Crise interna força Câmara a punir bolsonaristas por invasão da Mesa Diretora

Conselho de Ética abre processos contra deputados por motim

Luísa Marzullo e
Camila Turtelli
O Globo

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados abriu nesta semana processos disciplinares contra três parlamentares da oposição bolsonarista, todos relacionados ao motim que paralisou o plenário em agosto, em protesto contra a prisão de Jair Bolsonaro.

Os alvos são Marcos Pollon (PL-MS), Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Zé Trovão (PL-SC). Após a instauração dos processos, o presidente do colegiado, Fábio Schiochet (União-PR), iniciou o sorteio das listas tríplices que servirão de base para a escolha dos relatores. A definição final deve ocorrer até sexta-feira.

ENDURECIMENTO TARDIO – A decisão de abrir os procedimentos por quebra de decoro marca um endurecimento tardio do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). No auge da crise, Motta havia optado por remeter os episódios apenas à Corregedoria — movimento que, nos bastidores, foi criticado por líderes partidários que cobravam uma resposta mais firme da direção da Casa.

O parecer da Corregedoria diferenciou o grau de envolvimento de cada deputado. Pollon foi apontado como o caso mais grave e pode ser suspenso por 90 dias, por ataques à Presidência da Câmara, e por mais 30 dias, por ter bloqueado fisicamente a cadeira de Motta. Já Van Hattem e Zé Trovão podem receber suspensão de 30 dias cada.

Outros 11 deputados — entre eles Bia Kicis (PL-DF), Carlos Jordy (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Caroline de Toni (PL-SC) — devem receber apenas censura escrita, uma espécie de “cartão amarelo” previsto no Código de Ética, que não depende de análise do colegiado. A suspensão, por sua vez, equivale a um “cartão vermelho”, com perda temporária de prerrogativas parlamentares. Caberá agora ao Conselho de Ética confirmar ou rever as penalidades antes de submetê-las ao plenário.

FRAGILIDADE – Nos bastidores, o episódio ainda é visto como um dos momentos de maior fragilidade da gestão de Motta. A ocupação da Mesa Diretora por mais de 30 horas, em agosto, foi usada pela ala bolsonarista como forma de pressão para forçar a tramitação da anistia aos condenados do 8 de Janeiro e da PEC da Blindagem. Ambas as matérias foram pautadas após a obstrução.

O desgaste levou líderes a discutir mudanças no Regimento e no próprio Código de Ética, com o objetivo de criar punições automáticas e mais severas para casos de empurrões, invasões da Mesa e bloqueios de votação. O projeto de resolução, porém, ainda não foi votado.

MAIS GRAVE – Entre os três, o caso de Marcos Pollon é considerado o mais grave. A Corregedoria propôs duas punições: 90 dias de suspensão por ataques à Presidência da Câmara e mais 30 dias por ter bloqueado fisicamente o acesso de Motta à Mesa Diretora, impedindo a condução dos trabalhos.

No relatório, o corregedor apontou que Pollon “obstou o exercício pleno das prerrogativas presidenciais”, o que, para a cúpula da Câmara, configura uma violação direta ao decoro parlamentar.

Em outro episódio, ocorrido em 3 de agosto, o deputado foi acusado de difamar e ironizar Motta, referindo-se ao presidente como “um baixinho de um metro e sessenta” — gesto descrito como “ato de afronta não apenas à pessoa do presidente, mas à própria dignidade da Casa que ele representa”.

AFASTAMENTO – Por ser membro titular do próprio Conselho de Ética, Pollon poderá ser afastado do colegiado enquanto durar a tramitação de seus processos. Três processos, que tratam de condutas que impediram o acesso de Motta à mesa de comando do plenário, terão um único relator. A escolha será feita entre três nomes: Castro Neto (PSD-PI), Albuquerque (Republicanos-RR) e Zé Haroldo Cathedral (PSD-RR).

Um procedimento contra Marcos Pollon por ofensas ao presidente da Câmara caminhará de forma separada. Os potenciais relatores são: Castro Neto (PSD-PI), Moses Rodrigues (União-CE) e Ricardo Maia (MDB-BA).

SUSPENSÃO – No caso de Marcel Van Hattem, a Corregedoria recomendou suspensão por 30 dias. O parecer sustenta que o parlamentar gaúcho ocupou indevidamente a cadeira destinada à Presidência da Câmara, impedindo Hugo Motta de assumir o comando da sessão.

O documento descreve a conduta como “singular e condenável”, ressaltando que “a usurpação de local reservado à direção dos trabalhos impediu, por si só, o exercício regular das atividades legislativas”. Para o órgão, a atitude representou um gesto de desafio e de afronta institucional, e tolerá-la seria “renunciar ao mínimo de ordem e decoro indispensável à sobrevivência da Câmara como instituição”.

Van Hattem, que resiste em deixar a Mesa Diretora mesmo após a abertura do processo, argumenta nos bastidores que apenas se solidarizou com colegas em protesto e nega ter impedido a atuação de Motta.

ZÉ TROVÃO –  Já o deputado Zé Trovão (PL-SC) também foi acusado de bloquear o acesso de Motta à Mesa e pode ser suspenso por 30 dias. De acordo com a Corregedoria, ele se posicionou nas escadas que levam à cadeira de comando do plenário, controlando a entrada de parlamentares e, com isso, gerando um constrangimento institucional.

O parecer descreve a cena: “Diante de todos, inclusive sob o olhar das câmeras e das redes sociais, o chefe do Legislativo viu-se instado a parar, obstado pela postura do requerido”. O órgão conclui que “a honra objetiva da Câmara dos Deputados foi maculada” e que o episódio teve impacto simbólico que ultrapassou o desconforto pessoal de Motta.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG  – Não vai haver punição de verdade, porque a decisão final é do plenário. No máximo, algumas advertências. Motivo: para ser eleito presidente da Câmara, Hugo Motta prometeu votar logo a anistia, mas não entregou. Seu prestígio com os deputados é zero quilate. Só se dá bem com os petistas. (C.N.)

Relator quer arquivar processo contra Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética

Deputado bolsonarista defendeu Eduardo

Kevin Lima
G1

O deputado Delegado Marcelo Freitas (União-MG) votou nesta quarta-feira (8) para arquivar um processo do Conselho de Ética da Câmara que pede a cassação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Escolhido pelo presidente do órgão para relatar o procedimento, Marcelo Freitas é um antigo aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e já chamou Eduardo de “amigo”.

O parecer ainda terá de ser apreciado pelos membros do colegiado. Se for derrotado, um novo relator terá de ser escolhido. Se o Conselho de Ética aprovar o arquivamento, as regras da Câmara permitem a apresentação de recurso.

QUEIXA – O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é alvo de uma queixa que o acusa de trabalhar em defesa de sanções dos Estados Unidos para “desestabilizar instituições republicanas” do Brasil.

Eleito por São Paulo, o deputado mora nos EUA desde o início deste ano. Ele tem se reunido com lideranças americanas e é apontado como um dos incentivadores das sanções econômicas do governo norte-americano contra autoridades e produtos brasileiros.

A atuação do filho de Bolsonaro levou a Procuradoria-Geral da República (PGR) a denunciá-lo ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime de coação no curso do processo, tentando pressionar autoridades brasileiras e influenciar os rumos de processos contra o pai por meio das punições americanas.

“EQUIVOCADA” – Em seu parecer, o relator avaliou que a denúncia petista é “equivocada” e avaliou que não há elementos para que o processo continue no Conselho de Ética.

“O ato de opinar, discordar ou denunciar, mesmo que em território estrangeiro, não constitui infração ética, mas exercício legítimo do mandato representativo, conforme reconhecem as democracias mais estáveis e maduras do mundo”, escreveu Marcelo Freitas.

SUSPENSÃO –  Sem responder às tentativas de contato do Conselho de Ética, Eduardo Bolsonaro foi representado nesta quarta pelo defensor público federal Sérgio Armanelli Gibson. O defensor pediu que o órgão suspenda o processo até a análise da denúncia pelo STF. “O que temos aqui é o início de um processo penal contra o deputado Eduardo Bolsonaro. Não há qualquer decisão colegiada sobre a culpa. Por que os senhores vão antecipar um juízo de culpa?”, indagou.

Gibson também criticou os meios utilizados para intimar o parlamentar e afirmou que Eduardo não ofendeu instituições brasileiras. Segundo ele, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro fez apenas críticas políticas.

MANDATO EM JOGO –  Além da queixa apresentada pelo PT, Eduardo Bolsonaro também é alvo de outros três pedidos de cassação já encaminhados ao Conselho de Ética. O presidente do órgão, Fabio Schiochet (União-SC), espera que as quatro representações caminhem de forma conjunta.

Schiochet já enviou um pedido ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para anexar as três queixas à do PT, mas Motta ainda não respondeu. Diante da ausência de manifestação, o presidente do Conselho de Ética decidiu dar seguimento ao único caso que ainda está no órgão — o apresentado pelo PT.

Os processos contra Eduardo são outros elementos de pressão contra o mandato do filho do ex-presidente Bolsonaro. Desde agosto, ele tem contabilizado faltas injustificadas e corre o risco de ser cassado por excesso de ausências.

MANOBRA – Em uma manobra, aliados da família Bolsonaro tentaram recorrer a um entendimento da direção da Câmara, que abona faltas para parlamentares em cargos de liderança, e indicaram Eduardo para exercer a liderança da minoria.

A tática foi frustrada nesta terça por uma decisão do presidente da Câmara que rejeitou a indicação. Com isso, Motta abriu caminho para que as faltas de Eduardo Bolsonaro continuem sendo contabilizadas.

Na prática, o mandato de Eduardo Bolsonaro estará em jogo em duas frentes: uma cassação por condutas contra o decoro parlamentar; e uma cassação por excesso de faltas. Enquanto o Conselho de Ética discute a primeira hipótese, a segunda ficará em segundo plano e deve ser discutida apenas em 2026.

DENÚNCIA –  As complicações de Eduardo não terminam na Câmara dos Deputados. O parlamentar é investigado no STF em um inquérito que trata de sua suposta atuação para influenciar os rumos de processos contra o pai.

Eduardo foi indiciado pela Polícia Federal (PF) e, na tarde de segunda (22), denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo crime de coação no curso do processo.

O Ministério Público Federal avalia que o deputado atuou para pressionar autoridades brasileiras e influenciar ações contra Jair Bolsonaro por meio das sanções econômicas do governo Donald Trump ao Brasil.

NOTIFICAÇÃO – Ao apresentar a denúncia, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu que a Câmara fosse notificada para “fins de avaliação disciplinar”. Gonet afirmou, ainda, que as denúncias apontam “atos de grave alcance institucional”. O deputado federal rejeita as acusações e diz que está sob jurisdição americana, o que lhe garantiria questionar as decisões judiciais.

O PT, responsável pelo processo aberto no Conselho de Ética, afirma que a conduta de Eduardo nos EUA vai contra o decoro parlamentar e demonstra uma “clara intenção de desestabilizar as instituições republicanas” do Brasil.

A legenda argumenta que a atuação do deputado tem o “intuito de pressionar autoridades brasileiras por meio de sanções internacionais”, em uma espécie de “represália às investigações que envolvem seu pai e correligionários”.

O remendo fiscal que ameaça o crescimento

Charge do Alecrim(Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

O governo brasileiro apresentou ao Congresso uma proposta de aumento disfarçado de impostos sob o argumento de equilibrar as contas públicas e cobrir um rombo fiscal que se projeta no horizonte. Na prática, trata-se de elevar a tributação sobre diversas aplicações financeiras, incluindo os juros sobre o capital próprio — um movimento que, embora tecnicamente justificável do ponto de vista arrecadatório, é economicamente equivocado.

Qualquer aumento de impostos, especialmente em períodos de desaceleração, afeta diretamente o poder de compra dos trabalhadores, desestimula o investimento e reduz o consumo. E a retração do consumo, como alertam organismos como o FMI e a OCDE, é o pior dos efeitos colaterais de uma política fiscal mal calibrada, pois desencadeia um círculo vicioso de estagnação e desemprego.

REFLEXOS DO TARIFAÇO – A medida vem no momento em que o governo tenta mitigar as consequências do aumento de até 50% das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, sobretudo café, carne, açúcar e minério.

O chamado “tarifaço” de Donald Trump poderá reduzir o PIB do Brasil em até 0,16% e eliminar mais de 100 mil empregos nos próximos meses. Diante desse cenário, Brasília busca compensar as perdas com uma política de estímulo às exportadoras, oferecendo crédito e incentivos fiscais para manter programas de exportação ativos e evitar a fuga de dólares.

A estratégia, porém, tem um efeito preocupante: concentra recursos em grandes grupos exportadores, enquanto o mercado interno, já enfraquecido pela elevação dos impostos e pelo aumento do custo de vida, mergulha numa espiral de retração.

SINUCA DE BICO – O dilema é claro. O governo tenta salvar o setor externo, mas sacrifica o poder de compra da população e a vitalidade do consumo interno. Segundo a OCDE, a economia brasileira já enfrenta uma das cargas tributárias mais regressivas entre as economias emergentes, com cerca de 45% da arrecadação total incidindo sobre bens e serviços.

Ao aumentar a tributação sobre rendimentos financeiros e capital próprio, o governo agrava a regressividade do sistema sem oferecer contrapartidas de redistribuição de renda ou estímulo à produção. Além disso, o risco cambial permanece alto: depender de exportações num contexto de tensão comercial com os Estados Unidos e desaceleração global é apostar num crescimento frágil e volátil.

A alternativa a essa política não passa por extrair mais recursos de quem consome ou investe, mas por redesenhar as bases do sistema fiscal e produtivo. Investir em infraestrutura, inovação e crédito produtivo interno seria uma estratégia mais inteligente para estimular o crescimento de forma sustentável.

DIVERSIFICAÇÃO – Ao mesmo tempo, é urgente diversificar os destinos das exportações, ampliando acordos com a União Europeia, a China e outros mercados asiáticos, de modo a reduzir a dependência das oscilações políticas norte-americanas. Por fim, qualquer ajuste tributário deve vir acompanhado de transparência e de uma análise rigorosa de seus impactos sobre o poder de compra das famílias.

A história económica recente mostra que o remédio fiscal errado pode custar mais caro do que o próprio défice. Quando um governo escolhe aumentar impostos em vez de reformar estruturalmente as despesas, transfere o problema para o cidadão comum e posterga a recuperação.

No fim, o que se apresenta como responsabilidade fiscal transforma-se em desordem social. O Brasil não precisa de austeridade disfarçada, mas de uma política económica que combine equilíbrio com crescimento e que reconheça que o verdadeiro motor da estabilidade não é o ajuste, mas a confiança — algo que não se constrói com impostos, e sim com visão.

Silvinei Vasques tenta anular provas do processo por golpe

Lula aposta na sua popularidade para tentar dividir PP e União

No Século 21, o mundo inteiro está vivendo a era da esculhambação

How Donald Trump's criminal charges are defining his White House race

Trump conseguiu transformar o mundo numa bagunça

Carlos Newton

A impressão que se tem é de que reina a esculhambação no mundo quase todo. Há exceções, é claro, mas entre os 193 países que formam a ONU, são raros os que demonstram estabilidade política, social e econômica em regime democrático, como Dinamarca, Noruega, Suíça, Uruguai, Nova Zelândia e Canadá.

Em nações de gestão ditatorial, como China, Arábia Saudita, Catar e Vietnã, há desenvolvimento econômico e social, mas ninguém consegue saber o que realmente está acontecendo na política local.

EUA DÁ EXEMPLO – A desordem já existia, parece ser uma característica do homo sapiens. O que ninguém esperava é que os Estados Unidos desta vez comandassem a esculhambação, pois em apenas nove meses o presidente Donald Trump conseguiu bagunçar a maior potência do mundo.

Além do tarifaço que atingiu o comércio exterior, os Estados Unidos voltaram a fazer sanções para confiscar bens de autoridades que desrespeitem direitos humanos, segundo a Lei Magnitsky.

Para esclarecer a situação, o deputado republicano Rich Mccormick acaba de indagar ao governo americano “quais são as obrigações específicas que se aplicam a instituições financeiras, fundos e gestores de ativos dos EUA quando um ministro sancionado permanece ativo na Suprema Corte do Brasil”.

ORIENTAÇÕES – Segundo a jornalista Bela Megale, de O Globo, McCormick pergunta ainda se os Estados Unidos “emitirão orientações para governos aliados, organismos multilaterais ou partes interessadas do setor privado para reforçar padrões globais de conformidade diante dessa situação extraordinária”.

As respostas do governo Trump ao deputado servirão para reduzir a esculhambação, porque ninguém sabe se Moraes e sua esposa podem usar cartão de crédito, ou se o filho exibicionista do ministro Benedito Gonçalves pode voltar a fazer cena nos Estados Unidos.

INEDITISMO – Na introdução da carta, o parlamentar republicano destaca o ineditismo de os EUA sancionarem um ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil: “Nunca antes um ministro em exercício da mais alta corte de um país estrangeiro havia sido sancionado sob essas autoridades.”

Por fim, a jornalista Bela Megale revela que o deputado norte-americano quer afastar Moraes do Supremo, pois McCormick alega que a “permanência de um indivíduo sancionado em uma posição de autoridade judicial cria riscos de conformidade para pessoas e instituições norte-americanas que operam em um dos maiores mercados emergentes para investimentos dos EUA”.

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P.S. –
Os esclarecimentos que o governo Trump fará ao deputado são aguardados com apreensão, porque há ministros do Supremo com investimentos milionários nos Estados Unidos, que serão confiscados caso  haja aplicação da Lei Magnitsky, como é o caso de Luís Roberto Barroso, que deve pedir aposentadoria do Supremo para se livrar de maiores problemas. (C.N.).

Após críticas a penduricalhos, TST desiste de sala VIP de R$ 1,5 milhão

Charge do Alpino (Arquivo do Google)

Cézar Feitoza
Folha

O TST (Tribunal Superior do Trabalho) decidiu, por unanimidade, cancelar o contrato para a construção de uma sala VIP no aeroporto de Brasília para uso exclusivo de seus 27 ministros.

Segundo o tribunal, a decisão se deu por não haver mais “necessidade de uso do espaço, assim como pela possibilidade de cancelamento do contrato assinado, sem prejuízo para a administração”. O plano da obra e a contratação dos serviços foram revelados pela Folha em agosto.

CONTENÇÃO DE GASTOS – A determinação pelo cancelamento do contrato foi assinada pelo presidente do TST, ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, que assumiu o comando da corte em setembro com discurso de contenção de gastos.

O cancelamento do contrato ocorre após o TST ser alvo de críticas pelo aumento de penduricalhos e privilégios. Vieira de Mello afirmou ao UOL que a construção de uma sala VIP para uso de seus ministros seguia o que faziam os demais tribunais superiores.

“Naquele momento, o tribunal simplesmente estava seguindo o caminho dos outros tribunais. Mas ontem o tribunal resolveu rescindir o contrato da sala VIP. Então, para nós, é um assunto encerrado”, disse.

DECISÃO UNÂNIME – “Foi uma decisão unânime do tribunal. Foi unânime quando fez e foi unânime agora [no encerramento do contrato]. Nós entendemos que realmente, até pelo desuso, não seria viável. Para nós, não seria necessário. Eu considero uma página virada”, completou.

O contrato assinado pelo TST previa o pagamento de mais de R$ 1,5 milhão em dois anos para construir e manter uma sala VIP no aeroporto de Brasília. Os ministros ainda teriam direito a acompanhamento pessoal por funcionários do aeroporto e um carro privativo para deslocamento até o avião.

O objetivo, dizia a corte, era resguardar a segurança dos ministros e evitar a “aproximação de pessoas inconvenientes”. “A forma como eram realizados os embarques e desembarques aéreos das autoridades propiciava a aproximação de indivíduos mal-intencionados ou inconvenientes, o que aumentava significativamente os riscos evitáveis para essas autoridades”, justificou o TST em nota à época.

ACORDO – De acordo com o contrato, o espaço seria “destinado, única e exclusivamente, ao apoio nos processos de embarque das autoridades do Tribunal Superior do Trabalho” no aeroporto. O acordo era válido por dois anos, até abril de 2027.

O espaço foi alugado por R$ 30 mil mensais, mais R$ 2.639,70 com rateio das despesas do aeroporto, segundo o contrato. O local tem 44 metros quadrados, piso de granito e paredes de gesso, com copa e banheiros exclusivos.

Para construir a estrutura que atenderá os ministros, o TST contratou, sem licitação, a mesma empresa que fez as três salas VIP para o público privado do aeroporto de Brasília. O contrato impede explicitamente que essa empresa forneça informações sobre a obra. O tribunal alegou que a dispensa de licitação ocorreu pelo valor autorizado em lei, e que consultou três empresas.

PENDURICALHOS – Vieira de Mello assumiu a presidência do TST em 25 de setembro. Dias antes de ser empossado, o ministro defendeu que o tribunal reduzisse gastos e contivesse o avanço de penduricalhos da magistratura. “Será que a função do juiz está tão difícil hoje em dia que toda hora tem uma coisa a mais?”, disse, durante sessão do Conselho Superior da Justiça do Trabalho.

O colegiado analisava um pedido da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho para o pagamento de licença compensatória para juízes substitutos, com valores retroativos dos últimos dez anos.

“Que a gente tem que ser bem remunerado, tudo bem. Mas quem está ganhando mal? A pergunta é essa. Não é o que eu vejo e nem eu tenho a reclamar de nada. Mas é preciso que a gente tenha cautela. O destinatário disso tudo é a sociedade, o jurisdicionado. Nós precisamos ter um pouco de consciência sobre o que estamos postulando e discutindo aqui”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGNada mal. Uma matéria mostrando que na vida tudo pode ter limites. Até mesmo a gastança com recursos públicos. (C.N.)

Quem pode acreditar nesse acordo de paz entre Israel e o grupo Hamas?

Gaza – Wikipédia, a enciclopédia livre

Gaza era uma cidade moderna assim…

Deu em O Globo

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira um acordo entre Israel e Hamas para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, primeira fase do plano de paz, após três dias de negociações no Egito, com avanços consideráveis entre os dois lados.

A proposta prevê o fim dos combates, o retorno dos reféns — vivos e mortos — para Israel, a libertação de prisioneiros palestinos e a retomada da entrada de ajuda no enclave. Fontes próximas aos negociadores afirmam que a assinatura acontecerá na quinta-feira, e Trump pode ir à região.

VÍDEO mostra Gaza reduzida a escombros após cessar-fogo; 'Virou uma cidade-fantasma', diz morador

…e está sendo devolvida assim aos palestinos

ANUNCIOU TRUMP – “Tenho muito orgulho em anunciar que Israel e o Hamas assinaram a primeira fase do nosso Plano de Paz. Isso significa que TODOS os reféns serão libertados em breve e Israel retirará suas tropas para uma linha acordada, como os primeiros passos em direção a uma paz forte, duradoura e duradoura. Todas as partes serão tratadas com justiça!”, escreveu Trump em sua rede, o Truth Social.

GRANDE DIA – “Este é um GRANDE Dia para o Mundo Árabe e Muçulmano, para Israel, para todas as nações vizinhas e para os Estados Unidos da América, e agradecemos aos mediadores do Catar, Egito e Turquia, que trabalharam conosco para que este Evento Histórico e Sem Precedentes acontecesse. ABENÇOADOS OS PACIFICADORES!”

Pouco antes de fazer o anúncio, Trump disse a jornalistas na Casa Branca que o acordo estava “muito perto” — um fotojornalista da agência AP chegou a flagrar um bilhete passado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, a Trump, o atualizando sobre as conversas e pedindo que aprovasse uma publicação no Truth Social sobre o sucesso nessa etapa da negociação.

De acordo com a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, ele deve ir ao Egito na sexta-feira, após exames médicos já previstos, mas a viagem pode ser antecipada.

DIZ O HAMAS – Em publicação no Telegram, o Hamas anunciou a “conclusão de um acordo estipulando um fim à guerra em Gaza, à retirada da ocupação (Israel) dali, a entrada de ajuda e uma troca de prisioneiros”. No texto, o grupo pede a Trump e às demais partes envolvidas no processo que “pressionem o governo de ocupação (Israel) a implementar em sua forma completa os requerimentos do acordo, não permitindo que se evada ou atrase a implementação do que foi acordado”.

A mensagem termina com a promessa de que o Hamas “não abandonará os direitos nacionais do povo, incluindo liberdade, independência e autodeterminação”.

O premier israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou em comunicado que esse é um “grande dia para Israel”, e que na quinta-feira “reunirá o governo para aprovar o acordo e trazer todos os nossos queridos reféns de volta para casa”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Parecia impossível, mas aconteceu. No entanto, é preciso lembrar que Israel destruiu totalmente Gaza, que era uma cidade em desenvolvimento, e agora está devolvendo um monte de escombros a uma população miserável. Disse Netanyahu: “Com a ajuda de Deus, juntos continuaremos a atingir todos nossos objetivos e expandir a paz com nossos vizinhos”. Ora, será que foi mesmo com a ajuda de Deus? É claro que existe proteção divina em todo acordo de paz. Mas a guerra tem outros sinistros protagonistas, que não deveriam citar irresponsavelmente o nome de Deus… (C.N.)

Carlos e Michelle Bolsonaro medem forças na política catarinense

Carlos ‘confirmado’ e pressão de Michelle por mais mulheres

Gabriel Sabóia
O Globo

A escolha do vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) para disputar uma vaga ao Senado por Santa Catarina nas eleições do ano que vem o colocou novamente em posição oposta à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Visto como um “caminho seguro” para que o filho de Jair Bolsonaro passe a cumprir expediente em Brasília, Santa Catarina tinha como favorita para disputar uma vaga ao Senado pelo PL a deputada Caroline De Toni.

A parlamentar conta com a simpatia de Michelle, que é presidente do PL Mulher e já externou ao presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e ao marido, Bolsonaro, o descontentamento com o baixo número de mulheres na disputa para esta função no ano que vem.

SIMPATIA – Embora dois senadores sejam eleitos no ano que vem, a segunda vaga no estado deve caber a Esperidião Amin (PP), aliado de Bolsonaro que tentará a reeleição. Amin é visto como um nome que agrega mais no estado e amplia o eleitorado para a chapa. Além disso, o senador possui a simpatia do governador Jorginho Mello (PL).

A composição para o Senado é vista como uma prioridade para Bolsonaro, já que pretende fazer maioria na Casa para mobilizar ações contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Além da vaga de Amin, a outra cadeira que estará em disputa pertence hoje à senadora Ivete da Silveira (MDB).

SOLUÇÃO – A insistência de Michelle em ter De Toni como candidata ao Senado faz com que o partido busque uma solução para acomodar a deputada, sem fazer com que concorra novamente à Câmara. Na atual legislatura, De Toni foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Recentemente, a parlamentar abriu mão da liderança da minoria da Câmara para que outro filho de Bolsonaro, o deputado Eduardo (PL-SP), pudesse cumprir o seu mandato distante da Casa, enquanto permanece nos Estados Unidos. A manobra, entretanto, não foi aceita pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Valdemar admite a dificuldade de lidar com o tema. “A Carol é querida pela Michelle e por todos nós, mas o Esperidião Amin também quer a vaga e o Bolsonaro já bateu o martelo que o Carlos vem por Santa Catarina. Até daria para termos ela e Carlos concorrendo simultaneamente, mas o Esperidião nunca faltou para nós, ele é da direita. Estamos vendo o que fazemos, cogitamos pedir para que o Jorginho Mello a coloque de vice”, diz.

VIABILIDADE – Um dos elementos por trás da disputa interna é a força do bolsonarismo no estado, o que faz aliados do ex-presidente acreditarem ser viável eleger dois senadores. No segundo turno da eleição em 2022, Bolsonaro somou 69,27% dos votos válidos, contra 30,73% do presidente Lula. Santa Catarina foi o quarto estado onde Bolsonaro teve proporcionalmente mais votos, atrás de Roraima, Rondônia e Acre.

Procurada, Caroline De Toni não se manifestou. De acordo com pessoas próximas a Michelle, a ex-primeira-dama teria se queixado de não ter tido o pedido para uma candidatura feminina por Santa Catarina atendido.

À frente do PL Mulher, Michelle é responsável por atrair filiadas ao partido e montar a nominata feminina. Entretanto, lamentou só ter voz em relação às escolhas para a Câmara. A ex-primeira-dama deve ser candidata nas eleições do ano que vem ao Senado pelo Distrito Federal. Apesar da reclamação, ela não teria se oposto diretamente ao nome de Carlos.

ELOGIO – Depois de anos de relação conturbada, Carlos elogiou recentemente a ex-primeira-dama, a quem chamou de “guerreira”, durante uma live com o senador Magno Malta (PL-ES), ao comentar a saúde do ex-presidente. Meses antes, em uma entrevista, Michelle disse que não falava com o enteado e que não pretendia retomar os contatos. Depois disso, em uma manifestação, os dois se cumprimentaram.

Enquanto aguarda a oficialização de seu nome como pré-candidato do Senado por Santa Catarina, Carlos se prepara para renunciar ao mandato na Câmara Municipal do Rio, o que pode ocorrer ainda neste mês, segundo o colunista doO Globo Lauro Jardim.

A ideia do vereador carioca é fixar domicílio em São José, na Região Metropolitana de Florianópolis. Carlos, segundo a coluna de Lauro Jardim, já escolheu um apartamento para morar e se dedicar à campanha ao Senado. Ao contrário do irmão vereador Jair Renan (PL-SC), que vive na litorânea Balneário Camboriú, Carlos optou por um município industrial, sem grande apelo turístico, mas com forte presença de clubes de tiro. São José é a quarta maior cidade catarinense.

O fim da unidade bolsonarista: Ciro Nogueira acende o pavio da direita

Caiado diz que um nome só da direita não resiste ao governo Lula

E se a ciência conseguir provar que a vida continua após a morte?

O Processo de Mudanças do Espiritismo, por Reinaldo Di Lucia – Portal  Espiritismo com Kardec – ECK

Imagem de Gerd Altmann (Pixabay)

Juliano Spyer
Folha

A ideia exposta no filme “Blade Runner”, de robôs com consciência, parece que se aproxima da realidade. No Vale do Silício, o tema já é tratado como uma religião pelo movimento conhecido como transumanismo. É um bom momento para discutir a relação entre espiritualidade e ciência.

O Brasil, especialmente o mundo popular, é profundamente religioso. Ainda assim, mesmo leitores desta coluna que acreditam em Deus podem estranhar a ideia de misturar fé e ciência. Mas por que não?

PESQUISAR  – Se você acredita na existência de Deus e que a consciência é mais que o resultado de combinações aleatórias que produziram a vida, por que não pesquisar sobre isso?

Responder a essa pergunta se tornou a missão do psiquiatra brasileiro Alexander Moreira-Almeida (UFJF), fundador do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes). Seu trabalho, que investiga a relação entre espiritualidade e saúde mental, tem ganhado reconhecimento internacional.

Neste ano, ele recebeu o Prêmio Oskar Pfister, concedido anualmente pela American Association of Psychiatry (APA) a pesquisadores que estudam temas na intersecção entre ciência e religião. O neurologista Oliver Sacks, o historiador Peter Gay e o filósofo Paul Ricoeur estão entre os agraciados de edições anteriores.

SUCESSO MUNDIAL – A força do trabalho de Alexander está no fato de ele produzir ciência dentro da universidade, com metodologia médica e atuação internacional. Ele foi coordenador da seção de saúde mental e espiritualidade da Associação Mundial de Psiquiatria e também se dedica à divulgação científica, publicando conteúdo acessível ao público não especializado.

No livro “Ciência da Vida após a Morte” (Springer, 2022), feito com dois coautores, ele alerta para a influência de uma ideologia dominante —o fisicalismo materialista— que considera a espiritualidade uma fantasia humana, embora a ciência jamais tenha provado que a consciência morre junto com o corpo físico.

A segunda parte da obra apresenta evidências empíricas que sugerem a possibilidade de sobrevivência dessa consciência. Entre os estudos analisados estão pesquisas sobre mediunidade, experiências de quase-morte e reencarnação.

DEBATE NA FOLHA – Curioso? Na próxima semana você poderá fazer perguntas diretamente a Alexander. Ele participará de um debate com o diretor de Redação desta Folha, o jornalista Sérgio Dávila, e com a psicóloga Marta Helena de Freitas, professora da Universidade Católica de Brasília e presidente da International Association for the Psychology of Religion (IAPR).

O evento faz parte da série Conversas Difíceis, da qual sou curador. Será na segunda-feira (13), às 19h, no espaço Cívico (rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 445 – Pinheiros, SP). A entrada é gratuita, mas as vagas são limitadas. Haverá transmissão ao vivo pelo canal do YouTube do Instituto Humanitas360.

O que mudaria se a ciência admitisse —e eventualmente comprovasse— que a vida não termina com o corpo? Como isso afetaria nossa visão de mundo e o modo como escolhemos viver e morrer? Apareça. Leve sua curiosidade.

Jair Bolsonaro transforma sua prisão domiciliar em bunker político

Charge do Izânio (Instagram)

Luísa Marzullo
O Globo

Confinado em sua casa em um bairro de classe média alta de Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem dividido a rotina entre encontros políticos, consultas médicas e momentos de lazer diante da televisão, assistindo a jogos de futebol. No sábado, o ex-presidente completou dois meses em prisão domiciliar, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos último 60 dias, recebeu mais de trinta visitas de políticos e aliados próximos — como do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. As conversas têm girado em torno do cenário eleitoral de 2026 e de seus planos para reorganizar a direita. Entre remédios espalhados pela casa e crises de soluço recorrentes, Bolsonaro tem enviado recados sobre possíveis candidaturas para o ano que vem e reforçado um tema recorrente: o pedido de anistia.

SEM NEGOCIAÇÕES – Antes de o Congresso aprovar a urgência do texto Bolsonaro já havia deixado claro a quem o procura que não aceita negociações que não resultem em perdão amplo e irrestrito. Tentativas de parte da bancada do PL ligada ao Centrão de construir uma saída intermediária — com redução da pena para dois ou três anos e manutenção em regime domiciliar — não foram bem recebidas pelo próprio ex-presidente.

A articulação já encontrava dificuldades no Congresso e esfriou nesta semana quando o projeto de dosimetria relatado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP) perdeu tração. Após a derrota da PEC da Blindagem, até mesmo o PL da dosimetria, como foi renomeado, não encontra consenso.

CANDIDATA AO SENADO – Nas conversas, Bolsonaro também tem dito que Michelle será candidata ao Senado pelo Distrito Federal; Eduardo disputará uma cadeira no Senado; e Tarcísio de Freitas está liberado para se articular nacionalmente.

A rotina do ex-presidente tem sido intensa também nos cuidados médicos. Em outubro, Bolsonaro precisou ser internado por dois dias em um hospital particular de Brasília. As crises de soluço e refluxo, que já vinham se intensificando, o levaram a fazer uma bateria de exames.

CONDIÇÃO CLÍNICA – Desde a leitura da sentença condenatória no STF, o receio de ser transferido para o Complexo da Papuda virou preocupação constante no entorno do ex-presidente. A expectativa é que a condição clínica dele, porém, seja usada como argumento para manutenção do regime domiciliar.

Nesta semana, o ex-mandatário quase precisou retornar ao hospital. Segundo seu médico, Cláudio Birolini, os soluços se intensificam quando ele fala por longos períodos. Sua última crise ocorreu logo após a visita do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que passou pouco mais de duas horas em sua residência.

Na casa, a cena política acontece em um ambiente típico de enfermaria. A sala que já serviu de palco para transmissões ao vivo e encontros com pastores agora tem receitas médicas e caixas de medicamentos sobre a mesa. Entre chás e comprimidos para controlar o refluxo, Bolsonaro recebe aliados para conversar sobre palanques regionais e a disputa de 2026.  O tom, no entanto, é mais contido: quem o visita nota a dificuldade em manter longas conversas sem que sejam interrompidas pelas crises de soluço.

ROTINA DOMÉSTICA – Além das conversas políticas, Bolsonaro tem se agarrado a uma rotina doméstica. Passa boa parte do tempo diante da televisão, alternando transmissões de futebol e noticiários — momento em que, segundo aliados, reage com comentários sobre sua condenação e o futuro da direita.

A rotina de TV se mistura a pausas para remédios e chá, quase sempre preparados por Michelle. Ela é quem dita o ritmo da casa: controla entradas e saídas, organiza refeições simples e, muitas vezes, interrompe encontros para lembrar o marido da hora dos medicamentos.

Em paralelo, o senador Flávio Bolsonaro assumiu o papel de intermediário com líderes do Congresso, transmitindo recados e monitorando negociações. Carlos aparece menos, mas tem se intercalado entre Brasília e Santa Catarina, onde deve concorrer ao Senado. Jair Renan também tem passado períodos junto ao pai.

PEREGRINAÇÃO – O portão preto da casa virou símbolo de uma peregrinação constante. Deputados, senadores, governadores e líderes partidários já passaram pelo endereço, sempre com autorização do ministro Alexandre de Moraes.  Michelle organiza as recepções.

Em 24 de setembro, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro protocolou um pedido para suspender a medida de prisão domiciliar, ainda pendente de análise por parte de Moraes. Ao longo dos últimos dois meses, os advogados orientaram Bolsonaro a evitar entrevistas, mesmo após Moraes ter autorizado contato com alguns veículos. Agora, a expectativa gira em torno da publicação do acórdão do julgamento, etapa necessária para que a defesa apresente recursos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGBolsonaro já entendeu que está fora da disputa em 2026. Mesmo se houver anistia, os petistas conseguirão manter sua inelegibilidade através do TSE ou do Supremo. E o pior são os problemas de saúde. Já está a caminho dos 71 anos, e a facada acabou com seu prazo de validade. Chegou a hora do chinelo e de passar o bastão. (C.N.)

Brasil está preso nesse intrincado labirinto da delinquência nacional

A ilustração de Ricardo Cammarota foi executada em técnica pastel oleoso sobre papel.
Mostra duas figuras humanas lado a lado, com roupas semelhantes: camisa branca, gravata preta e suéter verde. Ambas têm cabeças substituídas por espirais concêntricas amarelo-alaranjadas, como caracóis ou labirintos. As duas espirais estão conectadas por uma linha reta preta que liga seus centros. O fundo é preenchido por textura em tons de vermelho e rosa, com toques de azul nas bordas.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Haverá mais “pensamento crítico” nas décadas em que os seres humanos terão de competir e conviver com as tais inteligências artificiais? De onde tiraram essa ideia?

Perguntas como essas são delicadas de responder numa era em que a destruição do pensamento público é levada a cabo não só pela estupidez das ideologias políticas mas, também, pela ciência do marketing, essa devoradora de almas.

MENTIR É PRECISO – A delicadeza exigida por perguntas que se referem ao que de especificamente humano haveria de ser “preservado e desenvolvido” num mundo dominado pela IA se deve ao fato de que nos tornamos animais do ressentimento, e este, hoje, é monetizado.

Mentir para não ferir nosso coração ressentido é, desde o ridículo século 21, uma ciência de mercado e lei. O fato é que não temos a mínima ideia do que existe de essencialmente humano a ser preservado e desenvolvido em nós, a não ser ideias clichês, e uma delas é o tal do “pensamento crítico”.

Mas, deixando de lado o medo de ferir esse coração desejoso de autoestima baseada em mitos que não chegam aos pés dos mitos antigos em dramaticidade, temo que esse tal “pensamento crítico” seja uma realidade da família dos gnomos, isto é, gente grande não deveria levar a sério.

PENSAMENTO CRÍTICO – Não nego que haja ou que tenha havido algum tipo de “pensamento crítico” na experiência humana —como um filósofo. Seria meio esquisito negar universalmente tal experiência, mas é sempre episódico, quase um milagre, fruto de um esforço semelhante a uma ascese. Como diria o grande Nelson Rodrigues, a respeito da razão, “uma ascese como a santidade”.

A experiência é mais aparentada ao desespero do que a esperança numa humanidade melhor. Portanto, nada tem a ver com o glamour do que há a ser “preservado e desenvolvido” na experiência humana em um mundo que é dominado pela IA, no que tange à cadeia produtiva.

O mais perto que chegamos ao objeto que teria como representante linguístico a expressão “pensamento crítico”, hoje mais do que nunca, seria identificá-lo com o que concorda com o que nós julgamos correto.

PENSAR CONTRA – Num espírito aparentado à filosofia baconiana, pensar é pensar contra nós mesmos, contra nossos ídolos, e essa ideia foi abandonada há algum tempo, talvez mesmo pelo próprio Bacon ao iniciar a linhagem ética em que pensar é um ato a favor do nosso bem-estar.

O que significaria um “pensamento crítico” nesse território ainda pouco desbravado da IA? Criticar as expectativas demasiado humanas de que a IA nos faça mais ricos e mais produtivos? Chamar a atenção dos ricos para o aumento de desigualdade social causada pela desigualdade de acesso à tecnologia? Ou repetir a ladainha de que os alunos deixarão de ler? Quase ninguém nunca leu nada para além da leitura funcional.

A atividade da leitura não pegou na nossa espécie. A educação pública brasileira, em sua maioria, mal consegue ensinar aos alunos fazer contas e ler legendas na televisão. Como esperar que essa educação ofereça solução para a imensa desigualdade geopolítica que a IA poderá gerar?

POUCO RESTA – Afora as bravatas da moda no governo federal, pouco resta. O Brasil é um país que dormita na inércia histórica, afundado na corrupção e no oportunismo das classes dirigentes que gozam com as próprias palavras ditas em ritos públicos. Um país em coma —que delira com um “Lula Gandhi”, que vergonha, meu Deus!—, em cuja enfermaria são penduradas bandeirolas coloridas de tom festivo.

COLMÉIA DE ABELHAS – Um país imerso num zumbido que mais lembra uma colmeia de abelhas do que um movimento real em busca de soluções. A vaidade nacional é um atestado da vergonha nacional. Voltando ao tal do “pensamento crítico”.

Talvez um pequeno guia de sobrevivência na selva da ausência total de pensamento nos ajude. Preste atenção. Se você usa alguma dessas expressões abaixo, busque ajuda profissional.

“No mundo só os homens brancos ficam mais ricos. A culpa do aquecimento global é do patriarcado. Não quero ter filhos por culpa do patriarcado. A maternidade é uma forma de opressão. A extrema direita leva a pessoa à doença mental. Os globalistas querem dominar a Disney. As vacinas contra Covid-19 matam pessoas até hoje. Minha mãe é uma fascista porque reclama de mulher trans no banheiro feminino. O STF é globalista. Estou deprimido porque Trump é presidente. O Mickey e o Pateta são fascistas. Masculinidades. O homem do século 21 é vulnerável.”

TODOS EXAURIDOS – Há muito tempo o Brasil não se encontra tão emaranhado nos labirintos do poder em Brasília. A sociedade brasileira, tal qual o Minotauro de Creta, presa nesse labirinto da delinquência nacional, se exaure em tentativas malsucedidas de fazer uma sociedade mais realista e adulta.

Emílio Moura, um poeta entre o desejo e a angústia

Exílio - Emílio Moura

Moura, destacado poeta mineiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, professor e poeta mineiro Emílio Guimarães Moura (1902-1971), no poema “Poema Patético”, revela como o amor entremeia emoções diferentes entre o desejo e a angústia.

POEMA PATÉTICO
Emíl
io Moura

Como a voz de um pequeno braço de mar
perdido dentro de uma caverna,
Como um abafado soluço que irrompesse de súbito de um quarto fechado,

Ouço-te, agora, a voz, ó meu desejo, e instintivamente recuo até as
origens de minha angústia,
Policiada e vencida, oh! afinal vencida por tantos e tantos séculos
de resignação e humildade.
Em que hora remota, em que época já tão distanciada, foi que os ares
vibraram pela última vez, diante de teu último grito de rebeldia?

Quantas vezes, ó meu desejo, tu me obrigaste a acender grandes fogueiras
dentro da noite.
E esperar, cantando, pela madrugada? Mas, e hoje? Hoje a tua voz ressoa dentro de mim, como um cântico de órgão.
Como a voz de um pequeno braço de mar perdido dentro de uma caverna,
Como um abafado soluço que irrompesse, de súbito, de um quarto fechado.

Coaf aponta R$ 1,3 milhão em conta de auxiliar ligado a ex-presidentes do INSS

Trump não conseguirá prestigiar Bolsonaro e Lula ao mesmo tempo

Saiba os bastidores da ligação entre Lula e Trump

Ilustração reproduzida de O Globo

Vicente Limongi Netto

Acenos produtivos e saudáveis, para o Brasil e para os Estados Unidos, resultaram da conversa por meia hora, por vídeo conferência, entre Lula e Trump. Boa e aromática química, mas com Cheiro de enxofre nas narinas bolsonaristas. Presidentes de países fortes e respeitados devem relevar arranca-rabos tolos. Agir como adultos, com serenidade e cuidar de temas que realmente interessam as duas nações.

Trump parece admitir que declarar juras de amor para o clã Bolsonaro foram desagradáveis e inúteis tiros nos pés. A propósito, segundo pesquisa do Ipespe, registada pela coluna do Estadão, Trump é tóxico para quem deseja disputar a Presidência da República em 2026.

Para 56% dos brasileiros Trump prejudica candidatos no Brasil. Nesta linha, não custa recordar o que pontuei na minha coluna na tribuna da Internet do dia primeiro de agosto:  “Donald Trump é o maior e mais poderoso amigo do contra da família Bolsonaro”.

CRIANÇAS – Sonho com crianças governando o mundo. O ar seria infinitamente mais puro. As pessoas seriam mais felizes. O amor cantaria em todas as janelas. Ruas seriam tomadas por poetas. Maldades e infâmias seriam incineradas.

A vida bela, com saúde e felicidade, moraria em todos os corações. Canalhas e covardes seriam execrados. Proibidos de chegar perto das crianças.

TV PÚBLICA – A jornalista Tereza Cruvinel, do Conselho Consultivo da ABI, lançou nesta segunda-feira, dia 7, na sede da entidade no Rio, o livro “Memória de um desafio- a guerra da TV-Pública e a criação do sistema EBC”. Pela editora Tagore.

Lula e Trump: quando o pragmatismo supera a ideologia

Genial/Quaest: Maioria dos brasileiros vê Lula mais forte após diálogo com Trump

51% acham que os dois se darão bem caso façam uma reunião

Geovani Bucci e
Pedro Augusto Figueiredo
Estadão

A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 8, indica que a maioria dos brasileiros considera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu politicamente fortalecido após o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). O levantamento foi realizado antes da videoconferência entre os dois líderes, ocorrida na última segunda-feira, 6.

Para 49% dos entrevistados, Lula ganhou força após a aproximação com o mandatário norte-americano. Outros 27% avaliam que ele ficou “mais fraco”, enquanto 10% dizem que sua posição permaneceu a mesma. Já 14% não souberam ou não responderam.

FORTALECIMENTO – A percepção de fortalecimento é predominante entre lulistas (78%) e eleitores que se declaram de esquerda (75%), enquanto a de enfraquecimento é maior entre bolsonaristas (51%) e pessoas que se identificam com a direita (48%). Entre os que afirmam não terem posicionamento, 44% dizem que o petista saiu mais forte e 25%, mais fraco.

A maioria dos brasileiros também acredita que Lula e Trump vão “se dar bem” ao iniciarem uma relação mais próxima, opinião de 51% dos entrevistados pelo instituto. Outros 36% avaliam que os dois não terão boa relação, enquanto 13% não souberam ou não responderam. Além disso, 65% defendem que o presidente brasileiro adote uma postura amigável em relação ao líder norte-americano. Outros 25% preferem que o petista mantenha uma posição “mais dura” diante de Trump.

No mesmo levantamento, 52% avaliaram como bom o discurso do petista na Assembleia Geral da ONU, e 34% o consideraram ruim. Em sua fala, o petista disse que as instituições do País estão “sob um ataque sem precedentes” de nações estrangeiras, mas não citou Trump nominalmente. “Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela”, afirmou.

TARIFAS – Durante a conversa de cerca de 30 minutos, Lula pediu a retirada da sobretaxa de 40% aplicada a produtos brasileiros e o fim das restrições impostas a autoridades do País. Trump afirmou ter gostado do telefonema e classificou o diálogo como “ótimo”.

Segundo a Quaest, 46% dos entrevistados avaliam que Lula deveria se esforçar para realizar um novo encontro com o republicano, enquanto 44% defendem que ele adote uma postura mais cautelosa e espere. Os dois líderes concordaram em se reunir pessoalmente em breve.

A pesquisa foi realizada entre os dias 2 e 5 de outubro, com base em 2.004 entrevistas presenciais com brasileiros com 16 anos ou mais. A margem de erro estimada é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

Trump testa a fidelidade do militar americano ao regime democrático

Anna Moneymaker/Getty Images

Trump sonha com um terceiro mandato que não existe

Marcelo Godoy
Estadão

 

Uma reunião estranha. Um secretário que prefere ser chamado de secretário da Guerra e seu presidente mandam reunir 800 oficiais generais e sargentos vindos de todos os cantos do mundo em Quantico, na Virgínia, para mostrar que “ao meu comando” todos devem pensar como o chefe. Seria trocar o juramento de lealdade à Constituição pela lealdade ao líder?

Ao ouvir o discurso de Pete Hegseth, seguido pelo de Donald Trump, é impossível não se recordar do general Mark Milley, aquele que se desculpou por ter acompanhado fardado o chefe em uma saída de Trump próxima à Casa Branca, durante protestos, e que reagiu, prontamente, contra a tentativa de invasão do Capitólio, no dia da confirmação da posse de Joe Biden. O que a reunião em Quantico buscava mostrar aos generais é que um novo Milley não seria tolerado.

MUITAS BOBAGENS – Nada contra o que Hegseth pregou existe de fato nas Forças Armadas dos EUA. O espírito espartano em contraposição ao ateniense parece desconhecer que a guerra hoje é multidomínio e não mais combatida por hoplitas e gladiadores.

Nos EUA, não há uma epidemia de militares obesos e barbados. Nem os quartéis se transformaram em um clube da luluzinha. Mas a China continua sendo uma ameaça aos Estados Unidos. E outros polos de poder começam a despontar, como a Índia.

A coluna foi ouvir alguns militares brasileiros sobre suas impressões a respeito do discurso de Hegseth e as implicações para nova Estratégia Nacional de Defesa dos EUA. Um deles resumiu bem a cena e o espírito do que se viu.

DIZ O ESTRATEGISTA – O coronel Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, do Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEx). “Ouvi integralmente o discurso. Até 5 minutos e meio é um discurso com generalidades, que poderia ser dito por qualquer pessoa”, afirmou.

Paulo Filho continuou sua análise, assinalando: “A partir de então, ele fala do que vai tratar: ‘Essa conversa aqui hoje é sobre cultura, hoje vamos falar de cultura’. E começa a desenhar um quadro do Exército americano que não é real. Quantos oficiais americanos barbados você já viu na sua vida? Um ou outro, exceção. O Exército virou woke, perdeu poder combativo? Isso é uma falácia. O Exército americano é a mais poderosa força armada de todos os tempos; não tem comparação com nenhuma outra”.

MUDAR EM QUÊ? -O coronel Paulo Filho prosseguiu: “Hegseth disse que os padrões de mulher e de homem em funções de combate vão ser iguais. Mas eles já são iguais. Disse que vão fazer dois testes físicos por ano. Já são dois. O que chocou os generais presentes, com 30, 40 anos de serviço, é que eles sabem que o Exército que o Hegseth diz que precisa mudar, já é tudo isso. Isso é que chocou, essa guerra cultural sendo levada ao Exército americano”.

Paulo Filho não disse. Mas a vitória de Hegseth em sua guerra cultural interessa apenas ao seu grupo político. Só ele sairá vitorioso se o secretário tiver sucesso em sua cruzada.

A questão é: os militares americanos têm os anticorpos necessários para resistir à tentação autoritária de transformar as Forças Armadas em braço armado de um grupo político? Décadas de controle civil objetivo e de fidelidade à Constituição e não a um líder resistirão ao novo governo Trump?

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Artigo importantíssimo de Marcelo Godoy. Mostra que Trump e a ala civil de seu governo desconhecem inteiramente o funcionamento das Forças Armadas. Trump quer mais um mandato, que depende da Suprema Corte, porque nunca ocorreu situação semelhante. Precisa ter apoio das Forças Armadas para pressionar os ministros a aceitarem sua candidatura a um terceiro mandato em 2028. Será uma longa novela. Comprem pipocas. (C.N.)