Rotulada de fascista, a direita vence eleições e desestabiliza a esquerda

Quais as relações entre democracia burguesa brasileira e fascismo: Perigo fascista? – Emancipação Socialista

Charge do Jota Camelo (Arquivo Google)

J.R. Guzzo
Estadão

Há três coisas, em especial, que deixam a esquerda fora de si diante do “fascismo” e dos “fascistas”, e de quem mais eles excomungam como sendo de “extrema direita”. A primeira é que todos os valores denunciados como direitistas fazem muito sentido, do ponto de vista lógico, para o cidadão comum.

A segunda é o seu desejo de sair da pobreza, algo que as facções intelectuais acham irritante ao extremo – manifestam um desprezo colérico contra a classe trabalhadora quando ela se imagina capaz de empreender, construir uma vida própria e sair do lugar que lhe foi reservado pelos sociólogos. A terceira, e de longe a pior de todas, é a tendência da “extrema direita”, ou do “fascismo”, a ganhar eleições.

BASE DA DEMOCRACIA – Eleições limpas, com escrutínio público e nas quais o papel do Estado se limita a contar os votos, são um alicerce fundamental das democracias.

Hoje, para o “campo progressista” e para os intelectuais, as eleições transformaram-se numa ameaça. É um contrassenso.

Eleições, a menos que sejam roubadas como as da Venezuela, não podem jamais colocar em risco à democracia, pois expressam a vontade da maioria – e a vontade da maioria é que decide quem tem de governar.

LIVRE ESCOLHA  – É isso, exatamente isso, que está dizendo a religião oficial antifascista. Os adversários podem ganhar, porque são eles que formam a maior parte do eleitorado – mas eleição que a maioria ganha é um perigo mortal para a democracia, tal como ela é definida por Lula, o STF e a direção do PT.

Donald Trump ganhou a eleição nos Estados Unidos. Antes, Javier Milei tinha ganho na Argentina. Antes dos dois, Giorgia Meloni ganhou na Itália. Teme-se, agora, pela próxima grande eleição – a da Alemanha.

Em nenhum dos casos ocorreu aos analistas internacionais que o povo de cada um desses países escolheu com liberdade os seus novos governos. Foi um “retrocesso”. Foi um atentado contra a “civilização”. Foi essa e mais aquela desgraça.

POPULISMO – O sujeito oculto da frase é que a vontade do povo, quando favorece a direita, não é mais vontade do povo. É “populismo” – e “populismo” não pode ser admitido hoje no livro de regras, sobretudo quando os populistas são populares.

Eleição livre? E se um “fascista” ganhar? A coisa é cada vez mais viável, quando se leva em conta a multiplicação cada vez mais rápida de fascistas que estão por aí e têm título de eleitor. Como faz, então? Acabam as eleições ou acabam os fascistas?

O Supremo ainda não formou maioria a respeito.

Viagem com Janja a Roma retira ministro petista da lista de demissão

Imagem

Janja aceitou o pedido do ministro quase demitido

Josias de Souza
do UOL

Com Janja em sua comitiva, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social) representará o Brasil na 48ª sessão do conselho de governança do Fida, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, sediado em Roma. A utilidade da presença da mulher de Lula só poderá ser avaliada na próxima sexta-feira, último dia do encontro.

Mas a viagem da primeira-dama, custeada pelo contribuinte, teve serventia imediata para Dias. Retirou momentaneamente o ministro petista da corda bamba da reforma ministerial.

PERTO DA DEMISSÃO – Wellington Dias virou xepa de feira na Esplanada. Fala-se em trocar ministros, e seu nome escorrega por gravidade para a beirada do tabuleiro. Para complicar, dois contratos atravessaram o caminho do ministro. Envolvem cifras graúdas: R$ 5,6 milhões e R$ 5,2 milhões.

 Numa ponta, está a pasta gerida pelo companheiro de viagem de Janja. Noutra, ONGs ligadas à família Tatto, de DNA petista. No meio, há uma requisição à PF para apurar suspeitas de desvios de verbas que deveriam financiar programas voltados à alimentação e capacitação de brasileiros pobres.

Como se fosse pouco, surgiu na última sexta-feira uma entrevista com potencial para transferir Wellington Dias da frigideira para o micro-ondas. Nela, o ministro insinuou que o governo estudava reajustar o Bolsa Família para atenuar os efeitos da alta do custo de vida. Era lorota.

DESMENTIDO OFICIAL – Numa semana marcada por um comentário tóxico de Lula —”Se está caro, não compra”—, a Casa Civil da Presidência viu-se compelida a divulgar nota oficial para esclarecer que o governo não cogita dar mais dinheiro aos pobres para compensar a carestia.

Jurado de morte pelas circunstâncias, Wellington Dias foi às redes sociais como se estivesse cheio de vida: “Temos o privilégio, desde o primeiro dia de mandato, de contar com nossa querida Janja e toda sua energia. Fiz o convite e ela aceitou”, escreveu o ministro sobre a incorporação da primeira-dama à caravana que foi para Roma.

Não se pode dizer que Dias está no rumo certo. Mas a parceria com Janja coloca na contramão quem aposta na demissão do ministro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A que ponto chegamos… Chega ser deprimente. E com a mordomia da alegre comitiva de Janja em Roma, é assim que la nave va, cada vez mais fellinianamente. Basta pegar o trem, que a Cinecittá é logo ali. (C.N.)

Trump quer atordoar até obter submissão, nem que seja por cansaço

O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa no Café da Manhã Nacional de Oração no Capitólio, em Washington

Para obter submissão, Donald Trump se finge de louco

Dorrit Harazim
O Globo

Estão equivocados os analistas que, à falta de ferramenta mais adequada para explicar o método de poder performático usado por Donald Trump, recorrem à conhecida “teoria do louco”. Ela foi adotada por Richard Nixon em meados do século passado, quando os Estados Unidos já não conseguiam mais extricar-se do atoleiro militar no Vietnã. Nixon fora eleito presidente em 1968 e queria fazer chegar aos ouvidos dos comunistas de Hanoi e apoiadores no Kremlin que sua paciência tinha limites.

Segundo o livro de memórias de H.R. Haldeman, então chefe da Casa Civil, Nixon usou agentes e diplomatas para disseminar a ideia de ser irascível, homem de rompantes irracionais.

PEDIDO DE NIXON – Segundo o relato do próprio Haldeman, Nixon lhe disse: “Quero que os norte-vietnamitas pensem que farei qualquer coisa para acabar com a guerra, que tenho obsessão por comunistas, que ninguém pode me conter e que tenho uma mão no botão nuclear”.

Como se soube depois, os norte-vietnamitas realmente consideravam Nixon o líder capitalista mais perigoso do mundo, mas nem por isso aceitaram uma paz qualquer. Combateram até a vitória final.

Diferentemente de Trump, Nixon conhecia e respeitava a Constituição de seu país — por isso tentou esconder seus muitos malfeitos até ser obrigado a renunciar ao mandato. Como a maioria dos políticos americanos da época, Nixon também conhecia História e temia ser por ela condenado. Seus operadores agiam nas sombras.

ATROPELAR TUDO – O estilo Trump é outro: arrostar bem alto e de público. Se preciso, atropelando normas consolidadas ou algum artigo da mais antiga e codificada Constituição do mundo. Se preciso for, ele também recua meia quadra e dá dois saltos erráticos no dia seguinte. A ideia é atordoar até obter submissão, nem que seja por cansaço.

A Presidência dos Estados Unidos é um cargo de poder imenso, porém limitado.

— Trump nunca quis ser presidente, pelo menos não nos termos definidos no Artigo II da Constituição americana. Sempre quis ser rei — argumenta em podcast o jornalista Ezra Klein, do New York Times. E alerta: — Ele atua como rei porque é fraco demais para governar como presidente. Pretende substituir a realidade pela percepção e espera que a percepção se converta em realidade. Isso só pode acontecer se passarmos a acreditar.

MAIS ADEPTOS – Não faltam executores para esse reinado que prioriza propriedade sobre povo. Na semana passada, a confirmação pelo Senado de Russell Vought como chefe do Escritório de Planejamento e Orçamento (OMB) veio reforçar o elenco. Embora o OMB não seja percebido como decisivo nem cobiçado, é tudo isso e muito mais — quase um centro nervoso para a Presidência. Seu novo diretor é um dos arquitetos do famoso

“Projeto 2025”, cartilha ultraconservadora elaborada durante a campanha de Trump para a expansão do poder presidencial e a remodelagem das instituições federais.

Vought define o OMB como uma espécie de “sistema de controle aéreo da Presidência”. Deverá atuar com poder suficiente para se impor às burocracias existentes.

NACIONALISMO CRISTÃO – Também é de Vought, umbilicalmente ligado à Heritage Foundation, a convicção de ser preciso promover o “nacionalismo cristão” nos Estados Unidos. A separação de Estado e Igreja, argumenta ele, não deveria separar o cristianismo de sua influência no governo e na sociedade americana. Escancarada está, assim, uma vasta e perigosa porteira.

O que é um país?, indaga o historiador Timothy Snyder, intérprete essencial para estes tempos obscuros. Em 2017, pouco depois da primeira eleição de Trump, ele publicou às pressas um livrinho de 125 páginas que cabia em qualquer bolso — “Sobre a tirania: vinte lições do século XX para o presente”. Virou best-seller.

No ano passado, pouco antes de o mesmo Trump reeleger-se, publicou uma extensa meditação sobre o significado da liberdade (“On Freedom”, ainda sem tradução) para o ser humano.

DIZ SNYDER – “Um país”, responde o próprio Snyder em sua página digital, “é a forma pela qual o povo se governa. E os Estados Unidos existem como país porque o povo elege quem faz e executa as leis”.

Ele anda alarmado com a lógica da destruição já impressa por Washington desde o 20 de janeiro.

“Os oligarcas não têm plano de governo. Tomarão o que podem e inutilizarão o resto. Não querem controlar a ordem existente. É da desordem que seu poder relativo se alimenta”, afirma Timothy Snider.

DEFORMAÇÕES – Não estão preocupados com o fato de os Estados Unidos terem expectativa de vida mais baixa entre os países desenvolvidos, o mais alto índice de assassinatos, a maior mortandade por overdose, a maior disparidade de renda num universo ampliado na pesquisa da Universidade Tulane — abaixo apenas de El Salvador, República Dominicana e Lituânia.

O que é um país? É a forma pela qual o povo se governa. Às vezes, eleições bastam para colocar o país em marcha. Outras, é preciso repensar o próprio significado de povo, de sociedade. “E isso significa falar, agir, combater”, escreve Snyder.

Por ora, os sinais vitais dessa resistência ainda não se recuperaram do choque. Talvez a capa da revista Time com Elon Musk em pose presidencial acorde os interessados

Bolsonaro elogia Hugo Motta e defende “uma anistia humanitária”

O ex-presidente Jair Bolsonaro no aeroporto de Brasília em janeiro passado

Bolsonaro pede que Deus continue iluminando Hugo Motta

Jeniffer Gularte
O Globo

O ex-presidente Jair Bolsonaro enviou uma mensagem a aliados neste sábado elogiando a postura do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e pedindo que Deus “continue o iluminando”. Na sexta-feira, Motta afirmou que os atos de 8 de janeiro não foram uma tentativa de golpe e defendeu que não haja “exagero” na punição aos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“Que Deus continue iluminando o nosso presidente Hugo Motta, bem como pais e mães voltem a abraçar seus filhos brevemente. Essa anistia não é política, é humanitária”, escreveu o ex-presidente. A mensagem foi revelada pela “Folha de S. Paulo” e confirmada por O Globo.

DISSE MOTTA – Em entrevista à rádio Arapuan FM, de João Pessoa, o parlamentar afirmou que 8 de janeiro não teve um líder nem apoio de instituições interessadas para que pudesse chamar de golpe.

— Foi uma agressão às instituições, uma agressão inimaginável, ninguém imaginava que aquilo pudesse acontecer. Querer dizer que foi um golpe? Golpe tem que ter um líder, golpe tem que ter uma pessoa estimulando, apoio de outras instituições interessadas, como as Forças Armadas. E não teve isso. Ali foram vândalos, baderneiros, que queriam demonstrar sua revolta achando que aquilo ali poderia resolver talvez com o não prosseguimento do mandato do presidente Lula— disse Motta.

SEM EXAGERO – O presidente da Câmara também defendeu que não haja “exagero” nas punições contra os condenados do 8 de janeiro, em relação a pessoas que não cometeram “atos de tanta gravidade”.

—Você não pode penalizar uma senhora que passou na frente lá do Palácio, não fez nada, não jogou uma pedra e recebe 17 anos de pena para regime fechado. Há um certo desequilíbrio nisso. Nós temos de punir as pessoas que foram lá que quebraram que depredaram, essas pessoas sim, precisam e devem ser punidas para que isso não aconteça novamente. Mas entendo que não dá para exagerar no sentido das penalidades com quem não cometeu atos de tanta gravidade” — complementou Motta.

SOBRE ANISTIA – Em entrevista ao Globo, Motta afirmou que a proposta que trata sobre a anistia dos condenados, em tramitação no Congresso, é de difícil consenso e que o tema cria tensão com o STF e Executivo.

—Não podemos inaugurar o ano legislativo gerando mais instabilidade. Teremos de, em algum momento, em diálogo com o Senado, combinar como faremos com esse tema. Vamos sentindo o ambiente na Casa. Não faremos uma gestão omissa. Enfrentaremos os temas, mas com responsabilidade e sem tocar fogo no país—disse.

Ele afirmou ainda que pautar o projeto não foi condição imposta pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para que o seu partido, o PL, apoiasse sua eleição para a presidência da Câmara, mas ele pediu que não houvesse empecilho para sua tramitação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nada de novo no front ocidental. Como os leitores da Tribuna estão cansados de saber, a anistia está sendo preparada para entrar no forno. No Congresso, a grande maioria é a favor. Somente o PT, o PCdoB e o PSOL são radicalmente contra, embora Lula seja ardoroso defensor (nos bastidores, claro). Mas isso vai durar pouco, porque Lula logo sairá do armário. E como diz Marta Suplicy, se o estupro é inevitável, relaxa e goza. Comprem pipocas, a política brasileira é cada vez mais divertida. (C.N.)

Nova oportunidade para regular as redes sociais será desperdiçada

Charge do Duke: redes sociais são terra de ninguém? - Rádio Itatiaia

Charge do Duke (Rádio Itatiaia)

Demétrio Magnoli
Folha

As ditaduras buscam o controle dos grandes meios de comunicação. Trump resolveu imitá-las, estabelecendo uma aliança entre a Casa Branca e as plataformas globais de Musk e Zuckerberg. O evento reativa, no Brasil, o debate sobre a regulação das redes (anti)sociais. Na nova legislatura, o governo Lula tentará avançar algum projeto regulatório.

Do ponto de vista puramente intelectual, é fácil delinear os princípios de uma regulação democrática das redes:

CRIME E OPINIÃO – Só é crime nas redes o que é crime fora das redes. Liberdade de expressão não é um direito absoluto.

Seu limite são os crimes de palavra definidos em lei: incitação direta à violência contra instituições, grupos sociais ou indivíduos, difusão da pedofilia, práticas de calúnia, injúria e difamação.

Opinião —boa, ruim ou deplorável— não é crime. As vozes “progressistas” (PT, PSOL, sacerdotes identitários, até juízes e jornalistas!) almejam proibir o “discurso de ódio”, o “discurso antidemocrático” e a “desinformação”, expressões subjetivas cujas traduções oscilam de acordo com posições ideológicas. É desejo de censurar o rival.

SEM ANONIMATO – Responsabilidade do usuário precisa ser total. Na democracia, não há anonimato. rEstá lá, no artigo 5º da Constituição: “É livre a expressão do pensamento, vedado o anonimato”.

As redes devem fornecer nome e RG de usuários acusados de crimes. São eles —os usuários— os primeiros responsáveis por crimes cometidos em suas postagens.

Sobre a responsabilidade das plataformas, vale a regra geral dos veículos de imprensa, nos casos de postagens impulsionadas ou monetizadas.

CORRESPONSÁVEIS – Jornais, impressos ou eletrônicos, são corresponsáveis por crimes de palavra que disseminam. As plataformas, porém, ao contrário dos jornais, não escolhem os autores de seus textos.

Só devem ser judicialmente responsabilizadas por aquilo que seus algoritmos decidem impulsionar ou por postagens monetizadas. Tais “exceções” abrangem a maior parte do tráfego nas redes —e os crimes de extenso impacto social.

E deve haver checagem factual. A mentira precisa ser identificada. “Trump venceu Biden em 2020” (Trump) —isto é falso, factualmente. “A Venezuela é uma democracia” (Lula) —isto é falso, politicamente. Nenhuma das duas afirmações deve ser censurada, mas só cabe assinalar a primeira como inverdade, pois a segunda é uma (reveladora) opinião.

SEM POSSIBILIDADE – As plataformas não têm meios para checar dezenas de milhões de postagens. Basta checar as que alcançam ampla circulação, em magnitude definida por especialistas. “A Terra é plana e Elvis Presley não morreu” —quem se importa com a mentira que embala apenas seitas de idiotas?

O dilema não é intelectual, mas exclusivamente político. O governo, com seu cortejo de “progressistas”, acalenta o sonho autoritário de disciplinar o discurso —ou seja, moldar as mentes.

Na ponta oposta, o extremismo de direita enxerga as redes como ferramentas para quebrar as mediações institucionais da democracia —e opera em aliança com “libertários” fanatizados e políticos cujo horizonte não ultrapassa a próxima campanha eleitoral. O projeto foi congelador porque o governo não desiste da censura e uma parcela decisiva do Congresso não abre mão do faroeste. Agora, surge uma nova oportunidade, que será desperdiçada.

Lula está vendendo vento, não há novas medidas para cortar gastos

Em entrevista, Lula afirma que vai dialogar com produtores sobre inflação dos alimentos — Agência Gov

Lula continua a ser um excelente vendedor de ilusões

Adriana Fernandes
Folha

Vende vento no governo quem fala de um revival de medidas de contenção de gastos para diminuir o tamanho do congelamento de despesas no Orçamento. Medidas de corte de gastos são mais do que bem-vindas, mas requentar o que já foi discutido não agrega credibilidade.

É falsa a ideia de que há novas medidas para ajudar no primeiro bloqueio de gastos a ser feito no início do ano. Não há tempo.

FALSAS PROMESSAS – O mais incrível é vender velhas medidas como se fossem novas, quando nem se materializou o pacote fiscal de dezembro passado. A regulamentação do pacote não saiu. Esse deveria ser o foco, não afiançar falsas promessas.

Uma regulamentação robusta das medidas aprovadas pode dar uma sinalização positiva. Quanto mais dura ela for, mais efeito terá ao longo do ano.

É o caso do aperto nas normas já anunciadas do BPC, benefício para idosos e pessoas com deficiência. Não há medida nova, mas a sua regulamentação.

REVISÃO CADASTRAL – Há um longo trabalho de revisão cadastral a ser feito no BPC. A situação é complicada e o problema está fora de controle, como reconhecem os técnicos que trabalham na regulamentação.

A gestão do programa tem dificuldades e pouca vontade política de fazer os ajustes necessários.

É natural que tenha gente na área econômica que queira mostrar que está tentando novas medidas, fazendo a sua parte. Mas só expõe o governo e irrita o presidente Lula, desgastando o ambiente para uma discussão futura. Tem que resolver primeiro em casa e não ficar alimentando expectativa.

CORTE DE DESPESAS – Lideranças do Congresso também vendem vento quando cobram corte de despesas. Politicamente, uma nova rodada de discussão de medidas fiscais é uma arapuca para o ministro Fernando Haddad. É caminho para desgaste.

Os líderes parlamentares poderiam começar o ano aprovando a regulamentação dos supersalários sem desidratação.

O escândalo dos casos de penduricalhos incorporados aos salários, divulgados nas últimas semanas e que passam por cima do teto do funcionalismo, causa indignação na população sem sensibilizar o Congresso.

Os homens mais ricos abandonam as crianças mais pobres do mundo

Americanos protestam contra desmantelamento da agência de desenvolvimento internacional

É inconcebível que Trump e Musk desconheçam a USAID

Nicholas Kristof
The New York Times

O homem mais rico do mundo está se gabando de destruir a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que salva a vida das crianças mais pobres do mundo, dizendo que a jogou “no triturador de madeira”.

Pelos meus cálculos, Elon Musk provavelmente tem um patrimônio líquido maior do que o dos bilhões de pessoas mais pobres da Terra. Desde a eleição de Donald Trump, a fortuna pessoal de Musk cresceu muito mais do que todo o orçamento anual da USAID – que, de qualquer forma, representa menos de 1% do orçamento federal.

ATITUDE MÍOPE – É insensível que bilionários como Musk e o presidente Trump cortem o acesso de crianças a medicamentos; mas, como destacou o presidente John F. Kennedy ao propor a criação da agência em 1961, essa também é uma atitude míope.

Cortar a ajuda, observou Kennedy, “seria desastroso e, a longo prazo, mais caro”. Ele acrescentou: “Nossa própria segurança estaria em perigo e nossa prosperidade ameaçada”.

Talvez seja por isso que a Rússia elogiou a decisão de Trump.Ao contrário de Kennedy, o governo Trump combina crueldade, ignorância e visão de curto prazo, e essa mistura parece particularmente evidente em seu ataque à assistência humanitária americana.

SURTO DE EBOLA – Uma pessoa já morreu de gripe aviária nos Estados Unidos, e cresce a preocupação com uma pandemia – no entanto, a suspensão da ajuda externa por Trump interrompeu a vigilância da gripe aviária em 49 países, de acordo com o Global Health Council, uma organização sem fins lucrativos dos EUA.

Lembra do pânico americano com o surto de Ebola na África Ocidental em 2014? (Trump foi particularmente histérico na época.) No fim, uma pandemia de Ebola foi evitada – em parte graças ao trabalho da USAID na Guiné, Libéria e Serra Leoa.

Acontece que outro surto de Ebola foi relatado recentemente em Uganda, com 234 casos identificados até agora. Normalmente, a USAID ajudaria a conter a doença – mas agora Trump e Musk desativaram a agência.

VÍRUS MARBURG – Outra febre hemorrágica, chamada vírus Marburg, surgiu na Tanzânia no mês passado. Trabalhadores humanitários estão correndo para conter o vírus; mas Trump fez com que os Estados Unidos se ausentassem, tornando o mundo um pouco mais vulnerável.

Uma informação: em 2012, a USAID criou alguns jogos educativos para a Índia e a África com base em um livro que minha esposa e eu escrevemos, “Half the Sky”. A USAID não nos pagou nada por isso, e os jogos fizeram um bom trabalho ao promover a desparasitação, a educação de meninas e a gravidez segura.

Já vi a USAID operar em todo o mundo, e há um quadro misto. É justo criticar a agência por ser excessivamente burocrática e pelo fato de que grande parte da ajuda vai para empresas americanas contratadas, em vez de diretamente para os necessitados no exterior.

PURA INVENÇÃO! – No entanto, não há base para o mito da Casa Branca de que a USAID é um reduto de desperdício “woke”, refletido na alegação de Trump de que a agência gastou cerca de “US$ 100 milhões em preservativos para o Hamas” (ele dobrou sua alegação anterior de US$ 50 milhões).

Cada preservativo masculino custa ao governo dos EUA US$ 0,33, o que daria três bilhões de preservativos. Pelos meus cálculos, para o Hamas usar tantos preservativos em um ano, cada combatente teria de fazer sexo 325 vezes por dia, todos os dias.

Isso talvez eliminasse o Hamas como força de combate de forma mais eficaz do que os bombardeios israelenses. De qualquer forma, o valor real da assistência dos EUA gasta em preservativos para Gaza nos últimos anos parece ter sido não US$ 100 milhões, mas zero.

IMPRUDÊNCIA TOTAL – As políticas de Trump são tão imprudentes quanto sua retórica. Eu apoiaria uma reestruturação da USAID, mas isso não é uma reestruturação, e sim uma demolição – um golpe contra nossos valores e interesses.

Musk atacou a USAID, chamando-a de “uma organização criminosa”. Na realidade, muitos de seus funcionários arriscaram suas vidas na melhor tradição do serviço público. O Memorial Wall da USAID homenageia 99 pessoas mortas enquanto trabalhavam para a agência em locais como Sudão, Haiti, Afeganistão e Etiópia.

Ao longo dos anos, vi melhorias genuínas na USAID. Sua parceria público-privada para combater o envenenamento por chumbo, anunciada no ano passado, foi um exemplo de liderança americana. E, a partir das minhas viagens, isso é o que a USAID passou a significar para mim:

VI MUITA COISA – Vi mulheres e meninas com fístula obstétrica, uma lesão horrível causada pelo parto, receberem uma cirurgia de US$ 600 que lhes devolve a vida — algo que a USAID apoia.

Vi homens humilhados pela elefantíase, com escrotos grotescamente aumentados, às vezes precisando de um carrinho de mão para sustentar seus órgãos enquanto andam. E a USAID combateu essa doença e a tornou menos comum.

Vi crianças morrendo de malária (e eu mesmo tive malária), e também vi a USAID ajudar a alcançar grandes avanços contra a doença nas últimas duas décadas.

E VI TAMBÉM… – Vi o sul da África devastado pela AIDS. E então, o programa histórico do presidente George W. Bush contra a AIDS, chamado PEPFAR e implementado em parte por meio da USAID, transformou a realidade.

Vi fabricantes de caixões no Lesoto e no Malaui reclamarem que seus negócios estavam em declínio porque muito menos pessoas estavam morrendo. O PEPFAR já salvou 26 milhões de vidas até agora.

Vi o sofrimento de comunidades onde pessoas de meia-idade frequentemente ficam cegas devido ao tracoma, à cegueira dos rios ou às cataratas — e a transformação quando a USAID ajuda a prevenir essa cegueira.

ZOMBAR DA USAID – Trump zombou da USAID, dizendo que ela era “administrada por lunáticos radicais”. É loucura radical tentar salvar a vida de crianças? Promover a alfabetização de meninas? Combater a cegueira?

Se isso é ser “woke”, e quanto aos cristãos evangélicos da International Justice Mission, que, com o apoio da USAID, fizeram um trabalho excepcional no combate ao tráfico sexual de crianças no Camboja e nas Filipinas?

Trump acredita que resgatar crianças do estupro é uma causa de lunáticos radicais?

ILEGALIDADE – As medidas de Trump têm legalidade incerta, principalmente porque a USAID foi criada pelo Congresso, mas seus impactos são indiscutíveis. Para bilionários na Casa Branca, isso pode parecer um jogo. Mas, para qualquer pessoa com um coração, trata-se da vida de crianças e da nossa própria segurança — e o que está acontecendo é revoltante.

Em todo o mundo, crianças já estão ficando sem assistência médica e alimentos por causa do ataque à agência que Kennedy fundou para defender nossos valores e proteger nossos interesses.

Em breve, tentarei calcular quantas vidas serão perdidas devido aos cortes impostos por Trump.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O pior são as pessoas que desconhecem os trabalhos da USAID, acreditam que se trata de uma rede de espionagem do capitalismo e aplaudem a diabólica perversidade de figuras nefastas como Musk e Trump, que nasceram um para o outro. (C.N.)

Derrapada de Lula sobre inflação não é apenas problema de marketing

Alta dos preços: Lula diz que inflação de alimentos deve ser solucionada em  breve

Como não sabe o que fazer, Lula então começa a embromar

Fabiano Lana
Estadão

A gestão de Sidônio Palmeira como ministro da propaganda do governo Lula 3 parece ter o vício da frivolidade cibernética que marca o espírito de nossos tempos. Aparentemente haverá mais atenção a vídeos tiktokers com o presidente, bonés com slogans edificantes, descontração e até mesmo trilhas sonoras de fundo.

Mas está longe de tocar nas feridas que têm como consequência os problemas de popularidade da gestão.

ENORMES DESAFIOS – Sidônio tem alguns desafios que talvez nem as mais modernas técnicas de comunicação do mundo conseguirão enfrentar a contento. O primeiro é que o País está cindido.

Há uma torcida apaixonada e muitas vezes irracional a favor ou contra líderes políticos com traços populistas. O amor a um é exatamente proporcional à repulsa ao outro. Traduzindo: quem gosta de Lula não gosta de Bolsonaro e vice-versa.

É algo que tem a ver com afetos, com necessidade de ter um líder a seguir (quase) cegamente, e outras coisas das profundezas da alma humana que é de difícil tratamento superficial. Enfim, como falar para todo mundo e não apenas com a turma que pensa igual?

DURA REALIDADE – O outro desafio é algo chamado realidade. Termos como real, verdade, ou correlatos são de difícil definição. Mas podemos provisoriamente chamar de real como a barreira que impede de realizar nossas fantasias – pessoais, profissionais, amorosas, e, no caso, políticas.

Que comunicação pode dar conta de um problema que incomoda tanto como a inflação de alimentos? Talvez nenhuma. A não ser que os preços voltem a se tornar estáveis.

Mas aí temos outra questão que Sidônio está lidando agora. O conceito de economia do PT mistura certo negacionismo quanto às limitações da economia com propostas que são intrinsecamente inflacionistas – como por exemplo o crescimento econômico a partir da expansão do Estado, mesmo que por meio de déficits públicos.

SEM PRIORIDADE – Quando há mais de 30 anos o PT votou contra o Plano Real foi mais do que picuinha de oposição. Combater inflação, o que exige contas equilibradas, de certa maneira nunca foi uma prioridade do petismo.

Não é à toa que o maior inimigo do Brasil para tantos é o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que aumentava os juros com o intuito oficial de derrubar os preços.

Talvez por conhecer bem sua turma que Lula – sempre às voltas com contradições e ambiguidades – colocou como presidente do Banco Central em seus dois primeiros governos um banqueiro internacional tucano.

LEMBREM DILMA – No governo Dilma Rousseff, quando, pela primeira e única vez, houve consonância entre ministro da Fazenda e presidente do Banco Central com o pensamento tradicional do petismo sobre economia, a consequência foi uma das maiores crises de todos os tempos.

A fala de Lula em que traz uma visão cândida sobre inflação – em que pede para nós escolhermos os produtos mais baratos, o que aliás sempre fazemos, foi apenas uma recaída da visão tradicional do petismo sobre economia.

O problema – muito mais do que ter-se tornado uma estratégia de comunicação – é que, quando a tese do PT sobressai, a história nunca acaba bem.

O que esperar de Hugo Motta, que não considera ter havido golpe?

O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara, afirmou que 8 de Janeiro ‘não foi tentativa de golpe’. Declaração reforça duas perguntas: quem é o verdadeiro Hugo Motta? E o que esperar dele?

“Não há golpe sem tanques nas ruas”, diz Hugo Motta

Eliane Cantanhêde
Estadão

O ministro Alexandre de Moraes errou no julgamento dos primeiros réus, quando disse que, ao contrário do que “o terraplanismo e o negacionismo obscuro” propagam, o 8 de janeiro não foi um “domingo no parque”, como se aquelas pessoas “tivessem comprado ingresso para o Hopi Hari ou a Disney”. Erradíssimo, pelo menos para o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta. “Não foi golpe!”, declarou ele. Logo, foi o quê? Um domingo no parque, ou melhor, um sábado no parque?

O presidente da Câmara decretou que o ministro do STF está equivocado e o ministro do STF pode incluir o presidente da Câmara entre os terraplanistas e negacionistas obscuros.

PERTO DO JULGAMENTO – Durma-se com um barulho desses, enquanto o Supremo, Moraes à frente, se prepara para o julgamento, não mais de quem estava lá, mas dos donos e funcionários do parquinho. Perto disso, Hopi Hari e Disney não têm graça nenhuma.

A declaração do deputado, que tem 35 anos e obteve apoio do PT ao PL, reforça duas perguntas que não querem calar: afinal, quem é o verdadeiro Hugo Motta e o que esperar dele, que agora tem até a caneta do impeachment de presidentes da República à mão? (Ninguém acha que ele tocaria a cassação de Lula, mas a informação é apenas para exemplificar a dimensão do cargo.)

Ao visitar Lula no Planalto com Davi Alcolumbre, depois das posses de ambos no Congresso, Motta levou junto a avó, Francisca, que foi prefeita de Patos (PB) e, assim como o atual prefeito, pai do deputado, teve um vice petista. Francisca foi logo dizendo: “Lula, eu sempre votei em você, desde 1989!”. Roubou a cena, foi uma festa.

SÃO LULISTAS? – Então, os Motta são de esquerda e lulistas? E Hugo, o menino prodígio? Escolhido a dedo para a presidência da Câmara por Arthur Lira, ele é do Republicanos de Tarcísio Gomes de Freitas e enveredou pela política nacional pelas mãos de Eduardo Cunha, que deflagrou e comandou o impeachment da petista Dilma Rousseff, com apoio cotidiano e entusiasmado do jovem deputado paraibano.

A pergunta seguinte é: quem vai se decepcionar primeiro com o novo presidente da Câmara, Lula e o PT ou Jair Bolsonaro e a oposição?

Agradar aos dois lados parece missão impossível. No início, tudo são flores. Depois, a corda bamba, ora para um lado, ora para o outro, até que a corda arrebenta. Esse momento tende a ser no debate sobre a anistia para os do parquinho, ou durante o próprio julgamento dos seus donos e funcionários.

ANISTIA PREVENTIVA – Como “advogado e jurista”, o presidente do Republicanos disse à Rádio Eldorado que não existe anistia preventiva, mas para condenados. Assim, a intenção é empurrar com a barriga e ver como é que fica.

Aí, entra a segunda parte da declaração de Hugo Motta sobre o 8 de janeiro: as penas que ele considera excessivas e sem gradação. Citou até as senhoras no parquinho naquele sábado. (Coitadas, passaram dias nos quartéis pedindo golpe e contavam com tanques nas ruas, mas no 8/1 só estavam cuidando dos netinhos levados…)

REVISÃO DAS PENAS – Ironias à parte, hoje, a anistia é improvável, pela avalanche de provas e o acesso da população a elas, mas alguma revisão das penas é possível, como já diziam desde o início ministros do STF de lados opostos.

Ou seja, como tudo na política e nas delicadas fronteiras entre política e justiça, há muita negociação e diferentes gradações, mas uma coisa é certa: os rumos dependem da força de Lula e da recuperação do governo.

Até para que possamos saber quem, afinal, é Hugo Motta. Alcolumbre, todos já conhecemos muito bem.

Lula erra na comunicação ao transferir ao consumidor a culpa pela inflação

Charge da Semana – Inflação no leite

Charge do Babu (Estância de Guarujá)

Dora Kramer
Folha

Não há boné que dê jeito na comunicação do governo se o presidente da República é o primeiro a contrariar o preceito básico do bom diálogo: fazer do interlocutor um aliado.

Pois Lula (PT) foi na contramão da regra ao transferir ao consumidor a responsabilidade de controlar os preços dos alimentos mediante a troca de produtos e/ou recusa de comprar os mais caros. Como se não andassem todos pela hora da morte.

DEU ERRADO – Caso a ideia tenha sido atrair a sociedade para um combate conjunto à inflação, a execução saiu torta. De duas, uma: falhou o conselheiro e novo mago da Esplanada, Sidônio Palmeira, ou falhou o presidente em sua confiança nos improvisos.

A fala soou mal, por insensível. A culpa pode ser do dólar alto, das enchentes, da seca, dos juros, do desprezo aos avisos sobre o risco inflacionário do desapreço ao controle de gastos, mas da população é que não é.

Considerando que o povo não é bobo, como dizia o velho slogan de protestos, as pessoas hão de perceber a jogada e rejeitar a parceria numa situação que cabe ao poder por elas constituído resolver. Lá atrás, quando da edição do Plano Real, houve a convocação geral à colaboração, mas a partir de uma solução objetivamente apresentada pelo governo.

PALAVRAS E FATOS – Aqui, a impressão é oposta, a de que o governo quer tirar o corpo fora. O presidente vem a público compartilhar indignação com a carestia (termo usado pelo PT quando era oposição) e diz que “assim não é possível”, acreditando que suas palavras têm o dom de se sobrepor aos fatos.

O truque é gasto. No entanto, o presidente insiste na fórmula vencida também quando traz de volta a figura de Roberto Campos Neto para responsabilizá-lo pela inflação que o então titular do Banco Central buscou conter, com a anuência do sucessor indicado por Lula, na alta dos juros.

Se quiser mesmo recuperar a confiança dos brasileiros, e daí a popularidade, convém ao mandatário fazer jus à delegação recebida nas urnas e começar por assumir suas responsabilidades. Sem falácias, transferências ou maquiagens.

Mudanças climáticas indicam: o homem é um bicho pequeno destruindo a Terra

Charge: Mudanças Climáticas - Blog do AFTM

Charge do Cazo (Blog do AFTM)

Ailton Krenak
Folha

Avista-se daqui, neste início do século 21, um horizonte que nos interroga acerca da curta, mas acidentada viagem da nave humana no planeta, que avança feito cabra-cega sobre o ecossistema terrestre, feito astronauta perdido em Marte que ainda não encontrou água.

Apesar dos anúncios cheios de expectativa, água assim, na superfície, somente no planeta azul. Água que brota das fontes e abraça as águas que descem do céu em pura simbiose criadora de vida alimentando o organismo Terra, essa sim, nave-mãe de incontáveis organismos vivos: só aqui.

QUANTO AINDA TEMOS? – Nossos biólogos contemporâneos estão se debruçando no horizonte tomados pela seguinte pergunta: quanto planeta ainda temos? Pois a biologia é uma ciência da vida, que não poderia seguir refém do pensamento utilitário (que andou sequestrando o campo das ciências). Ela ocupa-se do organismo vivo, que nós humanos também integramos dentro da teia da vida.

Menos de três décadas nos elevaram à marca de 1,5 ºC sobre o limite do clima viável no planeta. Lembremos que, até década de 1990, ou seja, anteontem, ainda havia a possibilidade de manobrarmos as nossas escolhas, como humanidade, para contar com o clima necessário à manutenção da diversidade biológica dessa nave-mãe, mas perdemos a chance.

PASSOU DA HORA – Perdemos a ocasião de trabalhar a favor da teia da vida, com as condições necessárias para restaurar os ecossistemas danificados.

Com a perda da diversidade e da base resiliente dos muitos organismos da Gaia, chegamos rápido à condição de mitigação de danos. Essa é a nossa realidade global hoje, alcançando todos os continentes e tornando a base natural de reprodução da vida insustentável.

Sustentabilidade tornou-se um lema corporativo, descolado da condição material necessária à produção da vida em abundância.

É fato que a base de resiliência dos sistemas da vida para todos os seres mudou, mesmo que o animal sapiens insista em progredir em sua fúria cartesiana, prospectando futuros.

DIZIA NIEMEYER – Como menciona o mestre Oscar Niemeyer: “A força da inteligência do ser humano, que nasceu animal, outro animal qualquer, hoje pensa e, daqui a pouco, está andando entre as estrelas, está conversando com os outros seres que estão por essas galáxias. […] Sou otimista que o mundo pode melhorar, mas o ser humano, não.”

O mestre que fez da vida um labor incessante de criar mundos possíveis nada esperava desse animal que teve origem com todos os outros e que, dentro do ciclo evolutivo, “deu de pensar”.

Esse humano, que se divorciou da teia da vida, precisa escapar da ilusão do ego narcisista e experimentar, no dizer do poeta Carlos Drummond de Andrade, “a viagem de si a si mesmo” ao “pôr o pé no chão do seu coração”. Somos enfim, bicho pequeno da Terra.

Governistas atacam Hugo Motta, por não achar que chegou a haver golpe

8 de Janeiro: Um ano depois, o que pensam os brasileiros sobre o ataque e o  papel de Bolsonaro – Política – CartaCapital

Os manifestantes realmente queriam intervenção federal

Leonardo Ribbeiro
da CNN

O novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em entrevista a uma rádio da Paraíba, disse que “um golpe tem que ter um líder, tem que ter uma pessoa estimulando”, assinalando que não houve isso. Por isso, acredita que não foi uma tentativa de golpe o que ocorreu no Brasil no início de 2023.

Reclamou também do rigor das penas aplicadas a pessoas que estavam na Praça dos Três Poderes, sem evidências de que tenham tomado atitudes agressivas.

SENADORA REAGE – A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) usou as redes sociais para rebater a afirmação do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de que não houve tentativa de golpe.

“Como relatora da CPMI posso atestar categoricamente: após 5 meses de investigação, de receber centenas de documentos e de ouvir dezenas de testemunhas, houve tentativa de golpe e o responsável por liderar esses ataques tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro”, escreveu.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), fez coro ao que disse a senadora: “O 8 de janeiro foi a última tentativa deles. Os comandantes do Exército e da Aeronáutica não aceitaram entrar naquela trama. O que eles queriam no dia 8 de janeiro? Aquilo foi organizado e planejado, porque eles queriam que o Lula decretasse uma GLO”, afirmou.

NEGACIONISMO – O deputado Rogério Correia (PT-MG) também reagiu aos comentários de Hugo. “Dizer que o bolsonarismo não tentou um golpe contra a democracia é de um negacionismo inaceitável”, afirmou o petista.

“Para ganhar uma eleição pode-se fazer promessas, mas nunca atos que coloquem em risco a democracia. Só podemos discuti-la hoje porque o golpe de Jair Messias Bolsonaro fracassou perante ao poder das nossas Instituições. Esse discurso não combina com lideranças que emergiram na democracia e que só exercem seu poder graças ao povo. Ainda estamos aqui, vigilantes”, escreveu no X.

Hugo Motta, porém, disse que no 8 de Janeiro o que havia eram “vândalos e baderneiros que, com inconformidade com o resultado das eleições, queriam demonstrar a sua revolta achando que aquilo ali poderia resolver”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Fica claro de que lado está o novo presidente da Câmara. As condenações foram excessivas e muitas delas até não tiveram base legal, mas é óbvio que os manifestantes tentaram provocar o golpe. Moraes exagerou na dose, foi um erro, porque juiz não pode ser revanchista. Sob esse ponto de vista, Hugo Motta está correto. O assunto é importantíssimo e vamos voltar a ele. (C.N.)

Em meio à crise econômica, eis que surge o famoso cantor Gusttavo Lima

Empresa cobra R$ 30 milhões de Gusttavo Lima na Justiça | Metrópoles

Gusttavo Lima acha que poderá dar um jeito no Brasil

Vinicius Torres Freire
Folha

A política politiqueira do Brasil volta devagar das férias, além do mais ofuscada pela reestreia do circo sinistro de Donald Trump. A propaganda de Lula 3 está sob nova administração. O acontecimento mais importante se deu na política virtual ou memeológica, a revolta do Pix.

As redes sociais de Lula agora são mais animadinhas e gente do governo usa a cabeça para vestir uma versão do bonezinho trumpista. O presidente tenta não criar caso com o Banco Central. Diz que a Petrobras faz o que quiser com os preços. Fala de “responsabilidade fiscal”. Não é bem assim, mas é melhor do que causar sururu contraproducente gritando o contrário. Afinal, como diz o próprio Lula, 2026, a campanha eleitoral, já começou. Tem até pesquisa.

PESQUISA BOA – Dado o nível menos do que medíocre de aprovação do governo, o resultado da pesquisa Quaest foi bom para o lulismo. Lula tem em torno de um terço dos votos. Seus adversários têm algo em torno de 12% em quase todas as situações.

No segundo turno, Lula tem de 41% a 45%. Derrotaria Gusttavo Lima (35%) e Eduardo Bolsonaro (PL), Pablo Marçal (PRTB) e Tarcísio de Freiras (Republicanos), todos com 34%, entre os mais cotados.

Mais de um terço vota em quase qualquer nome da direita sociomidiática ou bolsonarista a fim de derrotar Lula (são quase 43% dos “votos válidos”). Lima e Marçal valem quase quanto pesam Eduardo e Tarcísio.

JOGOS HABITUAIS – A revolução cultural e política continua, pois. Pode ter mais impulso a depender do destino de Trump, de direitas em ascensão no mundo e até de Javier Milei.

O que vai ser desse cenário depende mais dos jogos habituais da política nacional. O que será de Jair Bolsonaro? Em tese, deve haver o julgamento do processo da tentativa de golpe de 2022-23 e a concomitante ação da bancada da anistia.

 A política politiqueira e a elite econômica ainda estão desorientadas. Ao longo de 2023, houve tentativa de ricos de colocar Tarcísio na ribalta. O plano não embalou pela dificuldade de calcular o risco que ainda é enfrentar Lula e até pela indefinição do que será dos Bolsonaro.

MAIS DÚVIDAS – Como Lula vai acomodar o centrão no governo (e como vai fazer para pagar emendas, pelas novas regras e com menos dinheiro)? Com qual resultado? Vai apenas evitar danos ou conseguirá um mínimo de articulação com vistas a 2026?

Há a “economia”, o que quer dizer várias coisas. Será muito difícil reduzir o desgosto com a inflação. Em cinco anos, o preço dos alimentos subiu mais (pouco mais de 60%) do que o salário (pouco mais de 40%), achatando o restante do poder de compra, em especial o dos mais pobres (metade do país).

Sob Lula, até o início de 2024, essa distância começava a diminuir (a inflação anual da comida caía então a 0, o salário médio aumentava perto de 4% ao ano). A coisa desandou ao longo do ano passado.

ECONOMIA LERDA – Para 2025, a previsão é de que a inflação de alimentos desacelere pouco; o salário médio vai crescer mais devagar, com economia mais lerda. Hum.

Lula pode conseguir aprovar a isenção de IR de quem ganha até R$ 5mil por mês sem causar tumulto fiscal e seus efeitos colaterais graves, mas é incerto até se tal sucesso vai conseguir virar muitos votos naquela classe média majoritariamente direitista.

São assuntos que devem ter efeito no prestígio de Lula, em sua candidatura e na organização da direita da política politiqueira. Mas Gusttavo Lima vem aí, seja como for.

Hugo Motta mostra que vai ajudar Bolsonaro a ser elegível em 2026

Quem é Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados | Política | Valor  Econômico

Motta vai pautar o projeto que pode anistiar Bolsonaro

Caio Junqueira
CNN Brasil

Bastou menos de uma semana para que Hugo Motta passasse — de esperança do Palácio do Planalto para melhorar o diálogo com a Câmara — para esperança da oposição de tornar Bolsonaro elegível em 2026.

Os sinais vieram de duas formas. Uma, quando o novo presidente da Câmara questionou a tese bancada pelo Supremo de que o 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe, abrindo, portanto, caminho para um debate sobre a anistia que pode vir a beneficiar Bolsonaro.

DIREITOS POLÍTICOS – O outro sinal foi dado por Hugo Motta quando questionou o tamanho da punição de oito anos de inelegibilidade para condenados em segunda instância — justamente o caso de Bolsonaro —, e que bolsonaristas tentam diminuir para dois anos, abrindo espaço para que seu nome possa estar na urna eletrônica em 2026.

Um líder do Centrão certa vez me disse que, para tornar Bolsonaro elegível, bastariam 24 horas. Agora, Hugo Motta, logo após assumir a presidência da Câmara, mostra que isso pode ser possível.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Desde sempre se sabia que o acordo para eleger Hugo Motta abrangia a colocação em pauta do projeto de anistia ao 8 de janeiro, nele incluindo os golpistas civis e militares, como o próprio Bolsonaro. O autor do projeto é Sóstenes Cavalcante, novo líder do PL na Câmara, que já começou a pressionar Motta, com a maior sem-cerimônia. O próximo passo é formar a comissão, criada por Arthut Lira. Assim como Lula, Bolsonaro também quer ser “descondenado”. (C.N.)

Trump dissemina o caos e se torna uma ameaça à democracia mundial

Trump ameaça Putin: “Pare com esta guerra ridícula” | CNN Brasil

Atual estratégia de Trump é semear o medo e o pânico

Jamil Chade
do UOL

Em menos de 20 dias, Donald Trump se lançou numa operação de captura do estado, aliado a oligarcas e ao movimento cristão radical. Assinou decretos inconstitucionais, fechou instituições democráticas, promoveu a censura, desmobilizou recursos, chantageou funcionários públicos e criou um clima de pânico entre os segmentos mais vulneráveis do país.

Só as cortes ainda resistem, enquanto Trump sabe que pode contar com o silêncio no Congresso.

UMA AUTOCRACIA – O republicano chegou ao poder pelas urnas. Mas seu compromisso com a democracia terminou ali, rabiscando com pressa os contornos de uma “autocracia eleitoral”.

Reveladora foi a sentença de John Coughenour, juiz federal, que derrubou uma das medidas de Trump. “Ficou cada vez mais evidente que, para nosso presidente, o Estado de direito é apenas um impedimento para seus objetivos políticos. O Estado de direito é, segundo ele, algo para navegar ou simplesmente ignorar, seja para ganho político ou pessoal”, escreveu.

Como um tsunami que destrói de forma meticulosa cada construção pode onde passa, seu governo desembarcou com uma ofensiva sofisticada: a da disseminação do caos como estratégia política.

CLIMA DE MEDO – Suas falas permeadas de ódio e mentiras jogaram comunidades inteiras a um sentimento de medo. Nos últimos dias, encontrei imigrantes que deixaram de mandar seus filhos para as escolas, com membros da comunidade LGBT que temem sair às ruas, com grupos que passaram a ter pesadelos pelas noites e pelos dias.

O que se vive, em muitos rincões dos EUA, é um trauma. Nada disso é fruto de um improviso. Ao gerar um clima de incerteza, ruptura e medo, Trump semeia o caos como método para causar a desorientação de qualquer tipo de resistência e da organização de trincheiras contra o desmonte do estado de direito.

Enquanto o caos e a passividade imposta são as realidades, pelo menos por enquanto, o que Trump faz é a promoção de profundas transformações.

DOUTRINA DO CHOQUE – Estamos diante do que Naomi Klein já descreveu como “a doutrina do choque”. Ou seja, o uso sistemático do caos para abrir espaço para mudanças radicais, enquanto a sociedade está buscando formas de encontrar coerência para resistir. Uma política que explora os limites cognitivos do ser humano.

A estratégia ainda revela que Trump e seus aliados não chegaram ao poder desarmados. Vieram com um novo projeto de país e de sociedade.

Enquanto o caos é o novo normal, a extrema direita cavalga destemida na captura do estado. Hoje, a democracia americana está sob seu maior ataque. E precisamos aprender as lições para 2026.

Trump tenta fechar a Usaid, maior instituição humanitária do mundo

O que é a USAID e porque Trump quer destruir a a maior agência de  assistência internacional do mundo – Mundo – CartaCapital

Militantes humanitários protestam para salvar a Usaid

Deu na Folha
Reuters

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, determinou o fechamento da Usaid, a agência de ajuda externa americana, em uma publicação em sua rede social, a Truth Social.  “A Usaid está deixando a esquerda radical louca, e não há nada que eles possam fazer a respeito, pois a forma como o dinheiro foi gasto, grande parte de forma fraudulenta, é totalmente inexplicável. A corrupção está em níveis raramente vistos antes. Fechem-na!”, escreveu, reiterando afirmações que até aqui não foram comprovadas.

A publicação ocorre em meio a uma ofensiva contra a agência. Principal órgão de ajuda humanitária de Washington, a Usaid apoiou iniciativas em 160 países em 2023, mas tem sido um dos principais alvos de um programa de redução de custos liderado pelo bilionário Elon Musk, agora membro do governo, à frente do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), feito sob medida para ele.

10 MIL AFASTADOS – Pouco antes da postagem de Trump, a agência de notícias Reuters havia publicado, com base em um comunicado enviado a funcionários da entidade quinta-feira (6), que apenas 611 trabalhadores considerados essenciais continuariam em seus postos. Os cortes entrariam em vigor à meia-noite desta sexta.

O total é maior do que o número de 300 funcionários que seriam mantidos, relatado anteriormente à agência de notícias, mas ainda representa um corte drástico na equipe, que contava com mais de 10 mil trabalhadores.

O Doge, de Musk, não é um departamento propriamente dito, e sim uma equipe para buscar maneiras de cortar gastos federais e, em tese, é um órgão consultivo. Está claro, porém, que o bilionário empresário está concentrando poder.

BRIGA JUDICIAL – Uma ação judicial, porém, busca reverter a desmontagem agressiva da Usaid. O litígio busca ao menos uma ordem temporária e, posteriormente, permanente da Justiça para restaurar o financiamento do órgão, reabrir seus escritórios e bloquear novas ordens de dissolução.

Ainda nesta sexta-feira, o juiz distrital Carl Nichols, de Washington, disse que emitirá uma ordem —que ele mesmo chamou de “muito limitada”— para bloquear temporariamente os próximos passos do governo Trump no desmonte da agência.

Na prática, a liminar impede que cerca de 2.200 funcionários sejam colocados imediatamente em licença administrativa e suspende a realocação de trabalhadores humanitários alocados fora dos EUA.

JUÍZES REAGEM – Outras decisões de Trump neste mandato sofreram bloqueios na Justiça, como o decreto inconstitucional em que ele tenta limitar o direito à cidadania americana para pessoas que nasceram nos EUA e são filhos de imigrantes.

Também está paralisado por uma decisão liminar o plano de demissão voluntária apresentado aos servidores federais como um ultimato e ao qual cerca de 60 mil funcionários já manifestaram interesse em aderir.

O desmonte da Usaid está inserido em um enorme programa de cortes do governo Trump e também faz parte da política conhecida como “América Primeiro” de Trump, que ordenou um congelamento global na maior parte da ajuda externa dos EUA, impactando grupos humanitários de todo o mundo.

AÇÕES HUMANITÁRIAS – Hospitais de campanha em campos de refugiados na Tailândia e programas de distribuição de medicamentos para quem sofre de doenças como o HIV estão entre as iniciativas em risco, que incluem organizações brasileiras.

No ano fiscal de 2023, a Usaid gastou cerca de US$ 38,1 bilhões (mais de R$ 222 bilhões) em serviços de saúde, assistência a desastres e outros programas, o que representa menos de 1% do orçamento federal americano.

Musk já havia anunciado que o fim da Usaid poderia estar próximo. “É hora de ela morrer”, escreveu o dono do X em uma das muitas publicações em que colocou a agência como alvo central, inclusive chamando-a de criminosa.

MUSK DELIRA – O empresário comentou, por exemplo, um vídeo em que a Usaid é acusada de estar envolvida “em trabalhos sujos da CIA”, a agência de inteligência americana, e na “censura à internet”.

Também fez acusações disfarçadas de perguntas a seus 215 milhões de seguidores: “Sabiam que a Usaid, usando seus impostos, financiou pesquisas de armas biológicas, incluindo a Covid-19, que matou milhões de pessoas?”, questionou, sem apresentar evidências.

O site da Usaid chegou a ficar fora do ar no último sábado (1º). Voltou a ser acessível na terça-feira (4), mas com uma espécie de mensagem de despedida em que anunciava que a maioria dos seus cerca de 10 mil funcionários seria obrigada a tirar licença remunerada.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A Usaid é a mais importante instituição humanitária do mundo. Dizer que ela influiu em eleição no Brasil é Piada do Ano. Ao criticá-la com outras fake news, o contraditório Elon Musk exibe um caráter verdadeiramente sinistro. Ele abriu a boca para despejar um monte de mentiras sobre a Usaid. É lamentável que esteja ajudando Trump a errar, ao invés de acertar. (C.N.)  

Meirelles explica por que Lula criou esse “cenário desafiador”

O mercado financeiro e sua influência na ativação econômica, a visão  jurídica e institucional do Brasil e os reflexos na vida do país, e os  pilares da democracia: estas foram as pautas

Na Lide, Meirelles exibiu o tamanho do problema de Lula

Camila Pati
Veja

Se o presidente Lula continua sendo pragmático no campo da política, a sua atuação na área econômica está mais carregada de ideologia. Durante o Brazil Economic Forum, organizado pela empresa Lide, o ex-presidente do Banco Centra, Henrique Meirelles, destacou diferenças importantes entre os governos Lula 1 e 2 e o atual governo.

No primeiro mandato de Lula, houve uma política de maior disciplina fiscal, o que contribuiu para o controle da inflação e permitiu que a economia crescesse de forma sustentável, com média de 4% ao ano e a criação de 11 milhões de empregos.

POLÍTICAS COMPLEMENTARES – Ele lembrou que, na época, as políticas fiscal e monetária eram complementares, mesmo em um cenário de grande desconfiança inicial do mercado, com o dólar acima de R$ 7 e juros elevados para conter a inflação.

“No primeiro mandato de Lula, tivemos uma política fiscal mais restritiva, o que ajudou a controlar a inflação e sustentar o crescimento. Hoje, há uma política fiscal expansionista, o que cria um cenário diferente e pressiona os juros para cima.”

No segundo mandato, segundo Meirelles, também houve uma expansão fiscal mais significativa, mas o Banco Central conseguiu manter a inflação sob controle, o que ajudou o país a continuar crescendo.

AUTONOMIA DO BC – Esse equilíbrio, de acordo com ele, foi possível devido ao compromisso institucional firmado com Lula, que garantiu ao Banco Central autonomia para atuar de forma independente, mesmo sem uma legislação formal à época.

Meirelles apontou que o contexto atual é diferente e explicou que essa expansão fiscal é uma diferença estrutural fundamental em relação ao início dos anos 2000, quando o ajuste fiscal foi prioridade.

“Hoje existe expansão fiscal que não houve naquela época, são fatos”, disse Meirelles.

CENÁRIO DESAFIADOR – Apesar disso, o economista reconheceu que o pragmatismo de Lula continua presente, mas enfatizou que a combinação de política fiscal expansionista e juros elevados cria um cenário distinto e desafiador.

 Ele ressaltou que o Banco Central atual, com sua independência institucional garantida por lei, possui os instrumentos necessários para manter a inflação sob controle, mas ponderou que será necessário observar como o equilíbrio entre política fiscal e monetária será mantido nos próximos anos. “Vamos observar”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Se existe uma pessoa que faz falta nesse governo, chama-se Henrique Meirelles, que presidiu o Banco Central nos primeiros mandatos. Na época, como Lula e Palloci nada entendiam de economia, quem comandava o circo era Meirelles, que se saiu muito bem. Foi dele a iniciativa de criar o teto de gastos, para evitar que a dívida pública arrebentasse a boca do balão, como está acontecendo agora, quando o país está gastando R$ 1 trilhão por ano no pagamento da rolagem. Volta, Meirelles, volta! (C.N.)

Trump quer se vingar do FBI por investigar o ataque ao Capitólio

El memo secreto sobre el FBI en español - Infobae

Em 2022, o FBI fez buscas na casa de Trump na Flórida

Deu na Folha
Ag. Reuters

Após dias de resistência, o chefe interino do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, entregou ao Departamento de Justiça uma lista com os nomes de funcionários da agência que trabalharam em investigações relacionadas à invasão do Capitólio, de acordo com uma mensagem vista pela agência de notícias Reuters.

Emil Bove, ex-advogado de defesa do presidente Donald Trump que agora ocupa um cargo sênior no Departamento de Justiça, havia exigido as informações do FBI como parte do que ele chamou de revisão de má conduta em torno das investigações, que resultaram em quase 1.600 casos criminais contra apoiadores de Trump —que receberam perdão assim que o novo presidente assumiu.

VAI DEMITIR – Em entrevista nesta sexta (7), Trump disse que demitirá “alguns funcionários do FBI” por envolvimento com corrupção. “Conheci muito sobre esse mundo, e tivemos alguns agentes corruptos, e essas pessoas já se foram, ou irão embora, e isso será feito rapidamente e de forma muito cirúrgica”, afirmou.

Na terça-feira, agentes do FBI entraram com um processo para bloquear a divulgação pública desses nomes. Milhares de agentes, analistas e outros funcionários participaram da grande investigação sobre o ataque ao Capitólio, uma das maiores da história do Departamento de Justiça.

Durante audiência nesta sexta, o governo Trump fez um acordo temporário em que, por ora, concordou em não nomear publicamente os agentes envolvidos nas investigações do 6 de Janeiro.

ACORDO JUDICIAL – Aprovado por um juiz federal, o acordo impede a divulgação dos nomes até pelo menos o final de março, enquanto as ações judiciais de dois grupos de agentes do FBI seguem adiante. Se o governo decidir em algum momento divulgar as identidades dos agentes, será necessário dar aos autores da ação um aviso com dois dias de antecedência.

“Este é um passo importante na direção certa para proteger aqueles que nos protegem —os agentes do FBI que dedicaram suas carreiras para manter o Estado de Direito e defender nosso país”, disse Natalie Bara, presidente da Associação de Agentes do FBI, em comunicado.

A disputa sobre a lista se tornou um ponto de tensão, já que o FBI busca proteger sua independência durante um esforço do governo Trump para remover ou marginalizar funcionários que trabalharam em investigações condenadas pelo presidente americano.

INSUBORDINAÇÃO – Brian Driscoll, diretor interino do FBI, havia resistido a um pedido pelos nomes, levando Bove a acusá-lo de insubordinação. Um documento que a agência entregou no início desta semana listava os agentes apenas por seus números de identificação de funcionário.

Driscoll disse aos funcionários do FBI que a lista mais recente, que inclui os nomes dos agentes, foi entregue usando um sistema confidencial e identificado como “sensível à aplicação da lei” para proteger a segurança dos funcionários, de acordo com um e-mail a que a Reuters teve acesso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Não somente Trump está agindo como se fosse insano, como também arranjou outros malucos para colocar no hospício, digo, governo americano. Ele quer se vingar do FBI por dois motivos: a prisão dos invasores do Capitólio e a busca em sua casa de Mar-A-Lago, na Flórida. Mas Trump não pode demitir os agentes, porque os policiais têm estabilidade. Se forem demitidos, é um prêmio, porque entram na Justiça para receber elevadas indenizações. (C.N.)

Velocidade na desaceleração da economia brasileira intriga os analistas

OTC: o que é, como funciona e qual o nível de segurança desse mercado?

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Ana Paula Vescovi
Folha

O contágio da economia real pela piora das condições financeiras tem sido tema central nas preocupações de diversos agentes. Os dados recentes mais fracos na indústria, no varejo, nos serviços e na confiança e no mercado de trabalho formal acenderam um alerta. As condições financeiras piores expressam a alta dos juros reais e do dólar e a queda das ações e das commodities e exercem pressão contracionista sobre a atividade econômica.

No Brasil, essas condições estão apertadas desde meados de 2022 e voltaram a piorar no último trimestre do ano passado, alcançando nível ainda mais deteriorado do que o observado na crise de 2014-2016.

HÁ ATENUANTES – Apesar disso, alguns fatores devem atuar como atenuantes. A desaceleração ao longo de 2025 tende a ser gradual, com impactos mais proeminentes sobre 2026.

Um crescimento entre 1,5% e 2% em 2025, com surpresas baixistas nas projeções do mercado, é o mais provável, o que representa desaceleração importante em relação ao período pós-pandemia, cuja expansão média esteve acima de 3% ao ano.

O primeiro elemento de sustentação para esse resultado é a produção agrícola, que deve ser beneficiada por mais um ano de volume recorde na safra de grãos e alta de 10% ou mais na produção agro. O setor, mais uma vez, tende a gerar não apenas o impacto direto no PIB mas também efeitos secundários via agroindústria e serviços (transportes, armazenagem) relacionados.

CONDIÇÕES FAVORÁVEIS – Outros componentes —embora com desaceleração contratada à frente— tendem a se beneficiar de condições cíclicas favoráveis no início do ano.

O mercado de trabalho segue com a taxa de desemprego próxima às mínimas históricas, com a continuidade da tendência recente de ganhos salariais reais (4% no ano) e a resiliência da taxa de desligamentos voluntários nas máximas históricas.

Ambos são sinais de aquecimento do mercado de trabalho. Esse comportamento tende a ser fator de sustentação da demanda a curto prazo, por meio do consumo das famílias, um dos destaques no crescimento dos últimos anos.

VISÃO DE RESILIÊNCIA – Usualmente, o mercado de trabalho é uma das últimas variáveis a responder a reversões de ciclo, o que reforça essa visão de resiliência a curto prazo.

Um fator de sustentação é o calendário de transferências governamentais no primeiro semestre, com concentração do pagamento de precatórios, antecipação do 13º de aposentados e pensionistas do INSS.

Do lado da oferta, a falta de capacidade ociosa poderá conter a expansão de algumas atividades, e os investimentos cíclicos sempre são os mais sensíveis aos juros altos.

EM OUTRAS ÁREAS – Contudo, setores exportadores (beneficiados pelo aumento da produção e câmbio depreciado), com compromissos regulatórios ou com ciclo mais longo de investimentos, ainda tendem a apresentar fôlego ao longo dos próximos meses.

Os exemplos são construção civil, óleo e gás (com forte atuação governamental) e setores regulados da infraestrutura, ainda que o impacto negativo dos juros altos venha a ser mais relevante a partir dos próximos anos.

No crédito, é razoável esperar desaceleração de concessões em razão do aumento do custo de captação (juros) e do maior risco de inadimplência, o qual tende a ser menos impactante devido a um sistema bancário mais provisionado. Dúvidas remanescem sobre os impactos no mercado de capitais em 2025.

OUTRAS CONDIÇÕES – Ainda assim, a diferença entre as novas concessões e os pagamentos (impulso para atividade) deve ser neutra ou próxima ao crescimento do PIB. Lembrando que, no ano passado, ainda que sob condições financeiras restritivas, o impulso de crédito foi de 5% do PIB!

Subsídios e fundos garantidores no crédito para micro e pequenas empresas, além dos ganhos de eficiência na indústria financeira, são exemplos de mitigadores da transmissão da política monetária para o crédito.

Os riscos passam a se acumular a partir do segundo semestre e, sobretudo, para 2026. A essa altura, os efeitos positivos do setor agrícola terão se dissipado, uma vez que a expansão tende a ser concentrada nas safras de verão do início do ano. O mercado de trabalho deve acentuar a desaceleração, com efeitos negativos sobre a demanda, ao mesmo tempo que os estímulos fiscais sazonais se reduzem.

MEADOS DO ANO – Assim, os efeitos mais intensos do aperto monetário e, sobretudo, do choque de juros iniciado em dezembro tendem a ser sentidos plenamente pela atividade econômica em meados do ano. Se, por um lado, o início de 2025 ainda conta com elementos de sustentação do crescimento, por outro os riscos de desaceleração mais acentuada ficariam em 2026.

Entretanto, vale lembrar, o próximo ano contará com os usuais gastos eleitorais, na União e nos estados. Nesse quesito, os impulsos de natureza fiscal poderão ser acompanhados do aumento da aversão a risco no financiamento da dívida pública, que crescerá dois dígitos acima do PIB no final do período 2023 a 2026.

Em contexto de economia ainda sobreaquecida e expectativas desancoradas, vemos um longo caminho até que essa desaceleração cause impacto suficiente para que a inflação volte à meta, o que reforça a necessidade de manutenção de políticas contracionistas por mais tempo. O custo social do controle da inflação já está sendo mais alto.

Surpresa! Moraes libera redes sociais bloqueadas do influenciador Monark

O podcaster Monark conduz entrevista

Monark, blogueiro bolsonarista, passou 2 anos bloqueado

Sarah Teófilo
O Globo

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou nesta sexta-feira o desbloqueio dos perfis de redes sociais do influenciador Monark.

O magistrado pontuou que no atual momento da investigação, “não há necessidade da manutenção dos bloqueios determinados nas redes sociais”, e que basta a exclusão das “postagens ilícitas” que fomentaram a decisão judicial.

AMEAÇA DE MULTA – Com isso, Monark retomou 20 contas, incluindo do Telegram e X. O ministro ressaltou que caso haja novas publicações que atentem contra as instituições democráticas, haverá multa diária de R$ 20 mil.

As contas do influenciador começaram a ser bloqueadas em 2023. Em agosto, por exemplo, Moraes bloqueou perfis em cinco redes – Instagram, no Telegram, no Twitter, no Discord e no Rumble.

“Torna necessária, adequada e urgente a interrupção de eventual propagação dos discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática, mediante bloqueio de contas em redes sociais”, afirmou o ministro em sua decisão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– O que teria acontecido? Parafraseando o “Soneto de Natal”, de Machado de Assis: “Mudaria o Natal, mudei eu ou foi o ministro Moraes que mudou?” (C.N.)