PP, Republicanos e União articulam uma superbancada de 151 deputados

Ciro Nogueira: Frase do dia | VEJA

Ciro Nogueira acredita que a federação pode ser criada

Lauriberto Pompeu
O Globo

Fortalecidos após assumir ministérios no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, partidos do Centrão se movimentam para ganhar ainda mais musculatura em 2024 e avançam nas tratativas para montar uma superfederação. As negociações envolvem PP, Republicanos e União Brasil, siglas que juntas somam 151 deputados e 17 senadores.

Assim, caso o acordo saia do papel, o grupo terá as maiores bancadas tanto na Câmara quanto no Senado, o que pode mudar a correlação de forças no Legislativo.

PODER DIVIDIDO -Embora o bloco de parlamentares do Centrão seja quem, há anos, dá as cartas no Congresso, individualmente os partidos que compõem o grupo informal não representam as maiores bancadas. Atualmente o União é o terceiro com mais representantes na Câmara, com 59 deputados, o PP, o quarto, com 50, enquanto o Republicanos, com 42, apenas o sétimo. As duas legendas que hoje polarizam as discussões políticas, PL e PT, estão à frente, com 95 e 68, respectivamente.

Ter a maior bancada é importante, por exemplo, para ganhar preferência na hora de dividir o comando de comissões. Pelas regras internas das duas casas legislativas, o maior partido — ou maior federação — pode escolher primeiro com qual quer ficar.

Além disso, o bloco de legendas, uma vez unido, teria mais chances de eleger os sucessores de Arthur Lira (PP-AL), na presidência da Câmara, e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na do Senado.

TROCA NO UNIÃO

As negociações para a formação da superfederação, contudo, só devem avançar a partir de março, quando haverá uma troca de comando no União Brasil. Atual vice da legenda, Antonio Rueda é o nome de acordo para suceder o deputado Luciano Bivar (PE) na presidência nacional do partido.

Bivar é apontado internamente como principal entrave até aqui para que a federação das três legendas vingasse, já que perderia o comando do partido ao se unir às outras duas legendas. Por outro lado, Rueda é um dos principais entusiastas da união das legendas e já disse a aliados que viabilizar a federação será uma de suas primeiras ações como presidente do partido.

Além de Bivar, outro fator que precisará ser solucionado são disputas regionais entre as três legendas. Em alguns estados, como Pernambuco e Paraíba, lideranças locais estão em lados opostos e será necessário conciliar o interesse de todos.

HÁ POSSIBILIDADE – A avaliação de dirigentes envolvidos nas tratativas, contudo, é que se houver consenso entre Rueda e os presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do Republicanos, Marcos Pereira, a ideia sairá do papel.

Pela vontade do próximo presidente do União Brasil, a federação seria colocada em prática já a tempo de ser aplicada nas eleições municipais de 2024. Apesar disso, outros integrantes da cúpula do partido, também interessados na federação, pregam cautela e dizem que é preciso analisar como estará o cenário político a partir do momento que o União Brasil trocará a direção.

Do lado do PP, Ciro Nogueira é quem encabeça as negociações. Ao Globo, ele se mostrou otimista com a possibilidade de um acordo em breve. ”Tem grande chance (de a federação ser formada). Deve acontecer” — afirmou ele.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O maior beneficiado seria o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que viabilizaria com antecedência sua eleição à presidência do Senado. No caso da Câmara, a sucessão de Arthur Lira nem começou a ser discutida, porque existem muitos candidatos enrustidos e o único já em campanha é Elmar Nascimento (União-BA), que pode ser apoiado por Lira. De toda forma, 80 anos depois, fica confirmada a afirmação de Oswaldo Aranha, que esqueceu de incluir a Câmara. Disse ele: “O Senado é um deserto de homens e ideias . (C.N.)

Com a barbárie do Hamas, o terrorismo atinge a perfeição em marketing político

Palestinos procuram feridos após ataque de Israel no campo de refugiados de Jabalia, na Faixa de Gaza

Sem cessar-fogo, em breve só haverá escombros em Gaza

Luiz Felipe Pondé
Folha

Nada é menos criativo entre as atividades humanas neste ridículo século 21 do que a infeliz disciplina do marketing. Suas invenções mais recentes, como “gerente de felicidade” de uma empresa ou o conceito de “marca pessoal”, atestam a completa incapacidade criativa dessas ciências sociais aplicadas que são o marketing —não se engane, a ideia de um gerente de felicidade numa empresa é puro marketing de gestão.

Mas não quero falar dessas fake news no ambiente do trabalho neste século 21 sem futuro. Quero falar de algo menos inovador, mas que continua circulando pelo mundo corporativo, que é o “conceito de liderança”. As aspas se devem ao fato que a ideia de liderança não merece toda essa credencial da categoria de conceito. Imagine Kant ou Hegel se dedicando ao “conceito de liderança corporativa”.

E, na sequência, quero dizer de onde virá a verdadeira transfusão de sangue que dará a infeliz disciplina do marketing novos horizontes de criação no que se refere a liderança.

DISSE O CANALHA – Tenho poucos amigos, mas eles sempre me fornecem elementos para enxergar o mundo no seu pior.

Um deles, que atende pelo carinhoso codinome de “Canalha” — claro, descendente direto do canalha honesto do Nelson, hoje em extinção porque todos os canalhas fazem MBA em ESG — me chamou a atenção numa conversa recente para o fato que o personagem bíblico Moisés deveria ser o paradigma do líder quando as pessoas se colocam a questão do que seria a liderança no mundo corporativo — ou fora dele. Vejamos a hipótese de mais perto, agora, com a atenção que um conceito merece.

Antes de tudo, um reparo. Liderança é matéria política. Portanto, é poder, e, por consequência, é violência, apesar das mentiras de hoje em dia. O marketing de gestão fez da liderança uma conversa fiada corporativa, inclusive, atrapalhando a própria liderança no mundo corporativo.

NA HAPPY HOUR – Segundo essa infeliz disciplina, liderança é algo que deve desaguar em abraços corporativos e happy hours — com a lembrança de que a antiga função dessas happy hours, a saber, pegar a colega gostosa da empresa, está proibido pelo compliance que odeia o Eros.

A liderança é uma função mais próxima de um trágico que caminha sozinho pelo deserto, mesmo quando acompanhado. Já que falamos em deserto, vamos voltar a Moisés, o homem que liderou por 40 anos, no deserto do Sinai, um povo que acabara de sair de uma escravidão no Egito, segundo a Bíblia, por muito mais do que 40 anos. Como era a relação desse líder com seu “time”?

Esse povo só deu dor de cabeça para o homem que o libertou da escravidão no Egito. Ingratos, alguns chegaram mesmo a dizer que a vida na escravidão era melhor do que aquela liberdade toda. Evidente que no caso da narrativa bíblica, há um Deus em jogo e Moisés é um mero intermediário na realização da vontade desse Deus.

BEZERRO DE OURO – Enquanto Moisés se reunia com Deus no monte Sinai para pegar os dez mandamentos, que deveriam pautar a vida desse povo não mais escravo, alguns ao pé do monte inauguram um culto a um bezerro de ouro, o que leva Deus a ter que puni-los.

Fruto da impaciência, imediatez, pressa, preguiça, parte do povo está sempre pronto a trair Moisés e seu Deus.

Foi da mesma região geográfica, a terra prometida, que veio a grande disrupção na infeliz disciplina do marketing neste último ano. O grupo terrorista Hamas fez uma ação revolucionária de marketing dia 7 de outubro de 2023 que deu inúmeros frutos para seus criativos.

ACERTOU EM CHEIO – Ao chacinar, estuprar, humilhar pessoas de diferentes idades e sexos, o Hamas acertou em cheio.

Dias depois, Israel, tomado pela fúria da agressão sofrida, realizou exatamente o que os marketeiros terroristas queriam: fulminou Gaza e grande parte da sua população tentando resgatar reféns israelenses e matar terroristas. Com cada palestino morto, criança ou adulto, o Hamas vibrou e comprovou que o futuro do marketing está em ações agressivas, imorais e sangrentas.

Vem por aí mais um ano novo que promete. O terrorismo evoluiu e atingiu seu clímax em 2023: tornou-se pura ciência da comunicação. Hamas, um case de sucesso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente análise de Pondé. O marketing do Hamas realmente deu certo. Israel não poderia reagir destruindo a Faixa de Gaza, sem se importar com quem está morrendo nos escombros. Ao agir assim, adotou o estilo Hamas e se tornou tão horripilante quanto os terroristas. Israel caiu na armadilha montada pelo Hamas e sua imagem jamais será a mesma. (C.N.)

O que está em jogo é a sobrevivência do regime de governo na Argentina e no Brasil

Sindicatos e diferentes organizações argentinas foram às ruas protestar nesta quarta-feira contra o 'decretaço' imposto pelo governo de Javier Milei na semana passada

Protestos mostram como a Argentina está hoje dividida

Merval Pereira
O Globo

Muito mais dramaticamente na Argentina do que entre nós, dois governos eleitos democraticamente enfrentam seus Congressos como marca da decadência do presidencialismo que, nos dois países, tem sofrido os percalços do populismo, seja de direita, seja de esquerda.

Não é preciso entrar no mérito das disputas para entender: o que está em jogo é a sobrevivência do sistema de governo vigente na Argentina e no Brasil. O extremista de direita Javier Milei foi eleito por uma maioria popular que, pelas pesquisas de opinião, já perdeu, num paradoxo perfeito da tragédia que los hermanos vivem.

É DE ASSUSTAR – Os mesmos que colocaram Milei no poder, acatando promessas alucinadas de passar a motoserra em tudo o que estivesse pela frente, hoje se assustam com a potência de seu corte. Lula — populista dito de esquerda, eleito por pequena maioria para livrar o país de um extremista de direita que ameaçou transformar nossa frágil democracia em retrógrada ditadura revolucionária — enfrenta uma máquina política ainda controlada pela direita e não consegue ampliar o apoio que recebeu nas urnas.

Os dois, cada umà  sua maneira, usam as armas que têm para pressionar o Congresso e obter a aprovação de medidas que consideram indispensáveis para o prosseguimento de seus planos.

Embora Milei seja mais histriônico e ameace diretamente o Congresso com uma revolta popular caso não consiga a aprovação de seu “Omnibus”, o governo petista não deixa de ser mais agressivo na decisão de enviar ao Congresso uma Medida Provisória decretando justamente o contrário do que os parlamentares acabaram de decidir.

HADDAD AMACIA – Uma afronta tão grande não se vê há muito, embora adocicada pela fala educada e culta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, distante da oratória agressiva da extrema direita, tanto cá como na Argentina. O que buscam, na verdade, os Executivos dos dois países é uma saída para um impasse que parece inconciliável.

O populismo tem dado as regras no Brasil e na Argentina nos últimos anos. No Brasil, não houve governo eleito desde a redemocratização que não fosse populista, de direita — Collor, Bolsonaro — ou de esquerda — Lula, Dilma.

Até o Plano Real, que levou ao governo um intelectual social-democrata das mais nobres castas, que poderia não se eleger nem deputado federal na eleição em que virou presidente, tinha seu quê de populista, embora não tenha sido concebido com essa intenção. O fim da hiperinflação colocou dinheiro no bolso do povo.

VEIO DAS CINZAS – Na Argentina, o peronismo, de esquerda, de centro, de direita, vem dando as cartas, e Milei surgiu das cinzas desses governos decaídos para prometer a salvação, como um guru que promete a vida eterna levando seus seguidores à morte.

O presidencialismo, reforçado no Brasil por plebiscitos, atende à necessidade dos dois povos – de um pai dos pobres, o salvador da pátria.

Quando eleitos, com a força das urnas conseguiam controlar as massas. Lula chegou a ter 80% de popularidade e ridicularizava os que o rejeitavam: “Em que mundo vivem?” — perguntava, irônico, sem imaginar que estavam acossados sob o tacão populista do momento, que, do nada, virou o pêndulo em 2018.

AMBOS SEM FORÇA – O poder presidencial, no entanto, perdeu a força, lá como cá, com o advento das redes sociais, que soltaram ao mundo as feras contidas pelo poder dos sindicatos e do populismo.

Milei ameaça convocar plebiscito caso o Congresso não aprove suas leis. Já houve tempo em que o governo plebiscitário era uma carta na manga dos petistas, quando imaginavam controlar a escolha do povo.

Nem Milei parece ter mais força para impor suas vontades a uma população assustada — incapaz de entender que a motosserra cortaria também sua carne —, nem Lula tem condições de impor ao Congresso uma humilhação como a que propôs, restabelecendo o veto em matéria já decidida pelos parlamentares.

José Luiz Datena, o grande enganador, ganhou carteirinha de ‘socialista’ no PSB

Tabata Amaral, José Luiz Datena, Carlos Siqueira e Marcio França na filiação do apresentador ao PSB

Datena enrola todo mundo e nunca sai como candidato

Bernardo Mello Franco
O Globo

José Luiz Datena começou o ano no PSC, celebrou a Páscoa no PDT e vai passar o Natal no PSB. O apresentador nunca disputou uma eleição, mas já está no décimo partido. A cada troca de sigla, é bajulado por novos políticos de olho em sua popularidade na TV.

Nos últimos anos, o comunicador ensaiou se candidatar a presidente, vice-presidente, senador e prefeito de São Paulo. Agora promete concorrer a vice-prefeito na chapa da deputada Tabata Amaral.

NÃO DESISTIU – No ato de filiação, ele falou muito de si mesmo e pouco dos problemas paulistanos. “Eu não desisti da política. A política é que desistiu de mim”, gracejou, antes que alguém questionasse seu vaivém partidário.

Datena esteve no PT de Lula, no PP de Maluf e no PSL de Bolsonaro. Ao assinar a ficha do PSB, mostrou pouca afinidade com o ideário socialista. “Não há que ter luta de classes”, arriscou. Faltou ler o estatuto do partido, que menciona duas vezes o conceito marxista.

Diante dos novos correligionários, o apresentador forneceu uma amostra grátis de seu telepopulismo. “O dono do Brasil é o povo brasileiro”, proclamou. “Somos um país que deu certo por causa da miscigenação de raças”, prosseguiu. “Não precisa acreditar em Deus para ser honesto”, emendou.

RADICALIZAÇÃO – Ele também pontificou contra o extremismo e a “imbecilidade da radicalização”. Nem parecia o personagem dócil que ia tomar cafezinho no Alvorada enquanto Bolsonaro atacava o Judiciário e ameaçava desrespeitar o resultado da eleição.

Datena é um expoente do sensacionalismo na TV. Vive de narrar incêndios, enchentes, chacinas e perseguições policiais. Seu ofício é transformar as tragédias de cada dia em pontos na guerra da audiência.

Quando a cidade vai bem, o programa vai mal. Se não fosse uma farsa, sua aposta na política seria uma contradição. Cumprindo o que promete no palanque, ele ficaria sem assunto para faturar na telinha. A festa do PSB para receber Datena é mais um retrato da nossa barafunda partidária. No Brasil, a extrema direita manda no Partido Liberal e o fisiologismo domina o Partido Progressista. Ninguém deveria se espantar com um sensacionalista no Partido Socialista.

Israelenses e palestinos estão errados por não se livrarem de suas cegueiras coletivas

Brasileiros em Gaza farão 2ª tentativa de sair de escola pela manhã

Gaza já está em escombros e os bombardeios continuam

Hélio Schwartsman
Folha

Vão se acumulando razões para que Israel conclua ou pelo menos reduza as operações militares em Gaza. A mais premente é a economia. Travar uma guerra como essa é estupidamente caro para Israel. A segunda razão é a pressão internacional, em especial a dos EUA, para suspender a carnificina. E até os membros mais extremistas do governo de Netanyahu sabem que o país precisa do apoio dos EUA.

As razões humanitárias para interromper os ataques, que, num mundo justo, dispensariam todas as outras, entram apenas em terceiro lugar ou mais abaixo. E isso nos leva a um paradoxo.

PESSOAS NORMAIS – A maioria dos israelenses e a dos palestinos são, por definição, pessoas normais, que valorizam a vida humana e repelem o que veem como injustiças.

Como então explicar o apoio maciço de israelenses às operações militares e os ostensivos aplausos de palestinos (e de boa parte da opinião pública mundial) aos ataques terroristas de 7 de outubro?

O problema está na cadeia de causalidades. Tudo no Universo tem causas proximais e distais, e nossas mentes se aproveitam dessa exuberância para extrair as racionalizações que mais lhes convêm.

ESCUDO HUMANO – Grande parte dos israelenses deve lamentar as mortes de palestinos, mas as coloca na conta do Hamas, que disparou o primeiro tiro em outubro e ainda usa a própria população como escudo humano, ignorando que as bombas que já causaram mais de 20 mil mortes são lançadas por Israel.

De modo análogo, palestinos veem os atos terroristas como uma resposta natural aos mais 50 anos de brutal ocupação israelense, sem atentar para o fato de que assassinatos a sangue-frio, estupros e sequestros são, pela régua moral da civilização contemporânea, métodos absolutamente inaceitáveis de resistência.

Ambos os lados estão certos em suas queixas e errados por suas cegueiras seletivas. Hoje, a paz é impossível. Mas a crise tornou o “statu quo” insustentável. No médio prazo, tudo terá de mudar.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGExcelente artigo de Hélio Schwartsman. É preciso considerar que os dois lados estão errados. Será o primeiro passo para mudar uma situação que não interessa a ninguém. (C.N.)

Brasil é um país onde o crime compensa e bandidos correm cada vez menos riscos

Na sua opinião, o que o Brasil precisa para dar certo? - Quora

Charge do Zappa (BestA Fubanca)

J.R. Guzzo
Estadão

A situação de calamidade aberta e aparentemente incontrolável em que se encontra hoje a segurança pública no Brasil não é um fracasso do governo Lula, ou do ex-ministro Flávio Dino, e não será de quem está vindo para o seu lugar. É um fracasso do Estado brasileiro – possivelmente o pior de todos, dentro de um contrato social que coloca como obrigação fundamental do poder público garantir a vida, a propriedade e os demais direitos do cidadão.

Nenhum governo, por pior que seja, tem a capacidade de criar sozinho a paisagem de terra arrasada que foi imposta ao Brasil atual pela criminalidade – e muito menos no período de apenas um ano. Somos hoje um país conduzido pelo crime porque o conjunto das forças políticas e sociais que mandam neste país há 40 anos decidiu, por ação e por desídia, adotar na prática a impunidade penal como política de Estado. O resultado foi a transformação do Brasil num país onde o crime compensa – basicamente, porque os criminosos correm cada vez menos riscos.

MUITAS CAUSAS – Não faltaram, ao longo dos anos, estudos, pesquisas e debates sobre a criminalidade – e quanto mais se fala no assunto, pior fica a situação. É óbvio que o problema não pode ser resumido a um, dois ou três motivos. Catástrofes sociais desta natureza e deste tamanho sempre são fruto de uma coleção de causas, circunstâncias e decisões erradas.

Mas também é óbvio que não vai se chegar à solução nenhuma, como não se chegou até hoje, enquanto a maioria dos responsáveis pela máquina pública não reconhecerem honestamente que o Brasil de 2024 tem uma legislação criminal suicida e temos de demolir peça por peça, até a última, da estrutura legal de proteção e incentivo ao crime que está atualmente em vigor neste país.

IDEOLOGIA – A segunda ação indispensável é banir, através da discussão livre e dos mecanismos habituais da democracia, a ideologia-mãe de todo esse naufrágio: a de que o crime é uma consequência das “injustiças sociais”, e não da recusa dos criminosos em obedecer a lei, como fazem todos os demais brasileiros.

Os sistemas de segurança que qualquer sociedade minimamente bem-sucedida oferece à comunidade foram sistematicamente destruídos pelas leis que o Congresso Nacional, por pressão de advogados criminalistas, entidades que defendem “direitos humanos” e grupos criminosos, aprovou nos últimos 30 anos.

Todas as leis aprovadas neste período foram a favor dos bandidos e da atividade criminal. Nenhuma foi a favor da repressão ao crime – e dos direitos que o cidadão tem de não ser assassinado,

CRIME FAVORECIDO – Como querer, diante disso, que “o governo” resolva? A evidência do favorecimento ao crime está aí, à vista de todos. É a audiência de custódia. É o juiz de garantias. É o cumprimento de 1/6 da pena. É a juíza que oferece cafezinho para o preso em flagrante.

É a “saidinha” – cinco vezes por ano, com sete dias livres em cada uma. É a libertação quase que automática de assaltantes à mão armada, traficantes de droga e até assassinos, por miudezas burocráticas contrabandeadas para dentro das leis.

É a câmera que os policiais têm de usar em seus uniformes – e que serve como um instrumento de intimidação no seu trabalho. Não há um único país no mundo com tanta proteção aos direitos dos criminosos e tantas dificuldades para a ação dos policiais, promotores e juízes das varas penais.

FAÇA COMPARAÇÕES – O Brasil tem problemas sociais de primeira grandeza, sem dúvida – mas os problemas sociais não têm nada a ver com o crime. Países com níveis de pobreza e de desigualdade muito piores que os do Brasil têm índices de criminalidade muito mais baixos. É um fato objetivo. Como responder a ele?

A verdade é que caímos nessa fossa, basicamente, porque políticos e magistrados nunca sofrem na própria pele as consequências das decisões insanas que tomam. Quem jamais soube, por exemplo, que algum senador da República ou ministro dos tribunais superiores tenha sentido um revólver na testa exigindo o seu celular e a senha do Pix? Isso não existe. Toda essa gente, os responsáveis diretos pelo incentivo ao crime no Brasil, vive num mundo de segurança absoluta – dentro de carros blindados, cercados de guarda-costas com armas automáticas, confinados a ambientes onde bandido nunca entra.

Preferem, é claro, ficar com o cartaz de “progressistas”, de “civilizados” e de “antifascistas” sem jamais correr qualquer tipo de risco pessoal. Protegem os direitos dos criminosos – e negam os direitos, a começar pelo direito à vida, dos 200 milhões de cidadãos brasileiros. Dá muito mais lucro.

Superpoderes do Supremo minam sua legitimidade, e está difícil controlá-los

Dos 11 do Supremo, só 2 são juízes concursados – Por José Nêumane | Brasilagro

Charge do Mariano (Charge Online)

Marcus André Melo
Folha

“O preço da liberdade do Supremo é a eterna desconfiança pública quanto à formação de sua pauta”. A afirmação é de Diego Werneck em “O Supremo entre o direito e a política”. Se o STF expandiu vertiginosamente seu escopo de atuação coletiva e individual, o “ativismo processual” dos juízes, como denominou Joaquim Falcão, mina a sua legitimidade.

Se o STF, através de decisões monocráticas de seus juízes, pode decidir virtualmente sobre qualquer tema e a qualquer momento, o tribunal será visto pela sociedade como arbitrário e ilegítimo. As decisões serão cada vez mais interrogadas por suas motivações individuais, políticas, estratégicas.

DÚVIDA PERMANENTE – “Em um tribunal sem limites, amarras, ou critérios claros para explicar sua agenda, a dúvida se tornou permanente”, diz Diego Werneck. A mudança recente do regimento limitando os pedidos de vista visa conter os danos causados pelo ativismo processual para a imagem do tribunal ou miram a atuação individual de ministros indicados por Bolsonaro?

Muito do crescente hiperprotagonismo do Supremo atual estava escrito na pedra. Ou melhor, na Constituição. Foram vastos os poderes delegados à corte. Foi também vasta a lista de legitimados a apresentar demandas diretamente ao STF.

Aqui outra contradição: o gigantesco passivo de processos não afeta a liberdade dos ministros de escolher o que priorizar. Pelo contrário, fornece um álibi permanente para a discrição. Este passivo ao invés de minar sua eficiência, o empodera.

ALTA VOLTAGEM – É a agenda de alta voltagem que o sobrecarrega. Nenhum outro tribunal na história enfrentou: o julgamento de centenas de réus, da elite política (ainda no poder) à empresarial do país; o impeachment de um presidente; o julgamento de outro por crimes comuns e eleitorais; a contenção de um populista iliberal.

Aqui teve que escolher a batalha a travar, o que levou a abandonar a luta pela corrupção, e até aumentar a colegialidade. De forma inédita, tornou-se objeto de ataques violentos.

Juízes que decidem sobre estes casos, empoderam-se para decidir sobre quaisquer outras questões. Até praticam o que chamei de anistia judiciária: o exercício de uma anômala prática de ‘pacificação política’.

OBJETIVO SUPREMO – Controlar o STF tornou-se objetivo político supremo dos atores políticos.

A força do tribunal ancora-se de forma importante na sua jurisdição criminal, sobretudo sobre os membros das duas Casas do Congresso, que têm foro privilegiado. E aqui se localiza um equilíbrio perverso que mantém o status quo. Cabe ao Senado a seleção de juízes e o controle de abusos.

Mas os senadores não têm incentivos para exercê-lo sobre ministros que podem vir a ser seus julgadores. Ao contrário de James Madison, um dos criadores da Constituição dos EUA, a ambição atiça a ambição, não se contrapõe a ela.

O Brasil está seguindo em frente e deixa a era Bolsonaro para trás

Bolsonaro tornou-se inelegível para alegria de grande parte da sociedade

Marcelo Copelli

No início de 2023, o atual presidente da República, Lula da Silva, chegava ao seu terceiro mandato com a promessa de cuidar das pessoas e dedicar-se à reconstrução do Brasil após uma gestão de devastação promovida pelo mandatário anterior derrotado nas urnas.

Em uma derradeira tentativa de impedir o caminhar democrático, bolsonaristas invadiram e depredaram Praça dos Três Poderes, o Supremo e o Congresso, ratificando que a polarização ainda haveria de perdurar ao longo dos próximos meses. Ao mesmo tempo, o que se observou foi o gradual apagamento da imagem e das articulações políticas do ex-presidente Jair Bolsonaro, até mesmo em virtude dos processos e das decisões judiciais que o tornaram inelegível por alguns anos, durante os quais, para o bem de muitos, estará impedido de concorrer ao Planalto ou a outros cargos políticos.

POLARIZAÇÃO – Ainda que novas ações tenham sido registradas no tabuleiro político, o bolsonarismo mostra que ainda sobrevive e se motiva por aspirações nas próximas jogadas. Em tradução simultânea, o extremismo e a polarização não foram riscados do plano atual, apenas se movimentam de outra forma.

Isso, entretanto, não se tornou obstáculo para que Lula obtivesse vitórias, a exemplo  da recente reforma tributária, o “arcabouço fiscal” e a consequente subida do rating da dívida brasileira. Agora, em 2024, após um ano do início do seu novo mandato, Lula estará na mira de novos balanços e avaliações, diante de um cenário que ainda avalia conquistas e derrotas, promessas cumpridas e outras que ainda estão por se concretizar. Mas o país segue  em frente, a cada dia deixando as más lembranças da gestão anterior e de seu representante maior no passado.

Para poetas como Cassiano Ricardo, a inspiração pode vir de qualquer coisa

Cassiano Ricardo (Desejo) | Oceano de LetrasPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, ensaísta e poeta paulista Cassiano Ricardo (1895-1974), da Academia Brasileira de Letras, no poema “Viajam as Palavras”, demonstra que a inspiração pode estar em todo canto, até mesmo viajando na trepidação do trem de ferro. que modifica o sentido de tudo, inclusive, das palavras.

VIAJAM AS PALAVRAS
Cassiano Ricardo

Passageiros, formo como que um diagrama
entre o céu tremido e o jornal que a trepidação
do trem sacode em minhas mãos.

A paisagem me vem oferecer seus buquês
roxos e cor de ouro
mas foge, arrependida.

Vistos, de longe, de passagem,
todos os rostos são amigos, são iguais.

Só que depois, em minha memória,
que estará rolando ainda esta paisagem
impressa em mim, à minha saudade
como um quadro à parede.

O possível desastre
faz cantar, como uma carretilha ao meu ouvido,
o pássaro do adeus.
O trem de ferro desloca o sentido das coisas.
Viajam as palavras.

Lula afronta o Congresso e a sua MP da “Reoneração” será facilmente rejeitada

Mensagem de fim de ano de Lula - YouTubeCarlos Newton

Neste final de ano, a medida provisória de Lula da Silva e Fernando Haddad estava causando mais expectativa do que a Megasena da Virada, porque o governo tem um defeito enorme, que emana da figura do presidente da República e contamina os escalões inferiores. É um fato desabonador, porque Lula se perde pela vaidade, ao se considerar o melhor político e estadista da História, por ter sido um operário que chegou ao poder num país da importância do Brasil.

A capacidade de exagerar em suas declarações chega a ser constrangedora. Há alguns anos, proclamou ser a alma mais honesta deste país, para depois ir passar 580 dias na cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro, até que os ministros do Supremo inventaram uma maneira de libertá-lo por “incompetência territorial absoluta”, um tipo jurídico que não existe no Direito Penal, somente aplicável no Direito Imobiliário.

MAIS MENTIRAS – Agora Lula volta a espantar a concorrência, ao dizer que não existe quem acredite em Deus mais do que ele, O fato é que o petista está acostumado a mentir desde os tempos em que trabalhava como informante da ditadura militar, dedurando os próprios amigos de sindicato, conforme relata o livro “Assassinato de Reputações”, escrito pelo delegado federal Romeu Tuma Júnior, cujas denúncias Lula jamais teve como contestar.

Quem é capaz de mentir assim, com tamanha abrangência, certamente acha Abraham Lincoln ridículo e pensa que pode enganar a todos, o tempo inteiro. Tanto assim que uma das mentiras mais interessantes de Lula refere-se justamente a Lincoln. Há alguns anos o petista declarou que enfim tinha lido um livro – a biografia do presidente americano.Para comprovar ter lido, disse que a parte que mais o impressionou foi quando Lincoln esteve na estação ferroviária para esperar um telex.

Este relato provou que Lula não lera o livro, apenas assistira ao filme de Steven Spielger, porque a cena mencionada não existe na biografia, foi inventada pelo roteirista Tony Kushner. E o pior é que nem existia telex na época, Lincoln tinha ido ao telégrafo.

CONTINUA MENTINDO – O tempo passa e Lula continua exagerando em tudo o que diz ou faz. Vive falando em composição com o Congresso, em união de esforços com o Supremo, mas é tudo conversa fiada. Na verdade, não sabe atuar em conjunto e não tem respeito pelos outros Poderes. Agora, sem negociar, mandou ao Legislativo uma medida provisória alterando a desoneração tributária.

Mais uma afronta aos parlamentares, exatamente quando o Congresso se tornou um pote até aqui de mágoa com o Planalto e o Supremo. Assim, a medida provisória tem chance zero de ser aprovada e foi um erro, porque aumentou ainda mais o clima de desânimo na base aliada.

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P.S. –
A deputada Any Ortiz (Cidadania-RS), relatora da lei que prorrogou a desoneração da folha de pagamentos, disse à CNN que o governo “contrariou a vontade do Congresso, que representa a totalidade dos brasileiros”, e “causou uma enorme insegurança jurídica”.  (C.N.)

É preciso garantir liberdade de imprensa, combatendo fake news e assédio virtual

Charges fake news

Charge do Cazo (Blog da AFTM)

Baleia Rossi
Estadão

O ano de 2023 termina com o sentimento de missão cumprida por conta da aprovação da PEC 45 da Reforma Tributária, proposta apresentada por mim e que se tornou bandeira partidária. Para fazer política é preciso bandeiras claras. Para 2024, ano de eleição municipal, quero fazer o compromisso público de que vamos reforçar nossa defesa da liberdade de imprensa e o combate às fake news.

A Coluna do Estadão noticiou na semana passada que a deputada Simone Marquetto, minha colega de bancada e do MDB de São Paulo, conseguiu aprovar o projeto de lei 2378-B, que define garantias para o exercício do trabalho jornalístico e tipifica como crime ataques à reputação de jornalistas. A proposta é autoria da ex-deputada Shéridan (PSDB-RR), e foi apresentada em 2020. Simone atuou como relatora.

LUGAR COMUM – Por conta da polarização política, ataques a jornalistas viraram lugar comum, sobretudo no ambiente das redes sociais. O trabalho da imprensa pode e deve ser até criticado. O contraditório é um direito que todos temos.

O problema ocorre quando uma autoridade resolve atacar o jornalista com ofensas pessoais, incentivando seguidores a fazer o mesmo, nos chamados conhecidos “cancelamentos”.

Essas ações devem ser punidas, pois visam impedir o livre exercício e acabam por minar a saúde mental dos profissionais. Aliás, é preciso discutir também novas formas de financiamento do jornalismo. Principalmente o trabalho feito dentro das regras que respeitam a imparcialidade, a objetividade e, como já disse, o contraditório.

RESPONSABILIDADE – A internet e as redes sociais transformaram cada pessoa num produtor de conteúdo e, principalmente, num reprodutor de conteúdo. Na busca por engajamento, tal produção tem como característica provocar emoções em vez de reflexões. A discussão do PL das fake news acabou contaminada, mas não podemos abrir mão de criar algum tipo de legislação em que haja plena liberdade com plena responsabilidade também.

Prestes a completar 60 anos, o MDB defende a liberdade de imprensa desde a sua fundação em plena ditadura militar. Porque imprensa livre é sinônimo de democracia, algo que precisa ser valorizado cada vez mais.

Em 2024, celebraremos os 40 anos da campanha de Diretas Já, que contou com a corajosa cobertura jornalística de muitos veículos. É um ano de eleição. Ano de combater fake news e valorizar o jornalismo.

Ciro Gomes diz na TV que não pretende mais disputar eleições: “Eu fui desistido”

Ciro criticou Lula por, segundo ele, agravar a

Lula agravou a relação podre com o Congresso, diz Ciro

Deu em O Globo

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou em entrevista à GloboNews, que “dificilmente” voltará a disputar eleições. Em 2022, o pedetista amargou seu pior desempenho em uma campanha à Presidência da República, quando obteve apenas 3% dos votos e ficou em 4º lugar. Ciro criticou o movimento para fazê-lo desistir de se candidatar nas últimas eleições.

“Eu fui desistido. Não é bem que eu desisti, não”, disse. “Quando eu saía de uma eleição difícil, quase impossível, com 12% (dos votos), eu achava que não tinha direito de desertar da expressão daquilo. Quando aconteceu aquilo (eleições de 2022), da forma que foi, eu me senti asfixiado por aqueles por quem eu lutei a minha vida toda. De repete senti: estou fazendo isso sozinho. Em nome de quê?”

TERRORISMO ELEITORAL – Nas últimas eleições, apoiadores do presidente Lula e artistas como Caetano Veloso e Alinne Moraes fizeram uma campanha para tirar votos de Ciro, batizada de #tiragomes. O objetivo era estimular o voto útil no petista para derrotar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ciro na época chamou o movimento de “terrorismo eleitoral”.

À GloboNews, Ciro criticou artistas que apoiam Lula apesar de concessões feitas ao Congresso. O ex-governador citou repetidamente as emendas parlamentares liberadas pelo governo como exemplo de falhas da gestão federal. Diante disso, o cearense afirmou que perdeu “a crença e o entusiasmo na linguagem eleitoral brasileira”.

“O que me causou um constrangimento e me fez perder a vontade de disputar minhas ideias eleitoralmente são as mediações”, afirmou.

 “Como vou explicar isso aqui (suas ideias de governo) pro povão se não tiver um conjunto de pessoas equipadas pelo privilégio de serem artistas, intelectuais, cientistas, líderes estudantis, lideranças sindicais? Essa gente toda está batendo palma para a destruição do meu País, para o apodrecimento da República. O cinismo perdeu o pudor. Fala-se: o Congresso é assim.”

CRÍTICAS A LULA – Ciro criticou Lula por, segundo ele, agravar a “relação podre, corrupta, fisiológica e clientelista” com o Congresso. Em agosto, o petista se tornou o presidente que mais liberou emendas parlamentares em um único mês.

Para o ex-governador, este é um sinal de que a negociação com os deputados e senadores continua da mesma forma que ocorria com Bolsonaro, quando revelou-se o esquema do orçamento secreto. “Enquanto isso, nossa elite, de forma cínica, diz: se não assim, como faria?”, questionou Ciro, propondo a adoção de plebiscitos para resolução de disputas entre Executivo e Legislativo.

O ex-ministro disse crer que a verba que os parlamentares ganham com emendas acaba com a equidade na disputa política. “Não se elege mais uma pessoa jovem, uma pessoa séria no País. Estamos ensinando aos jovens que a política é assim?”, criticou.

DEUS NÃO QUIS – O cearense foi candidato à Presidência quatro vezes. Em 1998 e em 2002, pelo PPS, chegou a 10,9% e 11,9% dos votos. Em 2018, com o PDT, alcançou 12,4% do eleitorado. Na última disputa, ficou atrás de Lula, Bolsonaro e Simone Tebet (MDB). “Eu tenho êxito na política, só não consegui ser presidente do País. Deus não quis”, disse Ciro na entrevista. Depois de afirmar que “dificilmente” entraria em disputas novamente, reafirmou: “Eu vou seguir lutando, mas disputar eleição não quero mais não”.

O ex-governador do Ceará criticou a atuação do governo federal em diferentes áreas, da economia ao meio ambiente, passando por segurança, educação e tecnologia. Para ele, Lula “perdeu o pulso faz tempo” e o País está em “decadência franca” há anos. Ciro disse acreditar que as políticas públicas não mudaram muito desde a gestão passada.

“É muito melhor criticar um governo como o do Lula, do que um governo como o do Bolsonaro”, afirmou. “Mas vamos ficar amarrados nessa âncora mortal? Ao invés de comparar as coisas com o passado, eu comparo com a promessa que foi feita, que está muito longe de ser atendida, e com as condições objetivas de fazer diferente, que eu sei que poderia ser.”

POLÍTICA EXTERNA – Outra área de atuação do governo criticada por Ciro foi a da política externa. Para ele, o Brasil deveria voltar seus olhos à resolução de conflitos e tensões na América Latina. “Lula está buscando ser um pop star, uma celebridade internacional, a falar bobagens em assuntos externos complicados e complexos”, afirmou.

“Eu fui ao Parlamento Europeu e o que eu ouvi me obrigou a defender o Lula, de tanta bobagem que ele falou. Lula só se preocupa com a paz onde a imprensa está olhando.”

O ex-ministro não citou na entrevista a briga com o irmão, Cid Gomes. O senador deve sair do PDT para se filiar ao PSB, do vice-presidente Geraldo Alckmin, sigla em que já esteve por oito anos, quando foi eleito e reeleito para o governo do Ceará, em 2006 e 2010. Em outubro deste ano, Cid Gomes ameaçou deixar o PDT após uma reunião acalorada que contou com bate-boca e troca de ofensas entre ele e Ciro.

Surto atual de Dias Toffoli está custando bilhões de reais ao pagador de impostos

O amigo do amigo do meu pai pediu essa charge | Metrópoles

Charge do Kácio (Metrópoles)

J.R. Guzzo
Estadão

Nunca se viu, na história do Supremo Tribunal Federal, alguém com a capacidade de produção que o ministro Dias Toffoli vem demonstrando nessas últimas semanas. O problema é que ele só tem produzido, em seu atual surto de operosidade, o mesmo tipo de artigo – e esse artigo é um atraso de vida direto na veia.

Trata-se dos direitos especiais de saque contra o Erário Público que o ministro está concedendo, de forma automática, para quem recebe o selo de “minoria protegida” pelo STF. É para lá, levado por alguns milhões de reais em honorários de advogado, e correr para o abraço.

SELO DE TOFFOLI – Se você é uma empreiteira de obras ou um grande frigorífico, acusados de corrupção, por exemplo, ou um sindicato de juízes atrás de dinheiro do Estado, vai ganhar o selo de Toffoli. Daí, como os arcanjos, não precisa mais obedecer a lei.

A doutrina do ministro está custando bilhões de reais para o pagador de impostos – esses mesmos que o governo está desesperado para aumentar, dizendo que precisa fazer “investimentos sociais”.

O último saque determinado por Toffoli custou por volta de R$ 1 bilhão, e foi tão assombroso quanto os que ele já tinha dado para as outras minorias que se encontram sob a proteção do STF.

POBRES JUÍZES… – Os beneficiários são os juízes federais: pediram a ressurreição de um privilégio extinto desde 2006, o “quinquênio”, e o ministro mandou pagar, com argumentos que, em termos de lógica, ficariam mal num jardim de infância.

O “quinquênio” fornece um aumento automático de 5% nos salários a cada cinco anos – um benefício tão incompreensível que foi eliminado por lei. Mas os juízes, segundo Toffoli, não estão sujeitos à lei. Resultado: vai ter juiz recebendo R$ 2 milhões em “atrasados”.

São as “políticas de transferência de renda” que estão valendo no Brasil de hoje.

PRESENTE DE NATAL – Os juízes, na verdade, podem dizer que levaram pouco. Logo antes de lhes dar seu presente, Toffoli dispensou a J&F de pagar mais de R$ 10 bilhões que devia ao Tesouro Nacional – por força do acordo com o Ministério Público Federal, que a livrou, em 2017, de cinco ações penais por corrupção.

O ministro deu uma justificativa sobrenatural para a sua decisão: alegou que não havia “certeza” de que a J&F, na época, queria mesmo assinar o acordo. Queria a cadeia, então, e foi forçada a aceitar a multa? Na dúvida, não há nenhuma das duas coisas – nem a multa e nem a cadeia.

Antes disso, Toffoli declarou nulas as provas materiais contra a Odebrecht, incluindo confissões de culpa e devolução de dinheiro roubado – o que vai render para a empreiteira as mesmas bênçãos dadas à J&F. Há, em algum país do mundo, algo assim – um Toffoli e um STF? Não há. Isso é puro Brasil.

Jinping avisa neste Ano Novo que “China e Taiwan certamente serão reunificadas”

Xi Jinping presidente da China

Jinping quer anexar Taiwan, mas não combinou com os EUA

oder360

O presidente da China, Xi Jinping, afirmou neste domingo (31.dez.2023) que “certamente” seu país e Taiwan serão reunificados. “Todos os chineses de ambos os lados do Estreito de Taiwan devem estar vinculados a um senso comum de propósito e compartilhar a glória do rejuvenescimento da nação chinesa”, declarou Xi em seu discurso de Ano Novo.

Taiwan realizará eleições legislativa e presidencial em 13 de janeiro. A atual líder, Tsai Ing-wen não concorrerá ao pleito, uma vez que já atingiu o limite de dois mandatos consecutivos. Seu partido e candidato defendem a autonomia da ilha em relação à China. Já os partidos de oposição são favoráveis a estreitar os laços com Pequim.

SUBINDO O TOM – O discurso deste ano teve um tom mais arrojado do que o anterior. No ano passado, Xi disse somente que as pessoas de ambos os lados do estreito são “integrantes de uma mesma família” e que esperava que as pessoas de ambos os lados trabalhassem juntas para “promover conjuntamente a prosperidade duradoura da nação chinesa”.

O presidente chinês também ressaltou os resultados nacionais em 2023, destacando as medidas de contenção da covid e o desenvolvimento industrial. Xi mencionou, ainda, as viagens internacionais que realizou no último ano.

“Visitei vários países, participei de conferências internacionais e encontrei muitos amigos, antigos e novos. Partilhei com eles a visão da China e melhorei o entendimento comum. Não importa como o cenário global possa evoluir, a paz e o desenvolvimento continuam a ser a tendência subjacente, e só a cooperação para benefício mútuo pode produzir resultados”, declarou Xi Jinping.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Jinping fez uma provocação direta, num momento difícil para os Estados Unidos, em que o presidente Joe Binden precisa de verbas adicionais do Congresso para ajudar a Ucrânia, Israel e Taiwan, três grandes compradores de material bélico. Taiwan produz hoje 25% dos semicondutores do mundo e Biden quer atrair essas indústrias para se instalarem nos EUA, uma situação que preocupa a China neste mundo eternamente em guerra, que pode ser servida quente ou fria. (C.N)

Um empresário de Londrina é primeiro a ser denunciado por financiar o 08/01

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Flagrante de um perigoso terrorista fazendo uma “selfie”

Fabio Victor
Folha

O empresário Pedro Luis Kurunczi, de Londrina (PR), é o primeiro denunciado sob a acusação de financiar os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) no último dia 14 de dezembro, mas, como o processo corre sob sigilo no STF (Supremo Tribunal Federal), o órgão omitiu o nome do denunciado ao divulgar a notícia.

A Folha apurou que se trata de Kurunczi. Ele é acusado de fretar quatro ônibus que transportaram 108 passageiros a Brasília, parte dos quais participantes da intentona bolsonarista, além de organizar alguns dos grupos que atacaram as sedes dos três Poderes.

CINCO CRIMES – Segundo a denúncia do MPF, o empresário cometeu cinco crimes: abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, dano qualificado mediante violência ou grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

Caso condenado pelos cinco crimes, as penas somadas podem passar de 30 anos de reclusão. A denúncia ainda não foi apreciada pelo STF, até porque foi apresentada poucos dias antes do início do recesso do Judiciário.

Antes de os ministros julgarem a denúncia (que só é aceita de modo colegiado), a parte tem que apresentar sua defesa prévia num prazo de 15 dias, mas no recesso essa contagem é interrompida.

SEM COMENTÁRIOS – A reportagem ligou para a casa de Kurunczi e fez contato com o escritório de advocacia que o defende, mas não conseguiu falar com ele nem teve resposta aos recados deixados.

Conforme a denúncia, o empresário residente em Londrina incitou, em grupos de aplicativos de mensagens, a sublevação contra o resultado das eleições e o presidente Lula (PT), eleito em outubro de 2022.

“Em período próximo aos eventos criminosos, ele passou a encaminhar postagens incitando a subversão da ordem democrática e tratando da organização do transporte para Brasília. No início de janeiro, ele enviou mensagem informando que alguns ônibus sairiam de Londrina no dia 6 de janeiro, para uma ‘tomada’ do Congresso Nacional”, descreve comunicado da assessoria do MPF.

ARRECADAVA FUNDOS –  “Em outra mensagem, evidenciou sua ampla adesão e relevante participação para a concretização dos atos, uma vez que estava empenhado em garantir arrecadações para pagar as despesas, inclusive de alimentação, das pessoas que iriam à Capital Federal.”

Um dos passageiros dos ônibus fretados por Kurunczi foi Orlando Ribeiro Júnior, preso no Palácio do Planalto no dia 8 e já condenado pelo STF a três anos de prisão.

A denúncia de Kurunczi foi um dos últimos atos do subprocurador-geral Carlos Frederico Santos na função de coordenador do Grupo Estratégicos dos Atos Antidemocráticos. Nomeado por Augusto Aras, ex-procurador-geral da República, ele colocou o cargo à disposição ao novo PGR, Paulo Gonet.

1413 DENUNCIADOS – Sob a coordenação de Carlos Frederico, o grupo denunciou 1.413 pessoas, sendo 1.156 incitadores, 248 executores, 8 agentes públicos e 1 financiador.

O nome de Kurunczi já havia aparecido como réu nas ações civis públicas com pedido de indenização de dano moral coletivo movidas pela AGU (Advocacia-Geral da União) contra financiadores do 8 de janeiro – tanto em uma de fevereiro, em que foram pedidos R$ 20,7 milhões, quanto noutra de março no valor de R$ 100 milhões, bem como numa terceira, de janeiro, em que pede o bloqueio de bens de 52 pessoas, no valor de R$ 6,5 milhões.

O empresário também consta no relatório final da CPI do 8/1 na lista de financiadores dos ataques golpistas elaborada pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

Fizeram vaquinha – Quando a AGU moveu a ação pedindo o bloqueio de bens de envolvidos no 8 de Janeiro, a advogada Ana Paula Delgado Barroso disse à Folha de Londrina que seu cliente não compactua com nenhum ato de vandalismo, que não tinha como saber que ocorreriam os ataques e que o financiamento dos ônibus foi feito por meio de vaquinhas virtuais, pois Kurunczi não teria dinheiro para fazê-lo por conta própria.

“Ele estava participando da manifestação em frente ao Tiro de Guerra aqui em Londrina e quando surgiu essa intenção de todo mundo ir a Brasília protestar, eles se cotizaram. Fizeram vaquinha ou transferência por pix. Alguém tinha que fretar o ônibus, porque isso não pode ser feito em nome de 40 pessoas”, afirmou Barroso.

“Evidentemente ele é contra atos de vandalismo, como todo cidadão de bem que se preze. Em mais de dois meses, as manifestações sempre foram pacíficas e não havia indício de que essa seria diferente.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Caramba! Em um ano de investigações, a Polícia Federal só conseguiu encontrar um financiador, que não é nenhum milionário e apenas participou de uma vaquinha para alugar os ônibus. Será mais uma família destruída pela condenação de um empresário que nada tem de terrorista e seu único crime foi acreditar em falsos líderes políticos que não têm nenhum caráter. É lamentável (C.N.)

Lula quer ver o plano para ‘festejar’ o 8 de janeiro após voltar, no dia 4

Ilustração de Kleber Sales (Correio Braziliense)

Ilustração de Kleber Sales (Correio Braziliense)

Victor Correia
Correio Braziliense

O governo Lula quer dar o pontapé em 2024 celebrando o triunfo sobre a tentativa golpista, que devastou as sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro passado. O presidente deu a ordem e os preparativos estão a todo vapor, especialmente no quesito segurança, pois há preocupação com novos ataques ou atentados na data. Lula quer o plano pronto, e em suas mãos, um dia depois de voltar de férias, dia 4 de janeiro.

O ato em desagravo à democracia terá, também, participação dos chefes do Legislativo, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Judiciário, ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Os três preparam discursos para a solenidade.

CONVOCAÇÃO GERAL – Na última reunião ministerial do ano, na semana passada, Lula convocou a presença de todos os ministros para a celebração. Deve haver, porém, algumas ausências. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estará de férias até 12 de janeiro e, conforme apurou a coluna, deve faltar à cerimônia. Nísia Trindade, da Saúde, também estará de férias. Também foram convidados todos os governadores, parlamentares, ministros de cortes superiores e tribunais.

A ideia do governo é marcar vitória da democracia sobre o ataque mais violento às instituições desde a redemocratização. E, claro, desestimular novas tentativas, lembrando a dureza com a qual vêm sendo tratados os participantes dos ataques: presos, julgados pelo STF e excluídos do indulto natalino.

O esquema de segurança vem sendo organizado pelo ministro interino da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli.

RETRATO DA VIOLÊNCIA – O Ministério da Justiça e Segurança Pública lançou, sexta-feira, uma plataforma no site da pasta com dados sobre a segurança nos estados, que pode ser acessada por qualquer cidadão. A promessa é que as informações sobre a violência sejam atualizadas todos os meses no chamado Sinesp, vindas das secretarias estaduais de segurança pública.

Até o momento, os dados disponíveis de 2023 vão até outubro. O governo aproveitou o lançamento para destacar a queda, ainda que ligeira, nos índices da violência nos 10 primeiros meses do ano.

Em comparação com o mesmo período de 2022, a redução no número de vítimas foi de 2,11% — de 170.198 para 166.603. Foram 3,26% menos homicídios dolosos, menos 3,32% tentativas de homicídios e menos 2,44% feminicídios, entre outros indicadores. Aumentaram, porém, as mortes no trânsito, em 0,46%, e os suicídios, em 1,04%.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGSão coisas assim que desanimam os brasileiros. Muitos praticamente já nascem com complexo de inferioridade e sonham em viver no exterior. Realmente, considerar como perigosos “terroristas” aqueles  invasores da Praça dos Três Poderes é um exagero colossal, de fazer corar os militantes do Hamas. (C.N.) 

Há um século, Lima Barreto antecipou as patologias políticas que nos afligem 

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Marcus André Melo
Folha

“Os Bruzundangas” foi publicado há 101 anos. Nele Lima Barreto zombou das patologias políticas que afligiam o país. A crítica acerba é surpreendentemente atual. Basta ler o noticiário sobre os Três Poderes. O presidente, que em Bruzundanga se chamava Mandachuva, cooptava todos a sua volta. Não havia oposição.

Lima alertava: “Toda a vez que um artigo desta Constituição ferir os interesses de parentes de pessoas da ‘situação’ ou de membros dela fica subentendido que ele não tem aplicação no caso”. “Na constituinte, todos esperavam ficar na ‘situação’, de modo que o artigo acima foi aprovado unanimemente.” E acrescentava: “Se algum recalcitrante, à vista de qualquer violação da Constituição, apelava para a Justiça (que lá se chamava Chicana), logo a Corte Suprema indagava se feria interesses de parentes de pessoas da situação e decidia conforme o famoso artigo.”

E A OPOSIÇÃO? – Mas havia um paradoxo aí. “Como todo mundo não podia pertencer à ‘situação’, os que ficavam fora dela, vendo os seus direitos postergados, começavam a berrar, a pedir justiça… Se eram vitoriosos, formavam a sua ‘situação’” e começavam a fazer o mesmo que os outros. Havia apelo para a “’Chicana’, mas a Suprema Corte, considerando bem o tal artigo já citado, decidia de acordo com a ‘situação’”.

E, sim, havia os privilégios: “Não há lá homem influente que não tenha, pelo menos, trinta parentes ocupando cargos do Estado; não há lá político influente que não se julgue com direito a deixar para os seus filhos, netos, sobrinhos, primos, gordas pensões pagas pelo Tesouro da República”.

E também isenções, tarifas e regras especiais: “Um certo governador, grande plantador de café, verificando a baixa de preço que o produto ia tendo, de modo a não lhe dar lucros fabulosos, proibiu o plantio de mais um pé que fosse da preciosa rubiácea. Houve então um cidadão que pediu habeas corpus para plantar café. A Suprema Corte, à vista do tal artigo citado, não o concedeu, visto ferir os interesses do presidente da província, que pertencia à ‘situação’”.

DEFICIT PÚBLICO -O diálogo entre Mandachuva e o ministro do Tesouro, Doutor Karpatoso, mostra como se resolvia o déficit público:

— O orçamento fecha-se sempre com déficit. Este cresce de ano para ano… Tenho que satisfazer compromissos no estrangeiro… Espero que você me arranje um jeito de aumentarmos a receita.

— Não há dúvidas! Vou arranjar a cousa!. E triplicou os impostos.

Complacência do Judiciário, privilégios, isenções, déficits. E mais: banquetes, tertúlias e homenagens eram tão comuns que Bruzunganda criou sua própria Guarda do Entusiasmo, com dez mil homens, dedicada a festejar magistrados, políticos, personalidades!

Semipresidencialismo é um golpe para garantir que só haja governos de direita

SEMIPRESIDENCIALISMO: golpe contra o povo e a Constituição - por Jorge  Folena - Tribuna da Imprensa Livre

Charge do Genildo (Arquivo Goggle)

Vinicius Torres Freire
Folha

O “semipresidencialismo” foi um assunto do ano, mais uma vez. Assunto ou ruído de fundo, tem sido assim desde que o Congresso depôs Dilma Rousseff. Era assim o jeitão do governo de Michel Temer (PMDB), “semiparlamentar”, dominado por parte do comitê de deputados e senadores que derrubou Dilma. Foi de certo modo assim sob as trevas de Jair Bolsonaro, um parasita “antissistema” que se aproveitava do que havia da máquina burocrática ainda funcional e do governo que restava, entregue a premiês do centrão.

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e trator legislativo, vez e outra sugere, de leve e quando convém, que pode liberar a tramitação de um projeto de semipresidencialismo. Ministros do Supremo, como Luís Barroso e o politizador geral da Justiça Gilmar Mendes, acabam de defender a mudança de sistema de governo.

ESPECULAÇÕES – A vulgarização do impeachment, a limitação de prerrogativas do Executivo e o avanço parlamentar sobre o Orçamento estimulam especulações de que viveríamos já sob alguma espécie de semipresidencialismo.

O fato circunstancial de que o governo, no caso Lula 3, seja minoritário em números e ideias no Congresso leva mais uma aguinha para esse moinho conceitual. Na falta de pensamento melhor sobre o problema, usamos a palavra, mal e mal, para definir esse arranjo ruim e instável de quase uma década.

Uma questão interessante é o motivo desse zum-zum, desse ruído de fundo e das sugestões de que se acabe com o poder presidencial. Nas propostas de mudança, o presidente da República seria formalmente quase decorativo. É um projeto de parlamentarismo com outro nome, talvez para não confrontar o resultado do plebiscito de 1993. Por que essa ideia está no ar? A quem interessa?

SEM TRAUMAS – O argumento bem pensante diz que o novo sistema permitiria a dissolução menos traumática de um governo sem prestígio, com a convocação de novas eleições. Na redemocratização, 2 de 5 presidentes foram depostos; Bolsonaro não o foi por cumplicidade do sistema político; Lula foi preso para que não pudesse se candidatar em 2018.

O fato de a esquerda ganhar todas as eleições presidenciais desde 2002 (fora o arranjo de 2018) pode ser um motivo. Sob algum sistema parlamentarista, a esquerda dificilmente chegaria ao poder federal, que ficaria sob o domínio de algum tipo de centrão.

Parlamentares, gente vocal do “sistema de Justiça” (ministros, desembargadores, juízes, procuradores) e boa parte da cúpula militar gostam da ideia. A perspectiva de chutar a esquerda para escanteio talvez também agrade a donos do dinheiro grosso.

PARECE INVIÁVEL – Parece remota a possibilidade de que tal mudança venha a ocorrer, a não ser em caso de uma nova situação de desordem profunda. O eleitorado gosta de escolher seu presidente e costuma ser mais desconfiado dos “políticos”, os parlamentares que elege.

Poderia haver um sistema em que um parlamentar (nomeado candidato principal do partido) fosse escolhido nas urnas como premiê, na prática diretamente. De resto, para que a coisa fosse minimamente séria, seria preciso mudar o sistema de eleição de deputados (para alguma variante de distrital misto), resolver a representação excessiva de estados pouco povoados etc. Essa reforma jamais andou e dificilmente andará. Nisso, o status quo está feliz consigo mesmo.

ZUM-ZUM CONTÍNUO – Mas não se quer aqui dar a impressão de que essa virada parlamentarista seja por ora viável, discutindo-se um projeto de mudança. Mais relevante é notar o zum-zum contínuo, sintoma de crise política fervendo baixo. Importante é que o Congresso domine entre 25% e 30% do dinheiro que resta livre do Orçamento (excluídos os 92% de despesas obrigatórias), sem ser responsável pelo que faz.

Importante é que a ameaça ou o engavetamento de pedidos de impeachment tenham se tornado poderes explícitos na mão do presidente da Câmara. Ou que os partidos dominantes se tornem mais e mais uma corporação ou cooperativa de uso de recursos estatais para a reeleição de seus caciques. Esses poderes do Congresso são tantos que os presidentes da República descaradamente cuidam de formar bancadas no Supremo, a fim de tentar se defender.

A relativa calmaria democrática de 1995-2010 ruiu. O que ficou no lugar é uma maçaroca mutante, com risco gravíssimo de sinistro, como em 2019-2022.

Com saldo positivo, Lula enfrentará novos desafios e precisa de soluções concretas

Governo ainda não ultrapassou a fronteira de um país dividido

Marcelo Copelli

O terceiro mandato do presidente da República, Lula da Silva, encerrou o seu primeiro ano com o destaque para o retorno do país ao protagonismo internacional. Ainda que seja notório o clima de polarização que ainda perdura entre o atual governo e a oposição derrotada nas urnas, é inegável a saída do ostracismo no qual o Brasil mergulhou  e que permeou a antiga gestão ao longo de quatro anos.

Hoje, o diálogo entre o atual governo e diversos segmentos se mostra mais intenso, caracterizando-se de forma fundamental nas ações do Executivo, que demonstramaior habilidade , flexibilidade e disposição para negociar, recuar e ouvir. A abertura para a convergência tem se mostrado presente, tendo na política, e não no presidente, o epicentro das articulações. E isso não só evita um desgaste mais intenso do mandatário, mas o expõe menos, o que representa uma condição providencial diante de um país ainda dividido.

CONCESSÕES – Evidentemente, o ano que terminou também foi um período de concessões e resiliência no cenário político. Porém, o governo fechou com um saldo mais positivo de vitórias do que de obstáculos não superados, tendo em vista que a sua agenda prevaleceu, ainda que não dispondo prontamente de uma maioria no Congresso.

Lula também conquistou duas novas vagas no estratégico STF e nas relações com a mídia articulou com vantagens. Na contabilidade geral, internacionalmente, também houve tropeços, a exemplo da recepção de Maduro com honras de chefe de Estado, a normatização da invasão da Ucrânia pela Rússia, a incitação de Israel, confrontando os americanos, entre um ou outro malfadado discurso.

ALINHAMENTO – A esperada mágica do crescimento ainda não decolou. E, diante de algumas incertezas no setor privado, que enxerga desequilíbrio a médio prazo, o ano se inicia sem entusiasmo explícito na economia. Por isso, ações concretas serão exigidas para que o cenário econômico, de fato, se alinhe às promessas de campanha.

Além disso, a sociedade também aguarda significativas mudanças no que tange à segurança pública, à saúde e à educação, sobretudo. Lula agora terá que atravessar o caminho sem falhar, baseado em toda a sua experiência de mandatos anteriores, mas ciente de que os desafios agora  são outros

Ao editar a MP da Reoneração, o governo Lula erra feio e perde muita credibilidade

Lula e Haddad chegam em Nova York: veja agenda completa do que presidente e  ministro farão nesta semana - Seu Dinheiro

Lula e Haddad parecem dois perdidos numa política suja

Murillo Aragão
Veja

O mundo econômico amanheceu surpreendido com a edição de uma medida provisória que ‘reonera’ a folha de pagamentos. A decisão do governo é uma retaliação à derrubada dos vetos à desoneração da folha ocorrido no dia 14 de dezembro. Ou seja, menos de 15 dias da derrubada dos vetos, o governo lança mão de uma medida provisória (MP) que já está valendo. Inclusive para as folhas de pagamento da virada d ano.

A iniciativa do governo em editar a MP da reoneração da folha de pagamento revela questões cruciais que envolvem a relação entre os poderes executivo e legislativo, bem como a estabilidade e a segurança jurídica no ambiente econômico. Imagine quem se preparou para planejar seus orçamentos anuais com base na derrubada dos vetos?

DESARMONIA – Primeiramente, é importante destacar a relevância da harmonia entre os poderes, um dos pilares fundamentais da democracia. A edição da MP tão logo após o Congresso derrubar os vetos presidenciais que prorrogavam a desoneração da folha de pagamento demonstra uma falta de respeito pela decisão tomada pelo Legislativo.

Esse comportamento mina a confiança e a cooperação entre os poderes, prejudicando o funcionamento adequado do sistema democrático. A Constituição de 1988 estabelece que os poderes devem ser independentes e harmônicos entre si, e a ação do Executivo nesse caso parece desrespeitar essa premissa fundamental.

Além disso, a insegurança jurídica causada pela MP é prejudicial para a estabilidade econômica. A medida entrou em vigor imediatamente após a sua publicação, e os seus efeitos continuarão a se fazer sentir até que a MP seja rejeitada ou expire.

INSEGURANÇA – Isso cria um ambiente de incerteza para empresas e investidores, que têm dificuldade em planejar seus negócios quando as regras fiscais mudam repentinamente. A estabilidade e a previsibilidade são essenciais para o crescimento econômico e a criação de empregos.

Nesse contexto, o Congresso tem a prerrogativa de devolver a MP, visto que ela é claramente inconstitucional no sentido de ferir a harmonia entre os poderes e promover a insegurança jurídica. Essa ação seria uma reafirmação da autonomia e independência do Legislativo, protegendo suas prerrogativas contra qualquer tentativa de usurpação do poder executivo.

Por outro lado, o governo pode optar por aceitar a devolução da MP e buscar uma abordagem mais democrática e colaborativa para debater o tema. Uma alternativa seria enviar um projeto de lei ao Congresso, permitindo um processo legislativo mais transparente e participativo, que leve em consideração os interesses de todas as partes envolvidas.

APELAR AO SUPREMO – No caso de a MP não ser devolvida, setores prejudicados têm o direito de apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a vigência da medida, caso entendam que ela representa uma ameaça aos seus interesses legítimos.

A não devolução da MP da Reoneração da folha de pagamento representa uma grave omissão do Legislativo às suas prerrogativas e agrava o ambiente de insegurança jurídica e tributária existente no país.

É fundamental que os princípios democráticos, a harmonia entre os poderes e a segurança jurídica sejam preservados em prol do bem-estar da nação. Vale lembrar que a devolução de medidas provisórias não é um ato incomum na história política brasileira, evidenciando a importância de manter o equilíbrio entre os poderes.

CREDIBILIDADE – A iniciativa do governo é de profunda insensatez e corrói sua credibilidade, o que causará a inflação política. O apoio às suas agendas custará mais caro dada às atitudes que ferem a autonomia, independência entre os poderes.

A equipe econômica, no legitimo objetivo de cumprir suas metas fiscais, atua para elevar a arrecadação tributária. No entanto, seus movimentos devem ser inteligentes e negociados com os demais poderes e com os núcleos de poder influentes em nossa república.

Enfim, a edição da MP da Reoneração foi uma péssima iniciativa que custará caro em credibilidade política para o governo.