É desanimador notar que quase todos os bolsonaristas iriam apoiar o golpe

Charge Clayton | Charges | OPOVO+

Charge do Clayton (O Povo/CE)

Hélio Schwartsman
Folha

Os depoimentos do general Antônio Freire Gomes e do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior dão cor e textura à tentativa de golpe capitaneada por Jair Bolsonaro e seus seguidores, mas não creio que mudem muito as perspectivas penais do ex-presidente.
O Supremo, afinal, em todas as decisões relativas aos ataques de 8 de janeiro, já dera sinais de que uma eventual condenação de Bolsonaro era questão de tempo. Um placar de 9 a 2 me parece verossímil.

ELEITORES CONFUSOS – As falas dos dois ex-comandantes também não devem mudar muito o pensamento dos cerca de 25% de eleitores que se dizem bolsonaristas convictos. Já comentei aqui o trabalho do psicólogo Drew Westen, que mostra que militantes políticos parecem sentir prazer sempre que conseguem apaziguar uma dissonância cognitiva relativa a seu líder. Os circuitos cerebrais utilizados, os sistemas de recompensa, são os mesmos envolvidos na dependência de drogas.

A grande dúvida é sobre como reagirão os eleitores que, sem ser bolsonaristas radicais, engrossavam a votação no capitão reformado. Para esse grupo, dissonâncias cognitivas às vezes levam a mudanças de posição.

Pelo Datafolha, 74% dos brasileiros dizem que a democracia é sempre a melhor forma de governo. Conciliar tal convicção e os depoimentos dos dois oficiais-generais com as atitudes do ex-presidente pode ser desafiador para quem não despreza fatos nem a lógica.

E OS POLÍTICOS – Outra incógnita diz respeito aos políticos que se perfilavam ao lado de Bolsonaro. Para uma parcela deles, que devem quase todos os seus votos ao capitão reformado, é muito difícil desligar-se do ex-presidente sem alijar a maior parte da sua base. É pouco provável que rompam com o golpista frustrado.

Mas, para lideranças que não estão tão umbilicalmente ligadas ao ex-presidente, um afastamento é não apenas factível como necessário.

Deixar de fazê-lo significará normalizar o golpe de Estado, o que seria muito ruim para a democracia.

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P.S. –
Acredito que Hélio Schwartsman esteja certo no seu cálculo. Quase todos os bolsonaristas apoiariam um golpe de estado, para se livrarem de Lula e do PT. O tema é irresistível e vamos abordá-lo novamente. (C.N.)

Lewandowski usa o caso Marielle para esconder o fracasso da fuga em Mossoró

Qual será o salário de Ricardo Lewandowski como ministro da Justiça? |  Política | Valor Econômico

Lewandowski finge que está fazendo um bom trabalho

Mario Sabino
Metrópoles

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, resolveu chamar uma entrevista coletiva para anunciar o que não é seu: a homologação do acordo de delação premiada de Ronnie Lessa pelo ministro Alexandre de Moraes. O acordo deve resultar, espera-se, na resolução completa do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

A entrevista sobre o que não é seu foi porque o ministro da Justiça ainda deve o que é dele: Ricardo Lewandowski continua levando um baile de Querubim e Tatu, os dois fugitivos da prisão de segurança máxima de Mossoró, e é bom mudar de assunto.

VIÚVA FAZ CRÍTICA – Quem não gostou foi a viúva de Marielle, a vereadora Monica Benicio. Ela escreveu no X:

“Transformar os fatos deste caso num espetáculo já virou prática corriqueira de diversos veículos de imprensa, contra a qual tenho lutado duramente. O que me causou surpresa, realmente, foi ver um ministro de Estado agir do mesmo modo, em especial, com o fechamento vazio de seu pronunciamento, ao dizer ‘brevemente pensamos que teremos resultados concretos’. Queremos respostas concretas.”

E Monica Benicio continuou: “Nós, familiares de Marielle e Anderson, não aguentamos mais a falta de respostas sobre quem mandou matar Marielle e nem promessas vazias sobre especulações de prazos que não se sustentam, só servem para aumentar a nossa dor e a nossa ansiedade. Isso é desrespeitoso conosco, familiares e amigos que perdemos pessoas amadas e vivemos com a ausência de justiça.”

MINISTRO MIDIÁTICO – A espetacularização do caso Marielle Franco por Ricardo Lewandowski já seria vexatória se ele fosse o melhor ministro da Justiça da história deste país. Como ele está longe de ser, o aproveitamento midiático fica mais evidente.

Um aspecto que chama a atenção na França, onde morei, é a circunspecção com a qual as autoridades tratam de crimes. Quem faz declaração pública é o procurador, em falas bem encadeadas e claras, nas quais se divulga tudo aquilo que se sabe até o momento, desde que não prejudique a investigação. É um ritual narrativo que leva em conta a transparência do processo investigativo, a prestação de contas à sociedade e o respeito às vítimas e aos seus próximos.

Tudo muito diferente da esculhambação brasileira, com todo mundo gritando, vazando e fazendo pronunciamentos que saem do nada para lugar nenhum, como bem apontou a vereadora Monica Benicio. Quem mandou matar Marielle? Onde estão Querubim e Tatu?

No Brasil, as pessoas honestas estão fadadas sempre a pagar a conta alheia

A honestidade é uma forma de se ser conscientemente modesto. - Vergílio Ferreira - Frases

Vergilio Ferreira é um dos maiores escritores de Portugal

Luiz Felipe Pondé
Folha

A expressão “true crime”, conhecida de quem gosta de produções audiovisuais baseadas em crimes verdadeiros, ou documentários mesclados com narrativas ficcionais, pode descrever situações bem mais estranhas do que as ficções que passam nos streamings. E, por isso mesmo, podem parecer mais absurdas.

Vou narrar uma para você hoje. Nada de países europeus ou EUA, nem envolve assassinatos ou serial killers. Nenhum caráter espetacular, mas humilhantemente real e com cara de Brasil mesmo.

NUM SÁBADO – Imagine um empresário de médio porte, com um negócio que atende o que se chamaria no passado de “classe operária”, na época do Lula 1 e 2, “classe C”, hoje, apenas, classes menos favorecidas, mas que consegue ir às compras no final de semana na periferia de São Paulo.

Agora imagine que um dia normal de sábado, loja cheia de felicidade, mulheres alegres comprando o que podiam, maridos de cara feia, com aquela preguiça atávica que homens, normalmente, têm com lojas em geral, crianças correndo, vendedores pensando nas comissões, o empresário pensando que ia conseguir pagar salários, FGTS, férias, pagar os 150 boletos mensais —incluindo os enormes impostos—, e, claro, as propinas dos fiscais amigos. Um sábado feliz, enfim.

De repetente, uma gangue mascarada invade a loja, fecha as portas, e começa o assalto. Homens gritando que iam matar todo mundo, estuprar as mulheres. Correm e põem uma arma na boca do empresário, ameaça diretamente sua secretaria, levantando sua saia com uma das suas metralhadoras.

ROUBAM OS CHEQUES – “Infelizmente”, no cofre não tinha quase nenhum dinheiro em espécie. Mas, para a sorte dos bandidos –aqueles mesmos que alguns inteligentinhos consideram “vítimas sociais”–, no cofre havia muitos talões de cheques virgens da PJ [pessoa jurídica]. Roubam todos. Roubam dinheiro e cartões de créditos dos clientes e funcionários – na época, celulares não eram ainda comuns.

Quebram muitos móveis, aparelhos de TV, batem nalgumas pessoas, ameaçam de morte o empresário dizendo: “a gente sabe onde você mora, viu, seu milionário? Vamos pegar sua mulher e sua filha e dar uns tratos nelas”. E vão embora. O sábado foi perdido.

Os mais jovens talvez não saibam o risco que era ter talões de cheques roubados, mas vou explicar. Os ladrões saiam comprando com os cheques, e muita gente não checava a “fonte” do cheque. Em sendo de PJ, o risco era maior ainda.

BOLETIM DE OCORRÊNCIA – Nosso personagem “empresário”, que de milionário não tinha nada, fez boletim de ocorrência como manda o figurino. Tudo certinho, mas, como reza a cartilha nacional, nessas terras de Lula, Bolsonaro e seus capangas, o cidadão comum nunca está protegido em situação alguma.

Não há garantias, nem se você fizer a liturgia para o caso em questão. Pouco importa o que os poderosos vomitem, o Brasil só tem leis para quem não faz happy hour com os poderosos em Brasília. Para os amigos tudo, para os inimigos a lei.

Algum tempo depois, nosso empresário é intimado a comparecer diante da “justiça”. E por quê? Uma empresária de uma cidade do interior havia recebido um dos cheques roubados como pagamento de uma compra grande feita por um dos integrantes da gangue que roubara os talões no assalto descrito acima. Ela recorreu à “justiça” para que o empresário roubado fosse obrigado a pagar o cheque. E o que aconteceu? O juiz determinou que a vítima do assalto pagasse o cheque roubado. Você não acredita?

JUSTIÇA SOCIAL – Muita gente no Brasil e no “judiciário” gosta de fazer “justiça social” com o chapéu alheio. Pouco importou os apelos da vítima do assalto, que era um absurdo ele ter que pagar um cheque que lhe fora roubado, o que ele ouviu foi que seria melhor para ele pagar aquele cheque do que se o processo seguisse adiante porque, nesse caso, sairia ainda mais caro para ele, que ainda perderia ao final com certeza.

Moral da história: o empresário foi assaltado, teve um enorme prejuízo, teve que pagar o advogado e ainda pagar o cheque que o ladrão passou na loja da empresária que não se deu ao trabalho de checar o cheque de uma PJ.

Último ato: fechou a loja, demitiu todo mundo e foi embora do país. No Brasil, gente honesta só se ferra.

Após depoimentos de militares, Mourão questiona se ‘pensar em dar golpe é crime’

Antonio Hamilton Mourão - Tudo Sobre - Estadão

Mourão acha que o golpe foi planejado, mas não ocorreu

Nicholas Shores
Veja

Ex-vice-presidente da República, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou ao Radar que, “quando você vai espremer” os depoimentos de ex-comandantes de Forças Armadas à Polícia Federal (PF) sobre uma trama golpista para manter Jair Bolsonaro no poder depois da derrota na última eleição, “vai ficar a discussão se pensar em dar um golpe é crime ou não”.

“Em relação ao disse-me-disse, tititi todo aí, reuniões no Palácio da Alvorada no final de 2022, é um processo em que fulano diz A, sicrano diz B… Vamos aguardar o final dessa investigação”, disse o general da reserva do Exército.

“Só que Estado de Sítio e Estado de Defesa não é golpe. Golpe é: você toma o poder, fecha o Congresso e, depois, você organiza. Como, por exemplo, Getúlio (Vargas) fez em 1937”, acrescentou.

ALIJADO DO PROCESSO – Mourão afirmou que já estava “alijado” do processo de tomada de decisão de Bolsonaro desde muito antes das reuniões no Alvorada em novembro e dezembro de 2022 com o general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa, e o general Freire Gomes, o tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior e o almirante Almir Garnier Santos, que, à época, comandavam o Exército, a Aeronáutica e a Marinha, respectivamente.

“Naquela reunião que aparece filmada, em julho (de 2022), quem está sentado do lado do presidente (Bolsonaro) na função de vice era o Braga Netto. Mostra bem que eu estava fora do processo”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Mourão tem um grave defeito. É um militar que defende tortura, e essa circunstância mostra que não honra a farda. Mesmo assim, é muito melhor do que Bolsonaro. Mourão nada tem a ver com o golpe, já estava rompido com Bolsonaro há séculos, e sua opinião merece ser ouvida. Afinal, que dia ocorreu a tal tentativa de golpe? E o horário? Foi de dia ou na calada da noite? Também tenho dúvidas democráticas a respeito. (C.N.)

Dúvida cruel! Será que os mandantes da morte de Marielle ainda estão no país?

Caso Marielle: advogados deixam defesa de Ronnie Lessa após acordo de  delação - Rádio Itatiaia

Mais magro e com outro visual, Ronnie Lessa já contou tudo

César Tralli
TV Globo

A delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, que foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi fechada após uma série de depoimentos amplamente documentados em áudio e vídeo. As conversas ocorreram no presídio federal de Campo Grande, onde o acusado de assassinar Marielle Franco cumpre pena.

De acordo com o teor da delação, Ronnie Lessa contou, por exemplo, que foi a uma reunião a sós – olho no olho – com os dois mandantes do assassinato de Marielle, onde ouviu de ambos o interesse em contratá-lo para matar a vereadora.

APERTO DE MÃOS – Ronnie Lessa revelou detalhes do local, da duração deste encontro, do teor de toda conversa e, na saída, disse que se despediu dos dois com um aperto de mãos. Cerca de três semanas após este primeiro encontro, Ronnie Lessa botou em prática o atentado fatal.

Algum tempo depois da morte de Marielle, diante da enorme comoção e repercussão do crime, Ronnie Lessa disse que esteve pessoalmente mais uma vez com os mandantes do homicídio.

Ainda segundo o que consta da delação, o matador externou aos contratantes que estava muito preocupado com a pressão da sociedade para identificar e prender os assassinos. Ele temia que chegassem até ele.

Lessa contou que ouviu dos mandantes para ficar tranquilo, pois a investigação (em curso na época) não ia dar em nada, sugerindo que eles (mandantes) tinham acesso privilegiado a pessoas que investigavam a execução de Marielle.

EM CELA ISOLADA – Ronnie Lessa está em cela isolada na penitenciária federal de Campo Grande (MS). Foi lá, em agosto de 2023, que ele tomou conhecimento de que Élcio de Queiroz estava colaborando com a investigação da PF e do MP do Rio.

Lessa ouviu dos investigadores tudo que Élcio disse sobre a participação dele na execução do plano de morte de Marielle. O ex-PM sentiu que não fazia mais sentido segurar tudo sozinho. Decidiu, então, falar também.

Os mandantes, segundo Lessa, integram um grupo político poderoso no Rio de Janeiro com vários interesses em diversos setores do Estado. O ex-PM deu detalhes de encontros com eles e indícios sobre as motivações. E tudo passou a ser verificado pela força tarefa de policiais e membros do Ministério Público.

PARLAMENTAR ENVOLVIDO – Assim, foi se consolidando a delação premiada, que acaba de ser autorizada pelo STF. O caso foi parar no Supremo porque há suspeita de envolvimento de parlamentar do Congresso Nacional.

Diligências ainda estão em curso para fechar de vez a investigação e atribuir criminalmente responsabilidades sobre o mando da morte de Marielle Franco e de Anderson Gomes.

Do presídio federal em Campo Grande, Ronnie Lessa participou na segunda-feira (18) de videoconferência com o juiz que integra a equipe do ministro Alexandre de Moraes. Ele confirmou os termos dos depoimentos prestados e revelações feitas ao longo da investigação policial do ano passado. O depoimento por videoconferência foi pré-requisito para a homologação da delação premiada de Lessa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Aqui no Brasil, o sistema favorece a impunidade dos grandes criminosos. Com a publicidade em torno do caso, é claro que os depois mandantes ou já se evadiram ou estão tomando as providências para sair do país. A delação só deveria ter sido divulgada depois que os mandantes já estivessem presos. Posso estar errado, mas a lógica é essa. (C.N.)

O futuro de Bolsonaro está nas mãos do procurador-geral-da-República

Ex-presidente foi indiciado pela PF sob suspeita de fraude

Pedro do Coutto

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, vai decidir num prazo de duas semanas se acolhe a manifestação da Polícia Federal e encaminha à Justiça, no caso ao Supremo Tribunal Federal, processo criminal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por suposta  falsificação de um atestado de vacina visando entrar nos Estados Unidos, como aconteceu no final de 2022.

O parecer do procurador-geral da República, por si só, acentua um fato sem precedentes na história do país. Um presidente determinar caminhos tortuosos, incluindo a falsificação de documentos, quando contraditoriamente negava-se a se vacinar. Mas, na hora de precisar do atestado, deslocou-se para um ato irregular. O certificado falso foi fornecido pela Prefeitura de Caxias e tudo isso deixou o governo passado em péssima situação, sobretudo contra a imagem pública. Incrível. Como reagirão diante disso os seus apoiadores e eleitores?

PESQUISAS – Enquanto isso, o presidente Lula impulsiona o seu ministério para recuperar parcelas expressivas da sociedade que, conforme as últimas pesquisas, revelaram, manifestaram-se com certo grau de insatisfação diante do desempenho do governo. O impacto das condições existentes em setores do Ministério da Saúde foi enorme e por si só abalaria o governo que agora que deixa o plano da omissão e parte para recuperar pontos perdidos.

Portanto, há confusão no cenário político e ao qual temos que adicionar uma viagem a Israel dos governadores Ronaldo Caiado e Tarcísio de Freitas e que significou um ato anti-Lula que recentemente exagerou ao comparar a invasão de Gaza ao Holocausto. Caiado e Tarcísio sinalizaram como pretendem agir nas campanhas eleitorais, tanto a deste ano quanto a de 2026. O quadro está traçado, com Bolsonaro inelegível e o campo aberto ao candidato que consiga dar sequência ao processo político do país que continua a ser polarizado.

Lula divulga notas e culpa gestão de Bolsonaro por não encontrar móveis

Governo Lula gasta quase R$ 200 mil em móveis novos para presidente e primeira-dama - YouTube

Janja comprou as peças mais caras à venda em Brasília

Marianna Holanda e Renato Machado
Folha

O governo Lula (PT) divulgou duas notas no intervalo de quatro horas para buscar explicar a situação dos móveis do Palácio da Alvorada que estavam desaparecidos e que foram motivo de troca de farpas com a família de Jair Bolsonaro (PL).

Conforme revelou a Folha, a Presidência da República encontrou todos os 261 bens do patrimônio —vcujo sumiço havia sido alvo de queixas de Lula e da primeira-dama Janja após a transição do governo.

DIZ O GOVERNO – No começo da tarde desta quarta-feira (20), após a publicação da reportagem, a gestão petista falou em “descaso com onde estavam esses móveis, sendo necessário um esforço para localizá-los todos novamente”, mas sem citar o ex-presidente.

No final da tarde, divulgou nova nota, desta vez culpando diretamente a gestão Bolsonaro por não ter encontrado os itens e dizendo que a compra de novos móveis pelo governo Lula foi “imprescindível”.

A ausência dos móveis também havia sido um dos motivos alegados pelo novo governo para o gasto de R$ 196,7 mil em móveis de luxo, como revelado pela Folha.

MAIS ALEGAÇÕES – O governo alegou mais cedo que os móveis estavam desaparecidos e que o fato de terem sido encontrados não significava que eles estavam em boas condições de uso. O Planalto reforçou ainda que os móveis adquiridos serão usados por todos os próximos presidentes, uma vez que pertencem ao patrimônio da Presidência.

“Os trabalhos foram finalizados somente em setembro do ano passado, quando todos os bens foram encontrados em dependências diversas da residência oficial. Ou seja, houve um descaso com onde estavam esses móveis sendo necessário um esforço para localizá-los todos novamente”, diz o texto.

Na segunda nota, publicada às 18h25, a Presidência da República buscou dar mais explicações. Disse que quem não sabia onde estavam os itens era a gestão anterior, “parte deles abandonados em depósitos externos ao Palácio da Alvorada e sem efetivo controle patrimonial”. “Foi o governo atual que localizou esse patrimônio”, disse.

“LEVARAM TUDO” – A chamada “guerra dos móveis” teve início nos primeiros dias de 2023, quando Lula reclamou de começar o seu governo vivendo em um hotel, sem poder se mudar para a residência oficial do Palácio da Alvorada. Reclamou do estado de conservação das residências oficiais do Alvorada e da Granja do Torto.

Durante um café da manhã com jornalistas, afirmou que Jair Bolsonaro e sua mulher Michelle “levaram tudo”.

Nesta quarta, após a reportagem da Folha, Bolsonaro disse no X, antigo Twitter: “Todos os móveis estavam no Alvorada. Lula incorreu em falsa comunicação de furto”.

NÃO LEVARAM NADA – O levantamento do patrimônio do Palácio da Alvorada pela Comissão de Inventário Anual da Presidência da República havia apontado preliminarmente, ainda em 2022, que 261 bens citados não haviam sido localizados durante os trabalhos.

Já início do governo Lula, em 2023, a Presidência da República afirma que uma nova conferência havia sido realizada e o número de bens desaparecidos diminuiu para 83. O relatório final da comissão foi concluído só em setembro do ano passado, quando todos os itens foram encontrados.

A Folha questionou a Secom em qual local específico do Alvorada os móveis foram encontrados. A secretaria disse que eles estavam “nas diversas dependências” do palácio, sem fornecer mais detalhes. De acordo com pessoas com conhecimento do tema, boa parte estava em um depósito.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Esse tipo de acusação falsa é constrangedor. O Brasil vive um momento de retrocesso político execrável, provocado pelo Supremo, que resolveu intervir na política e ressuscitar Lula, condenado em três instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro. O Supremo simplesmente desconsiderou a hipótese de Bolsonaro perder a eleição diante de outro candidato, a não ser o então presidiário Lula. E a democracia precisava seguir em frente, livre, sem intervenções. 
 (C.N.)

Affonso Romano confronta seus desejos poéticos com essa dura realidade

Erros e acertos de Picasso são vistos como poesia por Affonso Romano de Sant 'Anna - Flávio ChavesPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna descreve os seus “Desejos”, em versos bastante atuais.

DESEJOS
Affonso Romano de Sant’Anna

Disto eu gostaria:
ver a queda frutífera dos pinhões sobre o gramado
e não a queda do operário dos andaimes
e o sobe-e-desce de ditadores nos palácios.

Disto eu gostaria:
ouvir minha mulher contar:
– Vi naquela árvore um pica-pau em plena ação,
e não: – Os preços do mercado estão um horror!

Disto eu gostaria:
que a filha me narrasse:
–  As formigas neste inverno estão dando tempo às flores,
e não: – Me assaltaram outra vez no ônibus do colégio.

Disto eu gostaria:
que os jornais trouxessem notícias das migrações dos pássaros,
que me falassem da constelação de Andrômeda
e da muralha de galáxias que, ansiosas, viajam
a 300 km por segundo ao nosso encontro.

Disto eu gostaria:
saber a floração de cada planta,
as mais silvestres sobretudo,
e não a cotação das bolsas
nem as glórias literárias.

Disto eu gostaria:
ser aquele pequeno inseto de olhos luminosos
que a mulher descobriu à noite no gramado
para quem o escuro é o melhor dos mundos.

BC reduz Selic a 10,75% ao ano, mas coloca o pé no freio, devido à inflação

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Nathalia Garcia
Folha

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduziu nesta quarta-feira (20) a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,5 ponto percentual, de 11,25% para 10,75% ao ano. Em decisão unânime, o colegiado do BC também alterou a comunicação sobre os seus próximos passos e sinalizou um corte da mesma intensidade apenas na próxima reunião.

Isso significa que o comitê prevê uma nova redução de 0,5 ponto somente no encontro agendado para maio, deixando de se comprometer com a magnitude dos movimentos depois disso. Dessa forma, o Copom ganha mais liberdade para mudar o ritmo de cortes à frente.

SEM PLURAL – A orientação dada pelo Copom sobre o ritmo de redução da Selic foi alterada com a retirada do plural no trecho do comunicado que era aguardado com grande expectativa pelo mercado financeiro.

“Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião”, escreveu o colegiado.

Na avaliação do comitê, essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista —que busca desacelerar o crescimento da economia— no processo de redução da inflação.

DEPENDE DA INFLAÇÃO – As palavras “cautela”, “moderação” e “serenidade” continuaram fazendo parte do repertório do comunicado. “O comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária”, afirmou.

Isso pode sinalizar uma possível redução de ritmo a partir de meados do ano. O Copom, contudo, reiteirou que a magnitude total do ciclo de flexibilização de juros ao longo do tempo dependerá da evolução da trajetória da inflação, dentro outros fatores.

O Copom manteve nesta quarta-feira o ritmo de cortes aplicado desde o início da flexibilização de juros iniciada em agosto do ano passado. Até agora, já foram seis reduções consecutivas na mesma intensidade de 0,5 ponto percentual. Com isso, a Selic chegou ao menor patamar desde fevereiro de 2022, quando a taxa básica estava fixada em 9,25% ao ano.

LULA CRITICA – Depois de um momento de trégua, Lula voltou a fazer pressão sobre Campos Neto na semana passada. Na ocasião, afirmou que o chefe da autoridade monetária mantém a taxa de juros alta “por teimosia” e que ele contribui para o “atraso do crescimento econômico” do país.

Com os efeitos defasados da política monetária sobre a economia, o BC passa a mirar com cada vez mais ênfase o alvo fixado para 2025, quando terá início o modelo de meta contínua após mudança no sistema de metas de inflação.

O comitê conta, desde janeiro, com quatro diretores indicados pelo governo Lula—Paulo Picchetti, Rodrigo Teixeira, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino—, de um total de nove membros da diretoria, incluindo o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Um dos problemas de Lula é não ter medo do ridículo. Para Lula, tudo o que não dá certo é culpa do Banco Central.  Desde o início de sua gestão, vem criticando impiedosamente o Banco Central, sem perceber que vem sendo ajudado pela atual direção, considerada a melhor do mundo. São coisas do Brasil, como diz Pedro do Coutto. (C.N.)

Bolsonaro faz 69 anos, vamos cantar parabéns ou pedir que tenha juízo?

Parar o ódio é tarefa urgente

Charge do Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Carlos Newton

Mesmo sem fazer pesquisa, sabe-se, com toda certeza, que quase todos os bolsonaristas, incluindo os militares, aceitariam o golpe de estado, porque isso significaria livrar o país do petismo. Esses brasileiros lembram e jamais esquecerão o que Lula da Silva e o PT fizeram no verão passado, digamos assim, e gostariam de vê-los longe do poder.

Embora os bolsonaristas sejam minoritários, a simples existência do fanatismo deles comprova o mal que o Supremo Tribunal Federal fez ao país ao se meter em política, descondenando Lula e os maiores corruptos do mundo, ao mesmo tempo em que passou a perseguir justamente aqueles que lutavam para tentar o aprimoramento da democracia.

ANTIDEMOCRACIA – Dez anos depois da Lava Jato, o resultado dessa distorção foi o fortalecimento da antidemocracia no país. Como brasileiros, todos deveriam se sentir envergonhados. Ter Lula e Bolsonaro como maiores ídolos políticos desta nação é um fato deprimente e constrangedor.

Mas as pessoas se comportam como se essa imundície toda tivesse de ser parte integrante da normalidade institucional. Ou seja, acham que única opção do país seria escolher entre Lula ou Bolsonaro, como se não houvesse alternativa, e é claro que existe.

É pena que a grande maioria dos brasileiros se comporte assim, deixando-se levar por falsos líderes. De toda forma, sabemos que se trata de um fenômeno político-social passageiro, porque o tempo sempre se encarrega de corrigir determinados erros que cometemos.

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P.S. –
Como dizia o poeta Mário Quintana, esses falsos líderes passarão e o país continuará indo em frente, como um passarinho, sem que eles possam nos atrapalhar. Nada como o tempo, para resolver esse tipo de problema.  (C.N.)

Lula fez “falsa comunicação de furto” dos 261 objetos perdidos no Alvorada

Lula ficou desolado ao entrar no Palácio da Alvorada, diz Janja | Blog da Natuza Nery | G1

Janja convocou a imprensa para esculhambar Michelle

Rafaela Ferreira
Estadão

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta quarta-feira, 20, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PL) “incorreu em falsa comunicação de furto” por ter acusado o ex-chefe do Executivo e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro pelo “desaparecimento” de 261 objetos do Palácio da Alvorada. Os itens foram localizados pelo governo no ano passado, dentro do próprio imóvel.

“Todos os móveis estavam no Alvorada. Lula incorreu em falsa comunicação de furto”, escreveu o ex-presidente no X (antigo Twitter).

FIZERAM ESCÂNDALO – Durante a transição de governo, no final de 2022, Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, reclamaram das condições da residência oficial, em Brasília, e apontaram que estavam faltando bens no local, após Bolsonaro e Michelle deixaram de usar o Alvorada.

Além da mobília, também foram considerados desaparecidos utensílios domésticos, livros e obras de arte.

Os itens foram localizados até setembro do ano passado, dez meses depois da primeira inspeção no local, que ocorreu em novembro de 2022. A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência afirmou que os objetos foram encontrados em “dependências diversas” dentro do Palácio da Alvorada. Ao ser questionada sobre quais seriam essas dependências, a pasta informou que os objetos estavam “espalhados” no imóvel, sem detalhar os locais.

NÃO TINHAM SUMIDO – Foram necessárias três conferências para localizar os móveis, disse a pasta. A primeira inspeção, em novembro de 2022, atestou que 261 bens estavam desaparecidos. A segunda conferência ocorreu no início do ano passado e localizou 173 peças.

A última foi feita em setembro e atestou que nenhum item havia sido extraviado pelo casal Bolsonaro. Apesar da descoberta dos itens, a Secom disse que os móveis sofreram um “descaso” por parte de Bolsonaro e Michelle.

O suposto sumiço dos móveis foi um dos motivos para que Lula e Janja comprassem nova mobília. Em dezembro do ano passado, um levantamento feito pelo Estadão mostrou que o governo federal gastou R$ 26,8 milhões com reformas, compra de novos móveis, materiais e utensílios domésticos para os palácios presidenciais de Brasília em 2023.

MICHELE EXPLICOU – Na ocasião, Michelle havia usado das redes sociais para explicar onde poderia estar a mobília desaparecida.

“Esses móveis estão ou no depósito 5 do Palácio da Alvorada ou no depósito da Presidência. Existe esse depósito com várias cadeiras, mesas, sofás, quadros, que você pode fazer esse rodízio. Quando a Marcela Temer me apresentou o Alvorada, em 2018, ela me falou dessa possibilidade e da possibilidade de trazer os meus móveis, da minha casa”, disse a ex-primeira-dama, quando Janja denunciou que tinham levado até a cama do casal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Importante matéria, enviada por Mário Assis Causanilhas. Quem conhece Lula sabe que ele está pouco ligando para essas coisas. Quem fez o escândalo, à época, foi sua terceira-dama, Janja da Silva, ao tentar justificar a compra de móveis superluxuosos para o quarto e a sala principal do Alvorada. É triste isso, ver um presidente que vive a reboque da mulher e deixa que ela faça o que bem entende. Dos 261 pertences, cujo sumiço Janja denunciou na televisão, em matéria exclusiva na GloboNews, nenhum havia sido levado. E agora, será que a jornalista vai mostrar que foi usada pela terceira-dama? (C.N.)

Torres afirma que os ex-chefes militares mentiram e propõe até fazer acareação

O ex-ministro Anderson Torres presta depoimento na CPI do 8 de Janeiro

Torres jamais se reuniu com os ex-comandantes militares

Paolla Serra
O Globo

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres solicitou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes acesso aos registros de entrada dos palácios da Alvorada e do Planalto, além de dados de geolocalização do seu telefone, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do ex-comandante do Exército Freire Gomes e do ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior.

O objetivo do requerimento da defesa de Torres é confrontar a versão dada pelos militares em depoimentos prestados à Polícia Federal de que ele teria atuado como “suporte jurídico” para a elaboração de uma minuta golpista apresentada em reuniões na presença de Bolsonaro e de aliados.

ATÉ ACAREAÇÃO – Na petição, assinada pelo advogado Eumar Novacki, são solicitados também que seja autorizado um novo depoimento de Torres, bem como uma acareação com os oficiais, caso as supostas contradições não sejam sanadas.

A interlocutores, o ex-ministro da Justiça tem dito ter encontrado com Freire Gomes e Baptista Junior apenas uma vez no Alvorada. Na ocasião, teria apenas cumprimentado os militares que chegavam para encontrar com Bolsonaro.

Como O Globo mostrou, tanto o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, como o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, confirmaram aos investigadores a presença de Torres em pelo menos um desses encontros.

SUPORTE JURÍDICO – Freire Gomes contou que o ex-ministro atuava “explanando o suporte jurídico para as medidas que poderiam ser adotadas”. Em janeiro do ano passado, foi apreendida na casa dele uma minuta de um decreto golpista que tinha o objetivo de instaurar estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e mudar o resultado das eleições presidenciais realizadas em 2022.

Já Baptista Junior relatou que Torres chegou a participar de uma reunião em que os comandantes das Forças, e que na ocasião ele buscou “pontuar aspectos jurídicos que dariam suporte às medidas de exceção (GLO e Estado de Defesa”.

Segundo o militar, o ex-ministro tinha como papel assessor o ex-presidente durante a reunião “em relação às medidas jurídicas que o poder Executivo poderia adotar no cenário discutido”.

DEFESA DESMENTE – Na semana passada, após Moraes derrubar o sigilo dos depoimentos prestados, a defesa de Torres reiterou que ele não esteve nas reuniões em que foram discutidas ‘medidas antidemocráticas’.

“O ex-ministro da Justiça, citado de modo genérico e vago por duas testemunhas, esclarece que houve grande equívoco nos depoimentos prestados. Nesse sentido, vai requerer nova oitiva e eventual acareação, além de outras providências necessárias à elucidação do caso. Anderson Torres mantém sua postura cooperativa com as investigações e seu compromisso inegociável com a democracia”, informou Novacki, em nota.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Chefes militares não somente mentindo, mas também combinando depoimentos entre si, isso é grave e o ex-ministro Anderson Torres acaba de colocar de saia justa o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior. Pelo jeito, realmente não se fazem mais militares como antigamente, aqui do lado de baixo do Equador. (C.N.)

Estivemos fora do ar desde a madrugada e agora voltamos para perturbar o ambiente

Emenda cria censura na internet para quem falar mal de político em redes sociais - Flávio Chaves

Charge do Rice (Arquivo Google)

Carlos Newton

Às oito horas da manhã, quando tentei iniciar a edição da Tribuna da Internet, nosso site estava fora do ar. Entrei no Painel do Cliente UOL e deparei com o seguinte aviso:

MANUTENÇÃO PROGRAMADA – Visando uma melhoria no ambiente, dos dias 19/03 a 22/03 das 23h à 01h, haverá manutenção no banco de dados de Hospedagem, podendo causar instabilidade de 15 minutos.

Bem, fiquei tranquilo, pensei que era coisa à toa e logo a Tribuna estaria de volta. No entanto, uma hora depois o site ainda fora do ar e enviamos um pedido de atendimento aos especialistas do UOL, e a resposta, enviada por Pamela C., foi a seguinte:

Lamentamos muito o ocorrido com o produto, mas estamos efetuando uma manutenção em nosso ambiente de hospedagem na data de hoje. pedimos gentilmente que aguarde normalização e efetue testes ao longo do dia.

Bem, aí a coisa mudou de figura. Uma simples manutenção, que no máximo causaria “instabilidade de 15 minutos”, de repente pode se prolongar ao longo do dia??? Preocupado, enviei outra mensagem ao UOL:

Querida Pamela,
Vocês prometeram fazer a manutenção de madrugada, em 15 minutos. Por favor, verifique se não tem algo errado no meu site.
Gratíssimo.

Poucos minutos depois, o Suporte Técnico do UOL me respondeu em mensagem enviada por James D:

Prezado cliente, bom dia.
Pedimos desculpas por eventuais transtornos. Essa situação é geral. Nossa equipe responsável já está trabalhando para corrigir, mas no momento não temos prazo para normalização. Permanecemos à disposição.

Isso foi às 10h41m. Desde então, o editor da Tribuna ficou ligado no servidor UOL, aguardando as providências. Na verdade, é preciso levar na brincadeira esses problemas. Desta vez, pelo menos, não foi ataque de hachers, que já nos fizeram investidas realmente devastadoras. No ano passado, além de nos tirar do ar, eles queriam destruir o blog.

ARQUIVO DESTRUÍDO – Embora exista um pagamento extra que hipoteticamente nos garantiria “back up” das matérias, ou seja, a incolumidade do arquivo, os hackers conseguiram apagaram quase todo o arquivo da Tribuna, levando preciosos textos de Helio Fernandes, Jorge Béja, Carlos Chagas, Sebastião Nery, Pedro do Coutto, Roberto Nascimento, José Antonio Perez e outros importantes colaboradores.

Hoje, nem consegui  ficar esperando para ver o que aconteceu. Seguiram-se outras mensagens dizendo que estavam trabalhando para resolver o problema, e nada.

À tarde, deixei o site de lado e acompanhei minha mulher ao médico, para conferir sua recuperação e aproveitei para checar minha pressão e capacidade pulmonar, parece que ainda terão de me aguentar por um largo tempo, nem adianta ficar tirando o blog do ar.

ESTAMOS DE VOLTA – Cheguei por volta das 18 horas, liguei o computador e – surpresa! – os gênios do UOL colocaram o ovo em pé… E foi bem depois  das 15 horas, porque os comentários só voltaram às 15h45m, e o anterior fora às 03h51, sobre a riqueza de Maluf, quando logo depois saímos do ar.

Sempre que ocorrem esses apagões, participantes e comentaristas do site sugerem que a gente contrate outro servidor, mas é ilusão tentar preservar a Tribuna. Enquanto existirmos, estaremos sob ataque dos maus políticos e dos empresários e banqueiros corruptos. Aliás, é um orgulho sofrer esse tipo de ataque. E vamos continuar com o servidor UOL, porque é um gigante, o melhor da praça. Se somos atacados mesmo debaixo da proteção dele, imaginem em outro servidor…

E vamos em frente, sempre juntos. O médico me mandou botar para quebrar, porque aos oitenta anos fico meio inimputável juridicamente, posso fazer qualquer putaria coms os outros, desculpem a expressão.

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P.S. –
E logo hoje, que é aniversário do grande jornalista e advogado José Carlos Werneck, meu companheiro na Editoria de Política de O Globo desde a década de 70… Daqui meu abraço e votos de muita felicidade ao querido amigo, que é conhecidíssimo em Brasília, onde acabamos de perder o Paulo Pestana, bem mais jovem do que nós. (C.N.)

Se criassem a vacina contra burrice, Bolsonaro iria fraudar o certificado

Bolsonaro não comparece à sabatina após fiasco na Globo e na Band - Vermelho

Charge do Nando Motta (Arquivo Google)

Mario Sabino
Metrópoles

Não consigo pensar em nada mais ridículo do que um presidente da República pedindo ao seu ajudante de ordens para falsificar certificado de vacinação contra a Covid.

Se a convicção contra a segurança da vacina era tanta, se o medo de virar jacaré era real, Jair Bolsonaro deveria ter renunciado a viajar aos Estados Unidos. As nossas escolhas têm consequências e pronto.

OUTRA ESTUPIDEZ – Jair Bolsonaro acreditava que a fraude permaneceria em segredo. Outra estupidez. O sujeito vivia sabotando todas as medidas sanitárias contra a Covid, fazia campanha aberta contra a vacinação, vivia às turras com o Poder Judiciário, Alexandre de Moraes já estava tocando inquéritos sigilosos — como é que ele abriu um flanco desses?

Nunca houve um presidente que se enrolasse tanto sozinho como Jair Bolsonaro. E, pelo jeito, só havia patetas obedientes ao lado dele. Ninguém para dizer: “ô, chefia, não faz isso, não…”

Comparado aos outros indiciamentos, esse parece ser de menor dano, mas não é: a PF acusa o ex-presidente de associação criminosa (outros 16 Einsteins foram indiciados) e inserção de dados falsos em sistema de informação. Dá cana brava. Não, não tem nada a ver com aquela palhaçada da perturbação a baleia.

NOS ESTADOS UNIDOS – Jair Bolsonaro supostamente usou os documentos falsos para enganar a imigração americana. Fosse um cidadão comum, não entraria nunca mais nos Estados Unidos. Talvez não entre mais.

E ele ainda pode ser condenado à prisão pela Justiça americana.

Deveria existir vacina contra a burrice. Mas, se existisse, o ex-presidente não se vacinaria e mandaria falsificar o certificado. 

Na literatura, o pangaré vermelho da luta de classes não chega em primeiro

Derrota do proletariado - 15/03/2024 - Mario Sergio Conti - Folha

Ilustração de Bruna Barros (Folha)

Mario Sergio Conti
Folha

Maylis de Kérangal é uma escritora francesa de 56 anos. Foi traduzida e publicada em vários países europeus, inclusive Portugal, mas não no Brasil. Ganhou um monte de prêmios e teve dois livros adaptados para o cinema.

Ela não tem o prestígio de Annie Ernaux nem a popularidade de Michel Houellebecq. Sua sensibilidade, densa e vasta, faz com que esteja mais próxima dela do que dele, um profissional da provocação.

Seu último livro, “Un Archipel”, um arquipélago, é uma seleta de ensaios e relatos. Os escritos são ilhas de um arquipélago. Têm a mesma origem vulcânica e compartilham a língua, mas são fruto de histórias diferentes. “Organizam uma forma; revelam uma unidade”, escreve ela.

As ilhas falam umas às outras. Recorrem à crítica literária para buscar a coesão primordial de escritos que o tempo e a vida apartaram. A ilha maior, mais populosa, é um conto de 50 páginas, “Rouge”, vermelho, para cujo porto convergem as trocas entre os textos.

Maylis de Kérangal leu “Rouge” em público no ano passado e o pôs na internet (de graça), onde está também a versão escrita (paga). O conto condensa percepções, raciocínios e sentimentos fugazes, até mesmo inefáveis, e os sedimenta numa prosa artística. Por fazer isso com engenho, “Rouge” é alta literatura.

Ele se passa numa manhã de domingo no fim dos anos 1980, o tempo “cintilante e desencantado” de “Reagan e Madonna, de Thatcher e ‘Uma Secretária de Futuro’”, filme de sucesso na época. A protagonista é uma provinciana de 20 anos que estuda e trabalha em Paris.

Ela pega o metrô, se perde, toma ônibus, táxi e chega esbaforida para o trabalho do dia: ser hostess no hipódromo de Longchamp, no Bois de Boulogne. As frases, atulhadas de coisas e lugares, expõem tanto a aflição de ir ao trampo como seu cotidiano assoberbado.

LUGAR NO MUNDO – Sublinhada, uma expressão resume o objetivo do galope frenético: “encontrar seu lugar no mundo”. É o local flexível e nebuloso onde a moça é encimada, por um dia, pelo halo dúbio de recepcionista de luxo. Ela topa ali com o rubro título do conto —o tailleur que deve vestir é vermelho.

Equilibrando-se em saltos altíssimos, ela é um esguio bibelô que entrega folhetos no paddock, orienta e sorri, sobretudo sorri. O batente não é tranquilo. Uma colega é assediada com brutalidade por um marmanjo, e a chefe delas aparece —para lhes dar uma bronca.

A narradora vai parar no saguão de apostas, onde viciados arriscam o que têm e o que não têm. Os nomes dos cavalos de um páreo referem-se de raspão ao conteúdo de “Rouge”: Meu Desejo Não Tem Fim, Bumerangue, Stormy Weather, Epopeia de Bocage, C’est la Vie!, Black Mojito e Vitória do Proletariado.

FAZ UMA APOSTA – Na louca, a jovem aposta em Vitória do Proletariado, cujo jóquei, bem a propósito, veste blusa vermelha, a cor da revolução socialista. Um rapaz lhe explica que não se arrisca tudo num cavalo só, ainda mais num azarão nervoso como Vitória do Proletariado. Ela mantém a aposta.

É chamada para servir na tribuna dos bacanas e se vê numa cabine indevassável com um tipo que veste paletó feito à mão, canapés amenos, lambris, adornos dourados, madames emperiquitadas, Moët & Chandon a rodo. Ela bebe, se farta, relaxa, fica zonza.

Começa o páreo no qual pôs todas as fichas no vermelho de Vitória do Proletariado — e o grã-fino no puro-sangue Black Mojito. A cena de Maylis de Kérangal está à altura das corridas de “Naná”, de Zola, “Anna Kariênina”, de Tolstói —e de “Narrar ou Descrever?”, de Lukács, que as analisou.

VERMELHO E NEGRO – A cena combina a descrição embolada de um locutor de turfe com a narração imersa na ação da escritora. A poucos metros do fim, o vermelho e o negro —que ecoam o título de um romance de Stendhal— estão emparelhados. Ruínas da utopia competem com cacos da decadência.

E cruzam o disco final!

Será preciso aguardar o veredito do olho mecânico para ver quem venceu, se o rubro pangaré da luta de classes ou o drinque negro dos tempos que correm. O burguês de paletó diz à trabalhadora de salto alto: “Você tem instinto, ‘mademoiselle’, mas, hélas, terá de esperar um pouco mais pela vitória do proletariado” —agora em minúsculas.

Demitida por se exceder, a moça encontra o cara que a aconselhou a desconfiar de Vitória do Proletariado. Ele lhe diz que o cavalo voltará a correr em três semanas — e aí, quem sabe? Oferece-lhe carona na moto e ela aceita. Ele lhe estende um capacete vermelho. O manto negro da noite cai sobre o Bois de Boulogne.

Reeleição tem funcionado e não existe sinal de que ficaríamos melhor sem ela

Tribuna da Internet | Reeleição do presidente fortalece Executivo em  relação ao Legislativo

Charge do JCaesar (Veja)

Samuel Pessôa
Folha

O Senado decidiu pautar o fim da reeleição para os cargos do Executivo. A medida é ruim. Não há nenhum sinal de que a reeleição seja negativa para o país. Argumenta-se que a reeleição estimula irresponsabilidade fiscal e populismo do incumbente para aumentar as chances de reeleição. Mas não parece que, se a reeleição deixar de existir, aumentará a responsabilidade dos prefeitos, dos governadores ou do presidente.

Penso exatamente o contrário. Pergunto ao leitor: não teria sido muito melhor para o país se Juscelino Kubitschek tivesse tido de lidar com a herança maldita que legou para Jânio Quadros?

MAIS CAUTELOSO – Se houvesse a reeleição à época, provavelmente JK teria sido mais cauteloso no seu ambicioso programa de desenvolvimento — que legou a desorganização macroeconômica que desaguou no golpe de 1964 — e arcaria com o custo político de ter que arrumar a bagunça que criou. Certamente a avaliação histórica que se faz de JK hoje seria outra e seria muito mais próxima da realidade de sua administração.

FHC teve de arrumar, no segundo mandato, o desequilíbrio fiscal que criou no primeiro mandato. Fez isso muito bem, mas não o suficiente para manter seu projeto político. Houve transição política em seguida.

Dilma teve de lidar com a herança da nova matriz econômica. Infelizmente, perdeu qualquer condição de liderar o país e foi impedida. Mas tentou e conseguiu algumas vitórias em 2015.

TEMER FOI MELHOR – Temer já recebeu de Dilma 2 uma economia mais arrumada do que Dilma 1 legou para Dilma 2. Segundo a ciência política, a reeleição permite que o voto, além de ser prospectivo, baseado no futuro, seja retrospectivo, isto é, premie o bom governante.

A evidência empírica sugere que a reeleição tem funcionado. Os pesquisadores Claudio Ferraz e Frederico Finan, em artigo na prestigiosa American Economic Review, documentam que a corrupção é menor em prefeitos que podem concorrer à reeleição.

Pedro Cavalcante, em trabalho de 2015, documentou que os prefeitos com melhores pontuações no índice Firjan de Gestão Fiscal têm maior chance de serem reeleitos.

EFEITO MERENDA – Finalmente, João Eudes Bezerra Filho e Samuel Barros Godinho, em trabalho publicado em 2021, documentaram que a má gestão da merenda escolar reduz a probabilidade de ser reeleito. Todas essas evidências validam a hipótese de que há voto retrospectivo no Brasil.

Há uma má vontade com a reeleição em razão da maneira como ela foi criada no Brasil. O dispositivo valeu para os titulares do Executivo que tinham sido eleitos por outra regra. Trata-se de clara violação da autocontenção em democracia, ou de jogo político desleal, ainda que legal. Maculou a imagem de FHC. Mas a forma errada com que foi instituída não deve nos desviar do substantivo. A reeleição tem funcionado bem, e não há nada que indique que estaríamos melhor sem ela.

Há um problema ligado à Presidência da República. Seria muito melhor se adotássemos a regra americana: para a Presidência, após dois mandatos, a pessoa não pode mais concorrer.

PASSADO POLÍTICO – Se essa regra valesse em 2010, Lula teria sido mais cuidadoso na escolha de seu sucessor e teria indicado um político profissional para o suceder. A expectativa da possibilidade de retorno em 2014 fez com que apontasse uma pessoa sem passado político-eleitoral.

Para a Presidência da República, em razão da importância do cargo e da força que tem no Brasil, não é bom que dependamos durante décadas de uma liderança carismática, por mais talentosa e competente que seja. É importante que a regra estimule maior renovação de lideranças.

Por fim, as informações sobre o tema divulgadas em uma rede social pelo professor de ciência política da USP Manoel Galdino foram importantes para o preparo da coluna. Vai meu agradecimento ao mestre.

É proibido lembrar prisões arbitrárias, torturas, luta armada e o legado de 1964

A preocupação de Lula com a promoção de militares | VEJA

Aniversário do golpe de 1964 tornou-se um silêncio covarde

Eduardo Affonso
O Globo

José Murilo de Carvalho escreveu que “são os historiadores, no presente, que constroem o passado”. Em outras palavras — e parafraseando Cecília Meireles —, o passado só é possível reinventado. É, por isso, uma obra aberta: cada época dispõe de informações adicionais, mais ferramentas teóricas e — para o bem e para o mal — novas ideologias.

Sai a história dos vencedores, entra a dos vencidos — a mesma cena, com enquadramento diferente, um recorte que privilegia um personagem em detrimento de outro. Figurantes assumem protagonismo — o que não quer dizer que, sob mirada futura, não possam voltar a ser nota de rodapé. Talvez por isso o tempo que passou seja tão imprevisível quanto o que ainda está por vir.

UM NOVO JESUS – Nossa geração viu Jesus deixar de ser judeu (e loiro, de olhos azuis…) para se tornar um moreno revolucionário palestino e marxista avant la lettre. Viu o Descobrimento do Brasil virar invasão imperialista.

O bandeirante herói da nossa infância — que se embrenhava, intrépido, mata adentro e fez o país dobrar de tamanho — se transformar em vilão escravagista. A celebrada conquista da Amazônia (“inferno verde” onde árvore boa era árvore derrubada) se revelar um desastre ambiental.

Maleável, o passado se presta a todo tipo de fabulação (que era como os antigos chamavam, com mais propriedade, o que hoje denominamos “narrativas”).

MELHOR A LENDA – Sobre o Grito do Ipiranga não ter sido bem um grito — tampouco exatamente às margens do célebre riacho —, Machado de Assis escreveu:

“Minha opinião é que a lenda é melhor do que a história autêntica. A lenda resume todo o fato da independência nacional, ao passo que a versão exata o reduz a uma cousa vaga e anônima”.

A lenda é sempre mais sedutora. Quem vê Deodoro da Fonseca nas pinturas, embalado pelos ideais de ordem e progresso, desembainhando a espada para derrubar o Império decadente e instaurar um regime de mais liberdade e cidadania, talvez não saiba que o marechal, adoentado, atravessou com dificuldade o campo em frente à sua casa, montou brevemente num cavalo, proclamou (arfante) o novo regime, apeou e voltou para a cama. E o país continuaria com mentalidade escravista e colonial.

SEM CIDADÃO – Nas palavras de José Murilo, “na República que não era, a cidade não tinha cidadão”. Mas teriam o mesmo significado, hoje e naquela sexta-feira de 1889, as palavras “cidadão” e “república”?

Estamos às vésperas do 60º aniversário do 31 de março. Tivesse Bolsonaro sido reeleito (ou melado a eleição), não faltariam “intelectuais” dispostos a desconstruir os 21 anos de ditadura e reerguer a fachada da Revolução Redentora que nos livrou do comunismo.

Como quem está no governo é Lula, esperava-se que a data fosse um momento de reflexão, de relembrar os perigos da radicalização, o valor da democracia e do respeito às instituições.

AMNÉSIA COLETIVA – Mas a ordem é entrar em modo amnésia coletiva. Não provocar debates sobre prisões arbitrárias, luta armada, desaparecidos, censura, tortura, direitos humanos (“Circulando, circulando! Não tem nada para ver aqui!”).

Sexagenário, o 64 de Lula não é golpe nem revolução: é um silêncio covarde.

A História vai continuar sendo (re)construída ao sabor tanto da inteligência dos que se dedicam a iluminá-la quanto dos interesses de ocasião dos que preferem deixá-la nas sombras. Oscilando não só entre a lenda e a versão anônima e vaga, mas entre o respeito à memória e o limbo das conveniências.

Lula investe em “boas relações” com militares nos 60 anos do golpe de 64

Ministro da Defesa, José Múcio acertou com comandantes que não haverá manifestação oficial no 31 de março

Ministro José Múcio combinou que não haverá manifestações

Caio Sartori
O Globo

A cerca de duas semanas do aniversário do golpe militar de 1964, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém a estratégia de não fustigar as Forças Armadas. Decisões como a suspensão das celebrações oficiais em memória daquele 31 de março de 60 anos atrás e a demora para recriar a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, no entanto, viraram alvo de críticas de historiadores que pesquisam as relações entre a política e a caserna.

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou este mês a recriação da comissão, uma bandeira do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Desde março de 2023, Lula tem pronta uma minuta de decreto para reinstalar o colegiado, mas ainda não bateu o martelo sobre quando isso ocorrerá.

NOVO GOLPISMO – A interlocutores, conforme noticiou a colunista Bela Megale, Lula tem dito que se preocupa mais com o golpismo contemporâneo, manifestado no processo que culminou no 8 de janeiro do ano passado, do que com o de 1964.

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, já acertou com os comandantes das Forças Armadas, segundo a colunista Malu Gaspar, que não haverá manifestação oficial dos militares da ativa no próximo dia 31 de março. A intenção de Múcio, endossada pelos comandantes, é deixar o assunto de lado, em mais um esforço para distensionar o ambiente entre o Palácio do Planalto e a caserna.

Há forte resistência nas Forças Armadas à volta da comissão, a ponto de o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Joseli Parente Camelo, ter declarado que o retorno do colegiado é “completamente desnecessário” e falar que não se pode “olhar o país pelo retrovisor”.

MINISTRO REAGE – No fim do ano passado, o ministro Silvio Almeida rebateu Camelo: “Desnecessário é achar que podemos virar a página da História de um passado de dor, simplesmente varrendo a sujeira para debaixo do tapete”.

Na intenção de superar a relação de desconfiança com os militares e em um momento delicado, com depoimentos de ex-comandantes das Forças Armadas sobre a suposta tentativa de golpe de Estado por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula acaba, na visão de pesquisadores, tentando “virar” de forma equivocada uma página da História.

Recordar o golpe, diz João Roberto Martins Filho, professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e autor de diversos livros sobre a atuação da caserna na República, seria um meio de construir memória e evitar a repetição de capítulos lamentáveis do passado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Lula está corretíssimo. Ele sabe que não é hora de peitar as Forças Armadas. Muito pelo contrário, é preciso haver conciliação, para tocar o país em frente. (C.N.)

Dúvida cruel! Militares que souberam do golpe e nada fizeram devem ser presos?

Cúpulas militares só abortaram plano de golpe por falta de apoio dos EUA.  Por Jeferson Miola

Charge do Miguel Paiva (Brasil 247)

Vera Rosa
Estadão

O Supremo Tribunal Federal (STF) vai punir o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros militares que armaram a trama golpista de 8 de janeiro de 2023. Trata-se de um desfecho dado como favas contadas pela caserna. Nos bastidores, porém, integrantes do Alto Comando do Exército mostram preocupação com o julgamento de oficiais que, embora sabendo do plano para impedir a posse do presidente Lula, nada fizeram.

Há no STF uma divergência em relação a esse ponto. Decano da Corte, o ministro Gilmar Mendes, por exemplo, classificou os depoimentos de ex-comandantes militares divulgados até agora como “extremamente graves”. Não foi só: disse que quem participou de reuniões ou teve acesso a informações sobre ruptura institucional será alvo de processo judicial ainda neste semestre.

VERSÃO CONTRÁRIA – Na outra ponta, o ministro André Mendonça e outros magistrados têm dado sinais de que são contra a tese segundo a qual todo militar que soube das intenções golpistas de Bolsonaro e cruzou os braços se encaixa no crime de prevaricação e, portanto, deve ser preso.

“Qualquer ação de golpe de Estado necessitaria da intervenção de forças militares”, disse Mendonça, que foi ministro da Justiça e chefe da Advocacia-Geral da União (AGU) no governo Bolsonaro.

Os depoimentos à Polícia Federal que revelaram os labirintos da intentona de 8 de janeiro desgastaram ainda mais a imagem das Forças Armadas, às vésperas dos 60 anos do golpe de 31 de março de 1964. Foi por isso que o comandante do Exército, general Tomás Paiva, saiu a campo para defender a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que proíbe a candidatura de militares da ativa a cargos eletivos.

MUDAR DE PROFISSÃO – “O militar que quiser ser político deve mudar de profissão”, afirmou Paiva. “Nós não temos que estar envolvidos com política. Se é de direita ou de esquerda, não interessa”, emendou o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Joseli Parente.

Depois do julgamento do Supremo, o STM vai se debruçar sobre a situação dos oficiais, alguns deles de alta patente, e medidas disciplinares serão tomadas. O general Walter Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro em 2022, é um dos que estão na mira do STM.

Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram que Braga Netto chamou o então comandante do Exército Freire Gomes de “cagão” por ter se recusado a aderir ao golpe. Além disso, incentivou ataques nas redes sociais ao tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, que à época chefiava a Aeronáutica e foi considerado por ele como “traidor da Pátria”. Deu a mesma “orientação” para que houvesse um bombardeio na direção do general Tomás Paiva, visto como “PT desde criancinha”.

VOZ DE PRISÃO – Coube a Baptista Junior a revelação de que Freire Gomes disse, numa reunião convocada pelo então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, em 14 de dezembro de 2022, que seria obrigado a dar voz de prisão a Bolsonaro, caso ele tentasse virar a mesa.

Mas, para aliados de Bolsonaro, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil, esta versão foi criada para que os dois militares se livrassem do crime de prevaricação.

“Eles foram omissos”, disse Ciro. Em julho de 2021, o senador testemunhou uma aliança dos oficiais com Braga Netto, então ministro da Defesa, para pressionar a Câmara pela aprovação do voto impresso.

A PORTAS FECHADAS – Pouco mais de um ano depois, em agosto de 2022, Freire Gomes também participou de uma reunião a portas fechadas, na casa de Baptista Junior, com o comandante da Marinha, Almir Garnier, entre outros convidados. Na ocasião, o general reclamou muito do ministro do STF Alexandre de Moraes, que havia tomado posse a poucos dias como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A conversa começou às 20 horas e terminou bem depois da meia noite. Freire Gomes estava enfurecido com o fato de Moraes ter se reunido com os 27 comandantes das Polícias Militares para discutir a segurança das eleições, sem ao menos consultá-lo. Dizia que, pela Constituição, quem comanda as PMs e as forças auxiliares é o Exército.

O tempo fechou e houve ali quem pregasse que a Procuradoria-Geral da República pedisse a prisão de Moraes.

EMERGÊNCIA DO BEM – É certo que muitas revelações ainda estão por vir, mas sobre um fato não há dúvida: desde 2020 Bolsonaro queria decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no País.

Na pandemia da Covid-19, sua intenção era pôr o Exército nas ruas para abrir as lojas. Seria uma “emergência do bem”, dizia ele, quando falava sobre um possível estado de sítio.

Militares que foram contra, como o então ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, caíram no fim de março de 2021. Ainda há muito o que se investigar para impedir que o futuro repita o passado. Mas, como se vê, o planejamento do golpe não ocorreu de uma hora para outra.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Uma matéria instigante, sem dúvida. Mas é preciso entender que o golpe foi “vendido” às Forças Armadas caso houvesse fraude eleitoral, e isso não ficou provado. Essa circunstância “caso houvesse fraude eleitoral” muda tudo, porque o golpe aceito pelos militares era na forma da lei. (C.N.)

Lula sobe o tom e cobra mais trabalho e desenvoltura dos ministros