Messias desponta para o STF, mas enfrenta ofensiva de ministros pró-Pacheco

Senador mineiro tem apoio de Moraes, Gilmar e Dino

Catia Seabra
Cézar Feitoza
Folha

Ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias é apontado como favorito para a vaga aberta no STF (Supremo Tribunal Federal) com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso, mas enfrenta uma campanha de ministros da corte em favor do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Apoiado enfaticamente pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o movimento dos magistrados se acirrou no segundo semestre de 2025, com a proximidade do fim do mandato de Barroso na presidência do tribunal e o aumento das especulações acerca de sua aposentadoria.

APOIADORES – Os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Flávio Dino são apontados como apoiadores de Pacheco. O senador contaria ainda com a simpatia de Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. Na noite de terça-feira (14), o presidente Lula recebeu Gilmar, Moraes, Dino e os ministros Cristiano Zanin (STF) e Ricardo Lewandowski (Justiça) no Palácio da Alvorada para discutir a sucessão de Barroso.

Essa articulação pró Pacheco se intensificou em julho, quando o governo decidiu brigar na Justiça pela reativação do decreto com elevações no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), após derrubada pelo Congresso Nacional. Por orientação de Lula, a AGU (Advocacia-Geral da União) entrou com pedido de declaração de constitucionalidade do decreto presidencial que aumentava alíquotas do IOF.

Como ministro-chefe da AGU, Messias seria o interlocutor credenciado para a negociação com a corte. Ministros, porém, encamparam um movimento para que Pacheco fosse escalado para essa função.

PRESTÍGIO – O senador já vinha se cacifando junto a integrantes do tribunal a ponto de ser prestigiado no Fórum Jurídico de Lisboa, organizado pelo instituto de Gilmar Mendes. Pacheco foi um dos palestrantes do evento, em um painel que contava ainda com a participação de Alexandre de Moraes. O fórum em Portugal ocorreu no meio da crise entre o governo e o Congresso em torno da derrubada do decreto do IOF.

Foi em Lisboa que ministros do Supremo e congressistas tentaram indicar Pacheco para a função de interlocutor entre Congresso, governo e Supremo para a crise do IOF. Mas Lula manteve a tarefa a cargo de Messias, ao lado do ministro Fernando Haddad (Fazenda).

À época, magistrados chegaram a reclamar, em conversas reservadas, de uma dificuldade de interlocução com o Palácio do Planalto, defendendo a designação de outros ministros do governo para o diálogo.

PROCESSO DE INDICAÇÃO –  As queixas se davam sobre o desprestígio no processo de indicação para vagas em tribunais e a sobrecarga da pauta da corte com impasses da esfera política. Um ministro afirmou à Folha em julho que faltava interlocução de alto nível entre o Planalto e o tribunal. Os recados de insatisfação com o governo acabavam recaindo sobre Messias.

Essa articulação contrariou os governistas. A avaliação no governo é que Messias é eficiente e discreto no desempenho das funções. E conseguiu desatar os nós com o Supremo com sua atuação firme em favor do tribunal e de Moraes após as sanções financeiras impostas pelo governo Donald Trump.

Até as resistências desses ministros ao seu nome arrefeceram depois da contundente atuação em defesa do STF. O ministro colocou a AGU à disposição de Moraes para questionar a aplicação da Lei Magnitsky e orientou a contratação de escritório nos Estados Unidos para acompanhar o avanço das sanções contra o Brasil.

INTERLOCUÇÃO – Hoje esses ministros chegam a elogiar a qualificação de Messias —mantêm, no entanto, a preferência pelo senador. Pacheco se tornou um dos principais interlocutores com o Judiciário durante sua presidência do Senado. A corte vivia sob ataque do bolsonarismo.

Alexandre de Moraes diz a interlocutores que costuma se encontrar semanalmente com o senador mineiro, em jantares reservados. Davi Alcolumbre costuma participar da mesa com os dois aliados.

De conversas de Pacheco com os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes surgiu a primeira proposta no Congresso para a redução das penas dos condenados pelos ataques de 8 de Janeiro. Tratava-se de uma estratégia para reduzir as pressões bolsonaristas por uma anistia ampla.

ANÚNCIO – Gilmar chegou a anunciar em agosto que seu candidato à vaga do Supremo era Pacheco. “A Corte precisa de pessoas corajosas e preparadas juridicamente e o senador Pacheco é o nosso candidato. O STF é jogo para adultos”, disse à colunista Mônica Bergamo.

Com o fim de sua presidência do Senado, Pacheco passou a focar sua atuação em assuntos ligados ao Judiciário. Ele foi o idealizador da criação de um grupo de trabalho de juristas para sugerir a atualização do Código Civil, e hoje preside uma comissão específica sobre o tema.

Em defesa de Pacheco, simpatizantes lembram sua atuação pelo respeito ao resultado das eleições presidenciais de 2022, quando o então presidente, Jair Bolsonaro, se recusava a admitir a vitória de Lula.

FAVORITISMO – Aliados do petista apostam, no entanto, no favoritismo de Messias. Segundo relatos, Lula elogia a combatividade e a lealdade do titular da AGU, dizendo que Messias está maduro para a função.

Na avaliação desses interlocutores do presidente, o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Bruno Dantas teria até mais chances de que Pacheco para o STF, caso houvesse veto a Messias. A hipótese de vetos é, no entanto, rechaçada pelos magistrados.

Há ainda movimentos de aliados de Lula para a indicação do advogado-geral da Petrobras, Wellington César Lima e Silva, para a vaga no Supremo. O presidente também é pressionado para indicar uma mulher —desejo já anunciado pelo próprio Barroso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA cada vez que se escolhe novo ministro para o Supremo é a mesma chatice. Exigem uma mulher ou um negro, esquecidos de que a vaga deveria ser para jurista de notório saber e reputação ilibada, não importa a cor ou a preferência sexual.  Mas na realidade a regra não vale, e a vaga é sempre para o partido que está no governo, como se viu no caso lamentável de Toffoli. Uma vergonha. (C.N.)

Advogado de Trump acusa o Brasil de obstruir citação judicial a Moraes

Advogado de Trump e Rumble sobre Moraes: "não usou formas válidas"

Advogado de Trump critica sigilo no processo de Moraes

John Lucas
Gazeta do Povo

O advogado americano Martin De Luca, representante da plataforma Rumble e da Trump Media – empresa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – acusou o governo brasileiro de obstruir a notificação judicial do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em um processo que tramita na Justiça Federal da Flórida.

A denúncia foi feita nesta terça-feira (14), após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manter sob sigilo o pedido de citação encaminhado pelos Estados Unidos.

BLOQUEIO – Em publicação na rede X, o advogado afirmou que “as autoridades brasileiras estão bloqueando a citação judicial de Alexandre de Moraes”. Segundo ele, “uma formalidade rotineira – o envio de documentos judiciais sob a Convenção de Haia – está sendo tratado como um perigo mortal”.

O caso envolve a ação ajuizada nos EUA por Rumble e Truth Social (rede social de Trump), que buscam responsabilizar Moraes por decisões consideradas abusivas e contrárias à liberdade de expressão.

De Luca explicou que o tribunal norte-americano enviou, ainda em julho, um pedido formal ao Judiciário brasileiro para que Moraes fosse notificado da ação.

SOB SIGILO – “Em vez de processar o pedido, o STJ colocou o caso sob sigilo, enviou-o à Procuradoria-Geral da República (PGR) para um parecer e paralisou por meses. A PGR acabou de emitir seu parecer e… ele é secreto”, relatou.

O advogado argumenta que o Brasil está descumprindo suas obrigações internacionais previstas na Convenção de Haia, da qual o país é signatário desde 2019. O tratado estabelece que pedidos de citação de outro país devem ser executados “de maneira célere”, sem interferência política.

“Não há base legal para sigilo e nem papel algum para procuradores ou o Executivo. Mas, neste caso, os aliados de Moraes estão tratando uma simples notificação judicial como se fosse uma ameaça à segurança nacional”, escreveu.

DESDE AGOSTO – Segundo apuração da CNN Brasil, o pedido de citação a Moraes chegou ao STJ em 15 de agosto e está atualmente sob análise do presidente da corte, ministro Herman Benjamin, a quem cabe decidir se autoriza ou não o “exequatur” – a autorização para que a citação ocorra.

Caso seja concedido, Moraes poderá ser oficialmente intimado por um juiz designado. Caso contrário, o tribunal poderá considerar a ação improcedente, impedindo o prosseguimento da notificação.

O jornal O Globo revelou que o processo foi encaminhado à PGR a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) e tramita sob segredo de Justiça desde 29 de setembro. O advogado Martin De Luca criticou a medida em entrevista ao jornal.

PROTEÇÃO A MORAES – Em seu post desta terça, De Luca pediu que autoridades americanas cobrem explicações do governo brasileiro.

Na publicação, ele citou o secretário de Estado Marco Rubio e o vice-secretário de Estado dos EUA, afirmando que “essas ações demonstram como o Estado de Direito foi profundamente comprometido nas instituições brasileiras para proteger um homem acusado de violar direitos constitucionais em solo americano, de atacar empresas dos Estados Unidos e de criminalizar a dissidência”.

Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor

Nelson Motta celebra dois anos de namoro com fã 30 anos mais jovem e lembra  início: 'Era improvável'

Nelson Motta, um supercompositor

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, escritor, roteirista, produtor musical, letrista e compositor paulista Nelson Cândido Motta Filho, em “O Cantador”, parceria com Dory Caymmi, fala sobre a dor, a vida, a morte, o amor, sentimentos que fazem o cotidiano de quem apenas sabe cantar. A música teve várias gravações, entre as quais, a do próprio compositor no LP Dori Caymmi, em 1972, pela Odeon.

O CANTADOR
Dori Caymmi e Nelson Motta

Amanhece, preciso ir
Meu caminho é sem volta e sem ninguém
Eu vou pra onde a estrada levar
Cantador, só sei cantar
Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte,
canto o amor
Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte,
canto o amor

Cantador não escolhe o seu cantar
Canta o mundo que vê
E pro mundo que vi meu canto é dor
Mas é forte pra espantar a morte
Pra todos ouvirem a minha voz
Mesmo longe …

De que servem meu canto e eu
Se em meu peito
há um amor que não morreu
Ah! se eu soubesse ao menos chorar
Cantador, só sei cantar
Ah! eu canto a dor de uma vida perdida sem amor
Ah! eu canto a dor de uma vida perdida sem amor

Tereza Cristina aposta em Tarcísio, Ratinho e Michelle como trinca da direita

Ex-ministra de Bosloanro cobra maturidade da direita

Lauriberto Pompeu
O Globo

Ex-ministra da Agricultura de Jair Bolsonaro e líder do PP no Senado, Tereza Cristina (MS) afirma que não adianta a oposição lançar um candidato sem viabilidade eleitoral contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026, e citou os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ratinho Júnior (Paraná) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como alternativas.

Sem criticar diretamente o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem feito ataques a nomes da direita, ela afirmou que espera que o bloco tenha “maturidade” de entender que a divisão só favorece o governo.

TARIFAÇO – Em entrevista ao O Globo, a senadora também disse que é cedo para debater quem será o vice na chapa, posto para o qual ela própria é cotada, e elogiou o avanço das conversas entre Brasil e Estados Unidos pelo fim do tarifaço.

O deputado Eduardo Bolsonaro articulou nos EUA sanções econômicas ao país e punições a autoridades brasileiras e criticou parlamentares, como a senhora, que tentaram negociar um acordo com o governo americano. Eduardo está prejudicando a direita?

É uma posição dele. Foi embora do país, está lá (nos EUA) e é filho (de Jair Bolsonaro). Ele tem algumas razões diferentes das comerciais, mas o Congresso fez o papel que tinha que fazer: abrir o canal de conversação, fazer a diplomacia parlamentar. Nós temos culpa também, porque deixamos esse canal fechado durante muito tempo. O resultado dessa viagem não foi perdido, alguma sementinha nós plantamos. Conversamos com senadores americanos, e essa conversa fluiu dentro do Senado dos EUA.

Eduardo anunciou a intenção de ser candidato à Presidência em 2026 e faz críticas a outros nomes da direita, como o governador Tarcísio de Freitas. Essa postura atrapalha a unidade da oposição para enfrentar Lula?

Sempre vai ter gente que acompanha um lado ou outro. O melhor era que estivéssemos todos unidos em torno de um nome para as próximas eleições, mas eu acho que ainda tem tempo. Espero que a direita tenha maturidade para saber que nós temos um adversário, que é o governo que está aí, e não somos adversários entre nós. Quem vai disputar a eleição vai ser o PT contra alguém do campo da direita. O melhor dos mundos é que a direita sente e discuta o nome viável, porque não adianta colocar alguém que não tenha viabilidade.

O senador Ciro Nogueira, presidente do PP, citou os governadores Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior como os únicos nomes viáveis da direita. Concorda com ele?

São dois ótimos nomes. E tem outros ainda. As pesquisas dizem que são três (viáveis): Tarcísio, Ratinho e Michelle (Bolsonaro, ex-primeira-dama).

Os três estão em nível de igualdade?

Na pesquisa, sim.

Vê o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, largando atrás? A senhora falou de três nomes viáveis para 2026 e ele não estava.

Pode aparecer um nome, por exemplo, a Tereza candidata, mas não estava no jogo até esse momento. Está tudo embolado. Na pesquisa (Quaest) você vê Tarcísio, Michelle, Ratinho e Caiado. O que está um pouco atrás é o Eduardo Leite. Isso faz parte desse caminho, mas vai afunilando por conta da data de tomada dessas decisões.

A direita pode ter mais de um candidato?

Não é o ideal, mas pode ter. Ainda é cedo para isso. Os candidatos estão aí postos. As pesquisas mostram todo mundo da direita embolado. Se juntar, a chance é muito grande.

O ideal seria o ex-presidente Jair Bolsonaro indicar o nome ainda este ano? Por que ele não faz isso?

Não sei, não tenho conversado com o presidente Bolsonaro por conta da situação dele. Até já pedi para ir lá, mas ainda não recebi o OK. Ele deve ter os motivos. O presidente Bolsonaro é um político diferente. A lógica dele nem sempre é a lógica de todos. Na hora certa, tenho certeza que ele vai fazer isso.

Ele erra na estratégia de ainda não ter indicado esse apoio?

Ainda não, há tempo.

Tarcísio tem dito que vai concorrer à reeleição em São Paulo, mas tem negociado com presidentes de partidos sobre temas nacionais para pressionar o governo Lula. Quais dificuldades vê para ele se assumir candidato a presidente?

Por que ele tem que entrar na arena? O PT já o elegeu como alvo. Ele tem que cuidar de São Paulo, tem muita coisa para fazer lá. Na hora que a direita apoiar, se for o nome dele, tenho certeza que ele vai refletir e tomar uma posição rápida.

A senhora e Ciro Nogueira são citados como opções para vice em uma chapa de direita. Há chances de um dos dois compor a candidatura?

Está tão cedo para isso… A vice é a última coisa que se discute. Tem que ver o que traz mais votos, o que dá mais viabilidade ao candidato. Só não pode ter um vice que tire votos.

O advogado-geral da União, Jorge Messias, o senador Rodrigo Pacheco, e o ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União, são os nomes citados para a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal. Quem tem mais apoio na oposição?

Eu imagino que seja o senador (Pacheco), nosso colega, mas não conversei com ninguém ainda.

Concorda com a aprovação de um projeto que reduza penas de envolvidos no 8 de Janeiro em vez de uma anistia total?

Não conheço os dois textos. Eu só sei que um é pela anistia ampla, geral e irrestrita, e outro fala de dosimetria, que era um projeto que o senador Davi (Alcolumbre, presidente do Senado) também vinha gestando há mais tempo. A anistia geral traria uma pacificação, mas a dosimetria também trará uma pacificação ao diminuir a pena do presidente Bolsonaro, que foi muito alta. Não tenho dúvida que trará benefícios.

O que achou da conversa entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o tarifaço?

Vejo com muito bons olhos. Sou uma defensora dessa conversa desde o início, já disse que o presidente Lula deveria ter ligado para o presidente Trump há muito tempo. É um avanço nas relações. Vejo que a diplomacia finalmente vai distensionar e abrir um caminho. Os papéis estão definidos, o Itamaraty, o ministro da Indústria e Comércio (Geraldo Alckmin), todo mundo trabalhando para que possamos ter um horizonte.

Bolsonaro volta à mira do STF com retomada de investigações sobre interferência na PF

O preço da lealdade entre a governabilidade e o clientelismo no poder

Gleisi diz que devem permanecer os que apoiam o governo

Pedro do Coutto

Em entrevista concedida ao Globo, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que é “um fenômeno natural” permanecer no governo apenas aqueles que apoiam o projeto político em curso — em especial, a reeleição do presidente da República. A declaração, aparentemente pragmática, acende um debate antigo e incômodo sobre o equilíbrio entre fidelidade política e o princípio republicano de impessoalidade na administração pública.

Em outras palavras, até que ponto a lealdade pode ser usada como critério para manter cargos e funções dentro do Estado? Na prática, o que a ministra defende é a coerência de base: quem foi indicado por parlamentares aliados deve agir de forma alinhada ao governo, votando e se manifestando em favor das medidas do Executivo.

SEM SENTIDO – Caso contrário, a permanência desses indicados — especialmente em postos estratégicos, como diretorias de estatais e autarquias — perde sentido. Há uma lógica interna nesse argumento: governos democráticos dependem de maioria no Congresso para aprovar projetos e garantir estabilidade. No entanto, o discurso de Gleisi vai além do realismo político e se aproxima perigosamente da naturalização de uma prática que há décadas corrói o sistema brasileiro — a troca de cargos e favores por votos.

A história política do país é repleta de exemplos em que a lealdade pessoal ou partidária se sobrepôs à competência técnica. O fisiologismo, disfarçado sob o nome elegante de “governabilidade”, transformou-se em norma tácita. Cargos comissionados, nomeações estratégicas e verbas orçamentárias tornaram-se moedas de troca na construção de maiorias.

O problema não é novo, mas o que preocupa é a tentativa de apresentá-lo como “natural”, como se fosse inerente à política. O uso dessa palavra revela uma visão de poder que confunde o Estado com o projeto partidário e a lealdade política com virtude cívica.

AUMENTO DO TETO – A ministra cita como exemplo o recente aumento do teto de financiamento habitacional para a classe média, de até R$ 2,2 milhões — uma medida vista como estratégica para reforçar o apoio popular. Ao vincular políticas públicas à sustentação política, Gleisi traduz o dilema central dos governos de coalizão: a necessidade de equilibrar resultados de gestão com recompensas políticas.

Mas, ao mesmo tempo, expõe o risco de que políticas públicas sejam moldadas por conveniências eleitorais e não por critérios técnicos ou sociais. O afastamento de indicados por parlamentares que votaram contra o governo — inclusive em órgãos como a Caixa Econômica Federal e o INSS — ilustra essa estratégia de depuração interna.

Trata-se de uma forma de disciplinar a base, punindo a “infidelidade” e premiando a submissão. Em tese, o objetivo seria garantir coesão. Na prática, porém, o efeito colateral é a centralização do poder e o esvaziamento do debate democrático. O Estado se transforma em um instrumento de controle político, e não em uma estrutura de serviço público.

MÉRITO ADMINISTRATIVO –  Dizer que é “natural” demitir quem não vota com o governo é, no fundo, admitir que o mérito administrativo se subordina ao cálculo eleitoral. É aceitar que o Estado funcione como uma extensão do partido, e que a máquina pública sirva à sobrevivência política de quem está no poder.

A naturalização desse raciocínio é perigosa: ela legitima a substituição da técnica pela fidelidade, da competência pela conveniência. A política deixa de ser espaço de pluralidade e se transforma em um campo de obediência, onde a divergência é vista como traição.

Há, claro, uma dose de realismo na fala da ministra. Nenhum governo sobrevive sem base parlamentar sólida. Mas também é verdade que, ao transformar o apoio em moeda de permanência, o Executivo arrisca perder sua legitimidade institucional.

DESGASTE – O preço dessa “lealdade” é o desgaste dos princípios republicanos e a consolidação de uma cultura de dependência política que enfraquece o próprio Estado. Governabilidade não pode ser sinônimo de clientelismo, e coerência política não deve significar submissão cega.

O episódio expõe, mais uma vez, o dilema que assombra o presidencialismo brasileiro: como construir uma base de apoio sem sucumbir à lógica da barganha. É possível cobrar fidelidade política, mas não às custas da autonomia institucional. A democracia exige cooperação, não servidão. Um governo que precisa ameaçar para garantir apoio talvez precise, antes, repensar suas formas de diálogo e convencimento.

Rubio e Mauro Vieira reabrem diálogo e preparam encontro entre Trump e Lula

Rubio afirmou que a reunião foi “muito positiva” 

Deu no G1

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, afirmou ter tido uma reunião “muito positiva” com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira. O encontro aconteceu em Washington e durou pouco mais de uma hora.

Ainda segundo o comunicado, Rubio e Vieira concordaram em manter o diálogo e trabalhar para agendar um encontro presencial entre Trump e Lula “na primeira oportunidade possível”. A reunião ocorreu 10 dias após Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversarem por telefone.

QUESTÕES BILATERAIS – O encontro desta quinta-feira contou também com a presença do representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, e abordou temas ligados ao comércio e a questões bilaterais em andamento.

Mais cedo, em uma coletiva de imprensa, o chanceler Mauro Vieira disse que a reunião foi marcada por “uma atitude construtiva”. O chanceler disse ainda que a conversa com Rubio é o início de “um processo auspicioso” para a reversão do tarifaço.

“Durante todo o encontro, prevaleceu uma atitude construtiva, voltada aos pontos da retomada das negociações entre os dois países, em sintonia e com boa química, o que foi decidido, sobretudo, no telefonema recente entre os presidentes Lula e Trump”, afirmou o ministro.

SANÇÕES –  As relações entre Brasil e Estados Unidos entraram em forte crise em julho, quando Trump anunciou que iria impor tarifas de 50% a produtos brasileiros importados pelos americanos. Em carta a Lula, Trump afirmou que o Brasil adotava práticas desleais de comércio e promovia uma caça às bruxas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As tarifas entraram em vigor no início de agosto.

A mudança na relação entre os dois começou na Assembleia Geral da ONU, em 23 de setembro, após um breve encontro nos bastidores. No dia 6 de outubro, Lula e Trump conversaram por telefone. A ligação durou cerca de 30 minutos e abordou temas econômicos, incluindo o tarifaço.

ACORDOS –  Segundo o governo brasileiro, Lula pediu que Trump revisse as tarifas, além de reconsiderar sanções a autoridades brasileiras relacionadas ao julgamento de Bolsonaro. Mais tarde, no mesmo dia, Trump afirmou que pretende visitar o Brasil em breve. Ele chamou Lula de “bom homem” e disse que os dois devem fechar acordos comerciais.

“Nós nos conhecemos, gostamos um do outro e, sim, tivemos uma ótima conversa. Vamos começar a fazer negócios. (…) Em algum momento eu vou [para o Brasil], e ele [Lula] vai vir aqui… Nós conversamos sobre isso.”

NOTA NA ÍNTEGRA:

“Hoje, o Secretário de Estado Marco Rubio e o Representante de Comércio dos Estados Unidos Jamieson Greer se reuniram com o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e mantiveram conversas muito positivas sobre comércio e questões bilaterais em andamento.

O Secretário Rubio, o Embaixador Greer e o Ministro Mauro Vieira concordaram em colaborar e conduzir discussões em várias frentes no futuro imediato, além de estabelecer uma rota de trabalho conjunto.

Ambas as partes também concordaram em trabalhar conjuntamente pela realização de reunião entre o Presidente Trump e o Presidente Lula na primeira oportunidade possível.”

Delirante, Trump declara “guerra comercial” à China e vai se dar mal

A guerra comercial que Donald Trump abriu contra o mundo está baseada em  tarifas falsas que os demais países cobrariam dos Estados Unidos #charge  #cartum #cartoon #humor #política #humorpolitico #desenho #art #caricatura #

Charge do Clayton (O Povo)

Carlos Newton

É impressionante a irresponsabilidade com que Donald Trump conduz os destinos do mundo, sem uma avaliação do alcance de seus atos na presidência da maior potência global. Não há dúvida de que é positivo o cessar-fogo na Faixa de Gaza, mas representa apenas o início de uma negociação de paz que ninguém pode avaliar em que vai dar.

O problema é que a mídia internacional exagerou nos elogios a Trump, que é um líder egocêntrico e desprovido de convicção democrática, pois atua sempre sem avaliar os riscos de seus atos.

DELIRANTE – Embriagado pelo sucesso inicial do cessar-fogo, o presidente americano não mediu seus passos ególatras e agora resolveu declarar “guerra comercial” à China, voltando a defender o uso das tarifas como “ferramenta de defesa” do país. 

Com isso, interrompeu uma negociação diplomática que poderia ser altamente exitosa, porque desde maio o aumento das tarifas comerciais entre Estados Unidos e China estavam suspensos, após terem aplicados sobretaxas de mais de 100% um ao outro. 

Na semana passada, porém, Trump anunciou que daria fim à trégua, aplicando tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses a partir de 1º de novembro – antes era de 30%. Com isso, a taxação total contra Pequim passará a ser de 130%. 

MINERAIS ESTRATÉGICOS – Segundo Gustavo Boldrini, da agência Broadcast, a escalada se deu após a China anunciar medidas para restringir a exportação das chamadas terras raras, um grupo de elementos químicos essenciais para a fabricação de tecnologias avançadas, como chips de inteligência artificial, equipamentos militares e de energia. 

O governo da China decidiu que fornecedores estrangeiros precisam obter aprovação do país para exportar alguns produtos que utilizam materiais de terras raras originários do território chinês.

Bens produzidos com parte das tecnologias chinesas também estão sujeitos aos controles de exportação, e ambas as restrições se aplicam a produtos fabricados fora da China, diz o jornalista Gustavo Boldrini, acrescentando que a medida de Pequim passa a valer a partir de 1º de novembro.   

TERRAS RARAS – Note-se a importância estratégica dos minerais das terras raras, que motivam a guerra na Ucrânia e a cobiça por áreas em outros países.

A maior concentração de reservas das terras raras ocorre na China, seguida por Brasil e Índia.  Outros países com reservas significativas incluem a Austrália e o Vietnã. 

O governo de XI Jinping alega que precisa se proteger, porque países estrangeiros “estão obtendo ilegalmente tecnologias chinesas e as repassando a setores militares ou sensíveis”. 

DECISÃO IDIOTA – Em tradução simultânea, a guerra comercial declarada por Trump não é do interesse nem mesmo dos Estados Unidos.

O resultado pode ser um fortalecimento do grupo Brics, integrado por China, Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e Irã, entre outros países, além de uma aproximação da China e dos Brics com a União Europeia, também penalizada pelo tarifaço de Trump.

Tudo isso ocorre porque o presidente dos Estados Unidos nada tem de diplomata. Comporta-se ridiculamente como se fosse o dono do mundo, e seu segundo mandato pode ser um caos globalizado.

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P.S.
E o pior é que Trump já está pensando num terceiro mandato, cuja possibilidade será decidida pela Suprema Corte, de maioria republicana, que Deus tenha piedade de nós. (C.N.)

Lula busca consenso com Alcolumbre antes de bater o martelo sobre vaga no Supremo

Reunião com Alcolumbre deve ocorrer até esta sexta-feira

Gioconda Brasil
G1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua as consultas para fechar a indicação dele para a vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal (STF), aberta com a aposentadoria antecipada de Luiz Roberto Barroso.

Depois de ouvir ao longo dessa semana ministros do STF, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e integrantes do PT, Lula vai conversar com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). A reunião com Alcolumbre deve ocorrer até a manhã desta sexta-feira (17)

FORTE ALIADO – O presidente do Senado trabalha para emplacar o nome do senador Rodrigo Pacheco, do PSD, na vaga de Barroso. Pacheco é um forte aliado de Davi Alcolumbre e, segundo parlamentares que acompanham as articulações, é o único que tem garantia de aprovação no plenário da Casa.

O advogado-geral da União, Jorge Messias, nome de confiança de Lula, também é cotado para a vaga. Conta a seu favor o fato de ser evangélico, o que poderia dar força para o governo nesse segmento da população, que tende mais à ala conservadora da política.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGOutra Piada do Ano… Lula se consultar com Davi Alcolumbre é o fim da picada. Alcolumbre representa a ligação entre o narcotráfico e a política, pois em seu Estado, o Amapá, um irmão do senador atua nesse estratégico segmento empresarial, com avião e tudo o mais. (C.N.)

Piada do Ano! Moraes aciona Defensoria para processar Eduardo Bolsonaro

Eduardo foi notificado por edital sobre acusação da PGR

Márcio Falcão
G1

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), intimou nesta quinta-feira (16) a Defensoria Pública da União (DPU) a apresentar a defesa prévia do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na acusação sobre coação no curso do processo.

No mês passado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou denúncia contra Eduardo e o youtuber Paulo Figueiredo por coação em processo judicial. O caso é sobre a atuação de Eduardo para atrapalhar o processo sobre golpe de Estado, em que o pai dele, o ex-presidente Jair Bolsonaro, foi condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses de prisão.

SANÇÕES E TARIFAS – Para a PGR, Eduardo buscou junto ao governo Donald Trump, dos Estados Unidos, levantar sanções e tarifas ao Brasil e a autoridades do Judiciário como represália ao julgamento.

Como filho de Jair Bolsonaro está nos Estados Unidos, Moraes determinou a notificação de Eduardo por edital, para que ele apresentasse resposta à denúncia apresentada pela PGR. Na ocasião, o ministro afirmou que o parlamentar está fora do país para escapar da lei penal brasileira.

DEFESA PRÉVIA – Apesar da notificação via edital, Eduardo Bolsonaro não apresentou defesa prévia. Por isso, conforme a lei, Moraes intimou a DPU para apresentar a defesa em nome do parlamentar. O prazo para a resposta da defensoria é de 15 dias úteis.

Com a apresentação da resposta, o ministro do STF poderá dar andamento ao caso e a Corte poderá decidir se aceita a denúncia contra Eduardo Bolsonaro, tornando-o réu por coação no curso do processo judicial, ou se arquiva o caso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGAtrapalhar um processo que corre a sete chaves no Supremo só pode ser Piada do Ano. Aliás, o que mais atrapalha os processos no STF é a presença nefasta do ministro Alexandre de Moraes, que sustenta acusações mesmo sabendo que são falsas, como ocorreu no caso de Felipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro. (C.N.)

A saída é mendigar espiritualidade ridícula feita para consumo rápido

Pintura abstrata com formas onduladas e angulares em tons de vermelho e laranja sobre um fundo azul. As formas se entrelaçam e criam um padrão dinâmico e fluido, com destaque para uma linha curva azul clara que atravessa o centro da imagem.

Ilustração de Ricardo Cammarotta (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Uma das melhores formas, talvez, de dizer o que é o desencantamento do mundo descrito pelo sociólogo Max Weber, seja dizer que se trata de uma solidão cósmica monstruosa.

Somos uma espécie que construiu, de forma inconsciente, ao longo de milênios, toda uma rede de significados atravessados pelo mistério, por abismos, desertos assustadores e montanhas, por espíritos e deuses, e nós, modernos, os matamos todos. Resta-nos um cemitério ruidoso, mas fantasiado de progresso tecnológico. Resta-nos mendigar formas ridículas de espiritualidade produzida para consumo.

COM OS MORTOS – O livro do jornalista Kaíke Nanne “Como Dançar com os Mortos: Uma Jornada por Cinco Continentes em Busca da Sabedoria Ancestral”, da Maquinaria Editorial, é uma pérola em meio a tanto conteúdo risível e barulhento que nos cerca.

Seguindo o psiquiatra Carl Gustav Jung, aliás, citado pelo autor, poderíamos dizer que, tendo nós modernos destruído essa malha de significados misteriosos, espirituais e cotidianos, restaram-nos a neurose e a psicose como leito da alma.

Desde a grande racionalização moderna —Weber e Jung trataram disso—, restou-nos a solidão de uma espécie que agora fala sozinha, avançando no seu delírio, achando que é dona do cosmo.

SEM ANCESTRALIDADE – Seja para destruí-lo com a ganância do dinheiro, seja para salvá-lo com a arrogância risível do seu ego, em ambos os casos, o animal é o mesmo, o sapiens dilacerado pela perda de sua ancestralidade. Se a espécie sempre foi “borderline”, agora ela é plenamente psicótica —digo eu, não o autor.

Kaíke Nanne, no epílogo, tenta responder uma pergunta essencial e clássica em estudos das religiões: como pode ser que grupos étnicos distantes, espalhados pelos cinco continentes, tenham narrativas míticas tão semelhantes?

Ninguém tem a resposta definitiva, de Jung ao filósofo Gilbert Durand, do historiador Mircea Eliade ao especialista em mitologia Joseph Campbell.

HUMANIDADE COMUM – O conceito de “humanidade comum”, utilizado por arqueólogos como Brian Hayden e Sophie A. De Baune, estabelece que essa humanidade contínua nos liga desde, no mínimo, o paleolítico superior, cerca de 80 mil anos atrás — os números em pré-história são imprecisos, claro — até os dias atuais. ]

Essa “humanidade comum” se reflete em muitas das populações visitadas pelo autor. Algumas delas, presumidamente, vivendo onde vivem, há 30 mil ou 10 mil anos.

Os grupos étnicos visitados habitam várias regiões do mundo, como o alto do Himalaia, onde o ar rarefeito, disperso por vários caminhos, aplaca “o murmúrio interno da mente ansiosa”. Ou o povo amazônico pemon, com sua divindade Makunaíma, inspiração de Mário de Andrade.

OUTROS POVOS – Já os povos do vale do Omo na Etiópia têm ancestralidade que mescla ritos do cristianismo primitivo com judaísmo e se veem como descentes do rei Salomão bíblico e da rainha de Sabá, tudo isso funcionando como uma forma de resistência ao desgaste do tempo histórico.

Os dogons da África ocidental, “o povo das estrelas”, conhecedores de rara astronomia, e seus oráculos da montanha vermelha. Etnias de Madagascar que dançam com seus mortos desenterrados anos depois da morte, mas mumificados entre outros casos.

O POVO ELEITO – As ansiedades humanas se repetem. O cuidado com os ancestrais para que não se transformem em espíritos malignos que destruirão a colheita. Um deus criador que se afasta e abandona sua criação. Cada um desses povos se vê como o “povo eleito” do seu mito étnico e o primeiro a ser criado.

Algum ato catastrófico impõe os sofrimentos da imanência, que deverão ser enfrentados com determinação e com a ajuda, ganha através de sacrifícios e danças, de espíritos intermediários.

A atribuição de uma alma ancestral —o conhecido animismo— a todos os seres existentes, orgânicos e inorgânicos. Animais sagrados. Divisões marcantes de funções segundo os dois sexos, masculino e feminino. Um povo que festeja por sete anos consecutivos, cada dia desses anos, por causa de uma estrela que aparece com essa periodicidade, portanto, os astros “se comunicam” com eles. Deuses dançarinos como imaginou Nietzsche, só que milhares de anos antes dele.

DISCURSO BOBO – Nada disso implica um discurso bobo de “retorno” aos nossos ancestrais. Não temos ancestrais. Espíritos, só aqueles do ouija. A matriz da nossa espiritualidade é a Disney.

Se olharmos de cima nossa civilização, com todo nosso vai e vem frenético diário, talvez fôssemos percebidos como um povo que dança sozinho no cosmo. O universo não nos responde e, se o fizer, será na chave de um surto psicótico desencantado e ridículo.

Traído de novo, Planalto ensaia o fim do relacionamento aberto com o Centrão

Ilustração de Takeshi Gondo (ohoje.com)

Bernardo Mello Franco
O Globo

O Planalto avisou: vai punir deputados que controlam cargos, mas votam contra o governo. As demissões começaram na sexta passada. Miram indicados do Centrão em ministérios, autarquias e bancos federais.

Ao justificar as degolas, a ministra Gleisi Hoffmann disse que “quem quer ficar no governo tem que votar com o governo”. Ela comparou os aliados infiéis a visitantes que “vivem na sua casa, comem da sua comida, mas não são leais com você”.

METÁFORA – O ministro Celso Sabino preferiu recorrer a uma metáfora conjugal. “Não dá pra ser casado e levar vida de solteiro”, resumiu. Desde o início do terceiro mandato de Lula, Planalto e Centrão vivem um relacionamento aberto. Deputados fingem que apoiam o governo, e o governo finge que acredita no apoio. Enquanto a eleição não chega, os infiéis se lambuzam na máquina federal.

O caso do ministro do Turismo ajuda a ilustrar a barafunda. Filiado ao União Brasil, ele nunca evitou que a maioria dos correligionários votasse com a oposição. Agora resiste a uma ordem partidária para deixar o governo.

Sabino chegou a entregar uma carta de demissão, mas alegou ter mudado de ideia após uma conversa com o presidente. Ao anunciar o recuo, fez um pastiche da fala de Dom Pedro no Dia do Fico. Disse que permaneceria pelo bem do turismo e pela felicidade do povo do Pará.

NEGOCIAÇÕES –  O imperador se espantaria com a falta de cerimônia das autoridades republicanas. Ao vincular as demissões à derrubada de uma Medida Provisória, a ministra das Relações Institucionais escancarou o fisiologismo que pauta as negociações do governo com o Congresso. Gleisi deixou claro que a partilha de cargos federais obedece à lógica do “toma lá, dá cá”. Não há novidade nisso, mas os organizadores da farra já foram mais discretos.

Sem base parlamentar estável, o Planalto agora tenta dosar a extensão da degola. O desafio é evitar que as dispensas virem pretexto para novas traições na Câmara. O risco é deixar que ameaças de punição caiam em descrédito.

Até aqui, não houve disposição para cortar cabeças coroadas. A guilhotina só alcançou ocupantes de cargos de segundo e terceiro escalão.

PT condena plano militar de Trump e alerta para nova era de ingerência dos EUA na Venezuela

Partido disse que ações violam a soberania venezuelana

Deu no O Globo

O Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou nota nesta quinta-feira condenando as declarações do presidente dos Estados Unidos Donald Trump sobre a Venezuela, que afirmou considerar expandir as operações militares no Caribe para incluir ataques terrestres na Venezuela e também revelou ter autorizado a Agência Central de Inteligência (CIA) a conduzir ações secretas na Venezuela, intensificando uma campanha contra Nicolás Maduro, o líder do país.

A legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou como uma ” afronta à soberania do país sul-americano” e as chamou de inaceitáveis e deploráveis.

AFRONTA À SOBERANIA – “As declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em que autoriza operações secretas da CIA no território da Venezuela, são uma afronta à soberania do país sul-americano e uma violação do Direito Internacional. É uma iniciativa inaceitável e deplorável. Soma- se a isso o cerco militar que vem sendo praticado contra o povo venezuelano, com execuções sumárias de vidas humanas por forças militares norte-americanas. Trata-se de uma prática inadmissível, sem base legal e sem qualquer processo investigativo. (….) Essas ações antidemocráticas deixaram marcas de ingerências, ilegalidades, golpes, repressão e ditaduras sangrentas no subcontinente”, diz trecho do comunicado.

O partido condenou ainda os ataques: “O Partido dos Trabalhadores condena com veemência mais um ataque dos EUA à soberania da Venezuela. Somos defensores do Direito Internacional e dos princípios da não ingerência e da autodeterminação dos povos em qualquer parte do mundo”, finaliza o texto

Desde agosto, o governo americano envia navios de guerra ao Caribe para operações de combate ao tráfico de drogas, segundo Washington, enquanto acusa Maduro de liderar redes de narcotráfico. Pelo menos cinco pequenas embarcações foram bombardeadas desde então, deixando 27 mortos, o que Caracas chama de “execuções extrajudiciais”.

ATAQUES – “Certamente estamos pensando em terra agora, porque temos o mar sob controle”, disse Trump no Salão Oval nesta quarta-feira, quando perguntado por repórteres sobre a possibilidade de ataques terrestres. Sobre usar a Guarda Costeira em vez de lançar os ataques, Trump completou dizendo que “nunca funcionou quando feito de uma maneira politicamente correta”.

Em evento do Conselho Nacional pela Soberania e Paz, comissão criada depois que Washington passou a enviar navios de guerra ao Caribe, Maduro afirmou que não haverá mudança de regime na Venezuela, “como aconteceu no Afeganistão e na Líbia, nem golpe de estado, como a CIA promoveu no Chile ou na Argentina”.

“Não aos golpes de Estado dados pela CIA, que tanto nos lembram os 30 mil desaparecidos pela CIA nos golpes de Estado contra a Argentina (…) Até quando golpes de Estado da CIA? A América Latina não os quer, não os necessita e os repudia”, disse o líder esquerdista.

Base de Lula blinda Frei Chico e barra avanço da CPI do INSS sobre aliados do governo

Frei Chico é vice-presidente do Sindnapi

Eduardo Gonçalves
e Gabriel Sabóia
O Globo

Com a articulação da base do governo, a CPI do INSS rejeitou na sessão desta quinta-feira um requerimento de convocação para o depoimento de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Frei Chico é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados da Força Sindical (Sindnapi), cujos endereços foram alvos de mandados de busca e apreensão na Operação Sem Desconto, que investiga um esquema bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Diferente de outros dirigentes do Sindnapi, Frei Chico não é citado no inquérito. O pedido foi derrubado por 19 votos a 11.

IRREGULARIDADES – “O Frei Chico ingressou nesse sindicato em 2024. A Polícia Federal diz que essas irregularidades iniciaram em 2019 durante o governo Bolsonaro. Ele jamais teve qualquer função administrativa e financeira, não tem vínculo econômico com esse sindicato. Ele não foi citado na investigação da Polícia e CGU (Controladoria Geral da União)”, afirmou o líder do governo na CPI deputado Paulo Pimenta (PT-RS). A oposição afirmou

Com os mesmos votos dos governistas, a CPI também rejeitou as quebras de sigilo da publicitária Danielle Miranda Fonteles e da sua empresa. Ela recebeu R$ 5 milhões do lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “careca do INSS”, entre novembro de 2023 e março de 2025

De acordo com as defesas de Antunes e Fonteles, o pagamento foi feito para a compra de um imóvel em Trancoso (BA) em uma negociação que acabou não se concretizando. O caso foi revelado pela revista “Veja” e confirmado pelo GLOBO. Danielle já prestou serviços a campanhas eleitorais do PT, como a eleição da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2010.

QUEBRA DE SIGILO – A comissão, por outro lado, aprovou a quebra do sigilo bancário do advogado Eli Cohen no período de janeiro de 2015 a outubro de 2025. O advogado foi o autor das primeiras denúncias contra três associações implicadas no caso. Em depoimento à CPMI no início de setembro, ele detalhou como funcionava o esquema e lançou suspeitas contra dirigentes do INSS.

“Esse crime não poderia ter sido realizado se você não tivesse no seu bolso o presidente do INSS, todo o Departamento de Benefícios do INSS e, na minha opinião um ministro da Previdência”,  afirmou Cohen, na ocasião.

Antes do início da sessão, os parlamentares da base e oposição entraram em acordo para retirar os requerimentos de quebras de sigilo fiscal e telemático do ex-ministro da Previdência Social Carlos Lupi. Os pedidos incluiam o e-mail institucional do INSS e celular pessoal de Lupi, mas não foram levados à votação.

DEPOIMENTO –  Nesta quinta-feira, a CPI vai ouvir o assessor Cícero Marcelino de Souza Santos, da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), outra associação envolvida no escândalo.

Ele é investigado por receber transferências atípicas da entidade, segundo relatórios de inteligência financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A Conafer recebeu um repasse de R$ 13 milhões em 7 de junho de 2023. No mesmo dia, a associação fez pagamentos de cerca de R$ 900 mil a uma diversas empresas – entre elas havia companhias que tinham sócio Souza Santos ou a sua esposa como sócios.

Em notas divulgadas à imprensa, a Conafer sempre negou irregularidades e afirmou que as traferências faziam parte do “fluxo normal de suas obrigações contratuais”.

Uma sábia lição de vida, na poesia romântica de Clarice Lispector

15 frases de Clarice Lispector sobre a vida e os sentimentosPaulo Peres
Poemas & Canções

A escritora, jornalista e poeta Clarice Lispector (1920/1977), nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, sustenta que “O Sonho” é para ser praticado durante a vida, juntamente com muita felicidade.

O SONHO
Clarice Lispector

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.

De mártir a incômodo: o sumiço de Bolsonaro na diplomacia trumpista

Trump condiciona ajuda financeira à Argentina e reacende tutela americana

Declaração deTrump gerou desconforto nos mercados

Pedro do Coutto

O presidente Donald Trump deu um passo arriscado no tabuleiro da geopolítica ao condicionar o apoio financeiro dos Estados Unidos à Argentina ao sucesso eleitoral de Javier Milei nas próximas eleições parlamentares. A declaração, feita em tom de ultimato, rompeu o código tácito da diplomacia moderna, segundo o qual a ajuda internacional não deve estar sujeita à conveniência política ou à permanência de um aliado no poder.

Trump afirmou que manterá o suporte “se ele vencer; se não vencer, estamos fora” — frase que transformou o gesto de cooperação em ameaça aberta de intervenção. O episódio ocorre num momento em que a Argentina tenta estabilizar uma economia exaurida por décadas de inflação, dívida e desequilíbrio fiscal.

REFORÇO – A Casa Branca havia aprovado uma linha de apoio cambial de cerca de US$ 20 bilhões para reforçar as reservas do Banco Central argentino e conter a escalada do dólar paralelo. O pacote foi interpretado como um sinal de confiança no plano econômico de Milei, que vem promovendo uma agenda de liberalização radical, com corte de subsídios, privatizações e promessa de dolarizar a economia.

O gesto de Trump parecia, até então, um aceno pragmático a um governo ideologicamente alinhado ao seu próprio discurso de austeridade e soberania nacional. Mas a condicionalidade eleitoral muda completamente o sentido da política externa americana.

Vincular ajuda econômica ao desempenho de um governo nas urnas é transformar a cooperação em chantagem. A Argentina, que busca reconstruir credibilidade diante de credores e organismos multilaterais, passa a enfrentar o dilema de depender de um apoio condicionado ao humor político da Casa Branca.

DESCONFORTO – Analistas destacam que a fala de Trump gerou desconforto tanto entre diplomatas quanto nos mercados: a incerteza sobre a continuidade do socorro financeiro fez o peso oscilar e reacendeu a memória traumática de crises passadas.

A postura de Trump revela três camadas de cálculo. A primeira é ideológica: Milei representa, na América Latina, o espelho mais fiel do projeto trumpista — um populismo liberal, avesso ao Estado e ancorado no discurso antissistema.

A segunda é geopolítica: ao consolidar um aliado estratégico em Buenos Aires, os Estados Unidos buscam conter a influência crescente da China e da Rússia na região, reforçando um cinturão conservador em torno de governos de direita na América do Sul.

CAPITAL POLÍTICO – A terceira é doméstica: Trump, em campanha para manter o capital político dentro e fora do país, usa a cena internacional como palco para reafirmar sua autoridade e testar a força de sua retórica de “América dominante”.

Na Argentina, a reação foi imediata. Partidos da oposição classificaram a fala como uma “ingerência inadmissível”, enquanto aliados de Milei tentaram amenizar o tom, alegando que o apoio americano é “estratégico e permanente”. A verdade é que, ao atrelar ajuda a resultados eleitorais, Trump colocou o próprio governo argentino em posição delicada: se vencer, será visto como beneficiário de tutela externa; se perder, como vítima de sabotagem internacional. Em ambos os casos, a soberania argentina sai arranhada.

Historicamente, a América Latina tem sido campo fértil para experiências desse tipo. Durante a Guerra Fria, Washington condicionava empréstimos, armas e infraestrutura ao alinhamento político.

DÚVIDAS – Hoje, o método é mais sofisticado — e, paradoxalmente, mais explícito. A declaração de Trump não apenas reabre velhas feridas sobre dependência e autonomia, mas também lança dúvidas sobre a própria natureza da política externa americana sob seu comando.

O episódio deixa uma lição amarga: quando o poder econômico se transforma em instrumento de pressão política, a cooperação cede lugar à submissão. Ao agir como um banqueiro de eleições, Trump ameaça corroer não apenas a estabilidade de um vizinho estratégico, mas também a credibilidade dos Estados Unidos como líder democrático.

A soberania, em qualquer latitude, não se negocia em troca de dólares. E a democracia, por mais frágil que seja, não pode ser tratada como moeda de apoio eleitoral.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGObservem que Trump não é um político-estadista. Pelo contrário, é um político-empresário e quer ter levar vantagem em tudo. (C.N.)

Ex-marqueteiro de Bolsonaro critica Eduardo e vê direita enfraquecida

Duda Lima diz que atuação de Eduardo têm efeito prejudicial

Thiago Prado
O Globo

Estrategista da campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022, o marqueteiro Duda Lima acredita que a direita está errando ao focar em temas como a anistia ao invés de tratar do governo Lula. Em entrevista ao e-book “Quem será o próximo presidente?”, lançado na última semana pelo O Globo, Duda Lima avalia que Bolsonaro só perdeu a eleição para Lula por causa de eventos circunstanciais como a cena do ex-deputado Roberto Jefferson atacando policiais federais com granadas a uma semana do segundo turno.

Ele ainda avalia que as sanções anunciadas por Donald Trump e toda a atuação de Eduardo Bolsonaro no exterior têm o efeito de uma nova granada no pé da oposição a um ano da corrida ao Planalto.

CONFUSÃO – “A direita errou demais. ‘Ah, se não tiver mais anistia, vai ter tarifaço’. Eu não concordo com isso. Por acaso o povo vai pagar essa conta? Tem gente na direita achando que é isso mesmo, o que confunde as pessoas. Elas se perguntam: ‘Então eu defendo o Donald Trump ou ataco?’. Fica uma confusão generalizada. A direita acabou se perdendo em um momento em que o governo é que estava perdido”, afirma Duda.

O marqueteiro, que conseguiu fazer o PL entender a importância de atacar a ineficiência do governo no combate à inflação no primeiro semestre, havia planejado os últimos seis meses do ano com a direita focando em outro tema: os desvios no INSS e o prejuízo causado a milhões de aposentados pelas fraudes. Agora, afirma que a direita parou de apontar os erros do governo:

“Não se fala mais dos problemas do governo. Quanto mais temas como o julgamento do Bolsonaro ou anistia se estenderem, pior para a oposição. Quem queria que o ex-presidente fosse condenado, já sabe em quem vai votar. Quem não queria, também. Há uma coluna do meio que deveria estar sendo impactada com os erros e acertos do governo. Se continuarmos nesses temas apenas, lá na frente não estaremos mais debatendo se o terceiro mandato do Lula foi bom ou ruim”, avalia Duda.

ENTREVISTADOS – O e-book ‘Quem será o próximo presidente’ apresenta 12 entrevistas com os maiores estrategistas políticos e donos de institutos de pesquisa do Brasil. Entre os entrevistados estão os protagonistas das últimas eleições presidenciais: os dois marqueteiros do PT nas últimas cinco disputas — João Santana (2006, 2010 e 2014) e Sidônio Palmeira (2018 e 2022); e os estrategistas que estiveram ao lado de Bolsonaro nas vezes em que concorreu — Marcos Carvalho (2018) e Duda Lima (2022).

Além disso, foram ouvidos profissionais vitoriosos em campanhas estaduais e municipais recentes: Pablo Nobel (Tarcísio de Freitas, em São Paulo), Paulo Vasconcelos (Cláudio Castro, no Rio); Renato Pereira (Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, no Rio); Marcelo Faulhaber (Eduardo Paes e Marcelo Crivella, no Rio). Completam o trabalho o marqueteiro Chico Mendez, responsável pela comunicação de Hugo Motta, o atual presidente da Câmara dos Deputados; e três donos de institutos de pesquisa (Felipe Nunes, da Quaest, Maurício Moura, do Ideia, e Renato Meirelles, do Locomotiva).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO esforço da Organização Globo para eleger Lula da Silva chega a ser comovente. Os irmãos Marinho aprenderam com o pai a apoiar todo governo. Ou seja, o que interessa é agradar quem tenha a chave do cofre. (C.N.)

Caso das joias sauditas de Bolsonaro segue sem decisão da Procuradoria após 15 meses

Charge do Guto Camargo (Arquivo do Google)

Malu Gaspar
O Globo

Um ano e três meses depois de a Polícia Federal indiciar o ex-presidente Jair Bolsonaro por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro no caso das joias sauditas, o caso continua à espera de uma decisão do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre se o ex-presidente deve ou não ser denunciado. Enquanto a PGR trava o caso das joias, o Supremo Tribunal Federal(STF) iniciou nesta terça-feira o julgamento do chamado núcleo de desinformação da trama golpista.

A apuração diz respeito à apropriação indevida de joias dadas de presente por autoridades estrangeiras a Bolsonaro ao longo de seu governo. Além do ex-presidente, foram indiciados pela PF o tenente-coronel Mauro Cid e outras dez pessoas por envolvimento num suposto esquema de desvio de joias do acervo presidencial. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que entrou na mira da apuração, acabou não sendo indiciada.

INTERESSES PRIVADOS – Em áudios obtidos pela Polícia Federal, o ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) da Presidência da República Marcelo Vieira disse que cuidava dos presentes de Bolsonaro de acordo com os interesses privados do chefe do Executivo.

O indiciamento aconteceu em julho de 2024, mas para que o caso seja avaliado pelo Supremo, Gonet precisa opinar se os indiciados pela PF devem ou não ser transformados em réus. Na ocasião, a PGR indicou que não tomaria nenhuma decisão para não deixar que o caso virasse instrumento de narrativas políticas durante as eleições de 2024.

Agora, a explicação de interlocutores de Gonet para a demora é que ele “se perdeu no meio das urgências”, como o caso da trama golpista, e ainda não conseguiu dar a devida atenção ao processo das joias – nem deu sinais do que pretende, de fato, fazer. “A ilicitude nesse caso é evidente”, disse um integrante da cúpula da PGR ouvido em caráter reservado, mas sem antecipar a posição de Gonet.

CAUTELA – Em conversas privadas, Gonet costuma dizer que pretende manter as investigações fora da “contaminação eleitoral”, ou seja, evita apresentar denúncias no período eleitoral justamente para afastar o risco de uso político das investigações. Mas sua demora para decidir o futuro do caso das joias pode empurrar o desfecho do caso para o ano que vem – que é novamente ano eleitoral.

O procurador-geral foi reconduzido pelo presidente Lula em agosto, mas ainda depende de aprovação do Senado para se manter no cargo por mais dois anos – o atual mandato se encerra em dezembro.

BRECHA JURÍDICA –  Uma brecha jurídica aberta pelo Tribunal de Contas da União (TCU) um mês depois de a PF indiciar Bolsonaro no caso das joias pode ajudar o ex-presidente. A manobra ocorreu na análise de um processo que não tratava de Bolsonaro, e sim de um relógio Cartier de R$ 60 mil recebido pelo presidente Lula em seu primeiro mandato, em 2005 – mas o entendimento firmado beneficiou ambos.

Capitaneado pela ala bolsonarista do TCU, os ministros decidiram que, até o Congresso editar uma lei específica sobre o tema, qualquer ex-presidente da República pode ficar com os presentes, independentemente do valor. Essa é justamente a principal tese jurídica da defesa de Bolsonaro para se livrar de uma denúncia no caso das joias.

A decisão do TCU dinamitou um entendimento de 2016 do próprio tribunal que estabelecia que apenas itens “personalíssimos”, de uso pessoal e baixo valor, poderiam ser incorporados ao patrimônio particular dos presidentes.

PATRIMÔNIO PÚBLICO – No relatório de 476 páginas de indiciamento de Bolsonaro, a PF mencionou 26 vezes o acórdão do TCU que dizia que presentes de luxo deveriam ser incorporados ao patrimônio público – como referência legal para o tratamento dos itens recebidos por presidentes da República.

Para a PF, no entanto, a decisão do TCU não interfere na investigação de Bolsonaro, porque ela vai além de “questões meramente administrativas” e envolve “diversas condutas além do recebimento das joias, tais como a omissão de dados, informações, ocultação de movimentação de bens e advocacia administrativa”.

DISTENSIONAMENTO –  Aliados de Bolsonaro já fizeram chegar a integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) que ainda esperam um “sinal de pacificação” da Corte para tentar distensionar o clima. Em conversas reservadas, interlocutores do clã Bolsonaro tentam convencer integrantes do Supremo a trabalhar pelo arquivamento de alguns inquéritos, como o das fake news e o das joias sauditas, numa indicação de que não há perseguição contra eles.

O ministro Alexandre de Moraes já atendeu a um outro pedido da PGR e determinou em março deste ano o arquivamento das investigações contra o ex-presidente por fraudes em carteira de vacinação contra a Covid-19.

A investigação, que levou à prisão do ex-ajudante de ordens Mauro Cid em maio de 2023, era considerada a mais frágil contra o ex-ocupante do Palácio do Planalto, tanto pelo entorno bolsonarista quanto pela cúpula da PGR. Em setembro, por outro lado, a Primeira Turma do Supremo condenou Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão no julgamento do chamado “núcleo crucial” da trama golpista.

Gleisi endurece com Centrão e exige fidelidade a Lula até 2026 em troca de cargos