Enquanto líder do Hezbollah acena para acordo, Irã promete atacar Israel

Hezbollah nomeia Naim Qassem como novo secretário-geral

Naim Qassem, do Hezbollah, admite negociar um acordo

Wálter Maierovitch
do UOL

O guia supremo do Irã, o enfermo aiatolá Ali Khamenei, ordenou ao Conselho de Segurança Nacional que se prepare para atacar Israel. Seria a resposta ao ataque às instalações militares iranianas, da madrugada da última sexta-feira. A notícia foi revelada pelo New York Times.

Enquanto isso, o novo guia do Hezbollah, Naim Qassem, acenou para um acordo de paz, prometendo o fim dos bombardeamentos na região israelense da Galileia (norte de Israel). Dois cenários em aparente contradição — só aparente, como entendem os analistas militares internacionais e os operadores do direito internacional público.

DAR RESPOSTA – Todos sabem que o Irã, na sua meta expansionista e religiosa no Oriente Médio, financia e influencia o Hezbollah, Hamas, Jihad palestina, milícias iraquianas e frente síria.

No caso, volto a frisar, a contradição é apenas aparente. Os aiatolás entendem necessária uma resposta, para não parecer estarem em desvantagem. O Hezbollah, sob bombas e invasões, tenta um respiro para se reorganizar, depois da sua cúpula de governo ter sido eliminada.

Naim Qassem, um clérigo-combatente, fez a primeira aparição como novo guia do Hezbollah. E sua manifestação foi surpreendente.

TUDO IGUAL – Disse que irá manter a linha política beligerante do antecessor Hassan Nasrallah e que continuará a bombardear o norte de Israel, ou seja, a região da Galiléia, onde ocorreu um êxodo de 60 mil israelenses, diante dos bombardeamentos progressivos. Até aí, nenhuma surpresa.

Surpreendeu, no entanto, ao ressaltar que o Hezbollah está pronto a um acordo com Israel.

Para os especialistas em geoestratégia militar e em geopolítica, ficou claro que o Hezbollah está tentando separar as duas guerras (Israel x Hamas e Israel x Hezbollah) e se descolar da imagem do Hamas.

SOLIDARIEDADE – O Hezbollah, no dia 8 de outubro de 2023, dia seguinte ao da ação terrorista do Hamas em Israel, declarou solidariedade.

No momento, Israel continua a bombardear o sul do Líbano e já ocupa uma faixa de 6 km. As tropas de Unifil, compostas pelos chamados capacetes azuis de paz da ONU, estão aquarteladas.

A linha azul traçada pela ONU cobre 120 km e corre entre o mar Mediterrâneo, a oeste, e o Golã, a leste. Foi essa linha estabelecida pela resolução ONU de número 425, de 19 de março de 1978. A área ocupada pelas instalações Unifil, e vista por Netanyahu com obstáculo à defesa de Israel, tem pouco mais de 20 km e chega até o rio Litani.

SE REORGANIZAR – O novo líder do Hezbollah, conforme percebeu o comando militar israelense, pretende deixar o combate da fronteira sul para ter um cessar fogo de modo a se reorganizar no Líbano, em especial na capital Beirute, onde o seu quartel-general foi destruído.

O ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, publicou uma foto de Qassem, com o título: “Emprego temporário”. Foi a resposta à afirmação de Qassem de que Israel pagaria caro a permanência no Líbano.

Para os 007 da inteligência ocidental, duas conclusões podem ser tiradas do pronunciamento de Qassem.

RECOMPOSIÇÃO – A primeira indica que o Hezbollah dá sinais de recomposição da sua cúpula de governo, depois das mortes de Hassan Nasrallah e do seu sucessor, o sobrinho e também clérigo Safi Al Din.

O arco temporal de espera para a escolha do novo guia do Hezbollah foi considerado longo, a mostrar o sucesso de Israel no ataque pontual a Beirute, mais especificamente ao bairro xiita de Dahieh, centro administrativo do Hezbollah.

Vale lembrar que Nasrallah foi assassinado em 27 de setembro passado e Qassem só deu as caras — ou melhor, sentiu-se seguro para aparecer em público — apenas em 30 de outubro.

EM GUERRA – A segunda conclusão decorre da promessa de Qassem de continuar a linha política, beligerante e filo-iraniana de Nasrallah. Disse, com todas as letras, que continuará a atacar, embora queira se descolar do Hamas, ainda que temporariamente.

Em razão da desarticulação, o Hezbollah intensificou as chamadas “ações kamikaze”. Qassem, segundo os serviços secretos, queria aparecer pela primeira vez com um troféu: o ataque kamikaze à famosa Unidade 8.200 de Israel, especializada em espionagem eletrônica. Um caminhão foi lançado próximo do prédio.

Ao lado da americana NSA, trata-se da segunda maior agência de espionagem eletrônica do planeta. A lembrar: Israel consta com três serviços de espionagem e operações especiais: Mossad (inteligência externa), Shin Bet (inteligência interna) e Unidade 8.200 (inteligência eletrônica).

MAIORES ALVOS – O motorista do caminhão matou-se e o veículo ficou imobilizado em uma parada de ônibus, matando um idoso e ferindo cerca de 60 pessoas.

Com a definição do novo líder do Hezbollah, os dois maiores alvos de Israel passaram a ser Quassem e Mohammed Sinwar, este do Hamas, irmão do ex-comandante em chefe Yahya Sinwar, morto em confronto com cadetes israelenses em 16 de outubro.

Mohammed Sinwar, dada a sua atividade de construtor, foi considerado o responsável pela construção dos túneis do Hamas que surpreenderam os agentes de inteligência de Israel.

A AMEAÇA DO IRÃ – A teocracia iraniana movimenta-se e vaza informações para fazer parte do seu sistema de propaganda.

Dado o grave estado de saúde de Khameni, que tenta emplacar o filho na sucessão de guia-supremo do Irã, o país tem que ameaçar. Joga mais internamente, pois existe uma disputa com relação à sua sucessão.

Num pano rápido, a paz está distante. Para se ter ideia, sete israelenses foram mortos ontem por bombas disparadas pelo Hezbollah. O número de mortos no Líbano, pelos disparos das forças israelenses, chegou a 45 — e o premiê libanês, Najib Mikati, disse esperar por um imediato cessar-fogo.

Ideia de Lula seria boa – fazer referendo em vez de prosseguir guerra na Ucrânia

Lula sugere 'referência' sobre territórios na Ucrânia e diz que G20 não vai discutir a guerra | Política | G1

Lula sugere ‘referendo’ diz que o G20 não vai discutir a guerra

Deu no Estadão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sugeriu em entrevista ao canal de TV francês TF1 que os presidentes da Ucrânia e da Rússia, Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin, realizam um referendo para decidir sobre as áreas que estão no centro do conflito no Leste Europeia.

”Eu fico pensando que a Rússia diz que o território que eles estão ocupando é russo. A Ucrânia diz que é deles. Mas por que, ao invés da guerra, não faz um referendo para ver com quem o povo quer ficar? Seria muito mais simples, democrático e mais justo”, argumentou o presidente.

MEDIAÇÃO – Lula voltou a defender a participação do Brasil em uma mediação para dar fim à guerra.

“Está faltando interlocução, pessoas com substituição para serem ouvidas. É aí que o Brasil tem se colocado. O Brasil está dizendo, em alto e bom som, que não queremos participar do conflito, que nós gostamos de sentar à mesa para ver se encontrar uma solução é plenamente possível”, afirmou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A informação foi enviada pelo comentarista Gilberto Clementino, sempre atento à política internacional. A ideia de Lula é altamente democrática, mas não se adapta à situação. Por óbvio, o governo da Ucrânia não vai aceitar, porque várias regiões do seu país são mais russas do que ucranianas, como a Crimeia, por exemplo. Portanto, o presidente Volodymyr Zelensky vai colocar areia na proposta de Lula, jamais a aceitará. Enquanto não destrói seu país e seu povo, Zelensky não sossega . E Lula deveria estar cuidando da vida do Brasil e não da vida dos outros . (CN)

Condenação de assassinos de Marielle foi a justiça possível, disse o promotor

Análise: caso Marielle mostra a necessidade de reforma da segurança

Agora, falta o principal – condenar os mandantes do assassinato

Flávia Oliveira
O Globo

Foi a justiça possível, como definiu o promotor Fábio Vieira, do MP-RJ, que se fez com a condenação de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz. Seis anos, sete meses e 17 dias depois do crime, a sociedade, por meio do Tribunal do Júri, mostrou que, desta vez, a impunidade não prevaleceu. A sentença da juíza Lúcia Glioche, que fixou penas de, respectivamente, 78 e 59 anos de prisão aos assassinos, traz alívio; alegria, nunca.

As lágrimas brotam porque, se confirma agora, Marielle Franco e Anderson Gomes não retornarão; Fernanda Chaves, a única sobrevivente, jamais terá de novo a vida que lhe foi sequestrada. Tampouco voltarão à normalidade Luyara, Monica, Marinete, Antônio, Anielle, Arthur, Ágatha, familiares tornados vítimas perpétuas da barbárie.

RECADO AOS RÉUS – A titular do 4º Tribunal do Júri foi precisa ao anunciar que o veredito é mais recado aos réus e à laia de criminosos que acossam o Rio de Janeiro do que alento às famílias.

— Talvez justiça fosse que o dia de hoje jamais tivesse ocorrido, talvez justiça fosse Anderson e Marielle vivos — reforçou.

O julgamento que presidiu, num par de sessões com transmissão ao vivo, ensinou que fulminados também são os que sobrevivem ao homicídio de seus amores. Pedagogia pura num país recordista em assassinato de defensores de direitos humanos, num território em que dezenas de milhares de corpos, quase sempre pretos, quase sempre pobres, tombam anualmente.

OUTRAS VÍTIMAS – A orientação da ONU, que consta da política do Judiciário brasileiro, considera formalmente vítima não só a pessoa atingida pelo fato criminoso, mas também os familiares — explica a juíza federal Adriana Cruz, secretária-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A Resolução 253/2018 do CNJ, que trata do tema, saiu da provocação dos movimentos de mães de vítimas da violência. Obriga os tribunais a ter centros de atendimento para assistir os familiares.

A compreensão alcança todas as etapas da luta por justiça, não apenas o processo criminal. Engloba, por óbvio, os filhos de uma mulher morta por feminicídio que busquem benefício previdenciário via Justiça Federal.

CRIME ORGANIZADO – O caso Marielle Franco, que já apresentara ao Brasil o conceito de feminicídio político, agora nos escancara a vastidão dos danos de um assassinato. E mostrou ao Rio de Janeiro, ao país e ao mundo o tamanho do buraco em que o crime organizado nos meteu.

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz integram uma engrenagem a serviço da morte. O atirador contou com frieza assustadora no interrogatório que, contratado para o crime, encomendou ao mandante o kit assassinato: carro clonado, arma e telefone celular.

Ele contou que Macalé, o intermediário, tinha conexões com o camelódromo de Madureira, com farta oferta de aparelhos. Os criminosos se comunicavam sem risco de expor as linhas contratadas nos próprios CPFs. A cadeia de roubos, furtos e receptação de celulares — crimes galopantes no estado e já associados a falsos sequestros e extorsões praticadas de dentro dos presídios da capital — também se liga à indústria da morte.

Supremo anula penas da Lava Jato, mas não reduz seus efeitos políticos

Gilmar diz que 'lero-lero' sobre as urnas não se repetiu neste ano

Argumentos técnicos de Gilmar não conseguem “apagar” os crime

William Waack
CNN

Já lá se vão quase cinco anos desde que o plenário do STF concluiu pela suspeição do então juiz Sergio Moro, e passou a anular suas decisões.

Ao apagar nesta terça-feira (29) todas as condenações de José Dirceu — um dos nomes históricos mais fortes do PT — o ministro Gilmar Mendes estendeu os efeitos daquela decisão antiga do plenário sobre a suspeição de Sergio Moro.

MOTIVOS TÉCNICOS – Seriam, digamos, motivos técnicos, até lógicos, para livrar Zé Dirceu da Lava Jato — ele já fora condenado antes no mensalão.

Esses mesmos motivos técnicos haviam sido contestados pelo Procurador-Geral da República quando defendeu que Gilmar Mendes não acolhesse o pedido de Dirceu para anulação de condenações proferidas por Sergio Moro. O PGR argumentava, por sua vez, também com base em critérios técnicos.

Ocorre que não estamos diante de uma questão técnico-jurídica — ainda que também seja. Estamos diante de um esforço de reescrever um pedaço de enorme relevância da história recente do país, a título de reparar erros que a Lava Jato tenha cometido.

ARGUMENTOS… – Quem opera no campo do Direito, como juízes, advogados e promotores, pode argumentar que erros jurídicos anulam investigações, processos e condenações.

Como as feitas pela Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilhas para enriquecimento privado e/ou tentativa de partidos políticos de ficar para sempre no poder.

Mas os crimes existiram, seus autores foram identificados, muitos confessaram, e bilhões foram devolvidos. Motivos técnicos não anulam esses fatos da memória coletiva. A Lava Jato foi principalmente uma expressão de indignação e de repúdio ao sistema, e esses fatores continuam aí.

Chamar Trump de “fascista” pode ter sido um grave erro de Kamala Harris

Metade dos americanos considera Trump 'fascista', diz pesquisa - Internacional - Ansa.it

Na verdade, Trump parece um ator e cada hora faz um papel

Demétrio Magnoli
Folha

Na reta final, diante de uma coleção de pesquisas assustadoras, Kamala Harris reverteu aos sombrios alertas de Biden, desistindo da linha de reduzir Trump a uma figura “esquisita”, “bizarra”, quase risível. Nasceu daí a decisão de classificá-lo como “fascista” e, na sequência, através de terceiras vozes, a de traçar paralelos hiperbólicos entre o comício do rival no Madison Square Garden e a manifestação nazista, no mesmo local, em 1939, que exibiu no palco um retrato de George Washington emoldurado por suásticas.

Erro tático, concluíram analistas independentes e mesmo alguns estrategistas democratas. A radicalização retórica presta desserviço à imagem de candidata “unificadora” que Harris tenta projetar e a seu intento de persuadir eleitores indecisos.

SERIA VERDADE? – No fim, ela estaria submetendo-se às regras do jogo de um rival que aposta na desqualificação e no insulto. Mas, de fato, independente das conveniências da disputa por votos, seria verdadeiro o adjetivo? Trump deve ser, objetivamente, definido como fascista?

A extensa família do nacionalismo compartilha traços superficiais do fascismo. A Reunião Nacional francesa, de Le Pen, e o Irmãos da Itália, de Meloni, repudiam oficialmente o fascismo mas conservam, em gestos e palavras, fragmentos de suas raízes históricas.

 A tirania imperialista, grão-russa e ultraconservadora de Putin contém pitadas de fascismo, algo que também pode ser identificado na ditadura pós-chavista de Maduro. Contudo, um rigor intelectual básico, que saiu da moda, proíbe classificar como fascistas tais partidos ou regimes.

XENOFOBIA – Do fascismo, Trump recolhe a xenofobia extremada e o impulso à construção de um movimento de massas, o Maga (Make America Great Again), em cuja periferia movem-se milícias supremacistas. Mas, na salada ideológica do trumpismo, inexiste o conceito fascista nuclear do Estado corporativo. Além disso, ao longo do mandato original do ex-presidente, as liberdades públicas e políticas seguiram intactas.

Foi John Kelly, general da reserva e ex-chefe de gabinete de Trump, quem colocou o adjetivo na roda, propiciando o avanço retórico da candidata democrata.

“O ex-presidente situa-se no campo da extrema direita, é um autoritário e admira ditadores. Assim, com certeza, ele encaixa-se na definição geral de fascista.” A “definição geral” invocada por Kelly abrange incontáveis tiranetes e, sobretudo, ignora as singularidades do fascismo.

FIDELIDADE – O ponto crucial da entrevista de Kelly encontra-se em outro lugar: a menção a um diálogo no qual o então presidente louvava a fidelidade inabalável dos generais de Hitler. O relevante, aí, não é o nome Hitler, mas a palavra fidelidade.

O chefe do Maga ressente-se das resistências dos seus antigos auxiliares militares em cumprir suas ordens impulsivas e, ainda, dos inquéritos instalados contra ele por promotores judiciais. Como lulistas e bolsonaristas, Trump enxerga nas agências públicas autônomas um “Estado profundo” engajado na sabotagem da vontade soberana do Líder eleito.

Trump promete, num segundo mandato, varrer o “Estado profundo”. A alta burocracia estatal seria submetida a expurgos purificadores e colonizada por figuras tão leais quanto os generais de Hitler. Não é fascismo, mas configura um desafio existencial à democracia americana.

STF vai enterrar anistia para golpistas de 8 de Janeiro se Congresso aprovar?

Charge Clayton | Charges | OPOVO+

Charge do Clayton (O Povo/CE)

Carolina Brígido
do UOL

Se o Congresso Nacional aprovar anistia para os golpistas de 8 de janeiro de 2023, como se desenha o cenário, certamente a legalidade da medida será questionada perante o STF (Supremo Tribunal Federal) —a mesma Corte, aliás, que julgou e condenou os réus.

É claro que os integrantes do STF terão interesse em restituir a validade das condenações. Mas há caminhos jurídicos para se fazer isso?

CASO DO INDULTO – Há precedentes diferentes no Supremo sobre casos que podem ser considerados análogos. O mais recente é de maio do ano passado, quando o plenário anulou o decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro que havia concedido indulto ao ex-deputado Daniel Silveira, condenado a oito anos e nome meses de reclusão pelo Supremo por agressões aos ministros do tribunal e ameaças ao Estado Democrático de Direito.

O plenário decidiu que houve desvio de finalidade na concessão do benefício, já que Silveira era aliado político de Bolsonaro. Ao longo do mandato, o então presidente também se dedicava a proferir críticas contundentes contra a Corte.

Para a maioria do STF, embora o indulto seja um ato político privado do presidente da República, é possível que o Judiciário verifique se sua concessão está de acordo com a Constituição Federal.

VÍNCULO POLÍTICO –  No caso de Silveira, ficou entendido que o benefício foi concedido apenas pelo vínculo político-ideológico, o que seria incompatível com os princípios constitucionais da impessoalidade e da moralidade administrativa.

O ministro Luiz Fux foi mais enfático. Para ele, as ameaças proferidas por Silveira configuram crime político, contra o Estado Democrático de Direito, e, por esse motivo, não seria passível de induto ou anistia. O raciocínio seria um caminho para o plenário do STF derrubar anistia eventualmente aprovada no Congresso Nacional.

Antes do julgamento sobre o indulto de Silveira, o plenário do STF analisou, em maio de 2019, ação contra o decreto de Natal assinado em 2017 pelo então presidente Michel Temer.

DECRETO DE NATAL – A maioria dos ministros manteve a validade do decreto. Ponderou, no entanto, que o ato de clemência do presidente da República é passível de ter a legalidade analisada pelo Judiciário.

Na forma, a anistia que se ensaia no Congresso Nacional aos golpistas de 8 de janeiro de 2023 é diferente. Ela não seria baixada por decreto presidencial. Está em votação um projeto de lei que, se aprovado, será sancionado pelo presidente da República.

O modelo seria, em tese, o mesmo da anistia aprovada pelo Congresso em 1979, quando foi pavimentado o fim da ditadura militar no Brasil. O projeto que deu origem à Lei da Anistia foi escrito pela equipe do presidente João Figueiredo, que concedeu perdão aos perseguidos políticos. O Congresso discutiu e aprovou o texto em apenas três semanas.

LEI DA ANISTIA – Em 2010, o plenário do STF julgou ação questionando a Lei da Anistia e, por sete votos a dois, decidiu que ela não era passível de revisão.

 A ação tinha sido proposta pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), com a intenção de possibilitar a punição para militares e policiais acusados de atos de tortura durante o regime militar.

No julgamento, os ministros assentaram que o perdão foi para todos, militantes e militares. “Só o homem perdoa, só uma sociedade superior qualificada pela consciência dos mais elevados sentimentos de humanidade é capaz de perdoar. Porque só uma sociedade que, por ter grandeza, é maior do que os seus inimigos é capaz de sobreviver”, disse, na ocasião, o então presidente do STF, ministro Cezar Peluso.

Passados 14 anos, a composição do Supremo mudou. Portanto, se o julgamento fosse realizado hoje, o resultado não seria necessariamente o mesmo. Há recurso da própria OAB à decisão tomada em 2010. Não há previsão de quando o plenário vai se debruçar novamente sobre a causa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente matéria de Catarina Brígido. Mostra que a nova Lei da Anistia tem amplas condições de ser aprovada, até porque o PT deve votar a favor, junto com os partidos de sua Federação – PcdoB, PSol, PV e PDT, que já entraram no embalo de aprovar Hugo Motta na presidência da Câmara. (C.V.) Dos cinco partidos, só falta o PSol se manifestar. (C.N.)

Bolsonaro acredita que será anistiado, mas quadro que se desenha para 2026 segue restrito

Por decoro, o poeta queria cobrir o olhar da amada com uma folha de parreira

Manuel Antônio Álvares de Azevedo - Frases Perfeitas - Querido Jeito

Álvares de Azevedo criava frases geniais

Paulo Peres
Poemas & Canções

O dramaturgo, jornalista, contista e poeta maranhense Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo (1855-1908) sustenta que “Por Decoro”, os olhos de sua amada, quando expostos publicamente, deveriam estar cobertos por uma discreta folha de parreira.

POR DECORO
Artur Azevedo

Quando me esperas, palpitando amores,
e os lábios grossos e úmidos me estendes,
e do teu corpo cálido desprendes
desconhecido olor de estranhas flores;

quando, toda suspiros e fervores,
nesta prisão de músculos te prendes,
e aos meus beijos de sátiro te rendes,
furtando às rosas as purpúreas cores;

os olhos teus, inexpressivamente,
entrefechados, lânguidos, tranquilos,
olham, meu doce amor, de tal maneira,

que, se olhassem assim, publicamente,
deveria, perdoa-me, cobri-los
uma discreta folha de parreira.

No Brasil, a política tornou-se exercício diário do maior surrealismo do mundo

Bolsonaro e Lula se enfrentam em último debate nesta sexta-feira | CNN Brasil

Lula e Bolsonaro são grandes mestres no surrealismo da política

Carlos Newton

Já dissemos aqui na Tribuna da Internet que não mais existem brasilianistas por essas bandas. Até recentemente parecia uma praga. A política brasileira era acompanhada por um número enorme de observadores internacionais, que se surpreendiam com a sucessão da acontecimentos surrealistas. De tal maneira que eles acabaram desistindo de tentar entender a política aqui no mais importante país debaixo do Equador.

Realmente, não dá para comparar com nenhum outro fenômeno mundial. Vejam agora o que está acontecendo com o projeto que anistia os perigosos “terroristas” do 9 de Janeiro.

DURO DE ACEITAR – As pessoas normais, digamos assim, não conseguem compreender nem aceitar que de repente se tenha começado a falar na anistia, com a situação evoluindo velozmente de um dia para outro. Então, digamos que é resultado de uma evolução astrológica, com vários assuntos entrando em linha e cada um influenciando o outro.

O primeiro fato é que Jair Bolsonaro quer ser candidato de qualquer jeito e a única saída para ele é a anistia. Ao mesmo tempo, Lula caiu no banheiro, quebrou a cabeça e…acordou, ao invés de desmaiar. De repente, percebeu que está velho demais e pode não aguentar o tranco de uma nova campanha.

Nessas condições, como enfrentar um candidato jovem e forte, como Tarcísio de Freitas, chancelado pelo maior partido evangélico do país?

PT TAMBÉM ACORDA – Ao mesmo tempo, o PT também acordou e percebeu que não tem candidato que possa substituir Lula numa emergência. Assim, a solução seria lançar o próprio Lula contra Bolsonaro, porque a possibilidade de vitória seria muito maior, sem Tarcísio na disputa.

Mas acontece que Bolsonaro está inelegível, diria o conselheiro Acácio, personagem de Eça de Queiroz. Ora, é para isso que existem os três poderes, operando em ritmo de lavandaria. O Congresso lava, o Executivo enxágua, o Supremo passa a ferro – e o candidato imundo fica pronto para outra.

Não foi assim que passaram alvejante em Lula da Silva em 2021, deixando-o limpinho para a campanha? E não está sendo assim agora com José Dirceu, que está sendo recuperado para  trabalhar novamente com Lula, embora estejam rompidos desde 2015?

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P.S.
Isso é política ou surrealismo? Não sei. Chamar de política seria esculhambar a democracia e o barão de Montesquieu. Dizer que é surrealismo significaria desconsiderar importantes escritores e artistas que fizeram história no século passado. Assim, a conclusão mais direta é dizer que, no Brasil do século 21, o que parece surreal é apenas o dia-a-dia da política. (C.N.)

Anistiar Bolsonaro significa suicídio democrático e convite à baderna

Charge do dia do campinense Fred Ozanan: Anistia

Charge do Fred Ozanan (Paraíba Online)

Hélio Schwartsman
Folha

Uma pauta que irá animar o noticiário político pelos próximos tempos é a anistia aos golpistas do 8 de janeiro e, por extensão ampliada, a Jair Bolsonaro, hoje considerado inelegível pelo TSE por crimes eleitorais.

Não é exagero afirmar que essa será uma definição fundamental para o futuro político do país. Os pleitos municipais mostraram que Bolsonaro é menos forte do que se julga, mas está longe de ser uma figura sem influência eleitoral relevante.

POSSIBILIDADES – Há três cenários para 2026. Bolsonaro poderá estar preso, poderá estar solto mas sem direito de concorrer à Presidência, ou terá sido anistiado e poderá candidatar-se. Cada um deles traz implicações muito diferentes para o campo da direita e, por conseguinte, para o processo eleitoral como um todo.

Nenhum dos principais candidatos a candidato da direita deverá se colocar no jogo sem saber se o ex-presidente estará no páreo.

No mérito, não consigo conceber erro maior do que conceder um perdão a Bolsonaro. Eu diria até que, se o sistema político embarcar nessa, estará flertando com a autoaniquilação.

VULNERÁVEIS – Democracias são especialmente vulneráveis a ameaças internas, isto é, a líderes regularmente eleitos que passam a minar suas regras mais essenciais com o intuito de perpetuar-se no poder. Bolsonaro fez isso de múltiplas maneiras, da campanha para desacreditar as urnas eletrônicas à minuta de golpe, passando pela intentona do 8 de janeiro.

A principal e possivelmente a única linha de defesa do Estado de Direito contra esse tipo de empreitada é agir com rigor contra governantes que atentam contra seus princípios de modo muito escancarado e fracassam, caso de Jair Bolsonaro.

Deixar de puni-lo, tanto pelos vários crimes eleitorais, como pelos delitos penais, já seria inquietante. Conceder uma anistia, que é como dizer “nós vimos o que você fez, mas não achamos que seja grave”, seria incomensuravelmente pior. Seria um convite a próximos governantes com tendências autoritárias para atropelar as regras de que não gostem sem se preocupar com responsabilização futura.

Esquerda tem graves problemas a resolver, mas não consegue encontrar soluções

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Bruno Boghossian
Folha

Depois da onda da direita de 2018, líderes da esquerda puseram sobre a mesa um problema e uma solução. Para políticos veteranos, parte do desgaste daquele ciclo era reflexo da adesão em massa a valores conservadores e da consequente rejeição ao PT e outros partidos.

Uma das propostas para sair do enrosco envolvia a redução do peso da pauta de costumes e a reconquista do eleitor pelo discurso econômico.

EFEITO LULA – Os anos se passaram, e a esquerda ancorou sua volta ao poder no personagem que simbolizava uma plataforma de transferência de renda e redução de desigualdades. Ele trazia no bolso uma carta aos evangélicos para suavizar desconfianças, além de se escorar no pilar laico da preservação da democracia.

O ambiente político atual e os últimos resultados eleitorais sugerem que a esquerda tem agora dois problemas sobre a mesa.

Acenos tímidos ao público conservador tiveram efeitos igualmente tímidos, enquanto itens do programa econômico se mostram incapazes de sensibilizar segmentos importantes.

BAIXAR O TOM – Na última década, a consolidação do eleitorado conservador fez com que alguma tensão se acumulasse na esquerda. Pragmáticos radicais diziam que era preciso baixar o tom da chamada pauta identitária para não afugentar uma parte considerável do país.

Setores ligados à defesa das minorias, por sua vez, consideravam urgente enfrentar de peito aberto o que já se transformava numa guerra cultural.

A visão do primeiro grupo prevaleceu em muitas elites partidárias, formadas por veteranos menos conectados à agenda identitária e convencidos de que a fórmula econômica era suficiente para obter vitórias políticas.

IDEIA FRÁGIL – A ideia de que ganhos de renda e outros benefícios desobstruiriam pontes com evangélicos e a classe média, porém, era mais frágil do que esses políticos pensavam.

Até aqui, ninguém encontrou um ponto de equilíbrio capaz de permitir à esquerda caminhar sobre a corda bamba da agenda de costumes sem perder sua identidade nem abandonar convicções importantes.

A busca por uma nova mensagem econômica que caia bem nas periferias urbanas e nas classes trabalhadoras representa um desafio parecido.

Arthur Lira quer uma “solução” para PL da Anistia ainda no seu mandato

Anistia: Lira diz que colocou projeto no “devido lugar” ao criar comissão  especial

Arthur Lira vai acertar com Hugo Motta a tramitação dessa anistia

Sérgio Lima
Poder360

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que o PL da Anistia terá “solução” ainda no seu mandato. O congressista afirmou que o tema estava sendo usado na sucessão da Câmara “inapropriadamente”.

Lira criou, na segunda-feira (28.out), um grupo especial para tratar do assunto. A medida atrasa a tramitação do projeto de lei, que estava em tramitação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).

APOIO A MOTTA – Dias depois, Lira anunciou o apoio à candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) para sucessão na Câmara. O deputado paraibano recebeu apoio do PT e do PL e a Anistia estaria no centro das discussões.

“Um tema sensível como esse, por tudo que aconteceu, por tudo que está acontecendo, estava inapropriadamente sendo usado. Conversei tanto com um partido quanto com outro. Nós vamos dar a solução para isso dentro do meu mandato”, disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

O deputado afirmou que pretende manter o diálogo com todos para dar andamento ao projeto de lei. A comissão será formada por 34 integrantes indicados pelos partidos. Para iniciar os trabalhos, terá que ser instalada, depois eleger um presidente e um relator, além de criar um cronograma de debates. A votação do texto será a etapa final.

PL DA ANISTIA – Inicialmente, o texto não concedia anistia só aos presos do 8 de Janeiro, mas a “todos que tenham participado de manifestações em rodovias, frente a unidades militares ou em qualquer lugar do território nacional” a partir de 30 de outubro de 2022, data em que Lula venceu o 2º turno das eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro (PL).

O relator da proposta, deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), retirou o trecho do projeto. O perdão só valerá agora de 8 de janeiro de 2023 até a data em que a lei entrar em vigor.

Segundo o texto, serão igualmente anuladas as “medidas de restrição de direitos”, como o uso de tornozeleira eletrônica, a proibição de comunicação acusados e a suspensão de perfis e contas em redes sociais.

Na 6ª feira (25.out), o STF (Supremo Tribunal Federal) condenou mais 14 acusados pela participação na invasão das sedes dos Três Poderes. O projeto de lei é mais uma forma de os congressistas de oposição avançarem contra as decisões da Corte. Na CCJ, o texto já havia sido adiado três vezes e ficado para depois das eleições municipais.

A presidente da comissão é a deputada Carol De Toni (PL-SC), da oposição, grupo que apoia o seguimento da proposta. Com a criação da comissão especial, o PL não será mais analisado pela CCJ.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, é só formar a comissão na semana que vem e iniciar os trabalhos. Na  sequência, será anexada a anistia a Bolsonaro, Mauro Cid, Braga Netto, Augusto Heleno etc. Quanto ao poético general Gonçalves Dias, que mandava servir água mineral aos invasores do Planalto, nem precisa anistiá-lo, porque o implacável Xandão esqueceu de incluí-lo. (C.N.)

Kassab avança com PSD enquanto Lula patina em seu “negacionismo fiscal”

Presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab faz ressalva à liderança do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e diz que o centrão “não existe mais” - TV Pampa

Kassab se firma como principal articulador político do país

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

No balanço de perdas e ganhos das eleições municipais, Gilberto Kassab tem aparecido consensualmente como um grande vitorioso. Logo após a divulgação dos resultados do segundo turno, o professor Bruno Reis, numa participação na TV Folha, comentou que o ex-prefeito de São Paulo vem se dedicando desde início da década de 10 à criação do que seria um novo partido “pivotal” no Brasil, uma sigla que de certa forma possa recriar no futuro a função do MDB no passado.

O termo pivotal, muito usado em língua inglesa, nos remete à ideia de alguma coisa que funcione como um eixo central.

DEFINIÇÃO – Não foi por acaso, portanto, que na ocasião do lançamento da legenda, Kassab —ao lado de nomes como Kátia Abreu e Guilherme Afif Domingos— tenha se saído com a sempre lembrada declaração: “Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro. É um partido que terá um programa a favor do Brasil, como qualquer outro deve ter.”

A definição, que nega ou tenta escapar dos pontos cardeais históricos da política, foi motivo de justificáveis gracejos. Soou, afinal, como espécie de piada pronta na geleia geral do pluripartidarismo brasileiro, a levantar suspeitas sobre mais uma legenda de aluguel ou destinada a faturar no balcão da fisiologia, onde apoios são comprados e vendidos a cada nova eleição.

O PSD, no entanto, com fraquezas e defeitos que existam, vem contrariando os prognósticos mais pessimistas e ganhando terreno como uma espécie de partido do senso comum brasileiro, sem bandeiras ideológicas marcantes e discursos inflamados.

IDEÁRIO BÁSICO – O PSD guia-se por seu ideário básico favorável à liberdade econômica, ao direito de propriedade, à sustentabilidade, à inovação tecnológica, à transparência e eficiência da administração pública e às liberdades individuais.

A agremiação de Kassab foi a que mais conquistou prefeituras nas eleições municipais. Além disso, foi ele “pivotal” em São Paulo, como secretário e espécie de coach político do governador Tarcísio de Freitas. Com os pés em duas canoas, como se diz, mantém ministérios no governo Lula e procura esfriar os ânimos e deslocar a direita radical.

Pretende construir, e vai se aproximando disso, uma representação política menos exaltada para o establishment e as classes emergentes, que em grande parte se jogaram nos braços de Jair Bolsonaro em 2018.

NOME DA DIREITA – Atribui-se a Kassab a avaliação de que Tarcísio deveria evitar o risco de enfrentar Lula em 2026. Sua reeleição em São Paulo, vista de hoje, são favas contadas, o que fortaleceria sua posição para 2030. É claro que o pós-Lula seria o palco adequado para o sonho apoteótico de Kassab.

Mas a dinâmica política nem sempre favorece cálculos tão alongados. Tudo dependerá dos sinais da capacidade de Lula vencer e até do potencial de quem, senão Tarcísio, venha a ser o nome da direita.

Lula, apesar do natural desgaste, poderá colocar-se em posição de favorito. Para isso, contudo, terá de ganhar mais popularidade e superar logo o persistente negacionismo fiscal alimentado por seu partido. A ver o que a aventada proposta de uma PEC apresentará de fato. Se o governo não patrocinar um plano crível de contenção de gastos vai perder a queda de braço com o mercado e pode ser engolfado por uma crise de confiança.

Hugo Motta assume o compromisso de colocar em pauta o PL da anistia

A resposta de Hugo Motta a petistas e bolsonaristas sobre a votação da  anistia ao 8/1

Inflado pela anistia, Hugo Motta sobe aos céus da política

Bela Megale
O Globo

O projeto de lei que busca anistiar os envolvidos nos ataques golpistas do 8 de janeiro é considerado por congressistas o desafio central que Hugo Motta (Republicanos-PB) tem na corrida pela presidência da Câmara.

O tema é a disputa principal entre as duas maiores bancadas da Casa, a do PL, que trabalha pela sua aprovação, e a do PT, que tenta enterrar a proposta.

PÔR EM PAUTA – Aliados de Motta têm lhe aconselhado a adotar a seguinte estratégia: se comprometer em pautar o projeto no plenário, mas deixar claro que não vai se envolver em entregar votos, seja a favor ou contra a anistia.

Motta, que tenta ser o sucessor de Arthur Lira (PP-AL) com apoio do próprio presidente da Câmara, tem dito às bancadas do PT e do PL que colocar a anistia em votação no plenário da Casa dependerá do que for acordado com o colégio de líderes da Câmara.

Ele também pondera que a criação da comissão especial para debater o tema terá influência direta em como o assunto vai tramitar na Casa.

COSTA NETO DESPISTA – O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tem garantido a aliados que Jair Bolsonaro não será incluído no projeto de lei que propõe a anistia aos envolvidos dos atos golpistas do 8 de janeiro.

Valdemar afirma que o ex-presidente segue acreditando conseguirá reverter sua inelegibilidade na Justiça Eleitoral. Além disso, aponta que o capitão reformado não foi condenado, pelo menos até o momento.

Em sua ida ao Senado, na terça-feira, Bolsonaro foi questionado por jornalistas se colocou sua própria anistia como moeda de troca para o seu partido apoiar a candidatura de Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) ao Senado e à Câmara dos Deputados, respectivamente. Ele negou, mas admitiu a existência de conversas sobre o tema.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Costa Neto e Hugo Motta despistando o acordão para anistiar Bolsonaro no meio do bolo do 8 de Janeiro é Piada do Ano. Lula é o principal entusiasta da anistia, porque tem certeza de que derrota Bolsonaro novamente. O resto é folclore, como dizia Sebastião Nery.  (C.N.)

“Estou vivo e o candidato sou eu”, diz Bolsonaro sobre as eleições de 2026

“Estou vivo e o candidato sou eu”, diz Bolsonaro sobre eleições de 2026Lucas Schroeder
da CNN

Mesmo inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, em entrevista à revista Veja publicada nesta sexta-feira (1º), que é o candidato da direita à Presidência da República em 2026.

Questionado sobre quem pretende apoiar nas próximas eleições presidenciais, Bolsonaro argumentou que é o único com chances de sair vitorioso das urnas daqui a dois anos.

VÁRIOS NOMES – “Falam em vários nomes. Tarcísio, Caiado, Zema…O Tarcísio é um baita gestor. Mas eu só falo depois de enterrado. Estou vivo. Com todo o respeito, chance só tenho eu, o resto não tem nome nacional. O candidato sou eu”, declarou Bolsonaro.

Em junho de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Bolsonaro inelegível por oito anos. Na ocasião, a Corte Eleitoral entendeu que o ex-presidente cometeu abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação ao fazer uma reunião com embaixadores, em julho de 2022, e atacar sem provas o sistema eleitoral.

Ao longo da entrevista, Bolsonaro reiterou que pretende disputar as eleições de 2026, criticou a decisão do TSE que o deixou inelegível por oito anos e disse ser vítima de uma perseguição.

DISSE BOLSONARO – “Eu pretendo disputar 2026. Não tem cabimento a minha inelegibilidade. O processo de abuso de poder político foi por ter me reunido com embaixadores antes do período eleitoral. Não ganhei um voto com isso. São injustiças, uma perseguição”, disse.

O ex-presidente apontou ainda como planeja reverter a decisão do TSE. “O pessoal já sabe [que é uma perseguição], mas preciso massificar isso entre a população. Depois, as alternativas são o Parlamento, uma ação no STF, esperar o último momento para registrar a candidatura e o TSE que decida”, explicou Bolsonaro.

“Não sou otimista, sou realista, mas estou preparado para qualquer coisa”, concluiu.

Ataque de Maduro a Celso Amorim é um presente para o governo Lula

Brasil é contra as sanções à Rússia", afirma Celso Amorim - Hora do Povo

De repente, Amorim virou agente do imperialismo do EUA

Bruno Boghossian
Folha

O governo de Nicolás Maduro atualizou sua lista de inimigos do regime, lacaios da Casa Branca e operadores de uma conspiração contra a Venezuela. Agora, esse rol nada seleto inclui o brasileiro Celso Amorim. A chancelaria de Maduro emitiu uma nota em que chama o assessor de Lula de “mensageiro do imperialismo norte-americano”.

Os delírios da ditadura são um recibo em papel passado da mágoa com o governo brasileiro pelo veto à entrada da Venezuela no Brics. Maduro não queria apenas a carteirinha de sócio de um clube frequentado por países influentes. Ele procurava uma credencial para romper o isolamento e lustrar a fraude que comandou para permanecer no poder.

MARTELO BATIDO – O Brasil frustrou esse plano. Antes da cúpula do Brics, Lula teve uma longa conversa com o chanceler Mauro Vieira. Com a participação no evento cancelada por orientação médica, o presidente instruiu o ministro a seguir adiante com o veto. O martelo havia sido batido na semana anterior, mas o petista não seria mais o portador da notícia.

Maduro sabe que a ordem partiu de Lula. O regime, no entanto, preferiu direcionar suas últimas críticas a Amorim, um operador que liderou a reação do governo brasileiro à fraude na Venezuela de forma cautelosa e, em larga medida, até constrangida.

O ditador ainda parece acreditar que a pressão fará Lula acordar um belo dia para ver que está cercado por ianques infiltrados.

QUEBRA DE CONFIANÇA – Até aqui, o que se tem é o contrário. O episódio alinha as posições de Amorim (que passou a falar em “quebra de confiança” na relação com Maduro), do Itamaraty (que sempre defendeu uma postura menos concessiva) e do presidente (que topou a jogada do veto à Venezuela no Brics). O ataque do regime, com tintas conspiratórias, é um presente adicional para Lula.

Diplomatas enxergam a atitude do presidente e o tom usado pelo regime como uma oportunidade para Lula envergar credenciais democráticas e reduzir a humilhação imposta pelo ditador. Melhor assim.

O problema é que Maduro sempre foi desse jeito, e, até outro dia, o petista e seus aliados juravam que seria possível ter uma conversa limpa com o venezuelano.

Troca de guarda no centrão deve custar muito caro para o governo Lula

Lira diz que PEC do Estado de Emergência não representa ruptura do teto de  gastos - Notícias - Portal da Câmara dos Deputados

A liderança que Lira exerce na Câmara é realmente espantosa 

Bruno Boghossian
Folha

Nas negociações para apoiar o sucessor de Arthur Lira, o PT ouviu a promessa de receber uma vaga no TCU e o comando da primeira-secretaria da Câmara. Se o acordo for confirmado, o partido de Lula terminará o processo com alguns trocados. A mudança de guarda dará mais lucro para o centrão, a um custo alto para o governo.

A aliança construída nos últimos dias em torno de Hugo Motta repete um modelo rentável para esse grupo político. Mais uma vez, o centrão se mostrou capaz de sufocar dissidências, deixar de lado preferências políticas e construir uma coalizão numerosa o suficiente para fazer com que a governabilidade seja uma troca de favores permanente.

SUPERBLOCO – A esta altura, o centrão trilha para reeditar o bloco que reelegeu Lira com 90% dos votos. O presidente da Câmara conseguiu preservar o comando sobre essa mega-aliança graças a um cofre abastecido por emendas e ao poder de controlar as votações no plenário. Cedeu espaços generosos para a oposição e fez andar, no ritmo que ele desejava, projetos de interesse do governo.

A influência sobre um bloco majoritário concentrou nas mãos de Lira o controle sobre a formação de maiorias no plenário, tornando o Planalto dependente do poder de coordenação do chefe do centrão.

No primeiro ano do governo Lula, após rebeliões, chantagens e ameaças, essa força rendeu ao grupo três novos ministérios, um punhado de autarquias e o comando da Caixa.

APOIO DO PT – O PT decidiu apoiar Motta para evitar a repetição do erro que, em 2015, levou à vitória de Eduardo Cunha. O anúncio foi antecipado para que o partido pudesse negociar recompensas modestas, sob a ilusão de que poderia ser percebido como um sócio.

O que vai importar de verdade, no entanto, é a disposição do governo de manter o talão de cheques aberto pelos próximos dois anos.

Caso o centrão consiga remendar as rachaduras provocadas pela disputa interna e renovar seu poder, não terá motivos para controlar o apetite por mais espaços ao longo da segunda metade do governo. A caminho de uma nova eleição, os resultados no Congresso serão ainda mais valiosos para Lula —e o bloco de Lira saberá cobrar seu preço.

Teste definitivo de Bolsonaro é ganhar apoio e aprovar a anistia no Congresso

Jair Bolsonaro após participar de uma reunião partidária no Senado, em Brasília, nesta quarta, 30

Bolsonaro perde no Supremo mas pode ganhar no Congresso

William Waack
Estadão

O grande teste imediato para averiguar o peso político de Jair Bolsonaro e seu papel na direita é saber se consegue mobilizar no Legislativo forças suficientes para compensar o que enfrentará no Judiciário. Simplificando, é anistia versus denúncia.

As articulações no Legislativo estão criando um tipo de geringonça política na qual Bolsonaro “comanda” um agrupamento nutrido. Porém, é apenas um entre pelo menos outros três.

SEM GRATIDÃO – A leitura dos fatos feita pelos operadores desse “centrão radical” (na expressão do cientista político Carlos Pereira) — um amálgama que se acomoda em qualquer lado — é a de que Bolsonaro tem peso significativo, mas se afastando da condição de fator dominante nesse setor do espectro político.

Em outras palavras, dado o fato de que Bolsonaro depende do Legislativo para se livrar da cadeia e voltar a disputar eleições, as raposas felpudas na Câmara entendem que o capitão lhes deve mais, e não o contrário (não existe gratidão em política). O Senado talvez venha a ser mais sorridente para Bolsonaro e o que ele significa, mas só em 2026.

É possível que o Judiciário só trate da aguardada denúncia contra o ex-presidente apenas próximo do Carnaval, ou seja, com as Casas legislativas sob nova direção.

VAI DEMORAR – Essa dilatação do prazo (inicialmente falava-se do final de novembro) para encerramento dos inquéritos e a formulação de uma denúncia por parte da Procuradoria-Geral da República não altera o que se tem como dado seguro: uma peça de acusação robusta.

Dado o número de inquéritos, a quantidade de pessoas investigadas e a linha do tempo (que provavelmente abrangerá os dois últimos anos da Presidência de Bolsonaro) a denúncia promete ser longa e sua principal linha de ataque é a “preparação para golpe de Estado”.

Trata-se de algo difícil de ser provado na Justiça, ao contrário do julgamento político e moral, e depende da composição meticulosa de fatos e indícios capazes de “contar uma história” de maneira convincente.

FALTAM DETALHES – Não que a Segunda Turma do STF, que receberá a denúncia, precise de muito convencimento. É óbvio que a tarefa da defesa de Bolsonaro será a de “desmontar” o todo a partir de suas partes, mas ainda não se sabe em detalhes o que caiu nas mãos da Polícia Federal e da Abin durante os inquéritos. As Forças Armadas permanecerão caladas.

O ambiente político depois das eleições municipais sugere ser ilusório o surgimento de uma atmosfera de alta pressão no Legislativo capaz de moderar a aguardada dura resposta “institucional” do MPF e do Judiciário aos anos de Bolsonaro — “institucional” entendido aqui como julgamento político, no sentido amplo dessa expressão.

Resta talvez a voz rouca das ruas, que anda meio apagada.

Corretagem de emendas: Prefeituras contratam empresas de assessores do Congresso

Charge do Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

Prefeitos têm recorrido a consultorias privadas abertas por assessores ou ex-assessores de parlamentares em busca de liberação de recursos. Segundo matéria publicada no O Globo de ontem foram identificadas dez empresas do tipo, contratadas por 210 municípios diferentes. Os negócios renderam a essas firmas um faturamento de pelo menos R$ 17,5 milhões desde 2019.

O mercado, contudo, pode ser ainda maior, uma vez que nem todos os acordos são incluídos nos sistemas de fiscalização. É incrível a que ponto chegou a transferência das verbas aos municípios. Corretores entram em ação evidentemente indicados por deputados e senadores que são responsáveis pela transferência de tais recursos.

PRÁTICA CORRIQUEIRA – O caso dos corretores de emendas, revelado pelo Globo, tornou-se uma prática corriqueira nos corredores da Câmara e do Senado. Para ter acesso a recursos de emendas parlamentares, prefeitos contratam consultorias oferecidas por funcionários que estão lotados nos gabinetes dos próprios congressistas. O serviço oferecido funciona como o de um corretor, intermediando a negociação do gestor municipal com deputados e senadores. Na prática, a prefeitura paga a funcionários de gabinetes da Câmara e do Senado para ajudá-los a receber verbas públicas sob responsabilidade de seus chefes. A conduta é vedada por lei e pode resultar em punições.

No esquema sombrio, prefeituras contratam empresas cujos sócios também são assessores de gabinetes da Câmara e do Senado. As empresas identificam projetos nos municípios aptos a receber recursos federais. Deputados e senadores que empregam esses assessores destinam emendas parlamentares para os municípios que contrataram essas consultorias. Estarrecedor como a rotina ilegal era praticada sem qualquer tipo de receio.

Em geral, nos contratos constam que essas empresas ficarão responsáveis por captar recursos para as prefeituras em Brasília. Segundo a Câmara, servidores dos gabinetes são proibidos de gerenciar ou administrar empresas enquanto estão no exercício da função. “Além disso, os servidores não devem desempenhar atividades privadas que ensejem conflito de interesse com seu cargo público. A infringência a essas vedações deve ser aferida por meio de processo administrativo”, disse a Casa, em nota.

INFRAÇÃO – Já o Senado informou que os serviços prestados por assessores podem configurar infração caso eles se valham do cargo público para obter vantagem. “Entretanto, o enquadramento de qualquer situação nesses dispositivos somente ocorreria após a análise de casos concretos”, afirmou.

O assunto deveria envergonhar tanto as prefeituras que recebem recursos quanto os parlamentares que participam da engrenagem. Não é possível que órgãos públicos paguem a corretores de emendas para receber os recursos financeiros delas decorrentes. Impressionante o nível a que chegaram prefeituras, parlamentares e os corretores de tais emendas. Uma corrupção escancarada, um desastre em matéria de administração pública. O governo Lula precisa agir, pois tais práticas devem ser combatidas de forma exemplar.

Fiquem atentos aos primeiros sinais do que está para acontecer conosco 

Como Você Sabe Que Está no Caminho Certo? | Sinais de Que Você Está no Caminho Certo - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

O administrador de empresa e poeta carioca Marcos Fernandes Monteiro, conhecido como Coquito, na letra de “Contagem Regressiva”, parceria com Johnny do Matto, personifica-se de profeta e alerta para os primeiros sinais. A música “Contagem Regressiva” foi gravada por Johnny do Matto no CD Parcerias, em 2009, produção independente.

CONTAGEM REGRESSIVA
Johnny do Matto e Cokito

Fique atento aos primeiros sinais
Movimentos celestes
A chegada das pestes
Mensagens astrais

Fique atento aos primeiros sinais
Caso a lua se vá
Sem querer mais voltar
E o sol também for
E levar seu calor

Fique atento aos primeiros sinais
Só restará uma prece
E é bom que se apresse
Pois a estrela cadente
Desce incandescente
Anunciando a matança

Mas ainda há esperança
Na força de um grito
Que leve ao infinito
Toda a redenção
De um novo ser humano
Em um novo plano
Através da lição
Em um novo mundo
Na recriação