Eleitor precisa lembrar quem votou para aprovar a PEC da Bandidagem

Pec da blindagem. Charge de Orlando Pedroso para a newsletter desta  quarta-feira (17). A democracia brasileira nunca foi garantida: foi  construída, conquistada e, recentemente, desafiada. Pela primeira vez, os  responsáveis por uma

Charge de Orlando Pedroso (Arquivo Google)

Vicente Limongi Netto

Hora dos eleitores isentos e vigilantes colocarem na carteirinha do título de eleitor a lista com os nomes das excrescências engomadas que votaram na Câmara dos Deputados pela aprovação da PEC deles. Ou seja, a PEC da Bandidagem. Se lambuzaram de pouca vergonha.

Cretinos e cretinas que esquecem que foram eleitos para zelar e cuidar dos pleitos que melhorem a qualidade de vida da coletividade. A sociedade dará o troco nas urnas, para essa camarilha imunda e desprezível.  O voto é a mais digna e expressiva arma do cidadão. Palmas para o Senado por repudiar e jogar no lixo a imoral canalhice.  

RESPEITO A GÉRSON -Com toda admiração que tenho ao conteúdo jornalístico do Estadão, lamentei que o jornal tenha desenterrado a desprezível “Lei de Gérson”, que desmerece o eterno craque Gérson Nunes pelo medonho pecado de ter feito, há mais de 60 anos, um comercial de cigarro (editorial – Estado- 27/09- “Alguém tem vergonha na cara”).

Gérson, perto dos 85 anos de idade, é cidadão decente, amado pelos torcedores,  exemplar chefe de família, respeitado comentarista de futebol e criador do Instituto Canhotinha de Ouro, que cuida, em Niterói, Rio de Janeiro,  de centenas de crianças e adolescentes. com futebol, ensino, alimentação e saúde.

Quanto ao editorial em si, endosso os aplausos dirigidos ao promotor de justiça aposentado, Jairo de Luca, por recursar no contracheque um infame, indecente e imoral penduricalho de 1,3 milhão de reais. Jairo é merecedor de um busto nos principais tribunais do país. 

O NOVO BONNER – A meu ver, Heraldo Pereira, por merecimento, carisma, respeito e competência, é quem deveria substituir William Bonner na apresentação do Jornal Nacional.

E para terminar a coluna de hoje, um “poemeu” sobre a vida:

Vontade
Ultrapassei dois lados da vida.
O da dor insaciável
e o da alegria devassa.
Encontrei no caminho
a insolência incurável da aflição.

Logo alguém vai dizer que os craques fazem mal aos times…

EAST RUTHERFORD, NEW JERSEY - JULY 13: Ousmane Dembele #10 of Paris Saint-Germain warms up prior to the FIFA Club World Cup 2025 Final match between Chelsea FC and Paris Saint-Germain at MetLife Stadium on July 13, 2025 in East Rutherford, New Jersey. (Photo by Hector Vivas - FIFA/FIFA via Getty Images)

O craque francês Dembele foi escolhido o melhor do mundo

Tostão
Folha

Independentemente dos detalhes e fatos atuais, as pessoas costumam enxergar as coisas e criar conceitos e narrativas de acordo com o que pensam e desejam. Tornam-se tendenciosas, umas mais que as outras. É difícil ser um observador totalmente neutro.

As manifestações pelas ruas do país contra a anistia e contra a PEC da Blindagem  em favor dos congressistas, autorização para a bandidagem, são bem-vindas e necessárias. Outras deveriam ocorrer, contra as absurdas emendas parlamentares, o roubo dos aposentados no INSS, a crescente violência e criminalidade e tantas outras situações que assolam o Brasil há décadas, em diferentes tipos de governos.

O ESCOLHIDO – O melhor jogador do mundo é Mbappé, mesmo não sendo o melhor do ano. Dembélé, eleito, é um ótimo atacante, irregular e que teve um momento excepcional. É evidente a queda técnica e de prestígio de Vinicius Junior. Tomara que seja passageira.

Depois de meus dez dias de férias, sem ver futebol retorno e encontro situações diferentes e iguais. Os árbitros continuam ruins. Pior, o VAR, que deveria ter a função de corrigir um nítido erro do árbitro, fez o contrário: induziu o árbitro a marcar um pênalti que nunca existiu e que o árbitro não tinha assinalado.

Dez dias atrás, o melhor time do Brasil era o Flamengo. Agora falam que é o Palmeiras. Um analista disse que o Palmeiras melhorou porque não depende mais de Estêvão, com o argumento de que o time se concentrava demais no jogador. Daqui a pouco alguém vai dizer que os craques fazem mal aos times.

BONS OU RUINS – Quem não mudou é o Cruzeiro, que continua muito forte sob o comando de Leonardo Jardim. Difícil é entender o que ele fala.

No mundo do futebol, os jogadores e treinadores costumam ser rotulados de bons ou ruins, heróis ou vilões. Não é bem assim.

Guardiola é um excepcional treinador, revolucionário, mas também comete erros, embora raramente seja criticado. O Mancheste United, sob o comando de Guardiola, perdeu excelentes jogadores, como De Bruyne e Alvarez, e contratou outros que não se destacaram.

COMETER FALHAS – Rogério Ceni talvez seja entre os brasileiros o que teria hoje mais condições de ser técnico da seleção se Ancelotti não tivesse sido contratado. Porém Ceni comete falhas.

Contra o Ceará, no momento em que o Bahia jogava melhor, sob o comando criativo de Everton Ribeiro, Ceni substituiu o jogador e o time piorou. Esperei na entrevista que ele desse uma explicação, mas ninguém perguntou.

Contra o Flamengo, Fernando Diniz foi bastante elogiado pela agressividade e xingamentos ao jovem e talentoso Rayan.

EXAGEROS – A justificativa seria de que esse comportamento do treinador faz com que o atleta cresça no jogo e na carreira. Não há necessidade daquilo, que pode até surtir efeito contrário. Além do mais, o fator essencial para a evolução de um jovem é seu talento.

Sempre que Fernando Diniz dirige um time, exaltam o dinizismo, como se fosse uma grande novidade a saída de bola desde o goleiro com troca de passes. Hoje, quase todos os times do Brasil e do mundo adotam essa postura e a pressão para recuperar a bola na saída do goleiro. O futebol fica mais bonito e intenso.

A beleza é importantíssima, desde que associada à técnica e à eficiência. Não basta jogar bonito. É preciso vencer.

MPB vira motor da resistência contra anistia e blindagem parlamentar

Artistas integraram um dos momentos conturbados da política

Gustavo Zeitel
Folha

O cantor e compositor Caetano Veloso escolheu “Alegria, Alegria”, canção que compôs em 1967, para figurar em seu ato contra a anistia e a PEC da Blindagem no domingo (21), no Rio de Janeiro. O sentido de convocação já se anuncia nos três primeiros acordes: mi maior, lá maior e dó sustenido maior. A progressão interpela o ouvinte, deixando-o atento e forte para acompanhar a letra que se segue à introdução ribombante.27

Em um dos maiores protestos da esquerda desde a eleição de 2018, os artistas da MPB cumpriram um papel fundamental para mobilizar a militância, avaliam especialistas ouvidos pela Folha. Ademais, os protestos em todo o país evidenciaram a natureza impopular da PEC da Blindagem, que poderia dificultar investigações contra deputados e senadores e que acabou enterrada pelo Senado nesta quarta (24).

IMPASSE – De todo modo, a conjuntura apresenta agora um impasse ao campo progressista, que busca manter a mobilização, com lideranças difusas e Lula (PT) um pouco distante, e resgatar uma identidade.

Os atos foram anunciados às pressas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Trabalhadores Sem Teto), apoiados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. O chamamento só se intensificou, no entanto, quando a classe artística aderiu à causa.

Em especial, Caetano e Paula Lavigne, sua mulher e empresária, lideraram a iniciativa para a realização dos protestos. Mesmo que em São Paulo políticos tenham discursado, o protagonismo ficou com artistas, como Chico Buarque, Ivan Lins, Geraldo Azevedo e Gilberto Gil, que entoaram clássicos da música popular brasileira. Em entrevista à Folha, Lavigne disse que a manifestação não foi da esquerda, mas da sociedade civil como um todo.

MOBILIZAÇÃO – Autor dos livros “Viagem do Recado” e “O Som e o Sentido”, José Miguel Wisnik afirma ter ficado evidente a capacidade de mobilização política dos compositores. Afinal, a canção tem a capacidade de “dar o sinal de alerta para ameaças em curso, de acender o desejo de vontade política e de corresponder a um sonho de nação, entorpecido e manipulado pelas motivações torpes”.

“A canção no Brasil é uma imensa reserva de sensibilidade não autoritária e, no caso de domingo, antifascista”, diz Wisnik, também cantor e compositor. “A política é uma festa da memória compartilhada, dos afetos de afirmação da vida, do sonho de um povo inclusivo.”

Ao longo do século 20, os artistas intervieram em momentos conturbados da política. No ato musical, “Cálice”, de Chico e Gil, lembrou o enfrentamento à ditadura, e “Vai Passar”, parceria de Chico com Francis Hime, a redemocratização.

CICLO HISTÓRICO – “Artistas como eles fazem parte de um ciclo histórico que remonta a mais de meio século, mas não são datados, como acontece com as artes fortes, mas com particularidade de ser aquilo que mais parece segurar as pontas do Brasil quanto tudo degringola. Ainda. Por que não?”, questiona Wisnik.

Apesar da derrubada no Senado da PEC da Blindagem, o Congresso ainda articula uma proposta de redução das penas dos condenados pela tentativa de golpe de Estado de 2022 e 2023. O projeto poderia beneficiar também o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a mais de 27 anos de prisão.

Além do chamamento da classe artística, a esquerda foi às ruas pela natureza impopular da PEC, afirma Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político da FGV. “Ficou evidente que a proposta é uma medida de autoproteção. Foi um tiro no pé, até porque a indignação mobilizou o povo.”

MILHARES NAS RUAS – Segundo a USP, os atos se equipararam, em público, à manifestação bolsonarista do 7 de Setembro. Estiveram no domingo 41,8 mil pessoas no Rio de Janeiro e 42,4 mil em São Paulo.

Cientista político da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Leonardo Avritzer diz que, desde a conjuntura antes do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a esquerda não se organizava de maneira tão engenhosa. O dilema, afirma, é o cenário com lideranças difusas no campo progressista. Por isso, é improvável manter a mobilização só com a classe artística.

“Ainda é cedo para dizer que a esquerda retomou as ruas e acho que é pouco provável que os artistas sejam capazes de atuar conjuntamente em todas as pautas de esquerda”, afirma ele.

RESGATE – Também cientista político, Paulo Henrique Cassimiro, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), diz que o campo progressista precisa ainda resgatar uma identidade. Ele diz ter havido um erro de cálculo político por parte do centrão, com a PEC da Blindagem sendo aprovada no mesmo momento em que se discute a dosimetria.

Cassimiro afirma que a PEC da Blindagem gerou custo político para a proposta de redução de penas aos golpistas. Afinal de contas, os atos de domingo se posicionaram contra as duas matérias.

“O motor dessa mobilização foi a insatisfação com o Congresso, que hoje tem a pior avaliação entre as instituições do país”, diz. “Os atos mostraram um caminho para o campo da esquerda. Se Paula Lavigne conseguir articular um ato desse toda vez que for necessário.”

DEPENDÊNCIA – O protagonismo de Caetano, Chico e Gil também pode ser explicado, segundo diz o professor, pela figura de Lula, que não produziu sucessor à altura. Em sua visão, o campo progressista tornou-se muito dependente do presidente, que manteve certa distância dos protestos. Como mostrou a Folha, o objetivo dele foi não gerar ainda mais atrito com o Congresso Nacional.

“Lula assumiu a posição tradicional que o estadista deve assumir, mas, pensando o que é política hoje, ele deveria ter se posicionado mais. A neutralidade não vai trazer mais capital político, inclusive por parte do centrão.”

Posse de Fachin no STF frustra bolsonaristas e reforça protagonismo de Moraes

Fachin assume o posto presidente do STF na 2ª feira

Bela Megale
O Globo

A posse do ministro Edson Fachin como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira (29), traz um banho de água fria para os bolsonaristas.

Parlamentares de direita que se mobilizaram para se aproximar de Fachin e tentar uma interlocução com a presidência do tribunal receberam a sinalização de que o diálogo será encabeçado por Alexandre de Moraes. O magistrado assume o posto de vice-presidente do STF, também, na segunda-feira.

PROXIMIDADE – Discreto e reservado, Fachin não costuma manter relações de proximidade com lideranças políticas, tampouco participar das conversas que parte dos magistrados mantém com parlamentares.

Colegas do ministro na corte acreditam que ele seguirá firme na defesa da instituição e de seus membros, em um momento em que o STF está sob pressão dos Estados Unidos, devido às articulações de Eduardo Bolsonaro para coagir o Judiciário e o Legislativo, na busca da anistia.

POSTURA FIRME – Eles citam como exemplo a postura firme que Fachin adotou como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2022, quando resistiu de maneira técnica e enfática às investidas do então presidente Jair Bolsonaro para implantar o voto impresso e descredibilizar as urnas eletrônicas. Fachin também iniciou os trabalhos no tribunal eleitoral voltados ao combate às notícias falsas.

Fachin assumirá a chefia do Poder Judiciário para o biênio 2025-2027, após o fim da gestão de Luís Roberto Barroso, que presidiu, nesta quinta-feira (25), sua última sessão no cargo. A eleição de Fachin e Moraes ocorreu de forma simbólica, no dia 13 de agosto, seguindo o critério de rodízio por antiguidade.

Comitiva de vereadores de SP viaja à China com custo de quase meio milhão

Missão oficial ao país asiático conta com seis vereadores

Carlos Petrocilo
Folha

A Câmara Municipal de São Paulo pagará R$ 452 mil para uma comitiva com seis vereadores e dois servidores viajar até a China entre os dias 20 e 28 deste mês. O valor inclui R$ 129,1 mil com passagens de avião e outros R$ 323,4 mil pagos à agência Investe SP, que ficará responsável pelo agendamento de reuniões, apoio na logística interna (hospedagem e transporte interno), tradução e acompanhamento da delegação, entre outros serviços.

A comitiva é composta pelos vereadores João Jorge (MDB), Hélio Rodrigues (PT), Milton Ferreira (Podemos), Major Palumbo (PP), Fabio Riva (MDB) e Carlos Bezerra (PSD). A viagem partiu de um convite do consulado da China na capital paulista para todos os vereadores, que definiram os integrantes da comitiva de acordo com as maiores bancadas da Câmara. Os parlamentares devem passar pelas cidades de Xangai, Hangzhou e Shenzhen.

TEMAS RELEVANTES – O motivo da viagem, segundo a Mesa Diretora da Casa, é tratar de temas relevantes para a cidade, como a eletrificação da frota de ônibus, geração de empregos, energias renováveis, reciclagem, gestão de resíduos e atendimentos emergenciais em metrópoles.

“São temas que foram tratados pela missão da prefeitura e que competem aos vereadores se aprofundarem para poder, assim como o Executivo, propor políticas públicas e fiscalizar as ações do Município”, afirma a Câmara, em nota.

A Casa diz que optou pela InvestSP por sua expertise em organizar viagens deste tipo e possuir escritório na China. “É a mesma agência que foi contratada pela prefeitura para organizar missão oficial recente ao mesmo destino, nos mesmos moldes e formato.”

VISITA – Nesta semana, os vereadores foram até uma empresa de tecnologia que apresentou o seu programa com uso de drones e carrinhos autônomos, dirigidos por inteligência artificial, para otimizar o processo de entregas nas cidades. A comitiva também visitou pontos de apoio e descanso para os entregadores de mercadorias.

A Câmara diz que, assim como a prefeitura, o Judiciário e demais casas legislativas, tem o papel de realizar intercâmbios que ajudam a embasar a atuação dos vereadores.

“Com muita frequência a Câmara Municipal de São Paulo recebe comitivas oriundas de outros países, o que reforça que esse intercâmbio é natural, principalmente quando se trata da maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo”, diz a nota.

Eduardo Bolsonarop desafia PL e enfrenta isolamento até dentro da família

Eduardo acredita de que pai é refém do PL e do Centrão

Bela Megale
O Globo

Correligionários do PL que ouviram queixas de Jair Bolsonaro sobre a atuação de seu filho Eduardo nos Estados Unidos sugeriram ao ex-presidente que escale o senador Flávio Bolsonaro para conversar duramente com o irmão.

Como informou a coluna, o ex-presidente chegou a pedir a um aliado que encontraria Eduardo Bolsonaro nos EUA que levasse o recado sobre sua insatisfação. O capitão reformado avaliou que as declarações do deputado têm piorado sua situação e que o filho está “falando demais”.

FILHO 01 – O interlocutor disse a Bolsonaro que ele tem um filho 01, referindo-se a Flávio, e aconselhou o ex-presidente a pedir que ele transmitisse suas mensagens a Eduardo Bolsonaro. Flávio Bolsonaro chegou a ter uma conversa com o irmão há poucas semanas sobre a forma como ele estava se comunicando, mas o diálogo não surtiu efeito.

Eduardo Bolsonaro e seu grupo estão convencidos de que, hoje, o pai não teria condições de dar as cartas no jogo político, por avaliarem que Jair Bolsonaro seria uma espécie de “refém” do centrão e do PL. Ambos têm debatido alternativas para o ex-presidente além da anistia ampla, como a diminuição de penas.

ANISTIA – Eduardo, porém, não aceita outro caminho que não seja a anistia e deixou isso claro ao líder do PL, Sóstenes Cavalcante, no encontro que tiveram na quinta-feira (25), em Miami. Nessa reunião, o parlamentar também evidenciou seu rompimento com o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e rejeitou qualquer ajuda financeira do PL para suas ações nos EUA.

Entre os aliados de Valdemar e também de Bolsonaro, o clima com Eduardo tem azedado. Eles chegaram a afirmar que o parlamentar seria, neste momento, o maior cabo eleitoral de Lula.

O deputado e seu grupo avaliam, porém, que não há como construir um projeto conjunto com o PL e os partidos do centrão, e que é preciso formar uma alternativa na direita em outra legenda, sem qualquer vínculo com Valdemar.

Não era mentira a dor que torturava a poeta Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cesar - Querido JeitoPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, tradutora e poeta carioca Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) é considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo (ou poesia marginal) da década de 1970. Ana diziz que seu sofrimento não era causado apenas pela dor em sua fisionomia.

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FISIONOMIA
Ana Cristina Cesar

Não é mentira,
é outra
a dor que dói
em mim,
é um projeto
de passeio
em círculo
um malogro
do objeto
em foco,
a intensidade
de luz
da tarde
no jardim,
é outra
outra a dor que dói.

R$ 2,9 bi em emendas ocultas desafiam STF e ampliam poder do Congresso

Charge do Ivan Cabral (ivancabral.com)

Bernardo Mello
O Globo

Parlamentares usaram um artifício de indicações “paralelas” de emendas de bancada para apadrinhar, no ano passado, R$ 2,9 bilhões de recursos que pertenciam formalmente ao Executivo. A manobra, que ocorreu com anuência do governo Lula (PT), privilegiou a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), que recebeu ao menos R$ 313 milhões. Os dados constam em relatório divulgado ontem pela Transparência Brasil.

No estudo, a entidade observou que apenas 20% das emendas “paralelas”, ou cerca de R$ 600 milhões, tiveram sua aplicação associada a uma “etiqueta” orçamentária que permite rastrear o gasto final. O restante do valor “paralelo” no Orçamento do ano passado, embora tenha sido usado como emenda, se misturou às verbas “livres” dos ministérios, o que dificulta sua “rastreabilidade e transparência”.

OFÍCIOS – Segundo o levantamento, o valor destinado à Codevasf equivale a mais da metade da verba “paralela” que pode ser rastreada. O estudo da Transparência Brasil obteve, através da Lei de Acesso à Informação, ofícios encaminhados pelas bancadas parlamentares à estatal, mostrando que eles estavam “cientes do quinhão a que julgam ter direito” da verba do Executivo.

“Deputados e senadores se dirigem diretamente ao presidente da estatal e utilizam expressões como ‘minha cota’ e ‘portador do crédito’, indicando inclusive o contato de associações comunitárias que devem receber bens de alto custo adquiridos pela estatal, como retroescavadeiras”, diz o estudo. O Ministério da Defesa aparece em seguida, com R$ 109,6 milhões em emendas de bancada “paralelas”, à frente de pastas como as de Cidades e de Agricultura.

O estado mais contemplado com esse tipo de recurso no ano passado foi o Amapá, que concentrou R$ 92 milhões. Piauí, Ceará, Bahia e Amazonas também aparecem nos principais destinos.

GASTOS DISCRICIONÁRIOS – As emendas de bancada, cujo pagamento é obrigatório, são inscritas no Orçamento com o código “RP 7” e obedecem ao limite de 1% da receita corrente líquida do ano anterior. Já as emendas “paralelas” são marcadas com os códigos “RP 2” e “RP 3”, que se referem, respectivamente, a gastos discricionários do Executivo federal e a recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Essas duas modalidades, em teoria, têm sua aplicação definida pelo governo e poderiam ser contingenciadas.

Na prática, porém, o levantamento da Transparência Brasil mostrou que os parlamentares detalharam aos órgãos do governo como os recursos seriam gastos e que o Executivo atendeu quase integralmente a esses pedidos, em um “comportamento que se assemelha ao das emendas impositivas”.

Desde 2020, ainda segundo o relatório, o Congresso já destinou R$ 9,4 bilhões em emendas de bancada “paralelas”, dos quais apenas 39% podem ser rastreados. Em junho, outro estudo da Transparência Brasil já havia identificado um artifício semelhante envolvendo as emendas de comissão: o apadrinhamento de forma “paralela” chegou a R$ 8,5 bilhões do Orçamento federal de 2025.

SUSPENSÃO – Na ocasião, a entidade pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, relator de uma ação que trata das regras de transparência sobre emendas parlamentares, para suspender esses repasses “paralelos”.

Após cobrar explicações da Advocacia-Geral da União (AGU), da Câmara e do Senado, Dino determinou, no fim de agosto, que eventual apuração sobre emendas “paralelas” deveria ocorrer em uma ação à parte. Na semana passada, em despacho no caso das regras de transparência, o ministro pediu manifestações da AGU e da Procuradoria-Geral da República (PGR), última etapa antes de levar a ação a julgamento.

De acordo com o relatório divulgado ontem pela Transparência Brasil, a aplicação das emendas de bancada “paralelas” burlou uma decisão de Dino, naquela ação, de suspender a execução de emendas parlamentares entre agosto e dezembro de 2024. À época, o ministro só autorizou a retomada dos pagamentos sob a condição de o Congresso estabelecer parâmetros mais rigorosos de transparência.

PRÁTICAS INCONSTITUCIONAIS – Durante o período de suspensão, no entanto, o governo Lula empenhou — isto é, reservou para uso — R$ 79,1 milhões em emendas “paralelas”. No relatório, a Transparência Brasil avaliou que esse tipo de aplicação das emendas de bancada “repete práticas consideradas inconstitucionais pela Suprema Corte”.

“É imprescindível que as emendas paralelas sejam compreendidas como emendas parlamentares, sendo submetidas ao controle interno e externo”, disse o documento.

Recuo de Tarcísio expõe divisão da oposição e fortalece Lula para 2026

Bolsonaro recebeu denúncias de fraudes no INSS antes de assumir governo

Família Bolsonaro está atrapalhando a direita, diz Ciro Nogueira

Ciro Nogueira diz que governo tenta culpar Congresso por suspensão do Plano  Safra | Brasil | Valor Econômico

Ciro Nogueira está defendendo a candidatura de Tarcísio

Luísa Marzullo
O Globo

Depois de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmar que pretende disputar a Presidência da República em 2026 caso o pai seja impedido judicialmente, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) fez um apelo público por “bom senso” e unificação da direita.

A fala do ex-ministro da Casa Civil foi interpretada por aliados como resposta indireta às declarações do deputado paulista, que se colocou como herdeiro político do bolsonarismo e acusou o Supremo Tribunal Federal de tentar torná-lo inelegível.

DIZ NOGUEIRA – “Já está passando de todos os limites a falta de bom senso na direita, digo aqui a centro-direita, a própria direita e seu extremo. Ou nos unificamos ou vamos jogar fora uma eleição ganha outra vez”, escreveu Nogueira nas redes sociais nesta sexta-feira.

Questionado se estava se referindo a Eduardo, Nogueira disse ao Globo que fala sobre “todos” da direita. Dias antes, o deputado Eduardo Bolsonaro havia afirmado que seria candidato à Presidência.

— Eu sou, na impossibilidade de Jair Bolsonaro, candidato a presidente da República; por isso que o sistema corre e se apressa para tentar me condenar em algum colegiado, que seja na Primeira Turma do STF, para tentar me deixar inelegível — disse Eduardo ao portal Metrópoles.

OPÇÃO POR TARCÍSIO – Enquanto Eduardo assume a linha de frente do discurso de confronto com o Judiciário e busca manter o protagonismo da família Bolsonaro, Ciro Nogueira e outros nomes do centrão tentam consolidar o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) como alternativa viável.

O senador aposta que apenas uma candidatura de centro-direita competitiva pode ampliar apoios e atrair setores moderados.

Eduardo e o restante da família Bolsonaro têm mantido o ex-presidente no páreo, em uma tentativa de que ele não perca relevância política.

ESPÓLIO DE BOLSONARO – Neste contexto, têm criticado alternativas do campo político que vem se movimentando para herdar o espólio deixado por Bolsonaro.

Em contrapartida, as lideranças da centro-direita têm se articulado para definir seu nome o mais breve possível, mas a família Bolsonaro tenta retardar a escolha.

Além de Tarcísio, os governadores Ratinho Júnior, Ronaldo Caiado e Romeu Zema têm se posicionado como possíveis pré-candidatos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGCiro Nogueira está cheio de razão. Agora a família Bolsonaro tem três candidatos – o próprio Bolsonaro, se houver anistia, o que o Supremo não permitirá; a mulher Michelle, que se acaba de se lançar; e o filho Eduardo, que só pensa naquilo. É dificílimo qualquer um dos três ganhar de Lula. O candidato com mais chance é Tarcísio de Freitas, mas só vence se unir a direita. Eis a questão que tanto preocupa Ciro Nogueira e outros líderes do Centrão. Se todos se unirem em torno de Tarcísio, verás que um filho teu não foge à luta. (C.N.)

Negociação com Trump passa por reduzir resistências internas no governo

Chefe da diplomacia da UE alerta: Rússia não quer paz, só avançar

Entre afagos e cautelas: Lula e Trump ensaiam reaproximação após meses de tensão

Lula usa tática de aproximação com Trump, diz especialista

Rute Pina
G1

Um sinal de afago após meses de acirramento político. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu com um gesto amistoso para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Assembleia Geral da ONU. Trump chamou Lula de “um cara legal” e sinalizou, em seu discurso na terça-feira (23/9), um encontro com o presidente brasileiro na próxima semana, após os mandatários conversarem por menos de 40 segundos no evento das Nações Unidas.

Na quarta-feira (24/9), Lula afirmou que está otimista com possibilidade de os governantes fazerem uma reunião o mais rápido possível e acabarem com mal-estar que existe hoje na relação Brasil e EUA. “Tive outra satisfação de ter um encontro com o presidente Trump. Aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu. Fiquei feliz quando ele disse que pintou uma química boa entre nós.”

EXPECTATIVA – Lula também disse que espera que a conversa seja entre “dois seres humanos civilizados”, quando perguntado se temia constrangimentos como o que ocorreu no tenso encontro em Washington de Trump com o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky, em fevereiro.

“Não há por que ter brincadeira em uma relação entre dois homens de 80 anos de idade. Eu vou tratá-lo com o respeito que merece o presidente dos Estados Unidos, e ele certamente vai me tratar com o respeito que merece o presidente da República Federativa do Brasil”, afirmou.

MITO DESFEITO – Dawisson Belém Lopes, professor de Política Internacional e Comparada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que a fala do presidente americano na ONU desfez o mito sobre a direita ter monopólio de acesso ao governo Trump. “Foi um golpe duro na oposição, sobretudo na (ala) bolsonarista, que sentiu o baque e terá de se reorganizar, criar narrativas alternativas”, avalia o especialista.

Para Lopes, Lula deve manter o tom defensivo que adotou até o momento, sem espaço para abrir mão da agenda política, o que seria negociar anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por golpe de Estado e outros crimes pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“O Brasil suportou bem a pressão e o fato de estar sob fogo cerrado. Essa solidez defensiva acabou levando a uma revisão de rota, de curso de ação. Se Trump estivesse obtendo os resultados pretendidos pela sua política agressiva, imperial, é óbvio que ele não faria o recuo público que fez hoje.

PAUTAS IMPORTANTES –  Na mesa de negociações, o Brasil tem pautas importantes como a regulação das grandes empresas de tecnologia no país e o acesso dos Estados Unidos às terras raras.

Na entrevista a jornalistas nesta quarta, Lula sinalizou estar abertos a discussão dos minerais estratégicos. “Discutimos com o mundo inteiro nossas terras raras”, afirmou o presidente. Mas o professor da UFMG alerta: “Não se trata de buscar concessões a todo custo”, diz. Confira a entrevista.

O que significou o recuo de Trump na Assembleia Geral da ONU?

O Brasil esteve sob fogo cerrado por oito meses e, sobretudo nos últimos três, a pressão de Washington aumentou. Se, no primeiro momento, o Brasil conseguiu ficar fora do radar, nos últimos três meses, com o tarifaço e as pressões exercidas sobre o Judiciário brasileiro, o país definitivamente entrou em rota de colisão com os Estados Unidos.

O que aconteceu hoje nas Nações Unidas é bem importante, porque pode simbolizar um ponto de inflexão e o início de outra trajetória — diferente, mais construtiva. Mas não nos enganemos: o que foi acumulado durante os primeiros meses do governo Trump não vai se desfazer tão facilmente.

Existe hoje uma coleção de mercadorias e produtos brasileiros que estão, na prática, embargados pelos Estados Unidos. Uma sobretaxação de 50% significa, na prática, embargo.

O Brasil também tem sofrido com as tentativas de desestabilização do poder Judiciário, inclusive com sanções unilaterais impostas a membros da mais alta corte jurisdicional brasileira, o STF. Isso tudo não vai se desfazer da noite para o dia, magicamente. E muito disso nem é passível de negociação, não vai para a mesa de negociação.

O que entendo é que o Brasil suportou bem a pressão e o fato de estar sob fogo cerrado. Essa solidez defensiva acabou levando a uma revisão de rota, de curso de ação. Se Trump estivesse obtendo os resultados pretendidos pela sua política agressiva, imperial, é óbvio que ele não faria o recuo público que fez (na ONU).

Existe a possibilidade de Lula sair desse encontro com boas negociações, se, ao menos publicamente, a imposição das sanções e tarifas são políticas?

Não vejo, para o Brasil, tantos incentivos que permitam uma reversão completa de postura. Há margem para incrementos, acho que há margem para diálogo e pode até haver, de parte a parte, concessões para melhoramento dos termos do comércio. Acho que isso é possível, sim. Nesse âmbito, pequenas vitórias de parte a parte podem acontecer. Mas, politicamente, não.

Politicamente, o que pode acontecer é uma mudança mais ou menos radical do Trump, que não hesita em ser incoerente, em quebrar trajetórias e passar a fazer coisas que não fazia no minuto anterior. Isso ele faz historicamente. Ele não “troca de roupa” para mudar o relacionamento com líderes globais. E pode, ao se dar conta de que Bolsonaro é carta fora do baralho, que não vai haver anistia e que o STF no Brasil tem sido sólido e não vai ceder, começar a negociar com quem de fato tem as alavancas de poder na mão, que é o presidente Lula.

Mas não vejo, do ponto de vista internacional e doméstico, motivos para Lula sequer trazer à pauta o tema político. Afinal, a retórica que condiz com a verdade factual é a de que há independência dos poderes constituídos na República Brasileira. Se o Judiciário determina um curso de ação e o segue, não cabe ao Executivo sequer palpitar a esse respeito.

Isso não está na mesa de negociações. A pauta comercial pode, sim, acomodar aqui e ali algum avanço. É onde se pode conversar.

Qual deve ser a postura de Lula diante desse encontro?

O presidente foi inequívoco e claro ao dizer, naquele artigo publicado no The New York Times, que soberania e democracia não são negociáveis. O funcionamento do Judiciário e das instituições brasileiras de modo geral não é um assunto passível de discussão bilateral. Isso é uma pedra de toque, não está em questão.

Então, a postura deve continuar a ser defensiva, priorizando o interesse nacional do Brasil e não buscar concessões a todo custo.

Francamente, nesse caso, o presidente da República, que vive de negociação há décadas e faz disso seu ganha-pão, tem alguma expertise no assunto. Certamente não é ingênuo, não se deixou encantar pelo canto da sereia. A postura permanecerá defensiva, imagino.

O que o Brasil tem na mesa como contrapartida?

O Brasil tem um mercado de 210 milhões de consumidores, atraente para as empresas americanas. Acho que o que mais interessa hoje aos Estados Unidos é a possibilidade de atuação das big techs [grandes empresas de tecnologia], de capital estadunidense. As maiores do mundo são dos Estados Unidos, querem atuar no Brasil e com o mínimo de regulação possível. Esse é um dos temas que interessam ao empresariado.

Outro tema é o das terras raras, minerais estratégicos. O acesso a um suprimento confiável interessa muitíssimo aos Estados Unidos. O Brasil, que é um dos principais reservatórios do mundo, tem nisso um trunfo importante.

Mas não apenas. Os Estados Unidos também têm interesse em assegurar a provisão de café, por exemplo, a preços melhores do que os praticados atualmente, que estão inflacionando o café da manhã do americano médio.

Agora, um ponto importante: não se trata de buscar concessões a todo custo. As conversas precisam acontecer e o Brasil não precisa necessariamente entregar mais. Não acho que seja o caso. É uma negociação entre pares, entre homólogos, entre chefes de Estado. O pressuposto de que o Brasil deve conceder de toda maneira me incomoda. A relação deve continuar se pautando pela igualdade soberana entre as nações.

A direita repercutiu a possibilidade de encontro com Lula como uma estratégia de Trump, “um bom negociador”, que teria deixado “o presidente brasileiro numa situação impossível”. Você concorda? Trump tem realmente sido um “bom negociador” nesses acordos bilaterais?

O afago, ainda que circunstancial e improvisado, não atribuo a nenhuma racionalidade complexa de Donald Trump, nem a uma sofisticada tática para atrair Lula à mesa de negociação. Isso é bobagem. Trump é um animal do improviso e fez um discurso muito improvisado: por não ter conseguido ler o teleprompter, improvisou praticamente o tempo todo, começou num registro informal e terminou no mesmo tom.

Mas acabou jogando água no moinho do presidente brasileiro de maneira inesperada. Até hoje, argumentava-se que apenas a oposição de direita conseguia se conectar com Trump, que ele só reconhecia como interlocutor alguém da família Bolsonaro ou eventualmente Tarcísio de Freitas. O que se mostrou hoje em Nova York não foi isso.

A abertura dos trabalhos da Assembleia Geral escancarou outra realidade. Foi um golpe duro na oposição, sobretudo na bolsonarista, que sentiu o baque e terá de se reorganizar, criar narrativas alternativas.

A ideia rocambolesca de que Trump tenta atrair Lula para uma armadilha é bobagem. É evidente que a guarda deve ser mantida alta por parte do governo brasileiro. Mas isso é óbvio. O impacto político, porém, foi interessante, porque desfaz alguns mitos que vinham se arrastando.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro afirmou que possibilidade de encontro com Lula como uma estratégia de Trump — Foto: Jessica Koscielniak/Reuters/BBC

Lula poderia cair numa emboscada, como Zelensky, que foi praticamente linchado ao vivo no Salão Oval, ou Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, que foi alvo de acusações infundadas ao aceitar a reunião com Trump?

Naturalmente, o presidente dos Estados Unidos explora muito bem a política como espetáculo. Ele se elegeu e se reelegeu praticando uma modalidade de política de conexão com o eleitorado que se vale muito das imagens e impressões que consegue construir. Ele é um comunicador de grande talento.

É óbvio que os representantes do Estado brasileiro, os diplomatas, estão cientes disso e não permitirão que o Brasil e seu chefe de Estado sejam expostos ao mesmo espetáculo degradante a que estiveram submetidos o presidente da África do Sul, o da Ucrânia, entre outros.

O Brasil tomará cautelas. Trump se nutre desse tipo de exposição, usa e abusa da política externa até o momento em que ela deixa de lhe render recompensas eleitorais. Depois, abandona. Cabe, portanto, ter todo o tipo de precaução em relação a essas táticas próprias do populismo de ultradireita.

Na quarta, Lula se pronunciou e se mostrou bastante aberto e sem condicionantes para a conversa, inclusive sobre a possibilidade de se encontrarem presencialmente, o que seria, segundo ele, uma conversa civilizada entre dois homens de 80 anos. Como avalia a resposta do presidente?

O tom é amigável, é um tom suave e que, na verdade, serve ao propósito duplo de lubrificar as relações bilaterais com os Estados Unidos, subir de nível e melhorar o que antes estava envenenado. Por um lado, há isso. Por outro, vejo também uma resposta à oposição, a um certo argumento veiculado nas redes sociais e na própria imprensa de que Lula teria medo de se encontrar face a face com Donald Trump e receio de ser humilhado na Casa Branca, como aconteceu, aliás, com outros presidentes, chefes de Estado e de governo.

Agora, é evidente que essa mensagem não pode ser tomada pelo valor de face. É importante entender, nas entrelinhas, que o presidente vai considerar o interesse brasileiro em primeiro lugar. Principalmente, essa evocação da senioridade — “dois homens de 80 anos” — já é uma tentativa de dar paridade à conversa, de mostrar de onde se está falando.

Há aí uma tática de discurso, que é justamente a equiparação entre dois homens tarimbados, experientes. Lula tenta identificar um ponto de apoio e uma possível área de convergência, que é a senioridade, sob uma luz positiva. Essa é uma tacada muito interessante, aliás, porque, afinal, como você sabe, há questionamentos sobre a idade provecta do presidente do Brasil e também do presidente dos Estados Unidos — ainda que em menor grau.

O que Lula convida a pensar é justamente na equiparação dos dois quando se trata da faixa etária. Eles pertencem ao mesmo mundo, viveram coisas parecidas, viram o mesmo mundo ao longo de 80 anos. Isso é muito interessante, uma jogada importante, uma tática discursiva feliz do presidente do Brasil. Mas não pode ser tomada pelo valor de face.

A cautela vai prevalecer, e o Brasil não vai de peito aberto para uma reunião assim. Lula pode falar nesses termos e evocar uma certa espontaneidade, mas é a tranquilidade de quem sabe que tem uma equipe técnica, diplomática, do mais alto nível.

Tirando o aceno ao Brasil, Trump fez um discurso duro em relação à América Latina. Como você avalia essa postura?

O tom geral para a América Latina foi duro, desencoraja qualquer prognóstico de aproximação hemisférica. Não é algo que tenha nascido agora com Trump. A região costuma aparecer nos discursos de chefes de Estado ou do Departamento de Estado sob ótica negativa: narcotráfico, crime organizado, imigração ilegal. É mais do mesmo.

No caso do Brasil, porém, há uma diferença. O país consegue se descolar da regra geral para a América Latina, talvez pela escala: sozinho, corresponde a um terço da população da região, ocupa metade do território da América do Sul e concentra cerca de metade da economia do subcontinente. É um país distinto. As conversas com o Brasil seguem outra toada.

Grupo de Eduardo Bolsonaro rompe com Valdemar e recusa ajuda financeira do PL

Eduardo ficou incomodado com  falas de Valdemar

Bela Megale
O Globo

O grupo de Eduardo Bolsonaro, que atua com ele nos Estados Unidos, mandou um recado ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, por meio do líder do partido, Sóstenes Cavalcante (RJ). Eles se encontraram na última quinta-feira (25), em uma reunião em Miami.

Incomodados com as falas de Valdemar Costa Neto — que afirmou que o deputado entrou em rota de colisão com o presidente do PL por querer dinheiro para se manter nos EUA —, Eduardo e seus aliados mandaram dizer que não aceitam nenhuma ajuda financeira e que, hoje, tudo o que querem de Valdemar é “distância”.

SUPORTE – Na reunião, Sóstenes perguntou se eles desejavam algum suporte financeiro. Esse já foi, no passado, um dos pontos de queixa de Eduardo, mas, com a crise com Valdemar agravada e seus planos de deixar o PL, o deputado decidiu recusar qualquer ajuda.

Como informou a colunista Malu Gaspar, nos bastidores, Valdemar tem dito a aliados que o problema de Eduardo é dinheiro, e que ele tem reclamado muito do que considera uma desigualdade nas verbas destinadas pelo PL a ele e à madrasta, Michelle Bolsonaro.

A reportagem irritou ainda mais o grupo de Eduardo. No recado enviado ao presidente do PL, o deputado e seus aliados reforçaram que atuaram até o momento sem a ajuda de Valdemar e que seguirão assim. Ainda afirmaram que não vão se “vender” para o mandachuva partidário.

STF avança e julga em outubro o chamado núcleo golpista da desinformação

Sete réus são acusados de divulgar desinformação

Daniel Gullino
O Globo

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) marcou para outubro o julgamento da ação penal do chamado núcleo quatro da trama golpista, que é acusado de espalhar desinformação. Foram reservadas seis sessões, entre os dias 14 e 22 de outubro, para julgar os sete réus do grupo.

No início do mês, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou a condenação dos réus pelos cinco crimes pelos quais são acusados. Já as defesas solicitaram a absolvição.

ACUSADOS – Fazem parte desse núcleo o ex-major do Exército Ailton Barros, o sargento Giancarlo Rodrigues, o policial federal Marcelo Bormevet, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida, o major da reserva Angelo Denicoli e o engenheiro Carlos Rocha.

Há duas semanas, a Primeira Turma concluiu o julgamento do “núcleo crucial” e condenou os oito réus, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que recebeu uma pena de 27 anos e três meses de prisão. Além desses dois núcleos, ainda há outros dois, que também devem ser julgados até o fim do ano.

DATAS – Foram reservadas as seguintes sessões para o julgamento do núcleo quatro: 14 de outubro: duas sessões, de manhã e de tarde;  15 de outubro: uma sessão, de manhã;
21 de outubro: duas sessões de manhã e de tarde; 22 de outubro: uma sessão, de manhã

Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, os membros desse grupo “propagaram notícias falsas sobre o processo eleitoral e realizaram ataques virtuais a instituições e autoridades que ameaçavam os interesses do grupo”.

Direita em ruínas: divisão e isolamento corroem projeto bolsonarista

“Polícia e ladrão” é brincadeira de adultos e se chama polarização

Nani Humor: POLARIZAÇÃO

Charge do Nani (nanihumor)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Nos tempos ancestrais, quando crianças brincavam na rua, sem paranoia —hoje, os pais de crianças estão entre os grupos mais paranoicos—, uma brincadeira comum era “polícia e ladrão”. Um grupo de crianças era a polícia e o outro, os ladrões.

Talvez você fosse processado hoje caso brincasse de polícia e ladrão por grupos que defendem o direito de os ladrões serem ladrões, mas o fato é que brincar de polícia e ladrão hoje é assunto para adultos. O nome da brincadeira agora é “polarização”.

REGRESSÃO PSÍQUICA – No fundo, trata-se de uma regressão psíquica em que os sujeitos pretensamente adultos voltam ao pega-pega.

Um traço dessa antiga brincadeira de rua era que não havia um terceiro possível —ou você era polícia, ou você era ladrão. Também no caso da brincadeira de polícia e ladrão para adultos, a polarização, não há uma terceira posição possível. Trata-se, se usarmos expressões chiques, de um não lugar.

Estar no não lugar ou ser um não lugar, implica um processo crescente de silêncio, porque este lugar que é o não lugar tende a ser expulso da linguagem.

SERÃO INIMIGOS – Em breve, estes ocupantes do não lugar serão aqueles que não falaremos o nome por serem inimigos dos dois polos que têm lugar de fala em seus territórios de violência.

Se em algum momento quem ocupa um não lugar foi considerado uma qualidade positiva por não ser reduzido a nenhum dos dois polos regressivos, este logo estará simplesmente em lugar algum por não ter espaço na linguagem pública. E quem não tem espaço na linguagem pública, desaparece com o tempo.

Assim como na brincadeira de rua não havia um terceiro possível, na sua versão para adultos, a tendência é que os dois polos devorem qualquer espaço entre eles. Ou você está conosco, ou com eles. O terceiro possível que se torna, assim, impossível, é sempre um traidor.

JOGO DE LINGUAGEM – A palavra pública na polarização implica um jogo de linguagem em que o terceiro impossível é reduzido a uma forma de linguagem privada, o que por definição não existe, segundo o espírito da filosofia de Wittgenstein.

 

Emudece o mundo que não se define como A ou –A, em que A sou eu e –A, o mal em si. E não há como não emudecer uma vez que, assim como na brincadeira das ruas era impossível não ser polícia ou ladrão, no mundo polarizado dos adultos, a briga é séria, pois o que está em jogo é o monopólio legítimo da violência. E quando este está em jogo, brinca-se para matar.

A catástrofe da política como arte do possível é a igualdade entre política e santidade. Qualquer um que no espectro político não esteja identificado com algum tipo de autodefinido bem será visto como puro pântano, como se dizia nos tempos da revolução francesa acerca do centro político.

LEITURA TEOLÓGICA – Nos tempos ancestrais da leitura teológica de mundo —vale dizer que foi a teologia a primeira a matar a teologia quando esta se fez imanente ao mundo da política—, o terceiro possível era a graça. Apenas ela podia restaurar o mundo. Morto Deus, a política tomou o seu lugar, fazendo-se “des-graça”.

No Brasil de hoje, se você é contra o PT, assume-se que necessariamente você deva ser bolsonarista. O contrário também é fato: se você é contra o bolsonarismo, você deve ser PT. Eis a pobreza de espírito em ação. Não ser nenhum dos dois implica você estar num não lugar.

 

A política como arte do possível está morta quando todos se identificam com uma forma de plenitude moral. Esta arte do possível que é a boa política —que não é a política do bem— só é possível quando os agentes que nela atuam se sabem representantes de seres excluídos, por definição, de qualquer forma de bem que lhe seja intrínseca.

MILITANTES CHATOS – Alguma polarização política sempre existiu quando as pessoas se tornam militantes chatos. Mas, hoje, essa obsessão alcançou níveis antes inimagináveis: até o parecer jurídico no STF é político ou não é nada.

“O juiz que discorda de mim é lixo”, diz a turba. Celebram-se assassinatos de adversários políticos abertamente nas redes e à boca pequena. A polarização destruirá a democracia em breve.

Se a Justiça começar a fechar veículos de imprensa em nome da defesa da democracia, teremos a prova cabal de que tal argumento, “em defesa da democracia”, virou uma chave essencial para a já instalada censura de caráter jurídico no país. A democracia terá degenerado em oligarquia jurídica e num governo desses poucos fazem o que querem com muitos.

O poeta lembrava um tempo em que as pessoas simplesmente desapareciam

Uma (justa) preocupação de Affonso Romano - Rascunho

O poeta Affonso Romano lembrava aquele tempo…

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna (1937/2025), no poema “De Repente”, homenageia aqueles que lutaram pela democracia.

DE REPENTE
Affonso Romano de Sant’Anna

De repente, naqueles dias começaram
a desaparecer pessoas, estranhamente.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.

Ia-se colher a flor oferta
e se esvanecia.
Eclipsava-se entre um endereço e outro
ou no táxi que se ia.
Culpado, ou não, sumia-se
ao regressar do escritório ou da orgia..
Entre um trago de conhaque
e um aceno de mão, o bebedor sumia.
Evaporava o pai
ao encontro da filha que não via.
Mães segurando filhos e compras,
gestantes com tricôs ou grupo de estudantes
desapareciam.
Desapareciam amantes em pleno beijo
e médicos em meio à cirurgia.
Mecânicos se diluíam
– mal ligavam o torno do dia.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.

Desaparecia-se a olhos vistos
e não era miopia. Desaparecia-se
até a primeira vista. Bastava
que alguém visse um desaparecido
e o desaparecido desaparecia.

Desaparecia o mais conspícuo
e o mais obscuro sumia.
Até deputados e presidentes evanesciam.
Sacerdotes, igualmente, levitando
iam, aerefeitos, constatar no além
como os pecadores partiam.

Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Os atores no palco
entre um gesto e outro, e os do plateia
enquanto riam.
Não, não era fácil
ser poeta naqueles dias.
Porque os poetas, sobretudo
– desapareciam.

II

Se fosse ao tempo da Bíblia, eu diria
que carros de fogo arrebentavam os mais puros.
em mística euforia. Não era. É ironia.
E os que estavam perto, em pânico, fingiam
que não viam. Se abstraíam.
Continuavam seu baralho a conversar demências
com o ausente, como se ele estivesse ali sorrindo
com suas roupas e dentes.

Em toda a família à mesa havia
uma cadeira vazia, a qual se dirigiam.
Servia-se comida fria ao extinguido parente
e isso alimentava ficções
– nas salas e mentes
enquanto no palácio, remorsos vivos
boiavam
– na sopa do presidente.

As flores olhando a cena, não compreendiam.
Indagavam dos pássaros, que emudeciam.
As janelas das casas, mal podiam crer
– no que viam.
As pedras, no entanto,
gritavam os nomes dos fantasmas
pois sabiam que quando chegasse a hora
por serem pedras, falariam.

O desaparecido é como um rio:
– se tem nascente, tem foz.
Se teve corpo, tem ou terá voz.
Não há verme que em sua fome
roa totalmente um nome. O nome
habita as vísceras da fera
como a vítima corrói o algoz.

E surgiram sinais precisos
de que os desaparecidos, cansados
de desaparecerem vivos
iam aparecer mesmo mortos
florescendo com seus corpos
a primavera dos ossos.

Brotavam troncos de árvore,
rios, insetos e nuvens
em cujo porte se viam
vestígios dos que sumiam.

Os desaparecidos, enfim,
amadureciam sua morte.

Desponta um dia uma tíbia
na crosta fria dos dias
e no subsolo da história
– coberto por duras botas,
faz-se amarga arqueologia.

A natureza, como a história
segrega memória e vida
e cedo ou tarde desova
a verdade sobre a aurora.

Não há cova funda
que sepulte
– a rasa covardia
Não há túmulo que oculte
os frutos da rebeldia.
Cai um dia em desgraça
a mais torpe ditadura
quando os vivos saem à praça
e os mortos, da sepultura.

Câmara articula lei que pode cortar 11 anos da pena de Bolsonaro