O sonho genial de Egberto Gismonti que o projetou pelo mundo

Egberto Gismonti - Wikipedia

Gismonti tem um estilo todo pessoal

Paulo Peres
Poemas & Canções

O produtor musical, arranjador, instrumentista e compositor Egberto Amin Gismonti, natural de Carmo (RJ), na letra de “O Sonho”, viajou pelas maravilhas existentes no espaço até acordar para a realidade. A música foi gravada por Elis Regina no LP Elis – Como e Porque, em 1969, pela Philips. O sucesso foi tamanho que projetou Gismonti no exterior e ele fez carreira na Europa. 

O SONHO
Egberto Gismonti

Sinto que ora salto
Meu foguete some
Queimando espaço
Tudo vejo e abraço
A vaidade
Estou morando em pleno céu
Namorando o azul

Ando no espaço rouco
Meu foguete some
Deixando traços
Entre estrelas vejo
A liberdade
Fotografo todo céu
E revelo paz

Busco cores e imagens
Faltam pássaros e flores
Coração na mão
Corpo solto estou
Entre estrelas
Vou deitar neste luar
Indo de encontro ao riso
Do quarto minguante

E o sol queimando
A pele branca
Despertando, vejo a cama
E meu amor
Acordado estou
Choro, choro, choro….

Cecilia Meireles não plantava lembranças, porque traziam tristeza demais  

Não seja o de hoje. Não suspires por... Cecília Meireles - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, jornalista e poeta carioca Cecília Meireles (1901-1964), no poema “Plantaremos Estes Arbustos”, diz que após alguns anos darão flor e fruto, mas não plantaremos jardins de amor, nem plantaremos lembranças porque, imediatamente, acarretam tristeza, saudade e lágrimas.

PLANTAREMOS ESTES ARBUSTOS
Cecília Meireles

Plantaremos estes arbustos
que darão flor apenas
daqui a três anos.

Plantaremos estas árvores
que darão fruto um dia,
mas só depois de dez anos.

Não plantaremos jardins de amor,
porque imediatamente
abrem tristeza e saudade.

Não plantaremos lembranças
porque estão desde já e para sempre
carregadas de lágrimas.

Com a simplicidade dos puros, assim a genial Cora Coralina enfrentava a vida

Cora Coralina: frases e fotos marcantes da poetisa brasileiraPaulo Peres
Poemas & Canções

A poeta Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1880-1985), nasceu em Goiás Velho. Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano, conforme o belo poema “Assim eu vejo a vida”, no qual aceitou as contradições como lições para aprender a viver.

ASSIM EU VEJO A VIDA
Cora Coralina

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa.
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria.

Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes.
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo.
Aprendi a viver.

O roteiro do tempo de Lya Luft é escrito junto com seu destino

Vou procurar um amor bom para mim - no... Lya Luft - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora aposentada, escritora, tradutora e poeta gaúcha Lya Fett Luft (1938-2021), no poema “Não Sou Areia” afirma que, junto com o seu destino, escreve o roteiro para o palco do seu tempo.

NÃO SOU AREIA
Lya Luft

Não sou areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
não sou apenas a pedra que rola
na marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.

Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou mistério.

A quatro mãos escrevemos o roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.

As profecias cibernéticas de Gilberto Gil, viajando pela internet em 1997

Gilberto Gil AoVivo - Pela Internet 21 Anos

Cartaz do show de Gil em 1997

Paulo Peres
Poemas & Canções

O grande compositor e cantor Gilberto Gil profetizou na música “Pela Internet”, composta em 1997, gravada no CD Quanta, pela WEA, o que seria o mundo cibernético hoje em dia, visto que a letra objetiva basicamente uma comunicação com o mundo, utilizando várias ferramentas que a cibernética dispõe para fazer a grande viagem na web.

Atualmente, isso pode parecer simples e banal, porém na época em que a música foi lançada, o conhecimento cibernético era uma verdadeira revolução.

PELA INTERNET
Gilberto Gil

Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje …

Que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante
Da infomaré
Que leve um oriki
Do meu velho orixá
Ao porto de um disquete
De um micro em Taipé…

Um barco que veleje
Nesse infomar
Que aproveite a vazante
Da infomaré
Que leve meu e-mail lá
Até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer
Aihê! Aihê! Aihê!…

Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tiétes
De Connecticut
Eu quero tá na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tiétes
De Connecticut…

De Connecticut de acessar
O chefe da Mac
Milícia de Milão
Um hacker mafioso
Acaba de soltar
Um vírus prá atacar
Programas no Japão…

Eu quero entrar na rede
Prá contactar
Os lares do Nepal
Os bares do Gabão…

Que o chefe da polícia
Carioca, avisa
Pelo celular
Que lá na praça Onze
Tem um video-poquer
Para se jogar…

Jogar ah! ah! ah!…
Ah! ah! ah!
Jogar ah! ah!…
Connect show! Connect show!
Connect show! Connect show!
Connecticut, Connecticut
Connecticut…

Autodefinição poética de Décio Pignatari, sempre criativo e revolucionário

G1 - Poeta Décio Pignatari morre aos 85 anos em São Paulo - notícias em Pop & Arte

Pignatari, um poeta surpreendente

Paulo Peres
Poemas & Canções

O publicitário, ator, professor, tradutor, ensaísta e poeta paulista Décio Pignatari (1927-2012) autodefiniu-se nos versos de seu “Eupoema”.

Décio Pignatari<br/>Beba Coca-Cola, 1957 - Disciplina - Arte###
EUPOEMA

Décio Pignatari

O lugar onde eu nasci nasceu-me
num interstício de marfim,
entre a clareza do início
e a celeuma do fim.

Eu jamais soube ler: meu olhar
de errata a penas deslinda as feias
fauces dos grifos e se refrata:
onde se lê leia-se.

Eu não sou quem escreve,
mas sim o que escrevo:
Algures Alguém
são ecos do enlevo.

Na poesia de Dante Milano, o falso amor é tão forte que acaba sendo verdadeiro

FCO-1159 - Retrato de Dante Milano | Obras | Portinari

Milano, retratado pelo amigo Portinari

Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta Dante Milano (1899-1991), nasceu em Petrópolis (RJ), é um dos poetas representativos da terceira geração do Modernismo. Em “Poema do Falso Amor”, Milano mostra a diferença entre o falso e o verdadeiro amor, para questionar: Qual dos dois é o verdadeiro?

POEMA DO FALSO AMOR
Dante Milano

O falso amor imita o verdadeiro
Com tanta perfeição que a diferença
Existente entre o falso e o verdadeiro 
É nula. O falso amor é verdadeiro
E o verdadeiro falso. A diferença
Onde está? Qual dos dois é o verdadeiro?

Se o verdadeiro amor pode ser falso
E o falso ser o verdadeiro amor,
Isto faz crer que todo amor é falso
Ou crer que é verdadeiro todo amor.
Ó verdadeiro Amor, pensam que és falso!
Pensam que és verdadeiro, ó falso Amor!

A fuga da pomba asa branca, anunciando que a seca chegou no sertão

ARQUIVO MARCELO BONAVIDES - Estrelas que nunca se Apagam - : RELEMBRANDO O COMPOSITOR HUMBERTO TEIXEIRA

Asa Branca foi gravada em 1947 por Gonzagão

Paulo Peres
Poemas & Canções

 O sanfoneiro, cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga do Nascimento (1912-1989), o popular Rei do Baião, compôs em parceria com o advogado, compositor e poeta cearense Humberto Cavalcanti Teixeira (1915-1979) a toada “Asa Branca”, um dos maiores clássicos da MPB, cuja letra traz uma visão romântica, poética e realista do cenário do Nordeste brasileiro.

A seca, que por ser muito intensa, obriga o seu povo a migrar, assim como as aves também, a exemplo da asa branca, que é um tipo de um pombo (columba picazuno) que quando bate asa do sertão anuncia a seca. 

Essa música foi composta em 1947, a seca castigava o sertão, fazendo aflorar o êxodo rural. Em 1947, Luiz Gonzaga gravou a toada “Asa branca”, pela RCA Victor, foi um de seus maiores sucessos e uma das músicas mais conhecidas e veneradas da música popular brasileira, regravada dezenas de vezes ao longo das décadas.

ASA BRANCA
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Um samba genial de Ismael Silva, baseado num pedido de Pixinguinha

IMMuB | Artista - Ismael Silva

Ismael Silva, a elegância do sambista

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor Ismael Silva (1905-1978), nascido em Niterói (RJ), para fazer a letra de “Antonico”, inspirou-se em uma carta de Pixinguinha para Mozart de Araújo, na qual o maestro pedia ao amigo um emprego para o sambista em dificuldade. O samba “Antonico” foi gravado por Alcides Gerardi, em 1950, pela Odeon.

ANTONICO
Ismael Silva

Ô Antonico
Vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Ele está mesmo dançando na corda bamba
Ele é aquele que na escola de samba
Toca cuíca, toca surdo e tamborim
Faça por ele como se fosse por mim

Até muamba já fizeram pro rapaz
Porque no samba ninguém faz o que ele faz
Mas hei de vê-lo bem feliz, se Deus quiser,
E agradeço pelo que você fizer

Viver não dói, o que dói é a vida que não se consegue viver

Emilio Moura e Drummond, grandes amigos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, professor e poeta mineiro Emílio Guimarães Moura (1902-1971) no poema “Canção” afirma que viver não dói, exceto aquilo que não foi vivido.

CANÇÃO
Emílio Moura

Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.

Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.

Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.

Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.

Que tudo o mais é perdido

Como nascem as manhãs para aquela menina que corria ao vento…

Flora Figueiredo - a poética da vivência | Templo Cultural Delfos

Flora Figueiredo, poeta paulista

Paulo Peres
Poemas & Canções

A tradutora, cronista e poeta paulista Flora Figueiredo mergulha no silêncio da noite para nos mostrar como nascem as manhãs daquela menina, na sua poética visão.

COMO NASCEM AS MANHÃS
Flora Figueiredo

O fundo dos olhos da noite
guarda silêncios.
Esconde na retina
a menina que corre descalça
em campo aberto.

Pálpebras cerradas,
a noite emudece.
A menina com medo
faz um furo no escuro
 com a ponta do dedo.

Cai um pingo de luz.
Amanhece.

A inesquecível palhoça de J. Cascata não tem igual no mundo…

ARQUIVO MARCELO BONAVIDES - Estrelas que nunca se Apagam - : ORLANDO SILVA  CANTA J. CASCATA E LEONEL AZEVEDO

J. Cascata, grande seresteiro carioca

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Álvaro Nunes (1912-1961), conhecido por J. Cascata, expressa na letra de “Minha Palhoça” um bonito, bucólico e romântico convite para a pessoa amada. Este samba de breque foi gravado pela primeira vez por Sylvio Caldas, em 1935, pela Odeon.

MINHA PALHOÇA
J.
Cascata

Se você quisesse
Morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira
Cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada 
Abençoar nossa união

Tem um cavalo
Que eu comprei em Pernambuco
E não estranha a pista
Tem jornal, lá tem revista
Uma kodak para tirar nossa fotografia
Vai ter retrato todo dia
Um papagaio que eu mandei vir do Pará
Um aparelho de rádio-batata
E um violão que desacata

Meu Deus do céu que bom seria..
Se você quisesse
Morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira
Cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada 
Abençoar nossa união

Tem um pomar
Que é pequenino,
É uma teteia
É mesmo uma gracinha
Criação, lá tem galinha
Um rouxinol
Que nos acorda ao amanhecer
Isso é verdade pode crer
A patativa
Quando canta faz chorar
Há uma fonte na encosta do monte
A cantar chuá-chuá…     

A chuva lava a cidade e molha os olhares que seguiam a poesia

Soneto | Ana Cristina Cesar | Sonoridade LiteráriaPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, tradutora e poeta carioca Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) é considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo (ou poesia marginal) da década de 1970. O poema “Chove” descreve uma tarde chuvosa e, enquanto a cidade se lava, no coração da poeta passava a chuva dos olhares que a seguiam.

CHOVE
Ana Cristina Cesar

A chuva cai.
Os telhados estão molhados,
Os pingos escorrem pelas vidraças.
O céu está branco,
O tempo está novo.
A cidade lavada.
A tarde entardece,
Sem o ciciar das cigarras,
Sem o jubilar dos pássaros,
Sem o sol, sem o céu.
Chove.
A chuva chove molhada,
No teto dos guarda-chuvas.
Chove.
A chuva chove ligeira,
Nos nossos olhos e molha.
O vento venta ventado,
Nos vidros que se embalançam,
Nas plantas que se desdobram.
Chove nas praias desertas,
Chove no mar que está cinza,
Chove no asfalto negro,
Chove nos corações.
Chove em cada alma,
Em cada refúgio chove;
E quando me olhaste em mim,
Com os olhos que me seguiam,
Enquanto a chuva caía
No meu coração chovia
A chuva do teu olhar.

Preste atenção, o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos, tão mesquinho…

Cartola e Beth Carvalho, parceria fundamental para o samba (Foto: arquivo pessoal)

Beth Carvalho fez a primeira gravação

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Agenor de Oliveira (1908-1980), mais conhecido como Cartola, considerado por diversos músicos e críticos como o maior sambista da história da música brasileira, ao compor “O Mundo é um Moinho” originou algumas discussões sobre o significado da letra.

Segundo alguns críticos, Cartola teria feito essa música para sua enteada, filha de Dona Zica, que teria o propósito de sair de casa para se prostituir. Ao ouvir os versos escritos pelo mestre, percebe-se o quão plausível pode ser essa versão da lenda. Contudo, há quem defenda que a letra seja mesmo para a enteada, mas motivada por uma decepção amorosa dela.

O samba “O Mundo é um Moinho” foi gravado por Beth Carvalho e depois por Cartola.

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O MUNDO É UM MOINHO
Cartola

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

Em determinadas fases da vida, os solavancos do amor nos fazem reagir

Vicente Limongi Netto – JpRevistas

Limongi mora em Brasilia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta amazonense Vicente Limongi Netto, radicado há anos em Brasília, expõe tudo o que acarreta “Os Solavancos do Coração”, diante de certos acontecimentos cotidianos que nos levam a reagir.

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SOLAVANCOS DO CORAÇÃO
Vicente Limongi Netto
O sol é forte
o mar sublinha
a vida acelera
o namoro constrói
o beijo alimenta
o pulmão fraqueja
o olhar perturba
o vento amarga
o menino sorri
o viajante sonha
a vida não descansa
o pássaro corteja
os cabelos ardem
o humor acentua
a fuga é sombria
adormece desafios
sou áspero
o ódio apodrece
e eu enterro sombras.

Suassuna e a juventude eterna de quem era contra a morte…

Eu digo sempre que das três virtudes... Ariano Suassuna - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O dramaturgo, romancista e poeta paraibano Ariano Vilar Suassuna (1927-2014) explica, sob a forma de soneto, as razões que o levavam a nunca envelhecer.

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ABERTURA SOB PELE DE OVELHA
Ariano Suassuna

Falso Profeta,Insone, Extraviado,
Vivo, Cego, a sondar o Indecifrável:
e, jaguar da Sibila – inevitável,
meu Sangue traça a rota desse Fado.

Eu, forçado a ascender, eu, Mutilado,
busco a Estrela que chama, inapelável.
E a pulsação do Ser, fera indomável,
arde ao Sol do meu Pasto – incendiado.

Por sobre a Dor, Sarça do Espinheiro
que acende o estranho Sol, sangue do ser,
transforma o sangue em Candelabro e Veiro.

Por isso, não vou nunca envelhecer:
com meu Cantar, supero o Desespero,
sou contra a Morte e nunca hei de morrer.

O dilema do poeta Antonio Cícero, em busca da profundidade de sua alma

Minha vida se tornou insuportável', escreveu Antonio Cicero antes de  suicídio assistido; leia carta completa | Cultura | cbn

Cicero era membro da Academia de Letras

O filósofo, escritor, compositor e poeta carioca Antonio Cícero Correa de Lima (1945-2024) reconhece, em poucos versos, ter um dilema existencial que o confundia bastante.

DILEMA
Antonio Cícero

O que muito me confunde
é que no fundo de mim estou eu
e no fundo de mim estou eu.
No fundo
sei que não sou sem fim
e sou feito de um mundo imenso
imenso num universo
que não é feito de mim.
Mas mesmo isso é controverso
se nos versos de um poema
perverso sai o reverso.
Disperso num tal dilema
o certo é reconhecer:
no fundo de mim
sou sem fundo.

Fiquem atentos aos primeiros sinais do que está para acontecer conosco 

Como Você Sabe Que Está no Caminho Certo? | Sinais de Que Você Está no Caminho Certo - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

O administrador de empresa e poeta carioca Marcos Fernandes Monteiro, conhecido como Coquito, na letra de “Contagem Regressiva”, parceria com Johnny do Matto, personifica-se de profeta e alerta para os primeiros sinais. A música “Contagem Regressiva” foi gravada por Johnny do Matto no CD Parcerias, em 2009, produção independente.

CONTAGEM REGRESSIVA
Johnny do Matto e Cokito

Fique atento aos primeiros sinais
Movimentos celestes
A chegada das pestes
Mensagens astrais

Fique atento aos primeiros sinais
Caso a lua se vá
Sem querer mais voltar
E o sol também for
E levar seu calor

Fique atento aos primeiros sinais
Só restará uma prece
E é bom que se apresse
Pois a estrela cadente
Desce incandescente
Anunciando a matança

Mas ainda há esperança
Na força de um grito
Que leve ao infinito
Toda a redenção
De um novo ser humano
Em um novo plano
Através da lição
Em um novo mundo
Na recriação

Augusto dos Anjos desafiava quem pudesse domar um coração de poeta

Se algum dia o amor vier me procurar,... Augusto dos Anjos - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, professor e poeta paraibano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) admitia que seu coração era ”Vencedor”, porque ninguém pode domar um coração de poeta.

VENCEDOR
Augusto dos Anjos

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração – estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,
Nenhum pode domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois de um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem…
E não pude domá-lo, enfim, ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!

Nos olhos da amada, um grande momento do poeta Augusto Frederico Schmidt

Augusto Frederico Schmidt – poemas

Schmidt criava um galo de estimação em casa 

Paulo Petes
Poemas & Canções

O poeta, editor, diplomata e empresáriio carioca Augusto Frederico Schmidt (1906-1965) revela que um grande momento acontecia romanticamente para ele, quando seus olhos conseguiam entrar pela noite fresca dos olhos da amada.

O GRANDE MOMENTO
Augusto Frederico Schmidt

A varanda era batida pelos ventos do mar.
As árvores tinham flores que desciam para a
morte, com a lentidão das lágrimas.
Veleiros seguiam para crepúsculos com as
asas cansadas e brancas se despedindo,
O tempo fugia com uma doçura jamais de
novo experimentada
Mas o grande momento era quando os meus
olhos conseguiam
entrar pela noite fresca dos seus olhos…