Bolsonaro responde a Moraes e diz ser “um perseguido político”

Em resposta ao STF, defesa de Bolsonaro critica PF e fala em perseguição

Bolsonaro afirma que jamais tencionou fugir do Brasil

Manoela Alcântara e Pablo Giovanni
Metrópoles

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou ao Supremo Tribunal Federal, nesta sexta-feira (22/8), explicações sobre o rascunho de um pedido de asilo político à Argentina encontrado pela Polícia Federal no celular do ex-mandatário. O prazo para esclarecimento dado pelo ministro Alexandre de Moraes se encerraria às 20h34.

O indício de fuga consta em um arquivo de texto encontrado no aparelho de Bolsonaro. Na carta, o ex-presidente alega ser perseguido no Brasil “por motivos e por delitos essencialmente políticos” e cita medidas cautelares impostas pelo STF.

PERSEGUIDO?  – “De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares. Para decretação de tais medidas foram mencionados os delitos dos Arts. 359-I e 359-M do Código Penal brasileiro”, escreveu Bolsonaro no rascunho.

Na manifestação, a defesa afirma: “Parece claro que um rascunho de pedido de asilo ao presidente argentino, datado de fevereiro de 2024, não pode ser considerado um indício de fuga. Seria necessário avisar à Polícia Federal, especialmente ao setor de inteligência, que o processo criminal que originou as cautelares foi proposto um ano depois e, desde então, o ex-presidente compareceu a todos os seus atos, inclusive estando em sua residência quando determinado o uso de tornozeleira por Vossa Excelência (Moraes)”.

COM BRAGA NETTO – Sobre o questionamento se Bolsonaro teria descumprido cautelar em conversa com Braga Netto, a defesa alega que esta seria uma “tentativa de tirar alguma conclusão a partir da mensagem de SMS, enviada em 2024, ao telefone de Bolsonaro”.

Ao citar trecho de relatório da PF que registrou uma mensagem recebida por SMS por Jair Bolsonaro de Braga Netto com o texto: “Estou com este número pré-pago para qualquer emergência. Não tem zap. Somente face time”, a defesa alega que o teor da mensagem é vazio e que não há resposta.

“A ausência de resposta é mais do que esclarecedora sobre a perseguição aqui apontada. A mensagem foi apenas recebida! Sem notícia de resposta. Sem qualquer reação. Sem qualquer comunicação por parte do ex-presidente”, acrescenta.

SEM DESCUMPRIMENTO – Ainda assim, para a Polícia Federal, o recebimento desta mensagem corroboraria “a hipótese de que os réus Jair Bolsonaro e Walter Souza Braga Netto descumpriram as medidas cautelares de proibição de manter contato durante a investigação realizada pela Polícia Federal no âmbito da Pet 12.100/DF”.

A defesa reitera que não houve descumprimento e que Bolsonaro cumpre com rigor as cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes. Mas deixou claro que não é a primeira vez, em um curto intervalo, que o ministro cobra explicações da defesa sobre suposto descumprimento de medidas cautelares.

TORNOZELEIRA – Em 21 de julho, Moraes deu 24 horas para que os advogados justificassem a conduta do ex-presidente, que havia falado com a imprensa na saída da Câmara dos Deputados — onde participou de reunião do Partido Liberal (PL). Bolsonaro chegou a exibir sua tornozeleira eletrônica, embora estivesse proibido de dar entrevistas por decisão judicial.

Na ocasião, a defesa alegou que não havia clareza sobre os limites das restrições impostas. Moraes considerou a infração um episódio isolado, manteve as medidas cautelares e advertiu: em caso de novo descumprimento, Bolsonaro poderá ser preso no âmbito da Ação Penal nº 2668, que apura uma suposta trama golpista.

Bolívia, espelho do desastre populista, torna-se um alerta para o Brasil

Eleições na Bolívia: país terá segundo turno inédito, em pleito marcado por  derrota da esquerda - BBC News Brasil

Senador Rodrigo Paz, de direita, vence o primeiro turno

Bruno Gomez Musa
TimeLine

Permitam-me compartilhar com vocês uma preocupação profunda que carrego: a Bolívia. Hoje, ao observar a situação da nação andina, sinto um frio na espinha, pois vejo ali um espelho, um reflexo do que pode se tornar o Brasil se não abrirmos os olhos. A Bolívia está à beira de uma “ruína econômica” e, pasmem, quase uma “guerra civil”.

Não é um exagero; é a triste realidade de 25 anos de políticas populistas de extrema esquerda, lideradas por Evo Morales e, mais recentemente, por Luis Arce. A mensagem que tiro disso é clara: se o Brasil não se desvencilhar dessas práticas, corremos o risco real de trilhar o “mesmo caminho” para o colapso.

NA DERROCADA – Os números, meus amigos, são implacáveis. A inflação na Bolívia está flertando com 25% anuais. Pensem nisso… E as reservas internacionais, que em 2014 eram robustos US$ 15 bilhões, hoje se arrastam em meros US$ 1,7 bilhão. Comparem com a reserva do Brasil, aproximadamente US$ 340 bilhões.

O governo boliviano gasta mais do que arrecada, e o déficit fiscal é financiado pela impressão de dinheiro e pela emissão de dívida. É uma espiral de autodestruição. O PIB per capita deles, estagnado e abaixo de US$ 4 mil entre 2015 e 2023, é a prova da ausência de crescimento real após o período de bonança das commodities.

Sim, a dependência do gás natural, principal motor de exportação, cobrou seu preço, com a queda dos valores, mas os gastos populistas, esses não acompanharam o freio nas receitas.

DÍVIDA X PIB – Consequentemente, a relação entre dívida e PIB explodiu, superando os 80% e tornando-se insustentável. E a cereja do bolo da crise, o que paralisa tudo, é a escassez de dólares, que impede a importação de combustíveis, travando transporte, distribuição e toda a atividade econômica. É desolador.

A semente dessa crise, acreditem, foi plantada lá no início dos anos 2000. Tanto a Bolívia, sob Evo Morales, quanto nós, sob Lula, vivenciamos um período de fartura impulsionado pelos altos preços das commodities.

E aqui está o ponto crucial: o influxo de dólares não foi canalizado para investimentos em produtividade de longo prazo. Em vez disso, foi usado para financiar políticas populistas, subsídios e programas sociais ineficientes. Isso gerou um crescimento artificial de curto prazo, inflado pelo expansionismo fiscal, mas sem bases sólidas.

EXAUSTÃO – A conta, como sempre, chegou quando os preços das commodities despencaram. As receitas diminuíram, mas os gastos populistas persistiram, levando ao financiamento via dívida, à explosão do endividamento público e à exaustão das reservas. Eu vejo essa “fórmula do fracasso” boliviana e a comparo diretamente com as práticas que temos observado no Brasil. É um alerta de causa e efeito que não podemos ignorar.

A trajetória de Evo Morales, que assumiu a presidência em 2005, é para mim o manual do populismo autoritário. Em 2008, ele expulsa a agência antidrogas dos Estados Unidos e nacionaliza recursos naturais, inclusive a Petrobras boliviana. Em 2009, elabora uma nova Constituição, que permitia a reeleição, garantindo-lhe 8 anos no poder. E Morales não parou. No fim de seu terceiro mandato, tentou um quarto, com base numa “tecnicalidade”.

NO SUPREMO – O desrespeito à vontade popular ficou evidente quando, após perder um referendo popular que rejeitava sua permanência, ele recorreu ao Tribunal Constitucional – com juízes que ele mesmo havia indicado –, que convenientemente permitiu sua candidatura. Em 2019, denúncias de fraude eleitoral feitas pela OEA e a retirada de apoio do Exército levaram à sua renúncia.

Na eleição desta semana, o populismo de esquerda foi varrido do poder. O segundo turno será disputado por dois nomes de direita:  Rodrigo Paz (Partido Democrata Cristão) obteve mais de (32,08%) e Tuto Quiroga (Aliança Livre), com 26,94%), segundo resultados preliminares divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral.

Apesar de todas as sombrias comparações, preciso reconhecer que o Brasil, até o momento, não atingiu a mesma ruína da Bolívia. E por quê? Atribuo essa diferença a dois fatores cruciais: a nossa pauta exportadora e a indústria brasileira são muito mais diversificadas e robustas, garantindo maior resiliência econômica. Além disso – e aqui faço uma aposta com o futuro –, sugiro que a população brasileira, especialmente a partir de 2025, parece estar “mais acordada” para os riscos do “regime nefasto” do autoritarismo e do populismo. Isso pode gerar – e espero que seja assim – uma maior resistência a essas práticas

Tarcísio e Michelle são as atrações políticas da Festa do Peão de Barretos

 

Pesquisa Quaest: Tarcísio e Michelle lideram para substituir Bolsonaro

Michelle e Tarcísio combinaram se encontrar em Barretos

Victória Cócolo
Folha

 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vai comparecer à Festa do Peão de Barretos neste sábado (23). Ele antecipou a ida ao evento depois que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) confirmou presença.

Tarcísio tinha a intenção de visitar a celebração no fim da semana do dia 30 de agosto, mas, segundos interlocutores, fez questão de que a agenda coincidisse com a de Michelle.

MICHELLE BOIADEIRA – Como mostrou a coluna, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) deve ser a grande estrela da Festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo, na noite deste sábado (23). A informação foi confirmada pelos organizadores do evento. A assessoria de Michelle não respondeu.

A propriedade de Michelle ocorre no momento em que cresce a disputa pelo espólio político de Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, por ordem ministro do Alexandre de Moraes, com restrições de visitas e de comunicação. O movimento causou transtornos em aliados do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

VISITA INOPORTUNA – Nesta sexta-feira (22), o um dos principais aliados de Bolsonaro no meio rural, Nabhan Garcia disse ser inoportuna a ida de Michelle à Festa do Peão de Barretos.

“Se eventualmente ela está indo para explorar algum benefício político, será para quem? Porque o marido é inelegível, e ele mesmo já disse que, por conta de uma perseguição, vai ser preso. Ela irá se candidatar a alguma coisa?”, indaga Garcia.


Antes da festa, Tarcísio participa na formação de alunos do programa Caminho da Capacitação, que habilita pessoas em cursos gratuitos de qualificação profissional. A esposa do governador, Cristiane, também compareceu aos eventos. 

Aonde vai parar a nova briga de Moraes, desta vez com André Mendonça?

André Mendonça critica ativismo judicial — Foto: Jornal Nacional

Sem agressividade, Mendonça deu uma bela aula de Direito

Deu no Jornal Nacional

Dois ministros do Supremo Tribunal Federal participaram nesta sexta-feira (22) de um evento no Rio de Janeiro. Pela manhã, o ministro André Mendonça falou sobre o papel do Poder Judiciário em relação aos demais poderes e à democracia.

O ministro condenou o que têm críticas chamadas de ativismo judicial — decisões tomadas por juízes nem sempre amparadas apenas no que a legislação prevê explicitamente e que podem se sobrepor a outros poderes da República.

ESTADO DE DIREITO – “O Judiciário não pode ser o fator de criação e inovação legislativa. O Estado de Direito exige autocontenção, o que se contrapõe ao ativismo judicial. O ativismo suprime, desconsidera e supera os consensos sociais estabelecidos pelos representantes periodicamente eleitos pelos verdadeiros detentores do poder, que é o povo. O ativismo judicial implica no reconhecimento implícito de que o Judiciário tenha prevalência sobre os demais poderes. E o ativismo judicial implica no reconhecimento implícito, ainda que não desejado, no enfraquecimento dos demais poderes”.

“Se é verdade que em um Estado de Direito forte, que nele, o Judiciário tenha a prerrogativa de dar a última palavra — e essa é uma verdade —, mas num Estado de Direito forte, o poder Judiciário não tenha a prerrogativa de dar a primeira e a palavra”.

“Essa situação passa a impressão de viver não em um Estado Democrático de Direito, mas em um Estado Judicial de Direito. Todos nós precisamos fazer um compromisso público de que o bom juiz tem que ser reconhecido pelo respeito, e não pelo medo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O ministro André Mendonça, o tremendamente evangélico, disse boas e duras verdades sobre a ditadura do STF e os homens que provocam na nação, especialmente a insegurança jurídica. Moraes deu aquela velha embromada, dizendo que o principal é o respeito à autoridade . (CN)

Há provas contra Bolsonaro, mas o processo inteiro deveria ser anulado

Humor Político on X: "#ampulheta #bolsonaro #bolsonaropresoamanha #Brasil # Charge #eleições2022 #JairBolsonaro #nacadeiaem2023 #Tempo  https://t.co/NC6W4w48PH https://t.co/3FBN9lDJ5A" / X

Charg do Lattuff (Brasil de Fato)

Bianca Gomes
Estadão

No dia 2 de setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) começa a julgar Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus acusados de comandar o núcleo central de um plano para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao longo do caminho, o ministro Alexandre de Moraes acumulou uma série de críticas pela forma como conduziu o processo. Mesmo assim, criminalistas consultados pelo Estadão afirmam que as provas reunidas sustentam a acusação de que Bolsonaro articulou uma tentativa de golpe. Para eles, a condenação é certa — a dúvida, agora, está no tamanho da pena que será aplicada ao ex-presidente.

Cinco especialistas fizeram, a pedido da reportagem, uma avaliação da condução do processo no Supremo: Maíra Beauchamp Salomi, vice-presidente da Comissão de Estudos de Direito Penal do Instituto dos Advogados de São Paulo; Marcelo Crespo, professor e coordenador do curso de Direito da ESPM; Renato Vieira, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM); Welington Arruda, mestre em Direito pelo IDP; e Priscila Pamela Santos. Em conjunto, as entrevistas indicam ao menos sete pontos controversos na ação penal.

FORO PRIVILEGIADO – Um dos pontos mais discutidos é se caberia ou não ao Supremo julgar Bolsonaro. Advogados citam que, quando a ação penal contra o ex-presidente foi aberta, prevalecia o entendimento de que antigos ocupantes do Palácio do Planalto deveriam responder na primeira instância da Justiça, como cidadãos comuns.

“Em abril, no julgamento do Habeas Corpus 232627, o STF mudou seu entendimento e decidiu que crimes cometidos por autoridades no exercício do mandato podem continuar sendo julgados pela Corte mesmo depois que elas deixam o cargo. Essa alteração, porém, aconteceu depois que a ação penal contra Bolsonaro já havia sido oferecida”, explica Maíra Beauchamp Salomi.

Ela defende que o STF não seria o foro adequado para o caso. Embora o tema esteja pacificado, a criminalista cita o exemplo do presidente Lula, cujo processo começou na primeira instância, em Curitiba, sob o comando do então juiz Sérgio Moro.

O criminalista Welington Arruda concorda. Para ele, o Supremo atraiu a ação sob duas justificativas frágeis: a suposta “conexão” de Bolsonaro com outros réus parlamentares, que possuem foro, e o fato de os crimes investigados terem como alvo o próprio Supremo.

“Essa interpretação pode alongar demais a ideia de conexão e esvaziar a garantia do juiz natural, que é o princípio de que cada caso será julgado por um magistrado cuja competência está prévia e impessoalmente definida em lei, antes do fato e do réu. É uma trava de imparcialidade que afasta tribunais de exceção, escolhas de juiz para o caso e conexões artificiais usadas para concentrar processos sem limite probatório concreto”, afirma Arruda.

ACÚMULO DE FUNÇÕES – “O STF concentrou etapas que, no desenho original, seriam separadas. O mesmo relator que, em 8 de fevereiro de 2024, determinou — a pedido da Polícia Federal e com parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) — buscas e apreensões, quebras de sigilo e a apreensão do passaporte do ex-presidente, além de decretar a prisão preventiva de assessores próximos, depois manteve essas cautelares, levantou o sigilo do inquérito e remeteu o relatório da PF à PGR.

Agora, é a própria Corte que julgará o mérito. Quando quem autoriza as medidas investigativas e as cautelares também julga, surge uma dúvida legítima sobre imparcialidade e separação de funções. Esse é o ponto”, critica Arruda.

Marcelo Crespo lembra que o problema começou em 2019, quando o então presidente do STF, Dias Toffoli, nomeou Moraes relator do inquérito das fake news. “No processo penal, a regra é que a escolha do relator seja feita por sorteio. Só há exceção quando já existe um caso semelhante e o mesmo ministro assume também o novo processo, para evitar decisões distintas”, explica Crespo.

Desde então, Moraes acumulou a relatoria de investigações sensíveis, ferindo o princípio do juiz natural. “Em determinado momento, houve uma confusão de papéis: ele era magistrado, atuava como órgão investigador e também figurava como vítima. No processo penal, quem julga não deve investigar, e quem investiga não deve julgar. E, se é vítima, não pode participar da investigação.”

O coordenador da ESPM, porém, pondera que a atipicidade dos fatos torna natural que as decisões despertem questionamentos. “É importante lembrar que praticamente todas as decisões dele foram referendadas pelos demais ministros. Não são decisões individuais, são do Supremo”, diz.

PELA PRIMEIRA TURMA – Outro debate é o fato de Bolsonaro ser julgado pela Primeira Turma do STF, que tem cinco ministros. As turmas costumam analisar recursos vindos de instâncias inferiores e casos menos complexos. Votações de maior relevância, em regra, são analisadas pelo Plenário, formado pelos 11 ministros.

“Esse caso merece ser analisado pelo Plenário porque envolve crime supostamente cometido por um presidente da República — que, pelo regimento, deve ser julgado pelo colegiado — e porque trata de tipos penais novos, criados em 2021: golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito”, afirma Renato Vieira, sócio do Kehdi Vieira Advogados. “Estamos falando de crimes centrais para a sobrevivência da democracia. Faz sentido julgá-los com apenas cinco ministros?”, questiona.

Crespo diverge. “Você tem, recentemente, jurisprudência do STF dizendo que esse caso poderia ser julgado pela turma, e não pelo plenário. Idealmente, ao julgar um presidente da República, seria mais adequado levar ao pleno. Mas, se a própria jurisprudência do Tribunal admite que seja feito pela turma, não há nenhum absurdo nessa decisão.”

Arruda, por sua vez, aponta ainda possível sobreposição de tipos penais ao somar as penas de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. “Há quem defenda a absorção de um crime pelo outro”, observa.

CERCEAMENTO DA DEFESA – Vieira também é crítico sobre a forma como a acusação dividiu os réus em núcleos distintos. Segundo ele, a separação restringiu a atuação das defesas.

“O acusador trabalhou com o mesmo contexto e deu ritmos diferentes a determinados grupos. O que aconteceu: um réu de terceiro escalão, que cumpria ordens de quem estava no primeiro ou no segundo, ficou em um núcleo separado. O normal seria que o mandante pudesse participar da audiência do subordinado, para questionar provas que dizem respeito à relação entre eles. Mas Moraes não permitiu que os integrantes do núcleo 1 participassem das audiências dos núcleos 2 e 3. Isso gerou um cerceamento de defesa.”

Ele cita como exemplo o caso de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF, colocado em núcleo diferente ao de Bolsonaro.

“A decisão de fazer a seletividade de eleitores no contexto da eleição dizia respeito diretamente a Bolsonaro, e ele não pôde influenciar a colheita da prova nesse núcleo.” Vieira também critica a falta de prazo das defesas para análise de documentos: “Houve um evento em que o documento foi juntado um dia antes da audiência”.

DELAÇÃO PREMIADA – O ponto mais grave na condução de Moraes, na opinião de Vieira, ocorreu na delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Para ele, o ministro desrespeitou a lei ao conduzir pessoalmente todas as perguntas na audiência de 19 de novembro de 2024.

“Dias antes daquela audiência, o ministro havia recebido um ofício com as possíveis omissões de Cid e fez todas as perguntas de mérito — aquelas que, na avaliação dele, chegariam à verdade. Aquele momento significou, para mim, o rompimento, por parte do ministro Alexandre de Moraes, da observância da lei de delação premiada, que prevê que o juiz deve apenas verificar a voluntariedade e as condições do acordo e não, em hipótese alguma, entrar no mérito das informações prestadas.”

Para Vieira, esse fato é relevante porque foi nessa audiência que vieram à tona as informações sobre o plano Punhal Verde e Amarelo, que previa o assassinato de Lula. Com isso, diz o criminalista, houve um vício na colheita das declarações do delator.

O ex-presidente do IBCCRIM avalia que, embora Moraes tenha ultrapassado os cuidados exigidos para preservar sua imparcialidade em alguns momentos, é difícil afastar a conclusão de que houve, de fato, uma tentativa de golpe de Estado.

CELULARES DE ADVOGADOS – A advogada criminalista Priscila Pamela Santos destaca que as críticas a Moraes não se limitam ao processo de Bolsonaro, mas refletem reivindicações antigas da advocacia em várias instâncias. “O que se vê hoje são muitos garantistas de ocasião”, avalia.

Para ela, de modo geral, Moraes atuou dentro dos padrões do Judiciário. O caso, ressalta, é complexo, envolve crimes graves e uma situação totalmente atípica.

“A atuação da Corte em defesa da Democracia foi essencial para estarmos hoje aqui falando sobre o assunto. Mas mesmo diante desse contexto, uma decisão em particular considero controversa: a apreensão dos celulares de advogados. Acho problemática a decisão porque pode resvalar no exercício do direito de defesa, que é um pilar da democracia”, afirma.

PRISÃO DOMICILIAR – Outro ponto questionado foi a decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro. Moraes justificou a medida afirmando que o ex-presidente descumpriu cautelares ao aparecer nas redes sociais dos filhos. Maíra Beauchamp Salomi, doutoranda em Direito Penal da USP, contesta a decisão e diz que Moraes não conseguiu provar que Bolsonaro tinha ciência ou determinou a publicação desses vídeos, como sugere em sua decisão ao tratar o material divulgado como “pré-fabricado”.

Na avaliação dela, além de não comprovar a violação, Moraes impôs a prisão domiciliar sem apresentar justificativa. Pelo Código de Processo Penal, explica a criminalista, essa medida só pode ser aplicada em casos específicos — como substituição da prisão preventiva ou definitiva quando o réu é idoso, doente, gestante ou responsável por filhos menores.

“Se Moraes entendeu que houve descumprimento das medidas cautelares, o adequado seria decretar a prisão preventiva. Caberia então à defesa demonstrar que Bolsonaro se enquadra em alguma das hipóteses do artigo 317 do Código de Processo Penal para converter a preventiva em prisão domiciliar”, explica.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O processo todo deveria ser anulado, devido às irregularidades cometidas por Moraes. Mas ainda há quem suponha que a Justiça funciona no Brasil. (C.N.)

O amor aos amigos, na poesia eterna de Machado de Assis

Não se deliberam sentimentos; ama-se ou... Machado de Assis - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico literário, dramaturgo, folhetinista, romancista, contista, cronista e poeta carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Neste poema, Machado de Assis afirma que amou “Os Amigos”, especialmente para dividir a sede da alegria, por mais amarga que ela fosse.

OS AMIGOS
Machado de Assis

Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham;
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria –
por mais amarga.

Acordo para unir PP e União inclui a chapa Tarcísio-Ciro Nogueira

O gesto de Ciro Nogueira para se reaproximar de Tarcísio de Freitas

Com Nogueira de vice, Tarcísio deve sair a presidente

Natália Portinari
do UOL

O acordo para a criação da federação entre PP e União Brasil, oficializada nesta semana, envolve planos para a eleição presidencial. Os dirigentes da federação querem que a União Progressista apoie a candidatura à Presidência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, como vice.

Além da presença de Tarcísio na conferência que formalizou a federação na terça, os defensores desse plano tiveram outra boa notícia quinta-feira: a divulgação de mensagens em que Eduardo Bolsonaro (PL-SP) critica Tarcísio. Em mensagens a Jair Bolsonaro, Eduardo disse que Tarcísio nunca ajudou seu pai no STF (Supremo Tribunal Federal) e não poderia ser a solução para 2026.

MAIOR BANCADA – A expectativa no União e no PP é de atrair Tarcísio para a esfera de influência da federação e enfraquecer o PL —que, inclusive, já perdeu nessa semana o posto de maior bancada de direita na Câmara dos Deputados para os novos federados.

Tarcísio ainda não está fechado com esse plano, mas sabe de sua existência e está esperando o momento correto para fazer qualquer movimentação. A possível indicação de Ciro a vice é uma contrapartida ao fato de Antonio Rueda, presidente do União Brasil, liderar a federação no seu primeiro ano.

O plano, a princípio, era que Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara dos Deputados, presidisse a federação. Essa ideia acabou sendo descartada, porém, para manter o protagonismo de Ciro Nogueira e Rueda.

CPMI DO INSS – Na noite de terça-feira, a federação foi selada com uma articulação para vencer o governo e colocar a oposição à frente da CPI do INSS.

Após o jantar comemorativo, Ciro Nogueira passou a madrugada fazendo ligações e disparando mensagens para articular a derrota do governo federal na manhã seguinte.

Rueda e Ciro querem projetar a federação como o grande partido de direita das eleições de 2026, e, para isso, precisam demonstrar força no Congresso. O papel de Alfredo Gaspar (União-AL) como relator da CPI faz parte desse jogo.

ENTREGAR OS CARGOS – O impasse, agora, está nos cargos ocupados pelo União Brasil no governo federal, já que os dois partidos têm juntos quatro ministérios e dezenas de cargos nos órgãos federais nos estados.

Embora o discurso de Rueda e de Ciro seja de que é possível entregar esses cargos, o empecilho é Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado.

Dois desses ministérios são ocupados por indicados dele: Integração e Desenvolvimento Regional e Comunicações.

Piada do Ano! Escritório do processo da Magnitsky patrocina palestra de Moraes

Moraes ganhou cachê do escritório que Dino quis ameaçar

Andre Shalders
Metrópoles

O escritório Warde Advogados, do jurista Walfrido Warde, patrocinou na tarde desta sexta-feira (22) um evento que inclui uma palestra do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A fala de Moraes foi na tarde desta sexta (22/8) na 24ª edição do Fórum Empresarial LIDE, no Rio de Janeiro.

Walfrido Warde representa o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) num processo que corre no STF sobre o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Foi nesse processo que o ministro Flávio Dino deu um despacho nesta segunda-feira (18) reafirmando que decisões judiciais e leis estrangeiras não têm validade automática no Brasil.

RESPOSTA A SANÇÕES – O despacho de Dino foi visto como uma resposta à sanção contra Alexandre de Moraes pelo governo dos EUA por meio da Lei Magnitsky, embora não tenha relação direta com o caso de Moraes,

O despacho de Dino não menciona o colega dele no STF ou a Lei Magnitsky, mas foi exarado num momento de elevação das tensões entre os Estados Unidos e o Brasil.

No site do evento do LIDE, cada palestra aparece associada a patrocinadores ligados ao tema das falas. Moraes proferiu a conferência de encerramento do evento, com o tema “O Brasil de hoje e o Brasil do amanhã”. Ao lado da palestra está o logo do Warde Advogados. Outro ministro do STF, André Mendonça, fez a conferência de abertura na manhã desta sexta. O painel apareceu vinculado ao Pinheiro & Mendes Advogados.

INSTRUMENTOS – Na sua fala, sobre “Impunidade, omissão e covardia nunca deram certo”, Alexandre de Moraes defendeu a aplicação dos “instrumentos que a Constituição prevê” para garantir a normalidade democrática.

“O Brasil, que infelizmente tem um histórico de golpes de estado e de regimes de exceção (…), nós temos (na Nova República) 37 anos de Estado Democrático de Direito. E de estabilidade institucional. Que, repito, não significa tranquilidade, céu de brigadeiro. Mas significa que temos mecanismos importantes para garantir essa normalidade”, disse.

“E nesses momentos, onde há intranquilidade, onde há a necessidade de aplicação dos instrumentos que a Constituição prevê para a garantia da estabilidade democrática (…), a história nos ensina: impunidade, omissão e covardia podem, num primeiro momento, parecerem o caminho mais rápido, para acabar com os problemas. Mas é um caminho falso. Impunidade, omissão e covardia nunca deram certo”, disse Moraes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O Lide é uma empresa de eventos criada pelo ex-governador de São Paulo, João Doria Jr. O ministro Moraes poderia ser patrocinado por qualquer patrocinador. O fato de a conta ter saído para o escritório Warde foi uma ironia do destino, porque não se poderia prever que Flávio Dino fizesse uma lambança jurídica dessa envergadura, para distribuir pitacos no processo dos outros. Comprem pipocas, porque esse lance da Magnitsky vai render muito. (C.N.)

Divulgação de “provas” quer inflamar o público às vésperas do julgamento

JH: Investigação aponta que Silas Malafaia atuava em linha com o  ex-presidente Jair Bolsonaro

Carolina Brígido
Estadão

Mais do que o conteúdo das mensagens de Jair Bolsonaro, vale atentar para o momento que elas foram divulgadas. A menos de duas semanas do início do julgamento do ex-presidente e outros sete réus da trama golpista, o Supremo Tribunal Federal (STF) revelou nesta quarta-feira, 20, diálogos do capitão com interlocutores próximos – entre eles, o filho Eduardo, que atua nos EUA para tentar salvar o pai.

As mensagens instruem outra investigação em andamento no STF, sobre as artimanhas de Bolsonaro para se esquivar de eventual punição por ter planejado um golpe de Estado. O ministro Alexandre de Moraes decretou neste inquérito medidas cautelares ao ex-presidente e, diante do descumprimento, a prisão domiciliar.

EXISTÊNCIA DA TRAMA – Ou seja, Moraes diz que já tem convicção da existência da trama para livrar Bolsonaro da Justiça. Com o apoio de áudios e transcrições, acha que os fatos se tornam irrefutáveis. Assim, diante da força das provas, o ministro preferiu divulgar as mensagens ao público.

Os celulares usados por Bolsonaro foram apreendidos em 18 de julho e em 4 de agosto – respectivamente, quando foram impostas as medidas cautelares e quando a prisão foi decretada. Ou seja: a primeira leva do material estava com a Polícia Federal há mais de um mês.

A decisão de divulgar as provas agora não parece aleatória. A pouco tempo do julgamento final de Bolsonaro, áudios, transcrições de mensagens e vídeos comovem a opinião pública.

CONDENAÇÃO – Portanto, a condenação do ex-presidente pelo STF é inevitável. Agora, o relator da ação penal lembra os brasileiros dos crimes que Bolsonaro cometeu e prepara o terreno para o julgamento, agendado para iniciar dia 2 de setembro.

Moraes também ressalta, com a divulgação no material, que o réu é o ex-presidente, e não o ministro – que acabou punido pelos EUA, por influência de Eduardo.

Diálogos e suspeitas financeiras agravam a situação de Bolsonaro no STF

Charge do Cláudio de Oliveira (Folha)

Pedro do Coutto

Nesta semana, veio à tona diálogos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e o pastor Silas Malafaia, o que agravou de forma significativa a situação do ex-mandatário no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

As conversas, obtidas pela Polícia Federal a partir do acesso a arquivos armazenados em nuvem, revelam uma rede de articulações que vai desde o campo político até movimentações financeiras de alto valor. Diante da repercussão, Moraes determinou que Bolsonaro apresentasse explicações em prazo curto, uma medida que reforça a pressão jurídica e política sobre ele.

DEPÓSITO – Entre os pontos mais delicados está a descoberta de um depósito de cerca de R$ 30 milhões na conta de Bolsonaro, realizados em parcelas cuja origem ainda não foi esclarecida. A Polícia Federal vê nessa operação um indício de movimentação financeira atípica, potencialmente ligada a lavagem de dinheiro. A defesa do ex-presidente terá de explicar não apenas o destino da quantia, mas principalmente a fonte dos recursos, o que coloca Bolsonaro em posição defensiva.

Ao mesmo tempo, veio à tona um rascunho de pedido de asilo político na Argentina, endereçado ao presidente Javier Milei, elaborado em 2024, o que demonstra que Bolsonaro cogitou seriamente deixar o país diante do avanço das investigações. Embora o documento não tenha sido formalizado, sua simples existência adiciona um componente de fragilidade à narrativa de que se vê perseguido politicamente, pois indica que o ex-presidente vislumbrava a fuga como saída.

Outro ponto que chamou atenção foi a inclusão do pastor Silas Malafaia no inquérito conduzido por Alexandre de Moraes. Malafaia teria participado de movimentos para pressionar a Justiça brasileira e influenciar a opinião pública em favor de Bolsonaro, inclusive articulando campanhas internacionais contra ministros do Supremo.

MOBILIZAÇÃO – Além disso, diálogos revelam que Eduardo Bolsonaro, deputado federal que reside nos Estados Unidos, tentou mobilizar autoridades norte-americanas para adotar medidas contra integrantes da cúpula do Judiciário brasileiro, como a suspensão de vistos e o bloqueio de bens. Essa tentativa de internacionalizar o conflito e obter apoio externo para desgastar o Supremo vem sendo interpretada como obstrução de justiça e ameaça à soberania nacional.

O impacto dessas revelações não se restringe ao campo jurídico. Elas acentuam a crise interna no núcleo bolsonarista, expondo divergências e fragilidades na própria família. Combinadas, essas circunstâncias tornam mais difícil a tarefa do ex-presidente de oferecer uma explicação clara e convincente para a sociedade. Bolsonaro se vê, assim, diante de um dilema: ou se pronuncia de forma transparente, assumindo riscos jurídicos ainda maiores, ou opta pelo silêncio, que pode lhe custar ainda mais caro na opinião pública.

De um modo ou de outro, a pressão cresce, e os fatos parecem se consolidar contra ele, num cenário em que a cada revelação as saídas políticas e legais se estreitam.

Dino, o agente provocador, pode causar radicalização da Magnitsky à brasileira

Prometeu o céu, entregou o inferno: os dados que desmentem a promessa de Flávio  Dino - Crítica Cotidiana

Charge sem assinatura (Arquivo Gppgle)

Carlos Andreazza
Estadão

Um dos grandes problemas do Brasil é o excesso de valentes – de candidatos a heróis. De corajosos que não pisam nas ruas e não experimentam a materialidade-decorrência de suas bravuras. Os tomadores de riscos com o pescoço alheio – temos deles aos montes e com muito poder. Nós os bancamos.

Nada aprendemos com a história, inclusive a recente, a da Lava Jato, ou talvez admitamos utilitariamente que corrupções nos processos – que arreganhos autoritários – sejam usados contra os nossos adversários, por motivo nobre; sendo sempre bom lembrar que os precedentes ficam.

NOBREZA DEMAIS – Os motivos serão sempre nobres. O gênio xandônico não voltará à lâmpada, mesmo quando já não houver Xandão. Não nos faltam salvadores da pátria, os que pretendem nos proteger de nós mesmos, autorizados, sempre em nome de causa virtuosa, a enfrentar situações excepcionais com atos de exceção.

Entre esses barrosos, destaca-se Flávio Dino, senador togado, o ministro da Corte Constitucional com maior vocação para concorrer com Alexandre de Moraes à condição de mestre-criador do Direito, ao posto de instrumentalizador-geral da lei.

Veja-se o caso da reação do Supremo – a reação irresponsável de Dino é do Supremo – à Lei Magnitsky. Há uma ADPF específica a respeito, sob relatoria de Cristiano Zanin. Foi ignorada-atropelada. Impossível crer que sem combinação-articulação entre ministros. Tem método.

ESCOLA DE SAMBA – Ainda que, em momentos de pressão, o STF vire uma escola de samba, com seus integrantes plantando anonimamente na imprensa que alas do tribunal estariam incomodadas com decisões de fulano ou sicrano, Dino – jamais sozinho – escolheu manipular a natureza de uma ação sobre a tragédia de Mariana para mandar recados políticos e, na prática, produzir insegurança jurídica e amedrontar certamente não o governo americano.

De novo: não sem aval dos donos da corte, Dino disparou recados ao sistema financeiro nacional, produziu insegurança jurídica interna e amedrontou – acirrando a nossa já intensa imprevisibilidade – os brasileiros. Parabéns.

Para o objetivo de brecar os efeitos da Magnitsky no Brasil, a decisão do ministro é inócua. Eficaz somente para lançar as instituições financeiras brasileiras numa encruzilhada que, afinal, tende a evidenciar a fraqueza do STF, limitação também sobre a compreensão do tamanho do problema. Porque a questão crucial permanece: sobre se haveria alternativa a um banco, se se quiser inserido no sistema financeiro global, senão se submeter às consequências da Magnitsky no Brasil.

DÚVIDA FATAL – Esse é o impasse, enfraquecedor do Supremo, que o despacho de Dino arma – e que se pode resumir na forma de pergunta: tendo de escolher, uma instituição brasileira preferirá violar a soberania nacional, contrariar o STF e se defender no Brasil, talvez mesmo contratando banca que conte com parentes de ministros do tribunal, ou enfrentar as sanções econômicas baixadas nos (e a partir dos) EUA? Como responderia a essa inquirição um banco com linhas de crédito sob financiamento internacional?

Essa indagação serve para empresas brasileiras no geral, cujos sistemas – os provedores de infraestrutura, por exemplo – são americanos. Contratos que seriam encerrados – nos EUA – sob ordens da OFAC, a agência do Departamento do Tesouro americano que cuida de sanções econômicas e comerciais.

Sobre isso, também e bizarramente no Supremo, parece haver desconhecimento; sendo assustador que decisões voluntariosas sejam tomadas sob ignorância.

CONTRA OS BANQUEIROS – A decisão de Dino esclarece o óbvio, pela honra (uhu!) da soberania nacional: que determinação judicial de tribunal de outro país não vigorará no Brasil sem homologação do STF. Lindo. Lindo e em nada responsivo à Lei Magnitsky, que se desenvolve em outro registro e não sobre território brasileiro. Decisão, portanto, que serviu somente para emparedar – em resumo – os banqueiros. Banqueiros dos bancos em que todos nós, os ferrados, temos contas. Nossos dinheiros estão lá. Parabéns.

Nota pétrea; e não exclusivamente destinada a um ex-governador do Maranhão, Estado que deixou na mesma miséria que encontrara: soberania de brasileiro – no mundo real, aquele em que não vivem os ministros do STF – é comida em casa, segurança na rua e condições para trabalhar. No caso de um empresário, previsibilidade para manter funcional o seu negócio.

Esclareça-se: toda empresa que assina contrato com prestadores de serviços americanos – como os de soluções para tecnologia – contrata também o compromisso de obedecer aos efeitos das sanções, sanções aplicadas nos EUA, sob o risco de sanção contra si a partir dos EUA. A Lei Magnitsky pune – nos EUA – com multas bilionárias, para estrangular mesmo, empresas ou instituições financeiras estrangeiras que tenham negócios nos EUA e se relacionem formalmente com sancionados.

AGENTE PROVOCADOR – Donde, repita-se, o caráter inócuo da decisão de Flávio Dino, posto que a Magnitsky não toma providências diretamente no Brasil, mas com consequências no Brasil, se quiserem as empresas brasileiras continuar existindo nos EUA – estando os EUA, economicamente, em todo lugar.

A decisão de Dino tem por eficiência – aí, sim – provocar. Esse é o potencial; e não é bom. Da mesma maneira que ele presta esclarecimentos sobre a defesa da soberania nacional brasileira, seus despachos podem motivar esclarecimentos também de parte do governo americano. Não seria bacana. Porque, hoje, os efeitos da Magnitsky contra Moraes – assim tocam os bancos brasileiros – são meia-boca, sobretudo intimidatórios, e estão limitados a bloquear operações em dólar e o uso de cartões com bandeiras americanas, liberados os trânsitos em real. Sobrevive-se.

Seria o caso de torcer para que o arranjo continuasse acomodado desse jeito, com Trump fingindo não ver Dino e satisfeito em apenas estacionar o uso pervertido da lei, como ameaça, sobre o Brasil – uma espécie de Magnitsky à brasileira. Mas Dino quer a Magnitsky à americana. Mui amigo.

Derrota inicial na CPMI do INSS expõe o desprestígio de Motta e Alcolumbre

Oposição articula paralisação do Congresso para pressionar Motta e  Alcolumbre após prisão de Bolsonaro

Motta e Alcolumbre respondem pelos erros do governo

Dora Kramer
Folha

Mais que um fiasco da base governista, a perda do comando da CPI mista do INSS foi uma derrota pessoal dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) levaram um passa-moleque inédito e surpreendente para comandantes do Congresso eleitos há poucos meses em situação de quase unanimidade.

EROSÃO DO CAPITAL – Uma acelerada erosão de capital de autoridade que pode ser atribuída tanto a um revide pela posição dos dois no episódio do motim de deputados e senadores quanto à percepção de que se dispuseram a prestar serviço ao Palácio do Planalto na indicação de presidente e relator amigáveis.

O fracasso, sabemos, não tem pai nem mãe, mas no caso a filiação é compartilhada pelo presidente Luiz Inácio da Silva (PT) em sua desatenção ao Congresso neste mandato, pela incompetência de seus líderes no Parlamento e pelo excesso de confiança de Motta e Alcolumbre nos respectivos tacos.

Salto alto, cochilo, imprevidência e o que mais se possa listar para explicar o malogro, fato é que a CPMI começa sob a égide da desorganização do governo. Na tentativa de reduzir o dano, o líder Randolfe Rodrigues (PT-AP) falou em “circunstância regimental” e prometeu reação ao longo dos trabalhos.

BASE AOS PEDAÇOES  – O problema, no entanto, não é de natureza circunstancial, dado não ser a primeira vez que o governo dorme no ponto e subestima a oposição. Chega a ser irrelevante, por impossível, prever o rumo da comissão do ponto de vista substantivo. No adjetivo, está claro que será palco de embates políticos ferrenhos em detrimento da investigação rigorosa e atribuição de responsabilidades.

A questão é que a derrota não foi fruto de acidente, mas resultado de um trabalho malfeito de articulação, de improvisações e de suposições equivocadas.

Se a oposição soube jogar com o regimento, aproveitar ausências de governistas para substituí-los por suplentes e entrar a madrugada organizando a tropa, caberia ao governo detectar os movimentos e se antecipar aos acontecimentos.

Noticiário político é refém das baixarias e insultos entre situação e oposição

Bolsonaro e filho indiciados e Malafaia sob cerco: PF mira o coração da 'resistência' - PlatôBR

Supereducados, os três podem dar aulas de boas maneiras

Vicente Limongi Netto

Patético e medonho, se não fosse trágico, o noticiário político ficou refém do oceano de estupidez e xingamento do clã Bolsonaro, com o pitoresco e inefável pastor Malafaia monitorando o palavrório de esgoto. Dando ordens. Dono da destrambelhada família. Troca de diálogos com palavrões. Tudo mesclado com baixarias de adultos com boca suja.

Duro indicar qual dos personagens do script de insultos é o mais sacripanta. A política brasileira indo para a lixeira dos absurdos, pois situação e oposição é tudo a mesma coisa. Detergente é pouco. O cidadão trabalhador está confuso e enojado. Cada vez acreditando menos na isenção e dignidade dos políticos. 

DEU NO ESTADÃO – Nesse clima, na coluna Fórum, antes da divulgação feita pela PF dos patéticos áudios de baixaria e patifaria entre o clã Bolsonaro e Malafaia, o jornal Estadão transcreveu nesta quarta-feira, dia 20, minha opinião sobre a família de Bolsonaro, que, aliás, não é melhor do que a família de Lula da Silva:

O vereador Carlos Bolsonaro chamou governadores de direita de “ratos”. De ratos e ratazanas de todos os tamanhos, a família Bolsonaro conhece bem. É parceira de ratos oriundos de bueiros, de lixeiras, de terrenos baldios, de esgoto. O chefe dos ratos usa tornozeleira. O filho fujão e rato de lixões é cupincha de outro rato graúdo e topetudo, morador da Casa Branca”, escreveu o Estadão.

DURO DE AGUENTAR – Fiasco anunciado, faz tempo, a COP-30. O espetáculo de horrores é marcado para novembro. Mais um vexame internacional para a conta do Brasil. Absurdos diários são revelados em Belém, envolvendo a iniciativa. Preços exorbitantes de hotéis espantam e mostram a ganância desenfreada. Dos 190 países previstos para participar do medonho evento, apenas 47 confirmaram presenças.

Quem fatura alto é a ONG espanhola OEI, que se apresenta como representante de países ibero-americanos e recebeu do governo, adiantados, R$ 98 milhões para “organizar” a COP30, como se o governo não fosse capaz de fazê-lo, e depois vai recebe outro tanto. Por trás do negócio está dona Janja, que se apresentava como “coordenadora da OEI no Brasil, mas parece que não coordena mais nada…

Trump e o “tarifaço”: o preço global de uma política econômica unilateral

Para ser vendido, o Master vai “engolir” R$ 33 bilhões em CDBs podres

Daniel Vorcaro teve de sanear o Marques antes de vender

Mariana Barbosa
do UOL

O BRB concluiu a diligência no Banco Master e excluiu da operação R$ 51,2 bilhões em ativos e passivos considerados problemáticos. Dentro desse número está uma carteira de R$ 33 bilhões em CDBs captados a uma taxa em torno de 120% do CDI junto às plataformas de investimentos.

Não está claro quem vai assumir essa carteira podre de CDBs. Ou ela será absorvida por outra instituição financeira, ou pode acabar caindo no colo do FGC (Fundo Garantidor de Crédito). O FGC é um fundo formado por contribuições obrigatórias correspondentes a um percentual dos depósitos elegíveis à garantia e administrado pelos bancos. Ele garante a integridade do sistema financeiro, honrando depósitos de até R$ 250 mil.

BRB DE 100 BI – O Master que será incorporado ao BRB chega, portanto, com apenas R$ 24 bilhões de ativos e até R$ 22 de passivo. Considerando o tamanho do BRB atual, o novo conglomerado terá praticamente R$ 100 bilhões em ativos.

Quando a compra do Master pelo banco estatal de Brasília foi anunciada ao mercado, no final de março, o BRB estimava adquirir um banco com R$ 50 bilhões em ativos e passivos, deixando de fora R$ 19,8 bilhões considerados problemáticos, como precatórios e participações sobrevalorizadas em empresas sem liquidez.

Mesmo com a limitação do escopo da operação, o BRB mantém a fatia original da operação, de 58% do capital social do Banco Master (sendo 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais). O BRB vai pagar R$ 2 bilhões pelo Master.

GRANDE JOGADA – A operação de compra do Master pelo BRB gerou polêmica pelo perfil agressivo do banqueiro Daniel Vorcaro e suas fortes conexões com o meio político e jurídico em Brasília. O Master cresceu rapidamente nos últimos cinco anos oferecendo crédito consignado para servidores públicos de estados e prefeituras com contratos de exclusividade e juros extorsivos de um lado.

E foi se capitalizando junto a fundos de pensão de estados e municípios, e também com o pequeno investidor de plataformas de investimento como XP. Os investidores eram atraídos por CDBs com retorno de 120% do CDI e um marketing que usava a garantia regulatória do FGC para aumentar a atratividade.

Esse passivo junto ao investidor pessoa física ficou de fora da operação, mas as letras financeiras captadas com institutos de previdência de estados como Rio, Amazonas e Amapá fazem parte da operação com o BRB.

PRECATÓRIOS ETC. – Para cumprir exigências regulatórias, o Master teve que aumentar seu patrimônio com ativos pouco líquidos e de valor superestimado, como precatórios e participações em empresas.

Em fato relevante divulgado ao mercado, o BRB diz que já foram cumpridas quatro das cinco etapas necessárias para a aprovação da operação — faltando agora apenas as aprovações regulatórias do Banco Central.

A Comissão de Valores Mobiliários abriu investigação a respeito, o que obrigou o Master a concluir sua organização societária com a saída do sócio Augusto Lima e a exclusão do Banco Voiter — que passa a ser controlado por Lima e foi rebatizado de Banco Pleno. O Master também realizou um aumento de capital de R$ 2 bilhões — uma exigência do BC para poder analisar a operação. Com as modificações, a operação pôde receber aval do Cade.

Com banheiro, mesa de trabalho e TV, cela aguarda Bolsonaro há 3 meses

PF prepara cela para eventual prisão de Bolsonaro em Brasília

A cela tem banheiro, mesa de trabalho e aparelho de TV

Débora Bergamasco e Elijonas Maia
da CNN

A PF (Polícia Federal) já tem pronta uma cela especial temporária para o caso de prisão em regime fechado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que atualmente cumpre recolhimento domiciliar. Trata-se de um espaço no térreo da Superintendência da PF no Distrito Federal, localizada no Setor Policial de Brasília.

A cela é, na verdade, uma sala que foi improvisada e preparada, com banheiro reservado, cama, mesa de trabalho, cadeira e televisão, nos moldes da que abrigou o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Superintendência da PF no Paraná, em Curitiba, em 2018 e 2019.

PRERROGATIVA – Outro ex-presidente preso, Fernando Collor de Mello, também ficou temporariamente preso em uma sala especial como cela em Maceió (AL) – o gabinete do diretor do presídio estadual. Juristas avaliam que ex-presidentes têm essa prerrogativa em eventuais prisões.

A “cela de Bolsonaro”, como vem sendo chamada por policiais no DF, é para custódia individual e pode ser ocupada por outras autoridades, é claro. Integrantes da PF explicam que ela foi montada há mais de três meses e que não tinha foco específico em Bolsonaro, mas poderia ser usada para qualquer autoridade presa.

Sob reserva, delegados explicaram que avaliam possibilidades, caso o STF (Supremo Tribunal Federal) determine a medida extrema de prisão fechada.

POSSIBILIDADES – Com isso, haveria alternativas de prisão militar, já que Bolsonaro é do Exército; em batalhão da Polícia Militar do DF, como foi no caso do ex-ministro Anderson Torres; ou a própria Superintendência da PF.

Se essa terceira possibilidade for concretizada, a cela especial está pronta para cumprimento do mandado.

A sala foi montada e reestruturada após a cúpula da PF e a Vara de Execuções Penais do DF consultarem a Superintendência para checar se haveria um lugar específico para custodiar o ex-presidente – e esta foi a cela destacada para ele. Na sede da PF não há espaço para acomodação.

NOVO INDICIAMENTO – A possibilidade aumenta porque Bolsonaro foi indiciado em mais um inquérito nesta quarta-feira (20) pela PF por coação no curso de processo e Abolição do Estado Democrático de Direito.

A PF entende que ele e seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) atuaram juntos para que os Estados Unidos sancionaram o Brasil e a Justiça brasileira para interromper o processo e julgamento de plano de golpe de Estado, onde Bolsonaro é réu.

O feitiço das palavras na poesia de Manoel de Barros

O Fim: Manoel de Barros: "Prezo insetos mais que aviões."Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, fazendeiro e poeta mato-grossense Manoel Wenceslau Leite de Barros, no poema “Deus Disse”, menciona os seus desejos depois que recebeu um dom Divino.

DEUS DISSE
Manoel de Barros

Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.

CPMI do INSS: oposição assume protagonismo e amplia desgaste do governo

Atingido na Lei de Magnitsky, Moraes não poderá mais usar  cartão de crédito

Clube de Benefícios da Bandeira de Cartão Elo com a Tecnologia da Loyalme - loyalme

Cartão Elo é brasileiro, mas tem acordos internacionais

Júlia Moura
Folha

Caso seja atingido por mais sanções da Lei Magnitsky, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que já teve um cartão de crédito de bandeira americana bloqueado, pode ficar com apenas uma alternativa de cartão: a bandeira Elo. Única bandeira brasileira de cartões, a Elo é fruto de uma parceria entre Banco do Brasil, Bradesco e Caixa que nasceu em 2011. Um cartão da marca chegou a ser oferecido a Moraes pelo banco que bloqueou suas bandeiras americanas,

Segundo dados de 2024, são 41 milhões de cartões Elo ativos aceitos em 11 milhões de estabelecimentos e emitidos por 37 instituições, como Alelo, BV, Palmeiras Pay, Pernambucanas, Banco Pan, Ifood, além dos controladores.

FORA DE ALCANCE – Com um cartão da Elo de uso nacional, o ministro estaria imune às sanções da lei americana, que impede que empresas americanas atendam os punidos pela Magnitsky.

“Se a operação é toda nacional, sem nenhum elemento de conexão internacional, inclusive com a jurisdição dos EUA, em teoria, não deveria haver restrição, sujeitando-se às regras locais”, diz Fabio Braga, sócio da área de direito bancário e financeiro do Demarest. No entanto, se o cartão em questão for emitido por uma instituição com atuação nos Estados Unidos, pode haver punição ao banco emissor.

“Estamos navegando por um mar desconhecido. Não sabemos até onde as sanções podem ir e a situação pode escalar. Mas, como a Elo é brasileira, está menos exposta, o que não significa isenta”, afirma Ricardo Botelho, sócio do escritório Marchini, Botelho, Caselta e Della Valle Advogados.

HAVIA OUTRAS – A Elo não era a única bandeira brasileira até pouco tempo atrás. O país também contava com a Hipercard, voltada a redes de supermercados. Depois de passar por Walmart Brasil, Carrefour Brasil e Itaú Unibanco, a marca foi adquirida em 2020 pela americana Mastercard, que retirou todos os cartões do mercado em julho de 2025.

A Hipercard surgiu em 1969, com o lançamento do cartão fidelidade do Grupo Bompreço, em Recife. Após se popularizar no Nordeste, a bandeira passou para o Walmart junto com a rede Bompreço, em 2004. Na transação, o Unibanco assumiu todas as operações de emissão, adquirência e bandeira do Hipercard.

Para operar no exterior, a Elo tem linhas de cartões internacionais em parceria com a americana Diners Club. Procurada, a Elo disse que não iria se pronunciar.

100% BRASILEIRA – Em seu site, a bandeira se define como “uma empresa 100% brasileira, ágil e flexível para atender às necessidades de quem usa nossos produtos. Fazemos isso por meio de uma rede ampla de portadores de cartão, estabelecimentos comerciais, credenciadores e emissores”.

A Elo oferece cartões de débito, crédito, pré-pagos e especializados, soluções customizadas para empresas, plataformas de tokenização e prevenção a fraudes, pagamentos por QR Code e NFC e consultoria de negócios para seus clientes.

Em 2023, a marca se reposicionou como “O cartão do brasileiro”. Neste ano, iniciou uma campanha chamada “Brasileiros Extraordinários”, estrelada pela estilista Sasha Meneghel, pela chef e apresentadora Bela Gil e pelo maestro João Carlos Martins.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A própria matéria desmente sua principal informação. O cartão Elo só poderia servir a Moraes se não tivesse acordo para operar no exterior. Na verdade, o ministro não tem mais cartão de crédito, o que não é problema. É um homem rico e pode funcionar pagando tudo no débito ou em cheque, numa conta de banco brasileiro que só opere no país. Chato é abandonar a Disneylândia e o circuito Elizabeth Arden (Nova Iorque, Paris, Roma, Londres etc. (C.N.)

Para driblar STF, os bancos estudam cancelar contas de alvos da Magnitsky

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes durante sessão no tribunal no último dia 5 de agosto

Moraes vai vendo o cerco se fechando sobre o Supremo

Malu Gaspar
O Globo

Apreensivos com a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino que submete todo bloqueio de ativo ou conta de brasileiros a autorização prévia pela Corte, grandes bancos com atuação no Brasil já avaliam o cancelamento unilateral das contas de Alexandre de Moraes e outros potenciais alvos da Lei Magnitsky para driblar os efeitos da medida.

A hipótese consta de um parecer interno do BTG Pactual que circulou na Faria Lima nesta terça-feira e vem sendo considerado em função do impasse que a ordem de Dino provocou no setor em torno da aplicação das sanções impostas pelo Estados Unidos a Moraes, no mês passado.

ANTECIPAÇÃO – Nesse cenário, que tem potencial para tensionar ainda mais o clima já péssimo entre o Supremo e instituições financeiras, os bancos se antecipariam ao mesmo a um agravamento das sanções e a uma eventual decisão do Tribunal que os forçasse a violar as sanções americanas. Assim, escapariam às punições causadas pela lei.

Como publicamos no blog na última terça, a decisão do STF levantou entre banqueiros o temor de que seu cumprimento pelos bancos brasileiros provoque efeitos catastróficos para as instituições, como multas bilionárias impostas pelos EUA.

Isso porque as chamadas sanções Ofac (sigla para Office of Foreign Assets Control, o Escritório de Controle de Ativos Externos do Departamento do Tesouro americano), como as da Magnitsky, são implementadas automaticamente pelos bancos em nível global – incluindo desde contas bancárias até contratos ou linhas de crédito.

RECADO FORTE – Ministros do STF pediram a Alexandre de Moraes para maneirar decisões. Assim, se já havia indefinição sobre o alcance das restrições americanas sobre o ministro do STF antes da ordem de Dino, as dúvidas se multiplicaram desde a divulgação da medida, que prevê “deliberação expressa do STF, em sede de Reclamação Constitucional, ofertada por algum prejudicado, ou outra ação judicial cabível” no caso de ordens estrangeiras sobre ativos brasileiros.

Na prática, essa previsão abre caminho para liminares proibindo bancos de acatarem restrições a alvos da Magnitsky.

A reação do governo Donald Trump à decisão do Supremo nas redes sociais através de uma publicação replicada pela Embaixada dos EUA no Brasil, que classifica Moraes como “tóxico” e ameaça explicitamente instituições estrangeiras que atuam no mercado americano e venha a manter transações com o ministro, ampliou o pânico na Faria Lima.

SAÍDA ALTERNATIVA – O cancelamento sumário das contas de alvos da Magnitsky pelos bancos passou então a ser cogitado como saída preventiva. A análise do BTG, por exemplo, é clara.

“Encerrar ou segregar conta por política interna é lícito; fazê-lo porque mandaram de fora não é. De outro lado, é preciso mitigar o risco de sanções secundárias nos EUA, o que justifica encerrar ou segregar contas quando, pelas políticas internas, houver risco concreto de enquadramento como “facilitador”, destaca o informe.

“Nesse contexto, o encerramento preventivo, antes de notificações formais, reduz, de forma significativa e simultânea, o risco de questionamento no Brasil e de sanções nos EUA.” Essa medida reduziria, mas não eliminaria o risco Alexandre de Moraes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Segundo o deputado Eduardo Bolsonaro, mesmo se quisessem, os bancos não poderiam driblar os bloqueios, uma vez que o sistema financeiro internacional é interligado e as punições às instituições que não cumprem as sanções são muito graves. Descumpri-las não seria uma opção, pois isso representaria um baque insustentável nos negócios, diz Malu Gaspar. (C.N.)