José Casado
Veja
Os Estados Unidos continuam a investigar a corrupção na Petrobras no período 2003-2014, ou seja, durante os governos Lula e Dilma Rousseff. O governo Joe Biden anunciou na semana passada a confissão de culpa da Trafigura. A companhia baseada na Suíça aceitou pagar o equivalente a 630 milhões de reais em multas por subornar funcionários brasileiros, durante uma década, para conseguir e manter contratos com a Petrobras na comercialização de combustíveis.
A Trafigura foi a última das cinco grandes tradings a confessar participação num esquema de corrupção no qual pagavam-se propinas de 20 centavos até dois dólares sobre cada barril de produtos petrolíferos comprados ou vendidos à Petrobras. As outras foram Glencore, Vitol, Mercuria e Gunvor.
TRADING IMENSAS – Juntas, essas cinco “irmãs” controlam quase um quarto do comércio mundial de mercadorias — de petróleo a grãos. Individualmente, são maiores que a Petrobras.
Foi a mais ampla investigação nos EUA sobre negócios obscuros nesse mercado desde os anos 80, quando Rudolph Giuliani, então promotor de Nova York, saiu à caça de Marc Rich, fundador da Glencore.
Rich acabou condenado por corrupção a três séculos de prisão. Fugiu, perdeu parte da fortuna, mas morreu ainda bilionário em 2013. Não voltou aos EUA, mesmo depois de perdoado pelo presidente Bill Clinton — era um dos financiadores relevantes do partido Democrata.
PERDEU A CARTEIRA – O promotor Giuliani, republicano, elegeu-se prefeito de Nova York (1994-2001). Em 2018 integrou a assessoria jurídica de Donald Trump, com quem envolveu-se em tentativas de fraudes eleitorais na disputa presidencial, vencida por Joe Biden. Perdeu sua licença de advogado.
A etapa brasileira da investigação na Lava Jato avançou com executivos contando como aconteciam os subornos em troca de vantagens nos contratos. A Petrobras negociava, em média, 400 mil barris de combustíveis por dia, a preços variáveis nas praças de Houston, Londres e Nova York.
A empresa afirmou à Justiça que parte desses negócios, durante uma década, foi realizada em operações sem registro, em papel ou eletrônico.
COMISSÃO ALTÍSSIMA – Em alguns contratos, segundo as confissões, foi paga comissão de até dois dólares por barril, embora a média fosse de 20 centavos de dólar.
O dinheiro da propina era rateado entre funcionários da Petrobras, intermediários nas operações e políticos vinculados aos partidos PT, MDB, PL, Progressistas e PSDB, entre outros.
Uma dezena de empresas brasileiras e estrangeiras já confessaram corrupção em negócios com a Petrobras e aceitaram multas criminais. A maior delas, equivalente a 13 bilhões de reais, foi imposta à antiga Odebrecht, atual Novonor. A Petrobras pagou cerca de 4,2 bilhões de reais.
MAIS EXIGÊNCIAS – Todas concordaram, também, com a submissão a uma série de exigências do Departamento de Justiça e do órgão de controle de mercados de capitais (Securities and Exchange Comission) para continuar operando no sistema financeiro norte-americano.
Como a Petrobras, e a antiga Odebrecht, por exemplo, as cinco “irmãs” das commodities precisam informar e demonstrar, periodicamente, as mudanças nos seus padrões operacionais no comércio mundial de petróleo, alimentos, minérios e metais.
Outra cláusula comum nesses acordos judiciais feitos nos EUA é a da colaboração obrigatória de cada empresa em novas investigações sobre corrupção.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Enquanto na matriz USA a Justiça funciona, aqui na filial Brazil ocorre o contrário e a Justiça faz um esforço descomunal para sepultar o que resta da Lava Jato, para proteger os corruptos de sempre. Sinceramente, é desanimador. (C.N.)