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Lula pede a Trump para revogar tarifaço e sanções
Ivan Martínez-Vargas
Jeniffer Gularte e
Eliane Oliveira
O Globo
O Palácio do Planalto afirmou nesta segunda-feira que o presidente Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, relembraram, na reunião virtual que tiveram nesta manhã, a “boa química” entre ambos durante a Assembleia Geral da ONU há duas semanas. Segundo o Planalto, os dois líderes combinaram um encontro pessoal, que pode ocorrer na Malásia, na cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Lula deve viajar a Kuala Lumpur no dia 24 de outubro.
A ligação com Trump foi feita por videoconferência e ocorreu 13 dias depois do encontro de Lula com o republicano na Assembleia Geral da ONU, no qual o chefe de Estado americano afirmou que uma reunião com o brasileiro aconteceria.
REUNIÃO – A conversa foi acertada no fim de semana entre assessores de Lula e Trump. O presidente brasileiro se reuniu com ministros no Palácio da Alvorada, como os titulares da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, também participou, assim como o chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira.
“O presidente Lula descreveu o contato como uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente. Recordou que o Brasil é um dos três países do G20 com quem os Estados Unidos mantêm superávit na balança de bens e serviços”, diz a nota divulgada pelo Palácio do Planalto.
O texto diz ainda que Lula pediu o fim do tarifaço “e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras”, em alusão aos vistos cassados e à inclusão do ministro Alexandre de Moraes e de sua esposa no rol de sancionados pela Lei Magnitsky.
ENCONTRO PRESENCIAL – A reunião virtual abre caminho para um possível encontro presencial em território neutro, a Malásia, no fim do mês, à margem da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Auxiliares de Lula insistiram que o primeiro contato ocorresse de forma virtual, em um ambiente controlado, antes de uma aproximação face a face.
Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad. “Ambos os líderes acordaram encontrar-se pessoalmente em breve. O presidente Lula aventou a possibilidade de encontro na Cúpula da Asean, na Malásia; reiterou convite a Trump para participar da COP30, em Belém (PA); e também se dispôs a viajar aos Estados Unidos”, diz a nota.
ELOGIO – Da tribuna da ONU, em 23 de setembro, o chefe de Estado americano elogiou Lula — a quem chamou “um cara muito legal” — e disse ter combinado uma reunião para debater a relação bilateral. Foi o primeiro gesto de Trump sinalizando uma negociação, mais de dois meses depois de anunciar um tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros alegando, entre outros fatores, que o Judiciário brasileiro promovia uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na ONU, o presidente americano introduziu o assunto ao criticar o cerceamento da “liberdade de expressão” em plataformas digitais. Trump também associou a taxação ao Brasil “aos seus esforços sem precedentes para interferir nos direitos e liberdades dos nossos cidadãos americanos e de outros, com censura, repressão, armamento, corrupção judicial e perseguição de críticos políticos nos Estados Unidos”.
ACENO – Depois, citou um encontro rápido com Lula na sede da organização, em Nova York, e fez um aceno. “Eu estava entrando (para discursar) e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu e nos abraçamos”, afirmou Trump.”Combinamos que vamos nos encontrar na próxima semana. Não tivemos muito tempo para conversar, uns 20 segundos. Em retrospecto, que bom que eu esperei, porque isso não tem funcionado bem (o diálogo com Lula), mas conversamos”.
O presidente americano foi além e relatou ter acontecido “uma química” entre os dois. “Ele parecia um cara muito legal. Na verdade, ele gostou de mim, eu gostei dele. Eu só faço negócios com pessoas de quem eu gosto. Quando eu não gosto, eu não gosto. Tivemos ao menos 39 segundos de uma química excelente”, acrescentou Trump.
No dia seguinte à fala de Trump, Lula disse que ficou surpreso com o discurso do americano:
“Eu fiquei feliz quando Trump disse que pintou uma química boa entre nós. “Eu fui surpreendido porque eu tinha acabado o meu discurso, eu já estava saindo, ia pegar minhas papeletas e ir embora, quando o Trump veio para o meu lado, sabe? Com uma cara muito simpática, muito agradável, sabe? E eu acho que pintou uma química mesmo”.
TENSÕES – A ligação desta manhã ocorre em meio a tensões recentes no relacionamento bilateral, especialmente após o anúncio, por parte dos Estados Unidos, de tarifas punitivas sobre produtos brasileiros — medida que foi recebida com críticas pelo governo brasileiro, que passou a enfatizar princípios de soberania e reciprocidade.
O governo de Lula enxerga na conversa uma oportunidade de reorientar o canal diplomático e, ao mesmo tempo, reafirmar que o Brasil não aceitará imposições unilaterais ou medidas que violem sua autonomia.
CONDICIONAMENTO – Desde julho deste ano, Trump passou a condicionar uma negociação comercial com o Brasil ao arquivamento do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Sanções foram aplicadas contra cidadãos brasileiros, entre os quais o ministro do STF, Alexandre de Moraes, e sua mulher, a advogada Viviane Barci de Moraes.
A expectativa é que, com a abertura de diálogo entre os dois presidentes, seja possível negociar o fim do tarifaço contra o Brasil. Está em vigor uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros como máquinas e equipamentos, calçados, carnes de frutas.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Muito sigilo, muita expectativa, mas poucos resultados. Lula fez vários pedidos, Trump não atendeu a nenhum deles. E o pior foi que manteve as negociações através do secretário de Estado Marco Rubio, descendente de cubanos refugiados e que não aceita o apoio do Brasil aos ditadores castristas. Em resumo, nada de novo no front ocidental. (C.N.)