Bolsonaro e os outros se tornam réus, mas Fux vai rever pena no caso Débora

Fux indica que vai rever pena defendida por Alexandre de Moraes para  pichadora de estátua

Fux quer consertar os erros, mas pode ser tarde demais

Deu na Folha

Na sessão que acolheu a denúncia da Procuradoria-Geral da República e tornou réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete indiciados, o ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta quarta-feira (26) estar preocupado com a questão da dosimetria das penas impostas pela corte aos réus no caso dos ataques do 8 de janeiro de 2023 às sedes dos três Poderes, ou seja, quanto tempo cada acusado pode enfrentar caso seja condenado.

“Eu tenho que fazer uma revisão dessa dosimetria, porque se a dosimetria é inaugurada pelo legislador, a fixação da pena é do magistrado”, disse em relação à iniciativa de suspender, por intermédio de um pedido de vista (mais tempo para estudar o caso), o julgamento da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou “perdeu, mané” na estátua “A Justiça”.

CAPACIDADE DE REFLETIR – “Debaixo da toga bate o coração de um homem, então é preciso que nós também tenhamos essa capacidade de refletir.”

Após essa intervenção, Fux acompanhou o entendimento do ministro Alexandre de Moraes (relator) na análise da denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) sobre a trama golpista e votou para tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados.

Na segunda-feira (24), na véspera da análise do recebimento da acusação, dois casos envolvendo bolsonaristas foram suspensos. Além de Fux, Kassio Nunes Marques pediu vista —mais tempo para análise — do julgamento da ação penal contra a deputada Carla Zambelli (PL-SP).

90 DIAS – Depois de pedidos de vista, os ministros têm até 90 dias para devolver o caso para ser novamente incluído em pauta.

Segundo assessores próximos a Fux, a medida dele foi uma forma de tentar baixar a tensão em torno da corte, que vem sofrendo críticas pelo caso de Débora.

Na sessão desta manhã, Fux mencionou o tema e relacionou com a denúncia em análise. “É verdade que as penas são tratadas na lei, e pela iminência dos termos jurídicos protegidos — democracia, Estado democrático —, tudo isso leva o legislador a ter uma grande preocupação para que não tenhamos a mesma indiferença em relação ao nosso período passado”, afirmou o ministro no início do voto.

“E o ministro Alexandre, em seu trabalho, explicitou a conduta de cada uma das pessoas. E eu confesso que em determinadas ocasiões eu me deparo com uma pena exacerbada. E foi por essa razão, dando satisfação à vossa excelência, que eu pedi vista desse caso. Eu quero analisar o contexto em que essa senhora se encontrava”, disse.

PENA DE 14 ANOS – Débora Santos está sendo julgada por abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa armada, e Moraes estipulou uma pena de 14 anos de prisão.

Após a fala de Fux, o relator rebateu os argumentos do colega. “Houve toda uma manifestação anterior de aderir a uma tentativa de golpe de Estado”, disse Moraes, pedindo para o colega se ater ao factual. O relator do caso disse ainda que a dose das penas pode ser debatida e que o ministro Cristiano Zanin normalmente diverge dele, mas não dos fatos.

Sobre o caso da mulher que pichou ‘perdeu, mané’, quando Fux pediu vista —mais tempo para analisar o processo—, o placar era pela condenação de Débora a 14 anos de prisão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGFux tem razão, mas está agindo tarde demais. Moraes já fez a lambança e agora é Bolsonaro que está no banco dos réus, junto com os cúmplices, e o país está mais dividido dos que as correntes da Psicanálise. (C.N.)

Em poucas palavras uma lembrança de amor que marcou a poeta Lya Luft

A maturidade me permite olhar com menos... Lya Luft - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, escritora, tradutora e poeta gaúcha Lya Fett Luft , no poema “Lembro-me de Ti”, nos fala de alguém que a amou em um momento especial.

LEMBRO-ME DE TI
Lya Luft

Lembro-me de ti
Nesse instante absoluto,
A vida conduzida por um fio de música.
Intenso e delicado, ele vai nos fechando num casulo
Onde tudo será permitido.

Se é só isso que podemos ter,
Que seja forte. Que seja único.
Tão íntimo quanto ouvirmos a mesma melodia,
Tendo o mesmo – esplêndido – pensamento.

Bolsonaro será condenado e preso. E depois, o que acontecerá ao país?

Bolsonaro provoca mais para posar de vítima. Por Fernando Brito

Charge do Duke (O Tempo)

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Uma previsão segura: a denúncia da Procuradoria contra Bolsonaro será aceita e ele se tornará réu. Outra previsão: ele será condenado. Esse ponto, aliás, une apoiadores e detratores. Para estes, a condenação se dará pelas provas de que arquitetou e colocou em andamento um plano de golpe de Estado. Para aqueles, ela será fruto da perseguição política do Supremo. Em ambos os casos, o mesmo desfecho.

 O caminho jurídico se fecha para Bolsonaro e é altamente improvável que qualquer argumento da defesa mude isso. Sendo assim, e dado que ele quer continuar livre e liderando a direita nacional, ele terá que encontrar uma saída não jurídica —ou seja, política. E é isso mesmo que tem feito.

NOVA ANISTIA – O caminho político tem duas possibilidades: interna ou externa. A política interna envolve aprovar o projeto de anistia de tal modo que possa incluir Bolsonaro. Muitos deputados são simpáticos à anistia, por considerar que as penas aos invasores dos três Poderes estão excessivas.

O presidente do Senado, contudo, já declarou que não levará o projeto adiante. E, mesmo que haja uma reviravolta no Congresso e ele seja aprovado, o Supremo poderia perfeitamente declará-lo inconstitucional ou ainda impedir sua aplicação ao caso específico de Bolsonaro ou outros mandantes.

Resta o caminho externo: conseguir algum tipo de intervenção americana, como sanções aplicadas segundo a Lei Magnitsky — criada para punir com sanções membros de regimes ditatoriais.

BRIGA FEIA – Será que o governo Trump está disposto a comprar essa briga para salvar Bolsonaro? Ninguém sabe, mas não é impossível. Não está claro, contudo, que ela teria muitos efeitos sobre Moraes, que não tem ativos nos EUA. Mesmo que tivesse, será que isso mudaria sua conduta e a de outros ministros?

Pela experiência que temos dos últimos anos, a resposta é não. Toda vez que se viu pressionado —por Bolsonaro enquanto era presidente, por Musk no ano passado— o Supremo não moveu um milímetro. Com a pressão do governo Trump, veremos novamente o Supremo dobrando a aposta, no que provavelmente teria o apoio de muitos outros países. Ou seja, Bolsonaro seria igualmente condenado e preso.

Com ações americanas contra o Brasil, um possível efeito seria a opinião pública brasileira se voltar contra o grupo político de Bolsonaro, aliado de uma potência estrangeira interventora, o que reduziria suas chances em 2026.

PEDIR ASILO – Por fim, resta a fuga. Sem passaporte, é difícil ele ir muito longe. No passado, ele já sugeriu que poderia buscar refúgio em uma embaixada, então temos que considerar essa hipótese.

 Seria inédito o governo americano (ou húngaro) se prestar a um circo desses, mas quem poderá garantir que, sob Trump, isso não aconteceria? O resultado seria um impasse diplomático. Bolsonaro viveria preso na embaixada.

Eduardo pode continuar com seus planos mirabolantes nos EUA para salvar o pai, mas o mais provável é que tudo seja em vão. É muito difícil ver um cenário em que ele escape da condenação e prisão. Talvez sua melhor chance esteja em eleger um aliado à Presidência em 2026, que lhe conceda a graça presidencial no primeiro ano de mandato. Se for isso mesmo, a aproximação excessiva com o governo Trump pode ser um erro.

STF analisa denúncia contra Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe

Denúncia foi apresentada pela PGR contra Bolsonaro e mais sete

Pedro do Coutto

O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a analisar a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras sete pessoas. Eles foram denunciados por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Não tenho dúvida de que a denúncia formulada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, será aceita, pois alcançou um nível de importância histórica, pois, como lembra a jornalista Miriam Leitão, O Globo de ontem, levar militares de alta patente ao julgamento civil constitui um fato marcante ao longo de toda a República.

ARGUMENTOS – As defesas de Alexandre Ramagem e do almirante Garnier, que estão entre os acusados, baseiam os seus argumentos tentando fazer crer que eles não há fundamento jurídico ou legal, o que foi rebatido pelos fatos ao longo do processo e que se choca com a realidade, uma vez que há provas acumuladas e que conduzem ao pensamento e à lógica da questão.

Inclusive, os acampamentos nas portas do quartéis e dos comandos militares revelam exatamente o oposto ao alegado pelas defesas, bem como as reuniões realizadas quando foi discutida a elaboração de documento contestando o resultado das urnas e a vitória de Lula, o que significaria uma ruptura violenta da lei e da ordem da democracia.

Segundo a PGR, o grupo fazia parte do “núcleo crucial” de um plano para manter Bolsonaro no poder. Entre as ações investigadas, estariam a tentativa de invalidar o resultado das eleições de 2022 e um plano de assassinato de autoridades, como o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.

PROCESSO – A PGR aponta que os acusados cometeram cinco crimes contra a democracia. Se condenados, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão. Com a provável aceitação da denúncia pelo STF, os acusados se tornarão réus e responderão a um processo criminal, que pode levar a condenações.

A denúncia contra os oito acusados será aceita, repito, pelo STF, uma vez que o processo inicial se baseia em ameaças inclusive contra a vida de Alexandre de Moraes, relator na Corte Suprema. Provavelmente, hoje, estaremos de posse da decisão e da abertura da segunda etapa do processo, que é o julgamento pelo fato registrado e não apenas pela aceitação da denúncia.

Maior discordância é de Fux, sobre as nove versões da delação de Cid

Um homem com cabelo grisalho e liso, vestido com uma toga preta e uma camisa branca, está sentado em uma cadeira vermelha. Ele parece pensativo, com a mão na boca, em um ambiente de tribunal. Ao lado dele, há um microfone e uma garrafa de água.

Fux vai mostrar que é o maior processualista brasileiro

Cézar Feitoza e Ana Pompeu
Folha

A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) começou nesta terça-feira (25) o julgamento da denúncia da trama golpista atribuída ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com a manifestação das defesas, da PGR (Procuradoria-Geral da República) e a discussão de questões processuais.

Os ministros negaram cinco preliminares levantadas pelos advogados dos acusados, como a nulidade da colaboração premiada de Mauro Cid e o envio do caso para o plenário do Supremo — o ministro Luiz Fux ficou vencido nesse ponto. Sobre a delação de Cid, os magistrados concordaram que a validade da colaboração poderá ser discutida após um eventual recebimento da denúncia.

SERÃO RÉUS? – O julgamento é retomado nesta quarta-feira (26) com o voto de Alexandre de Moraes sobre o mérito da denúncia, quando a corte decidirá se Bolsonaro e outros sete investigados serão tornados réus.

Acusado de liderar a trama golpista, Bolsonaro foi o único dos oito denunciados por integrar o núcleo central da organização criminosa a acompanhar o julgamento no Supremo. A ida do ex-presidente foi estimulada por aliados e autorizada pelos advogados —mas não foi avisada à segurança do STF.

Dois pontos geraram controvérsia entre ministros da Primeira Turma. O principal se refere à validade da colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid —o fio condutor da denúncia da PGR.

DELAÇÃO INEPTA – As defesas de Bolsonaro e do ex-ministro Walter Braga Netto defenderam a nulidade da delação diante das contradições do ex-ajudante de ordens da Presidência.

Celso Vilardi, advogado de Bolsonaro, disse que Cid “rompeu com o acordo quando vazou a delação [como] saiu na revista Veja”. Ele se referia aos áudios em que o militar se queixava do direcionamento de sua delação.

“Diz ele que foi um desabafo. É estranha essa expressão, desabafo, porque, no desabafo, ele diz que não tinha voluntariedade. Isso não é um desabafo. Na versão dele atual, isso teria sido uma mentira”, disse Vilardi.

MENTIR AO DEPOR – O advogado de Braga Netto José Luis Oliveira Lima, diz que há quatro motivos para anular a delação. O principal, na visão dele, é o fato de o tenente-coronel ter mentido nos depoimentos.

“[Cid] Prestou nove depoimentos e não fala do Braga Netto. Quando estava com risco de perder seu acordo, ele fala um detalhe que era simples: um financiamento do plano. Quer dizer que ele faz nove depoimentos e esqueceu de falar logo disso?”, disse o advogado durante sua sustentação oral.

Os ministros negaram por unanimidade a nulidade da delação de Cid. Alexandre de Moraes destacou que ele próprio verificou a voluntariedade e a regularidade do acordo de colaboração premiada quando recebeu o tenente-coronel para uma audiência, em novembro de 2024.

SEM INTERFERIR? – “Em nenhum momento esse Supremo, por meio do ministro-relator, interferiu no conteúdo ou nos termos do acordo de colaboração premiada, tendo exercido somente o que a lei garante a todo juiz”, disse.

A controvérsia sobre a validade do acordo de Mauro Cid foi levantada pelo ministro Luiz Fux. “Este não é o momento próprio, mas vejo com muita reserva nove delações de um mesmo colaborador, cada hora apresentando uma novidade”.

Cármen Lúcia e Cristiano Zanin concordaram que a discussão deve ser feita após o recebimento da denúncia.

FUX DISCORDA – Os ministros da Primeira Turma também negaram o pedido das defesas para declarar o Supremo incompetente para julgar a trama golpista. A decisão se deu por maioria: 4 a 1.

Fux foi o único a discordar da decisão. Quando o Supremo decidiu, em 2023, deixar as ações penais com as turmas, ele já tinha apresentado relutância com essa proposta.

“Pior que o juiz que não sabe Direito é o juiz incoerente. Peço vênia para manter minha posição, até porque não é tão pacífica assim”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Se Fux continuar discordando, e deve fazê-lo, vai desmoralizar as “convicções” de Cid e Moraes, mas isso não influirá no resultado, que já está decidido por antecedência, igual à morte do peru antes do Natal. (C.N.)

Pesquisa confirma: reeleição de Lula está ficando cada vez mais inviável

Recado de Lula para campanha do PT em BH

Problema de Luka não é inflação, é o conjunto da obra…

José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
do UOL

Boa notícia para Lula: popularidade do presidente parou de cair. Má notícia: causa da queda não foi só o preço do ovo que subiu. Nem foi só a inflação. Foi o conjunto da obra do governo.

A boa notícia para o governo é que o saldo negativo de 14 pontos encontrado pelo Ipsos-Ipec em março é virtualmente igual ao saldo negativo de fevereiro. Numa maré de más notícias, parar de afundar é alívio, mesmo que a água tenha chegado ao pescoço.

COMPARAÇÃO – Esse não foi o enfoque das notícias sobre a Ipsos-Ipec de março porque a comparação foi feita com a mais recente pesquisa divulgada pelo instituto, a de dezembro. Na comparação de dezembro com março, a popularidade do governo sai de saldo zero para 14 pontos negativos. Parece uma nova má notícia, mas é velha.

Outras pesquisas comparáveis – divulgadas ou não – já tinham identificado a mesma queda semanas antes. O mesmo saldo negativo de dois dígitos apareceu nas pesquisas feitas em fevereiro. O Datafolha, por exemplo, encontrou 17 pontos negativos no mês passado.

Quando se olha o filme todo e não apenas duas fotografias distantes entre si, a cena fica mais clara. Foi um movimento contínuo, que pode ser separado em três tempos: 1. Entre dezembro e janeiro, a popularidade de Lula caiu 10 pontos; 2. Entre janeiro e fevereiro, a popularidade continuou escorregando, mais devagar; 3. Em março, parou de cair.

PAROU DE CAIR? – Isso significa que parou de cair em definitivo? Não sabemos. Popularidade não é foto, é filme. Um chuchu, um café ou um ovo em disparada inflacionária podem mudar tudo.

A despeito da instabilidade do humor da opinião pública, a pesquisa Ipsos-Ipec é importante para governo, seus aliados e opositores saberem que a hemorragia de popularidade de Lula foi contida por ora. Mas isso nem é a coisa mais relevante que o instituto tem a mostrar.

O Ipsos-Ipec investigou as causas da hemorragia e foi ainda foi mais fundo, ao fazer uma análise estatística que mede quais fatores explicam melhor a perda de popularidade de Lula e companhia. O resultado aparece aqui em primeira mão.

CONJUNTO DA OBRA – A conclusão principal é que nem inflação, nem educação, nem política externa, nem pobreza, nem meio ambiente explicam, sozinhos, a avaliação negativa do governo. É o conjunto.

Todas as nove áreas avaliadas pelo Ipsos-Ipec sofreram piora de avaliação de dezembro para março. Algumas, como Educação e Saúde, perderam menos pontos, outras perderam mais:

Inflação: piorou 14 pontos;  Desemprego: piorou 12 pontos; Política externa: piorou 11 pontos; Combate à fome: piorou 11 pontos; Meio Ambiente: piorou 7 pontos; Controle de gastos: piorou 7 pontos; Segurança Pública: piorou 4 pontos; Saúde: piorou 3 pontos; Educação: piorou 3 pontos.

MAU HUMOR – Como se vê, o mau humor é generalizado e cresceu rapidamente. O saldo negativo da pergunta sobre se o governo está indo melhor ou pior do que os brasileiros esperavam dobrou entre dezembro e março, de -16 para -32 pontos (subtração de quem diz “melhor” por quem diz “pior”).

Logo, se não há causa única, tampouco a solução para o governo, se houver, será mágica. Não basta só o dólar parar de subir, ou só o desmatamento diminuir, ou só celebrar acordos internacionais vantajosos ao Brasil, ou a taxa de desemprego bater novo recordo positivo.

Para o bom humor e o otimismo voltarem a superar o mau humor e o pessimismo, o governo vai ter que fazer (quase) tudo certo e ao mesmo tempo. Não precisa ser necessariamente já, mas não pode passar de daqui a pouco – para ter chances eleitorais em 2026.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quando a maioria dos eleitores acha que o governo erra em todos os setores, só resta a Lula cantar um tango argentino, como dizia Manuel Bandeira. A cada dia que passa, sua reeleição vai se tornando mais inviável. (C.N.)

Na isenção até R$ 5 mil, Lula tomou a decisão certa da forma mais errada

Lula é um craque

Charge do Renato Aroeira (Arquivo Google)

J.R. Guzzo
Estadão

Não passa pela cabeça de ninguém capaz de fazer as quatro operações da aritmética, e que esteja com seus circuitos mentais em funcionamento normal, achar que R$ 5 mil por mês é renda – e, portanto, deva pagar imposto de renda. Renda não é isso. Esses R$ 5 mil, no mundo dos fatos, são o estritamente necessário para o sujeito chegar vivo ao fim do dia; ninguém está ficando rico com um rendimento mensal de R$ 5 mil, não é mesmo?

Parar de cobrar imposto de renda sobre algo que não é renda, salvo para os auditores da Receita Federal e quem manda neles, é a única atitude racional que um governo poderia adotar a respeito.

FEZ A COISA CERTA? – O presidente Lula fez a coisa certa, então, ao enviar para o Congresso o projeto de lei que isenta do IR os ganhos até R$ 5 mil por mês? É claro que fez. O problema é que quer fazer o certo da maneira mais errada que tem à sua disposição.

A isenção proposta por Lula, como se sabe até no curso primário, vai diminuir a arrecadação federal num momento em que o governo vive em viés de bancarrota geral.

A única solução coerente para isso, fora as lendas, é recuperar a quantia que deixará de entrar no Tesouro Nacional com a redução dos gastos do governo. Vai entrar X a menos no caixa? Então temos de gastar X a menos do estamos gastando.

SEGUE A  GASTANÇA – Eis aí a última coisa que passa nas cogitações do governo: cortar os gastos da máquina estatal, a começar pelos mais espetacularmente inúteis.

O governo não percebe que terá de compensar o imposto que deixará de arrecadar com a isenção do IR até os R$ 5 mil mensais.

Seria, de maneira simples, transformar renda do Estado em renda do cidadão – ou seja, deixar no seu bolso o que está sendo tirado para pagar shows da ministra da Cultura, comprar bolas de basquete com dinheiro de estatais, pagar a campanha de candidatos do PT e daí para o infinito.

SEM CHANCE – A religião econômica de Lula e, principalmente, o interesse material das classes que vivem do Erário Público estabelecem que se for inevitável reduzir o imposto de Pedro, então é obrigatório aumentar o imposto de Paulo.

É exatamente o que estão fazendo, outra vez, com o PL do imposto de renda: querem tirar mais dos “ricos” para balançar o que vão tirar a menos dos pobres. A regra é clara, e também é a única que vale: façam como quiserem, mas não mexam na minha parte.

Essa é a tragédia fundamental da ideologia econômica de Lula: acabar com a pobreza acabando com a riqueza. Igualdade só pode vir com crescimento econômico e a qualidade da educação que é negada para os brasileiros. Eles acham que vem com decretos. Mas o Brasil não precisa de revolução social. Basta deixar com o cidadão o dinheiro que vai hoje para os parasitas.

Cabe ao Supremo decidir que tipo de democracia o Brasil quer ser?

Quem são os ministros da Primeira Turma do STF que vão julgar Jair Bolsonaro

STF retoma hoje o julgamento da denúncia contra Bolsonaro

Josias de Souza
do UOL

Transmitidas ao vivo pela TV Justiça, as sessões da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal ganham, a partir desta terça-feira, dimensão histórica. Por um desses caprichos do destino, Bolsonaro e seus cúmplices militares e civis descem à grelha da Suprema Corte sob acusação de tramar a abolição do regime democrático e um golpe de Estado no mês em que a redemocratização faz aniversário de 40 anos. É mais uma evidência de que o Brasil não tem uma história. Tem uma série de começos em falso.

O noticiário sobre o golpe mudou de fase. Até aqui, foram condenados 481 envolvidos no 8 de janeiro. São chamados pelo bolsonarismo de “pobres coitados”.

LÍDERES DO GOLPE  – Agora, inauguram-se os julgamentos que levarão ao banco dos réus os integrantes do alto comando do golpe. Abrem a fila Bolsonaro e sete cúmplices. Integram o que o procurador-geral Paulo Gonet batizou de “grupo crucial” da organização criminosa.

No total, são 34 os denunciados da fina flor da engrenagem antidemocrática. Divididos por Gonet em núcleos, eles são submetidos a duas percepções incômodas. Constatam que a notícia má é que não há notícia boa no orquidário do golpe.

Descobrem que a notícia péssima é que o Supremo deseja concluir os julgamentos ainda em 2025, para evitar a intoxicação da conjuntura de 2026.

PRIMEIRA FASE – Nesta semana, inaugura-se a ação penal contra os oito membros do grupo estrelado por Bolsonaro. Nos dias 8 e 9 de abril, devem ser enviados ao banco dos réus militares do Exército e um policial federal do grupo tático. Em 29 e 30 de abril, será recepcionada a denúncia contra os encrencados do grupo operacional.

Na sequência, em data a ser marcada, escalarão o cadafalso os integrantes do grupo acusado de industrializar desinformação.

Em ritmo de linha de montagem, o Supremo não produzirá apenas sentenças. O que a Corte decide nos próximos meses é que tipo de democracia o Brasil deseja ser. Sem defesa capaz de reverter o futuro veredicto, Bolsonaro guerreia no Congresso para obter a anistia e a redução do prazo de inelegibilidade de oito anos previsto na Lei da Ficha Limpa. Não quer uma boa biografia. Sonha com um novo começo em falso.

Julgamento de Bolsonaro será retomado com o voto do relator Moraes

Moraes lidera "ranking" de decisões no STF

Como relator, Moraes será o primeiro ministro a votar

Pedro Augusto Figueiredo
Estadão

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começou a analisar nesta terça-feira, 25, se aceita ou não a denúncia contra Jair Bolsonaro (PL) e mais sete pessoas, entre políticos próximos do ex-presidente e militares de alta patente, acusados de tentativa de golpe de Estado. O julgamento não foi concluído e será retomado às 9h30 desta quarta-feira, 26. O próximo passo é a leitura do voto do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.

Os ministros sequer entraram no mérito de se há elementos suficientes para abrir um processo criminal contra Bolsonaro e seus aliados. O primeiro dia de julgamento foi dedicado às chamadas questões preliminares, que são de natureza processual.

QUESTIONAMENTOS – A Primeira Turma — que além de Moraes é formada por Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Luiz Fux — rejeitou todos os oitos questionamentos apresentados pelas defesas.

As preliminares trataram da suspeição de Moraes, Dino e Zanin e da competência do STF e da Primeira Turma para julgar o caso. Os advogados queriam que o processo fosse para a primeira instância, mas que se permanecesse no STF fosse analisado pelo plenário em vez da Primeira Turma.

Também foram questionados o fatiamento do julgamento — os 34 denunciados foram divididos em “núcleos” —, a suposta falta de acesso das defesas às provas, e o fato da investigação ter sido aberta no inquérito das milícias digitais.

PESCA PROBATÓRIA – A defesa de Bolsonaro alegou que ele foi vítima de “pesca probatória”, uma investigação genérica para tentar encontrar um crime cometido por ele, e que deveriam ser aplicada as regras do juiz de garantias, que divide os processos criminais entre dois juízes: um conduz o inquérito, enquanto o segundo analisa as provas obtidas e julga a ação.

Os advogados do ex-presidente e do general Braga Netto também pediram a anulação da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid.

O julgamento começou às 9h45. No período da manhã, Moraes leu o resumo do caso, o procurador-geral da República falou em nome da acusação e os advogados dos oito denunciados fizeram as respectivas sustentações orais, quando levantaram as questões preliminares. Esta etapa terminou às 12h30.

PRELIMINARES – A sessão foi retomada às 14h para a análise das preliminares. O Regimento Interno do STF determina que as reuniões das Turmas sejam encerradas às 18h, “podendo ser prorrogadas sempre que o serviço exigir”. Presidente da Primeira Turma, Zanin paralisou o julgamento por volta de 17h30 quando todas as questões preliminares foram discutidas. Dessa forma, os votos sobre o mérito ficaram todos para quarta-feira.

Se a denúncia for aceita, abre-se então a ação penal que decidirá se Bolsonaro é ou não culpado. Caberá ao relator designar datas para o interrogatório dos réus. Após o interrogatório, será fornecido um prazo de cinco dias para a apresentação das defesas prévias.

Durante o trâmite, a pedido da defesa ou do Ministério Público, poderá haver o levantamento de novas provas e a perícia de documentos. Além disso, durante as sessões de julgamento, serão ouvidas testemunhas indicadas tanto pela defesa quanto pela acusação.

No STF, deu pena assistir aos advogados dos golpistas se enrolando na tribuna

Defesa de Bolsonaro cita Múcio e aponta contradições da denúncia da PGR

Sem argumentos fortes, os advogados não impressionaram

Vicente Limongi Netto

Deu pena assistir aos advogados dos acusados golpistas, na sessão da primeira turma, no Supremo Tribunal Federal. Já entraram perdedores. Gaguejaram, tropeçaram nos argumentos. Perda de tempo. Lacração total.

A propósito, a bem informada colunista Lia Dinorah (Jornal de Brasília – 24/03) revela que o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) tem chances de ser indicado pelo presidente da República para o Supremo Tribunal Federal (STF) caso o atual presidente da Suprema Corte, Luiz Roberto Barroso, resolva antecipar sua aposentadoria.

Pacheco no STF não é nada, não é nada mesmo. O STF já tem tantos ministros ruins, que mais um não faz nenhuma diferença. Ou seja, com o grandalhão escolhido, o Supremo continuará, mais do que nunca, a ser puxadinho de luxo do PT e de Lula. 

PARABÉNS A CABRAL – Glórias e homenagens de todos para a chegada dos 93 anos de idade de Bernardo Cabral, nesta quinta-feira, dia 27. Legado de trabalho e realizações de Bernardo Cabral orgulha e enaltece o Brasil.

 Alegria e honra de escrever sobre Bernardo identifica-se com a nossa amizade fraterna de 60 anos. Amizade nascida e cultivada por Bernardo Cabral, com meus avós, Vicente e Filomena e com meus pais, Andréa e Alcy. Passo a palavra para o jurista, doutor em Direito pela Universidade de Brasília e ex-procurador-geral da República, Inocêncio Martires Coelho:

“Bernardo Cabral é um personagem moralmente vertical. Amigo, chefe e colega sem par, tenho por ele a mais firme admiração. Nestes tempos estranhos, como costuma dizer o ministro Marco Aurélio, celebrar os 93 anos de idade de Bernardo Cabral é mais que uma homenagem, é um imperativo categórico. Saúde e paz a esse cavaleiro “sans peur et sans reproche”, a quem o Senhor concedeu a graça de ver o próximo como a si mesmo”. 

MAIS PARABÉNS – Luxo só permitido para brasileiros competentes como Sérgio Costa e Silva: comemorar seus valorosos 80 anos de idade em Portugal, rodeado de amigos e familiares. Nesta quinta-feira, dia 27, as comemorações prosseguem, no Rio de Janeiro

No calendário oficial do Rio de Janeiro, é Dia de Música do Museu. Com dois concertos, no Museu de Justiça e no Palácio Tiradentes. 

Nunes Marques deve discordar da cassação da deputada Carla Zambelli, do PL

STF tem 3 x 0 para condenação de Carla Zambelli a mais de 5 anos de prisão

Com 6 a 0, Carla Zambelli já está tecnicamente cassada

Raquel Landim
do UOL

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Kassio Nunes Marques, vai “votar por escrito” no caso da deputada federal Carla Zambelli. É por isso que ele pediu vista e paralisou o julgamento por 90 dias, informaram à coluna pessoas próximas ao ministro.

O “voto por escrito” é um indicativo de que Nunes Marques vai divergir do relator do caso, o ministro Gilmar Mendes. No entanto, ele ainda pode apenas esclarecer algum ponto e acompanhar Gilmar.

PLACAR: 6 A 0 – O STF já formou maioria para condenar Zambelli a 5 anos e 3 meses por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal.

Ela perseguiu armada um homem que a ofendeu na véspera da eleição em 2022.

O placar está 6 a 0 pela condenação. Mesmo após o pedido de vista de Nunes Marques, os ministros Cristiano Zanin e Dias Toffoli anteciparam seus votos e formaram a maioria pela condenação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Zanin e Dino se apressaram em votar após o pedido de vista, mostrando que se trata de um julgamento político. Quando há pedido de vista, a praxe é parar os votos para saber se o ministro encontrou algum erro no julgamento, mas os dois petistas quiseram mostrar serviço. (C.N.)

Governo Trump segue julgamento do STF e cogita sanções que violam soberania

Trump: conversas 'vazadas' lançam luz sobre como funciona círculo íntimo do presidente - BBC News Brasil

Trump se preocupa com o julgamento dos golpistas no STF

Jamil Chade
do UOL

O governo de Donald Trump acompanha “com atenção” o julgamento de Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal), enquanto avalia medidas que poderão ser tomadas contra ministros da corte ou mesmo contra Paulo Gonet, procurador-geral da República.

Se adotadas, as ações constituiriam uma violação flagrante do direito internacional, uma ingerência em assuntos domésticos e um abalo no princípio da soberania.

FOCO NO BRASIL – Membros próximos ao gabinete de Trump explicaram ao UOL que a situação no Brasil é um dos focos do trabalho do atual governo no que se refere à América Latina. Conforme a reportagem revelou no fim de semana, a eleição no Brasil em 2026 é considerada como estratégica não apenas para os interesses de Trump na América Latina, mas também para o movimento ultraconservador mundial.

No caso de uma abertura de um processo contra Bolsonaro por tentativa de golpe de estado, um dos caminhos que a Casa Branca avalia adotar é o de insistir na narrativa de que as instituições brasileiras estariam sendo usadas para impedir que o ex-presidente possa manter seu papel político.

O foco não é o de salvar Bolsonaro de uma eventual prisão. Mas essencialmente de desmoralizar a Justiça brasileira e, com ela, o processo eleitoral de 2026.

COMPARAÇÃO – Para isso, não se descartar fazer uma comparação à suposta perseguição que Donald Trump enfrentou na Justiça americana e o que ocorre com o brasileiro. O atual presidente dos EUA é o primeiro da história do país a assumir o poder tendo sido condenado criminalmente.

Assim, Washington avalia adotar uma linha de que Bolsonaro estaria também sendo “perseguido”, omitindo as provas contra o brasileiro e a existência do estado de direito no país.

Existem pelo menos três caminhos possíveis para eventuais sanções. Um deles é o de colocar Alexandre de Moraes e outras pessoas envolvidas num eventual processo contra Bolsonaro numa lista de autoridades que estarão impossibilitadas de entrar nos EUA. Uma segunda opção seria confiscar bens dos ministros brasileiros que eventualmente existam em território americano.

AUMENTAR AS SANÇÕES – Para completar, aliados de Trump avaliam a possibilidade de aprofundar as sanções. Neste caso, haveria um alerta contra qualquer entidade financeira do mundo que tenha contas em nome de Moraes. Elas teriam de escolher: ou manteriam o brasileiro como cliente ou sofreriam penalidades para atuar nos EUA.

Para juristas ouvidos pelo UOL nos EUA, a ofensiva não tem respaldo no direito internacional e representa uma ingerência indevida nos assuntos domésticos de outro país. Mas vem sendo usada com intensidade por parte do novo governo americano, rompendo qualquer lógica de respeito à soberania de um país.

Em apenas dois meses, Trump proliferou medidas unilaterais, sempre que optou por fazer valer o interesse dos EUA, de seu governo ou da extrema direita.

ALGUNS EXEMPLOS – Assim, a Casa Branca adotou no final da semana passada sanções contra a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirschner. Justificando que o aliado israelense estaria em apuros, Trump adotou retaliações contra o procurador-geral do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan.

Na África do Sul, o governo Trump adotou medidas contra o presidente Cyril Ramaphosa, por conta de sua política de distribuição de terras. Houve também uma ameaça contra o Panamá, por suas relações com a China.

Todas essas medidas excederam a jurisprudência dos EUA em agir, assim como violam tratados de direito internacional ou a simples prática diplomática. Ainda nesta semana, Trump anunciou que qualquer país que compre petróleo da Venezuela terá de pagar uma tarifa extra de 25% ao governo americano, uma violação explícita de acordos comerciais.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Reina a insanidade, dentro e fora do Brasil. Apenas isso, simplesmente isso. (C.N.)

Fazer Bolsonaro réu é uma coisa, desatar o nó de 2026 é outra coisa

21/11/2024 - Cláudio de Oliveira | Folha

Charge do Cláudio de Oliveira (Folha)

Josias de Souza
do UOL

Em público, Bolsonaro declara-se inocente. Quando os refletores se apagam, reconhece que sua presunção de inocência ficou gasta. Juridicamente, está jurado de morte. Para se manter politicamente vivo, administra como estorvo um espólio disputado por um herdeiro de espírito e outro de sangue.

“Não vou passar o bastão para ninguém”, disse Bolsonaro para Tarcísio de Freitas, na véspera de sua estreia no cadafalso do Supremo. Trama levar sua candidatura fake até agosto de 2026, para entregar o bastão a Eduardo Bolsonaro, dois meses antes da eleição, como fez Lula com Fernando Haddad em 2018.

PIOR DO QUE NUNCA – No Brasil, quem espera o pior costuma surpreender-se. O que vem é quase sempre pior do que o esperado.

Num julgamento com cheiro de história, o Supremo transformará Bolsonaro em réu. Próximo das grades, o “mito” não deveria servir nem para guia de cegos. Mas os devotos insistem em tratá-lo como guia dos povos.

Transformar Bolsonaro em réu é uma coisa. Desatar o nó político de 2026 é outra coisa muito distinta. Com o “mito” inelegível e preso, a direita teria a oportunidade de se endireitar.

REFÉM DE BOLSONARO – Tarcísio, que se imaginava um conservador de bons modos, capaz de comer de garfo e faca, apodrece como refém antes de amadurecer como opção.

Lula viaja para o Japão com a comitiva apinhada de centrão e tem dificuldade para dialogar com o eleitor de direita, sem o qual não teria obtido a pequena margem de votos que lhe assegurou um terceiro mandato em 2022.

A frente ampla virou farelo. Nesse ambiente, a próxima sucessão pode produzir mais um vitorioso sem eleger um presidente.

Veja o que o poeta Paulo Leminski achava que nunca iríamos saber

Você nunca vai saber o que vem depois... paulo leminski - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, professor, escritor e poeta paranaense Paulo Leminski Filho (1944-1989) expressa no poema “Objeto Sujeito” tudo quanto nunca saberemos.

OBJETO SUJEITO                                                Paulo Leminski

Você nunca vai saber
quanto custa uma saudade
o peso agudo no peito
de carregar uma cidade
pelo lado dentro
como fazer de um verso
um objeto sujeito
como passar do presente
para o pretérito perfeito
nunca saber direito

você nunca vai saber
o que vem depois de sábado
quem sabe um século
muito mais lindo e mais sábio
quem sabe apenas
mais um domingo

você nunca vai saber
e isso é sabedoria
nada que valha a pena
a passagem pra Pasárgada
Xanadu ou Shangrilá
quem sabe a chave
de um poema
e olhe lá

Moraes não segue as lições que ensina como professor de Direito no Brasil

Entre as piores pessoas do mundo", diz ex-desembargador sobre Moraes

Ao punir em demasia, criou um problemão para o Supremo

Diogo Schelp
Estadão

O juiz Alexandre de Moraes não lê o professor Alexandre de Moraes. Este escreveu, alguns anos atrás, que dois princípios amplamente aplicados no direito, a razoabilidade e a proporcionalidade, estão interligados. E relacionou o primeiro ao comedimento, à “ideia de que a conduta reta consiste em não exagerar para um de mais nem para um de menos”.

Ser razoável, ou seja, ponderar se um meio é adequado à sua finalidade, é um critério para se tomar decisões proporcionais, equilibradas e justas. É possível dizer que o juiz Moraes exagerou “para um de mais” ao votar para condenar a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos a 14 anos de prisão por escrever “perdeu, mané” na estátua da Justiça? Alguns dirão que não, em especial os que acreditam que os fins justificam os meios.

GRAVE PROBLEMA – O STF já condenou quase 500 réus envolvidos nos atos de 8 de janeiro, muitos com penas superiores a 14 anos de cadeia. O sujeito que destruiu o valioso relógio de Dom João VI pegou três anos a mais de cana do que a Débora que sujou uma estátua de batom. Proporcional?

Algum tipo de punição a massa de manobra do golpismo deveria receber. Mas, ao pesar a mão nas penas, Moraes e os outros ministros do STF criaram um problema para si e para o Brasil.

O STF decide esta semana se torna o ex-presidente Jair Bolsonaro e vários integrantes de seu governo, incluindo militares de alta patente, réus por tentativa de golpe em 2022.

E AGORA? – Mais à frente, quando forem julgados, qualquer sentença que venham a receber será considerada desproporcional se não for mais dura do que a recebida pela arraia-miúda do golpismo.

Não apenas no tamanho da pena, mas também no critério que se utilizará para encontrar materialidade nos crimes para uma eventual condenação.

O STF elevou bastante a barra da punição esperada para os mentores de um golpe. Esse é o problema que a Corte criou para si mesma.

CONGRESSO REAGE – O problema para o Brasil concentra-se também no Congresso. As punições exageradas aos réus de 8 de janeiro criaram um ambiente propício para que ganhasse força, entre os parlamentares, a convicção de que os condenados merecem algum tipo de perdão, seja pela extinção, seja pela redução da pena, como mostra o Placar da Anistia do Estadão.

Apesar de um número significativo de deputados a favor da anistia afirmar que o benefício não deveria se estender a Bolsonaro, está claríssimo que o projeto de lei do Major Vitor Hugo, do PL, é um ‘cavalo de Troia’ para fazer a impunidade alcançar o ex-presidente.

Governadores pedem compensação para zerar ICMS da cesta básica

Denúncia contra golpistas tem falhas insanáveis que o STF não pode suprir

CdB | Gonet reúne dados para reabrir inquérito contra Bolsonaro

Na empolgação, Gonet cometeu três erros processuais

Jorge Béja

Nesta terça-feira, 25, o Supremo dá início à análise da denúncia que o procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, ofereceu (oferecer é o verbo jurídico para o caso) contra os indiciados nos atos preparatórios e concretizados no 8 de Janeiro, sem sucesso.

O STF dirá se recebe ou rejeita (também estes são os verbos jurídicos adequados; receber e rejeitar) a denúncia de 272 páginas e 34 indiciados. Peça muito bem elaborada. Clara. Segura. Rica em provas de toda ordem. Peça perfeita? Quase perfeita, é a resposta. Porque nela estão ausentes três exigências legais que são de ordem pública. 

RISCO DE NULIDADE – Há omissões graves que podem levar a peça a ser considerada inepta, imprópria, incompleta. E em consequência, a denúncia pode ser rejeitada.

Tanto no âmbito cível quanto no criminal, toda demanda (ação judicial ) tem início através de petição. No cível, é a Petição Inicial. No crime, é a Denúncia de autoria do Ministério Público, nas chamadas ações penais de ação pública incondicionada.

E toda Petição Inicial ou Denúncia, além de outros requisitos que nela devem constar, três deles estão ausentes na denúncia do PGR.

HÁ TRÊS OMISSÕES – A primeira é o pedido de recebimento da peça. O segundo é o pedido de citação dos denunciados, sendo a denúncia recebida.  E citação é o ato, imprescindível, pelo qual a parte contrária é chamada para ficar ciente da ação e apresentar defesa.

É conhecido no meio jurídico criminal o bordão “Recebo a denúncia e cite-se…”, do punho do juiz criminal a quem a denúncia foi oferecida.

Portanto, os pedidos para receber a denúncia e para a citação dos denunciados, não constam na  peça que começa a ser examinada pelo STF nesta terça-feira. Não será surpresa se a denúncia não for recebida em razão das omissões aqui apontadas e que são insuperáveis e insanáveis

MAIS UM PEDIDO – A terceira omissão na denúncia é o pedido de condenação. A petição (denúncia) descreve minuciosamente os fatos ocorridos, anteriores e no próprio dia 08/01.

Cita e transcreve leis e artigos que os denunciados infringiram. Detalhadamente enquadra cada denunciado, individualmente, nos crimes que cada um teria cometido. Tudo de forma didática e comprovada. Mas não pede a condenação.

Nas ações judiciais, cíveis e/ou criminais, o juiz fica restrito e limitado ao que lhe é pedido.  Se a parte autora, aqui o PGR, não pediu a condenação dos denunciados, como o STF poderá conceder, dar, atender, deferir o que não lhe foi pedido?

SITUAÇÃO INÉDITA – Apesar da impossibilidade de que as omissões venham a ser sanadas da parte do Procuradoria-Geral da República, uma vez que a denúncia já foi oferecida, crê-se que os ministros do Supremo tentarão encontrar motivação para que as falhas possam ser superadas.

Só não se sabe de que forma o STF poderá dar sua prestação jurisdicional a uma denúncia em que não constam pedido de recebimento da denúncia e pedidos de citação e condenação daqueles contra os quais ofereceu denúncia.  

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Jorge Béja é um dos maiores juristas deste país. Em agosto de 2024, a OAB-RJ lhe comunicou que tinha sido laureado para receber o prêmio Sobral Pinto, que seria entregue em evento na Fundação Getúlio Vargas. Mas Jorge Béja agradeceu e declinou da indicação, alegando não merecer tamanha honraria. Na verdade, ninguém seria tão merecedor quanto o próprio Béja. Além da imensa cultura jurídica comum aos dois, ele e Sobral Pinto jamais cobraram honorários de qualquer cliente, pois recebiam apenas o chamado ônus de sucumbência arbitrado pelos juízes. E Béja, em toda a sua carreira, somente defendeu vítimas, jamais autores de crimes. É claro que os criminosos têm direito à ampla defesa e ao melhor advogado que possam pagar, mas eles sabiam que Béja e Sobral Pinto não tinham esse perfil. (C.N.)

TCU detecta corrupção da OEI, mas só chegará em Janja mais à frente

Janja discute combate à desigualdade com novo diretor da OEI

Branchini, operador da corrupção, com a “coordenadora” Janja

Carlos Newton

A corrupção era tão descarada, tão opulenta e tão audaciosa que não demorou nada para ser identificada pela Procuradoria-Geral do Tribunal de Contas da União.

Em apenas alguns dias os especialistas da corte identificaram as inacreditáveis irregularidades no contrato assinado entre a Casa Civil da Presidência da República e a ONG espanhola OEI, que se apresenta como “organização inter-governamental de 23 países”, mas atua ilegalmente no Brasil, sem nenhum contrato assinado por presidente da República, como exige o artigo 84 da Constituição, que impede o chefe do governo de delegar poderes para tal.

O contrato que a ONG alega ter firmado com o governo brasileiro ocorreu em 1957, mas foi firmado por Francisco Montojos, um mero funcionário do MEC.

SEDE EM BRASÍLIA – Com base neste documento sem valor legal, em 2002 a OEI solicitou ao então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, autorização para instalar um escritório em Brasília e ele aceitou, julgando que a organização realmente tivesse licença para atuar no país.

De lá para cá, tem sido um festival de corrupção, com a OEI fechando sucessivos contratos com órgãos federais, estaduais e municipais.

Desde abril de 2024, quando a primeira-dama Janja da Silva se tornou “coordenadora” da OEI no Brasil, os valores dos contratos foram aumentando espantosamente, até chegar a R$ 600 milhões no segundo semestre de 2004.

O TCU QUER SABER – Confira agora a lista das informações preliminares que o TCU pediu a Secretaria da COP30 diante da possibilidade de irregularidades:

– Inteiro teor do processo de contratação referente ao Acordo de Cooperação Internacional firmado em 18/12/2024 com a Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI);

– Justificativas para a escolha de um organismo internacional visando a cooperação para a preparação, organização e realização da COP30, demonstrando a inviabilidade de se utilizar a estrutura da Administração Pública para essa finalidade;

– Critérios e justificativas da escolha da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) para a assinatura do Acordo de Cooperação Internacional, tendo em vista que existe mais de um organismo internacional do qual a República Federativa do Brasil é membro, atendendo aos termos do Decreto 11.941/2024;

– Esclarecimentos detalhados sobre a composição do valor estimado de R$ 478,3 milhões, informando se houve análise comparativa com preços de mercado para serviços similares, incluindo eventuais cotações ou estudos que fundamentaram o montante;

– Esclarecimento sobre os pagamentos à OEI nos valores de R$ 5 milhões em 26/8/2024 e R$ 15,7 milhões em 23/12/2024, anteriores à assinatura do acordo, o que pode caracterizar pagamento antecipado em relação à execução do ajuste;

– Designação formal de interlocutor que conheça da matéria para dirimir eventuais dúvidas, informando nome, função/cargo, e-mail e telefone de contato.

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P.S.
– A reportagem da CNN procurou a Secretaria da COP30 para pedir uma posição sobre o documento do TCU e espera retorno. Bem, a CNN vai aguardar muito, porque jamais haverá esse retorno. O fato concreto é que a CNN descobriu o maior escândalo de corrupção do governo Lula 3, e o Planalto agora faz o possível e o impossível para tentar abafar. (C.N.)

Quando um presidente criminoso assume o poder, torna-se ameaça ao sistema

Donald Trump – Wikipédia, a enciclopédia livre

Trump tornou-se uma ameaça à democracia no mundo

Marcus André Melo
Folha

Quando Nixon ascendeu ao poder, em 1968, seu chefe de gabinete distribuiu cópias de “Presidential Power” (1960) de Richard Neustadt — um clássico da ciência politica — para todos os assessores do presidente. Após o escândalo do Watergate (1974), um desses assessores advertiu Neustadt: “você é corresponsável”.

A principal mensagem do livro é que os poderes constitucionais do Executivo americano eram muito limitados comparativamente falando. O foco eram as relações Executivo-Legislativo.

NIXON ABUSOU – Em coluna recente enumerei alguns exemplos da fraqueza do Executivo. Nixon distorceu a lição e abusou dos poderes presidenciais. Mais do que isso: utilizou a Presidência institucional em esquemas criminosos que levaram ao seu impeachment.

O problema de fundo era de desenho institucional. Mas havia outra questão em jogo: a lição que fica é que quando um presidente criminoso chega ao poder ameaça todo o sistema político.

Skowronek em clássico sobre o Estado americano afirma que o caso americano no final do século 19 era um “Estado de partidos e tribunais”, em forte contraste com o Estado construído pelas monarquias europeias.

VISÃO DE WILSON – Esse estado de coisas levou Woodrow Wilson, ex-presidente dos Estados Unidos (1913-1921) a caracterizar o sistema político americano como “congressional government” e não presidencialismo. O próprio congresso neste período criou por delegação agências reguladoras independentes.

Durante o escândalo do Watergate, o “Massacre de Sábado à Noite” (demissão de três procuradores-gerais em um único dia devido a pressões de Nixon) mostra que o Ministério Público Federal americano — que é parte do Departamento de Justiça, órgão do Executivo — é vulnerável à interferência de um presidente. A Presidência não é fraca para o crime.

No contexto pós-Nixon, foi criada a figura (exótica para analistas internacionais) do procurador independente especial, que não pode ser demitido, além de inspector generals (equivalente à CGU) com grande independência, os quais recentemente foram demitidos em massa por Trump.

PODER DE DEMISSÃO – Trata-se de questão recorrente na história americana: o poder de demissão (removal power) de membros da burocracia federal pelo presidente. A perseguição a procuradores especiais que investigaram Trump mostra a linha de continuidade com a era Nixon.

O poder de demissão é parte essencial da chamada Teoria do Executivo Unitário que tem sido utilizada para legitimar intelectualmente ações unilaterais de Trump. A teoria sustenta que o Executivo tem total discrição sobre seus entes e órgãos, o que incluiria agências reguladoras e bancos centrais. A “tiranofobia” (Posner e Vermeule) nos Estados Unidos, segundo a teoria, é obstáculo para mudanças institucionais fundamentais.

Os Estados Unidos defrontam-se com o dilema de conter um presidente fraco constitucionalmente, mas forte para o abuso. Mas o fator decisivo, frequentemente esquecido, é o controle do Congresso: isto explica por que Nixon foi impedido (era minoritário nas duas casas) e Trump tenha sobrevivido a dois impeachments.

Variante primal do racismo, a misoginia resiste aos avanços institucionais

A imagem mostra um grupo de mulheres participando de uma manifestação. Elas estão vestidas com camisetas roxas e seguram cartazes com mensagens de empoderamento e direitos femininos. Uma mulher à frente está usando um microfone, enquanto outra segura um megafone. O ambiente é urbano, com prédios ao fundo.

Marcha contra misoginia no Dia Internacional da Mulher

Muniz Sodré
Folha

Se a distância mais curta entre dois pontos não é mesmo a linha reta, e sim o ponto de vista, vale aplicar esta regra poética a dois recentes e distantes acontecimentos chocantes.

Primeiro, a revelação por uma ativista afegã de que as mulheres em seu país, proibidas de trabalhar, estudar, cantar e andar sozinhas nas ruas, agora têm de abafar os sons dos saltos de sapato. Segundo, uma atriz brasileira a bordo de avião norte-americano foi brutalmente coagida a ceder o assento preferencial, pelo qual havia pagado sobretaxa, a um passageiro deslocado da classe executiva. Mulher sozinha, o motivo covarde.

ANTIFEMINISMO – O ponto de vista apoia-se na evidência de recrudescimento mundial do antifeminismo. Se racismo e misoginia são variantes de um mal-estar civilizatório, pode-se talvez atribuir maior peso à segunda tendência, porque o racismo começa a ser coibido na esfera pública, mas o ataque à condição feminina persiste em público e em privado.

Na quase totalidade dos países islâmicos, uma política de Estado misógina vê mulher como outra espécie humana. A violência simbólica desdobra-se em números amplos ao plano físico.

Entre nós, enquanto a cada 17 horas ocorre um feminicídio, ascendem as estatísticas de estupro. Nos EUA, “feminismo” e “pessoas grávidas” integram a lista trumpista de palavras proibidas.

CONQUISTAS CIVIS – O fenômeno agrava-se em meio à intensificação da luta feminina por conquistas civis. O fato social mais relevante do século passado foi a incorporação massiva de mulheres ao mercado de trabalho, ao lado da tomada de consciência de seu papel sob o patriarcado.

Mas os avanços institucionais não atenuam aspectos obscuros e negativos na imaginação arquetípica do feminino. “Arquétipos” não designam imagens eternas, mas regras de representação do que não se vê, isto é, do que se imagina.

São “modelos de duração variável que persistem através dos sistemas sociais e até mesmo de civilizações diferentes” (Raymond Ledrut em “La Révolution Cachée”), com peso considerável sobre os modos de pensar. O patriarcado leva a conceber uma divisão antropológica entre homens e mulheres, como se fossem raças diversas. Isso aflora nos discursos feministas.

ARQUÉTIPO – Entretanto, há algo maior enraizado na personalidade masculina, que é o “arquétipo” feminino, uma representação ativadora de energia vital, ou libido. Nas potencialidades expressivas do corpo e do sexo, o imaginário articula como desejo as imagens arquetípicas de gênero. Mas também uma forma cultural de existência, permeável aos sistemas sociais. Os dois planos interligam-se por laços societários (econômicos, jurídicos) e sensíveis, onde predominam imagens camuflantes do machismo.

Mas o sensível vislumbra mudanças no arquétipo. Por isso, nas ditaduras islâmicas, a alteridade feminina, objeto de medo primal, é sufocada por tortura lenta até o apagamento público de sua imagem. E na tortura, em que nada mais se deseja senão a morte do outro, até o sexo opressivo prescinde de desejo. O mesmo ocorre no extremismo (Trump, Orban, integristas religiosos) incubador de misoginia.

O Ocidente democrático aguardava um futuro radioso para a questão. Mas o século 21 cancelou o futuro: o temor/tremor patriarcal ante as alterações do arquétipo suscita ódio e violência. Na ultradireita, assim como a bordo do avião. Dessa vez, mexeram com a mulher errada. Acontece.