de especialistas regulam setores que não resistiriam a muitas trapalhadas técnicas.

APESAR DELAS – As democracias de hoje funcionam, se não maravilhosamente bem, melhor do que sistemas concorrentes. E isso não por causa das escolhas do eleitorado, mas apesar delas.

A virtude do regime não está na seleção de lideranças capacitadas, como imaginava Platão, mas no fato de ele institucionalizar a disputa pelo poder, canalizando-a para formas não violentas. O segredo não é garantir que entrem governantes bons, mas assegurar que os que vão embora o façam de forma pacífica.

É exatamente o que Trump não fez em 2021. Se houvesse algo parecido com uma justiça platônica, isso teria bastado para afastá-lo do jogo democrático. Como não há, ele está de volta.

Lula faz um desafio inócuo e erra ao transformar mercado em vilão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em evento no Palácio do Planalto

Lula resolveu “inventar” suas próprias leis econômicas

Merval Pereira
O Globo

O presidente Lula desafiar “o mercado” para uma luta em campo aberto justamente quando se discute o corte de gastos para equilibrar as finanças do país não é apenas demonstrar desconhecimento do que seja esse tal de mercado, mas informar que não está disposto a ceder às exigências de cortes porque entende que ele tem “gana especulativa” e age com “uma certa hipocrisia”.

O presidente pode até ter razão ao criticar a ganância de alguns investidores, mas erra ao transformar o mercado em vilão, quando deveria entender que ele é, essencialmente, um instrumento democrático ao difundir informações e exprimir uma tendência da opinião pública.

ANÁLISE DE RISCOS – O economista austríaco liberal Friedrich Hayek defendia o mercado como transmissor de informação e estimulador da criatividade, levando à análise dos riscos econômicos e sociais do aumento do papel do Estado.

A crítica de Lula “ao mercado” é fruto de uma visão ideológica do capitalismo, mas se trata também de retrocesso num mundo em que os avanços tecnológicos só levarão a um mundo financeiro mais globalizado em velocidade cada vez maior.

Um vacilo como esse neste momento já está precificado pelo tal mercado, e não adianta se irritar com isso. Evidentemente, há pessoas e empresas que usam o mercado para ganhar dinheiro sem ética, mas essa não é a prática predominante nos mercados financeiros internacionais.

CONTROLE MAIOR – Cada vez que uma crise financeira surge, as regulações dos mercados sofrem alterações para que o controle de fraudes, como aconteceu em 2008, seja maior.

Quando Lula se debate internamente com seus pares e não consegue anunciar um pacote de corte de gastos necessário para o crescimento econômico, o “mercado” entende o que acontece e joga contra o governo.

O presidente parece extremamente irritado com a falta de apoio dos outros Poderes, Legislativo e Judiciário, e tem toda a razão. Como o Executivo só pode fazer cortes em seus domínios, ele cobra que o Judiciário corte os privilégios de seus integrantes.

OFENSA AO PAÍS – Lula não citou, mas o fato de magistrados terem o direito a mais 120 dias de férias, além dos 60 tradicionais, com a decisão do CNJ de igualar as regalias dos magistrados às do Ministério Público, é uma ofensa àqueles cujos benefícios serão cortados na Previdência e na Saúde.

Também os parlamentares são chamados por Lula a dar seu quinhão, abrindo mão pelo menos de parte dos bilhões das emendas a que têm direito.

A economia de mercado, na definição do economista Gustavo Franco, um dos “pais” do Plano Real, feita numa palestra ao lado de outro “pai” do Real, André Lara Resende anos atrás, “é subversiva numa sociedade do privilégio, pois propugna a competição, a impessoalidade e a meritocracia; e dispensa, tanto quanto possível, a interveniência de um Estado cheio de vícios”.

ALMA DO CAÍTALISMO – Meritocracia e competição “são as mães da destruição criadora, a alma do capitalismo”, definição do economista Joseph Schumpeter.

Um dos pontos básicos continua sendo o equilíbrio fiscal, justamente o que se busca com o plano do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Quando a sociedade condena o Estado ao desequilíbrio, as políticas públicas serão predatórias: tributarão os pobres pela inflação ou penhorarão o futuro com dívidas impagáveis”, diz Gustavo Franco, para lembrar que “não existe gasto público sem imposto, ontem, hoje ou amanhã”.

Para ele, as burocracias dificilmente trabalham melhor que os mercados, “que também não são perfeitos, mas certamente são mais baratos para o contribuinte. Leveza e eficiência é o que se exige do prestador de serviço, público ou privado, pouco importa”.

O Trump inventado por analistas de esquerda simplesmente não existe

Trump é banido em definitivo do Twitter por incitar a violência - Hora do  Povo

Donald Trump mais parece um idoso jogando paciência…

‘J.R. Guzzo
Estadão

Encerrada a eleição presidencial nos Estados Unidos, com a vitória de Donald Trump, uma das perguntas fundamentais a ser feita é: como foi possível os americanos escolherem, em eleições livres, um candidato maciçamente descrito como fascista, ou nazista, um psicopata terminal que vai impor uma ditadura e declarar a Terceira Guerra Mundial?

Resposta: nada disso, nunca, fez o menor nexo. O Trump que a esquerda, as classes civilizadas e os cientistas políticos inventaram simplesmente não existe.

AMPLA MAIORIA – O que existe é uma óbvia maioria que não quer o que essa gente quer, não tem mais paciência com as suas posturas irracionais e não acredita em nada do que dizem. O problema, no mundo das realidades, não é Trump. São eles.

Estão vivendo, e não só nos Estados Unidos, dentro de um sistema de pensamento e de ação que trocou o raciocínio lógico pelo fanatismo das crenças. É uma espécie de Islã mental. Você tem de acreditar em vez de pensar – ou acredita, ou é um inimigo da “democracia”.

No caso de Trump era rigorosamente obrigatório acreditar, desde logo, no paradoxo pelo qual um ditador-monstro iria criar a sua ditadura disputando eleições democráticas. Ninguém, em lugar nenhum, quer viver numa tirania.

SUPERDITADOR – Se Trump fosse mesmo um tirano enlouquecido, por que raios o eleitor iria votar nele? Era indispensável pensar, também, que Trump não teria dificuldade nenhuma em fechar o Congresso, eliminar o mais poderoso sistema judicial que o mundo já viu e transformar as Forças Armadas numa milícia pessoal como é na Venezuela.

Foi daí para baixo. Trump vai fazer “deportações em massa”. Vai mandar o Exército americano “matar oponentes”. Vai fazer guerra aos “latinos”, aos negros e às “minorias”, tudo ao mesmo tempo. Não passou um dia, nos últimos meses, sem você ouvir essas coisas.

DEU ERRADO – O resultado foi uma derrota histórica desta lavagem cerebral – uma das mais incompetentes, bisonhas e estúpidas jamais tentadas na vida política de uma nação. Tentou-se vencer os fatos com a mentira em massa. Deu errado.

A derrota não foi de uma candidata patentemente inepta e, muitas vezes, absurda em sua campanha. Foi, mais do que isso, o colapso de uma miragem em modo extremo de arrogância: o eleitor vai nos obedecer cegamente e votar em qualquer poste que a gente escolher.

Sabe-se bem quem é “a gente”. É a esquerda que trocou o povo pelo controle da máquina estatal. São os intelectuais, a maioria da mídia e os bilionários modernos. É o mundo das “ideias”, contra o mundo da produção. TSua convicção suprema, e oculta, é que a maior ameaça do mundo atual é a vontade da maioria. O perigo não é Trump. São as eleições limpas.

E aí? Seria acertado proibir Bolsonaro de se expressar pelos jornais?

BOLSONARO PELO BRASILFabiano Lana
Estadão

O ex-presidente Jair Bolsonaro publicou um artigo na Folha de S.Paulo com o zombeteiro título “Aceitem a democracia”. Ele queria dizer que pela escolha dos eleitores os ventos da direita passaram pela Argentina de Milei, pelos EUA de Trump, e podem chegar novamente ao Brasil. Até aí são fatos e possibilidades.

Também afirmou que o resultado das últimas eleições municipais no Brasil são um avanço da direita e não do “centro”, o que é uma afirmação no mínimo objeto de controvérsia – até porque quando o centro disputou diretamente com a direita venceu nas capitais: tome-se os casos do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Curitiba e Manaus. Assim como triunfou quando disputou diretamente com a esquerda, casos de São Paulo e de Porto Alegre.

IGUAL A LULA – É difícil dizer que Bolsonaro realmente seja um democrata. Nunca negou que defendeu o golpe militar de 1964 (assim como o presidente Lula, ainda como metalúrgico). Mas ao contrário do atual mandatário, jamais mudou de ideia e, muito menos, esteve presente nos movimentos pela volta da democracia brasileira.

Já falou em fuzilar um presidente da República, no caso, Fernando Henrique Cardoso, e a violência faz parte de seu vocabulário contumaz. Agora, pesa contra Bolsonaro a suspeita de ter tentado planejar um golpe de estado em 2022, o que pode até levá-lo à cadeia.

Porém, Bolsonaro, talvez intencionalmente, colocou alguns de seus críticos numa armadilha moral. A partir do momento em que se deseja que o ex-presidente – mesmo suspeito de ter conspirado contra a República – não tenha voz nos meios institucionais, na prática há a defesa de mecanismos antidemocráticos para calar um adversário político.

ELE TEM RAZÃO – Nesse sentido, paradoxalmente, Bolsonaro passa a ter razão no argumento. Como se ele nos dissesse: “vocês falam de mim como golpista, mas quem pede proibições, a base dos regimes autoritários, são vocês”. Ele coloca todos nós no pântano de exigir a tutela da tirania.

Outros fatos estão aí. Cerca da metade dos brasileiros votaram em Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022. A margem foi tão curta que quando se faz uma divisão entre os estratos de renda da população é possível constatar que o ex-capitão venceu a partir da faixa dois salários mínimos.

A nossa classe média, mesmo a baixa, os nossos ricos, em geral, preferiram ter Bolsonaro como líder. E pode ser que estejam à procura de um substituto. Vão tentar calá-lo também?

PROIBIR BOLSONARO – O que fazer com essa informação da força da chamada extrema direita no Brasil e no mundo? Esconder Bolsonaro? Proibi-lo de se expressar nos jornais? Além do problema ético de tal atitude, não adianta do ponto de vista pragmático.

Os líderes da direita brasileira e ao redor do mundo, fortíssimos nas redes sociais, dispensam a interlocução tradicional. Bolsonaro não precisa da Folha, da Rede Globo, ou mesmo do Estadão para falar com seus interlocutores.

O mesmo podemos dizer de outros expoentes dessa nova direita, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), entre tantos outros (e regular as redes não vai mudar muita coisa dessas circunstâncias, talvez nada, ao contrário do desejo da presidente do PT, Gleisi Hoffmann).

TRAZER AO DEBATE – A estratégia de “vamos colocar a cabeça por debaixo da terra” e fingir que nada disso ocorre não vai funcionar. O melhor a fazer, para o bem da democracia, é trazer esses direitistas inconvenientes para o debate público. Muitas vezes a força desse pessoal é negar e questionar abertamente a imprensa, não ir para o campo dos argumentos e contra-argumentos.

Bolsonaro em um jornal tradicional significa que em certos momentos ele quer operar na “normalidade” – o que não significa normalizá-lo. O ex-presidente misturou fatos e informações erradas no seu artigo e cabe a uma sociedade madura (e não histérica) respondê-lo, mostrar onde está o erro, que as conclusões apresentadas não se seguem das premissas.

E lembrar que democracia não é exatamente a praia dele, claro. No argumento, e não pela proibição, eles, os direitistas radicais, podem perder – por inconsistência.

Problema de Trump: “Pobre de direita” nos EUA fala inglês e come em dólar…

Pobreza cresce nos Estados Unidos e alcança 12,4% dos habitantes – Em Cima  da Notícia

Aumento da pobreza é uma realidade que se vê nas ruas

Bruno Boghossian
Folha

Pela primeira vez em décadas, americanos de baixa renda deram preferência a um republicano nas eleições presidenciais. Pesquisas mostraram que, na camada mais pobre do eleitorado, 50% votaram em Donald Trump, e 47% escolheram Kamala Harris. Há 16 anos, 64% dessa fatia havia votado em Barack Obama.

A mudança começou em 2016. Naquele ano, Hillary Clinton inscreveu na história a caricatura hostil de meio eleitorado de Trump como um “cesto de deploráveis” (“racistas, sexistas, homofóbicos, xenofóbicos”, segundo ela, “irrecuperáveis”). Depois, fez um complemento, raramente lembrado, que explica muito sobre os apuros dos democratas.

DISSE HILLARY – Havia um “outro cesto” de apoiadores de Trump, disse Hillary. “Pessoas que sentem que o governo as decepcionou, que a economia as decepcionou, que ninguém se importa com elas”, descreveu. “E elas estão desesperadas por mudança. Na verdade, nem importa de onde venha.”

Os democratas não quiseram perceber que os apelos de Trump seduziam os dois cestos de maneira parecida. Alienaram os “irrecuperáveis” e acabaram perdendo americanos frustrados que ouviam o magnata dizer que políticos progressistas se esforçavam para proteger minorias, mas não tinham um plano para eles.

O governo Joe Biden buscou suas correções de rota. Pôs em campo um plano de redução da inflação e deu um empurrão no mercado de trabalho. Os resultados foram considerados insuficientes por aqueles que se sentiam penalizados pelo passado recente.

“POBRE DE DIREITA” – A versão americana do “pobre de direita” existe, mesmo que muitos democratas tenham chegado até aqui sem entendê-la. Esse eleitor pode comprar o pacote completo de Trump, incluindo suas promessas divisionistas, ou só a ideia de dar poder a alguém que manifesta um espírito caótico compatível com sua raiva.

A política dos EUA passa por um momento muito mais complexo do que o retrato simplificado de que os democratas se tornaram representantes da elite.

O partido tem uma votação consistente entre americanos miseráveis e de classe média, além do apoio de mais de 80% dos eleitores negros —”deixados para trás” há um punhado de séculos.

Bolsonaristas apostam em ‘vingança’ de Trump contra Moraes e STF

Eduardo Bolsonaro diz que não se vê sendo indicado pelo pai para presidente  em 2026 - SBT News

Bolsonaro cuida de manter Trump informado sobre o Brasil

Guilherme Caetano
Estadão

Com a volta de Donald Trump ao comando dos Estados Unidos a partir de janeiro, aparece na direita bolsonarista a aposta de que ações tomadas pelas autoridades brasileiras sejam vingadas pelo novo presidente. Lideranças como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vêm se mostrando dispostas a atuar como observadores da Casa Branca no Brasil.

Dois episódios têm sido levantados pelos bolsonaristas como alerta para uma eventual revanche do Partido Republicano americano. Tanto Jason Miller, ex-porta-voz de Trump, quanto Filipe Martins, ex-assessor para assuntos internacionais de Jair Bolsonaro (PL), já foram alvos de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) – e agora ambos os casos têm servido de combustível para os pedidos de reveses contra a Corte.

NO AEROPORTO – Em setembro de 2021, Miller foi abordado pela Polícia Federal no aeroporto de Brasília, no âmbito do inquérito no STF que apurava a atuação das chamadas “milícias digitais”.

O americano é fundador da rede social Gettr, que passou a acolher extremistas após bloqueios e suspensão de contas por parte de plataformas como Facebook e Twitter.

Já em fevereiro de 2024, Martins foi preso na Operação Tempus Veritatis, que apurava suposta tentativa de golpe de Estado gestada no governo Bolsonaro. Um dos argumentos para sua custódia foi o fato de seu nome constar na lista de passageiros do voo presidencial que decolou do Brasil com destino a Orlando (EUA) em 30 de dezembro de 2022. Desde a prisão, a defesa sustentava que, apesar de constar na lista de passageiros do voo, Martins não realizou a viagem e permaneceu no Brasil.

DIZ EDUARDO – O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) recolocou o caso Martins no radar na última semana. Ele publicou um vídeo dizendo que o novo Congresso dos Estados Unidos, tomado pelos republicanos pró-Trump, seria capaz de convocar servidores para solucionar o que ele chama de “falsificação da entrada de Martins” em solo americano.

“Filipe Martins não foi aos Estados Unidos da maneira como a PF do Alexandre de Moraes estava acusando ele. Foi inserida uma entrada falsa do Martins no território americano por burocratas da imigração norte-americana. Agora que passaram as eleições, isso virá à tona através do Congresso dos Estados Unidos, porque um deputado e senador americanos têm poder de requisitar para prestar depoimento diversos burocratas. Requerendo as informações corretas, a gente provavelmente chegará às autoridades brasileiras que provocaram os americanos para fazer essa inserção falsa”, acusou o deputado, sugerindo sem provas um complô entre as administrações dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Joe Biden.

CASO MUSK – A atenção também recai sobre o bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), Tesla e SpaceX, que se tornou o maior desafeto internacional de Moraes após pedidos do STF para que contas suspeitas fossem bloqueadas na rede social.

Bolsonaristas têm feito circular um vídeo em que o vice de Trump, J. D. Vance, diz que haverá retaliação a tentativas de censura na internet, após ser questionado por um entrevistador que cita o caso do Brasil.

“Sobre o tema da censura, nós sabemos o que está acontecendo no Brasil. Eles bloquearam o X, e agora tomaram posse da Starlink, no meu entendimento. A gente vai ver algum revide se você e o presidente Trump assumirem o governo?”, pergunta o apresentador Shawn Ryan, do canal homônimo no Youtube, numa entrevista feita em 11 de setembro deste ano.

CARTA AMEAÇADORA – “Você falou do Brasil. O líder… Eu me esqueci exatamente qual é o cargo dele na União Europeia, mas enviar ao Elon (Musk) essa carta ameaçadora que basicamente diz que ele pode ser preso se você apoiar Donald Trump (…) O que os Estados Unidos deveriam dizer é: Se a Otan (aliança militar do Atlântico Norte) quer que a gente continue apoiando eles, por que eles não respeitam os valores americanos?”, respondeu Vance.

Em seguida, ele se refere ao Brasil de forma pejorativa: “Eu não vou dizer para esses países de fundo de quintal como eles têm que viver, mas países europeus deveriam teoricamente compartilhar dos valores americanos especialmente sobre coisas básicas como liberdade de expressão”.

GRANDE ALIADO – Homem mais rico do mundo, Musk se tornou um dos aliados mais poderosos de Trump após entrar de cabeça em sua campanha, e a partir de janeiro deve ter papel de destaque no segundo governo do republicano.

No início do ano, ele deu início a uma campanha difamatória contra Moraes após o ministro seguir com investigações que requisitavam à rede social de Musk informações pessoais de perfis de bolsonaristas investigados. O episódio ganhou repercussão internacional.

Enquanto isso, Eduardo deu mostras de que pode atuar como observador da Casa Branca no Brasil, contra o governo de seu próprio País.

ENTREGANDO LULA – Ele acompanhou a apuração dos votos da eleição americana em Mar-a-Lago, casa de Trump na Flórida, acompanhado do ex-ministro do Turismo de Bolsonaro, Gilson Machado, e o vereador Gilson Machado Filho, recém-eleito em Recife — os únicos brasileiros da concorrida área VIP do bilionário.

Durante a viagem, o trio mostrou a auxiliares de Trump uma notícia no celular relatando que Lula comparou o líder republicano ao nazismo. O deputado federal tem dito que “tudo o que Lula faz chegará ao presidente eleito dos Estados Unidos”.

“Nós mostramos as declarações de Lula para os assessores mais próximos de Trump. Eduardo vai trabalhar com os republicanos de alguma maneira para trazer a elegibilidade do presidente Bolsonaro”, diz Machado Filho, sugerindo pressão externa sobre autoridades brasileiras.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO problema já existe e está sendo reativado com a reeleição do senador e dos quatro deputados americanos que já estavam apurando a ilegalidade de determinadas decisões de Alexandre de Moraes, e eles podem mesmo tentar proibi-lo de entrar nos EUA. (C.N.)

Lula joga Haddad na frigideira do petismo e de movimentos sociais

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Lula trabalha contra Fernando Haddad, seu melhor ministro

Josias de Souza
do UOL

Ao retardar o anúncio do pacote de cortes orçamentários de Fernando Haddad, Lula transformou numa dúvida seu compromisso com a agenda do ministro da Fazenda. De resto, a hesitação de Lula contribuiu para converter em certeza negativa o comprometimento do PT e dos movimentos sociais com a pauta da equipe econômica do governo.

Num instante em que Haddad rala para dar à luz o seu ajuste fiscal, Lula sustentou numa entrevista exibida no domingo pela Rede TV! que “não tem problema” se o governo se endividar para “construir um ativo novo”. Que ativo? Não esclareceu. Lula declarou, de resto, que não se deve acreditar num mercado que fala “bobagem todo dia”. Afirmou que vai “vencer” o mercado “outra vez”.

CONTRA OS CORTES – No mesmo dia em que a entrevista de Lula foi ao ar, entidades como MST e CUT, partidos como PSOL e PDT, e o próprio PT divulgaram um manifesto contra os cortes pretendidos por Haddad. No texto, acusam a mídia e o mercado de fazer “pressões inaceitáveis” para “constranger o governo” a cortar verbas destinadas à saúde, educação, trabalhadores, aposentados, idosos e obras de infraestrutura.

Amigo de Lula, o deputado estadual Emídio de Souza, quadro tradicional do PT, estranhou o fato de Gleisi Hoffmann, presidente da legenda, ter endossado o manifesto anticortes sem submeter a decisão às instâncias partidárias.

Emídio acertou no olho da mosca ao afirmar que “o PT não pode fazer de conta que não é governo e nem desconhecer os claros limites do orçamento público” e das normas que “regem a receita e a despesa do governo”.

GLEISI IRONIZA – Editoriais uníssonos do Globo, Folha e Estadão refletem a frustração e até o espanto dos donos da mídia com a não divulgação, até agora, dos chamados ajustes fiscais que eles tanto exigem. Eles esperam impor ao governo e ao país o sacrifício dos aposentados, dos trabalhadores, escreveu Gleisi Hoffmann.

O descompromisso do PT e dos pseudoaliados com a pauta econômica não tem importância diante da precariedade das contas nacionais e do esforço necessário para recolocá-las nos trilhos. O essencial é constatar que um presidente da República que reclama do mercado age mais ou menos como piloto de avião que se queixa da existência do céu.

Ao transformar o debate sobre cortes que Haddad considera vitais para salvar regras fiscais que o próprio governo criou, o presidente como que empurra seu ministro da Fazenda para a frigideira do PT e dos movimentos sociais. Lula faria um bem a si mesmo se prestasse atenção a um ensinamento de Tancredo Neves. Presidente não pode ficar embaralhando o tempo todo, dizia Tancredo. Em algum momento, Lula precisa cortar o baralho e distribuir as cartas.

Divirta-se com Trump! Elegê-lo foi a melhor solução possível

Donald Trump é o político que melhor representa seu país

Janio de Freitas
Poder 360

Votar em Trump não é para qualquer um. Só foram capazes de fazê-lo os mais afins com a formação histórica das características norte-americanas. Digamos, a americanidade. Uma violência compulsiva, que extravasa tanto nos atentados diários, desde as escolas, como na naturalidade dada às guerras sucessivas.

A arrogância da autoconfiança, a determinação, a sedução incontrolável da posse e do dinheiro são algumas das partes fundadoras e vivas da americanidade. Se, em separado, são compartilhadas por outros povos, juntas em tão alto grau parecem próprias da maioria norte-americana.

MODELO MUNDIAL – O país criado em Hollywood, matéria básica da educação imposta ao mundo já por mais de um século, é democrático, com população legalista e humanista. Mas não foi esta que invadiu e depredou o Congresso norte-americano, engrossando a tentativa de golpe trumpista.

Ali, estava uma pequena amostra da mentalidade coletiva e autêntica do eleitorado de Trump. Em nada contrária, muito ao contrário, da americanidade. Kamala Harris teve, sem dúvida, muitos votos de recusa a Trump. Não é crível que Trump recebesse votos de rejeição a Kamala.

O voto da ira, de ressentimento social, foi também afirmação da autenticidade do eleitorado trumpista. Ainda que irracional.

AJUDA FINANCEIRA – Ao assumir, Biden conseguiu logo a aprovação de substancial ajuda financeira popular, para suprir emergências deixadas pela omissão social de Trump.

Tudo indica, porém, que não foram para Kamala os milhões de votos originários, por exemplo, dos quase 20% de famílias com crianças que não têm com o que comprar a quantidade necessária de alimentos.

Nem de outros norte-americanos carentes, citados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

EIXO DA CRISE – A vitória de Trump força visões mais realistas do que são os Estados Unidos no mundo em transformações tão velozes. Kamala Harris traria um otimismo provavelmente enganoso, porque os Estados Unidos são o eixo da crise no chamado Ocidente.

E, prova-o a eleição de Trump, grande vitorioso com tudo o que fez contra o próprio país. Kamala teria dificuldades de mudar a política belicista de Biden, se o desejasse como esperado.

Mesmo no seu partido, cujos congressistas estão comprometidos com a aprovação da ajuda bancada por Biden para ampliação da guerra na Ucrânia e para o massacre palestino por Israel.

UMA ESPERANÇA – Caso cumpra o compromisso de levar ao fim as duas guerras, Trump contará com a maioria na Câmara e no Senado, conquistada agora pelos republicanos. Afinal, para o mundo, uma esperança razoável.

O eleitorado detentor de representatividade mais autêntica deu os votos da vitória de Trump, mas a contribuição do Judiciário não foi menos decisiva.

Sempre louvada pela presteza, a Justiça norte-americana foi incapaz de dar celeridade, ou não quis fazê-lo, aos processos e julgamentos de um então provável candidato à Presidência.  Trump é réu em 19 processos, ao menos os mais importantes ou mais adiantados deveriam ser concluídos, para evitar a impunidade e para não estar na Presidência da maior potência mundial um réu de tantos processos também criminais. Lá estará. Divirta-se com Trump, é a nossa melhor solução.

Em rota de colisão com Senado, o ministro da Energia recorre a Lula

Seremos cuidadosos na concessão de novos subsídios, diz ministro de Energia  à CNN em Davos | CNN Brasil

Matéria “sobre o ministro” é do tipo morde e assopra

Deu na Folha

À frente do cargo desde o começo do governo, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) fez movimentos recentes para expandir sua influência na administração pública que não ganharam respaldo de antigos aliados no Senado Federal. Ao mesmo tempo, aproximou-se de Lula (PT) a ponto de confiar ao presidente até mesmo a definição sobre seu futuro político.

Ainda é incerto se Silveira vai disputar eleições em Minas ou seguir um caminho alternativo, como se dedicar a uma eventual campanha à reeleição de Lula.

PSD FORTALECIDO – O PSD de Silveira, ao mesmo tempo em que faz parte do governo Lula, é presidido por Gilberto Kassab, secretário e aliado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicados), também cotado ao Planalto em 2026. O partido saiu fortalecido nas eleições deste ano ao liderar o número de prefeituras conquistadas pelo país (887).

As discordâncias entre Silveira (PSD) e parlamentares já haviam sido observadas na época da demissão, em maio, do então presidente da Petrobras, o petista Jean Paul Prates, mas receberam novos contornos diante da disputa pelas agências reguladoras.

DIVERGÊNCIA – O plano de Silveira de colocar nomes de sua confiança nas autarquias gerou divergência até mesmo com um de seus principais aliados políticos, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

O presidente do Senado se vê em outra posição, a de costurar nomes que sejam de fato aprovados pela Casa —que é quem, legalmente, aprova os indicados após sabatina.

O clima levou ao surgimento de boatos sobre a permanência de Silveira à frente do ministério —o que é encarado com descrença por integrantes do governo, devido à proximidade que ele garantiu com o presidente.

INDICAÇÕES – Pessoas próximas a Silveira minimizam o distanciamento do Senado e afirmam que ele virou alvo por ter tentado devolver o controle das indicações das agências ao governo, após a gestão de Jair Bolsonaro (PL) ter dado mais poder aos parlamentares no processo.

De qualquer forma, Silveira vem aumentando a presença e a influência junto ao presidente da República nos últimos meses, integrando comitivas oficiais, sendo constantemente chamado para reuniões e mantendo canal de diálogo direto com o mandatário.

Aliados do ministro dizem que ele tem gostado tanto de trabalhar para Lula a ponto de ficar satisfeito com a possibilidade de ocupar qualquer cargo escolhido pelo presidente, caso seja necessária uma movimentação no governo –embora afirmem que o tema nunca foi discutido. De acordo com essa visão, até mesmo o papel a ser desempenhado por Silveira em 2026 seria definido pelo presidente.

JEITO COMBATIVO – Interlocutores no governo apontam que Lula gosta do jeito combativo de Silveira —e o ministro estaria explorando essa característica. Inicialmente, por exemplo, fazia questão de fazer chegar ao presidente as notícias sobre seus ataques ao governador de Minas, Romeu Zema (Novo), seu desafeto político.

Na sequência, demonstrou o mesmo ímpeto nas críticas a Prates, de quem o presidente não gostava. E, mais recentemente, ganhou pontos com os petistas e, em particular com Lula, ao entrar no bate-boca público com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), por causa dos problemas de energia na capital paulista.

Também lembrado por sempre levar a carne aos churrascos promovidos por Lula no Alvorada ou na Granja do Torto, dividindo a responsabilidade com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), Silveira teria aderido a um dos polos de força dentro do governo, em uma parceria com o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). Mais desenvolvimentista, essa parceria contraria a visão da equipe econômica em determinados momentos. Além disso, os dois estão lado a lado na defesa da prospecção de petróleo na margem equatorial, em uma disputa direta com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Uma matéria esquisita, sem assinatura. Parece um daqueles textos que o Planalto costuma “vazar” de propósito, quando quer prejudicar alguém. Por isso, é importante que toda reportagem seja assinada pelo autor. Essas manipulações são deploráveis. (C.N.)

Conheça a mais terrível de todas as armas, segundo Fagundes Varella

Fagundes Varela: biografia, obras, poemas - Mundo Educação

O poeta Fagundes Varela

Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta Luís Nicolau Fagundes Varella (1841-1875), nascido em Rio Claro (RJ),  afirmava que a língua humana é a mais terrível da todas as “armas”.

ARMAS
Fagundes Varela

– Qual a mais forte das armas,
a mais firme, a mais certeira?
A lança, a espada, a clavina,
ou a funda aventureira?
A pistola? O bacamarte?
A espingarda, ou a flecha?
O canhão que em praça forte
faz em dez minutos brecha?
– Qual a mais firme das armas?
– O terçado, a fisga, o chuço,
o dardo, a maça, o virote?
A faca, o florete, o laço,
o punhal, ou o chifarote?
A mais trenda das armas,
pior que a durindana,
atendei, meus bons amigos:
se apelida: – a língua humana.

Morte de delator do PCC obriga Lula e Tarcísio a trabalhar juntos

MP diz que empresário morto em aeroporto era arquivo vivo contra PCC

Vinicius Gritzbach, delator do PCC, virou arquivo morto

Josias de Souza
do UOL

Governos existem não pelo que dizem, mas pelo que fazem. Há 12 dias, Lula reuniu os governadores no Planalto para expor uma PEC anticrime organizado. Tarcísio de Freitas disse que a iniciativa é “bem-vinda” como “primeiro passo” para “uma grande construção coletiva”. Algo que permita enviar ao Congresso “não só uma PEC, mas um grande pacote”.

O assassinato do empresário Vinicius Gritzbach, delator do PCC, como que intimou Lula e Tarcísio a transformar discurso em prática. A Polícia Federal e a Polícia Civil de São Paulo entraram na investigação divididas, em inquéritos paralelos. As circunstâncias convidam os chefes das duas corporações a ordenar o trabalho conjunto.

UMA CASQUINHA – Coordenador da PEC anticrime, o ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) tirou uma casquinha do governador fluminense Claudio Castro na reunião de dias atrás no Planalto. Disse que “a valorosa e combativa Polícia Federal” desvendou com “sete homens” o caso Marielle Franco, que a polícia do Rio não conseguiu elucidar em cinco anos.

A execução de Vinicius Gritzbach ocorreu no aeroporto de Guarulhos, um pedaço do mapa de São Paulo sob jurisdição federal.

Podendo sugerir a Lula a federalização do caso, o ministro da Justiça preferiu colocar a “valorosa” PF num inquérito paralelo. Havendo colaboração com a polícia paulista, pode-se apressar uma investigação dura de roer. Sem conversa, o caso pode virar um novo flerte com o fiasco.