Defesa de Dirceu a prisão domiciliar de Bolsonaro divide o PT

Apoio de Dirceu divide a legenda entre constrangimento e elogio

Juliana Arreguy
Folha

A defesa do ex-ministro José Dirceu à prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) dividiu opiniões no PT e motivou críticas públicas, elogios em grupos e constrangimento velado entre integrantes do partido.

Em entrevista à BBC Brasil publicada na segunda-feira (6), Dirceu declarou que o ex-presidente, condenado a 27 anos de prisão em regime fechado pela atuação na trama golpista, “não tem condições de ir para a prisão”. Bolsonaro cumpre prisão domiciliar desde o dia 4 de agosto.

“INSTÁVEL” – “Eu nunca tive relação com Bolsonaro, mas me parece que ele é uma pessoa psicossomática, que vai acelerando, muito instável. Não é uma pessoa que tem autocontrole”, disse. “Eu não desejo mal a ninguém, nem a ele. Nessas condições, ele sobrevive porque vai ficar em regime domiciliar, com família, com tratamento médico. A família é muito importante. Mas ele não tem condições de ir para a prisão.”

Dirceu já foi preso cinco vezes: pela ditadura militar, pelo mensalão e em três ocasiões pela Lava Jato. Ele afirmou que não se pode colocar um ex-presidente no sistema penitenciário e que, mesmo no caso do presidente Lula (PT), houve a possibilidade de cumprir a pena em regime fechado na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, e não em um presídio comum.

“Acho muito improvável que se possa colocar presos vulneráveis no sistema penitenciário que é controlado pelo crime organizado. As condições são péssimas. E como o estado de saúde dele [Bolsonaro] está se agravando, porque parece que isso é real, eu não vejo como é que ele pode entrar no sistema penitenciário.”

CRÍTICAS – Petistas ouvidos pela Folha criticaram, sob reserva, a defesa de Dirceu à prisão domiciliar no caso de Bolsonaro e disseram que ela gerou um constrangimento interno, já que o próprio líder do PT na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (RJ), alegou risco de fuga para pedir pela prisão preventiva do ex-presidente antes do julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal).

Um dirigente do partido classificou a declaração de Dirceu como uma derrapada grande e disse que parte dos filiados não quer fazer críticas públicas por se tratar de um quadro respeitado no PT.

O deputado federal Rogério Correia (PT-MG), usou a rede social X para criticar a fala. “Se a [Carla] Zambelli aguenta presídio superlotado na Itália, porque Bolsonaro com histórico de atleta e imbrochável, não aguentaria um presídio no Brasil, com tantas leis de direitos humanos aprovadas pelos esquerdistas?”, escreveu ele na quarta (8).

AVALIAÇÃO – Procurado pela reportagem, Correia disse que cabe às autoridades definir se Bolsonaro terá condições, ou não, de cumprir pena em regime fechado. “Quem tem que avaliar isso é o sistema penal e o serviço médico oficial. É muito grave o crime de tentar acabar com o direito de voto do povo e de atentar contra as liberdades políticas”, afirmou o parlamentar.

Ele acrescentou que fez questão de publicar a postagem em redes sociais para mostrar que se trata de uma opinião do próprio Dirceu, e não de um posicionamento oficial do partido. “Eu sou amigo do José Dirceu e me dou ao direito de não concordar com tudo o que ele fala”, acrescentou.

ELOGIOS – Em grupos de WhatsApp, por outro lado, alguns filiados elogiaram a declaração do ex-ministro da Casa Civil do primeiro mandato de Lula. Em troca de mensagens à qual a Folha teve acesso, um deles disse que Justiça não é vingança, mas humanidade, e outro petista chamou a fala de Dirceu de manifestação de generosidade.

Vice-presidente do PT, o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, disse à reportagem que, embora seja “importante pacificar o país”, ele acredita que Bolsonaro deveria cumprir prisão em regime fechado por ao menos um ano. “O Lula não ficou?”, perguntou.

“Bolsonaro tem que ficar em cana até o fim das eleições. Até porque, ele está condenado por, entre outras coisas, atacar a democracia”, disse por meio de mensagem. Questionado se discordava da fala de Dirceu, Quaquá negou. “Não é discordar, tenho opinião diferente”, disse. “É uma divergência de tempo [de pena]”, acrescentou.

Gaza, dois anos depois: A humanidade sob escombros

Lula 2025: entre o gesto social e o cálculo político

Ações marcam o retorno de um discurso de presença do Estado

Pedro do Coutto

O presidente Lula da Silva já se movimenta em ritmo de campanha. As recentes medidas anunciadas pelo governo mostram um claro esforço de reposicionamento político e de ampliação de sua base de apoio para as eleições de 2026.

A ampliação do teto de financiamento imobiliário para cerca de R$ 2,25 milhões, contemplando também famílias de classe média, é um exemplo de como o governo tenta dialogar com diferentes camadas sociais. Embora o programa habitacional siga voltado à baixa renda, o novo limite permite que famílias que antes estavam fora das políticas de crédito tenham acesso facilitado à moradia.

FOME ZERO – Paralelamente, o relançamento da campanha Fome Zero, agora com produção publicitária sofisticada, reforça o discurso social que marcou as gestões anteriores de Lula. Outro ponto de destaque é o estudo da tarifa zero no transporte urbano para pessoas de menor renda, medida já em vigor em mais de 130 municípios e que, segundo dados da Agência Brasil, aumentou em até 300% o uso do transporte coletivo em algumas cidades.

Essas ações, somadas, apontam para uma estratégia clara: reconectar Lula com o cotidiano do eleitor. Em um momento de insegurança econômica e desgaste institucional, políticas que tocam diretamente em temas como moradia, alimentação e transporte têm enorme apelo emocional e social.

PRESENÇA DO ESTADO – Pesquisas recentes do Ipec e da Ipsos mostram que a aprovação do presidente subiu para cerca de 30%, enquanto a rejeição caiu cinco pontos percentuais desde o início do ano. Esse movimento reflete não apenas a percepção de melhora na economia, mas também o retorno de um discurso de presença do Estado, de amparo e de inclusão.

Outro tema em discussão é a revisão da jornada 6×1, que obriga o trabalhador a atuar seis dias por semana com apenas um de descanso. Lula demonstrou disposição em abrir o debate, reconhecendo as especificidades de setores que precisam operar de forma contínua, como saúde, segurança e transporte.

Ainda assim, a proposta sintoniza com um sentimento crescente na sociedade: a busca por equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Essa agenda trabalhista, combinada com programas de impacto direto na renda e no custo de vida, mostra um governo que pretende reconquistar a confiança do eleitor pela via prática, e não apenas pela retórica.

DESAFIO – No entanto, o desafio é grande. Ampliar subsídios, reduzir tarifas e discutir mudanças na jornada de trabalho têm alto custo político e fiscal. A sustentabilidade dessas políticas dependerá de equilíbrio orçamentário, eficiência na execução e diálogo federativo.

Caso contrário, o risco é que promessas bem-intencionadas se tornem foco de críticas sobre populismo e irresponsabilidade fiscal. Lula aposta que o retorno político dessas medidas compensará o desgaste. E há sinais de que essa estratégia pode funcionar: pesquisas internas do governo indicam que o presidente venceria hoje todos os principais adversários.

O Brasil entra, assim, em um novo ciclo de disputa antecipada, em que cada política pública carrega também um componente eleitoral. Lula parece consciente de que a conquista de corações e mentes em 2026 começa muito antes das urnas — e passa, mais uma vez, pela capacidade de traduzir políticas em esperança.

Governo faz “pente-fino” e demite infiéis após derrota na Câmara

Lei Magnitsky é uma espada afiada que obrigou Barroso a sumir do STF

Barroso nega que sanções dos EUA pesaram para deixar STF | Brasil | Pleno.News

Barroso apoiou erros de Moraes e agora tenta escapar

Carlos Newton

A Lei Magnitsky criou uma situação absolutamente nova que jamais ocorreu em nenhum país e hoje desafia o Direito Internacional. A norma jurídica foi concebida na fase pós Torres Gêmeas, para neutralizar grupos estrangeiros que fizessem espionagem ou pretendessem atacar os EUA, como ocorrera em 11 de setembro de 2001, quando quatro aviões foram sequestrados pelo grupo islâmico Al-Qaeda, num ataque que causou a mudança da geopolítica global.

Discutida nos mínimos detalhes, a Magnitsky é uma legislação moderna e eficaz. Originalmente criada em 2012 para punir autoridades da Rússia, a lei foi ampliada em 2016, para atingir criminososs de qualquer país do mundo.

A legislação prevê medidas punitivas a pessoas (físicas ou jurídicas) em casos de tortura, perseguição política, corrupção, cerceamento de liberdades de expressão, associação e religião, assim como atuação contra a democracia.

NA MIRA DA LEI – Estão indiciados nos EUA oito ministros do Supremo brasileiro, o procurador-geral da República e várias autoridades da equipe de Alexandre de Moraes, incluindo o juiz auxiliar Airton Vieira, o delegado federal Fábio Shor e outros quatro servidores federais, além do advogado-geral da União, Jorge Messias, que defende Moraes, e do ministro Benedito Gonçalves, do STJ, e do ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Todos perderam os vistos e não podem ingressar nos EUA. Os mais atingidos, porém, são o ministro Moraes e sua mulher, Viviane Barci, que comanda o escritório de advocacia da família, porque já estão incriminados  pela Lei Magnitsky.

À beira de um ataque de nervos, o mais preocupado é Luís Roberto Barroso. Na expectativa de ser enquadrado na Magnitsky, apressadamente pediu demissão no STF, alegando uma promessa que fizera à falecida esposa, de que iriam correr o mundo juntos.

DUAS VERSÕES – A promessa à mulher é a versão oficial. A outra seria o receio de perder os investimentos que tem nos EUA, que incluem imóveis, veículos e mobiliário de luxo, que estavam sendo usados por seu filho Bernardo, diretor do banco BTG em Miami, que já voltou ao Brasil, depois de transferir e resguardar os milionários investimentos financeiros do pai.

Fala-se que agora tudo vai melhorar, devido à aproximação entre Lula da Silva e Donald Trump. No entanto, Barroso não tem certeza, porque esse problema dos Estados Unidos com o Supremo brasileiro vem desde o governo Biden, que começou a recusar todos os pedidos para prisão e extradição de bolsonarustas.

Trump seguiu seu antecessor e a situação se agravou com a insistência de Moraes perseguir bolsonaristas nas redes sociais, e depois criando um caso internacional com o empresário Elon Musk e com o próprio Trump, dono da Truth Social, plataforma que ele mesmo fundou após ser banido de outras redes.

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P.S.
A preocupação de Barroso é procedente, porque a Lei Magnitsky só funciona com apoio do Congresso americano, e desde o ano passado há parlamentares apoiando as sanções. O ministro está visado, porque era presidente do Supremo e tinha obrigação funcional de coibir os erros de Moraes, como a criminosa perseguição a Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, com base em provas falsas, conforme o governo Trump confirmou mais uma vez na véspera da renúncia de Barroso. Portanto, é melhor comprar pipocas. Esta novela será mais longa do que a dupla morte de Odete Roitman. (C.N.)

Redes sociais disparam críticas ao Congresso após PEC da Blindagem

Parlamentares registram queda expressiva nas redes sociais

Deu na CNN

Após a aprovação da PEC da Blindagem na Câmara dos Deputados, parlamentares enfrentam uma significativa perda de seguidores nas redes sociais. Alguns deputados, que possuem entre 400 e 500 mil seguidores, relatam quedas de até 15 mil seguidores em suas bases digitais. A apuração é da repórter e colunista da Rádio Itatiaia, Edilene Lopes, durante o CNN Arena.

O impacto nas redes sociais tem gerado apreensão entre os parlamentares, especialmente considerando a proximidade das eleições. A preocupação central é que essa rejeição nas plataformas digitais possa se converter em perda efetiva de votos no próximo pleito.

CENTRÃO – O cenário político se mostra especialmente delicado para o Centrão, que ficou em situação complexa após a votação. Enquanto a direita justificou seu apoio à PEC como uma proteção contra o STF (Supremo Tribunal Federal), parlamentares da esquerda que votaram favoravelmente incluíam alguns que não buscarão reeleição.

O Centrão, por sua vez, enfrenta resistência de prefeitos e eleitores em suas bases, o que pode comprometer futuras candidaturas. Como consequência desse cenário, há uma forte resistência à votação de temas polêmicos, incluindo o PL da Anistia.

O projeto de anistia ampla tem encontrado resistência tanto da direita quanto da esquerda em relação à proposta de dosimetria, com apenas o centro demonstrando interesse em sua votação. A situação evidencia um momento de cautela no Congresso Nacional, com parlamentares evitando pautas que possam gerar desgaste adicional junto ao eleitorado.

Entidades pedem que Lula indique uma mulher para o STF após aposentadoria de Barroso

PEC que afrouxa aposentadorias pode gerar rombo de R$ 24 bilhões, alerta governo

O terrorismo legislativo que ameaça até Eduardo Bolsonaro

Moro elogia Fux e vê chance de reverter ação no STF por piada sobre Gilmar

Projeto do Metanol pode ser aprovado, mas Lei da Dosimetria é inconstitucional

Classificação da Constituição de 1988 | Jusbrasil

A Constituição só pode ser alterada por emenda (PEC)

Jorge Béja

Dois novos projetos de lei sobre matéria do Direito Penal deverão ser postos em pauta no Congresso Nacional. Um, a respeito do agravamento das penas dos chamados “Crimes contra a saúde pública”, cujas tipificações, que não são poucas, vão do artigo 267 ao artigo 285 do Código Penal. A motivação do agravamento das penas decorre do metanol nas bebidas, que tem sido fatal para a saúde e para a vida de quem bebe.

Outro projeto é a denominada “Lei da Dosimetria”, cujo propósito é reduzir, através desta nova regra, as penas impostas aos condenados pela tentativa de golpe e que culminou no 8 de Janeiro de 2023.

CASO DO METANOL – Quanto ao primeiro projeto, nenhuma objeção ou impossibilidade legislativa. Pode e deve o Congresso mexer para majorar as penas previstas no Código Penal (CP) no tocante aos crimes contra a saúde pública. 

É muito branda a pena de detenção de um a três anos, além de multa, para quem “fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação ou a fim medicinal”, tal como previsto no artigo 278 do CP.

Já no tocante ao segundo projeto, que é o da “dosimetria”, caso o Congresso venha editar a aprová-lo, reduzindo as penas impostas aos condenados pela tentativa do golpe, a nova lei já nascerá com a marca e o timbre da inconstitucionalidade, flagrante e incontornável.

LEI ILEGAL – Tratando-se de comutação de pena, a prerrogativa para tanto é exclusiva do Presidente da República, conforme previsto no artigo 84, inciso XII da Constituição Federal:

Artigo 84 – Compete privativamente ao Presidente da República…..XII – conceder indulto e comutar pena, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei“.

Parece que a euforia e o entusiasmo dos que defendem a edição da chamada “Lei da Dosimetria”, decorrem do desconhecimento do significado do verbo comutar. Muito ouve-se falar em “anistia”, “indulto”, “perdão”… No entanto, não se ouve dizer nem falar sobre “comutação de pena”. 

COMUTAÇÃO – Em qualquer dicionário, jurídico ou não, comutar significa substituir uma pena, um castigo, por outro(a) mais brando(a). Ou seja, menos gravoso e menos pesado do que a punição que o condenado está cumprindo.

Vamos a dois renomados e sempre consultados dicionários da língua portuguesa: “Comutar, verbo transitivo e transitivo indireto. 1 – Fazer a troca, a substituição de. 2 – Mudar (pena, castigo) por outro menor” (Dicionário Aurélio). “Comutar, verbo transitivo (do latim commutare). Permutar. Redução de uma pena por outra menor” (Lello Universal).

É possível e compreensível que se defenda a dualidade de competência para a adoção do instituto da comutação da pena, seja da parte do Presidente da República, seja do Congresso Nacional. Embora na Constituição Federal não exista a concorrência, o concurso de competência para tal fim, a Carta da República, ao empregar na cabeça do artigo 84 o verbo comutar no seu grau superlativo (privativamente), outorga exclusivamente ao Presidente da República — e a ninguém mais —- o referido poder de reduzir pena criminal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGBelíssima aula magna de Direito, ministrada por um jurista raro e de extraordinária cultura. (C.N.)

Indefinição de Bolsonaro trava alianças e fortalece Lula nos estados

A eterna confusão poética entre o amor verdadeiro e o falso

Veredas da Língua: DANTE MILANO – POEMASPaulo Peres
Poemas & Canções

O poeta Dante Milano (1899-1991), nascido em Petrópolis (RJ), é um dos poetas representativos da terceira geração do Modernismo. Em “Poema do Falso Amor”, Milano mostra a diferença entre o falso e o verdadeiro amor, para questionar: Qual dos dois é o verdadeiro?

POEMA DO FALSO AMOR
Dante Milano

O falso amor imita o verdadeiro
Com tanta perfeição que a diferença
Existente entre o falso e o verdadeiro
É nula. O falso amor é verdadeiro
E o verdadeiro falso. A diferença
Onde está? Qual dos dois é o verdadeiro?

Se o verdadeiro amor pode ser falso
E o falso ser o verdadeiro amor,
Isto faz crer que todo amor é falso
Ou crer que é verdadeiro todo amor.
Ó verdadeiro Amor, pensam que és falso!
Pensam que és verdadeiro, ó falso Amor!

Lula e Trump: a importância do diálogo que reposiciona o Brasil

Lula esvazia narrativa de exclusividade da direita radical

Marcelo Copelli
Revista Fórum

O recente diálogo entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, realizado nesta semana, ultrapassa o campo da diplomacia formal. Trata-se de uma iniciativa política marcada por movimentos estratégicos e senso de realidade, que recoloca o Brasil no centro das discussões internacionais e evidencia, ao mesmo tempo, a solidão crescente da extrema direita — tanto em Brasília quanto em Washington.

Mais do que uma simples troca de palavras entre dois chefes de Estado, o encontro mostrou que, na política internacional contemporânea, ideologias rígidas cedem espaço a acordos instrumentais e interesses concretos.

PARCEIRO ESTRATÉGICO – O tom cordial surpreendeu analistas acostumados a vê-los em polos opostos: o presidente dos Estados Unidos, sob pressão por resultados econômicos domésticos e tensões comerciais com a China, identificou no Brasil um parceiro estratégico; Lula, por sua vez, interpretou o momento como uma oportunidade de ampliar o canal de diálogo com Washington sem renunciar à defesa da soberania nacional.

Segundo fontes do Departamento de Estado e da chancelaria brasileira, a pauta incluiu temas como energia, biocombustíveis e reindustrialização, além de uma sinalização sobre a possível revisão de tarifas que afetam produtos brasileiros, como café e aço. Esses tópicos demonstram que o contato não se limitou à retórica: desde o início, houve tentativa de convergir interesses econômicos com impacto direto sobre setores exportadores e cadeias produtivas nacionais.

Politicamente, o efeito imediato é claro. Ao estabelecer um canal direto com Washington, Lula esvazia a narrativa de exclusividade que parte da direita radical buscava manter em torno das relações com os Estados Unidos. Figuras que se apresentavam como pontes privilegiadas — como o deputado Eduardo Bolsonaro — veem seu protagonismo reduzido: a centralidade passa a ser institucional e presidencial, e não mais dependente de canais informais.

PERDA DE LEGITIMIDADE – O bolsonarismo, embora ainda detenha influência em setores do eleitorado e do Congresso, perde, com este episódio, parte de sua legitimidade no plano externo. Convém distinguir ato político de resultado concreto.

A conversão do entendimento diplomático em medidas práticas — como redução tarifária, acordos de cooperação setorial e mecanismos de acompanhamento técnico — dependerá de negociações prolongadas. Nos Estados Unidos, tais decisões enfrentam o crivo do Congresso e a resistência de setores industriais; no Brasil, o desafio será transformar o capital diplomático do diálogo em ganhos tangíveis para a economia.

Para fortalecer a análise pública, será fundamental observar indicadores objetivos: comunicados oficiais com prazos e metas, deliberações sobre tarifas, reações dos mercados e associações setoriais, além de sondagens que avaliem o impacto político interno dessa iniciativa.

TENDÊNCIA GLOBAL – Anne Applebaum, colunista da revista norte-americana The Atlantic, observou que “o novo realismo de Lula ecoa uma tendência global: líderes que compreendem que o poder hoje está na habilidade de conversar com adversários, e não apenas com aliados”. É uma leitura que traduz com precisão o espírito dessa movimentação diplomática — um aceno à política da convergência, mais do que à diplomacia da confrontação.

A aproximação entre Lula e Trump representa um reposicionamento estratégico do Brasil: sinaliza capacidade de interlocução ampla e pragmática, enfraquece o apelo de discursos personalistas e devolve ao país um papel relevante no diálogo global.

Lula, ao reabrir uma via direta com o presidente dos Estados Unidos, envia uma mensagem ao mundo e ao Brasil: o país está de volta à mesa onde se decide o futuro — e, desta vez, sem depender dos extremos que tentaram sequestrar a sua voz.

Em vídeo, Tarcísio reage a Haddad e acusa o PT de mentiras e manipulação

Governador diz que ‘paciência tem limite’

Bruno Ribeiro
Folha

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) fez seu mais duro ataque direto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), ao se defender de críticas após ser apontado como um dos principais articuladores da derrubada da MP (medida provisória) que aumentava impostos.

Em vídeo nas redes sociais, além de acusar o PT de praticar ofensas e mentiras, ele disse: “Tenha vergonha, Haddad, respeite os brasileiros.” A assessoria do ministro informou que ele não iria comentar. O ministro havia dito que o governador defendeu a derrubada da medida para “proteger a Faria Lima”.

GRAVAÇÃO – O vídeo foi gravado durante visita do governador à fábrica da Toyota, em Porto Feliz, no interior do estado, na manhã da última quinta-feira (9), pouco após a declaração do ministro. O governador havia ido vistoriar a fábrica, danificada por uma tempestade no mês passado. Tarcísio fez o registro com a equipe de redes sociais que o acompanha diariamente.

Na véspera, Tarcísio negou à Folha que tivesse articulado a derrubada da MP. Contudo, à noite, quando o governo foi derrotado, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), agradeceu o empenho dele e de outros governadores pelo resultado.

A seus auxiliares, segundo a reportagem apurou, Tarcísio repetiu que não telefonou a lideranças partidárias pedindo a derrubada da MP. O líder do PL teria conversado com ele e dito a Tarcísio que se empolgou no momento da vitória, de acordo com a versão que circula no Palácio dos Bandeirantes — a reportagem não conseguiu falar com Sóstenes.

DESCULPAS –  A gravação de Tarcísio, que começa com ele dizendo que “paciência tem limite”, foi feita um dia depois de ele publicar um vídeo pedindo desculpas à população por causa de uma fala feita por ele durante uma entrevista coletiva que repercutiu mal e foi explorada nas redes sociais pela esquerda.

Na ocasião, ele disse que passaria a se preocupar com a crise da contaminação de bebidas alcoólicas por metanol quando ela atingisse também a Coca-Cola, sua bebida preferida. Segundo a Folha apurou, desde a semana passada o governador havia subido o tom das críticas ao PT no que seria uma reação pela forma como o tema das bebidas foi abordado.

Em uma entrevista coletiva no começo da crise, ele disse que não havia indícios de participação do “crime organizado” na adulteração de bebidas. Mas o Ministério da Justiça informou que investigava indícios de que o metanol que foi parar no álcool consumido pela população pudesse ter sido importado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).

ATRITOS –  A interlocutores, em conversas recentes, ele relembrou atritos recentes e informações desencontradas no episódio das desapropriações da favela do Moinho, no centro da capital, quando petistas fizeram uma série de críticas à condução do caso pelo governo paulista.

“Há meses a gente vem sendo alvo de uma ampla campanha de desconstrução de imagem e reputação por parte do PT. Ofensas, mentiras nas redes sociais — tudo certo, nada diferente do que a gente sempre viu no PT”, disse no vídeo.

“A estratégia do PT sempre foi essa: vender o mundo perfeito na publicidade, gastando seu dinheiro para isso, e espalhar também o medo e o ódio contra quem pensa diferente deles”, complementou.

IMPACIÊNCIA – Tarcísio tem demonstrado mais impaciência ao reafirmar que seu plano é tentar a reeleição em São Paulo no ano que vem, embora siga sendo considerado o principal nome da oposição para concorrer à Presidência contra Lula (PT). Horas antes de gravar o vídeo, uma nova pesquisa Quest/Genial apontou que a aprovação do petista segue em tendência de alta iniciada em julho e que o petista venceria ele e os demais potenciais adversários no segundo turno.

Na campanha de 2022, quando concorreu ao governo contra Haddad, Tarcísio havia feito críticas ao rival, a quem chamou de “pior prefeito da história de São Paulo”. Após a posse, contudo, a relação por um período foi de cordialidade, e eles chegaram a trabalhar juntos pela reforma tributária.

À noite, perfil do PT nas redes sociais divulgaram um vídeo em que, sem citar Tarcísio, Haddad diz que a MP “buscava garantir investimentos em saúde, educação e previdência, cobrando uma contribuição justa dos super-ricos” e que a oposição defendeu “bilionários, bancos e bets” –atacar o grupo é parte da estratégia de comunicação do partido.

Lula em ascensão: o novo ciclo político que se desenha no Brasil

Lula lidera em todos os cenários de 1º e 2º turnos, diz Quaest

Pedro do Coutto

A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta sexta-feira pelo O Globo confirma um movimento que já vinha sendo captado nas últimas semanas: a popularidade do presidente Lula da Silva voltou a crescer e se reflete diretamente no cenário eleitoral para 2026. Segundo o levantamento, Lula vence todos os confrontos de segundo turno testados, com margens seguras sobre seus principais adversários.

O petista superaria Ciro Gomes por 41% a 32%, derrotaria Tarcísio de Freitas por 47% a 33%, venceria Michelle Bolsonaro por 46% a 34%, e ampliaria a vantagem sobre nomes como Ratinho Júnior, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Eduardo Bolsonaro — todos ficando na casa dos 30%. O quadro é de conforto político e de consolidação de liderança.

FATORES – O avanço de Lula se explica por um conjunto de fatores. Nos primeiros meses de 2025, o governo enfrentou críticas pelo custo de vida e pela lentidão na retomada econômica. Mas a partir do segundo semestre, a agenda começou a mudar de tom. O Planalto intensificou ações na economia, apostou em gestos simbólicos de política externa — como o diálogo direto com o presidente Donald Trump e o encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o senador Marco Rubio, nos Estados Unidos — e retomou protagonismo em temas internacionais, o que reforçou a imagem de estabilidade e liderança.

O gesto de aproximação entre Brasília e Washington, inclusive, foi interpretado como um sinal de maturidade diplomática e desarmou, de vez, as teses conspiratórias de parte da extrema direita que chegou a alimentar a fantasia de uma “intervenção americana” no Brasil.

A conjuntura também favorece Lula pela fragilidade e dispersão de seus adversários. Tarcísio de Freitas, considerado nome promissor da direita moderada, já sinalizou que disputará a reeleição em São Paulo e, portanto, dificilmente estará no páreo presidencial.

RESISTÊNCIA – Michelle Bolsonaro mantém popularidade no eleitorado conservador, mas enfrenta resistência interna e falta de estrutura partidária. Já Ciro Gomes, apesar de ser o adversário mais competitivo nos testes, ainda sofre com altos índices de rejeição e desgaste de imagem. Os demais governadores citados — Zema, Caiado, Ratinho Júnior — têm força regional, mas não nacional.

Por outro lado, Lula mantém uma base sólida, estimada em cerca de um terço do eleitorado, e se beneficia da fragmentação dos opositores. Quanto mais nomes surgem na direita, maior tende a ser a vantagem do presidente, que segue concentrando o voto útil do campo progressista e parte do centro. A pesquisa também aponta um crescimento na aprovação do governo, que chegou a 48%, seu melhor patamar em 2025, segundo a Quaest.

OSCILAÇÕES – O cenário, no entanto, não é definitivo. A economia ainda será determinante, e oscilações em indicadores como inflação e desemprego podem redesenhar o humor do eleitorado. Além disso, há o risco da “fadiga política”: Lula, no seu terceiro mandato, precisa equilibrar narrativa e entrega, sem parecer distante das demandas cotidianas. O desafio é transformar a liderança momentânea em hegemonia duradoura, consolidando um ciclo que una estabilidade institucional, crescimento econômico e governabilidade.

Por ora, a fotografia é inequívoca: Lula chega à reta final de 2025 em ascensão, com o cenário eleitoral a seu favor e uma oposição ainda em busca de discurso, unidade e rumo. O país, que há poucos meses parecia dividido entre desalento e radicalização, começa a assistir a um novo equilíbrio — mais pragmático, menos inflamado e, sobretudo, mais atento aos resultados do que às retóricas. O tempo dirá se essa tendência se transformará em destino.

Anistia ao 8 de Janeiro reacende debate sobre ditadura na Câmara dos Deputados

Bolsonaristas têm insistido na pressão por anistia

Ana Gabriela Oliveira Lima
Folha

O debate sobre os ataques do 8/1 e a anistia aos envolvidos na tentativa de golpe liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) impulsionaram a discussão sobre ditadura militar na Câmara dos Deputados. Um levantamento feito pela Folha aponta que deputados e convidados falaram sobre a ditadura militar ao menos 250 vezes ao longo de dois anos e cinco meses no plenário da Casa, de acordo com discursos e notas taquigráficas registradas no site da Câmara.

Do total de manifestações, 46% citam explicitamente a anistia ao 8 de Janeiro ou a destruição das sedes dos três Poderes. O levantamento foi feito a partir da busca pelo termo “ditadura militar” no período de 8 de janeiro de 2023, data dos ataques golpistas em Brasília, a 10 de junho de 2025, dia em que Bolsonaro foi interrogado na ação penal que levou à sua condenação por liderar a trama golpista.

MENÇÕES – O político foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão no processo julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Ainda cabe recurso. Das 250 menções encontradas na busca, 114 (46%) tratam da anistia ou do 8 de Janeiro e 136 (54%) não o fazem diretamente, ainda que o tema possa aparecer de maneira não nominal ou explícita nesses casos.

O resultado vem de uma filtragem feita pela Folha. Ele não contempla toda e qualquer menção que poderia vir de outras buscas. De forma isolada, por exemplo, o termo “ditadura” gera quase mil documentos porque contabiliza até menções com pouco contexto.

Bolsonaristas têm insistido na pressão por anistia, mas a articulação do centrão na Câmara dos Deputados buscou adaptar a proposta para uma redução de penas, batizada como PL da Dosimetria.

PICO – O dia com mais manifestações sobre ditadura foi o 1º de abril de 2025, efeméride do golpe militar de 1964. A data teve pico de 35 menções. Em segundo lugar, ficou 26 de novembro de 2024, em razão da repercussão do indiciamento de Bolsonaro no processo da trama golpista, ocorrido cinco dias antes. A terceira data com mais citações é 26 de março de 2025, quando o ex-presidente virou réu no caso.

Quando a análise dos discursos na Câmara recai sobre a maneira como a ditadura militar aparece na fala dos parlamentares, há desde uma visão majoritária que denuncia os horrores do regime até manifestações favoráveis ao golpe de 1964.

No geral, os partidos que mais abordaram o tema foram o PT, com 112 menções do total de 250, e o PSOL, com 59. Em terceiro, vem o PL (21 menções). As três legendas têm, respectivamente, 67, 14 e 88 deputados na Câmara.

GRUPOS – A reportagem dividiu todas as menções encontradas em cinco grupos: 1) manifestação contra regimes ditatoriais; 2) a favor ou que justifique uma ditadura; 3) com foco na anistia ao 8 de Janeiro; 4) crítica que relativiza a gravidade de uma ditadura ou compara o período atual de democracia a um cenário ditatorial; 5) comentários neutros ou muito breves para serem categorizados. A classificação foi feita a partir do teor predominante da mensagem, ainda que o conteúdo pudesse se enquadrar em mais de um caso.

Do total de manifestações, o maior grupo, com 188 menções, fez observações que se destacaram por serem contra regimes ditatoriais. Ele abordou o tema usando expressões como “período traumático” e obscuro, relembrando torturas e mortes, a exemplo de fala de Chico Alencar (PSOL-RJ), no dia 25 de outubro de 2023, sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog.

Aparecem também nos discursos lembrança sobre posicionamento de Bolsonaro a favor de torturadores e homenagens a perseguidos pelo regime de 1964. Outro destaque é a referência a obras artísticas, do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, a blocos afro como espaço de resistência. O período também é lembrado para falar sobre a importância de penalizar os envolvidos no mais recente ataque golpista.

PT E PSOL – Nesse grupo, predominaram PT e PSOL. A classificação sem partido foi dada a convidados que estiveram na Câmara e cuja ligação partidária não foi registrada no site da Casa. Na análise, cinco discursos, todos de parlamentares do PL, foram classificados como sendo a favor, negando ou justificando a ditadura.

Em um deles, o deputado Zé Trovão (PL-SC) chama o golpe de 1964 de “papo furado”. “É muito fácil a esquerda, que não tem sequer o mínimo de respeito por esta Casa, ficar com esse discursinho mole, esse papinho furado de 64, de ditadura! A ditadura só existiu para vagabundo! A ditadura só existiu para terrorista!”, afirmou em 1º de abril deste ano. O discurso foi feito em contexto de defesa para votação de projeto para anistia.

Outro exemplo vem de Nelson Barbudo (PL-MT), na mesma data, ao dizer que “os militares bateram pouco nessa cambada que passa aqui a me afrontar”. Há ainda outro discurso de Barbudo, um de José Medeiros (PL-MT) e outro do General Girão (PL-RN).

ANISTIA EM DESTAQUE – Um terceiro conjunto de parlamentares falou do assunto destacando uma anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro. Dez menções foram classificadas nessa categoria, sendo 9 do PL e 1 do PSD.

O discurso predominante nesse caso é o a favor de uma anistia, citando o fato de isso já ter ocorrido com pessoas que “sequestraram e mataram”, em referência ao perdão de 1979 dado a pessoas que lutaram contra a ditadura.

Aparecem ainda menções a figuras condenadas pela invasão dos três Poderes, como Débora Rodrigues, que ficou conhecida por ter pichado com batom a estátua A Justiça. Também é comum alusão à ex-presidente Dilma Rousseff (PT), citada como “criminosa” pertencente ao grupo já anistiado.

MOBILIZAÇÃO – Um quarto conjunto falou em ditadura comentando o que seria hipocrisia da esquerda ao não criticar regimes autoritários de países alinhados ideologicamente. Ele também mobilizou a ideia de que há atualmente no Brasil uma ditadura do Judiciário ou que a liberdade de expressão está em risco.

Nove discursos foram classificados na categoria, 7 do PL, 1 do Podemos e 1 do Novo. Um deles é do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Ele critica a esquerda e fala que o Brasil vive atualmente “coisa de ditadura”.

“DITADURA DA TOGA” – O discurso sobre uma “ditadura da toga” é frequente entre parlamentares de direita e extrapola as menções identificadas nesta pesquisa, que focou discursos no site da Câmara a partir do termo “ditadura militar”. Sozinho, o termo “ditadura da toga” gera ao menos 75 menções no site no período analisado, a maioria do PL.

Um último grupo, com 38 falas, foi classificado como neutro ou não identificado por se referir de maneira breve ao termo pesquisado. Do total das 250 menções, os parlamentares que mais falaram foram Érika Kokay (PT-DF), com 21 discursos, seguida de Chico Alencar e Ivan Valente (PSOL-SP), com 18 cada, os três com falas contra regimes antidemocráticos.

Trump quer saber se Lula vai apoiar a China, e tudo vai depender disso

Genial/Quaest: 49% veem Lula mais forte após encontro com Trump na ONU

Devagar, Trump quer afastar Lula da influência chinesa

José Perez

O presidente Lula da Silva ganhou um presente de Donald Trump e está aproveitando exaustivamente,  para usar no marketing político e fortalecer sua campanha eleitoral pelo quarto desmerecido mandato.

Com sua visão limitada, o petista não consegue perceber que Trump e os EUA não estão nem aí para a família Bolsonaro nem para qualquer retaliação sobre a questão das tarifas, mas estão de olhos bem abertos para outros assuntos.

O QUE INTERESSA – A principal questão é que Trump não aceita o crescente alinhamento do Brasil aos BRICS, enfraquecendo ainda mais seu domínio geopolítico no Terceiro Mundo ou Sul Global como repete Lula.

O presidente norte-americano também fica particularmente furioso quando vê Lula defender o fim do dólar como moeda-padrão no comércio global.

É claro que os Estados Unidos jamais aceitarão a subserviência do Brasil à China, que é o principal concorrente ao domínio norte americano em todas as áreas, sobretudo em desenvolvimento tecnológico e setores industriais de ponta, incluindo produção de armas estratégicas.

USAR COMO EXEMPLO – As negociações com o governo norte-americano são delicadas e precisam ser tocadas com o máximo de cuidado, porque existe a possibilidade de os Estados Unidos usarem o Brasil como exemplo.

Trump tem tempo e pode ir empurrando a negociação lentamente. Sabe que no ano que vem haverá a eleição no Brasil e os Estados Unidos podem ajudar o Centrão a fechar a torneira e emplacar Tarcísio de Freitas num grande acordão.

Com Tarcísio no poder, fica mais fácil o Brasil se reaproximar dos Estados Unidos. Está é a questão principal. Quanto ao problema com o Supremo, Trump não vai recuar enquanto não liquidar o ministro Alexandre de Moraes, que acaba de ser desmascarado pelos Estados Unidos na “invenção” de provas contra Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, um erro jurídico desmoralizante.  

Planalto turbina publicidade online e mira público fora da bolha petista

A estratégia teve início em meados de julho deste ano

Por Juliana Braga,
Guilherme Balza
G1

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) mais que dobrou os gastos com publicidade na internet no último ano. Desde janeiro, foram gastos R$ 69 milhões, 110% a mais do que os R$ 33 milhões no mesmo período de 2024.

A pasta tem apostado em influenciadores para furar a bolha petista nas redes. A estratégia teve início em meados de julho deste ano, após um primeiro semestre dominado por notícias negativas, como a crise do PIX, alta no preço dos alimentos e escândalo do INSS.

VERBA PUBLICITÁRIA – Em 2024, período em que a Secom era chefiada pelo deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), o governo gastou 13,76% da verba publicitária com comunicação digital. Na gestão de Sidônio Palmeira, que assumiu o cargo em janeiro deste ano, o percentual chega a 25% do orçamento total. Na época de Pimenta, havia uma destinação maior de verba publicitária para rádios localizadas em cidades menores e para televisão.

Outra mídia que teve uma expansão robusta, de 93%, foi o cinema, saindo de R$ 1,1 milhão para R$ 2,1 mi. O avanço coincide com o bom momento do cinema nacional, vencedor de um Oscar pela primeira vez com o filme “Ainda Estou Aqui”.

INFLUENCIADORES – Quando o governo decide fazer uma campanha, as agências devem apresentar propostas também de comunicação digital, e não só de publicidade na TV e no rádio. Os influenciadores não são contratados diretamente pela Secom e, sim, pelas quatro agências publicitárias com as quais o Palácio do Planalto tem contratos firmados. Em média, os influenciadores recebem R$ 20 mil por campanha.

Segundo fontes do Planalto, seria inviável pagar cachês para os principais influenciadores do país, como Felipe Neto, Virgínia ou Whindersson Nunes. A Secom tem escolhido “influenciadores médios”, com públicos específicos e com capacidade de dialogar com a população que não está no campo petista, incluindo um público de centro ou centro-direita.

BASE PETISTA – Em uma das ações, por exemplo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, respondeu a perguntas de influenciadores do mercado financeiro. Algumas ações, no entanto, buscam fortalecer a relação com a própria base petista. É o caso das postagens protagonizadas pela influenciadora Laura Sabino, que possui seguidores majoritariamente de esquerda.

Os nomes dos influenciadores são sugeridos pelas agências contratadas pelo governo e submetidos ao crivo do Palácio do Planalto. Em uma das ações, o governo escolheu o apresentador João Kleber, conhecido pelo quadro “Teste de Fidelidade”, como protagonista. Ele aparece interagindo com o público no calçadão de Osasco, região metropolitana da capital, e questiona os entrevistados se eles são fiéis ao Brasil.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Mais uma matéria da Organização Globo, do jeito que o Planalto gosta. Ao invés de criticar Lula da Silva por estar gastando na campanha eleitoral um dinheiro que o governo sequer possui, a matéria elogia o presidente por estar endividando cada vez mais o país. (C.N.)

EUA comprovam que Moraes prendeu Filipe Martins “sob acusação falsa”

Filipe Martins

Filipe Martins comprovou ser perseguido por Moraes

Marcelo Godoy e Hugo Henud
Estadão

O governo dos Estados Unidos desmentiu nesta sexta-feira, 10, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e afirmou que Filipe Martins, ex-assessor de Jair Bolsonaro, não entrou em território americano em 30 de dezembro de 2022, data usada pelo magistrado para justificar a prisão preventiva na ação penal do golpe.

Em nota oficial, o Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) informou ter realizado uma “revisão minuciosa das evidências disponíveis referentes às alegações de entrada” e concluído que não há registro da entrada de Martins no país na data indicada.

MORAES ACUSADO – “Após a conclusão da análise, foi determinado que o Sr. Martins não entrou nos Estados Unidos nessa data”, diz o comunicado. “Essa constatação contradiz diretamente as afirmações feitas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, indivíduo recentemente sancionado pelos Estados Unidos por violações de direitos humanos contra o povo brasileiro.”

O texto afirma ainda que o registro incorreto utilizado por Moraes para embasar a prisão de Martins foi incluído de forma errônea nos sistemas oficiais da agência, que abriu investigação interna para apurar o caso.

“A inclusão desse registro inexato nos sistemas oficiais permanece sob investigação, e o CBP tomará as medidas apropriadas para evitar futuras discrepâncias”, afirma a nota.

USO INDEVIDO -A CBP também declarou “condenar veementemente qualquer uso indevido desse registro falso para sustentar a condenação ou prisão de qualquer pessoa”, e reafirmou seu “comprometimento com a integridade dos registros de fronteira e com os princípios de justiça e direitos humanos”.

O advogado Ricardo Fernandes, que defende Martins, classificou a nota do governo americano como “grave” e disse que ela confirma que seu cliente foi mantido preso de forma abusiva e ilegal por mais de seis meses. Segundo ele, o o registro usado por Moraes para justificar a prisão era fraudulento e não poderia ter embasado qualquer decisão judicial.

“Isso agora está sendo investigado não só pelo CBP, mas também pelo FBI e por outros órgãos dos Estados Unidos, que buscam apurar como o registro falso foi inserido e utilizado e o grau de envolvimento de autoridades brasileiras nessa trama”, disse o advogado.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG É triste ter de recorrer a um governo estrangeiro para provar estar sendo perseguido no Brasil. O comunicado comprova a leviandade com que Moraes tem se comportado como ministro do Supremo e mostra que o governo norte-americano está correto ao reagir contra o comportamento do magistrado brasileiro. Portanto, o Senado precisa providenciar o impeachment de Moraes, ao invés de continuar protegendo um juiz que comete esse tipo de barbaridade jurídica, prendendo um cidadão sob acusação falsa, e o então presidente do STF, Luís Roberto Barroso, fingiu que não notou nada de errado. (C.N.)